Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional..
Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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CONSIDERAÇOES FINAIS. CONCLUSAO.
Aquando
disserta~ão,
portuguesa
do
os
inicio dos trabalhos cujos resultados se integram nesta
conhecimentos sobre a cobertura não consolidada da plataforma
setentrional
e
da
sua
evolu~ão
recente
eram
muito
reduzidos:
limitavam-se, praticamente, às Cartas Lito16gicas Submarinas publicadas, na
maior parte, hã mais de meio seculo.
O conjunto de resultados apresentados
neste trabalho constitui um salto quantitativo e qualitativo no reconhecimento
da dinâmica sedimentar desta plataforma.
o objectivo primeiro deste trabalho foi o de identificar o padrão geral de
distribuição, a nivel regional, da cobertura não consolidada da plataforma.
Para tal, utilizou-se amostragem colhida predominantemente segundo linhas perpendiculares ao litoral. A publicação, muito recente, da carta dos sedimentos
superficiais da plataforma algarvia (MOITA, 1986), baseada no estudo de alguns
milhares de amostras, permite verificar a utilidade do metodo de amostragem
segundo o qual foram colhidas as amostras utilizadas no trabalho que agora se
apresenta (para o qual, na zona do Algarve, apenas se utilizaram algumas dezenas
de amostras). Interpretando e comparando a carta referida com os mapas apresentados neste trabalho e em artigos que publicámos há já alguns anos (por exemplo,
DIAS ~ ~., 1980), constata-se que existe razoável coincidência no que respeita
aos depositas com expressão regional.
A delimitação pormenorizada desses
depositos e, no entanto, e como era de esperar, bastante diferente, afectados
como estão por circunstancialismos de âmbito local. Comprova-se, assim, a
utilidade da "amostragem em linha" numa primeira caracterização regional dos
sedimentos ocorrentes numa àrea vasta, e a necessidade de proceder a "amostragem
densa" para determinar a influência local.
~ bastante dificil resumir, de forma sintetica, todas as conclusões que se
foram extraindo ao longo deste trabalho.
No final de muitos dos capItulas
apresentou-se uma sUmula das conclusões principais que se extrairam dos dados
apresentados nesses capitulas.
Por outro lado, na parte III deste trabalho
integraram-se todas as conclusões a que se foi chegando nas partes anteriores,
IIcruzando-as" com outras informações, dai partindo para a modelização da
dinâmica sedimentar ocorrente na plataforma estudada e da sua evolução posglaciária.
Devido à impossibilidade prática de constru~ão de um unico modelo
que englo~asse, em simultâneo e na medida do possivel, a complexidade de factores envolvidos, dividiu-se esse modelo em modelos mais simples, que se interpenetram e complementam. Esses modelos constituem as conclusões gerais do trabalho desenvolvido.
Alguns aspectos merecem, todavia, referência especial.
Entre esses,
destacam-se os que não respeitam especificamente à plataforma estudada, pois têm
carácter geral e/ou metodol6gico.
Assim, julga-se ter demonstrado a eficacia dos estudos baseados em dados
granulometricos obtidos com o metodo da sedimentação, e as vantagens que este
oferece relativamente ao metodo da peneiração. Do mesmo modo, demonstrou-se que
os
parâmetros
granulometricos tradicionalmente utilizados no estudo dos
sedimentos são, em geral, descritores pouco eficazes (e, por vezes, erroneos)
das curvas de distribuição granulom~trica. A analise das modas presentes nessas
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curvas constitui metado de estudo mais preciso e
mais
revelador
das
caracterlsticas da dinâmica sedimentar a que os sedimentos estão (e estiveram)
sUJeitos. No entanto, a analise das popula~ões granulometricas que compõem a
distribuí~ão
total aparenta ser, actualmente, o tipo de aproxima~ão mais
correcto na dedução das caracteristicas da dinâmica sedimentar de uma
partir das caracterlsticas granulometricas dos sedimentos.
região
a
Ao longo deste trabalho tentOu-se ainda demonstrar que grande parte (se não
mesmo a totalidade) das partIculas presentes nas areias que ocorrem na plataforma continental podem ser utilizadas como "indicadores" da dinâmica sedimentar.
As indicações que diferentes tipos de partlculas fornecem são, com
frequência, complementares. Entre as partlculas que, a este propósito, parecem
revelar maior utilidade, podem referir-se as palhetas de mica, os clastos de
moluscos e os grãos de glauconite.
e
Embora apenas se tenham dado os primeiros passos neste sentido,
previsivel que, com a continuação dos trabalhos nesta linha de investigação,
seja passiveI, dentro em breve, determinar relações precisas entre a forma, o
aspecto e a abundância dos diferentes tipos de particuIas, por um lado, e por
outro a dinâmica sedimentar actual e passada a que tais particulas estiveram
sUJeitas.
