O RIO SE PREPARA1 RIO GETS READY1 Mozart Vitor Serra ARQTEXTO 17 Tradução português-inglês: Nick Rands 1 138 1 Graf Zeppelin sobrevoando a baía de Guanabara. 1 Graff Zepellin flying over Guanabara bay. FOREWORD The 2016 Olympic Games are the reference landmark for much of what is said and done in present-day Rio de Janeiro. In fact, commitments assumed by the federal and local authorities by means of a memorandum of understanding which defines Rio de Janeiro as the venue for the 31st Olympics and the 15th Paralympic Games, kicked off implementation of the array of investments listed in what is known as the 2016 Olympics Urban and Environmental Legacy Plan. This plan’s reach is much broader than the one which harbors the construction works strictly necessary to hold the Olympics, and should result in considerable urban and environmental benefits to the quality of life of the inhabitants of the Municipality of Rio de Janeiro. Just as well, or else the costs for hosting the event would not be worthwhile, as many would say. Preparing for the Olympics takes place at a very special moment for the country and the Municipality of Rio de Janeiro with its Metropolitan Region, with the country about to take on relevant improvements and in which both the state and city of Rio de Janeiro seek to restructure their management and economic activities. When considering Rio de Janeiro with the 2016 Olympics, we are required to broaden the dimensions of the event’s place and time in order to grasp the impact that it is likely to cause and the potential synergies with other urban investments. It is a very well-known fact that Rio de Janeiro and its Metropolitan Region had a mediocre economic performance as compared to the country’s (whose growth in turn was nothing remarkable) during the 20th century’s last quarter. The resulting scenario was a disorganized, low-quality urban sprawl. By contrast, on conclusion of the 21st century’s first decade, there is great optimism in connection n with the outlook for income and employment in the region. Though this is partly a reflex of the enthusiasm that pervades the rest of the country, this atmosphere in Rio’s case is also the result of a number of local factors that deserve attention, such as the volume of investments in industrial mega-projects in the metropolitan region, reactivation of the property development industry, recovery of the public sector’s ability to invest, the expected implementation of global mega-events, significant advances in the field of security, not to mention the lower rates of population growth which relieve social problems and reduce the pressure for urban services. At the same time, a new attitude may be perceived in the city’s society, in local business and businessmen, a pro-active spirit contrary to the notion of “forget that as it is a hopeless case”, whereby a commitment with the common interest serves as a guide for the actions proposed. These factors that were welcomed by the press and by the people no less, 139 ARQTEXTO 17 INTRODUÇÃO As Olimpíadas de 2016 constituem o horizonte de referência para muito do que se diz e faz no Rio de Janeiro de hoje. De fato, compromissos assumidos por autoridades federais e locais, através de um memorando de entendimento que define a cidade do Rio de Janeiro como localização para as XXXI Olimpíadas e XV Paraolimpíadas, deram início à implantação do conjunto de investimentos constantes do chamado Plano de Legado Urbano e Ambiental das Olimpíadas de 2016. O escopo deste plano é muito mais amplo do que o constituído pelo conjunto de obras estritamente necessárias para a realização das Olimpíadas e deverá ter benefícios urbanísticos e ambientais consideráveis para as condições de vida da população do Município do Rio de Janeiro. Melhor assim, ou então, muitos diriam, não valeria a pena os custos de sediar o evento. A preparação para as Olimpíadas vem num momento especial para o país e para o Município do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana, onde o país se situa na encruzilhada da adoção de importantes reformas e onde o Rio de Janeiro, cidade e estado, reestruturam sua gestão e suas atividades econômicas. Ao olharmos o Rio de Janeiro das Olimpíadas de 2016 é necessário ampliar o escopo espacial e temporal no qual o evento se insere para entender o impacto que este poderá ter e as sinergias potenciais com outros investimentos urbanos. É fato sobejamente conhecido que o Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana tiveram desempenho econômico medíocre face ao do país (o qual, por sua vez, teve crescimento nada notável) ao longo do último quartel do século XX. O corolário deste quadro foi uma expansão urbana desestruturada e de baixa qualidade. Em contraste, ao terminar a primeira década do século XXI, vive-se um clima de grande otimismo quanto às perspectivas futuras de renda e emprego na região. Embora, em parte, reflexo do mesmo entusiasmo que anima o resto do país, no caso do Rio, este clima é fruto igualmente de vários fatores locais merecedores de atenção, como a confluência de investimentos em mega-projetos industriais na região metropolitana, a reativação do setor imobiliário, a recuperação da capacidade de investimento do setor público, a realização prevista de mega-eventos globais, progressos expressivos na área de segurança, não desprezando as menores taxas de crescimento populacional que atenuam problemas sociais e reduzem a pressão por serviços urbanos. Em paralelo, registre-se uma atitude nova na sociedade carioca, nas administrações locais e nos empresários marcada por um espírito proativo, avesso à idéia do “deixa-pra-lá-que-não-tem-jeito-mesmo”, no qual o compromisso com o interesse coletivo funciona como ARQTEXTO 17 guia das ações propostas. Estes fatores, saudados pela imprensa e, não menos, pela população, dão um novo alento ao carioca e ao fluminense. As transformações econômicas e sociais assinaladas anteriormente apontam para o surgimento de uma paisagem urbana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro com diferenças acentuadas em relação à que vinha sendo construída nas últimas décadas. O exame dos fatores que definem ou contribuem para esta nova paisagem urbana é o objetivo deste artigo. Nele é apresentada uma visão geral do que ocorreu na Região Metropolitana, ao longo dos últimos 30 a 40 anos, e do que poderá vir a ser a sua paisagem urbana nos próximos 10 a15. Para o surgimento desta nova paisagem, seis intervenções e tendências terão especial relevância: a construção do Arco Metropolitano; a implantação do sistema de BRTs; a implantação das instalações e obras das Olimpíadas; o projeto do Porto Maravilha; a recuperação das atividades do setor imobiliário e da indústria de construção civil; e a implantação do Programa Morar Carioca. Este artigo tem um caráter não-exaustivo, impressionista, baseado em material que vai desde planos governamentais e documentos acadêmicos a informações da mídia. Algumas referências temporais, sobretudo no caso de plano e projetos, são imprecisas, e nem sempre foi possível oferecer uma indicação dos montantes de investimentos envolvidos. Finalmente, este é um artigo atravessado por um viés otimista, refletindo o ânimo que vive hoje o carioca. O artigo está estruturado em duas partes, nas quais se repassam, primeiro, as condições de contorno e os fatores exógenos que vêm determinando o crescimento da cidade e de sua Região Metropolitana, influenciando, indiretamente, os resultados urbanísticos. Em seguida, faz-se um rápido resumo das mudanças de curso, foco, ênfase ou articulação que se detectam nas intervenções urbanísticas no último quartel do século XX e primeira década do XXI. Finalmente, discutem-se seis temas críticos para o futuro da cidade e da área metropolitana, que, se bem equacionados poderão ter um poder transformador importante na qualidade de vida do Rio de Janeiro. PARTE A DECLÍNIO E RETOMADA DO CRESCIMENTO A1 O RIO PERDE O PASSO A Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem limites físicos e determinantes geográficos muito marcados. A sudoeste, o maciço da Tijuca ou Carioca desce sobre o Oceano Atlântico abrindo espaços urbanizáveis que, à 140 provide renewed encouragement to the city’s and the state’s population. The economic and social progress described above points to the emergence of an urban landscape in Rio de Janeiro’s Metropolitan Region greatly diverse from what had been put in place in recent decades. This article’s purpose is to look closely at the factors that define or contribute to this new urban landscape. It provides an overview of events in the Metropolitan Region during the last 30 to 40 years, and of what its urban landscape may look like in the next 10 to 15 years. To this end, six achievements and trends will be especially relevant: construction of the Arco Metropolitano by-pass highway; implementation of the BRT express bus system; execution of the Olympic Games construction works; the Porto Maravilha project; recovery of the property development and civil construction industry; and inauguration of the Morar Carioca program housing project. This article does not intend to be comprehensive and impressionistic, based on material ranging from government plans and academic documents to information from the media. Several time references, in particular regarding plans and projects, are not accurate and it was not always possible to provide an indication of the volumes of investments involved. In conclusion, this article was written with an optimistic bias, reflecting the current spirit of the inhabitants of Rio de Janeiro. This article is composed of two parts, which cover first, the conditions of the surrounding areas and the external factors that have affected the city’s growth and that of its Metropolitan Region, indirectly influencing the urban outcome. A brief summary follows of the changes in course, focus, emphasis, or articulations detected in urban administration during the 20th century’s last quarter and the 21st century’s first decade. Finally, six critical topics are under discussion involving the city’s and the metropolitan region’s future, which if handled adequately may have an important effect in improving the quality of life in Rio de Janeiro. PART A DECLINE AND RECOVERY OF DEVELOPMENT A1 RIO FALLS OUT OF STEP The Rio de Janeiro Metropolitan Region has very well defined physical limits and geographic determinants. To the southwest, the Tijuca or Carioca mountain range overlooks the Atlantic Ocean and provides habitable areas which, save for the broad Jacarepaguá plain, are no more than narrow strips. This meeting point of sea and mountains is Rio’s dominant landmark. The Serra do Mar mountain range lies to the northwest, roughly 30 to 40 km from the coast, the edge of the Atlantic Highlands and providing another exceptional topographic prospect. The Metropolitan Region is located on this broad 30 km by 120 km strip, on narrow floodplains pressed among mountains and hills (the Pedra Branca and Gericinó ranges). It is divided by the bay of Guanabara into an eastern and a western part, and is limited at its western end by the bay of Sepetiba. Both these bays provide not only environmental and landscaping, but also economic resources. Rio’s natural landscape has a strong influence on urban expansion alternatives that few locations have. The plains are all practically inhabited, with only a few free areas in the Metropolitan Region’s western and eastern ends (Itaguaí and Itaboraí) and long the line joining these extremes. The Metropolitan Region’s territory covers 6456 km², divided into 21 municipalities2, with a population of 12.2 million inhabitants in 2010. The indicators and data with regard to GDP, income, employment, and investments are irrefutable. Rio de Janeiro, the city and metropolitan region, for a number of decades displayed economic growth rates well below the country’s average, despite the state’s favorable ranking in domestic oil production. André Urani3, an expert on this topic, summarizes the situation in the comment and in Graph 1: The economy in our metropolitan region has shown an average growth rate of merely 0.54% per annum over the last quarter century (between 1980 and 2005). In other words, a pace four time slower than the country over the same period, or 13 times slower than that of the same metropolitan region in the six preceding decades (1920-1980). Graph 2 displays the feeble consolation that this economic downturn affected all of Brazil’s large cities (save for Curitiba, Goiás, and Fortaleza), with Rio being merely its most extreme case. Population growth in turn, albeit with a break, also slowed down in the city and the Metropolitan Region4. Rio’s disappointing economic growth is due to the inability to more fully adopt a new vocation. Throughout the world, in the 20th century large modern cities with a manufacturing base lost their traditional industries to their own outskirts or to other urban areas or regions. In their stead, a complex service sector arose, and subsequently in many cases a new industrial base, both relying on knowledge and education. In Rio’s case, loss of the industrial base is in progress since the mid-20th century and gained momentum in the 1980s. The manufacturing industrial’s deterioration was followed by the federal government’s activities being moved to Brasilia. This double loss of activities – business and government – did away with the “economies of clustering” in Rio de Janeiro, removing its attractiveness and making the city less competitive. This scenario was aggravated by the state and local governments’ inability to meet the growing costs of education, health, and security (and 141 ARQTEXTO 17 exceção da ampla planície de Jacarepaguá, não passam de estreitas faixas. Esse encontro de mar e montanha constitui a marca paisagística dominante do Rio. O limite a noroeste, a cerca de 30/40 km da costa, é a Serra do Mar, rebordo do Planalto Atlântico, que propicia outro espetáculo paisagístico excepcional. A Região Metropolitana se desenvolve nesta larga faixa de 30 por 120 km, sobre estreitas planícies aluviais comprimidas entre montanhas e morros (os maciços da Pedra Branca e de Gericinó). É dividida pela Baía de Guanabara, em uma parte ocidental e oriental e limitada em seu extremo ocidental pela Baia de Sepetiba. Ambas as baías constituem recursos não só ambientais e paisagísticos como econômicos. A paisagem natural do Rio condiciona fortemente as opções de expansão urbana como poucos sítios o fazem. As planícies estão praticamente ocupadas, restando apenas algumas áreas livres nos extremos ocidental e oriental da Região Metropolitana (Itaguaí e Itaboraí) e ao longo do arco que une estes extremos. O território da Região Metropolitana tem 6456 km2, organizados em 21 municípios2, com uma população de 12,2 milhões de habitantes em 2010. Os indicadores e dados correspondentes a PIB, renda, emprego e investimento são irretorquíveis. O Rio de Janeiro, cidade e região metropolitana, apresentou por várias décadas, taxas de crescimento econômico ainda mais baixas do que a medíocre média nacional, em que pese a favorável posição do Estado na produção nacional de petróleo. André Urani3, estudioso do tema, resume a situação no comentário e no Gráfico 1: “A economia da nossa região metropolitana resulta ter crescido a uma taxa média de apenas 0.54% ao ano ao longo do último quarto de século (entre 1980 e 2005). Ou seja, num ritmo quatro vezes mais lento que o pais nesse mesmo período, ou 13 vezes mais lento do que aquele que nossa própria região metropolitana registrou nas seis décadas anteriores (1920-1980)”. O Gráfico 2 expressa o parco consolo de que este declínio econômico afetou todas as metrópoles brasileiras (à exceção de Curitiba, Goiás e Fortaleza), o Rio figurando apenas como seu caso mais extremo. Por sua vez, o crescimento demográfico, embora com um hiato, também se arrefece na cidade e na Região Metropolitana4. O decepcionante crescimento econômico do Rio se deve à sua incapacidade de se reinventar mais plenamente. Ao longo do século XX, mundo afora, as grandes cidades modernas de base industrial perderam suas indústrias tradicionais, tanto para sua própria periferia quanto para outras áreas urbanas ou regiões. No lugar destas indústrias, surgiu um setor de serviços complexo e, mais tarde, em muitos casos, uma nova base industrial, ambos 3 Gráfico 2: Metrópoles Brasileiras: População e PIB 1980-2000. Fonte: Trilhas para o Rio, elaborado pelo autor, a partir de dados do IPEADATA. 3 Chart 2: Brazilian Metropolitan cities: Population and GDP 1980-2000. Source: “Trilhas para o Rio“, prepared by the author from IPEADATA data. ARQTEXTO 17 2 Gráfico 1: Brasil e Região Metropolitana do Rio de Janeiro: Taxas Anuais de Crescimento do PIB (%). Fonte: “Trilhas para o Rio”, elaborado pelo autor, a partir de dados do IPEADATA e das Contas Nacionais do IBGE. 2 Chart 1: Brazil and the Metropolitan region of Rio de Janeiro: Annual GDP growth figures (%). Source: “Trilhas para o Rio“, prepared by the author from IPEADATA data and National IBGE Survey. 2 3 142 A2 O RIO RETOMA O CAMINHO A partir de meados da década que acaba de se encerrar, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro retomou seu crescimento, reflexo, em grande medida, do crescimento do país. E o Brasil cresceu, como se sabe, como resultado de quatro períodos presidenciais onde perseguiu-se com coerência duas linhas de ação: •Uma política macroeconômica competente, baseada no tripé câmbio flutuante, inflação controlada e superávit primário, à qual se somou o impulso recebido, nos dois other) services, in other words, the adverse consequences arising from the region’s on-going population growth – which inability is related to the vagaries of learning how to set up government on departing from federal fosterage. If Rio became a victim of its own free will of inept governments, it was also harmed by the federal government’s decision to merge the State of Guanabara with Rio de Janeiro, restricting the city-state’s economic potential and its political and administrative independence. Despite the ills described, in the course of the years Rio de Janeiro’s Metropolitan Region put in place a complex and diversified economic structure with an expressive industrial base, - oil refineries, shipyards, steel mills, metallurgy, petrochemicals, gas-chemicals, textiles, printing, publishing, pharmaceuticals, beverages, and furniture. The city preserved its ranking as one of the country’s converging points for services and business, serving as headquarters for two of the country’s largest corporations (Petrobras and Vale), in addition to telecommunications companies, oil, communications, the film industry, printing and publishing, audio recording, the retail trade, and federal government agencies. The state is the most visited in Brazil and attracts the largest share of overseas tourists, in addition to being a cultural center that encourages trends and fashion. In conclusion, during a period in which university education has proliferated throughout the country, Rio de Janeiro was able to continue as an important educational center, with the presence of solid universities and important research centers. A2 RIO RESUMES ITS PATH As of the middle of the recently ended decade, Rio de Janeiro’s Metropolitan Region resumed its growth, largely a reflex of the country’s growth. And Brazil grew, as is well known, a consequence of four presidential terms of office during which two lines of action were pursued coherently: •A competent macro-economic policy based on the tripod of floating exchange rates, inflation under control, and a primary surplus, to which one may add the boost received during the last two presidential terms by the export activity and by growth in domestic consumption, in particular by lower income groups. •An additional income distribution policy of a kind long advocated international institutions and orthodox economists, and tested and implemented in a number of countries5, and which next to the growth of family income has encouraged the social improvement of families and individuals, enlarging Brazil’s middle class6. Rio de Janeiro is a beneficiary of these advances. With a favorable domestic scenario, the renovation of the Municipality and of its Metropolitan Region begins to take 143 ARQTEXTO 17 fundados no conhecimento e na educação. No caso do Rio, a perda da base industrial vem ocorrendo desde meados do século XX, acentuando-se fortemente nos anos 1980. Ao enfraquecimento do setor industrial se somou o deslocamento das atividades do governo federal para Brasília. Esta dupla perda de atividades – industriais e governamentais – desagregou as “economias de aglomeração” do Rio de Janeiro, retirando sua “liga”, tornando a cidade menos competitiva. Este quadro foi acentuado pela incapacidade dos governos estadual e municipais de fazerem frente aos custos crescentes dos serviços de educação, saúde e segurança (e outros), ou seja, às “externalidades negativas” decorrentes do crescimento populacional contínuo da região – incapacidade, aliás, relacionada às vicissitudes do aprendizado de se autogovernar após sair da tutela federal. Se o Rio se fez vítima, por vontade própria, de governos ineptos, o foi também do arbítrio federal que decidiu pela fusão do Estado da Guanabara com o do Rio de Janeiro, limitando a capacidade econômica e a autonomia político-administrativa da cidade-estado. Apesar dos descaminhos assinalados, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro construiu ao longo dos anos uma estrutura econômica complexa e diversificada, com uma base industrial expressiva – refinarias de petróleo, estaleiros, e plantas siderúrgicas, metalúrgicas, petroquímicas, gás-quimícas, têxteis, gráficas, editoriais, farmacêuticas, de bebidas, e moveleiras. A cidade manteve posição como um polo nacional de serviços e negócios, sediando as duas maiores empresas brasileiras (Petrobrás e Vale), além de empresas de telecomunicações, petrolíferas, comunicações, cinema, automóveis, energia, farmacêuticas, alimentos, construção, seguros, finanças, editorial