entrevista NORVENTO fabrica aerogeradores de 100 kW para produção distribuída A "renováveis magazine" deslocou-se a Lugo para visitar a fábrica da NORVENTO ENEXÍA e entrevistar o Presidente e CEO do grupo NORVENTO, Pablo Fernández Castro. Uma entrevista longa mas com muitas curiosidades interessantes! por Cláudio Monteiro 48 A NORVENTO ENEXÍA, grupo de empresas galegas localizadas em Lugo e constituída pela família Fernández Castro em 1981, nasceu como empresa de engenharia e consultadoria de serviços elétricos. Desde então tem evoluído até à promoção, conceção, construção e exploração de instalações energéticas, sempre com base nas energias renováveis contando, atualmente, com uma produção anual de energia de 406,38 GWh, provenientes dos seus parques eólicos, centrais mini-hídricas, instalações de biomassa e parques fotovoltaicas. Também possui mais de 150 instalações supervisionadas e reguladas a partir do seu próprio centro de controlo. Desde 2008, a família Fernández Castro estabeleceu um compromisso com o desenvolvimento sustentável e o respeito pelo meio ambiente, lançando-se no fabrico de aerogeradores de média potência destinados a levar o conceito de produção dispersa ao mercado de consumo. Para isso, a NORVENTO juntou uma equipa de profissionais, de diversas nacionalidades, com ampla experiência na conceção de turbinas para a grande eólica, a qual aplica o seu conhecimento no desenvolvimento de tecnologia para materializar a experiência nos seus produtos, tendo como objetivo a qualidade e segurança, o rendimento, o mínimo impacto no meio ambiente e uma conceção emblemática. Partindo destes pressupostos nasceu o projeto nED e, fruto do compromisso e envolvimento direto e pessoal da família Fernández Castro, juntamente com o esforço e dedicação da sua equipa de engenheiros, em 2011 instalou-se o primeiro protótipo de nED100. Esta é uma turbina de 100 kW que incorporou a máxima tecnologia existente no mercado (acionador direto, pitch variável, controlo de velocidade, sistema de freio triplo e conversor IGBT full power, entre outras caraterísticas), juntamente com uma curva de produção otimizada, uma disponibilidade elevada e baixos índices de ruído. Estas caraterísticas conjugadas com o processo de certificação atribuído em 2013, estão presentes no nED100, e permitem superar com distinção a exigência que foi imposta na sua criação. “renováveis magazine” (rm): Como define a NORVENTO, promotor de grandes projetos de renováveis e prestador de serviços energéticos ou como empresa fabricante de tecnologias de energias renováveis? Pablo Fernández Castro (PFC): A NORVENTO é uma empresa comprometida com o meio ambiente e defensora das fontes de energia renovável. O que nos diferencia das outras empresas, que por definição podem parecer similares, é que trabalhamos e defendemos três pilares essenciais (Engenharia, Energia e Tecnologia), uma vez que estamos presentes em todas as tecnologias existentes. Outro aspeto que identifica a NORVENTO é o seu caráter inquieto e inovador, graças ao qual entrevista de novos nichos de negócio ou é simplesmente a natureza inovadora e empreendedora intrínseca à empresa? PFC: A NORVENTO, por vocação e caráter, está imersa numa contínua busca de novas soluções, mostrando uma preocupação crescente e interesse pelo avanço tecnológico e a sua aplicação na vida diária e real. Nesta mesma atitude surge a perspetiva empresarial, uma consequência lógica e necessária para o desenvolvimento de todos os negócios. dispomos de um avançado Departamento de Investigação e Desenvolvimento, com potentes projetos experimentais com tecnologia das ondas e geotérmica. Obviamente que para tudo isto é necessário acrescentar que somos um fabricante de aerogeradores eólicos destinados à geração distribuída. rm: A promoção de projetos de grandes renováveis não tem surtido resposta positiva em Espanha e Portugal. Que oportunidades procuram e encontram em novos mercados internacionais? PFC: Devemos reconhecer que o quadro regulamentar atual faz com que a situação e circunstâncias não sejam as mais adequadas para o desenvolvimento deste tipo de projetos. Mas a NORVENTO é uma empresa comprometida com as Energias Renováveis com especial incidência na Galiza e Espanha, apesar de pretendermos continuar a fazer o máximo esforço para continuar nas condições que vão sendo criadas. E confiar que, a tendência global, a qual mostra um interesse crescente pela eólica, afetará mais tarde ou mais cedo o nosso caso, entre muitas outras razões até porque é uma atividade importante para a economia de qualquer país. rm: Consideram que o setor da eficiência energética e autoconsumo ainda tem potencial a nível ibérico? De que forma a NORVENTO se enquadra e adapta nestes setores de pequenos sistemas? PFC: O mercado ibérico tem necessidade do autoconsumo. Somos uma península com excelentes recursos energéticos renováveis ao alcance da