Análise Setorial Varejo Um setor em grande transformações Análise Setorial Varejo Introdução O setor de varejo no Brasil apresenta profundas transformações nos últimos anos em decorrência do desenvolvimento de um leque de estratégias competitivas e do aumento de sua abrangência em nível nacional. O grande potencial de expansão da atividade atraiu a entrada de participantes externos o que gerou e propiciou a adoção de conceitos mais modernos de operacionalidade. Simultaneamente ao processo de internacionalização, o segmento apresenta um movimento de consolidação liderado pelos médios e grandes varejistas, principalmente da área de alimentos, dado que o varejo brasileiro é continental e ainda fragmentado. Atualmente, a atividade vem se beneficiando diretamente dos avanços experimentados nos níveis de renda e emprego da população e da inserção econômica de novos e potenciais consumidores que ampliam e ao mesmo tempo sofisticam os diversos segmentos. As recentes alterações no cenário internacional suscitaram novas questões que envolvem desde a superação do momento atual, apoiada nos ajustes efetuados por governos locais com abrangência global, até a restauração dos mercados de crédito e de consumo. Em nível mundial, o processo de ajuste à nova configuração envolve todas as atividades produtivas, alcançando os níveis de emprego e renda dos consumidores finais. A gradual retomada do crescimento depende da eficácia das medidas adotadas, o que acaba por levar a uma reavaliação da rentabilidade das corporações como um todo. As dificuldades enfrentadas pela economia mundial alcançaram o Brasil em um momento no qual o país experimentava o caminho do crescimento econômico sustentável e do controle efetivo sobre a inflação. A elevação dos preços das commodities, das receitas com exportações e o grande interesse manifestado pelos investidores estrangeiros em países emergentes criaram as condições para um processo de redução dos juros e de valorização da moeda, além do fortalecimento do mercado interno. A situação atual sinaliza um abrandamento do crescimento econômico e uma redução nas atividades de comércio exterior. As perspectivas para o setor de varejo no mundo e, em especial para as economias desenvolvidas, são de recuperação até o final de 2009. Essa recuperação deve acompanhar uma nova configuração dos mercados, de acordo com as especificidades existentes de cada país. Nesse ambiente, os consumidores estarão mais sensíveis aos preços e os varejistas ao controle de custos. A manutenção do crescimento exigirá estratégias de diferenciação e de inovação mais ativas perante os principais concorrentes. Os participantes do setor tendem a privilegiar uma posição mais defensiva, centrando a atenção sobre questões de redução e diversificação do risco, cadeia de suprimentos, importações entre outros fatores. As estratégias de aumento da competitividade devem continuar, abrangendo as diversas formas de diferenciação, construção de marcas, mix de produtos, core business, atendimento ao cliente, novos formatos e segmentações. Índice 5 O setor no Brasil 7 Evolução recente 9 Consumo e varejo 11 Inflação e varejo 13 Vendas regionais 15 Movimentos de mercados 20 Hiper e supermercados 22 Perspectivas e tendências para 2009 25 Referências bibliográficas Análise Setorial Análise Setorial Varejo O setor no Brasil O varejo no Brasil é um setor que apresenta profundas transformações nos últimos anos, tornando-se cada vez mais competitivo e moderno. O setor, que já conviveu com altas taxas de inflação, vem aumentando e articulando um novo leque de estratégias competitivas que não estão voltadas apenas para a redução de preços e custos. O varejo brasileiro vem buscando aumentar sua abrangência regional, ao disseminar lojas especializadas e aumentar a presença de grupos e cadeias em nível nacional. Principais segmentos do varejo Comércio de veículos e supermercados são os maiores segmentos de varejo no Brasil, em volume de receitas. Representatividade dos segmentos do varejo Volume total de vendas (%) 26,0 Veículos, motos e autopeças 19,5 Hiper e supermercados 18,7 Combustíveis e lubrificantes 7,6 Tecidos, vestuário e calçados 6,5 Móveis e eletrodomésticos O setor, que ainda concentra suas maiores empresas e fornecedores nas regiões Sudeste e Sul, com exceção de fornecedores de eletrônicos, está preconizando mudanças estruturais importantes. Tais mudanças conduzem a melhora nos relacionamentos em termos de cadeia de suprimentos, que passam a visar não penas o âmbito comercial – preços e formas de pagamento – como também um melhor gerenciamento dos fluxos de mercadorias. Ao lado de um padrão de gestão familiar, ocorre o aprimoramento da governança através da utilização de tecnologias de informação, que harmonizam o padrão de gestão das empresas e seu grau de profissionalização. Atualmente, ocorre o emprego crescente de tecnologias poupadoras de mão-de-obra e melhor qualificação dos empregados, imprescindível para um setor intensivo em mão-de-obra menos qualificada e com alta rotatividade. 6,2 Material de Construção 4,8 Medicamentos, cosméticos e higiene pessoal Informática e comunicação Livros, jornais, revistas e papelaria 1,8 1,1 5,6 Outros artigos Alimentos, Bebidas e Fumo 2,2 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). Pesquisa Anual de Comércio, 2006. Receita operacional líquida. O setor varejista no Brasil é amplo, diversificado e competitivo. A última Pesquisa Anual do Comércio (relativa a 2006), publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta a existência de 1,5 bilhão de empresas, sendo o setor varejista responsável por 84% do total de empresas comerciais no Brasil. A pesquisa, que fragmenta o comércio brasileiro em atacado, varejo e comércio de veículos, peças e motocicletas, aponta também que o setor foi responsável por 42% do faturamento do comércio no País. O comércio de veículos e as atividades supermercadistas são os maiores segmentos de varejo em volume de receitas. Porém, o número de supermercados no Brasil em relação à população e ao território ainda é inferior ao número existente em países como Estados Unidos e da Europa, tais como França, Alemanha e Inglaterra, bem como de alguns países sul-americanos, como o Chile, indicando um grande potencial de expansão. O varejo é uma atividade com sazonalidade significativa de demanda e alto nível de giro, além de forte suscetibilidade às políticas econômicas que afetam a conjuntura macroeconômica e os indicadores de renda e emprego. Portanto, o 5 Análise Setorial Varejo aumento da população brasileira e a estabilidade econômica são fatores importantes para o crescimento da atividade de supermercados e hipermercados, como também das demais atividades de varejo. O setor varejista de alimentos no Brasil é ainda fragmentado, apesar do processo de consolidação liderada pelos médios e grandes varejistas de alimentos. As vinte maiores redes e empresas do segmento supermercadista representam aproximadamente 80% do faturamento líquido das empresas do mercado, além de uma grande concentração de lojas na mesma região. Adicionalmente, as dez maiores redes de supermercados são responsáveis por cerca de metade de todas as vendas do setor. Entretanto, existe uma forte concorrência de pequenos varejistas de alimentos e redes regionais, nacionais e internacionais de varejo. Nos últimos anos, a entrada de participantes externos e a adoção de conceitos mais modernos de operacionalidade têm impulsionado o setor na busca por maior eficiência e por maiores espaços de mercado. Nesse contexto, todos os avanços experimentados recentemente tais como a elevação dos níveis de renda e emprego da população, a inserção econômica de novos e potenciais consumidores, a expansão do crédito e a redução dos juros com o aumento das garantias, têm afetado o ambiente das empresas varejistas, expondo a necessidade de adequações nos processos de gestão, entre outros, para o convívio em um novo padrão de competitividade. O varejo está se sofisticando e é crescente também o envolvimento do comércio, inclusive associações, com o financiamento ao consumidor. 