e gráfica, fonográfica, varejo, e agencias do governo federal. O estado é o mais visitado do país, atraindo a maioria dos turistas estrangeiros, além de ser um centro cultural promotor de tendências e modas. Finalmente, num período onde o ensino universitário proliferou no país, o Rio de Janeiro logrou manter-se como um importante polo educacional, com a presença de universidades sólidas e importantes centros de pesquisa. ARQTEXTO 17 últimos períodos presidenciais, pelo setor de exportação e pelo crescimento da consumo interno, particularmente o das classes de renda mais baixa. •Uma política de distribuição de incrementos de renda, de um tipo há muito preconizada por instituições internacionais e economistas ortodoxos e experimentada e implementada em vários países5, e que, ao lado do crescimento da renda familiar, vem promovendo a ascensão social de famílias e indivíduos, ampliando a classe média no Brasil6. O Rio de Janeiro é beneficiário destes avanços. Com um quadro nacional favorável, a reinvenção do Município e de sua Região Metropolitana começa a ocorrer, potencializando a base econômica referida no item anterior, impulsionada principalmente pelos pontos abaixo: Primeiro, a realização de eventos internacionais. Os Jogos Militares Mundiais em 20117, a Rio+20 (UNCED) em 2012, a Copa das Confederações em 2013, a XX Copa do Mundo em 2014, o 450º aniversário da cidade em 2015, e as XXXI Olimpíadas e XV Paraolimpíadas em 2016, eventos aos quais estão associados múltiplos benefícios, o mais importante dos quais é alavancarem a tomada de decisões governamentais chaves nas áreas de segurança e transporte, levando à implantação de investimentos em infraestrutura de grande interesse para a vida da cidade. A maior exposição internacional da cidade impulsionará o aumento do turismo, um passo a mais em seu processo de internacionalização e inserção numa economia global. A relação custo-benefício de Olimpíadas vem sendo amplamente discutida na literatura especializada, com visões as mais diversas sobre os resultados e a maioria dos economistas pouco simpática à idéia de que fazem sentido. Muitos críticos deste tipo de iniciativa lembram o incômodo legado em grandes instalações desportivas, sem uso no período pós-eventos. A esta altura, dada a escolha do Rio como cidade-sede dos eventos mencionados, esta discussão merece atenção apenas para que não se perca o foco: (i) na necessidade de que as obras e investimentos sejam realizados dentro dos custos programados, de maneira a não agravar o lado negativo da equação custo-benefício; e (ii) na realização harmoniosa e pacífica dos eventos, de maneira que seus impactos sobre a imagem do Rio sejam os mais positivos, acentuando o lado positivo da mesma equação. É importante frisar que a concepção territorial das Olimpíadas, com o caráter relativamente descentralizado de suas instalações desportivas, permitirá, primeiro, que se faça uso de equipamentos já existentes na cidade, e segundo, que se distribua pelo território do Município 144 place by strengthening the economic platform mentioned in the preceding item, boosted chiefly by the aspects that follow: First, hosting of international events. The Military World Games in 20117, the Rio+20 (UNCED) in 2012, the Confederation Cup in 2013, the 20th World Cup in 2014, the city’s 450th anniversary in 2015, and the 31st Olympic Games and 15th Paralympics in 2016, events with an association of multiple benefits, the most important being leveraging decision making on key governmental issues concerning in the areas of security and transport, resulting in infrastructure investments of great interest to the city’s life. The city’s increased international exposure will serve to increase tourism, one more step in the process of internationalization and insertion in a global economy. The Games’ cost-benefit relation has been extensively discussed in specialized literature, with numerous visions of the outcome and the majority of economists unsympathetic to the idea that they make sense. Many critics of this initiative recall the awkward legacy of large sporting facilities that remain unused in the post-event period. At this point, given the choice of Rio as the host city for the mentioned events, thus discussion merits attention only to maintain the focus: (i) on the need for construction works and investments to take place restricted to the programmed costs, in order not to aggravate the negative side of the cost-benefit equation; and (ii) on harmoniously and peacefully holding the events, so that the reflexes on Rio’s image should result the most positive, stressing the positive side of this same equation. Please note that the Olympics’ territorial concept, with the relatively decentralized nature of its sporting facilities, will permit first, the use of the city’s existing equipment, and second, the allocation throughout the City of Rio, in particular in its expansion areas, Barra da Tijuca and the West Zone, of the mentioned sporting equipment legacy, making it easier for the population to absorb and use them in the future. Second, implementation of industrial mega-investments, chiefly steel and petrochemical mills, and shipyards. In the Metropolitan Region’s western end, investments are under way in port facilities, steel mills, and shipyards8. In July 2010 ThyssenKrupp inaugurated Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), initially intended for exports and enabled to process five million steel plates per annum, with the creation of 3500 jobs. In early 2011 it was announced that Usina Siderúrgica Gerdau (COSIGUA) would double its capacity, while Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) holds talks with the state government on building a new plant. Gerdau, CSN, and Petrobras announced their plans to operate a sole port terminal in support of the individual activities of each company, in the case of Petrobras, to meet requirements arising from the pre-salt operations. A shipyard (and naval base) is under construction to build conventional and nuclear submarines, a joint undertaking by the Brazilian navy, France, and the Odebrecht group. At the same time, the LLX group plans to install Porto do Sudeste, a terminal able to export 50 million tons of iron ore. In Itaboraí/São Gonçalo, at the Metropolitan Region’s eastern end, construction started on the Itaguaí Petrochemical compound (), an investment worth roughly US$ 8.4 billion, the largest undertaking by Petrobras in the country and one of the world’s largest in petrochemicals, in association with the Braskem group. should be the origin of a great regional industrial park and is likely to change the Metropolitan Region’s economic bearings. A refinery is scheduled for construction in Itaboraí, capable of processing 165 thousand barrels per day of oil from the Campos basin, as well as a basic upstream petrochemical unit and six downstream petrochemical units. In addition to these facilities, a utilities central will produce water, steam, and electricity to operate . This project will also be located in São Gonçalo, a logistics base and qualification center for approximately 30 thousand professional staff members. The presence of will reflect on downstream companies, which will process petrochemical inputs into consumer goods. According to the scenarios prepared by Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), it is estimated that 362 companies will open up, creating 15 thousand new work posts from a conservative viewpoint, or twice as much in an optimistic scenario. Petrochemicals9, steel mills, and shipyards are capital intensive and have a limited ability for creating direct employment, but an expressive ability to generate taxation. Their productive chains are complex and may create a significant multiplying effect in the Metropolitan Region (e.g.: the automotive industry, shipyards, downstream chemical industry and plastics, the tertiary sector, etc.), depending of course on incentive policies and on the region’s competitive advantages for each case. For example, it is estimated that in 2015 the industrial compound jointly with the may account for roughly 40% of GDP in the region under its direct influence, capable of creating over 200 thousand direct and indirect jobs. On the other hand, these industrial plants are usually associated with serious environmental problems (such as radical changes to the landscape in the municipality of Itaboraí and the Guanabara back bay area, especially in the surroundings of the Paquetá islands or the particle emissions that led to a temporary slowdown in production at Companhia Siderúrgica do Atlântico), in addition to attracting populations to the surroundings and encouraging formation of slums. Dealing with these problems requires foresight and coordinated actions by state and local governments, with government and private 145 ARQTEXTO 17 do Rio, especialmente em suas áreas de expansão, na Barra e na Zona Oeste, o mencionado legado em equipamentos desportivos, facilitando sua futura absorção e uso pela população. Segundo, a implantação de mega-investimentos industriais, em particular, plantas siderúrgicas, petroquímicas e navais. No extremo ocidental da Região Metropolitana, em Itaguaí/Sta. Cruz, estão em implantação investimentos portuários, siderúrgicos e na indústria naval8. A ThyssenKrupp inaugurou em julho de 2010 a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), voltada inicialmente para exportação, com capacidade de processamento de 5 milhões de placas de aço/ano, e criando 3500 empregos diretos. No inicio de 2011 foi anunciado que a capacidade da Usina Siderúrgica Gerdau COSIGUA será dobrada, enquanto a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) discute com o governo do Estado a abertura de uma nova planta. Gerdau, CSN e Petrobrás anunciaram planos de operar terminal marítimo único em apoio às atividades individuais de cada uma das empresas, no caso da Petrobrás atendendo demandas resultantes da exploração do pré-sal. Foi iniciada a implantação de um estaleiro (e base naval) para a construção de submarinos convencionais e de propulsão nuclear, empreendimento conjunto da Marinha Brasileira, França e Grupo Odebrecht. Paralelamente, o grupo LLX promove a implantação do Porto do Sudeste, um terminal para exportação de 50 milhões de toneladas de minério de ferro. Já no extremo oriental da Região Metropolitana, em Itaboraí/São Gonçalo, deu-se início à construção do Complexo Petroquímico de Itaguaí (COMPERJ), um investimento da ordem de USD 8,4 bilhões, o maior empreendimento da Petrobrás no país e um dos maiores do mundo no setor petroquímico, ao qual se associa o Grupo Braskem. O COMPERJ deverá dar origem a um grande parque regional industrial, capaz de mudar o perfil econômico da Região Metropolitana. Em Itaboraí, prevê-se a construção de uma Unidade de Refino processando 165 mil barris/dia de petróleo da Bacia de Campos, uma Unidade de Petroquímicos básicos de primeira geração; e seis Unidades de Petroquímicos de segunda geração. Além destas, uma Central de Utilidades produzirá água, vapor e energia elétrica para a operação do COMPERJ. O projeto terá também, em São Gonçalo, uma base logística e um centro de qualificação para cerca de 30 mil profissionais. O impacto do COMPERJ se estenderá por empresas de terceira geração, transformadora de insumos petroquímicos em bens de consumo. Nos cenários apresentados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), estima-se a instalação de 362 empresas e a geração de 15 mil novos empregos, num ARQTEXTO 17 cenário conservador, ou, alternativamente, o dobro deste número num cenário otimista. Petroquímica9, siderurgia e indústria naval tem alta densidade de capital, pequena capacidade de criação de empregos diretos, mas significativa capacidade de gerar impostos. Suas cadeias produtivas são complexas, podendo vir a ter significativo efeito multiplicador na Região Metropolitana (por exemplo, envolvendo as indústrias automobilística, naval, terceira geração química e de plásticos, setor terciário, etc), naturalmente, dependendo de políticas de incentivo e das vantagens competitivas da região em cada caso. Por exemplo, em 2015, estima-se que o complexo industrial associado ao polo do COMPERJ poderá representar cerca de 40% do PIB de sua região de influência direta e poderá gerar mais de 200 mil empregos diretos e indiretos. Por outro lado, estas indústrias costumam acarretar pesados problemas ambientais (como a radical transformação das paisagens do Município de Itaboraí e do fundo da Baía de Guanabara, em particular no entorno do arquipélago de Paquetá ou a emissão de material particulado que, aliás, levou à redução temporária da produção da Companhia Siderúrgica do Atlântico), além de atraírem populações para suas imediações, com a decorrente formação de favelas. O equacionamento destes problemas requer antevisão, ação coordenada entre governos estadual e municipal e investimentos governamentais e privados em infraestrutura e habitação. Assim, os mega-investimentos industriais oferecem também uma oportunidade única de se lidar com o crescimento destas regiões de forma ordenada. Complementando estas iniciativas de grande escala, cabe notar que, a meio caminho entre Itaguaí e Itaboraí, ao longo do Arco Metropolitano ora em construção, encontram-se os Municípios de Duque de Caxias, Belford Roxo e Queimados, dotados de uma base industrial também expressiva em seu conjunto. Duque de Caxias contém, além da REDUC e de um núcleo químico e petroquímico, plantas de setores mais tradicionais, como um polo moveleiro. Belford Roxo abriga um polo industrial em torno ao complexo farmacêutico Bayer e Queimados abriga plantas industriais diversas. O parque industrial de Belford Roxo vêm ampliando suas unidades, enquanto o Distrito Industrial de Queimados recebe novas plantas industriais, graças às suas vantagens logísticas e a incentivos fiscais do governo estadual10. Terceiro, as descobertas petrolíferas da camada pré-sal. As reservas de petróleo (de alta e média qualidade) encontradas na camada pré-sal aumentaram de 14 para 33 bilhões de barris as reservas brasileiras, 146 investments in infrastructure and housing. Hence, these industrial mega-investments also provide a unique opportunity to face growth by these regions in an orderly manner. Complementing these large-scale actions, please note that halfway between Itaguaí and Itaboraí, along the Arco Metropolitano by-pass highway now under construction, lie the municipalities of Duque de Caxias, Belford Roxo, and Queimados, which together display an expressive industrial base. Besides the refinery of the same name, Duque de Caxias enjoys a chemical and petrochemical base, manufacturers of traditional goods, and a furniture industry. Belford Roxo is the home of an industrial base close to the Bayer pharmaceutical compound, and Queimados has a number of industrial facilities. The Belford Roxo industrial park has increased its activities while the Queimados industrial estate has received new plants owing to the advantages in logistics and the state government’s fiscal incentives10. Third, oil discoveries in the pre-salt strata. The oil reserves (of good and medium quality) found in the pre-salt strata increased Brazilian reserves from 14 to 33 billion barrels, with estimates that they may total 50 or even 100 billion barrels. These fields extend along the states of Santa Catarina and Espírito Santo, 8000 meters from the sea surface and with limited prospecting begun by Petrobras in 2008. Though large-scale production has been announced for 201711, the world of pre-salt exploration is still governed by uncertainties in connection with the reliability of prospecting technologies, prospecting and exploration regulations, and policies for the allocation of benefits, very relevant in Rio’s case. All of this is overshadowed by what is known as the Dutch disease – an excessive foreign exchange flow likely to adversely affect the remainder of the country’s productive sector, by over appreciating the local currency12. Pre-salt oil, despite its reflex in the economy, will cause an immediate urban impact through the demand for support areas for offshore production (storage, offices, industrial facilities, etc.), along a territory stretching from the states of Santa Catarina to Espírito Santo. Santos and Rio are candidates to house these bases. Fourth, expansion of the Ilha do Fundão Technological Estate. Ilha do Fundão is the seat of two technology bases, Pólo de Tecnologia BioRio13 and Parque Tecnológico do Fundão, the latter being chiefly dedicated to the development of all sorts of technologies associated pre-salt investments is located within the UFRJ campus and has its 350 thousand m² scheduled for occupation by research centers run by Petrobras, Schlumberger, FMC Technologies, Tenaris/ Confab, Halliburton, Usiminas, and Baker Hughes, some of these already in place while others are under construction. A second stage is now proposed with 200 thousand m² on neighboring land in the Bom Jesus island, to harbor research centers for, among others, General Electric, Siemens, and the BG Group. Studies are also in progress to build the Torre da Inovação, a building designed to house a number of companies in a smaller scale than that described above. The Technological Estate’s future reflex on the Municipality of Rio de Janeiro will be expressive, precisely due to the concentration of knowledge activities - capable of creating important multiplying effects on its economy in addition to demanding highly specialized and highly paid labor. It is expected that by 2017 the Technological Estate will harbor 220 companies and provide 5000 work posts. Its location on Ilha do Fundão, between the Rio CBD and the Galeão international airport is very convenient, yet will require considerable investments in environmental and urban recovery of the surroundings, now very degraded. An undertaking of this nature and in such a scale will produce long-distance impacts, and is likely to encourage near-by suburban improvements or even the Porto Maravilha project. The good news is that the mentioned investments have already begun, chiefly the environmental landscaping of Canal do Fundão, construction of a stay-bridge for the island’s south access, and investments in neighboring districts under the Programa de Ação Concentrada/PAC, in the low-income Maré, Manguinhos, and Alemão communities. Fifth, signs of recovery in Rio’s economy in a number of other activities. This covers growth in service activities, finance, and education in the Municipality of Rio de Janeiro, such as the increase in hotel accommodations (a 39% expected growth by 2016, according to Rio Negócios). There are also examples such as investments in port and highway infrastructure, urban transport, and the vigorous push by civil construction – which will be covered in the coming section owing to their close relation with the urban issue. Sixth, expectations to maintain, intensify, and expand the current security policy. Roughly two decades ago the state government began to relinquish the effective assurance to life and property in large areas of its territory, which as a result fell under the control of the drug trade, a trend that took over a number of areas and led to the involvement police officers. Significant progress has been made in the last four years. The security policy concentrated on gaining back these territories through the use of intelligence and refined strategies, in lieu of the customary brutality and ruthless methods. The recovered areas received Unidades de Policia Pacificadora (UPPs), community police units formed by young recruits, often headed by women, with a high degree of approval by the local population14. Initially a timid action, by late 2010 the gains in the security policy were very evident when, backed by 147 ARQTEXTO 17 especulando-se que poderiam chegar a 50 e mesmo 100 bilhões de barris. Os campos se estendem de Santa Catarina ao Espírito Santo, a 8000 m da superfície do mar, sua prospecção em quantidade reduzida tendo sido começada pela Petrobrás em 2008. Embora se anuncie o início da produção em escala para 201711, o mundo a ser criado pelo pré-sal ainda está dominado por incertezas referentes à confiabilidade das tecnologias de prospecção, à regulamentação quanto à prospecção e exploração, e, muito importante para o caso do Rio, à política de partição de benefícios. Paira sobre tudo isto a sombra do chamado mal holandês – o excessivo fluxo de câmbio que, ao tornar a moeda nacional cara, poderá afetar negativamente o resto do setor produtivo nacional12. O pré-sal, independente de seu impacto na economia, terá um impacto urbanístico imediato, na demanda por áreas de apoio à produção offshore (armazenagem, escritórios, instalações industriais, etc), ao longo do território que vai de Santa Catarina ao Espírito Santo. Santos e Rio de Janeiro são candidatas a sediar estas bases. Quarto, a ampliação do Parque Tecnológico do Fundão. A Ilha do Fundão abriga dois parques tecnológicos, o Polo de Tecnologia BioRio13 e o Parque Tecnológico do Fundão, a razão de ser deste último, principalmente, o desenvolvimento de tecnologias de toda natureza associadas aos investimentos no pré-sal. O Parque do Fundão, situado dentro do campus da UFRJ, tem seus 350 mil m2 programados para ocupação pelos centros de pesquisa da Petrobras, Schlumberger, FMC Technologies, Tenaris/ Confab, Halliburton, Usiminas, Baker Hughes, alguns dos quais já instalados, enquanto outros estão em construção. Está sendo proposta uma segunda etapa, com 200 mil m2, em terrenos confrontantes, na Ilha do Bom Jesus, a serem ocupados, entre outros, pelos centros de pesquisa da General Electric, Siemens e BG Group. Igualmente está em estudos a construção da Torre da Inovação, prédio dedicado a abrigar um perfil de empresas em escala menor do que o das acima indicadas. O impacto do Parque Tecnológico no futuro do Município do Rio de Janeiro será considerável, exatamente por reunir indústrias de conhecimento – atividades capazes de