mão, ao qual devemos acrescentar a tendência mundial para uma alteração do modelo atual, ou seja, passamos da Geração Centralizada, na qual se desenvolvem grandes sistemas de geração onde há recursos, para transportar a energia gerada até aos consumidores, para a Produção Dispersa, a qual permite aos consumidores a instalação de sistemas de geração onde eles necessitam de energia. Por estas duas razões, esperamos que se estabeleçam as medidas regulatórias idóneas para ajudar e promover o autoconsumo, a justificação da Produção Dispersa, e da qual, teremos múltiplos exemplos de necessidades na nossa Península, onde um sistema nED não seria apenas viável mas necessário. Exemplos como hotéis e resorts localizados na linha da costa do Algarve e do Alentejo, motores económicos de ambas as regiões, com ventos médios de 6m/s, os quais, em cada verão, devem recorrer à utilização de grupos diesel que lhes assegurem o fornecimento elétrico devido ao elevado consumo que o turismo gera e que provoca quedas na rede. Nesta linha, o nED dirige-se a um consumidor médio, ou seja, pequenas indústrias, sistemas de irrigação, edifícios, quintas, portos e faróis, agropecuárias, hotéis, colégios e universidades, iluminação de edifícios, e ainda portos marítimos, instalações de dessalinização de água do mar, bombagem de água para fornecimento de populações, entre outros. rm: Quais os países para onde exportam e que percentagem exportam? PFC: Atualmente, toda a nossa produção está direcionada para o Reino Unido, que representa um mercado totalmente consolidado, onde existe um sistema que incentiva à instalação e geração de eletricidade de origem renovável, numa pequena e média escala. No entanto, estamos imersos num plano de internacionalização e o interesse é crescente, com conversações abertas neste momento, tanto para a realização de projetos como para a distribuição e promoção de nED. rm: Acha que o mercado de autoconsumo poderá ser uma oportunidade? PFC: O nED é uma oportunidade para o autoconsumo, por si mesmo, com independência do mercado. Qualquer consumidor pode estar interessado na solução que o nED apresenta, sempre que tenha uma necessidade energética e/ou de reduzir o montante gasto no consumo energético. Por isso, quanto maior o consumo do cliente, maior será o potencial de autoconsumo e proporcionalmente, maior será a rentabilidade do aerogerador nED é para o cliente. “contínua busca de novas soluções” rm: Pelo portefólio de tecnologias da NORVENTO nota-se que é uma empresa muito arrojada na exploração de novas soluções tecnológicas. Esta caraterística resulta de uma procura rm: Quais as oportunidades tecnológicas que a NORVENTO procura nas novas tecnologias de energias renováveis? PFC: A NORVENTO tem estado, desde sempre, vinculada e comprometida tanto com a evolução tecnológica como com a sustentabilidade e, evidentemente, com a utilização das energias renováveis. Por isso, quem conhece a nossa empresa não fica surpreendido ao comprovar o valor dado à Investigação e Desenvolvimento, inerente à nossa cultura empresarial. Devo ressalvar, além do projeto nED, muitos outros projetos experimentais na área da energia do biogás, biomassa, das ondas e geotermia. rm: Como se posiciona a NORVENTO relativamente e à concorrência de aerogeradores de média dimensão. São competitivos, em qualquer mercado ou em algum mercado em concreto? PFC: O nED é um aerogerador único porque, quando comparado com os seus atuais concorrentes representa um avanço tecnológico significativo e uma novidade no mercado, ao ser a mais produtiva da sua gama de potência, uma elevada disponibilidade, o mínimo ruído e impacto ambiental. Sem esquecer o processo de certificação. rm: O que motivou a NORVENTO a fabricar a sua própria tecnologia de aerogeradores? PFC: Como já foi referenciado, a NORVENTO desenvolveu-se sobre um triplo pilar (Engenharia, Energia e Tecnologia) aliado ao nosso caráter inovador e desejo de oferecer soluções. A tudo isto juntamos o conhecimento adquirido sobre eólica, num âmbito no qual somos claros defensores como a geração distribuída, aplicando a excelência ao máximo em tudo o que fazemos. rm: Que componentes são concebidos na fábrica? PFC: Mais do que um produto, o nED é um filho para a NORVENTO, e por isso todo o processo de conceção e desenvolvimento tem um grande envolvimento pessoal da equipa de engenheiros e também do presidente da empresa. Neste seguimento, foi decidido desde o início que iríamos assumir todos os processos e componentes que, por conhecimento e sinergias com outras áreas da NORVENTO, poderiam agregar valor, 49 entrevista NORVENTO fabrica aerogeradores de 100 kW para produção distribuída aplicando-se uma busca contínua pela excelência. Assim, o nED100 tem componentes standard e componentes que temos desenvolvido em estreita colaboração com os nossos parceiros. As pás são fabricadas, integralmente, na nossa fábrica