6 Análise Setorial Varejo Evolução recente O comércio varejista tem apresentado elevadas taxas de crescimento desde 2004. O desempenho acompanha o crescimento econômico e a elevação do nível de emprego e renda da população, determinantes diretos do desenvolvimento das vendas no varejo. A melhora do crédito, menores taxas e maiores prazos de financiamento também contribuíram para o desempenho, principalmente nos segmentos mais dependentes das condições de crédito tais como veículos e eletrodomésticos. Desempenho recente do setor varejista O desempenho em 2008 ainda se apresenta forte. Fatores de expansão: programas sociais do governo federal, expansão do consumo e do crédito. Comércio varejista Variação % acumulada no ano (Jan-Set/2008) 30 23,8 25 20,7 20 O Produto Interno Bruto (PIB) atingiu R$2,6 trilhões em 2007 ou crescimento de 5,4% com relação ao ano de 2006. A demanda interna foi impulsionada tanto pelo consumo das famílias quanto pelos investimentos que cresceram 6,5% e 13,4%, respectivamente. O forte avanço do consumo das famílias em 2007 decorreu da elevação de 3,6% na massa salarial, em termos reais, do crescimento de 28,8% no crédito à pessoa física e de 20,3% nas importações. A receita nominal do comércio varejista acompanhou essa evolução, registrando crescimento de 14,1% nas receitas nominais e 9,6% nas vendas reais. O desempenho em 2008 ainda se apresenta forte. Os últimos resultados apurados, mostram aquecimento adicional de 10,4% nas vendas acumuladas no ano até setembro, contra igual período do ano anterior. Dentre os fatores de contribuição ao crescimento se encontram basicamente os mesmos que atuaram no ano anterior – facilidades de crédito e crescimento do emprego e da renda. Associados à expansão do consumo doméstico encontram-se também o movimento de desconcentração de renda promovido pelos programas sociais do governo federal nos últimos anos; o nível crescente de confiança dos consumidores; e a valorização do real perante as principais moedas internacionais que favoreceu as importações, barateando os bens estrangeiros. segmentos sensíveis a crédito segmentos sensíveis a renda 18,3 17,0 16,3 15,6 15 15,4 13,7 13,0 10,4 10 10,1 5,3 5 0 Comércio varejista Supermercados Tecidos e vestuário Volume de vendas Receita Volume de vendas Receita nominal Medicamentos e higiene pessoal Móveis e Automóveis eletrodomésticos nominal Fonte: Deloitte Brazil Research (a partir da consolidação de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). Expansão do PIB e do consumo O forte avanço do consumo das famílias decorreu da elevação de 3,6% na massa salarial, em termos reais, e do crescimento de 28,8% no crédito à pessoa física e de 20,3% nas importações. PIB e consumo das famílias R$ Bilhões 3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 759 826 912 2000 2001 2002 1 053 1 161 1 294 1 558 1 408 500 0 Consumo das das famílias Consumo famíliasPIB 2003 2004 2005 2006 2007 PIB Fontes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE 7 Análise Setorial Varejo Todos os segmentos do varejo estão apresentando expansão generalizada. A venda de produtos associados à informática e comunicação tem registrado crescimento de quase 30% ao ano. O excelente desempenho do comércio eletrônico decorreu em parte da expansão do segmento de informática, acompanhando a queda nos preços dos computadores e o aumento do número de usuários e de clientes da banda larga. O comércio eletrônico apresentou elevação de 43% no faturamento em 2007, indicando uma participação cada vez maior no faturamento total do comércio. Os quatro segmentos do comércio varejista que mais contribuíram para o resultado em 2008 foram os segmentos de informática e comunicação, veículos e autopeças, material de construção e eletrodomésticos. O varejo de materiais de construção, impulsionado pela forte retomada da atividade, já havia apresentado crescimento anual de 10,8% em 2007, na comparação com o ano anterior. Em 2008, as vendas do segmento se encontravam bem mais fortes, registrando crescimento de quase 20% no acumulado no ano até setembro, contra igual período do ano anterior. Evolução das vendas reais A receita nominal do comércio varejista cresceu 11,9% e as vendas reais 9,7% em 2007. Últimos resultados continuam mostrando aquecimento adicional nas vendas: crescimento de 10,4% no acumulado no ano até setembro. Vendas reais no varejo Índice de Comércio Varejista (2003=100) 210 155 Média móvel 12 meses 190 145 170 135 150 125 130 115 110 105 90 95 Set/08 70 D 2001 D 2002 D 2003 D 2004 D 2005 D 2006 D 2007 D 2008 D Vendasemacumuladas Vendas reaisreais mensais Vendas acumuladas 12 meses Vendas mensais em 12 meses Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. O setor de supermercados, com grande representatividade no comércio varejista, também se encontrava bastante aquecido. O desempenho da atividade tem sido influenciado pelo movimento de desconcentração de renda, além do aquecimento da economia, que favorece diretamente o segmento de alimentos. Em 2008, o setor vem registrando aumentos tanto em volume de vendas quanto em receitas, apontando para um bom desempenho no ano. Até setembro de 2008, as vendas ainda se mostravam bastante aquecidas em termos nominais, descolando-se do crescimento das vendas reais que foi de 5,3% no acumulado no ano, contra igual período do ano anterior. O recrudescimento da crise financeira internacional em meados de setembro inspira maiores cuidados e altera as perspectivas no curto prazo. O cenário econômico foi indiscutivelmente alterado, devendo dificultar os novos incrementos no setor de comércio varejista e comprometer as previsões de crescimento da economia mundial como um todo, tornando difícil a confirmação do mesmo desempenho favorável para o ano. 8 85 Análise Setorial Varejo Consumo e varejo • Emprego, renda e salários O crescimento do segmento de supermercados depende diretamente dos níveis de emprego e renda e dos salários. Os constantes investimentos na atividade, a ampliação das grandes