gerar importantes efeitos multiplicadores na sua economia, além de requererem mão-de-obra altamente especializada e remunerada. Para 2017, espera-se que o Parque Tecnológico abrigue 220 empresas e 5000 postos de trabalho. A localização do Parque Tecnológico na Ilha do Fundão, entre o CBD do Rio e o aeroporto internacional do Galeão, é muito conveniente, mas requererá investimentos consideráveis na recuperação ambiental e reurbanização da região próxima, muito degradada. Um empreendimento desta natureza e na sua escala terá impacto à ARQTEXTO 17 distância podendo vir a incentivar a melhoria de subúrbios próximos e mesmo o projeto do Porto Maravilha. A boa notícia é que os investimentos mencionados já começaram a ser executados, principalmente a revitalização ambiental e paisagística do Canal do Fundão, a construção do acesso sul à ilha, através de uma ponte estaiada e, nos bairros circundantes, os investimentos do Programa de Ação Concentrada/PAC nos complexos de favelas da Maré, Manguinhos e Alemão. Quinto, os sinais de recuperação da economia do Rio em diversos outros setores. Trata-se da expansão de nichos de atividades no setor de serviços, financeiros e educacionais no Município do Rio de Janeiro, tal como a ampliação do parque hoteleiro (crescimento esperado de 39% até 2016, segundo a Rio Negócios). São, igualmente, exemplos os investimentos em infraestrutura portuária, rodoviária e transportes urbanos, assim como a forte retomada da indústria de construção civil – a serem abordados na próxima seção em vista de suas estreitas vinculações com a questão urbanística. Sexto, a expectativa de que se mantenha, aprofunde e expanda a atual política de segurança. Há cerca de duas décadas, o governo estadual vinha abdicando de dar garantias efetivas de vida e de propriedade em extensas áreas de seu território que, em decorrência, caíram no domínio do tráfico de drogas, tendência que se agravou em algumas áreas com o envolvimento de agentes policiais. Nos últimos quatro anos houve progressos significativos. A política de segurança voltou-se para a conquista destes territórios, por meio do uso de inteligência e estratégias refinadas, em lugar da brutalidade e do arbítrio que lhe são habituais. Nas áreas reconquistadas implantaram-se as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), polícia comunitária formada por jovens recrutas, muitas vezes comandadas por mulheres, com alto grau de aprovação das populações locais14. Inicialmente tímida em sua implementação, a partir do final de 2010 os ganhos da política de segurança foram consideráveis quando, com o apoio das Forças Armadas, logrou-se a tomada do complexo de favelas do Morro do Alemão, no subúrbio do Rio, há muito dominado pelo tráfico de drogas. Hoje, há 16 UPPs instaladas, cobrindo 55 favelas. A demanda pública é que o próximo passo da política de segurança seja o seu aprofundamento, expandindo-se o programa de UPPs, ampliando-se o efetivo policial (programado para subir dos atuais 38 mil para 60 mil até 2014), e enfrentando-se a corrupção no interior da polícia. A pacificação de favelas tem apresentado efeito urbanístico imediato de vários tipos: a valorização de imóveis nas favelas e nos bairros onde elas se localizam; 148 the Armed Forces, the low-income communities of Morro do Alemão were occupied in Rio’s suburbs, after years under the control of the drug trade. There are currently 16 UPPs installed, covering 55 favelas. Public opinion requires that the next step by the security policy should be to intensify and expand the UPP program, increasing police personnel (planned to rise from the current 38 thousand to 60 thousand by 2014), and fighting corruption ingrained in the police. Pacifying favelas has resulted in immediate urban outcomes of several kinds: the appreciation of property in low-income communities and those districts where they are located; actions by public utilities (Light, CEDAE, etc.), in order to do away with unlawful connections with their services and investments in network improvements; investments by banks and other businesses in branches in these favelas and surrounding areas. In the medium run and following implementation of the Morar Carioca program, they should display considerable improvements. Seventh, the outlook for “normal” governance: fiscal policy, infrastructure and education15. Following twenty years of administrative ineffectiveness at the state and local government levels (with limited periods of good government), during the last two electoral terms state and local governments joined in an alliance to face the federal authorities, with a commitment to put in place public policies in the interests of the local population. It is mutually accepted that government management models should not vary greatly from those employed in private enterprise, and gradually with the support of specialized advisory services, state and local officials have adopted a degree of order in their actions. In addition to the security policy, the state government has disclosed positive results in its fiscal policy: The State’s rating has been raised by the risk rating agencies, and there has been growth in funds for investments. Nonetheless, results are merely regular in health and mediocre in education: in spite of boasting the country’s highest average of school years, Rio had barely satisfactory results in the IDEB exams. On its inauguration in 2009, the local administration put in practice its “restoration of order” actions, employing the methods of Giuliani-Mockus16 and curbing the “free-for-all” attitude prevailing in Rio, at the same time that it announced plans and adopted the initial steps with a view to implementing the 2016 Urban and Environmental Legacy Plan, related to the commitments assumed for holding the 2016 Olympic Games. This was a long-postponed master plan, which was approved by the local government legislature and sanctioned by the Mayor in February 2011. Summarizing the circumstances contained in the above-mentioned seven points, please note that Decisão Rio, a document disclosed by FIRJAN listing firm investment decisions by companies and government throughout the State (and not only the Metropolitan Region), shows a sum of R$ 181.4 billion for the period from 2011 to 2013. In conclusion, it is also worth disclosing the results of a survey prepared jointly by the London School of Economics and Brookings Institute, named “Global Metro Monitor: The Path to Economic Recovery,” which assesses the behavior of 150 metropolitan economies17. The results regarding Rio de Janeiro are particularly encouraging, with its Metropolitan Region having risen from 100th place in the period prior to the world recession (1993-2007) to 28th place in the recession period (2007-2010), and finally to 10th place in the ranking for the recovery period (2009-2010). However, before proceeding with a commemoration, it should be born in mind that 50% of these results are explained by the country’s growth, which may have been stimulated by an expansionist inflationary policy18. The Rio de Janeiro Metropolitan Region’s frontier of challenges is being pushed forward. The nature of modern urban economies is such that in order to achieve sustainable long-term growth, they require not only sectoral diversity and freedom to do business, but also rising educational standards. Edward Glaeser19, possibly his generation’s most prestigious urban economist, discusses the growth outlook for cities based on a single industrial activity as opposed to those with an ample and diversified economy, in which freedom and the urge to do business are present. He concludes that an ample and diversified economic base is more capable of renovation. Hence, stress on economic diversity and entrepreneurship is now one of the challenges faced by Rio. Glaeser has also evidenced in his ongoing studies the close association of educational levels and economic performance in urban areas. There is no other alternative: The Rio de Janeiro Metropolitan Region requires a more educated population in order to sustain its growth! PART B THE METROPOLITAN REGION’S CITY PLANNING IN THE FIRST LIGHT OF THE 21ST CENTURY B1 ECONOMIC GROWTH AND CITY PLANNING The economic development expected for Rio de Janeiro in the next decade (always bearing in mind the caveats found in Part A), will exercise multiple and complex effects on city planning in the municipality of Rio de Janeiro’s Metropolitan Region. Firstly, direct effects are expected (suggested in the preceding item) – such as for example demand for properties and buildings as has begun to occur in Itaguaí, Itaboraí, and along the Arco Metropolitano by-pass highway, in order to put up the mentioned industrial compounds. Later, as a result of increased earnings by company suppliers and of their employees, an indirect 149 ARQTEXTO 17 a ação de empresas de serviços públicos (LIGHT, CEDAE, etc.) no sentido de eliminar “gatos” e investir na melhoria de suas redes; o investimento por parte de bancos e outros negócios em agencias e filiais nas favelas ou em sua vizinhança. A médio prazo, com a implantação do programa Morar Carioca, as favelas do Rio devem passar por uma considerável melhoria de condições. Sétimo, a perspectiva de governabilidade “normal”: política fiscal, infraestrutura e educação15. Depois de mais de 20 anos de inoperância administrativa, tanto a nível estadual quanto a nível municipal (com espasmos de bom governo), nos dois últimos períodos eleitorais, os governos do Estado e do Município se acertaram numa aliança face ao governo federal, com o compromisso de implantar políticas públicas no interesse das populações locais. Há mútua compreensão de que modelos de gestão governamental não devem ser muito diferentes daqueles da gestão privada e, paulatinamente, com apoio de consultorias especializadas, os dirigentes a nível estadual e municipal vêm introduzindo certa ordem em suas ações. Além da política de segurança pública, o governo do Estado apresenta resultados positivos na política fiscal: o “rating” do Estado vem sendo elevado pelas agências de classificação de riscos e se observa crescente geração de recursos para investimento. No entanto, seus resultados são meramente regulares na área de saúde e medíocres na de educação: apesar de ter a maior média de anos de escolaridade no país, o Rio teve resultados sofríveis no IDEB. A administração municipal, ao se instalar em 2009, deu início a um “choque de ordem”, ao estilo Giuliani-Mockus16, coibindo o clima de “tudo-é-permitido” que dominava o Rio, ao mesmo tempo que anunciou planos e tomou as primeiras medidas visando o cumprimento do Plano de Legado Urbano e Ambiental 2016, associado aos compromissos assumidos com a realização das Olimpíadas de 2016. Um plano diretor longamente postergado foi aprovado pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo Prefeito em fevereiro de 2011. Como sumário do que foi apresentado nos sete pontos anteriores, registra-se que o Decisão Rio, documento da FIRJAN que indica decisões firmes de investimento de empresas e governos para a totalidade do Estado (e não só da Região Metropolitana) apresenta o valor de R$ 181,4 bilhões para o período 2011-2013. Por fim, vale também mencionar os resultados de uma pesquisa realizada conjuntamente pela London School of Economics e pelo Brookings Institute, denominada “Global Metro Monitor: The Path to Economic Recovery”, avaliando o comportamento de 150 economias metropolitanas17. Os resultados relativos ao Rio de Janeiro são particularmente auspiciosos, sua Região Metropolitana tendo passado no ARQTEXTO 17 período pré-recessão mundial (1993-2007) da centésima posição na escala para a vigésima oitava no período de recessão (2007-2010), e finalmente para a décima, no período de recuperação (2009-2010). Antes de se proceder a qualquer comemoração, no entanto, há que se considerar que 50% destes resultados é explicado pelo crescimento nacional e que este pode ter sido estimulado por uma política expansionista inflacionária18. A fronteira dos desafios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro está sendo empurrada adiante. A natureza das modernas economias urbanas é tal que, para lograrem um crescimento sustentável de longo prazo, necessitam contar não só com diversidade setorial e ampla liberdade para empreender, mas também com padrões educacionais crescentes. Edward Glaeser19, talvez o economista urbano de maior prestígio em sua geração, discute, as perspectivas de crescimento das cidades caracterizadas por monocultura industrial versus aquelas dotadas de base econômica ampla e diversificada, onde tanto a liberdade quanto o impulso a empreender estão presentes. Conclui que as de base econômica ampla e diversificada têm maior capacidade de se reinventar. Ênfase na diversificação econômica aliada ao empreendedorismo empresarial é, portanto, um dos desafios que se colocam agora para o Rio. Glaeser vem, igualmente, mostrando, estudo após estudo, a forte associação observada entre nível de educação e desempenho econômico em áreas urbanas. Não há outra saída: a Região Metropolitana do Rio de Janeiro precisa de uma população mais educada para poder continuar a crescer! PARTE B O URBANISMO DA REGIÃO METROPOLITANA NA ENTRADA DO SÉCULO XXI B1 CRESCIMENTO ECONÔMICO E URBANISMO O crescimento econômico esperado para o Rio de Janeiro na próxima década (levando-se sempre em conta as advertências constantes da Parte A) deverá ter efeitos múltiplos e complexos sobre o urbanismo da Região Metropolitana e do Município do Rio de Janeiro. Em primeiro lugar, espera-se efeitos diretos (sugeridos no item anterior) – por exemplo, a demanda por terras e por edificações como a que começa a se dar em Itaguaí, em Itaboraí e ao longo do Arco Metropolitano para instalação dos complexos industriais mencionados. Depois, como consequência do aumento da renda de fornecedores das empresas e de seus empregados, espera-se um efeito indireto, estes fornecedores e empregados por sua vez demandando novas edificações e terrenos para moradia, comércio e os serviços, o que deve se observar em todo o território da Baixada Fluminense. 150 effect will be expected and in turn these suppliers and employees will require new constructions and properties to live on, for retail businesses and services, which will be witnessed throughout Rio de Janeiro’s outskirts (Baixada Fluminense). There are three other impacts that fit into this discussion. Firstly, increasing income leads to changes in people’s consumer habits, who will begin requiring goods and buildings of a different nature that those they required, and very different in many cases. This will imply great changes in architectural and urban planning programs, leading to an increase, for example, in the number of shopping malls, wholesalers of construction materials, furniture, home appliances, etc., in Rio Janeiro’s outskirts. Secondly, new technologies will also be come into use by virtue of increased earnings, resulting in meeting the above-mentioned requirements through new methods and means, possibly cheaper and more effective. Therefore, an expressive change should be expected in the civil construction industry, not only with regard to construction techniques and materials but in the scale of the products. Hence, it is important to be prepared for the advent of large-scale housing developments. In conclusion, owing to economic growth, the government authorities will have more funds, permitting them to invest more and, hopefully, better. This article will focus in particular on this last issue. The topics that we covered are chiefly the outcome of government decisions, plans and investments, whether federal, state, and/or local, and the intention is to consider the macro-trends in city planning that affect the Rio de Janeiro Metropolitan Region. This part therefore begins with a brief description of the Rio de Janeiro Metropolitan Region’s city planning during the 20th century’s final quarter. We will then broach six subjects / topics the effect of which on the built-up scenario of the Rio de Janeiro Metropolitan Region should be significant: the two first topics refer to transport projects that when put in practice will reflect on the city’s and Metropolitan Region’s spatial structure, the Arco Metropolitano by-pass, and the local BRT system. The third topic refers to international events that should be held in Rio over the next five years. The fourth covers the refurbishment of Rio’s city center and the Porto Maravilha, an urban reformation project of an unprecedented scale when compared to any other urban developments performed in the country. The two final topics deal with actions that might result in the beginning of the end of informal housing in Rio de Janeiro – recovery of the property development business, and urban renewal of the Rio favelas. B2 THE RECENT URBAN DEVELOPMENT HERITAGE During the 20th century’s final quarter, the population growth in the city’s Metropolitan Region is more moderate but continues on its path towards the extremes of the urban B2 A HERANÇA URBANÍSTICA RECENTE No último quartel do século XX, o crescimento populacional da cidade e de sua Região Metropolitana arrefece, areas – in the direction of Barra da Tijuca over the LagoaBarra road (1970s) and towards the West Zone, Baixada Fluminense (city outskirts), and São Gonçalo by means of long-established axes of urban expansion. Jointly with this urban expansion, the city center declines vigorously and the South and North Zones, together with Rio’s traditional suburbs begin to show signs of ageing. The “highway culture” of previous decades was encouraged based on individual transport, though only two large road-building projects were concluded in the Municipality of Rio de Janeiro – the Red Line (1992-1994) followed by the yellow line (1997) and contained in the Doxiadis Plan (1965), in an attempt to connect the outskirts to the city center. The Red Line caused irreparable urban and environmental damages along its route (the districts of Rio Comprido and São Cristovão), while the Yellow Line soon attracted low-income sub-standard housing on a good stretch of its course. In the Metropolitan Region, the Via Light is built, which penetrates into Rio from the Baixada Fluminense but does not reach Avenida Brasil, playing but a modest role as an alternative for traffic on its way to Rio. The metro’s Lines 1 and 2 were built slowly and with costly hesitations in the course of 40 years, with Line 2 extended to Pavuna in the late 1990s and Line 1 to Ipanema only in 2010. In the meantime the system gradually lost its importance to commuting by bus and vans. In the late 1990s, trains and metro were converted into private concessions with good yet not always consistent results. Meanwhile, growing automobile ownership led to the main and secondary road systems being occupied to their limits, with permanent jams, noise and air pollution, discouraging neighborhood retailers, a part of which took refuge in the air-conditioned comfort of the shopping malls, a very prevalent urban invention of recent decades. Rising insecurity created another typical urban planning solution of our times – gates on streets and bars protecting lobbies of buildings. Bicycle paths began to appear, more for leisure use rather than for commuting. In Rio, the Lucio Costa Plan (1969) brought discipline to the occupation of Barra da Tijuca, determining a communicating road structure with both the South and West Zones / Jacarepaguá, avoiding what would have become a haphazard occupation, as had prevailed in other of the Metropolitan Region’s expansion areas. Perhaps because of this, Barra da Tijuca’s growth was accelerated, as it was made more attractive20. Other city planning and control instruments in effect at the time were insufficient in meeting their objectives. The changes in urban legislation in the late 1960s, with repercussions in the course of the following decades and which released the city from the unvarying legislation based 151 ARQTEXTO 17 Três outros efeitos interessam a esta discussão. Primeiro, com o aumento de renda, há uma transformação nas preferências das pessoas, as quais passam a demandar produtos e edificações de natureza diferentes dos que demandavam e, muitas vezes, grandemente diferentes. Isto implica numa transformação grande de programas arquitetônicos e urbanísticos, o que implicará no surgimento de, por exemplo, maior numero de shopping centers, centros distribuidores de materiais de construção, móveis, utensílios domésticos, etc. ao longo da periferia do Rio de Janeiro. Segundo, com o crescimento da renda, introduzem-se também novas tecnologias, o que leva a que se atenda às demandas anteriormente mencionadas por meios e métodos novos, possivelmente mais eficazes e mais baratos. Portanto, há de se esperar uma transformação expressiva na indústria de construção civil, não só nas suas técnicas construtivas e materiais, como na escala de seus produtos. Portanto, é importante estar preparado para o aparecimento de conjuntos residenciais de grande escala. Finalmente, com crescimento econômico, as administrações governamentais passam a ter mais recursos, o que lhes permite investir mais e, espera-se, melhor. Este artigo focará sobretudo esta última questão. Os temas aqui abordados são principalmente o resultado de decisões, planos e investimentos governamentais, sejam de origem federal, estadual e/ou municipal, a intenção sendo a de cobrir as macro tendências urbanísticas que afetam a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Assim, esta parte começa com uma rápida caracterização do urbanismo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro no último quartel do século XX. A seguir, são abordados seis assuntos/temas cujo impacto na paisagem construída da Região Metropolitana do Rio de Janeiro na próxima década deve ser significativo: os dois primeiros temas se referem a projetos de transporte, cuja implantação terá reflexos na estrutura espacial do Município do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana – o Arco Metropolitano e o sistema municipal de BRTs. O