Para tal,
fundamental que se continue a investir na aquisição de
conhecimentos mais completos sobre a forma de actuação dos processos que ocorrem
no litoral, no seio da plataforma, na zona transicional do bordo da plataforma e
na vertente continental, bem como na melhor compreensão da mecânica do transporte, deposição e remobilização das particulas.
e
Tentou-se, com o presente trabalho, demonstrar a utilidade do estudo pormenorizado da fracção arenosa dos sedimentos. Com efeito, verifica-se que, em
grande parte dos trabalhos, a areia é apenas SUjeita a analise rudimentar
(peneiração de 0 em 0 e determinação expedita da abundância de quartzo, de mica
e de carbonatos). Ao longo deste trabalho julgamos ter demonstrado que a
analise das diferentes caracteristicas da areia e das partlculas que a acompõem
e susceptlvel de fornecer muitas informações que não é passiveI adquirir de
outro modo, ou que apenas se poderiam conhecer recorrendo a metodos bastante
mais sofisticados e dispendiosos.
Apesar de se ter tentado maximizar a quantidade e qualidade das informações
que é passiveI extrair da analise da fracção areia das amostras, ha varias e
importantes aspectos que não foram contemplados neste trabalho. ~ o caso, por
exemplo,
da analise de minerais pesados e da analise, com microscópio
electrónico, das marcas existentes nas superficies das particulas. São tarefas
que estão ainda por executar ou que, só muito parcelarmente foram executadas. A
sua ausência neste trabalho sublinha o que atras se afirmou sobre as vastas
potencialidades apresentadas pelo estudo pormenorizado da areia.
Muitos outros tipos de estudo dos sedimentos existem que não foram referidos, ou apenas o são tangencialmente, no presente trabalho. ~ o caso, por exemplo, do estudo das argilas, da geoqulmica, da micro-fauna, da reflexão sismica,
etc.
Alguns destes estudos estão em curso de execução por outros geólogos, e a
divulgação desses dados, neste trabalho, poderia ser extemporânea.
Visto que
nos baseamos, essencialmente, na analise textural, no estudo da fracção arenosa e
na analise geomorfologica, a inclusão desses dados não nos pareceu ser
imprescindivel.
Esperamos, no entanto, que se os resultados desses estudos, e
os dados respectivos, chegarem a ser divulgados pela comunidade cientifica, possamos proceder ao "cruzamento" das informações e calibração das conclusões.
o presente trabalho permitiu responder a muitas questões. No entanto, os
resultados obtidos possibilitam a formula~ão de muitas outras, quer de âmbito
regional, quer metodológico, cuja investiga~ão se impõe no futuro. Por exemplo:
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Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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Qual
e
o
verdadeiro
significado genético-ambiental do Complexo Sedimentar do
Canhão do Porto? Quais são os processos de forma~ão das diferentes patinas
existentes nos grãos de quartzo, qual a sua durabilidade e qual a possibilidade
de mudarem de côr quando mudam as caracterlsticas do meio envolvente?
Ate que
ponto se podem utilizar as dimensões das diferentes particulas e da sua
equivalência hidraulica na dedução do tipo e velocidade das correntes junto ao
fundo?
Quais
mais marcante?
são
os processos cuja actuação na zona do bordo da plataforma
e
Qual foi a magnitude dos fenomenos de compensação isostatica nos
e
diferentes sectores da plataforma?
Qual
a verdadeira taxa de variação de
nivel do mar na região estudada e como reagirão o litoral, a plataforma e o
proprio Homem à acelera,ão da subida do nlvel eustático?
Ao longo deste trabalho por varias vezes tivemos de deduzir, por via
teorica e/ou emplrica, ou por comparação com outras regloes mais bem conhecidas,
a magnitude de actuação de diferentes processos ou, mesmo, quais são os processos cuja actuação e mais marcante nalgumas zonas. Fizemo-lo por não conhecermos
a existência de medições desses parâmetros fIsicos na região estudada.
Ja
depois da conclusão da redacção deste trabalho, tivemos conhecimento de que
foram colhidos recentemente alguns destes dados de base, embora não estejam
divulgados pela comunidade cientifica. Este facto permite levantar mais uma vez
o problema da não divulgação dos dados de base (a maior parte das vezes adquiridos com dinheiros públicos), e dos prejuIzos que tal pratica frequentemente
acarreta.
o problema atras referido reflecte-se na concepção dos modelos que apresentamos, ja de si questionaveis por constituirem tentativa de racionalização do
funcionamento da Natureza. Utilizando o paralelismo expresso por REEVES (1981),
constituem "apostas" no modo como essa Natureza funciona, embora, tal como
refere este autor, com a vantagem sobre as apostas efectuadas nas mesas de jogo
de, à luz de novas observações Ou de novos calculas, podermos rever esta
ftaposta", adequando-a melhor à possibilidade de acertar.
Para terminar não podemos deixar de referir que a àrea da zona economica
exclusiva de Portugal
de cerca de 300 000Km 2 , correspondendo a mais de três
vezes a àrea emersa do Pais. ~ uma das maiores ZEE's dos paIses europeus.
Com
a integração de Portugal na Comunidade Economica Europeia, a ZEE desta foi substancialmente ampliada. Entretanto, dedicados ao estudo de tão vasta Área
existem em Portugal apenas meia dazia de geologos, alguns dos quais so a tempo
parcial. Nas universidades portuguesas a cadeira de Geologia Marinha apenas
existiu na Universidade de Lisboa, no segundo lustre da decada de 60. As verbas
canalizadas para o estudo geologico da zona portuguesa submersa são infimas.
Esperamos que este trabalho possa contribuir, de alguma forma, para sensibilizar
os responsÁveis no sentido de, com a urgência que se impõe, melhorarem significativamente o panorama descrito.
e
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iii.5