redes e dos pontos-de-venda tornam o mercado mais competitivo. • Movimento de desconcentração de renda Quanto maior a relação transferências governamentais/ receita de revenda maior o crescimento do comércio varejista. O movimento contribui para a expansão generalizada e homogênea entre as diversas regiões do País, além de ter incentivado o movimento de fusões e aquisições e projetos de investimentos. • Expansão do crédito e dos meios de pagamento – O comércio não especializado, que inclui o segmento de supermercados, recebe aproximadamente 3% dos recursos concedidos às pessoas jurídicas pelas instituições financeiras. – Nos últimos anos, os cartões de pagamento têm apresentado uma taxa de crescimento mais rápida que a das demais formas de pagamento. Os supermercados respondem por aproximadamente 20% das transações com cartões de crédito. – Os segmentos mais sensíveis a crédito apresentam um crescimento expressivo em 2008, tais como veículos e eletrodomésticos. Movimento de desconcentração de renda O desempenho em 2008 ainda se apresenta forte. Fatores de expansão: programas sociais do governo federal, expansão do consumo e do crédito. Transferências do governo e comércio varejista em 2006 Transferências governamentais / receita bruta de revenda (%) Volume de comércio varejista (%) Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. • Nível de confiança do consumidor As expectativas do consumidor têm impacto direto sobre as atividades do setor. O indicador reflete as expectativas e o desconforto com os níveis de juros e de inflação. • Valorização cambial Câmbio favorável às importações barateia os bens estrangeiros e conduz a maior competição e especialização. 9 Análise Setorial Varejo Expansão do crédito O crédito concedido às atividades comerciais representa 20% do total das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional. Distribuição do crédito por atividade econômica R$ Bilhões Devedores pessoas jurídicas 2007 Indústria Comércio Serviços Rural Outras atividades Total 213,8 97,6 156,3 23,7 16,6 508,0 % do PIB 2008 (Ago) 254,6 117,4 191,3 27,8 17,2 608,2 2007 2008 (Ago) 8,7 4,0 6,6 1,0 0,6 20,8 7,9 3,6 5,8 0,9 0,6 18,8 Veículos e leasing Os segmentos do varejo mais sensíveis a crédito apresentaram um crescimento expressivo em 2008. Financiamentos de veículos e leasing R$ Bilhões 90 80 70 917 60 Venda de veículos Composição % 714 50 Formas de pagamento 586 40 30 Fonte: Deloitte (a partir da consolidação de dados do Banco Central do Brasil (BC). 1 004 310 20 327 372 403 480 10 Total operações de crédito Leasing 32% Leasing 10% 15% 18% Financiamento 47% 45% 45% 9% 7% 5% 100% 100% 100% Fonte: Associação Nacional das Empresas Financeiras das M Aquisição de veículos Aquisição de de veículos Total operações de crédito Aquisição de de veícuos O crédito pessoal e financiamentos, inclusive leasing, representam 70% dos recursos concedidos às pessoas físicas. Crédito pessoal para as pessoas físicas R$ Bilhões 61% 50% 121 39% 101 80 65 63 43 74 48 32 2005 Formas de pagamento 2004 2005 2006 2007 2008 Junho À vista 34% 33% 32% 28% 34% Leasing 10% 15% 18% 30% 38% Financiamento 47% 45% 45% 38% 25% 9% 7% 5% 4% 3% 100% 100% 100% 100% 100% Consórcio 17 2004 O leasing se tornou a maior fonte de recursos nas operações de financiamento de veículos em meados de 2008. Venda de veículos Composição % 64% 60% 2006 Crédito consignado Crédito Crédito consignadoCrédito pessoal 2007 2008 (Set) Consignado / Pessoal pessoal Vendas acumuladas em 12 meses Total 2006 33% Total 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 (Set) 2005 34% Consórcio 0 2004 À vista Fonte: Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef.) Fonte: Deloitte (a partir da consolidação de dados do Banco Central - BC). Fonte: Deloitte Brazil Research (a partir da consolidação de dados do Banco Central do Brasil - BC). 10 Análise Setorial Varejo Inflação e varejo • Commodities O comércio vinha sofrendo, até meados do segundo semestre de 2008, os efeitos do contínuo aumento dos preços dos alimentos. As commodities em geral alcançaram níveis altíssimos de cotação nesse período, tendo registrado elevação superior a 20% desde o final de 2006. • Consumidor Os preços dos produtos mais sensíveis a renda foram os que apresentaram maiores elevações para o consumidor. Se, por um lado, houve uma sustentação das receitas nominais de vendas, o que contribui para o bom desempenho do setor em 2008, o maior ritmo de inflação compromete as vendas reais. A queda nos preços do petróleo tem levado a um movimento de deflação nos países mais industrializados. Os preços de energia tiveram um forte recuo após pico de US$ 145,66 no início de julho. Atualmente, a cotação está em cerca de US$ 40. Commodities Índice composto FMI (base Dez/2006=100) 250 Jun +27% 225 200 175 150 Nov 125 -13% 100 75 50 25 • Desconcentração do consumo A inflação se mostrou mais acelerada para as faixas de renda mais baixas, comprometendo os avanços obtidos com a regionalização das atividades. 0 D 2001 D 2002 D 2003 D 2004 D 2005 D 2006 D 2007 D 2008 D Non-fuel price Non-fuel priceFuel (energy) Fuel (energy) Fonte: Fundo Monetário Internacional - FMI • Bens de consumo duráveis Os preços dos eletroeletrônicos mantiveram-se sob controle, contribuindo positivamente para a expansão verificada nas vendas reais. • Movimentação recente Os preços dos produtos agropecuários mostram certo desaquecimento em período recente. Os efeitos do movimento de desvalorização do real, compensados em parte pela redução dos preços das commodities, indicam níveis de inflação superiores aos atuais. 11 Análise Setorial Varejo Renda e crédito Os preços dos produtos mais sensíveis a renda foram os que apresentaram maiores elevações. A inflação se apresentou mais acelerada para as faixas de renda mais baixas. Os setores mais sensíveis a crédito apresentam um crescimento expressivo em 2008. O maior ritmo de inflação comprometeu mais o varejo de alimentos, segmentos mais sensíveis a renda. Vendas reais no varejo Var. % acumulada no ano (Jan-Set/2008) Preços ao consumidor (IPCA) Variação % acumulada no ano (Jan-Set/2008) Meta no ano: 4.5% Transportes Artigos de residência segmentos sensíveis a crédito 0,9 Sensíveis a crédito 20,7 Automóveis 2,3 Móveis e eletrodomésticos segmentos sensíveis a crédito 18,3 3,0 Saúde e cuidados pessoais Medicamentos e higiene pessoal 4,8 Vestuário 4,2 Alimentação e bebidas 9,3 Sensíveis a renda segmentos sensíveis a renda 13,0 segmentos sensíveis a renda 10,1 Tecidos e vestuário Supermercados 5,3 6,8 IPCA Comércio varejista 4,8 10,4 Fonte: Deloitte Research (a partir da consolidação de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). Fonte: Deloitte Research (a partir da consolidação de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). Bens de consumo A tendência expansionista das vendas reflete a ampliação da massa salarial, em linha com o crescimento do emprego e os impulsos do crescimento do crédito. A elevação dos preços de alimentos e bebidas influenciou negativamente o comércio de não-duráveis. Os preços de eletroeletrônicos mantiveram-se menos pressionados, contribuindo positivamente para a expansão verificada nos duráveis. Evolução das vendas reais do varejo Evolução dos preços ao consumidor 240 135 Comércio Duráveis 130 220 Comércio de 125 200 120 Comércio Semiduráveis 115 180 160 Vestuár Tecidos, vestuário e calçados +10% em 2008 110 140 Comércio de S 105 Comércio Não-duráveis 100 120 Hiper e supermercados +6%95 em 2008 100 80 Aliment Móveis e eletrodomésticos +18% em 2008 Set/08 D 2003 D 2004 D 2005 Comércio duráveis Móveis e eletrodomésticos +18% em 2008 D 2006 D 2007 D 2008 Comércio semiduráveis Tecidos, vestuários e calçados +10% em 2008 Comércio não-durável Hiper e supermercados +6% em 2008 D 90 D 37773 D Eletroe Out/2008 38139 D Alimentação e bebidas Comércio de não-duráveis 38504 D 38869 D 39234 D 2008 Comércio de D Vestuário Comércio de semiduráveis Eletroeletrônicos Comércio de duráveis Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Índice 2003=100. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vendas reais dessazonalizadas (2003=100). 12 Análise Setorial Varejo Vendas regionais O comércio varejista tem apresentado elevadas taxas de crescimento desde 2004, favorecido, principalmente, pelos ganhos reais de renda, pela melhora das expectativas proporcionada pelo ambiente de estabilidade econômica, pelo aumento das transferências governamentais e pelas condições de crédito. Breve retrospectiva • Nos anos de 2004 e 2007, as vendas do comércio registraram expansão generalizada e homogênea entre as diversas regiões do País. Esse padrão coincide com os anos nos quais o PIB registrou taxas de expansão mais elevadas. • Em 2005 e 2006, houve uma expansão mais acentuada no Norte e no Nordeste, destacando a influência positiva dos programas sociais do governo federal. O arrefecimento ocorrido na região Sul naqueles anos reflete a queda da renda agrícola decorrente das safras de milho, trigo e arroz. • Em 2007 e 2008, ocorre um arrefecimento na região Norte e uma aceleração no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste. O peso de alimentos e bebidas no orçamento familiar é bem mais alto nas regiões Norte (32.8%) e Nordeste (25.4%), contra a média nacional de 22.5%, o que explica, em parte, a desaceleração naquelas áreas em contrapartida as demais regiões. 13 Análise Setorial Varejo Região Norte Mais recentemente, a região experimenta desaceleração após forte crescimento verificado em anos anteriores e aumento recente nos preços dos alimentos. Região Nordeste A expansão recente ficou disseminada por todos os segmentos, com destaque para informática e comunicação. No conceito de varejo ampliado, foram significativos os crescimentos nas vendas de veículos e de materiais de construção, que são mais sensíveis à evolução do crédito. A evolução favorável do comércio da região vem sendo sustentada pelo volume de empréstimos ao segmento de pessoas físicas, pelo crescimento do emprego e da renda e pelo aumento de recursos provenientes de programas sociais. As transferências do Governo Federal para a região cresceram 20.5% no acumulado em doze meses encerrados em junho de 2008 contra igual período do ano anterior. Comportamento recente das vendas regionais A forte desaceleração da região Norte ocorre após forte crescimento em 2007. Comércio varejista regional Variação % 12 meses móveis 14 12 9,7 10 10,6 10,4 10,2 8,8 8,1 8 11,5 9,8 10,2 8,0 7,8 6 3,8 4 2 0 Brasil 2007 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 2008 (Ago) 2007 2008 (Ago) Fonte: Banco Central do Brasil (BC). Região Sudeste As vendas aumentaram com o dinamismo nos segmentos de móveis e eletrodomésticos e tecidos, vestuário e calçados, além dos segmentos de veículos e material de construção. A evolução reflete a importância da evolução do crédito e da massa salarial para o dinamismo da atividade varejista na região. Região Sul As vendas estão sendo impulsionadas pela expansão em móveis e eletrodomésticos. O nível de confiança da região segue em trajetória declinante desde junho de 2008, indicando possível arrefecimento das vendas no comércio da região nos próximos meses. Região Centro-Oeste O volume das vendas alcança a casa dos 10%. Incorporados os crescimentos observados nas vendas de material de construção e de veículos e motocicletas alcança quase 16% anuais. 14 Análise Setorial Varejo Movimentos de mercado Configuração atual O setor varejista passa por um processo de reestruturação em vários segmentos, diante de um cenário de maior competição e de grandes transformações da economia brasileira. As alterações estratégicas e operacionais ampliam a atuação de diferentes tipos de lojas e modificam o perfil varejista para a busca de maior eficiência do negócio. Movimentos de mercado • Foco na gestão Aprimoramento da governança através da utilização de tecnologias de informação (TI). • Foco na eficiência operacional e financeira Busca por maior rentabilidade operacional. Ganho de escala (redução de custos, aumento da eficiência e produtividade). • Foco na cadeia produtiva Introdução de marcas próprias concorrentes. • Foco em clientes Expansão e disseminação de marcas próprias. Multicanais de vendas. Diversificação do mix de produtos vendidos (incremento dos não-alimentos, tais como eletroeletrônicos, informática e livros). • Foco na concorrência Atendimento diferenciado Expansão da base e novos formatos de lojas. Serviços adicionais Drogarias, postos de combustíveis, agências de turismo, etc. Serviços especiais Entregas em domicílio, cartões preferenciais, etc. A concorrência é crescente entre formatos idênticos e diferentes e entre fornecedores e varejistas, principalmente no caso de supermercados, o que conduz a necessidade do estabelecimento de parcerias entre os diversos componentes da cadeia produtiva. No caso específico dos fornecedores, ocorre uma disputa entre marcas, e entre os pares, diversas estratégias de cooperação através da criação de centrais de negócios e a expansão de grupos e redes. O caminho encontrado para o alcance de ganhos de escala passa pela melhoria da gestão: treinamento e retenção de pessoal; cadeias de suprimentos; gerenciamento de espaço e de categorias; adoção de instrumentos avançados de tecnologia de informação e automação comercial; entre outros. O foco em nichos específicos de mercado e na especialização também se encontra em evolução. A busca pela eficiência operacional e financeira gera vantagens competitivas ao centrar a estrutura de custos, a qualidade e o atendimento. Nesse contexto, a percepção do consumidor evidencia as ações dirigidas à fidelização e ao conhecimento de suas preferências, além do oferecimento de um número maior de produtos diferenciados. A estabilidade econômica conduziu a associações estratégicas com instituições financeiras para viabilizar a expansão de vendas, além de garantir uma gestão mais acurada do crédito. Ganho de escala Preparação para expansão de vendas. Ampliação do foco de atuação e busca de mercados regionais Centrais de negócios Alianças estratégicas entre pequenos e médios varejistas. Fusões e aquisições Aquisição de outras redes, inclusive de porte médio, e de supermercados populares localizados na periferia, com opções de pontos comerciais e presença de grande número de pequenos varejistas. Utilização de bandeiras diferentes, visando atingir públicos específicos. 