de nED de Vilalba (Lugo), tal como a montagem completa da turbina, aspetos críticos do processo. rm: Quem são os fabricantes dos restantes componentes? PFC: Todos os fabricantes de componentes integrados em nED são de primeira qualidade, líderes no seu campo de atuação e fornecedores de empresas de referência mundial na área da grande eólica e, portanto, respondem aos mais altos standards de qualidade, catalogando a nossa turbina com a máxima fiabilidade. nED, uma solução que não necessita de manutenção apenas de supervisão rm: A operação dos aerogeradores está preparada para otimizar a gestão de integração com o consumo? De que forma? PFC: As avançadas caraterísticas técnicas fazem do nED um aerogerador especialmente recomendado para este tipo de aplicações, sobretudo onde há redes fracas, nas quais podem surgir graves problemas devido à variação de tensão em função das condições de operação. A qualidade da energia gerada faz com que o nED produza uma distorção muito baixa, inclusivamente neste tipo de redes: a corrente injetada tem um conteúdo harmónico muito reduzido (THD I <2,5% em plena potência); a conexão e desconexão são feitas através do inversor de rede, sincronizando-o, e sem afetar o restante sistema; o controlo de potência ativa permite limitar a sua variação durante o arranque ou ativar modos “suaves” de operação que reduzem o efeito flicker. As capacidades de ligação à rede permitem uma otimização das condições do sistema global: o controlo da energia reativa pode ser feito para estabilizar a tensão dentro de uma gama de operação, mesmo em condições de ausência de vento; e o controlo da energia ativa pode limitar a potência injetada em cada 50 Todos os fabricantes de componentes integrados em nED são de primeira qualidade, líderes no seu campo de atuação e fornecedores de empresas de referência mundial na área da grande eólica e, portanto, respondem aos mais altos standards de qualidade, catalogando a nossa turbina com a máxima fiabilidade. momento em função dos consumos no sistema, evitando a injeção de potência à rede em geral caso não seja possível, otimizando o funcionamento do sistema no geral. rm: Que tipo de empresas instaladoras pode instalar este tipo de aerogeradores? Em Portugal poderá haver algum representante exclusivo? PFC: Qualquer empresa com o mínimo de conhecimento técnico em eletricidade e trabalhos de instalação pode ser um instalador e técnico de fixação homologado de nED, desde que frequente a formação e controlo do nosso Departamento de Serviços. A NORVENTO tem efetuado instalações chave na mão, e tem capacidade para o continuar a fazer. Não estamos presentes em Portugal atualmente e não temos nenhum acordo com qualquer empresa, por isso, se necessário, efetuamos nós as instalações chave na mão, e dada a proximidade com a nED Factory seríamos bastante competitivos. Mas estamos sempre recetivos a qualquer proposta de negócio como um parceiro com sinergias apelativas, um modelo de negócio que se coadune com as necessidades do mercado e a cultura e filosofia da NORVENTO, e cuja relação seja rentável para ambas as sociedades, partindo do pressuposto que aceitariam ser nosso distribuidor. rm: Que garantias e que serviços de manutenção são proporcionados aos compradores? A NORVENTO garante o serviço de manutenção através de algum modelo específico? PFC: A elevada qualidade do nosso produto faz com que possamos oferecer uma garantia até 5 anos para qualquer nED instalado na Europa, sempre que a manutenção tenha sido realizada segundo as especificações da NORVENTO e por um técnico de fixação homologado. Dependendo dos mercados, a NORVENTO pode oferecer estes serviços de manutenção diretamente ou através de parceiros homologados. Graças à sua flexibilidade e simplicidade na conceção basta uma visita anual à máquina para verificar o correto estado dos componentes, além de uma série de exames de rotina uma vez que quase não tem consumíveis nem elementos que necessitem de manutenção. A NORVENTO oferece a todos os clientes o seu Centro de Controlo que permite realizar um seguimento 24/7/365 de toda a frota de máquina, reduzindo os tempos de paragem e os trabalhos no local. rm: Qual o custo e o tempo de vida de um aerogerador deste tipo? A partir de que condições de recurso eólico é viável um aerogerador deste tipo, em regime de autoconsumo? PFC: O nED estima uma vida útil de 20 anos segundo os standards do setor, mas sabemos que ao efetuar a instalação segundo os nossos procedimentos, e realizando as manutenções recomendadas pelos profissionais homologados, a vida de um nED é muito superior. Por outro lado, o local onde se instala uma turbina também afeta a vida da mesma, dado que um mesmo modelo, instalado em dois locais diferentes e cujas condições são totalmente díspares (sobretudo no que diz respeito aos ventos e turbulências), a vida útil de uma e outra alteram-se completamente. Especificamente, os