terceiro tema se refere aos eventos internacionais que devem ocorrer no Rio no próximo quinquênio. O quarto é a renovação do Centro do Rio e o Porto Maravilha, projeto de renovação urbana em escala sem precedentes se comparado a qualquer obra urbana já feita no país. Os dois temas finais tratam de medidas que poderão ensejar o começo do fim da informalidade habitacional no Rio de janeiro – a retomada das atividades do setor imobiliário e a reurbanização das favelas cariocas. ARQTEXTO 17 embora continue sua caminhada, em direção aos extremos da área urbanizada – para a Barra, através da auto-estrada Lagoa-Barra (década de 1970), e para a Zona Oeste, Baixada e São Gonçalo, através de eixos há muito estabelecidos de expansão urbana. Pari passu com a expansão urbana, o centro metropolitano declina fortemente e as Zonas Sul e Norte e os subúrbios tradicionais do Rio, áreas maduras, mostram sinais de envelhecimento. Deu-se seguimento ao “rodoviarismo” das décadas anteriores, centrado no transporte individual, embora tenham sido realizadas apenas duas grandes obras viárias no Município do Rio – a Linha Vermelha (1992-94), seguida da Linha Amarela (1997), constantes do Plano Doxiadis (1965), procurando estabelecer ligações periféricas ao centro. A Linha Vermelha causou prejuízos urbanísticos e ambientais irreparáveis por onde passou (Rio Comprido e São Cristovão), enquanto a Linha Amarela viu-se rapidamente favelizada ao longo de boa parte de seu percurso. Na Região Metropolitana constroi-se à Via LIGHT, que penetrando no Município do Rio, a partir da Baixada Fluminense, não chega à Avenida Brasil, desempenhando papel modesto como alternativa para o tráfego da Baixada em direção ao Rio. As Linhas 1 e 2 do metrô foram implantadas lentamente e com custosas indecisões ao longo de 40 anos, chegando a Linha 2 à Pavuna no final dos anos 1990 e a Linha 1 a Ipanema somente em 2010. Neste ínterim, os trens perderam paulatinamente importância em favor do transporte por ônibus e por vans. Ao final da década de 1990, trens e metrô saíram do âmbito do poder público, entregues em concessão a particulares com resultados bons, mas nem sempre consistentes. Enquanto isto, o crescimento na posse de automóveis levou a ocupação do sistema viário principal e secundário até o limite de sua capacidade, criando congestionamentos permanentes, ruído e contaminação do ar, e afugentando o comércio de rua, parte do qual se refugiou no conforto refrigerado de shopping centers, a invenção urbanística mais prevalente destas décadas. A insegurança criou uma outra solução típica do urbanismo deste tempo – as cancelas em ruas e as grades das portarias de edifícios. As ciclovias ensaiaram um aparecimento, mais como solução de lazer do que de transporte. No Rio, o Plano Lucio Costa (1969) introduziu ordem na ocupação da Barra, estabelecendo uma estrutura viária de penetração, tanto a partir da Zona Sul quanto da Zona Oeste/Jacarepaguá, evitando o que teria sido uma ocupação fragmentada e desarticulada, tal como prevaleceu nas demais áreas de expansão da Região 152 on height vs. occupation of land, put an end to solutions such as the “corridors” of buildings typical of Copacabana, claustrophobic and deficient in ventilation. Alternately, the new legislation gave way to varying heights and to the city’s visual enhancement, disorganizing the alignment of streets and depriving them of personality by placing blocks of parking spaces in the lower floors. The widespread adoption of this solution across the city resulted in its numerous districts losing their distinctive character, with Rio as a whole copying Ipanema. In the West Zone and Metropolitan Region municipalities, housing developments became alarmingly more informal, among other reasons because of the difficulties created by legislation in connection with the division of land, giving rise to severe damages in organizing urban spacing, whatever the scales considered. Implementation of urban programs and projects dwindled, with the loss of the state and local governments’ investment capacity. In Rio de Janeiro, exceptions to this scenario are the Rio-Orla project in the 1980s and the Rio-Cidade and Favela-Bairro programs in the 1990s. The former organized urban infrastructure along the beaches. The second intended to re-qualify the urban design and infrastructure of public areas in a number of districts, on the assumption that streets could be recovered from their lack of prestige and decadence. The latter’s proposal was to urbanize Rio’s medium-sized favelas, based on their need for public acknowledgement, providing them with public services as a first step to their legal formalizing. These programs were well conceived and executed. Stagnated income in the Metropolitan Region did not result in actually meeting the needs of families for homes. To this may be added an ineffective property development business, with insufficient capitalization and outdated in technology, without access to land and unable to raise funds for building and sales. In this scenario, verticalizing construction, a feature of dynamic cities that reduce infrastructure costs with higher densities, appeared to be rudimentary and ill-contrived. The result was Rio being taken by the practice of owner-building, an increase in favelas and homes in informal developments. Adding sections to existing homes became the rule and a symbol of the Metropolitan Region. At the same time, protection of historical heritage gained ground, which makes sense in a city with Rio’s architectural wealth and diversity. Heritage protection agencies in the three spheres of government extended their actions not only over buildings, but also to cover streets and parts of districts, but with no mutual coordination. Their main instrument is legislation on legal protection of heritage landmarks, often a reactive measure instead of being used in anticipation of future problems. In addition, the legal protection instrument takes no account of the economic and social changes that constantly affect the urban status of legally protected landmarks. It does not encourage the maintenance of these protected landmarks or assist in developing their commercial use, which would ultimately ensure their preservation. Two actions developed by the Rio de Janeiro local government provide a vision that is as strategic as it is urbanizing, despite any other likely problems: The Corredor Cultural in the town center, and the 36 Cultural Environment Protection Areas (APACs), located chiefly in the South Zone, that together protect roughly 30 thousand buildings. Environmental concerns of a “brown” as well as a “green” nature became a part of society’s agenda, and have advanced considerably. Standards for the use of land, such as low-density urban development along the seaside and in the West Zone, and also the sprawl of favelas on hills and slopes, have put pressure on forests and mangrove swamps, in addition to raising the risk of landslides and floods that have become common in the region. The increasing use of individual transport based on petroleum derivatives contributes to air pollution and jeopardizes safety and comfort while using public areas. These are but two of the numerous environmental issues that have become prominent during the period. In reply, environmental policies were devised for specific territories and sectors and the practice was adopted of preserving natural areas, with the creation of preservation units and reforestation projects. B3 THE ARCO METROPOLITANO AND THE INDUSTRIAL AXIS IN THE BAIXADA FLUMINENSE In a suitable attempt of describing the vast metropolitan region that has London as its key focus, Deyan Sudjic has named it the “100-Mile City21”. Something similar begins to take shape in Rio de Janeiro in the light of three factors, one older and two more recent: (i) the Metropolitan Region’s population growth, predominantly in the outlying Baixada Fluminense region; and (ii) creation of that area’s industrial park; and (iii) construction of the Arco Metropolitano by-pass highway. As in London, while at the same time creating problems, this trend brings with it a valuable potential for change. Please see Table 1 in order to examine the first of these factors, with the Metropolitan Region’s population organized according to their municipalities and expansion axes. Three important trends arise from the table: (i) the region’s declining growth rate, from 1.18% in the 19912000 period, to 0.85% in the 2000-2010 period; (ii) a population increase from 990 thousand inhabitants from 2000 to 2010, of which 495 thousand Rio de Janeiro’s suburban areas; and (iii) higher population growth rates in municipalities more distant from the city center22. 153 ARQTEXTO 17 Metropolitana. Talvez por isto mesmo tenha acelerado o crescimento da Barra, ao torná-la mais atraente20. Os demais instrumentos de controle urbanístico vigentes no período foram sub-ótimos na consecução de seus propósitos. A modificação da legislação urbanística ocorrida no fim da década de 1960, com seus efeitos distribuídos ao longo das décadas seguintes, ao liberar o Rio da uniformidade de uma legislação marcada pelo binômio gabarito-recuos, dá fim a soluções semelhantes aos “corredores” de edificações típicos de Copacabana, claustrofóbicos e de pobre ventilação. Alternativamente, a legislação então implantada permitiu variação de alturas e desafogo visual da cidade, no entanto, desestruturando o alinhamento das ruas, ao mesmo tempo que as esterilizava com a presença de blocos de garagem nos andares inferiores. Ao generalizar a mesma solução pela cidade, levou a que os diversos bairros perdessem o seu caráter específico, o Rio como um todo a replicar Ipanema. Na Zona Oeste e nos demais municípios da Região Metropolitana, os loteamentos seguiram, em grau alarmante, a trilha da informalidade, entre outras razões, pelas dificuldades impostas pela legislação de parcelamento da terra, o que acarretou sérios prejuízos para a organização do espaço urbano, quaisquer que sejam as escalas consideradas. A implantação de programas e projetos urbanos escasseou com a perda da capacidade de investimento dos governos estadual e municipais. Exceções a este quadro, no Município do Rio, são, na década de 1980, o Rio-Orla, e, na década de 1990, os Programas Rio-Cidade e Favela-Bairro. O primeiro organiza a infraestrutura urbana ao longo das praias. O segundo constitui uma requalificação da infraestrutura e do desenho urbano de logradouros de diversos bairros, na crença de que a rua poderia ser recuperada de seu desprestígio e decadência. O terceiro se propôs a urbanizar favelas cariocas de tamanho médio, na crença de que o que lhes faltava era o “público”, e, portanto, dotando-as de serviços básicos, primeiro passo no que seria sua formalização legal. São programas bem concebidos e bem realizados. Com a renda na Região Metropolitana estagnada, a necessidade das famílias por imóveis não se transformava em demanda efetiva. A isto se somava um setor imobiliário sem vigor, com pouca capitalização, atrasado tecnologicamente, sem acesso a terrenos e não contando com financiamento à produção e venda. Neste quadro, a verticalização das edificações, uma das expressões de cidades dinâmicas, cujas densidades mais altas barateiam e facilitam a instalação de infraestrutura, revelou-se incipiente e canhestra. O corolário foi o domínio do Rio pela prática da autoconstrução, pelo aumento das favelas ARQTEXTO 17 e das habitações em loteamentos informais. O “puxadinho” passou a ser a norma e o símbolo da Região Metropolitana. Em paralelo, a proteção ao patrimônio histórico ganhou espaço, o que, numa cidade com a riqueza e a diversidade arquitetônica do Rio, faz sentido. As agências de proteção patrimonial dos três níveis de governo passam a estender sua ação não só sobre edificações como sobre ruas e segmentos de bairros, sem, no entanto, coordenação entre si. Seu instrumento principal é a legislação de tombamento, cuja aplicação é frequentemente reativa, em lugar de ser usada em antecipação a problemas futuros. Além do mais, o instrumento do tombamento não é sensível às transformações econômicas e sociais que estão permanentemente a afetar o contexto urbanístico dos bens tombados. Não incentiva a manutenção do bem tombado nem facilita a adoção de um uso econômico para o mesmo, o que, em última análise, garantirá sua permanência. Duas iniciativas presentes no Município do Rio de Janeiro revelam uma visão ao mesmo tempo mais estratégica e mais urbanística, em que pese outros problemas que possam ter: o Corredor Cultural, no Centro, e as 36 Áreas de Proteção de Ambiência Cultural (APACs), localizadas principalmente na Zona Sul, Norte e Centro, ambos protegendo em torno de 30.000 imóveis. Preocupações ambientais, tanto de natureza “marrom” quanto “verde”, entraram na agenda da sociedade neste período, fazendo avanços importantes. Padrões de uso do solo como a urbanização de baixa densidade que se espalha pelo litoral e pela Zona Oeste, e ainda a favelização de morros e encostas, colocam pressão sobre florestas e manguezais, além de acentuar os riscos de deslizamentos e enchentes, recorrentes na região. O crescente uso do transporte individual movido a derivados de petróleo contribui para a poluição do ar e prejudica a segurança e o conforto no uso dos espaços públicos. Estas são apenas duas das inúmeras questões ambientais que ganham projeção no período. Como resposta, estabeleceram-se políticas ambientais de cunho territorial e setorial e deu-se inicio à prática de preservação de áreas naturais, com a criação de unidades de conservação e projetos de reflorestamento. B3 O ARCO METROPOLITANO E O EIXO INDUSTRIAL DA BAIXADA FLUMINENSE Na apta tentativa de descrever a vasta região metropolitana que tem Londres por foco principal, Deyan Sudjic a denomina de “The 100 Mile City21”. Fenômeno similar se ensaia no caso do Rio de Janeiro na presença de três fatores, um mais antigo e dois mais recentes: (i) 154 There is nothing indicative of great changes in these trends for the present decade. It is very likely that total growth in the Metropolitan Region will be even lower and will be greater in the suburban areas, with a greater relative increase in more distant points. This will occur on the highly dispersed territory, scarcely endowed with a road network and with a poor infrastructure as described in the preceding item. Two other factors – the Arco Metropolitano highway and industrial investments in the Baixada Fluminense (city outskirts) will give way for an opportunity to change this state of affairs. No other urban construction works have such outstanding and lasting effects as the opening of roads and streets. This is what will take place with the Arco Metropolitano. Entering the Rio de Janeiro Metropolitan Region from any of its cardinal points – the BR 101 South, driving in from MangaratibaItaguaí; the Dutra highway, coming in through Nova Iguaçu; the Washington Luiz highway, through Petrópolis and Duque de Caxias; and the BR 101 North, driving in from Itaboraí – witness congested highways that are close to (or above) their traffic capacity, and often playing a role of local and inter-state connections. All of these date back to the origins of the Rio city center, to which they led. These roads currently serve to bring in goods to Rio and to carry cargo merely passing through to other states. The problem is compounded by the fact that the suburban populations use these same transport corridors to get to the Metropolitan Region’s city center every day, owing to the absolute lack of a radial system and which calls for the use of the main highways even for shorter distances. In 2003 an Urban Transport Master Plan was prepared for the Metropolitan Region (PDTU/RMRJ)23, which defined the guidelines and action proposals in the field of transportation. One of the proposals by the PDTU/RMRJ was to build the Arco Metropolitano by-pass, with work already started and delivery planned for 2011. This road will connect two municipalities located at opposite ends of the Metropolitan Region, Itaguaí and Itaboraí, crossing all the highway corridors that lead to Rio24 and cutting across other municipalities in the outskirts (Seropédica, Japerí, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, and Magé). At each end of this highway there are two industrial parks under construction or expansion. There are steel mills, a shipyard, and two ports on the shore of the bay of Sepetiba in Itaguaí, and COMPERJ in Itaboraí, with a connection to the bay of Guanabara. From one end to the other, the highway will cross or pass close to older industrial areas in the municipalities of Duque de Caxias, Belford Roxo, and Queimados, where industrial plants are being expanded or new units are being built. The Arco Metropolitano by-pass will cause multiple impacts. In the short run it will reorganize the routes for interstate cargo, providing alternatives for public and 4 Tabela 1: Municípios da Área Metropolitana do Rio de Janeiro: Área e População, segundo Eixos de Expansão 2000-2010. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de1991 e 2000. 4 Table 1: Municipalities in the Metropolitan Area of Rio de Janeiro: Area and Population, along Expansion Axes 2000-2010. Source: IBGE, 1991 and 2000 Demographic censuses. MUNICÍPIO ÁREA (KM²) POPULAÇÃO (2000) POPULAÇÃO (2010) POPULAÇÃO (2000-2010) TAXA DE CRESCIMENTO (%) Rio de Janeiro 1.182 5.857.904 6.323.037 465.133 0,77 Mangaratiba 352 24.901 36.311 11.410 3,84 Itaguaí 272 82.003 109.163 27.160 2,90 Paracambi 179 40.745 47.074 6.329 1,45 Japeri 83 83.278 95.391 12.113 1,37 Seropédica 284 65.260 78.183 12.923 1,82 Queimados 77 121.993 137.938 15.945 1,24 Nova Iguaçu 559 920.599 963.615 43.016 0,46 Belford Roxo 80 434.474 469.261 34.787 0,77 Nilópolis 19 153.712 157.483 3.771 0,24 São João de Meriti 35 449.476 459.356 9.880 0,22 Petrópolis 811 286.537 296.044 9.507 0,33 Guapimirim 361 37.952 51.487 13.535 3,10 Magé 386 205.830 228.150 22.320 1,03 Duque de Caxias 465 775.456 855.046 79.590 0,98 Tanguá 147 26.057 30.731 4.674 1,66 Itaboraí 424 187.479 218.090 30.611 1,52 São Gonçalo 249 891.119 999.901 108.782 1,16 Maricá 362 76.737 127.519 50.782 5,21 Niterói 129 459.451 487.327 27.876 0,59 Total 6.456 11.180.963 12.171.107 990.144 0,85 RIO-SANTOS Rio-São Paulo R I O - R E G I Ã O SERRANA Rio-Vitória NITEROI E PRAIAS ORIENTAIS 4 155 ARQTEXTO 17 TABELA 1: MUNICÍPIOS DA ÁREA METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: ÁREA E POPULAÇÃO, SEGUNDO EIXOS DE EXPANSÃO 2000-2010 ARQTEXTO 17 o crescimento populacional dentro da Região Metropolitana, que privilegia a Baixada Fluminense; (ii) a implantação do eixo industrial da Baixada; e (iii) a construção de Arco Metropolitano rodoviário. Tal como em Londres, ao mesmo tempo em que gera problemas, o fenômeno traz um precioso potencial de transformação. Para apreciar o primeiro destes fatores, basta examinar a Tabela 1, onde a população da região metropolitana, está organizada segundo seus municípios e eixos de crescimento. Nela, se observam três tendências importantes: (i) a redução da taxa de crescimento da região, caindo de 1,18% no período 1991-2000 para 0,85% no período 2000-2010; (ii) um aumento de população de 990 mil habitantes entre 2000 e 2010, dos quais 495 mil na periferia do Município do Rio; e (iii) taxas maiores de crescimento populacional na medida que os municípios se afastam do centro metropolitano22. Não há o que permita acreditar em grandes variações nestas tendências na década que se inicia. Muito possivelmente o crescimento total da Região Metropolitana será ainda menor e se acentuará na periferia, com os pontos extremos apresentando maior crescimento relativo. Isto ocorrerá sobre o território altamente fragmentado, parcamente dotado de circulação viária e pobremente infraestruturado que se descreveu no item anterior. Os dois outros fatores – o Arco Metropolitano e os investimentos industriais na Baixada abrem a oportunidade de se modificar este estado de coisas. Nenhuma obra urbana tem efeitos tão marcantes e duradouros quanto a abertura de estradas e ruas. É o que ocorrerá com o Arco Metropolitano. A aproximação da Região Metropolitana do Rio de Janeiro por qualquer de seus quadrantes – BR 101-Sul, entrando por Mangaratiba-Itaguaí; Via Dutra, entrando por Nova Iguaçu; Via Washington Luiz, através de Petrópolis e Duque de Caxias; e BR 101-Norte, entrando por Itaboraí – revelam vias congestionadas se aproximando (ou já acima) de sua capacidade de carregamento, muitas vezes, exercendo o duplo papel de vias de comunicação interestadual e local. Todas têm sua origem histórica no centro da cidade do Rio de Janeiro, o qual demandavam. Estas vias hoje servem ao transporte de mercadorias que chegam ao Rio e também ao transporte que meramente passa em direção a outros estados. Isto se agrava com o fato de que as populações da periferia, para chegar diariamente ao centro do Região Metropolitana, utilizam estes mesmos eixos de transporte, pela absoluta deficiência do sistema viário radicular, que obriga ao uso de grandes vias até mesmo em distâncias menores. Em 2003 foi elaborado o Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 156 individual transport between the region’s municipalities. But above all, it will make it possible to reorganize the use of land in the region, to an extent difficult to estimate in full. By providing access to plane, vacant, and cheaper properties, the following effects will be detected soon after (if not before) inaugurating the Arco Metropolitano by-pass highway: (i) an increased rate of population growth, already greater than that in the Metropolitan Region; (ii) a radical reorganization of the Metropolitan Region’s logistics support structures; (iii) the expansion of manufacturing industry in the surrounding areas; (iv) a greater potential for inter-municipal connectivity along the course of the new highway, causing an inflection, as slight as it may be, in the growth rate of connections with the head of the metropolis. This leads to forming a structured urban vision for the surrounding