15 Análise Setorial Varejo Canais alternativos O crescimento de canais alternativos de vendas – multicanais – amplia o volume de operações, reduz as necessidades de investimentos em ativos fixos e cria canais complementares de venda. A estratégia multicanal, movimento com grande evolução mundial, possibilita a escolha pelos clientes do canal de venda de produtos e serviços e oferece, inclusive, o atendimento do pós-venda. O conceito também pode ser aplicado às operações de canais indiretos, ao capacitar uma rede de revendedores autorizados de um determinado fabricante no atendimento e na resolução de problemas com os clientes finais. A tendência a diversificação dos canais de venda aumenta o acesso à escolhas de produtos e serviços, melhora o relacionamento com o cliente, além de ser um reforço da marca e uma forma de mídia permanente. Multicanais O comércio eletrônico ou online representa 7% do total das vendas nos EUA. A utilização simultânea de multicanais de venda é uma tendência mundial crescente. Evolução dos multicanais nos EUA Composição % US$ 2.5 trilhões 100 US$ 3.0 trilhões 100 Varejo tr Offline 73 Canais c Cross-c 51 38 Operações de consolidação A entrada de participantes externos provocou, juntamente com o aumento das importações, um processo de maior concorrência interna e de modernização operacional. Os crescimentos da renda e a mudança de perfil do consumidor também têm impulsionado a redefinição dos focos de atuação e de atendimento, ampliando a busca por mercados regionais. Nesse processo, inserem-se os movimentos de fusões e aquisições, que buscam, mais recentemente, a aquisição de redes, inclusive de porte médio, e de supermercados populares localizados na periferia, com opções de pontos comerciais e presença de grande número de pequenos varejistas. Além disso, as aquisições buscam a utilização de bandeiras diferentes, visando atingir públicos específicos. Comérc Online 20 11 7 Varejo T 2007 2012 Canais cruzados Cross-channel Varejo tradicional Offline Comércio eletrônico Online Varejo total Fonte: Deloitte, a partir de consolidação de dados da Forrester Group. Fusões e aquisições no varejo O setor vem passando por um processo de consolidação e modernização, incentivado pela baixa concentração em termos de oferta. Número de operações 30 24 25 20 15 17 14 9 10 5 0 16 12 6 1 1° Sem/2006 3 2° Sem/2006 Hiper e supermercados Hiper e supermercados 11 8 6 1 1° Sem/2007 7 3 2° Sem/2007 1° Sem/2008 Lojas de Departamentos Comércio geral Lojas de departamentos Comércio geral Fonte: Deloitte (a partir da consolidação de dados disponíveis na imprenssa e internet) 16 Análise Setorial Varejo Aquisições realizadas pelas maiores redes de supermercados Redes de supermercados Aquisição e ano Bandeiras Carrefour Eldorado (1997), Planaltão (1998), Mineirão (1999), Lojas paulistas do Big/Sonae (2005), Atacadão (2007) Carrefour, Champion, Dia% Wal-Mart Brasil BomPreço (2004) Lojas do sul do país do Sonae (2005) BomPreço, Wal-Mart Supercenter, Todo Dia, Big, Nacional, Maxxi, Sam´s Club Grupo Pão de Açúcar Eletroradiobraz (1976), Peg-Peg (1978), Barateiro (1998), Peralta (1999), Reimberg, Nagumo e G. Pires (2000), Sé Supermercados (2002), Sendas (2003), Vieri Participações (2006), Rossi Monza Supermercados (2007), Assaí Comercial (2007), Rodolfo Nagai (2008) Pão de Açúcar, Extra, CompreBem, Extra-Eletro, Extra-Perto, Sendas Fonte: Deloitte (a partir da consolidação de dados disponíveis na imprensa e internet. Uma das principais motivações recentes para o movimento de fusões e aquisições no segmento de supermercados foi a busca por ganho de escala. Fusões e aquisições Principais motivações 14% Top 1010 Hiper e supermercados Top Hiper e supermercados 7% Ganho em escala Ganho em escala Diversificação dos produtos Diversificação dos produtos comercializados comercializados 7% 58% Serviços adicionais Serviços adicionais Foco na gestão Foco na gestão 14% Ampliação e busca de mercados Ampliação e busca de mercados regionais regionais Fonte: Deloitte (a partir da consolidação de dados disponíveis na imprensa e internet. Número de operações Jan/2006 a Jun/2008: 14. 17 Análise Setorial Varejo O estudo elaborado pela Deloitte teve como objetivo analisar a distribuição das classes de renda no Brasil e sua evolução, focando tanto os rendimentos do trabalho quanto as demais fontes de renda. Neste intuito, foram utilizados os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que classificam a população em níveis de rendimento por salário mínimo de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Para fins de análise, buscou-se fazer uma correlação entre as diferentes classes de salário mínimo do IBGE e a classificação econômica utilizada pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). A relação deve ser utilizada apenas como referencial de análise. Varejo e evolução das classes de renda O crescimento do varejo depende diretamente dos níveis de emprego e renda. O movimento de desconcentração de renda (transferências governamentais) contribui para a expansão generalizada e homogênea entre as diversas regiões do País. Evolução das classes econômicas Crescimento da população entre 2005 e 2007 Recente mudança do perfil do consumidor Crescimento da renda total e por classes econômicas Uma parcela crescente da população brasileira está ampliando e sofisticando sua cesta de consumo de bens e serviços. O consenso geral das últimas pesquisas divulgadas sobre o assunto é o de que o rendimento médio é crescente como também é crescente a inclusão da população de classes de renda mais baixa nas categorias medianas de renda. No entanto, as análises dessa evolução são mais complexas e profundas do que se pensava. 10% C 8% 6% D A/B 4% 2% 0% -2% E -4% -6% População por classe econômica -8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% 22% 24% Crescimento da renda média nominal entre 2005 e 2007 Crescimento de renda média nominal entre 2005 e 2007 Fonte: Deloitte (com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e do Critério de Classificação Econômico Brasil - CCEB). De acordo com a pesquisa, a renda média cresceu 19% entre 2005 e 2007. Para as classes de renda A e B, o crescimento foi de 14,6%, já para as classes mais baixas o crescimento é de 19%, 21% e 18% (classes E, D e C, respectivamente). A população de menor poder aquisitivo está ganhando participação no total da renda brasileira e atraindo o interesse dos varejistas. Essas mudanças são mais visíveis na região Nordeste comparando-se antes e depois da implantação do programa Bolsa Família. As classes de rendimento E e D em 2001, somavam participação de 37% do total da renda, em 2007 a composição passou a ser de 46%. Evolução das classes de renda e inclusão econômica A combinação de taxas de crédito