locais típicos para a eólica de baixa potência tendem a ter um vento médio bastante inferior ao concebido para o nED, e por isso a vida útil da máquina será bastante superior a 20 anos. O nED está a fazer um esforço enorme na certificação da turbina, segundo as normas mais restritas de qualidade e segurança, as quais asseguram uma garantia extra ao cliente, na produção mas também na vida das turbinas. rm: É dado algum tipo de garantia de produção e de disponibilidade? Que tipo de certificação tem a curva de potência do aerogerador? PFC: O compromisso do nED com a qualidade é muito elevado, e por isso, queremos dar ao mercado a segurança de fiabilidade, disponibilidade e produção que procura. Aqui surge o nosso ambicioso processo de certificação pelo qual cumprimos todos os standards de qualidade relativos à ISO 9001 e ISO 14000, e ao IEC 61400-1 e -22. Portanto, como mencionei acima, fornecemos uma garantia de até 5 anos para as unidades instaladas na Europa. Num curto espaço de tempo teremos a certificação da curva entrevista de potência uma vez que estamos a efetuar os preparativos para as medidas relativas à mesma. No que diz respeito à Disponibilidade, além da fiabilidade da máquina, influencia em grande medida o serviço do operador da instalação. Nos aerogeradores nED que foram operados pela NORVENTO, a disponibilidade real que estamos a alcançar supera amplamente os 95%. Simplificar a operação é o objetivo da nED100 rm: Sendo uma máquina para o autoconsumo e produção distribuída deverá ter um design adequado para uma operação mais robusta e autónoma. Que particularidades técnicas a caraterizam? PFC: O nED incorpora os últimos avanços técnicos da energia eólica, mas simplificando a operação destes sistemas e procurando uma elevada disponibilidade e robustez. A configuração eleita “Direct Drive” permite prescindir de um componente como a caixa de velocidades, e inclui um sistema hidráulico que reduz a manutenção e os riscos associados, tal como as fugas de óleo. O controlo do nED monitoriza uma grande quantidade de variáveis para assegurar o correto funcionamento de todos os sistemas, permitindo através de ferramentas como o nED DTool e o nED Scada que se possa monitorizar a operação e o estado do aerogerador 24-7-365, e efetuar uma grande quantidade de operações e verificações de manutenção de forma remota e sem aceder ao local da turbina eólica, aumentando assim os níveis de disponibilidade. rm: Numa perspetiva de smartgrid, a integração com tecnologias de armazenamento e tecnologias de regulação de tensão e potência adequadas à gestão de consumos poderá ser um caminho tecnológico para a integração nos sistemas de controlo da máquina e interface com a rede? PFC: Como referido, o nED100 possui avançadas capacidades de ligação à rede que lhe permitem uma fácil integração em sistemas híbridos, redes isoladas ou smartgrids, podendo colaborar no controlo ou estabilização da tensão de rede mediante o controlo da reativa. O controlo de potência ativa ajusta a geração do aerogerador às necessidades do sistema em função dos consumos, evitando a utilização de cargas de dissipação. Também podem ser utilizadas para efetuar funções de estabilização de frequência. rm: Em Portugal existe algum receio nas empresas do setor elétrico e das entidades governamentais da tutela, relativamente à possibilidade dos consumidores produzirem a sua própria energia. Acha que este receio poderá representar uma barreira para ingressar neste mercado? PFC: O receio por si mesmo não pressupõe uma barreira comercial mas na medida em que este receio seja protegido com taxas, impostos e pesquisas, pode chegar a ser uma barreira tanto para o nED como para qualquer sistema de geração a instalar em Portugal. rm: Como carateriza o mercado português e como perspetiva o seu futuro com energias renováveis? PFC: A verdade é que quero caraterizá-lo com esperança e otimismo, uma vez que estão no ponto necessário e no momento imprescindível para fazer uma regulação que incentiva a geração distribuída e o autoconsumo, com todas as vantagens que isso implica para a economia, o tecido empresarial, a produtividade, entre outros aspetos que acabam por revelar indiretamente caraterísticas da sociedade portuguesa no seu conjunto. Da nossa parte só podemos esperar que assim aconteça! PUB. rm: Que evoluções estão previstas para os novos modelos de aerogeradores? Podemos esperar o lançamento de novas máquinas com outros níveis de potências? PFC: Efetivamente, o nED100 é o primeiro da sua série cuja evolução e desenvolvimento se definirá com base na procura de mercado, e por isso já se trabalham noutros modelos com potências um pouco inferiores, para os diversos mercados europeus, os quais estarão disponíveis num curto espaço de tempo. No entanto, tanto estes modelos como outros que surjam no futuro estarão sempre dentro do segmento de média potência. 51