986 V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Avaliação da Neurodiferenciação de Células-Tronco Mesenquimais de Medula Óssea Através da Transcrição de mRNA. Daniel Rodrigo Marinowic1,2, Ricardo Zalewsky1, Denise Cantarelli Machado1,2, Jaderson Costa da Costa1,2 (orientador). 1 Instituto de Pesquisas Biomédicas (IPB), 2 Instituto do Cérebro (InsCer) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Introdução As células-tronco mesenquimais constituem uma população de células precursoras multipotentes que auxiliam na hematopoiese e podem diferenciar-se em vários tipos celulares como condrócitos, osteócitos, adipócitos e miócitos1. Além desses tipos celulares, tem sido demonstrado que as células-tronco mesenquimais têm capacidade de diferenciar-se em neurônios e astrócitos2. Cha e colaboradores (2009)3 submeteram células multipotentes à cultura sob indução à neurodiferenciação, obtendo após 30 dias, células com características morfológicas e expressão de proteínas específicas. Essas células multipotentes também in vivo podem se diferenciar em neurônios e glias4 e apresentam potencial terapêutico para reparar as lesões do sistema nervoso central3. O objetivo deste trabalho é estabelecer um protocolo de neurodiferenciação de célulastronco mesenquimais para obtenção de uma linhagem neural avaliando a transcrição de mRNAs em diferentes períodos da neurodiferenciação. Metodologia O sangue de medula óssea foi obtido de um paciente no Hospital São Lucas da PUCRS após aprovação pelo comitê de ética em pesquisa da PUCRS e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A fração mononuclear foi separada em um gradiente de densidade gerado por centrifugação sobre histopaque 1,077g/L (Sigma-Aldrich). A fração mononuclear foi colocada em cultura em meio DMEM (LGC) suplementado com soro fetal bovino (LGC) e antibióticos. A cultura foi mantida em estufa sob condições de 5% CO2 e 37°C até a obtenção das células-tronco mesenquimais (fase 1). Foi adicionado ao meio βmercaptoetanol e as células foram cultivadas por um período de cinco dias (fase 2). A seguir, as células foram cultivadas em meio DMEM/F12 (Invitrogen) suplementado com HEPES V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 987 (Sigma-Aldrich) e bicarbonato de sódio (Sigma-Aldrich), por um período de cinco dias (fase 3). Por fim, as células foram então cultivadas em meio neurogênico suplementado com neurotrofinas por um período final de 5 dias (fase 4). Em cada fase da cultura foi realizada a extração de RNA utilizando o kit de extração de RNA total (Promega). A síntese de cDNA foi realizada utilizando o kit SuperScript (Gibco). Para avaliação da transcrição de mRNA foram utilizados primers específicos de células pluripotentes (SOX2), de células em processo de neurodiferenciação (ASCL1, NEUROD6 e MAP1), neurônios maduros (NFL e STX1A) e células gliais (GFAP). Resultados e Discussão Todas as fases da cultura de neurodiferenciação apresentaram positividade para o marcador de pluripotência SOX2, indicando que mesmo nas fases finais da neurodiferenciação as células continuam expressando um marcador de célula indiferenciada. Os transcritos, ASCL1 e MAP1, começaram a ser expressos a partir da fase 2 e mantiveram sua positividade até a última etapa do processo de neurodiferenciação, esses marcadores estão associados aos processos de neurodiferenciação, incluindo neurônios maduros5. A expressão de NEUROD6 foi observada a partir da fase 3 e estava ausente na última fase, corroborando com os dados descritos na literatura que sugerem que o mesmo é expresso durante o processo de diferenciação neurogênica sendo negativo em células neurais maduras6. O marcador de neurônios maduros, NFL estava presente a partir da fase 3 até o final da neurodiferenciação. O transcrito de STX1A, característico de células neurais maduras e funcionais foi positivo a partir da fase 2 e manteve-se positivo até o final da diferenciação. A presença de STX1A pode estar relacionada com a funcionalidade das células neurais, pois a proteína sintetizada a partir do seu transcrito está envolvida na fusão da vesícula sináptica com a membrana do botão sináptico7. O transcrito que caracteriza células gliais, GFAP, foi expresso somente na fase final da neurodiferenciação (fase 4). Na tabela 1 estão apresentados os marcadores e os períodos da neurodiferenciação em que os mesmos foram expressos. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 988 Tabela I – Marcadores expressos nas diferentes etapas da neurodiferenciação FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 SOX2 + + + + NEUROD6 - - + - ASCL1 - + + + MAP1 - + + + NFL - - + + STX1A - + + + GFAP - - - + Fase 1: DMEM; Fase2: DMEM+suplementação; Fase 3: DMEM/F12+suplementação; Fase 4: Neurobasal+suplemetação. Conclusão A avaliação da transcrição de mRNAs de diferentes proteínas específicas do processo de diferenciação neurogênica e de células neurais maduras, indicam que os meios de neurodiferenciação e as condições de cultura aqui utilizados podem ser uma nova alternativa em terapia celular direcionada para as patologias do sistema nervoso central, otimizando os resultados já obtidos em terapias que empregam células-tronco indiferenciadas em modelos experimentais. Referências 1. SECCO, M.; ZUCCONI, E.; VIEIRA, N.M.; CERQUEIRA L.L.F.A.; CARVALHO, M.D.F.; JAZEDJE, T.; OKAMOTO, O.K.; MUOTRI C,A,.R.; ZATZ, M.. Mesenchymal stem cells from umbilical cord: Do not discard the cord! Stem Cell. Vol. 26 (2008), pp. 147-150. 2. GIORDANO, A.; GALDERISI, U.; MARINO, I.R.. From the Laboratory Bench to the Patient’s Bedside: An Update on Clinical Trials With Mesenchymal Stem Cells. Journal of Cellular Physiology. Vol. 211 (2007), pp. 27-35. 3. CHA, S.; BIELECKI, R.; WONG, C.J.; YAMANAKA, N.; ROGERS, I.M.; CASPER, R.F.. Neural progenitors, neurons and oligodendrocytes from umbilical cord blood cells in a serum-free, feeder-free cell culture. Biochemical and Biophysical Research Communications. Vol. 379 (2009), pp. 217-221. 4. SANCHES-RAMOS, R.; SONG, S.; KAMATH, S.G.; ZIGOVA, T.; WILLING, A.; CARDOZO-PELAEZ, F.; STEDEFORD, T.; CHOPP, M.; SANDER, P.R.. Expression of neural markers in human umbilical cord blood. Experimental Neurology. Vol. 171 (2001), pp. 109-115. 5. MEZEY, E.; CHANDROSS, K.J.; HARTA, G.; MAKI, R.A.; McKERCHER, R.R.. Turning blood in to brain: cell bearing neuronal antigens generatedin vivo from bone marrow. Science. Vol. 290, Nº 5497 (2000), pp. 1779-1782. 6. SHIMIZU, C.; AKAZAWA, C.; NAKANISHI, S.; KAGEYAMA, R.. MATH-2, a mamalian helix-loop-helix factor structurally related to the product of Drosophila proneural gene atonal, is specifically expressed in the nervous system. Euro Jornal Biochem. 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