Avaliação da Síntese de Fibras Elásticas por Transfecção em Culturas de Células obtidas de Camundongos Deficientes em Fibrilina-1 Thanuci Silva¹ , Guilherme G. Braga¹, Ana Cláudia C. N. Diez¹, Cláudio C. Werneck¹, Gracc P. Keiler¹ Eduardo Galembeck¹ 1Departamento de Bioquímica, Bloco F, Instituto de Biologia – UNICAMP, CEP 13083-970, Campinas-SP, Brasil, fone (19) 3521-6149 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq Palavras – chave : Fibrilna-1, síndrome de marfan INTRODUÇÃO Ao longo da evolução dos organismos pluricelulares a flexibilidade dos tecidos tem sido requisito essencial. As fibras elásticas, envolvidas na capacidade que os tecidos tem de suportar estresses mecânicos conferindo resiliência, são estruturas complexas essenciais presentes na matriz extracelular. Permitem que os tecidos sofram deformações e que após esta, voltem a sua forma original sem que haja gasto de energia (Kielty, et. al, 2002). Estas propriedades são imprescindíveis em órgãos como as artérias, pulmões, pele e outros tecidos nos quais haja muitos ciclos de deformação/retração. As fibras elásticas são compostas de elastina a qual se apresenta envolvida por uma rede de microfibrilas ricas principalmente em Fibrilinas. Mutações no gene da Fibrilina-1, foco deste estudo, estão associadas com a Síndrome de Marfan, uma doença autossômica dominante. Em humanos, esta síndrome revela manifestações clínicas principalmente nos pulmões, no sistema cardiovascular e no sistema esquelético. Neste projeto, propusemos obter células de camundongos C57BL/6 com mutações no gene da fibrilina-1 (ausência dos exons 19-24), modelo para Síndrome de Marfan, e avaliar a capacidade destas células em formar fibras elásticas através da expressão de tropoelastina recombinante fusionada com uma etiqueta fluorescente (DsRed), utilizando sistema dinâmico de captura de imagens (Axio Observer, Carl Zeiss, Alemanha). RESULTADOS Considerando a transfecção das culturas primárias e para verificar se o plasmídio a ser usado estava funcionando, utilizamos células da linhagem RFL6, que são fibroblastos de pulmão de ratos, que expressam em cultura os componentes das fibras elásticas. A transfecção foi realizada como descrito anteriormente e a análise da deposição da tropoelastina+DsRed foi realizada e pode ser visualizada. Diante destes resultados, as células obtidas dos camundongos serão agora transfectadas e analisadas assim que tivermos a câmara de incubação das células que fica acoplada ao microscópio consertada. Desta forma poderemos comparar a deposição da tropoelastina+DsRed nas células que expressam diferentes quantidades de Fibrilina-1. MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho, isolamos fibroblastos de derme a partir de camundongos recém-nascidos com 2-3 dias de idade. Estes foram obtidos a partir de um cruzamento entre dois camundongos adultos heterozigotos para a mutação no gene da fibrilina-1, Fbn1 (Fbn1mgΔ/+). A partir deste cruzamento obtivemos os três genótipos celulares que foram utilizados durante este estudo: selvagens- Fbn1+/+ , heterozigotos- Fbn1mgΔ/+ e homozigotos: Fbn1mgΔ/ mgΔ. As células foram então plaqueadas em meio DMEM + 10% Soro Fetal bovino + 1% penicilina 10.000 U.I/ ml e estreptomicina 10 mg/ml e incubada em estufa 37oC com atmosfera de 5% de CO2. As caudas dos animais recém-nascidos dos cruzamentos foram coletadas e identificadas. Logo após, para a lise, as amostras foram incubadas com TNES (Tris 10mM, NaCl 125mM, EDTA 10nM, SDS 0,5% em pH 8) e proteinase K (20mg/mL) por 16h (overnight) a 55oC. Após aguardar o tempo adequado, as amostras foram tratadas com RNAse A (4mg/mL) por 30min. Em seguida, realizou-se o ensaio para precipitação de proteínas com NaCl (5M) em centrifugação (15000xG) por 10min. Posteriormente, houve a precipitação do DNA com o uso de isopropanol e centrifugação (15000xG) por 10min, e então, realizou-se a lavagem com etanol 70% seguida por centrifugação (15000xG) por 5min. Apenas o precipitado seco (contendo somente DNA) resultante foi utilizado, hidratado com TE (Tris 10mM e EDTA 1mM) e armazenado a -40ºC. Para a reação de PCR, foram utilizados os seguintes oligonucletídios (primers): • 1 R E A Ç Ã O : N e o F ( 5 ’ – G A G G C TAT T C G G C TAT G A C T – 3 ’ ) e N e o R ( 5 ’ – CTCTTCGTCCAGATCATCCT – 3’) • 2 REAÇÃO: 20F (5’- AAA CCA TCAAGGGCACTTGC–3’)eCC-R(5’CACATTCGCTGCCTTTAA TTC– 3’), nas concentrações finais de 10,0ρmol/uL em tampão TE com 2uL do DNA template e MasterMix (GE Healthcare UK). O produto das reações foram analisados por eletroforese em gel de agarose 0,75% acrescido de brometo