mais acessíveis, controle de preços e crescimento econômico foram fundamentais para a elevação da renda no Brasil. Esse movimento, no entanto, não seria completo se não fosse introduzida a evolução e o impacto das políticas de inclusão social praticadas pelo Governo Federal, que não só contribuíram de forma multiplicadora para o crescimento da economia como também para a sustentabilidade desse crescimento. O estudo mostra que vem ocorrendo efetivamente uma tendência de redução da parcela da população que não contava com rendimento algum e agora passa a integrar classes de rendimento que ganham até 5 salários mínimos. Em 2001, 92% da renda total da população da classe E era proveniente do trabalho, 18 Análise Setorial Varejo os 8% restantes representavam o rendimento total de aposentadoria, previdência complementar e outros benefícios em forma de rendimento. A mesma relação mostra que em 2007 apenas 72% da renda total é proveniente do trabalho, ou seja, os demais rendimentos não provenientes do trabalho subiram de 8% para 28% da participação na renda total para a classe E. Em conclusão, houve uma evidente injeção de renda na base da pirâmide que possibilitou a inclusão da população de baixa renda para classes superiores. E, por conta do movimento econômico como um todo, houve crescimento da renda para todas as classes como também houve mobilidade das pessoas de baixa renda para classes de renda mais altas. Entre 2005 e 2007, o total da população das classes A/B aumentou em 4%. Nas classes C e D ocorreu aumento de 6,7% e 6,9%, respectivamente. Apenas a classe E apresentou queda da população (5,6%). Perspectivas de crescimento e impactos sobre consumo e varejo O resultado da melhora do rendimento da população pode ser observado por duas óticas: como resultado do crescimento econômico e como “propulsor” do crescimento econômico. O aumento da renda envolve não apenas a elevação do consumo, mas um universo de oportunidades, pois há impactos em praticamente todos os setores, desde o varejo, o primeiro a sentir seus efeitos, até as indústrias financeira, manufatureira, de energia, tecnologia, telecomunicações, mídia, saúde, turismo e assim por diante. Em 2008, até o terceiro trimestre, os indicadores de renda, emprego, vendas e produção, indicavam crescimento contínuo. Apesar dos impactos da crise internacional sobre a economia brasileira, as expectativas são de um crescimento moderado apenas em 2009, apontando para um PIB real de 5% em 2008, e 3% em 2009. A aplicação da relação observada entre renda total e PIB no passado recente, sugere um crescimento da renda real da população em torno de 3,2% em 2008 e de 2,9% em 2009. A manutenção do crescimento em torno de 3% em 2009 decorre, principalmente, do menor nível de inflação previsto. Importância do aumento do poder aquisitivo da população para a cadeia do varejo Nos últimos 30 anos o Brasil passou por grandes mudanças estruturais e econômicas, cujos resultados já são percebidos tanto na indústria como também no perfil de consumo do brasileiro. As questões relacionadas a “o que produzir” e “a quem produzir” sempre estiveram presentes nas tomadas de decisões estratégicas das firmas. Atualmente, no entanto, com o controle efetivo sobre a inflação e com o aumento da competitividade econômica, é cada vez maior a importância das escolhas futuras do consumidor para os norteamentos estratégicos e operacionais do mercado. No passado, o Brasil apresentava uma economia fechada com a adoção de uma política de proteção às industriais nacionais. Este cenário, sem concorrência e com a deterioração do poder de compra do consumidor, devido a altos índices de inflação, limitou o leque de opções de compra de grande parte da população, que passou a consumir produtos básicos e com baixo volume de crédito. As escolhas do consumidor pouco afetavam as decisões do produtor e do distribuidor. Após as mudanças estruturais e econômicas, de controle de preços, abertura comercial, e a crescente liquidez internacional, o mercado emergiu como soberano, ao lado da facilidade oferecida pelo movimento de valorização da moeda nacional que conduziu a entrada de novos bens e serviços importados. Concomitantemente, o aumento do volume de crédito e as políticas de inclusão social deram maior poder de compra há uma grande massa da população brasileira que limitava suas escolhas a poucos bens duráveis e que via todo seu rendimento gasto com produtos e serviços básicos como alimentação, saúde e educação. As mudanças na estrutura econômica, somadas às mudanças na cultura e na tecnologia, foram impactando a nova economia e o perfil do novo consumidor. Exemplos de mudanças culturais: crescente participação da mulher no mercado de trabalho; mudança de hábitos alimentares com a alimentação fora de casa; redução do número de filhos; maior busca por praticidade e comodidade; aumento do número de pessoas que moram sozinhas; busca crescente por informação e conhecimento; procura por melhor qualidade de vida e saúde; aumento da expectativa de vida; responsabilidade social e ambiental; entre outras. As mudanças culturais e tecnológicas somadas com o maior poder de compra da população criaram um consumidor bem informado, que não exige apenas preço e qualidade, mas uma série de fatores que induzem diretamente as questões de “o que produzir, como produzir e para quem produzir”, que passam a ser ditadas pelo consumidor final. 19 Análise Setorial Varejo Hiper e supermercados A atividade supermercadista, uma das maiores do setor varejista brasileiro, representando mais de 20% do comércio geral, continua em destaque. O segmento, que apresentou crescimento de 5,3% nas vendas reais no acumulado no ano até setembro, vem se beneficiando do aumento da massa salarial e da expansão do crédito, inclusive com o aumento da utilização de cartões relacionados às próprias redes varejistas. A ampliação dos programas sociais trouxe efeitos bastante positivos à atividade, apesar de sinais de exaustão em algumas regiões (Região Norte). O segmento passa por uma boa fase, com elevados índices de crescimento nas seções de alimentos e receitas nominais em torno de 17% ao ano. Principais participantes Três grupos competem pelo domínio do mercado nacional: Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar, responsáveis por cerca de 60% do faturamento do segmento. Supermercados Top 10 por Faturamento líquido 19% 13% 3% 2% 2% 2% 2% O segmento conta com grandes redes altamente competitivas e pequenos supermercados, que possuem lojas menores e regionais, com maior conhecimento sobre a preferência e hábitos dos consumidores o que garante um atendimento diferenciado. Os supermercados de bairro têm crescido, atendendo o consumidor que realiza compras de primeira necessidade e oferecendo uma diversidade de serviços, como o recebimento de contas bancárias, de caixas eletrônicos, recarga de celulares, o que contribui para o crescimento da atividade. O segmento vem procurando agregar valor e atingir uma maior eficiência operacional, através do uso de tecnologias de informação, que viabilizam novos canais de venda e servem de mecanismo para o aprimoramento da governança, entre outros fatores, tais como uma direção mais profissional. 