Baixada Fluminense region, which would include a regional road system (including for example the Via Light highway, the banks of the Sarapuí canal, and also access routes from the outskirts to the city of Rio), a catalyst to invigorate the service and retail trade centers (Nova Iguaçu for example), and increased leisure facilities and public services (such as for example, metropolitan parks in the areas surrounding the REDUC oil refinery). Hence, the Arco Metropolitano by-pass may bear good and bad tidings, as at the same time that it might add to the region’s urban problems, it might cooperate in solving them. Should there not be a concerted vision, resources, and actions, the region’s urban development may give rise to a disorganized urban sprawl, hostile to the environment, lacking in services or leisure facilities, and with a considerable degree of informality. Aware of these possibilities, the state government and the project’s financial agent have agreed to prepare an organized plan for the by-pass’s area of influence. The master plan proposed for the region is a good start, despite its merely suggestive nature. An essential aspect in this plan should be the proposal for institutional agreements regarding public initiative coordination for: (i) transport in the Metropolitan Region and (ii) urban development in the outlying Baixada Fluminense with a view to ensuring the availability of preferred areas for urban development, in accordance with a set of instruments proposed by the Estatuto da Cidade law of 2001 on urban policy. This second proposal may bring congenital hazards. In order to avoid them before their creation, it is required that successful experiences should be examined. A number of the Metropolitan Region’s municipalities have their local government master plans25, which in the absence of a coordination level may harbor proposals and recommendations that are not in agreement among themselves or may even be conflicting. It is natural that the Arco Metropolitano’s master plan will serve as a framework and/or source for revising these master plans. B4 CREATION OF A NEW METROPOLITAN HUB AND MUNICIPAL TRANSPORT SYSTEM Growth of the Barra da Tijuca district and the West Zone in Rio de Janeiro is considered by some as the birth of a new metropolitan hub, and by others that believe that this new hub will develop in detriment of the city’s historical city center, which for decades has been declining in population and activities. In order to broach this issue, we will see first the population growth trends in Rio. We will then look at local government investments in the transport system. Within this array of factors that encourages a central position by Barra da Tijuca, the real estate activity should also be considered, which has encouraged population growth favored by the availability of land, in a response that exceeds this growth; the Olympic Games and their legacy; a transfer to the region of tertiary activities, hotels, hospitals, the headquarters of large corporations, and entertainment, such as Cidade das Artes and the Rock in Rio music festival. It should be noted that alternately the Porto Maravilha project with its R$ 6 billion in investments and plentiful supply of residential, retail trade, and service areas, is an alternative to Barra da Tijuca for living space and tertiary activities. The following may be seen in Table 2, for the period 1991-2000: •The Municipality of Rio grows along its outskirts. It is in the region of the greater Jacarepaguá area, along the seaside (the districts of Barra to Recreio/Vargens), and in the West Zone (the districts of Deodoro to Santa Cruz/ Guaratiba) that the city has expanded. •The populations of Rio’s Center, South, and North Zones are on the decline. In all three, population decline would be greater without the growth of areas taken by favelas. For example, without the population of Rocinha, one of Rio’s largest favelas, which grew by 13,446 inhabitants over the period, population loss in the South Zone would have totaled 27,694, over 4.5% of its population. •The same declining trend may be seen in the suburbs. By this same reasoning, a breakdown of the respective data will demonstrate that informal areas such as Maré and Complexo do Alemão (next to a small number of districts), have actually grown in population, in areas of low population growth. Data from the 2010 Demographic Census are not available yet at the breakdown level shown in Table 2. However, preliminary data26 lead us to believe that the Center, South, North Zones and suburbs will continue to lose population (the districts that lost more being Madureira, Lagoa, Santa Teresa, and Paquetá), with the increasing occupation of the West Zone, the Seaside, and favelas (the fastest growing districts being Barra da 157 ARQTEXTO 17 (PDTU/RMRJ)23, no qual foram definidas as diretrizes e propostas de ação para a metrópole no domínio do transporte. Uma das propostas do PDTU/RMRJ foi o da construção do Arco Metropolitano, cujas obras foram iniciadas, programando-se sua entrega para 2011. O Arco ligará os dois municípios situados nos pontos extremos da Região Metropolitana, Itaguaí e Itaboraí, interceptando todos os eixos de ligação com o Rio24 e cortando outros municípios da periferia (Seropédica, Japerí, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Magé). Nos extremos do Arco se situam dois complexos industriais em implantação e/ou expansão. Às margens da Baía de Sepetiba, em Itaguaí, estão os complexos siderúrgico e naval e os portos de Itaguaí e do Sudeste; e em Itaboraí, o COMPERJ, com saída pela Baía de Guanabara. Entre estes extremos, a rodovia cruzará ou passará próximo a zonas industriais mais antigas, nos Municípios de Duque de Caxias, Belford Roxo e Queimados, as quais abrigam plantas em expansão e recebem a instalação de novas unidades. O Arco Metropolitano terá impacto múltiplo. De imediato, reorganizará os trajetos de carga interestadual, permitirá alternativas para o transporte coletivo e individual entre os municípios da Baixada. Mas sobretudo abrirá possibilidades para a reorganização do uso do solo na região, difíceis de se antever em sua totalidade. Permitindo o acesso a terrenos planos, livres, e mais baratos, os seguintes efeitos se observarão logo após (se não, antes da) a abertura do Arco Metropolitano: (i) a acentuação de sua taxa de crescimento populacional, que já é a maior da Região Metropolitana; (ii) a radical reorganização das estruturas de apoio logístico da Região Metropolitana; (iii) a expansão industrial em seu entorno; (iv) a maior conectividade potencial entre os municípios por ele cortado, levando a uma inflexão, por pequena que seja, na taxa de crescimento das ligações com a cabeça da metrópole. Isto induz a pensar-se numa visão urbana estruturada para a Baixada, da qual constaria a definição de um sistema viário de caráter regional (incluindo, por exemplo, a Via LIGHT, as laterais do Canal do Sarapuí, e, ainda, vias no sentido Baixada-Municipio Rio), o estímulo ao fortalecimento de polos de serviços e comércio (por exemplo, em Nova Iguaçu), e a ampliação de amenidades e serviços públicos (por exemplo, parques metropolitanos nas áreas circundantes à REDUC). Assim, a presença do Arco Metropolitano traz a boa e a má notícia de que, ao mesmo tempo em que poderá intensificar os problemas urbanísticos da região, traz a promessa de colaborar para resolvê-los. Caso não haja visão, recursos e ação concertada, a urbanização da região por ele cruzada poderá perpetuar uma malha urbana desarticulada, hostil ao meio ambiente, sem servi- ARQTEXTO 17 ços ou amenidades e com alto grau de informalidade. Reconhecendo estas possibilidades, o governo estadual e o agente financeiro da obra se propuseram a preparar um plano de ordenamento da área de influencia do Arco. O plano diretor proposto para a região é um bom começo, apesar de seu caráter meramente indicativo. Um aspecto essencial deste plano deveria ser a proposta de arranjos institucionais relativos à coordenação de ações públicas: (i) de transportes na Região Metropolitana; e (ii) de desenvolvimento urbano para a Baixada, com o objetivo de assegurar, segundo o conjunto de instrumentos propostos pelo Estatuto da Cidade, a disponibilidade de áreas preferenciais à urbanização. Esta segunda proposta pode ter perigos congênitos. Para evitá-los, antes de sua criação, seria necessário o recurso ao exame das experiências de sucesso. Alguns dos municípios da Região Metropolitana são dotados de planos diretores municipais25 que, na ausência de uma instância de coordenação, podem conter propostas e recomendações não articuladas entre si ou mesmo conflitantes. Naturalmente que o plano diretor do Arco Metropolitano servirá como arcabouço e/ou insumo para a revisão destes planos diretores. B4 A CRIAÇÃO DE UM NOVO CENTRO METROPOLITANO E O SISTEMA MUNICIPAL DE TRANSPORTES Há os que vêm no crescimento da Barra da Tijuca e da Zona Oeste do Rio de Janeiro o despontar de um novo centro metropolitano e há os que crêem que este novo centro virá em detrimento do centro histórico da cidade, que já vem perdendo população e atividades há décadas. Para examinar esta questão, apresentam-se inicialmente as tendências de crescimento populacional no Município do Rio. A seguir, olha-se os investimentos municipais no setor de transportes. Neste elenco de fatores que reforça uma centralidade na Barra há que considerar ainda o setor imobiliário, que impulsionado pela disponibilidade de terrenos, puxa o crescimento da população da Barra, mais do que responde a este crescimento; as Olimpíadas e seu legado; e o deslocamento para a região de atividades do terciário, hotéis, hospitais, sedes de grandes empresas e atividades de entretenimento – Cidade das Artes, Rock in Rio. É importante registrar que alternativamente, o Porto Maravilha, com investimentos de R$6 bilhões e oferta abundante de áreas para moradia, comércio e serviços, oferece uma alternativa à Barra para moradia e atividades terciárias. Na Tabela 2, para a década 1991-2000, verifica-se que: •O Município do Rio cresce em sua periferia. É na região da Grande Jacarepaguá, no Litoral (Barra ao 158 Tijuca, Jacarepaguá, Santa Cruz, and Rocinha, with rates of 70, 22, 18, and 23% respectively). Despite these numbers shown above, a trend is not inexorable. In the course of 2010 the state and local authorities announced their intention of starting construction work and of adopting measures with regard to transport, vouching their clear commitment with mass transport and reversing a trend in favor of individual transport dating back to the 1950s. The source of these proposals is the mentioned Urban Transport Master Plan for the Rio de Janeiro Metropolitan Region (PDTU/RMRJ)27, amended in 2005, by the Urban Transport Master Plan for the City of Rio de Janeiro (PDTU/ RJ). In addition to the environmental benefits and the reduced use of energy, the actions disclosed should result in an important impact on the circulation of persons and vehicles in the Municipality, as well as in the city’s spatial organization. Below follow the key measures in progress or in operation: (i) implementation of a single integrated transport system in the Municipality of Rio de Janeiro, combining metro, trains, and buses (BRT and BRS); (ii) implementation of a BRT system using separate lanes; (iii) additional implementation of BRSs, using semi-segregated lanes; (iv) expansion of the metro system, with immediate implementation of Line 4; and (v) adoption in March 2011 of a bus / bus transfer ticket at R$ 2.40, giving its bearer two hours to make a transfer. Owing to their potential effect on the growth of Barra da Tijuca, the BRT lines and the metro’s Line 4 will require our attention. By virtue of the BRT’s performance comparable to transport systems on fixed rails and with relatively lower implementation costs, they have become the most sought after solution at the start of the new millennium in the four corners of the world (see Table 3 for technical features)28. By 2015 Rio will have four BRT corridors (Table 4) totaling 92 km (Bogotá has 84 km and Curitiba has 64 km). Three of these corridors will have their hubs in Barra da Tijuca. Two of these (TransOeste and TransOlímpico) will connect Rio’s fastest growing districts in population and property developments (Barra, Jacarepaguá, and West Zone), while the third (TransCarioca) will connect Barra and Suburbs, slow-growing districts but with large populations. The fourth BRT, now under study by the state government, should follow Avenida Brasil, the traditional exit from the city center to access the West Zone. The negative aspect of implementing the BRT corridors is the very large volume of expropriations required, which only for the TransCarioca may rise to over 3000 properties, giving rise to insecurity, discomfort, and financial and property losses to roughly 10 thousand persons29. Implementation of the metro’s Line 4 – under the state government’s responsibility – is in progress and is estimated to be concluded in December 2015. This line should connect Jardim Oceânico in Barra da Tijuca to the South Zone, passing through São Conrado, Leblon, and Ipanema, and joining Line 1 at General Osório station. At Jardim Oceânico, Line 4 will connect with the TransOeste BRT (there are requests by community associations to take the line to the traffic circle in Barra da Tijuca). The decision to bring the metro from Barra da Tijuca to General Osório and not to São João station in Botafogo (the alternative found in the Line 4 concession agreement), or to Carioca station (the alternative in the original Line 4 project), both of which passing through Gávea and Jardim Botânico, according to information from the state government30 was a result of changing demand patterns for commuting and the fact that currently 60% of Line 4 prospective users coming from Barra da Tijuca will not seek city center destinations (if confirmed, this reversal in demand would help in asserting an alternative center in Barra da Tijuca that would require labor from the South Zone). Civil society entities, in particular the movement known as “o Metrô que o Rio Precisa”, has actively contested the state government’s proposal and required reinstating one of the routes passing through Gávea and Jardim Botânico. Roads, paths, and transport systems – trains, buses, metro, or ferryboats – have always led to Rio’s city center. The three BRT systems with routes beginning in Barra da Tijuca, as well as the metro’s Line 4 may reverse this historical trend (Map 1), confirming the position of Barra da Tijuca as a metropolitan business hub, incidentally as was provided for in the Lucio Costa Plan. There is property available to this end, in particular a large area (4 million sq. mt.) located at the crossing of Avenida Abelardo Bueno and Avenida Ayrton Senna, appropriately known as Centro Metropolitano da Barra. As two of the three BRT corridors will pass around the Centro Metropolitano and a third will pass close by, there will be very strong pressures to occupy it. The local government had already prepared an occupation proposal31 for the Centro Metropolitano, and recently one of its main owners announced its plans to proceed with the area’s occupation, having mentioned investments in transports as being essential in its decision32. Other investors and property developers, according to the press leading companies in their activities, have also announced commercial and residential development projects in this area, at considerable building and sales values. In conclusion, it should be recalled that the Municipality of Rio de Janeiro’s New Sustainable Development Master Plan, as approved by means of LC no. 111 (2/1/2011) divides the municipality into four macro-zones, of controlled, conditioned, assisted, and incentivated occupation (Map 2), and within these, it is proposed that Rio should be guided by vectors defined under certain guidelines. The conditioned occupation macro-zone covers Barra da 159 ARQTEXTO 17 Recreio/Vargens) e na Zona Oeste (Deodoro até Santa Cruz/Guaratiba) que vem se dando a expansão da cidade. •As populações do Centro do Rio e de suas Zonas Sul e Norte vêm decrescendo. Em todas três, a perda de população teria sido ainda maior se não fosse o crescimento das áreas faveladas. Por exemplo, retirando-se a população da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio, que no período cresceu 13.446 habitantes, a perda de população da Zona Sul teria sido de 27.694, mais de 4,5% da sua população. •A mesma tendência à perda de população se observa no “subúrbio”. Igualmente, ao se desagregar os dados correspondentes pode-se verificar que as áreas informais, Maré e Complexo do Alemão (ao lado de uns poucos bairros), são as que efetivamente apresentam crescimento de população, em áreas de resto de baixo crescimento Os dados do Censo Demográfico de 2010 ainda não estão disponíveis no nível de desagregação da Tabela 2. No entanto, dados preliminares26 fazem crer que o esvaziamento do Centro, Zona Sul, Zona Norte e subúrbios continue (os bairros que mais perderam população sendo Madureira, Lagoa, Santa Teresa e Paquetá), bem como a ocupação acentuada da Zona Oeste, Litoral e favelas (os bairros que mais cresceram sendo Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Santa Cruz e Rocinha com taxas de 70, 22, 18 e 23% respectivamente). Apesar dos números acima, há que se lembrar que tendência não é destino. Ao longo de 2010, autoridades municipais e estaduais anunciaram o propósito de realizar obras e implantar medidas na área de transportes, expressando um nítido compromisso com os transportes coletivos e revertendo uma tendência de favorecimento do transporte individual que vinha desde a década de 50. A origem destas propostas é o mencionado o Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (PDTU/RMRJ)27, complementado, em 2005, pelo Plano Diretor de Transporte Urbano da Cidade do Rio de Janeiro (PDTU/RJ). Além de benefícios ambientais e de redução de consumo de energia, as iniciativas anunciadas, devem trazer impacto importante tanto sobre a circulação de pessoas e veículos no território do Município como na organização espacial da cidade. Vale citar as principais medidas em curso ou já operando: (i) a implantação de uma malha única e integrada de transportes no Município do Rio de Janeiro, com articulação de metrô, trens e ônibus (BRTe BRS); (ii) a implantação de um sistema de BRTs, trafegando em vias segregadas; (iii) a implantação complementar dos BRS, usando vias semi-segregadas; (iv) a expansão do sistema de metrô, com implantação imediata da Linha 4; e (v) a adoção do bilhete único, na integração ônibus/ônibus, o 6 Tabela 3: Município do Rio de Janeiro: Características Técnicas dos Sistemas de BRT. Fonte: Adaptado de Alexandre Sansão, Reorganização do Sistema de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria de Transportes. 6 Table 3: Rio de Janeiro: Technical Characteristics of BRT Systems. Source: Adapted from Alexandre Sansão, Reorganisation of the Bus System in the City of Rio de Janeiro, Transport Department. ARQTEXTO 17 5 Tabela 2: Município do Rio de Janeiro: População por Zonas e Taxas de Crescimento 19912000. Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1991 e 2000. 5 Table 2: Rio de Janeiro: Population by Zones and Growth Figures 1991-2000. Source: IBGE, 1991 and 2000 Demographic censuses. TABELA 2: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO POPULAÇÃO POR ZONAS E TAXAS DE CRESCIMENTO 1991-2000 ZONAS POPULAÇÃO 1991 POPULAÇÃO 2000 TAXA DE CRESCIMENTO % VARIAÇÃO Centro 259.141 227.135 -1,45 -32.006 Zonal Sul 685.866 671.618 -0,23 -14.248 Zona Norte 393.300 367.005 -0,77 -26.295 Subúrbios 2.323.990 2.344.396 0,10 20.406 Jacarepaguá 428.073 507.698 1,91 79.625 Zona Oeste 1.292.179 1.556.505 2,09 264.326 Litoral 8.229 174.353 6,58 76.124 5 TABELA 3: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DOS SISTEMAS DE BRT Segregação do tráfego geral, com interrupções apenas nos cruzamentos semaforizados Linhas expressas, paradoras e serviços de linha Estações com plataforma para embarque em nível (90 cm do solo) e acessibilidade universal Estação no canteiro central e veículos com portas à esquerda Frequência otimizada (menor tempo de espera, sem congestionamentos) Pagamento de tarifa e validação do bilhete nas estações e terminais (sem catraca nos ônibus) Redução do tempo de embarque/desembarque e aumento da velocidade comercial do sistema Controle integral da operação e monitoramento Ônibus com capacidade para 160 passageiros 6 160 7 Tabela 4: Município do Rio de Janeiro: Sistemas de BRT Propostos. Fonte: Adaptado de Alexandre Sansão, Reorganização do Sistema de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria de Transportes. 7 Table 4: Rio de Janeiro: Proposed BRT Systems. Source: Adapted from Alexandre Sansão, Reorganisation of the Bus System in the City of Rio de Janeiro, Transport Department. 8 Mapa 1: Município do Rio de Janeiro: Sistema Proposto de Bus Rapid Transit (BRT). Fonte: Adaptado de Alexandre Sansão, Reorganização do Sistema de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria de Transportes. 8 Map 1: Rio de Janeiro: Proposed Bus Rapid Transit (BRT) System. Source: Adapted from Alexandre Sansão, Reorganisation of the Bus System in the City of Rio de Janeiro, Transport Department. 9 Mapa 2: Município do Rio de Janeiro: Macro-zonas no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável. Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Município do Rio de Janeiro, LC no 111/2011. 9 Map 2: Rio de Janeiro: Macro-zones in the Sustainable Urban Development Planning Regulations. Source: Rio de Janeiro Sustainable Urban Development Planning Regulations, LC no 111/2011. ARQTEXTO 17 TABELA 4: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: SISTEMAS DE BRT PROPOSTOS BRT EXTENSÃO (KM) ESTAÇÕES (NO) CARREGAMENTO (PGS) TEMPO POUPADO (MIN) CARROS DATA ORIGEM E DESTINO Trans Carioca 28 30 380.000 96/47 2012 2013 Barra/ Penha/ Aeroporto Trans Oeste 38 32 220.000 120/60 2012 Jardim Oceânico/ Sta. Cruz Trans Olímpica 26 20 100.000 110/40 2015 Recreio/ Deodoro Corredor Expresso Metropolitano Em definição por empresas de consultoria presentemente estudando a estruturação do projeto. 