OS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA MARGEM CONTINENTAL, SECTOR ESPINHO – CABO MONDEGO: A UTILIZAÇÃO DAS FRACÇÕES FINAS COMO TRAÇADORES DE DINÂMICA SEDIMENTAR ACTUAL DOUTORAMENTO EM GEOCIÊNCIAS Maria Isabel Rola Rodrigues Abrantes Provas concluídas em 11 de Março de 2005 RESUMO A plataforma e vertente continental superior entre os paralelos de Espinho e do Cabo Mondego constituem um dos sectores melhor conhecidos da margem continental portuguesa. Contudo, o conhecimento relativo à cobertura sedimentar restringia-se às fracções mais grosseiras dos sedimentos superficiais (cascalho e fundamentalmente areia), desconhecendo-se a composição das partículas finas, que constituem importantes traçadores de proveniência, dispersão e deposição de sedimentos. No sentido de obviar esta lacuna, elaborou-se a presente dissertação que, incidindo sobre as fracções finas (<63 µm e <2 µm), tem como objectivos identificar os cortejos mineralógicos presentes e definir os respectivos padrões de distribuição, de modo a deduzir um modelo conceptual de dinâmica sedimentar actual. Constituindo a Ria de Aveiro o único sistema estuarino-lagunar que drena directamente para o sector em análise, o estudo da sua matéria particulada em suspensão (MPS) permite conhecer as potenciais contribuições mineralógicas e estimar os fluxos de partículas para o domínio atlântico. A MPS, constituída fundamentalmente por mica/ilite, quartzo e caulinite, tende a ser exportada para o oceano adjacente durante as marés vivas, sendo que, no decurso das marés mortas, o sistema funciona como uma armadilha de sedimentos finos. No que se refere às análises mineralógicas efectuadas na plataforma e vertente continental superior, os resultados obtidos na fracção <63 µm confirmam a fraca contribuição terrígena actual e realçam, muito provavelmente, a importância da produção primária e da contribuição dos afloramentos rochosos carbonatados da plataforma média e externa como fornecedores de partículas finas para o depositário. Com efeito, a fracção silto-argilosa é dominada pela calcite, seguida pelo quartzo, filossilicatos, feldspatos K e plagioclases. As associações mineralógicas identificadas na fracção <2 µm, compostas por ilite, caulinite, minerais argilosos expansivos (sobretudo esmectite e interestratificados irregulares de ilite-esmectite) e clorite, reflectindo, na generalidade, a geologia do continente adjacente, evidenciam a contribuição dos rios Douro e Mondego e da Ria de Aveiro, bem como os processos de fornecimento associados à erosão do litoral. O padrão de distribuição dos minerais das fracções estudadas sugere o transporte preferencial para norte e para o largo e a sua deposição em locais energeticamente mais calmos e/ou protegidos por afloramentos rochosos. O conhecimento das características granulométricas e composicionais das fracções grosseiras (cascalho e areia) e finas (silte e argila) dos sedimentos superficiais, complementado com os dados disponíveis sobre as condições oceanográficas na costa oeste portuguesa, particularmente a norte do paralelo 41ºN, e com a informação existente sobre a evolução da linha de costa desde o último Máximo Glaciário permitiu deduzir os principais traços da dinâmica sedimentar actual e passada na área de estudo.