1% 1% 25% 30% Carrefour Wal-Mart Pão de Açúcar Sendas Carrefour G Barbosa Wal-Mart Zaffari Pão de Açúcar Sendas Epa G Barbosa Bretas Zaffari Angeloni Epa Lider Bretas Angeloni Demais Líder Demais Fonte: Balanço Anual da Gazeta Mercantil - 2008. Faturamento líquido em 2007 As grandes redes vêm investindo na diversificação dos formatos, criando bandeiras de lojas de vizinhança, para disputar com os supermercados menores nas grandes cidades. Algumas redes optam por modalidades de lojas mais simples voltadas para a população de baixa renda. Outro movimento importante que vem ocorrendo nas redes de supermercados, principalmente entre as líderes, é a estratégia de ampliar as vendas dos não-alimentos, com receitas e margens diferenciadas. Nos últimos anos, foi relevante o crescimento das linhas de eletrodomésticos, eletrônicos e de produtos de informática. Na busca por serviços adicionais, as redes entraram em novos negócios, como postos de combustíveis, farmácias, agências de turismo e laboratórios digitais. Para melhorar a produtividade das operações, as grandes redes investem em treinamento de funcionários, programas de prevenção de perdas e desperdícios e gestão mais eficiente. 20 Análise Setorial Vajejo As perspectivas para a economia brasileira passam a incorporar os impactos da intensificação da crise financeira internacional, a partir do mês de setembro de 2008. O novo cenário, que depende da intensidade do processo de desaceleração econômica ou de recessão da economia mundial, terá na queda do ritmo de concessão de crédito, a primeira grande influência negativa sobre o atual ciclo de expansão da economia brasileira e das atividades de varejo. Práticas consolidadas nos supermercados Movimentos de mercado A evolução recente do segmento de supermercados engloba vários movimentos simultâneos que incluem a preparação para a expansão de vendas; a busca pela maior rentabilidade das operações; as propostas de novos formatos de lojas; e a diversificação do mix de produtos vendidos. Ao lado dos movimentos de consolidação e estruturação internos, os supermercados buscam expandir suas bases de lojas e adquirir outras redes e novos formatos. Nos últimos anos, a expansão do consumo das classes de baixa renda, através do aumento da massa salarial ou dos programas federais de transferência de renda, vem impulsionando o crescimento do setor, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste e com lojas de pequeno formato instaladas em bairros de grandes centros. compras, para reduzir custos e ampliar o poder de compra de mercadorias. As redes de supermercados vêm ampliando a participação dessa categoria de produtos junto aos consumidores das classes média e baixa, em um mercado que conta com grande porcentual de consumidores com nível socioeconômico elevado. As marcas próprias já apresentam linhas de 1º preço, intermediária e gourmet. As expectativas de faturamento apontam para um crescimento em torno de 10%, que não deve se alterar de forma significativa até o primeiro semestre de 2009, principalmente em função da alta dos preços dos alimentos, que provoca a adequação de gastos, tornando os artigos de marca própria uma boa alternativa com custo em torno de 20% mais baratos e qualidade compatível. Embora as expectativas do consumidor estejam sendo influenciadas pela conjuntura atual, afetada principalmente pela repercussão da crise financeira mundial, não é esperada uma queda significativa da atividade, que deve contar também com uma migração de produtos favorável ao setor, visando à melhor utilização da renda disponível. O ritmo de crescimento do consumo das famílias já apresenta sinais de certa desaceleração em 2008, apesar da robustez favorecida pela expansão da massa salarial real e do crédito. O crescimento indica uma trajetória de moderação, abaixo da elevação registrada de 6,5% em 2007. Diante desse cenário, os movimentos de fusões e aquisições devem ocorrer com maior parcimônia, influenciados pela diversificação dos formatos de vendas (atacado e varejo) e ganhos de escala, além de um movimento que pode se intensificar entre as redes de porte médio. Marcas Próprias A participação das marcas próprias nas vendas da atividade está em ritmo de crescimento acelerado desde 2005. Em 2007, o crescimento foi de 7%, de acordo com informações divulgadas pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O crescimento demonstra a consolidação da fidelização dos clientes, com produtos mais baratos em cada categoria e produtos com diferencial de qualidade. Atualmente, pequenos e médios supermercados estão investindo em marcas próprias e se unindo em centrais de 21 Análise Setorial Varejo Perspectivas e tendências para 2009 O bom desempenho econômico decorrente da melhora no nível de emprego e do aumento da renda do trabalhador poderá sofrer com a desaceleração econômica esperada, o que irá repercutir diretamente nas vendas do varejo, para todos os segmentos, inclusive para aqueles mais sensíveis a credito, diante das incertezas com relação aos impactos da crise financeira sobre o nível de alavancagem das instituições financeiras e a natural tendência ao conservadorismo na concessão de créditos. A tendência expansionista das vendas refletia diretamente a ampliação da massa salarial, em linha com o crescimento do emprego, e os impulsos do crescimento do crédito. A menor oferta de crédito atrelada a uma taxa de juros mais elevada afetará diretamente os segmentos que mais contribuíram para o crescimento atual, o comércio de bens duráveis, principalmente automóveis e linhas branca e marrom de eletrodomésticos. Os segmentos sensíveis a renda, que já apresentavam certo comprometimento do varejo de alimentos diante do ritmo crescente de inflação, não devem compensar a queda dos demais segmentos. Os preços das matérias-primas e insumos básicos já se encontravam em expansão nos últimos dois anos, registrando crescimento acumulado de 22% e 32% desde o final de 2006, respectivamente. O aumento se deveu, principalmente, ao forte crescimento da demanda interna, impulsionada diretamente pelo crescimento do comércio mundial. Enquanto perdurar a volatilidade do câmbio e sua permanência em níveis elevados, os preços no atacado dos produtos que compõem os primeiros estágios de produção não devem apresentar comportamento muito diferente do atual. A queda recente nos preços das commodities deve reduzir o impacto da desvalorização do real sobre os níveis de correção dos preços. Na verdade, a redução ocorrida nos preços das commodities parece ter realinhado parte das expectativas criadas ao longo de 2007, quando se configurou um cenário de forte crescimento mundial, de equacionamento da deterioração das condições climáticas do planeta e necessidade de reestruturação e redimensionamento das fontes de energia. De fato, as 24 commodities mais negociadas no mercado internacional, que podem ser acompanhadas através do