Prefácio, orelhas e capa — Alice no País das Maravilhas — Lewis Carroll
Doses delicadas de lisergia
Felipe Leão Esteves
Alice estava entediada à beira de um riacho, ao lado de sua irmã, que lia um livro sem
gravuras, nem diálogos; foi quando um coelho falante, vestido com um colete, passou
correndo em sua frente com muita pressa. Será que era um sonho? Alice não se importou e
pôs-se a perseguir o coelho até entrar numa toca que a transportou para um mundo
fantástico. Alice sentia-se estranha e as coisas com as quais se deparava fazia mais sentido aos
seus pensamentos mais profundos do que à realidade de sua vida. Será um sonho? Pois bem,
sendo um sonho ou não, ao adentrar pela toca atrás do coelho, Alice passou a viver aventuras,
fantasias e mistérios ao lado de personagens enigmáticos.
A cada página virada, esses personagens passam a compor a realidade fantástica de
Alice: a Lebre de Março e o Chapeleiro Maluco, que vivem presos ao tempo; a Rainha de Copas
que parece ter saído de um baralho; o Gato de Cheshire, que brinca como uma criança e faz o
que dá na telha – sempre reaparecendo na narrativa com sorrisos enigmáticos; o Coelho
Branco, sempre com um relógio na mão, responsável e cumpridor de suas obrigações, como
um adulto sério; entre tantos outros. Se esse mundo surreal for mesmo um sonho, Alice teria
criado todos esses personagens? Afinal, todos eles apresentam características do mundo real,
ao tempo que parecem ter vindo de um sonho intrigante.
Os acontecimentos absurdos começam no momento em que Alice entra na toca atrás
do coelho. Depois de uma queda em câmera lenta, dentro de um poço cheio de prateleiras
com objetos curiosos, logo Alice aterrissa com segurança em um local fechado e avista uma
chave sobre uma mesa. À procura de uma fechadura que a liberte, encontra uma pequena
porta que dá acesso a um lindo jardim que surge atrás de uma cortina. Porém, antes de sair,
Alice bebe um líquido de uma garrafa que a faz diminuir de tamanho e não consegue mais
alcançar a chave sobre a mesa. Em seguida, descobre um bolo, que ao comer a faz aumentar
seu comprimento. Esse é só o começo dessa aventura fabulosa. Aos poucos, Alice vai aprender
as regras que regem o País das Maravilhas, ao mesmo tempo que e se deparará com os
personagens mais fantásticos e inimagináveis.
Em Alice no País das Maravilhas, publicado em 1865, Lewis Carroll (1832-1898) destila
sua percepção detalhista na construção de uma narrativa rica e cheia de significados. Durante
a história, o autor deixa claro: “Tudo tem uma moral: é só encontrá-la.” Entende-se, então,
que cabe ao leitor encontrar os sentidos no caminho que percorre Alice pelo País das
Maravilhas. Visto assim, a obra se torna um labirinto de magia e aventura, onde é necessário
interpretar os enigmas aos quais Alice é submetida para se descobrir até onde nossa
imaginação pode alcançar. E, com sua trajetória sonhadora, Alice nos faz ir distante, em lugar
onde, talvez, nunca pensamos em estar.
4ª Capa
Ao cair num buraco que dá acesso ao País das Maravilhas, Alice viverá uma realidade
complexa e enigmática. Mais que isso, Alice vai trilhar um caminho fantástico, num mundo que
mais parece um sonho de fábula. Em Alice no País das Maravilhas (1865), Lewis Carroll destilou
seu poder genioso para metaforizar a realidade das coisas e das pessoas de sua época. A
trajetória de Alice faz o leitor pensar nos significados de cada cena apresentada. O livro é
repleto de fantasias oníricas e lúdicas e sua narrativa serve a leitores de todas as idades, de
crianças a adultos. A obra de Carroll é uma viagem ao subconsciente, o qual é proporcionado
pelos sonhos. A história é composta por personagens que, ao mesmo tempo em que são
absurdos, são reais – um reflexo das pessoas que encontramos no nosso dia a dia. Não à toa,
esta obra é considerada o clássico mais célebre da literatura nonsense.
Orelha 1
“— Não estou bem certa, Senhora... quero dizer, nesse exato momento não sei quem
sou... quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas
vezes desde então...”. Nesta passagem célebre, Alice adentra no País das Maravilhas e dialoga
com a Lagarta Azul, nota-se diferente e não entende o que está acontecendo – desconfia que
tudo não passa de um sonho, mas não tem certeza; então, prefere viver aquela realidade,
aprendendo com seus obstáculos. Alice no País das Maravilhas é um dos clássicos mais ricos
da literatura mundial pelo seu valor narrativo e detalhista, mas principalmente pelas
metáforas sutis criadas por Lewis Carroll. Para entender esse mundo mágico é necessário
imaginar e interpretar; sendo criança ou adulto, acreditar no sonho como uma reprodução da
realidade. A obra só se faz completa quando o leitor se questiona e se permite pegar carona
no mundo lúdico e cheio de imaginação de Alice.
Orelha 2
Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (Daresbury, 27 de janeiro do
1832 — Guildford, 14 de janeiro de 1898), além de romancista consagrado, foi poeta e
matemático. Lecionava matemática em Oxford, mas foi ao escrever Alice no País das
Maravilhas que teve seu maior reconhecimento, além da continuação da obra em Alice
através do espelho e o que ela encontrou por lá. Os poemas dispostos no decorrer do romance
também são de sua autoria e são considerados percussores da poesia de vanguarda.
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Prefácio, orelhas e capa — Alice no País das Maravilhas — Lewis