de etídio 5%, com marcador de peso molecular (100bp DNA ladder plus, para a primeira reação e 1kb DNA ladder plus para a segunda reação) utilizando como tampão de corrida TBE 1x (160mA/40 min) e posteriormente visualizado por fotodocumentador GE Healthcare UV 302nm. Os animais que apresentaram banda com aproximadamente 440pb na primeira reação, foram identificados como portadores da mutação no gene da fibrilina-1 (Fbn1mgΔ/+). Já os animais que apresentaram banda com aproximadamente 600bp foram identificados como portadores do alelo selvagem na segunda reação. Portanto, os animais selvagens apresentaram banda apenas quando utilizado o par de primers 20F/CC-R, os animais deficientes heterozigotos apresentaram bandas em ambos os pares NeoF/NeoR e 20F/CC-R e os animais deficientes homozigotos apresentaram apenas a banda usando o par NeoF/NeoR. Para otimizar a técnica de transfecção, foram descongelados vials contendo fibroblastos do genótipo selvagem (Fbn1+/+ ) obtidos do estoque celular descrito anteriormente. Após verificar o crescimento normal das células, estas foram tripsinizadas e então, plaqueadas (1-2x105 células) em uma placa de 6 poços para prepará-las para a transfecção plasmidial de DNA. Um dia antes da confluência dos poços, o meio de cultura foi trocado para DMEM + 10% de Soro Fetal Bovino sem acréscimo de antibióticos. Então, no dia seguinte as células foram submetidas ao processo de transfecção de DNA plasmidial utilizando o complexo Lipofectamine™ 2000 durante 24h, incubadas a 37°C com atmosfera de 5% de CO2. As células foram então tratadas com Geneticina (500 µg/ml) para seleção. Os fibroblastos selecionados foram submetidos ao sistema de aquisição de imagens por 24-48h (Axio Observer, Carl Zeiss, Alemanha). Com este procedimento, podemos analisar a deposição de fibras elásticas na matriz extracelular dos diferentes genótipos celulares obtidos e compararmos entre si analisando a deposição de tropoelastina na matriz extracelular. Em nosso estudo a deposição de tropoelastina na matriz extracelular dos fibroblastos, seria prejudicada nas células com genótipo heterozigoto, seguida por aquelas de genótipo homozigoto. Isto por que evidências (Handford et. al, 2000) sugerem que as fibrilinas são os componentes principais das microfbrilas, sendo assim, mutações envolvendo genes que codificam a fibrilina-1 resultam em microfibrilas anormais in vivo e in vitro. O locus genômico da fibrilina-1 (FBN1) é composto por aproximadamente 350kD de uma glicoproteína rica em cisteína responsável por secretar e processar a produção da proteína funcional. A FBN1 apresenta ainda domínios repetitivos, o mais comum, aquele que se repete 47 vezes na proteína é o epidermal growth factor precurssor-like (EGF). O EGF apresenta 6 resíduos conservados de cisteína associados a três ligações dissulfídicas. Além disso, 43 módulos de EGF contém uma sequência de ligação de cálcio (cbEGF) (Frydman, 2008). Considerando a transfecção das culturas primárias e para verificar se o plasmídio a ser usado estava funcionando, utilizamos células da linhagem RFL6, que são fibroblastos de pulmão de ratos, que expressam em cultura os componentes das fibras elásticas. A transfecção foi realizada como descrito anteriormente e a análise da deposição da tropoelastina+DsRed foi realizada e pode ser visualizada nas figuras 3 e 4. Onde podemos constatar a tropoelastina sendo depositada e marcada em vermelho. Diante destes resultados, as células obtidas dos camundongos serão agora transfectadas e analisadas assim que tivermos a câmara de incubação das células, que fica acoplada ao microscópio, consertada. Desta forma poderemos comparar a deposição da tropoelastina+DsRed nas células que expressam diferentes quantidades de Fibrilina-1. CONCLUSÕES Apesar das funções regulatórias e sinalizadoras da Fibrilina-1 não estejam totalmente claras, sua participação na estruturação das microfibrilas, responsáveis pela elasticidade dos tecidos é de suma importância e tem sido foco de muitos estudos atualmente. Este trabalho otimizou as técnicas de transfecção plasmidial em cultura primária de células possibilitando que a deposição de tropoelastina pudesse ser observada em um sistema dinâmico de aquisição de imagens, de forma que esta técnica também pudesse ser utilizada em diferentes tipos de fibroblastos. Os fibroblastos de derme, serão então submetidos ao mesmo sistema de aquisição de imagens utilizado com as RFL6, para posterior análise desta deposição em genótipos onde a síntese de Fibrilina-1 está comprometida devido à mutações no locus genômico que a codifica.