Reuters/Jefferies-CRB index, alcançaram níveis altíssimos de cotação até meados de setembro de 2008, tendo registrado elevação superior a 50% desde o final de 2006. As expectativas de mercado não prevêem um cenário tão sombrio no curto prazo para o Brasil. O crescimento do produto deve se situar em torno de 5% em 2008, caindo para 3% em 2009. O mercado não acredita em novos aumentos de juros, mas as previsões de inflação continuam acima da meta de 4,5% do Banco Central. O impacto sobre as vendas no varejo para este e para o próximo ano e, em particular, das vendas reais dos supermercados, dependerá do nível de repasse dos preços do atacado para os preços ao consumidor, que, por sua vez, depende da amplitude e do grau de aprofundamento da crise financeira mundial. O repasse e sua magnitude também estão vinculados ao nível de atividade de cada setor e do peso que a taxa de câmbio tem em cada cadeia, afetando, assim, de forma diferenciada os níveis de renda e emprego. No presente momento, os efeitos das transferências do governo evidenciam a importância que os recursos podem ter para a manutenção do dinamismo do setor, pois existe uma clara correlação positiva entre essas transferências e o aumento das vendas no varejo. As vendas do setor de supermercados e, em particular de alimentos e bebidas, teoricamente mais sensíveis a elevações da renda disponível e por inferência às transferências governamentais, devem ser beneficiadas pela conservação parcial do poder aquisitivo das classes de renda mais baixas. A conjuntura de curto prazo indica maiores dificuldades na entrada de fluxos financeiros para o País e redução dos preços das commodities, que desestimulam as exportações domésticas. No entanto, existe uma tendência a valorização do real, com o equacionamento gradual da crise financeira internacional. Além disso, o desenvolvimento e fortalecimento do mercado de capitais, que registrou emissões primárias recordes em 2007 (R$ 131 bilhões), devem contar com o retorno dos investidores estrangeiros. A participação dos Fundos de Investimento em Participações (FIP) no total das emissões primárias ainda é expressiva em 2008, o que evidencia a atratividade de novas aquisições, diante dos baixos preços dos ativos, pelos fundos de private equity. 22 Análise Setorial Varejo As instituições financeiras no Brasil são sólidas e bem reguladas, apresentando índices de solvabilidade consistentes e em níveis adequados, mesmo na presença da grande expansão das concessões de crédito ocorrida nos últimos anos. Apesar da desaceleração atual nas operações de crédito, que vinham aumentando sua participação no total dos ativos dos bancos desde 2003, espera-se a retomada oportuna dos financiamentos para aquisição de veículos e das operações de leasing que acompanharam o recente movimento de recuperação econômica. Os investimentos estrangeiros diretos devem continuar elevados, perfazendo US$35 bilhões em 2008 e US$24 bilhões em 2009. Em 2008, ocorre uma tendência crescente de ingressos com montantes inferiores a US$100 milhões, o que sugere que a entrada de recursos pode estar sendo direcionada também para participações em empresas de menor porte. A conquista de novos mercados por empresas brasileiras deve continuar como resultado da tendência à consolidação doméstica. A expectativa de saída de pequenas e médias empresas deve se arrefecer no curto prazo, diante da desvalorização cambial. O movimento de fusões e aquisições continuava aquecido no primeiro semestre de 2008, indicando que os processos de consolidação se orientam por diferentes condutores de crescimento que englobam desde os ganhos de escala até as oportunidades que surgem com a redução dos preços dos ativos. No segmento de supermercados, há potencial para uma nova onda de fusões e aquisições devido à baixa concentração do setor em nível regional. Por outro lado, as decisões de investimentos dependerão das expectativas de crescimento do comércio e devem se efetivar gradualmente com a recuperação da economia. A tendência do segmento de supermercados é o de privilegiar uma posição mais defensiva através da manutenção do mix de produtos concentrado em alimentos, além de maximizar as receitas operacionais e minimizar a exposição a dívidas, diante da redução da atividade econômica, cujas previsões passaram de 4% a 4,5% de crescimento para 3% em 2009. A atitude dos participantes do mercado deverá ser mais conservadora quanto ao crescimento e lucratividade. As estratégias de aumento de competitividade devem continuar, focando preços e marcas, mix de produtos, níveis de estoque, diferenciação, segmentação e novos formatos. 23 Referências bibliográficas • Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização– Abmapro • Associação Brasileira de Supermercados – Abras • Balanço Anual da Gazeta Mercantil • Banco Central do Brasil – BCB • Deloitte, a partir de consolidação de dados da Forrester Group • Fundação Instituto de Administração – FIA • Fundação Getúlio Vargas – FGV • Fundo Monetário Internacional – FMI • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE • Ministério do Desenvolvimento Social – MDS 25 A Deloitte oferece serviços nas áreas de Auditoria, Consultoria Tributária, Consultoria em Gestão de Riscos Empresariais, Corporate Finance, Consultoria Empresarial, Outsourcing, Consultoria em Capital Humano e Consultoria Atuarial para clientes dos mais diversos setores. Com uma rede global de firmas-membro em mais de 140 países, a Deloitte reúne habilidades excepcionais e um profundo conhecimento local para ajudar seus clientes a alcançar o melhor desempenho, qualquer que seja o seu segmento ou região de atuação. Os 165 mil profissionais da Deloitte estão comprometidos a tornarem-se o padrão de excelência do mercado e estão unidos por uma cultura colaborativa, que encoraja a integridade, o comprometimento, a força da diversidade e a geração de valor aos clientes. Eles vivenciam um ambiente de aprendizado contínuo, experiências desafiadoras e oportunidades de carreira enriquecedoras, dedicando-se ao fortalecimento da responsabilidade corporativa, à conquista da confiança do público e à geração de impactos positivos em suas comunidades. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é uma das líderes de mercado e seus mais de 3.500 profissionais são reconhecidos pela integridade, competência e habilidade em transformar seus conhecimentos em soluções para seus clientes. Suas operações cobrem todo o território nacional, com escritórios em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife e Salvador. A Deloitte refere-se a uma ou mais Deloitte Touche Tohmatsu, uma verein (associação) estabelecida na Suíça, e sua rede de firmas-membro, sendo cada uma delas uma entidade independente e legalmente separada. Acesse www.deloitte.com/about para a descrição detalhada da estrutura legal da Deloitte Touche Tohmatsu e de suas firmas-membro. Para mais informações, contate-nos pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (11) 5186-6686. © 2009 Deloitte Touche Tohmatsu. Todos os direitos reservados.