50.000 Trevo das Margaridas/ Centro 7 8 9 161 ARQTEXTO 17 que confere ao portador duas horas para efetuar o transbordo, com tarifa única, em março de 2011, de R$ 2,40. Em função de seu impacto potencial no crescimento da Barra, os BRTs e a linha 4 do metrô requerem nossa atenção. Neste início de milênio, os BRTs, graças a sua performance comparável a dos sistemas de transportes em trilhos fixos, com custos de implantação relativamente mais baixos do que estes, constituem a solução em voga nos quatro cantos do mundo (ver a Tabela 3 para suas características técnicas)28. Até 2015, o Rio contará com quatro corredores de BRTs (Tabela 4) num total de 92 km (Bogotá tem 84 km e Curitiba 64 km). Três destes corredores terão como ponto de irradiação a Barra da Tijuca. Dois deles (TransOeste e TransOlímpico) ligam entre si os bairros de maior crescimento populacional e imobiliário do Rio (Barra, Jacarepaguá e Zona Oeste), enquanto o terceiro (TransCarioca) liga a Barra com os Subúrbios, bairros de pouco crescimento mas grande volume populacional. O quarto BRT, em estudo pelo Governo do Estado, deverá correr ao longo da Avenida Brasil, eixo tradicional de penetração na cidade e de acesso à Zona Oeste. O lado negativo da implantação dos corredores de BRTs é o volume muito grande de desapropriações requeridas, o que, sòmente no caso do TransCarioca, pode subir a mais de 3000 imóveis, trazendo insegurança, desconforto, e prejuízos monetários e materiais para cerca de 10 mil pessoas29. A implantação da Linha 4 do metrô – sob responsabilidade do governo estadual – está em andamento, tendo conclusão prevista para dezembro de 2015. A linha deverá ligar o Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, à Zona Sul, passando por São Conrado, Leblon e Ipanema, e encontrando a Linha 1 na estação General Osório. No Jardim Oceânico, a Linha 4 se articulará com o BRT TransOeste (há demandas comunitárias de que alternativamente siga até o Cebolão da Barra). A decisão de trazer o metrô da Barra até a General Osório e não à estação São João em Botafogo (alternativa constante do contrato de concessão da Linha 4), ou ainda à estação Carioca (alternativa proposta no projeto original da Linha 4), ambas, igualmente, passando pela Gávea e Jardim Botânico, foi o resultado, segundo informações do governo do estado30, da constatação de que os padrões de demanda por viagens vinham mudando e que hoje 60% dos usuários da Linha 4, vindos da Barra, não estariam se dirigindo ao Centro do Rio de Janeiro (Se efetiva, esta reversão de demanda contribuiria para confirmar a formação de um centro alternativo na Barra da Tijuca, demandando mão-de-obra da Zona Sul). Entidades da sociedade civil, em particular o movimento “o Metro que o Rio Precisa”, vêm contestando acaloradamente a propos162 Tijuca and Jacarepaguá. According to the master plan and this being the fastest growing region in Rio, with infrastructure deficiencies and a very fragile environment, it is proposed that the urban sprawl’s expansion should be subject to putting in place urban infrastructure and equipment, by associating private enterprise and public sector resources33. In the coming sections mention will be made, when dealing with the international events to be held in the city and Metropolitan Region of Rio de Janeiro and the real estate investments in progress, of the role of each of these in the growth of Barra da Tijuca. B5 INTERNATIONAL EVENTS AND THE 2016 OLYMPIC GAMES: THEIR POTENTIAL LEGACY During the next five years Rio de Janeiro’s agenda will be full of international events, their greatest impact preceding the actual events. Preparation of these events, especially the 2016 Olympics, has required close coordination by the three spheres of government with a view to making important decisions in security as well as in infrastructure investments, especially in transports. These are commitments assumed with the International Olympic Committee and which led to the preparation of the 2016 Olympics Urban and Environmental Legacy Plan. As suggested by the title, it is expected that these investments should serve more the inhabitants than the games participants and assistants. These events, in particular the Olympics, will focus international attention on the city of Rio de Janeiro, helping to recover its battered image and contributing to place the city more securely in the international tourism and business circuit. Prior to holding the 2016 Olympic Games, the top event in Rio de Janeiro’s agenda, the city will have undergone extensive learning in hosting important international events, in particular those of a sporting nature. This process started in 2007 with the 15th Pan-American Games, in which 5600 athletes in 42 delegations took part in 42 kinds of sports. From 2011 to 2016 Rio will host the 5th World Military Games, the 20th FIFA World Cup, and finally the 31st Olympic Games and the 15th Paralympics. This list of consecutive events will ensure the population’s familiarity with the traditions and practices of international competitions and will allow the city to prepare itself for the challenge to host them. Table 5 describes the scheduled events and their key features. The Pan-American Games used the Maracanã stadium and Rio-Centro facilities, and the recently built Complexo Esportivo de Deodoro (in the Vila Militar district), Complexo Esportivo Cidade dos Esportes (Olympic arena, swimming facilities, and race course) inside the Jacarepaguá racing car circuit, and Estádio Olímpico João Havelange, the largest facilities built for the event, in the Engenho de Dentro district. In addition, a housing development with 17 buildings was B5 EVENTOS INTERNACIONAIS E JOGOS OLÍMPICOS DE 2016: SEU LEGADO POTENCIAL Ao longo dos próximos cinco anos, a agenda do Rio de Janeiro estará carregada de eventos internacionais, constructed on Avenida Ayrton Senna in Barra da Tijuca, with apartments subsequently sold by the developers with financing by Caixa Econômica Federal. The Military Games will use the facilities built for the Pan-American Games, in addition to the existing military facilities. The athletes will be accommodated in three military housing areas in Campo Grande, Deodoro, and Campo dos Afonsos, in 106 buildings with 1206 apartments, later to be occupied by military personnel. In the case of the World Cup, with Rio as one of the 12 host cities, the Maracanã stadium, under the protection of the state heritage, will undergo a radical refurbishment and will hold the event’s final match. This remodeling will imply a reduction in current capacity to 76 thousand places, with changes in its curvature to provide greater visibility, rebuilding of the lower stands to bring them closer to the field, creation of 108 boxes and an access through a monumental ramp, and in conclusion, a possible wider roof over the current one (under reassessment). In the case of the 31st Olympic Games and the 15th Paralympics scheduled for August and September 2016 respectively, the same strategy was employed as in the 15th Pan-American Games, whereby the sporting competitions were held in sporting facilities located in the city’s different districts. In the case of the 2016 Olympic Games, four districts will concentrate the competitions: (i) Barra da Tijuca; (ii) the seaside from Copacabana to Gloria; (iii) Maracanã; and (iv) Deodoro. The events’ organizers assert that it will not be necessary to build more than 26% of the facilities, as in addition to the facilities from previous events, urban equipment used for other purposes will also be employed, such as the sambódromo (carnival parade facilities)34. Table 6 describes the chief facilities and kinds of sports broken down by the four mentioned districts. Owing to the strategy of spreading out the sporting events in the city’s different districts, the Olympic Games’ legacy will be different in each of these. Repercussions along then seaside from Copacabana to Gloria will be small – and as some would have it, “it is best this way”. The population in these districts has been protesting vigorously – in the “nimby35” style – its disagreement with events and other public actions held regularly in this part of the city, in detriment of its inhabitants’ quality of life. In the city center and suburbs, the existing sporting facilities will be used and modernized, yet it should not be expected that these actions will serve as catalysts to operate changes in the districts where they are located. International experience will rarely give credit to this kind of construction as an anchor for urban renewal, a principle confirmed locally by the negligible impact caused by Estádio João Havelange (built in 2007) in its home district. 163 ARQTEXTO 17 ta do governo do estado, solicitando que se restabeleça um dos traçados que passam pela Gávea e Jardim Botânico. Estradas, caminhos e sistemas de transporte – trens, ônibus, metrô ou barcos – historicamente conduziram ao Centro do Rio. Os três sistemas de BRTs originados na Barra da Tijuca, e, igualmente, a Linha 4 do metrô podem levar a uma reversão desta histórica tendência (Mapa 1), reforçando o posicionamento da Barra como um centro de negócios metropolitano, tal, aliás, como tinha sido previsto no Plano Lucio Costa. Para isto há, aliás, disponibilidade de terrenos livres, em especial uma extensa área (4 milhões de m2) localizada no cruzamento das avenidas Abelardo Bueno e Ayrton Senna, adequadamente chamada de Centro Metropolitano da Barra. Uma vez que dois dos três corredores de BRT contornam o Centro Metropolitano e o terceiro passa próximo, as pressões para sua ocupação serão muito fortes. A Prefeitura já havia preparado uma proposta para ocupação31 do Centro Metropolitano e, recentemente, um de seus maiores proprietários anunciou planos de dar andamento à ocupação da área, tendo mencionado os investimentos em transporte como essenciais à sua decisão32. Outros investidores e incorporadores imobiliários, empresas líderes no setor, segundo notícias de imprensa, igualmente vêm anunciando projetos imobiliários, comerciais e residenciais para esta área, com áreas de construção e valores de venda consideráveis. Finalmente, há que lembrar que o Novo Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Município do Rio de Janeiro, aprovado através da LC no 111 (1/2/2011), subdivide o Município em quatro macro-zonas, de ocupação controlada, condicionada, assistida e incentivada (Mapa 2), e dentro das mesmas, propõe que o Rio se oriente por vetores definidos por certas diretrizes. A Macro-zona de ocupação condicionada, compreende a Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Segundo o plano diretor, tendo em vista se tratar da região que mais cresce no Rio, com carência de infraestrutura e grande fragilidade ambiental, é proposto que a expansão de sua malha urbana seja condicionada à implantação de infraestrutura e equipamentos urbanos, através da associação de recursos da iniciativa privada e do setor público33. Nas próximas seções ao se tratar dos eventos internacionais que terão lugar na cidade e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e dos investimentos imobiliários que estão ocorrendo será mencionado o papel que cada um destes terá no crescimento da Barra. ARQTEXTO 17 cujo maior impacto antecede a sua realização. A preparação destes eventos, em particular das Olimpíadas de 2016, vem requerendo uma articulação estreita entre os três níveis de governo visando a tomada de importantes decisões tanto nas áreas de segurança quanto de investimentos em infraestrutura, particularmente de transportes. São compromissos assumidos junto ao Comitê Olímpico Internacional, e que levaram a preparação do Plano de Legado Urbano e Ambiental das Olimpíadas de 2016. Tal como sugere o título, o que se espera é que os investimentos sirvam mais aos habitantes do que aos próprios participantes e assistentes dos jogos. Estes eventos, em particular as Olimpíadas, focarão a atenção internacional sobre a cidade do Rio de Janeiro, ajudando a recuperar sua combalida imagem, e contribuindo para colocar a cidade mais fortemente no circuito internacional de negócios e turismo. Antes da realização dos Jogos Olímpicos de 2016, o evento máximo da agenda carioca, o Rio de Janeiro terá passado pelo longo aprendizado de sediar importantes eventos internacionais, em especial os de caráter esportivo. Este processo teve início em 2007 com os XV Jogos Pan-Americanos, onde 5,600 atletas de 42 delegações participaram da realização de 42 modalidades desportivas. Entre 2011 e 2016 o Rio sediará os V Jogos Militares Mundiais, a XX Copa do Mundo de futebol e, por fim, as XXXI Olimpíadas e XV Paraolimpíadas. Esta sucessão de eventos garantirá a aproximação da população com as tradições e práticas de competições internacionais e permitirá que a cidade se prepare para o desafio de abrigá-las. A Tabela 5 mostra os eventos previstos com suas características principais. Para os Jogos Pan-Americanos aproveitaram-se as instalações do Estádio do Maracanã e do Rio-Centro e construíram-se o Complexo Esportivo de Deodoro, na Vila Militar, o Complexo Esportivo Cidade dos Esportes (arena olímpica, parque aquático e velódromo), dentro do autódromo de Jacarepaguá na Barrada Tijuca, e o Estádio Olímpico João Havelange, a maior instalação construída para o evento, no Engenho de Dentro. Adicionalmente, construiu-se um conjunto residencial com 17 prédios, na Avenida Ayrton Senna na Barra da Tijuca, cujos apartamentos foram posteriormente vendidos pela construtora com financiamento da Caixa Econômica Federal. Os Jogos Militares ocuparão as instalações que foram construídas para o Pan-Americano, além de instalações militares existentes. Os atletas serão alojados em três vilas militares, construídas em Campo Grande, Deodoro e Campo dos Afonsos, em 106 edifícios com 1206 apartamentos, que depois serão utilizadas por pessoal 164 It is important to note that plans were announced to recover a number of districts in the surroundings of the city center and suburban sporting facilities (which should be viewed through its own merits). The International Olympic Committee accepted the local government’s suggestion to transfer the NonAccredited Media Center to the Porto Maravilha region. Barra da Tijuca (and Deodoro in a minor scale) will be the main legatee of the Olympic facilities, of its benefits or possible adverse impacts. The largest Olympic sporting compounds will be located there, with a potential for post-event use in a number of kinds of programs and with an appeal likely to cover the entire Metropolitan Region (yet bearing in mind the likelihood of underuse). Barra da Tijuca will also benefit from refurbishment and additions to the Riocentro facilities, enabling it to improve its role as a metropolitan venue for fairs, exhibitions, congresses, and similar events. In conclusion, Barra da Tijuca will harbor the Olympic Village, which will house the delegations of participants. It will consist in 48 12-story buildings with 2880 three- and four-bedroom apartments, in a project providing for a park and beach, in addition to the typical comfort in this kind of development. Following the Olympic Games, the Village apartments will be put up for sale. This group of facilities (Olympic Center, Riocentro, and Olympic Village) will be located close to the Centro Metropolitano, one more factor contributing to stress the influential position of Barra da Tijuca over the city and the Metropolitan Region, as covered in the preceding section36. B6 URBAN RENEWAL: THE CITY CENTER AND PORTO MARAVILHA Rio de Janeiro’s city center is in first place a typical CBD, with a power of attraction over an ample Metropolitan Region, from which it brings workers every day from distances as far as 60 km. As most CBDs, it shelters a number of activities for which a central location provides greater comparative advantages than in other of the region’s venues. Yet in Rio’s case, the city center is much more than a mere CBD. Owing to its past role in the country’s formation, it amasses testimonials of all kinds, from documental archives to buildings, as memorabilia with nationwide repercussions. it is therefore a “historical city”. The CBD37 of Rio and the Central Region of which it is a part have been on the decline for at least five decades. Yet it may also be said that both are undergoing changes in search of a new role, or are recovering. Nonetheless, the fact remains that they have lost functions, activities, and population. Specifically, the population decrease is expressive, which warrants a closer look at its dimensions and the reasons behind it. It will be seen in Table 7 that the Central Region’s total population in 1991 dropped from 300 thousand inhabitants (5% of the city’s total) to 265 thousand in 2000 (4.5% of the city’s total). In other words, between these two censuses, one decade, the Central Region lost close to 11.8% of its population. This event, as seen in the table, was more evident in the CBD than in the other of the Central Region’s subdivisions. Also sharing this trend, the Central Region’s favelas witnessed a 10% decline in population38. An immediate consequence of this loss in population is the larger number of vacant homes in the Central Region and CBD as compared to the city’s average – i.e.: 15.5% and 23% respectively, to 11.4%39. This population loss and moves to other districts is attributed to a change in habits and tastes, to technological developments and worsening of the Central Region’s adverse “externalities”, making other regions comparatively more attractive to the new generations. Regardless of the population loss undergone by a major part of the world’s metropoles, Rio de Janeiro’s Central Region and CBD still continue important in connection with business activities, despite the rise of a number of sub-centers in the metropolitan surroundings. The Central Region accounts for 44% of the entire number of formal work posts40 (29% of the supply of positions in retail trade and services, and 93% of public sector jobs), while the CBD accounts for 31%. The central region’s largest employer is the public sector (53%), closely followed by retail trade and service provision (44%), manufacturing industry having a less expressive share (3.6%). Entities active in the Central Region account for 21% only of the total facilities in Rio de Janeiro, which points to the fact that those companies located there would be of a larger scale than those located in other of the city’s areas. The numbers with regard to work posts may be seen in Table 8. As a reflex of this intense grouping of activities in the Central Region and CBD, the built-up area is denser. In 2000 the Central Region had roughly 131 thousand properties, equal to about 9% of the city’s properties, and with some 19 million square meters of built-up area or 13% of the city’s total41. In the Central Region, in the CBD and in particular in the Port Area, the existence of underused, idle buildings and vacant lots is expressive, forming an ample stock of “dead land42” which for a number of reasons remains outside the property market. This retention of land increases the dearth of land for developments, raising its price and those of homes - one more obstacle to the acquisition of homes by the lower income population, speeding their exodus to other districts. Urban centers are the quintessence of cities. In the cities and in particular in their urban centers, the short distances between market participants encourages more intense social communications and interchanges of goods 165 ARQTEXTO 17 militar. Já no caso da Copa, da qual o Rio é uma dentre 12 cidades-sede, o Estádio do Maracanã, tombado pelo patrimônio estadual, passará por reforma radical para sediar a final do evento. A reforma implica na redução da capacidade atual do estádio para 76 mil lugares, modificação de sua curvatura dotando-o de melhor visibilidade, reconstrução da arquibancada inferior aproximando-a do campo, criação de 108 camarotes e de acesso por rampa monumental e, por fim, possível implantação de uma cobertura mais larga sobre a atual (sob reavaliação). Para as XXXI Olimpíadas e XV Paraolimpíadas, programadas respectivamente para agosto e setembro de 2016, seguiu-se a mesma estratégia utilizada no XV Jogos Pan-Americano, em que as competições esportivas se realizaram em complexos desportivos localizados em diferentes bairros da cidade. No caso das Olimpíada de 2016, são quatro os bairros onde se concentrarão as competições: (i) Barra da Tijuca; (ii) Faixa litorânea Copacabana/Gloria; (iii) Maracanã; e (iv) Deodoro. Os organizadores do evento afirmam que não será necessário construir mais do que 26% das instalações, uma vez que, além das instalações de eventos anteriores, serão aproveitados também equipamentos urbanos utilizados para outros fins, como o sambódromo34. A Tabela 6 mostra as principais instalações e modalidades desportivas, pelos quatro bairros mencionados. Dada a estratégia de dispersão das competições desportivas por diferentes bairros da cidade, o legado das Olimpíadas será distinto em cada um deles. As repercussões na faixa litorânea, de Copacabana à Gloria, são pequenas – e como alguns diriam, “antes assim”. A população destes bairros vem manifestando enfaticamente – no estilo “nimby35” – seu desagrado com os eventos e outras manifestações públicas que são realizados com regularidade nesta faixa da cidade, com prejuízo para a qualidade de vida dos seus moradores. No Centro e nos Subúrbios serão aproveitadas e modernizadas instalações desportivas existentes, não se podendo no entanto esperar que as intervenções venham a funcionar como catalisadoras de transformações nos bairros onde se situam. A experiência internacional raramente valida este tipo de edificação como âncora de renovação urbana, principio que é confirmado localmente pelo insignificante impacto exercido pelo Estádio João Havelange (construído em 2007) no bairro em que se situa. É importante registrar que foram anunciados planos para a recuperação de alguns bairros em torno às instalações desportivas do Centro e dos Subúrbios (o que deverá ser analisado à luz de seus próprios méritos). O Comitê Olímpico Internacional acedeu à sugestão da Prefeitura de transferir o Centro de Mídia Não Credenciada para a região do Porto Maravilha. 11 Tabela 6: Olimpíadas de 2016: Complexos Desportivos e Instalações por Bairros da Cidade. Fonte: Adaptado de Informações do Portal Internet “Olimpíadas 2016”. 11 10 Table 6: 2016 Olympics: Sports Complexes and Facilities by City Districts. Source: Information Adapted from the “Olimpíadas 2016” website. ARQTEXTO 17 10 Tabela 5: Município do Rio de Janeiro: Programação de Eventos desportivos 2007-2016. Fonte: sites internet. 10 Table 5: Rio de Janeiro: Sports Events programme, 2007-2016. Source: internet websites. TABELA 5: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO PROGRAMAÇÃO DE EVENTOS DESPORTIVOS 2007-2016 EVENTOS DATA DELEGAÇÕES (NO) PARTICIPANTES (NO) MODALIDADES DESPORTIVAS V Jogos Militares Mundiais 2011 100 600 atletas 2.000 delegados 20 XX Copa do Mundo da FIFA 2014 32 700 atletas 1 XXXI Olimpíadas e XV Paraolimpíadas 2016 205 10.550 atletas 28 olímpicas 22 paraolímpicas 10 TABELA 6: OLIMPÍADAS DE 2016 COMPLEXOS DESPORTIVOS E INSTALAÇÕES POR BAIRROS DA CIDADE Barra da Tijuca Rio Centro: Pavilhões 2, 3, 4, 6 (boxe, tênis, halter) Centro Olímpico: Centro de Treinamento - Halls 1, 2, 3, 4 (basquetebol, jiu-jitsu, luta) Centro de Hockey Centro de Tênis Velódromo Centro Aquático Estádio Aquático Arena Olímpica Faixa Litorânea Copacabana/Glória Estádio de Remo da Lagoa (remo e canoagem) Estádio da Praia de Copacabana (voleibol) Forte de Copacabana (triatlo, aquáticos) Praia do Flamengo (atletismo e ciclismo) Marina da Gloria (vela) Maracanã Estádio Maracanã (futebol) Ginásio Maracanã (voleibol) Sambódromo (arco) Estádio João Havelange (atletismo) Estádio São Januário (rugby) Deodoro Centro Nacional de Hipismo Centro Nacional de Tiro Arena de Esgrima de Deodoro Parque Radical (ciclismo, canoagem) Parque do Pentatlo Moderno 11 166 12 Tabela 7: População Região Central do Rio de Janeiro: Região Central e respectivas Regiões Administrativas e Bairros. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Censos Demográficos 1991 e 2000. Instituto Pereira Passos “Morei 1991/2000” Módulo de Recuperação de Informações”. 12 Table 7: Population of the Central Region of Rio de Janeiro: Central Region and respective Administrative Regions and Districts 1991/2000. Source: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1991 and 2000 Demographic Censuses. Instituto Pereira Passos “Morei 1991/2000” Módulo de Recuperação de Informações”. 13 Mapa 3: Município do Rio de Janeiro: Projeto do Porto Maravilha 2010. Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro: Projeto Porto Maravilha. 13 Map 3: Rio de Janeiro: Design for Porto Maravilha 2010. Source: Prefeitura do Rio de Janeiro: Projeto Porto Maravilha. ARQTEXTO 17 TABELA 7: POPULAÇÃO REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO REGIÃO CENTRAL E RESPECTIVAS REGIÕES ADMINISTRATIVAS E BAIRROS 1991/2000 CIDADE DO RIO DE JANEIRO Unidade Geográfica POPULAÇÃO POPULAÇÃO EM FAVELAS 1991 2000 Crescimento 1991-2000 1991 2000 Crescimento 1991-2000 Região Central 300.438 264.859 -7,1% 85.182 76.787 -10,4% I Portuária Caju Gamboa Santo Cristo Saúde 44.085 17.636 11.507 12.340 2.602 39.973 17.679 10.490 9.618 2.186 -1,1% 0,0% -1,0% -2,7% -1,9% 17.028 13.195 3.578 255 - 17.409 13.463 3.664 282 - 2,2% 2,0% 2,4% 10,1% - II Centro Centro 49.095 49.095 39.135 39.135 -2,5% -2,5% - - - III Rio Comprido Catumbi Cidade Nova Estácio Rio Comprido 82.344 12.507 7.814 20.950 41.073 73.661 12.914 5.282 20.632 34.833 -1,2% 0,4% -4,3% -0,2% -1,8% 23.229 6.700 6.605 9.924 22.910 7.436 7.293 8.181 -1,4% 10,4% 9,9% -19,3% VII São Cristóvão Benfica Mangueira São Cristóvão 80.360 19.872 17.530 42.958 70.945 19.017 13.594 38.334 -1,4% -0,5% -2,8% -1,3% 36.017 9.419 14.935 11.663 28.125 6.266 10.133 11.726 -24,7% -40,8% -38,8% 0,5% XXIII Santa Teresa Santa Teresa 44.554 41.145 -0,9% 8.908 8.343 -6,6% 44.554 41.145 -0,9% 8.908 8.343 -6,6% 12 13 167 ARQTEXTO 17 A Barra (e, em menor escala, Deodoro) será o grande legatário das instalações olímpicas, de seus benefícios ou de eventuais impactos negativos. Aí se localizarão os maiores complexos desportivos das Olimpíadas, com potencial para serem utilizados, após o evento, em tipos variados de programas, cujo apelo poderia vir a alcançar o espaço da Região Metropolitana (nunca se descartando, porém, a hipótese de sua subutilização). A Barra se beneficiará também da reforma e dos acréscimos que serão feitos no Riocentro e que o habilitarão igualmente a melhor exercer seu papel de centro metropolitano para feiras, exposições, congressos, e eventos congêneres. Finalmente, na Barra será construída a Vila Olímpica, destinada a abrigar as delegações participantes. Serão 48 prédios de 12 andares, com 2880 apartamentos de três e quatro quartos, o projeto contendo, além dos confortos típicos deste tipo de conjunto, um parque e uma praia. Após as Olimpíadas, os apartamentos da Vila serão colocados no mercado. Este conjunto de instalações (Centro Olímpico, Riocentro e Vila Olímpica) estará localizado próximo ao Centro Metropolitano, constituindo outro fator que contribui para acentuar a centralidade que a Barra da Tijuca terá na cidade e na Região Metropolitana, tal como discutido na seção anterior36. B6 REVITALIZAÇÃO URBANA: O CENTRO E O PORTO MARAVILHA O Centro do Rio de Janeiro é, antes de tudo, um CBD (Central Business District) típico, exercendo poder de atração sobre uma extensa Região Metropolitana, da qual diariamente atrai trabalhadores, originados de distancias que chegam a 60 km. Como todo CBD, agrupa atividades diversas, para as quais a localização central oferece vantagens comparativas superiores às de quaisquer outros sítios na região. No entanto, no caso do Rio, o Centro é muito mais do que um mero CBD. Pelo papel que exerceu na formação do país, reúne testemunhos de toda natureza, de arquivos documentais a prédios, cuja lembrança reverbera nacionalmente. É, portanto, uma “cidade histórica”. O CBD37 do Rio e a Região Central da qual faz parte estão em declínio há pelo menos cinco décadas. Mas poder-se-ia dizer, igualmente, que ambos estão em transformação, em busca de um novo papel, ou em recuperação. No entanto, permanece o fato de que perderam funções, atividades e população. Em particular, seu declínio populacional é notável, daí ser necessário conhecer melhor sua dimensão e as razões que o motivaram. Na Tabela 7 observa-se que a população total da Região Central caiu, em 1991, de 300 mil habitantes 168 and ideas, at reduced transportation costs, greater economies of scale. and increased productivity. Behind this may be found technology and consumer preferences, which in the past were directed at creating large cities the world over but have been subjected currently to rapid changes, resulting in that a number of the economy’s activities no longer depend on their location in large conurbations. Subject to these changes, the central regions and CBDs of cities and metropolitan regions have evolved everywhere. This is the case of Rio’s Central Region and CBD, in spite of the specifics that have accelerated this process, such as the loss of federal government activities resulting from the political decision to transfer the capital city to Brasilia. Market actions in the resolution of problems associated with the recovery of urban areas are notoriously slow, placing such areas in a stalemate, stagnant, and resistant to change. Hence, there is a need for government action, signaling intentions, providing guidance, assuring security to investors, and releasing urban markets from the deficiencies that give rise to this stalemate. Nonetheless, government action in city centers requires a vision of these areas’ future, before considering the adequate strategies and actions. Rio’s future is closely tied to intensifying its current nature of a business hub and its tourist, educational, and leisure calling directed at art and culture. These functions have in common a modern requirement for an urban environment featuring comfort, amenities, and a varied choice of services. In order to materialize, a flexible real property market will be required, capable of assisting different income groups at favorable prices – calling for actions intended to reinstate the “dead land” in the market as well as to better understand the limitations imposed on the market by the preservation of historical heritage. There are signs that in the middle of the decade Rio’s CBD and Central Region began to feel the outcome of the structural changes in progress or proposed for the Metropolitan Region, as described in item A3 (such as the industrial mega-investments and hosting of international events). The property development activity has been more confident in investing in the city center, with the implementation of residential43 and commercial projects at a pace and scale unknown for a long time. There are also community actions in favor of the city center. In several of the CBD’s districts a number of groups appeared (of neighbors, landowners, merchants, urban service companies, etc.)44 encouraging the coordination of their members’ interests with the public authorities, basically intended to increase the performance efficiency of public services, urban cleansing, security, control of the homeless, and other problems. Some of these groups are more ambitious and propose urban improvement works, and also the preparation of property development plans and projects. The central region will bear two levels of government action – one of which of a more incremental nature in which the government provides vision (a plan) and several instruments, leaving specific actions in the property market to the private sector, and/or a set of integrated actions whereby government action takes place in a number of manners and stages of the area’s recovery. A comprehensive recovery of Rio’s Central Region with an incremental basis will require the definition of: (i) a vision of the districts forming the city center, which the afore-mentioned interest groups are attempting to do; (ii) updating infrastructure (primarily sanitation); (iii) defining circulation structures for short distances (for pedestrians, streetcars, or others), and to other locations45; (iv) reinstatement to the property market of the existing “dead land”; (iii) devising clearer rules for the use of property protected by the heritage authorities; and (v) an “incremental” occupation strategy for vacant urban spaces46. Yet close to these more clearly defined incremental actions that focus only on the CBD, from top to bottom47, there is no doubt that the major recovery project in Rio’s Central Region, given the name of Porto Maravilha, is the Port Area. The intention is the integrated development of a region covering 1110 hectares, recovery of the street network and infrastructure, separating areas suitable for intense use from protected areas, and creating areas for intense use, city blocks with commercial and residential properties to accommodate a population of 100,000 (there are currently 30,000 residents). Map 3 reflects the project’s key components. The proposed urban plan’s basic structure is composed of a main road to handle local traffic, known as the binary, of roughly 4 km along the region’s greater extension. At each end the binary will have connections to the South Zone (beginning at Arsenal de Marinha) and to São Cristovão, the North Zone, and suburbs (following the Francisco Bicalho exit). Along its course, the binary will have exits to the CBD, using and reinstating existing connections (Barão de Tefé and Camerino streets) and creating others (with the use of an existing railway tunnel). Through traffic will flow parallel to the binary by means of a six-lane avenue along present-day Avenida Rodrigues Alves, through a tunnel under Praça Mauá and the first stretch of Avenida Rodrigues Alves until the Port’s number 5 warehouse. The present-day Avenida Perimetral will be demolished gradually. Putting in place a streetcar system is projected with two circuits, covering the region’s entire perimeter. Based on the binary system and its connections, a local street network and the plan’s city blocks will be organized. The region was re-zoned with predominantly commercial 169 ARQTEXTO 17 (5% do total da cidade) para 265 mil em 2000 (4,5% do total da cidade). Ou seja, entre estes dois censos, numa década, a Região Central perdeu cerca de 11,8% de sua população. Este fenômeno, como se vê pela tabela, foi mais acentuado no CBD do que nas demais regiões administrativas da Região Central. Também solidárias nesta tendência, as favelas da Região Central tiveram uma queda de 10% de população38. Uma conseqüência imediata desta perda de população é o número maior de imóveis domiciliares vagos na Região Central e no CBD do que na média da cidade – ou seja, 15,5% e 23%, respectivamente, para 11,4%39. Esta perda de população e deslocamento para outros bairros se atribui à mudança de hábitos e gostos, a transformações nos padrões tecnológicos e ao agravamento das “externalidades” negativas da Região Central, tornando outras regiões, por comparação, mais atraentes para as novas gerações. Apesar da perda populacional, fenômeno experimentado pela maioria das metrópoles do mundo, a Região Central e o CBD do Rio de Janeiro ainda continuam preponderantes no tocante a atividades econômicas, em que pese o aparecimento de múltiplos sub-centros no território metropolitano. A Região Central concentra 44% de todo o estoque de empregos formais40 (29% da oferta de vagas nos setores de comércio e serviços e 93% do setor público), enquanto o CBD concentra 31%. O maior empregador da região central é o setor público (53%) seguido de perto pelos setores de comércio e de prestação de serviços (44%), a indústria de transformação comparecendo de maneira pouco significativa (3.6%). Os estabelecimentos presentes na Região Central correspondem a apenas 21% do total de estabelecimentos do Rio de Janeiro, o que indica que as empresas ali localizadas seriam de escala maior do que aquelas localizadas em outras áreas da cidade. Os números correspondentes a emprego podem ser examinados na Tabela 8. Refletindo este agrupamento intenso de atividades na Região Central e no CDB, a massa edificada é mais densa. Em 2000, a Região Central possuía cerca de 131 mil imóveis, equivalente a cerca de 9% dos imóveis da cidade, com uns 19 milhões de m2 de área construída, ou 13% do total da cidade41. Na Região Central, tanto no CBD quanto, muito especialmente, na Região Portuária, a existência de imóveis subutilizados, ociosos e de terrenos vazios é significativo, formando um largo estoque de “terra morta42”, que, por razões diversas, permanece fora do mercado imobiliário. Esta retenção de terrenos acentua a escassez de solo para urbanização, elevando o preço da terra e encarecendo os preços das moradias – uma razão a mais a dificultar o acesso à habitação ARQTEXTO 17 pelas camadas de renda mais baixas e acentuar sua fuga para outros bairros. Centros urbanos são a quintessência das cidades. Nestas e, ainda mais acentuadamente, em seus centros urbanos, a redução de distâncias entre agentes econômicos leva a trocas sociais mais intensas e ao intercâmbio de produtos e idéias, com redução dos custos de transportes, intensificação de economias de escala e aumento da produtividade. Por trás disto estão tecnologias e preferências dos consumidores que, se no passado se orientavam para criar grandes cidades mundo afora, atualmente, vêm sofrendo rápidas mudanças, fazendo com que alguns setores da economia não mais dependam de estar localizados em aglomerações urbanas. Submetidos a estas mudanças, as regiões centrais e os CBDs de cidades e regiões metropolitanas vêm se transformando em toda parte. Isto é o que acontece com a Região Central do Rio e seu CBD, em que pesem peculiaridades que acentuaram este processo, como a perda das atividades do governo federal com a decisão política da mudança da capital para Brasília. A ação dos mercados na solução dos problemas associados à recuperação de áreas urbanas é notoriamente lenta, deixando estas áreas num impasse, paralisadas e incapazes de mudança. Há portanto necessidade de ação governamental, sinalizando intenções, propondo direções, garantindo segurança para investidores, bem como liberando os mercados urbanos das falhas que levam a este impasse. No entanto, ações de governo em centros urbanos requerem uma visão do futuro destas áreas, antes que se possa examinar quais as estratégias e ações adequadas. O futuro do Rio está vinculado à acentuação de seu atual caráter como centro de negócios e de sua vocação turística, educacional, e de entretenimento voltado para a arte e a cultura. Estas funções têm em comum, modernamente, a exigência de um ambiente urbano marcado por conforto, amenidades e um diverso leque de serviços. Para que se materializem, será imprescindível um mercado imobiliário ágil, capaz de atender a diversos grupos de renda a preços favoráveis – o que vai requerer tanto ações no sentido de recolocar “terra morta”de volta no mercado como também uma melhor compreensão das limitações impostas ao mercado pela preservação do patrimônio histórico. Há indicações de que, desde meados da década, o CBD do Rio e sua Região Central começam a sentir os reflexos das mudanças estruturais em curso ou propostas para a Região Metropolitana, comentadas no item A3 (como a implantação de mega-investimentos industriais e a realização de eventos internacionais). O setor imobiliário tem se sentido mais confiante para investir 170 and residential areas, and it is estimated that use will be equal to 11 or 12 times the area of properties, licensing to build 50 stories along Avenida Francisco Bicalho, and 20, 30, and 40 stories along the Avenida Rodrigues Alves binary. Icon buildings48 are planned, several dedicated to educated entertainment - the Museu do Amanhã (in the care of architect Santiago Calatrava), and the Museu de Arte do Rio (in the care of the Jacobsen e Bernardes office), the Rio aquarium, and the 2016 Olympics Non-Accredited Media Center, subject of a recent IAB competition. Areas protected by the heritage authorities will be recovered by the local government, with special regard to Morro da Conceição. The Morro do Pinto and Morro da Povidência favelas will be urbanized. The region’s basic infrastructure (water, sanitation, public lighting) will be completely refurbished. In conclusion, it is planned to build two fingers perpendicular to the current quay, to allow passenger ships to dock. These are works in a scale unknown in the city since the early and mid-20th century, under mayors Pereira Passos and Carlos Lacerda respectively. Porto Maravilha is a unique project that was created in a scale unprecedented for Rio and even for the country, and endowed with all the attributes typical for this kind of project elsewhere. Incidentally, international experience in this activity is ample, long in years, and requires a more intense examination by the authorities in charge of Rio’s project.49,50 Important criticisms have been made on Porto Maravilha in connection with its concept, the integrity of its business proposal, and its institutional structure. For example, the lack of transparency is brought up with regard to the project’s implementation and management, as well as its economic nature, with mention of the fact that the R$ 6 billion in construction works will imply excessively high costs of land for the total population and work posts in consideration for the area (or alternately, large subsidies to be handed out by the local government). Similarly, the issues are not clear with regard to solutions for urban planning and the project’s physical performance. For example: the absence of plans of mass per city block (in their stead, there are currently strictly specified building dimensions, exclusive use, and an undefined treatment for implementing construction on the city blocks); the “clean slate” treatment given to existing constructions; a lack of a more thorough analysis in the project of urban transport (with exception of streetcars); the solution provided for the circulation and parking of cars; and stricter assessment of icon projects, it being known that similar projects in other cities have not provided the expected results. And finally, there is criticism to the haste in project performance. Porto Maravilha will be put in place in two stages, the first of which is currently in progress. Stage 1 will be put in place and funded by the local government with R$ 200 million in total investments, and provides for urban infrastructure recovery of the city blocks in the region’s eastern end, around Praça Mauá and its renewal, sidewalks, public lighting, sewage, and planting trees along the Barão de Tefé, Camerino, Venezuela, Rodrigues Alves, and Sacadura Cabral streets, implementation of the dockland binary’s initial stretch, redevelopment of Morro da Conceição (streets, underground electrical network, refurbishment of Jardim do Valongo and Pedra do Sal), demolition of the ramp to the flyover along the dockland area, and building of an underground garage in Praça Mauá for 900 vehicles. During Stage 1, work will also take place on the new access road to the Caju docks and recovery of the protected constructions, by means of the “Novas Alternativas” program51. Porto Maravilha’s Stage 2 will be undertaken by means of a PPP (joint private and public partnership), with the public bid being awarded to the Porto Novo Consortium formed by Odebrecht, OAS, and Carioca de Engenharia. During this second stage that will cover the entire Port Area, which will begin in January 2011 and estimated to end in 2016, redevelopment (paving, drainage, signaling, public lighting, planting trees) of roughly 40 km of the street network will start, with the opening of new streets and cycle paths, putting in place of new sewage networks, water supply, electricity, telephone and piped gas supply, a system to improve the quality of the Canal do Mangue waters, provision of an internal two-way street parallel to Avenida Rodrigues Alves (the port binary), demolition of the Elevado da Perimetral flyover along the dockland area between Praça Mauá and Avenida Francisco Bicalho, construction of a two-way tunnel between Praça Mauá and Avenida Rodrigues Alves close to warehouse number 5 and roughly 2.0 km long, construction of two ramps connecting the flyover by the gasworks to Santo Cristo, widening of the railway tunnel under Morro da Providência in order to allow car traffic, implementation of urban accessories (car shelters, bus stops, refuse bins, totems, information boards, bicycle sheds, etc.). Total investment in Stage 2 is estimated at roughly R$ 3 billion. Besides undertaking construction work, the Porto Novo consortium will be in charge of the area’s urban services. Three legal documents, LC no. 101/2009, LC no. 102/2009, and LC no 105/2009, created a legal structure whereby the project will be undertaken and funded. These documents are based on instruments proposed by the Estatuto da Cidade (Law no. 10,257/2001). LC no 101/2009 created the Operação Urbana Consorciada (OUC) do Porto and the Área de Especial Interesse Urbano (AEIU) da Região do Porto, authorizing the local government to acquire52 properties required for the 171 ARQTEXTO 17 no Centro, executando projetos para fins residenciais43 e comerciais, num ritmo e escala desconhecidos há tempos. Há também iniciativas pró-Centro de natureza comunitária. Em diversos bairros do CBD, surgiram grupos variados (de moradores, proprietários de terrenos, comerciantes, empresas de serviços urbanos, etc.)44 promovendo a coordenação dos interesses de seus membros com o poder público, visando primeiramente uma maior efetividade no funcionamento de serviços urbanos, limpeza urbana, segurança, controle de indigentes, e outros problemas. Alguns destes grupos têm ambições maiores, propondo obras de melhorias urbanas e ainda a preparação de planos e projetos de desenvolvimento imobiliário. A região do centro comporta dois níveis de ação governamental – uma ação mais incremental, na qual o governo forneça visão (um plano) e alguns instrumentos, deixando ao setor privado ações específicas no mercado imobiliário, e/ou, alternativamente, um conjunto integrado de ações mais no qual a ação do governo se dê em vários domínios e etapas da recuperação da área. Para uma recuperação ampla da Região Central do Rio, dentro de bases incrementais é necessário se estabelecer: (i) visão para os vários bairros que integram o Centro, o que os grupos de interesse mencionados anteriormente estão procurando fazer; (ii) atualização de sua infraestrutura (sobretudo de saneamento); (iii) definição de estruturas de circulação tanto para distâncias curtas (peatonal, VLTs ou outro modo) e extra-locais45; (iv) devolução ao mercado imobiliário da “terra morta” existente; (iii) determinação de regras mais claras para aproveitamento de imóveis protegidos pelo patrimônio; e (v) uma estratégia de ocupação “incremental” de vazios urbanos46. Mas, ao lado destas intervenções mais localizadas, focadas apenas no CBD, incrementais, de baixo para cima47, indubitavelmente, o grande projeto de recuperação da Região Central do Rio é o da Região Portuária, no projeto que recebe o nome-fantasia de “Porto Maravilha”. Visa o desenvolvimento integrado de uma região de 1100 ha, rehabilitando o sistema viário e a infraestrutura, separando áreas que podem ser intensificadas das áreas protegidas, e criando nas áreas de uso intensificável quarteirões com terrenos comerciais e residenciais para alojar uma população residente de 100.000 (onde hoje residem 30.000 habitantes). O Mapa 3 apresenta os principais elementos do projeto. A estrutura básica do plano urbanístico proposto é constituída por um eixo viário servindo ao tráfego local, o chamado binário, correndo por aproximadamente 4 km, ao longo da extensão maior da região. Em seus extremos, o binário tem conexões com a Zona Sul (a partir do Arsenal de Marinha) e com São Cristovão, Zona Norte ARQTEXTO 17 e subúrbios (lançando-se sobre a Francisco Bicalho). Ao longo do binário são estabelecidas ligações com o CBD, aproveitando e reabilitando ligações já existentes (ruas Barão de Tefé e Camerino) e criando outras (aproveitando um túnel ferroviário existente). Em paralelo ao binário, correrá o trânsito de passagem, numa avenida de seis pistas ao longo da atual Rodrigues Alves, num “mergulhão” sob a Praça Mauá e o primeiro trecho da Rodrigues Alves até alcançar o Armazém 5 do Cais do Porto. A atual Avenida Perimetral será gradualmente demolida.Prevê-se ainda a implantação de um sistema de Veículo Leves sobre Trilhos (VLTs) em dois circuitos, abrangendo o perímetro total da região. A partir do sistema binário e de suas conexões e ligações, será estabelecido o sistema viário local e o desenho das quadras do plano. A região foi rezoneada, com áreas de uso predominantemente comercial e residencial, prevendo-se aproveitamento de 11 a 12 vezes da área dos terrenos, a liberação de gabaritos para 50 pavimentos ao longo da Francisco Bicalho, e de 40, 30 e 20 pavimentos ao longo do binário e da Rodrigues Alves. Está programada a implantação de edificações ícones48, algumas voltadas para o entretenimento educado – o Museu do Amanhã (entregue ao arquiteto Santiago Calatrava) e o Museu de Arte do Rio (entregue ao escritório Jacobsen e Bernardes), o Aquário do Rio, e o Centro de Mídia Não Credenciada das Olimpíadas 2016, objeto de concurso recente do IAB. Áreas protegidas pelo patrimônio serão recuperadas pela Prefeitura, em particular o Morro da Conceição. As favelas dos morros do Pinto e da Providência serão urbanizadas. A infraestrutura básica da região (água, saneamento, iluminação) será totalmente recomposta. Finalmente, planeja-se construir dois “fingers” perpendiculares ao atual cais, permitindo a atracação de navios de passageiros. São obras numa escala que a cidade não vê desde o começo e meados do século XX, respectivamente com Pereira Passos e Carlos Lacerda. O Porto Maravilha é um projeto singular, pensado numa escala inusitada para o Rio e mesmo para o país, pretendendo-se dotado de todos os atributos típicos deste tipo de projeto em outras plagas. Aliás, a experiência internacional neste domínio é ampla, antiga, precisando ser mais intensamente examinada pelas autoridades responsáveis pelo projeto do Rio49,50. Críticas importantes vêm sendo feitas ao Porto Maravilha no tocante à sua concepção, à solidez de sua proposta econômica e à sua estrutura institucional. Por exemplo, debate-se a falta de transparência quanto à execução e gestão do projeto e também sua economicidade, apontando-se para o fato de que a estimativa de R$6 172 program to occupy the area and their transfer to Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), a company owned by public and private interests, in charge of implementing the Port’s OUC. The LC specified city planning indices and parameters and differentiated land use and cover, changing the region’s building potential and allowing construction of buildings higher than prescribed by current limits, save for the preservation and cultural heritage areas. In order to exploit the region’s new building potential, the interested parties, owners, and investors should acquire Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPACs) from the local government and which are auctioned by the São Paulo Stock Exchange (BOVESPA). There will be issues of 6,436,722 CEPACs, with a minimum face value of R$ 400.00. LC no 102/2009 created the CDURP, its current sole shareholder being the local government. The CDURP is intended to encourage development of the AEIU, coordinate concessions and other means of association, provide the assets required by the OUC, and manage the project’s assets. The CDURP is authorized to contract rentals, leasing, the concession of land use rights or property surface rights; to perform expropriations and own interests in investment funds. LC no. 105/2009 created the Programa Municipal de Parcerias Público-Privadas, PROPAR-RIO, on which the Porto Maravilha PPP is based. Finally, LM no. 5128/2009 granted fiscal benefits in connection with the OUC – Operação Urbana Consorciada da Região Portuária. B7 THE BEGINNING AND END OF INFORMALITY: A MEANS OF MORE FULLY MEETING THE DEMAND FOR HOMES At the end of the 20th century the Metropolitan Region was under the rule of owner-builders and informality, with a significant portion of new homes built by means of direct family efforts, outside the market, resulting in entire urban districts deprived of infrastructure and leisure facilities. This state of affairs is largely the product of issues of a national rather than a local level. For this same reason the macro-economic policies put in place in the country in recent decades have had and will have a reflex on Brazilian cities greater than any other policy specific to the sector, in their aim to recover the housing activity. As for demand, a new middle class has arisen with income that enables it to enter the formal housing market, while on the supply side a stabilized currency has led to the rebirth of long-term housing loans. The real estate market’s reinstatement – an effective remedy against owner-building and informality – is seen throughout the country and in Rio in particular. Nonetheless, in the absence of subsidies the real estate market tends to take time to come to the reach of lower income groups, within the limitations imposed by market rules, by the so-called “filtering53” mechanisms. Hence, the subsidies found in the Minha Casa Minha Vida Program54 contribute not only to make the market more flexible, but to provide its workings with greater fairness. However, it should be noted that the format adopted by this program could become more effective if the subsidies were based on transparent allocation criteria directly to the interested families and not to the homes. This procedure would serve as an encouragement for more efficient production methods and a broader and more effective selection of properties by the interested families. Other steps55 may contribute to give rise to a flexible market for homes in Rio, among which we might mention the supply of adequately located land with urban services. In this case, local government actions would be required in order to increase the supply of land in the market. As a result of increased income and credit in the Rio de Janeiro Metropolitan Region, following a period of declining56 income and limited credit, housing starts have resumed vigorously as shown in Graph 3. We will see here that following a period of stagnation from 1984 to 2004, licensed construction areas in the city of Rio de Janeiro started to increase in 2005 and quickened in 2008 and 2009. Table 9 confirms the trend reflected in Graph 3, based on data from ADEMI. On the other hand, Table 10 demonstrates that this growth was greater in AP4 and AP5, exactly as would be expected in districts with a larger population growth. There are signs of a more active real estate market, not only in Rio de Janeiro but throughout the Metropolitan Region. Niterói, for example, has witnessed an unprecedented number of housing starts. In Nova Iguaçu, with housing starts of a nature similar to Barra da Tijuca, is now the scenario of the first stage of a housing development which will ultimately harbor 10,000 homes, by virtue of the availability of land in this municipality. The issue of providing land for development has become a key concern in the supply of homes in the Metropolitan Region, which will require a more active stance by the state and local governments in order to encourage the supply of plots of land to private enterprise, chiefly along the new transport corridors and close to the industrial compounds in Itaguaí and Itaboraí. Not only the BRT routes provide potential in this direction; Via Light in particular, along Parque de Madureira, is worthy of a population growth study. The issue of intervening in the property market is one of urban planning’s most thorny topics, as actions that mean well such as land banks and others very often backfire, removing land from the market and increasing prices instead of making access easier to interested parties. The 173 ARQTEXTO 17 bilhões em obras implicaria em cotas de terreno muito altas, para o total de população e postos de trabalho considerados para a área (ou, alternativamente, em fortes subsídios a serem dados pela Prefeitura). Igualmente, não estão claras questões relativas às soluções de desenho urbano e à execução física do projeto. Por exemplo: a falta de planos de massa por quadras (em lugar do que aparecem, atualmente, gabaritos rigidamente especificados, usos exclusivos, e indefinição quanto ao tratamento a ser dado à implantação das edificações nas quadras); o tratamento tabula rasa dado às edificações existentes; a falta de maior análise do papel dos transportes coletivos no projeto (à exceção dos VLTs); a solução a ser dada à circulação e ao estacionamento de automóveis; e a avaliação mais rigorosa dos projetos ícones, quando se sabe que projetos semelhantes em outras cidade não vêm apresentando os resultados esperados. E por fim, critica-se o açodamento dado à execução do projeto. O Porto Maravilha será implantado em duas fases, a primeira das quais já está em andamento. A Fase 1, executada e financiada pela prefeitura, com investimento total de R$ 200 milhões, prevê recuperação da infraestrutura urbana dos quarteirões no extremo leste da região, em torno à Praça Mauá, com a revitalização da Praça Mauá, o calçamento, iluminação pública, drenagem e arborização dos eixos Barão de Tefé, Camerino, Venezuela, Rodrigues Alves e Sacadura Cabral, a implantação do trecho inicial do binário do porto, a reurbanização do Morro da Conceição (vias, enterramento da rede elétrica, restauração do Jardim do Valongo e da Pedra do Sal), a demolição da alça de subida da perimetral, a construção da garagem subterrânea na Praça Mauá para 900 veículos. Durante a Fase 1 será também executada a obra de novo acesso rodoviário ao porto do Caju e a recuperação de edificações protegidas, através do programa “Novas Alternativas51”. A Fase 2 do Porto Maravilha será executada através de uma PPP, cuja licitação foi ganha pelo consorcio Porto Novo, formado pela Odebrecht, OAS e Carioca de Engenharia. Nesta segunda fase, cobrindo toda a Região Portuária, a começar em janeiro de 2011 e com duração prevista até 2016, será dado início à reurbanização de aproximadamente 40km de vias (pavimentação, drenagem, sinalização, iluminação, arborização de calçadas e canteiros), implantação de novas vias e trechos de ciclovias, implantação de novas redes de esgotamento sanitário, abastecimento de água, energia elétrica, telefonia e gás encanado, implantação de sistema de melhoria da qualidade das águas do Canal do Mangue, implantação de via de mão dupla interna, paralela à Rodrigues Alves (Binário do Porto), demolição do Elevado da Perimetral ARQTEXTO 17 14 Tabela 8: Estoque de Empregos Formais por Setores Econômicos: Região Central e respectivas Regiões Administrativas e Bairros 2000 e 2005. Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – RAIS/CAGED 2000 e 2005. 14 Table 8: Stock of Formal Employment by Economic Sector: Central Region and respective Administrative Regions and Districts 2000 and 2005. Source: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – RAIS/CAGED 2000 and 2005. 15 Gráfico 3: Município do Rio de Janeiro: Área de Construção Licenciada (m2) 1980-2010. Fonte: Secretaria de Urbanismo, Prefeitura do Rio de Janeiro. 15 Chart 3: Rio de Janeiro: Area of Licensed Construction (m2) 1980-2010. Source: Secretaria de Urbanismo, Prefeitura do Rio de Janeiro. TABELA 8: ESTOQUE DE EMPREGOS FORMAIS POR SETORES ECONÔMICOS REGIÃO CENTRAL E RESPECTIVAS REGIÕES ADMINISTRATIVAS E BAIRROS 2000 E 2005 Região Central RA e Bairros Empregos Formais 2005 Ind. Transf. Serviços Ind. UP Comércio Serviços Adm. Pública Total % RA Portuária Caju Gamboa Santo Cristo Saúde 2.647 1.696 178 711 62 6.848 0 0 0 6.848 2.294 123 479 920 772 12.889 960 2.025 8.138 1.766 449 64 0 0 385 25.127 2.843 2.682 9.769 9.833 3,6% 0,4% 0,4% 1,4% 1,4% RA Centro Centro 12.175 12.175 2.075 2.075 30.143 30.143 201.061 201.061 243.676 243.676 489.130 489.130 70,5% 70,5% RA Rio Comprido Catumbi Cidade Nova Estácio Rio Comprido 2.791 277 572 402 1.540 585 0 0 547 38 3.339 268 514 782 1.775 23.537 218 8.138 4.343 10.838 87.451 0 87.343 0 108 117.703 763 96.567 6.074 14.299 17,0% 0,1% 13,9% 0,9% 2,1% RA São Cristóvão Benfica Mangueira São Cristóvão 8.118 1.684 67 6.367 524 2 0 522 10.071 1.986 101 7.984 25.621 4.386 219 21.016 15.460 0 115 15.345 59.794 8.058 502 51.234 8,6% 1,2% 0,1% 7,4% RA Santa Teresa Santa Teresa 53 53 0 0 167 167 1.508 1.508 0 0 1.728 1.728 0,2% 0,2% Região Central 25.784 10.032 46.014 264.616 347.036 693.482 100% Rio de Janeiro 126.818 14.344 273.548 790.931 373.613 1.579.254 Participação Região Central 20,3% 69,9% 16,8% 33,5% 92,9% 43,9% 14 15 174 16 Tabela 9: Município do Rio de Janeiro: Unidades Imobiliárias Lançadas 2003-2010. Fonte: ADEMI – Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário. 16 Table 9: Rio de Janeiro: Licensed Building Units 2003-2010. Source: ADEMI – Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário. 17 Tabela 10: Município do Rio de Janeiro: Unidades Residenciais Licenciadas 2008-2010. Fonte: Secretaria de Urbanismo, Prefeitura do Rio de Janeiro. 17 Table 10: Rio de Janeiro: Licensed Residential Units 2008-2010. Source: Secretaria de Urbanismo, Prefeitura do Rio de Janeiro. 18 Tabela 11: Município do Rio de Janeiro: Favelas 1991-2000. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Censos de 1991 e 2000. 18 Table 11: Rio de Janeiro: Shantytowns 19912000 Source: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: 1991 and 2000 Census ANO TOTAL 2003 2004 7153 6757 2005 9212 2006 8793 2007 13531 2008 2009 11603 14251 2010 10 SEM 7213 16 TABELA 10: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO UNIDADES RESIDENCIAIS LICENCIADAS 2008-2010 ÁREAS DE PLANEJAMENTO57 NÚMERO DE UNIDADES RESIDENCIAIS % Total 2010 (janeiro/julho) 18.000 100 Total 2009 38.053 100 AP 1 1.601 4,2 AP 2 886 2,3 AP 3 6.256 16,4 AP 4 11.470 30,1 AP 5 17.840 46,8 Total 2008 26.073 100 AP 1 813 3,1 AP 2 895 3,4 AP 3 7.257 27,8 AP 4 11.518 44,1 AP 5 5.590 21,4 17 TABELA 11: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO FAVELAS 1991-2000 ÁREAS DE PLANEJAMENTO E REGIÕES ADMINISTRATIVAS 1991 2000 DENSIDADE DOMICILIAR Domicílios População Domicílios População 1991 2000 Total 226.141 882.483 308.581 1.092.476 3,90 3,54 Área de Planejamento 1 21.912 85.182 21.526 76.787 3,89 3,57 Área de Planejamento 2 33.670 127.104 42.372 146.538 3,77 3,46 Área de Planejamento 3 122.135 480.524 153.617 544.737 3,93 3,55 Área de Planejamento 4 18.790 72.182 41.289 144.394 3,84 3,50 18 175 ARQTEXTO 17 TABELA 9: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO UNIDADES IMOBILIÁRIAS LANÇADAS 2003-2010 ARQTEXTO 17 no trecho entre a Praça Mauá e a Av. Francisco Bicalho, construção de túnel entre a Praça. Mauá e a Av. Rodrigues Alves, na altura do Armazém 5, com aproximadamente 2,0 km de comprimento, em dois sentidos, construção de duas rampas ligando o viaduto do gasômetro ao Santo Cristo, ampliação do atual túnel ferroviário sob o Morro da Providência para receber tráfego de automóveis, implantação de mobiliário urbano (abrigos para automóveis, pontos de ônibus, lixeiras, totens, painéis informativos, bicicletários, etc.). O investimento total da Fase 2 está estimado em aproximadamente R$ 3 bilhões. Além de executar as obras, o consórcio Porto Novo ficará responsável pela manutenção dos serviços urbanos da área. Três documentos legais, LC no. 101/2009, a LC no. 102/2009 e a LC no 105/2009 criaram a estrutura legal dentro da qual o projeto será executado e financiado. Estes documentos têm como base os instrumentos propostos pelo Estatuto das Cidades (Lei 0.257/2001). A LC no 101/2009 criou a Operação Urbana Consorciada (OUC) do Porto e a Área de Especial Interesse Urbano (AEIU) da Região do Porto, autorizando o Município a adquirir52 os bens imóveis necessários para o programa de ocupação da área e a transferir os bens imóveis à Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), sociedade de economia mista responsável pela implementação da OUC do Porto. A LC estabeleceu índices e parâmetros edilícios e de uso e ocupação do solo diferenciados, alterando o potencial construtivo da região, permitindo a construção de edifícios mais altos do que os limites atuais, com exceção das áreas de preservação e patrimônio cultural. Para explorar o novo potencial construtivo da região, os interessados, proprietários ou investidores, deverão comprar à prefeitura os Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPACs) através de leilões realizados na BOVESPA. Deverão ser emitidos 6.436.722 CEPACs, em valores de face de no mínimo R$ 400,00. A LC no 102/2009 cria a CDURP, cujo único atual acionista é a Prefeitura. Os objetivos do CDURP são promover o desenvolvimento da AEIU, coordenar concessões e outras formas de associação, disponibilizar os bens necessários à OUC e gerir os ativos patrimoniais do projeto. A CDURP está autorizada a contratar a locação, arrendamento, concessão de direito real de uso ou direito de superfície de bens imóveis; promover a desapropriações e participar como quotista de fundos de investimento. A LC no. 105/2009 institui o Programa Municipal de Parcerias Público-Privadas, PROPAR-RIO, dentro do qual se estruturou a PPP do Porto Maravilha. 176 Estatuto da Cidade provides a number of alternatives for actions in the property market that deserve attention. It is clear in the ADEMI data that housing developments are growing in size. Arising from the attempt to create economies of scale in the property business, these estates pose expressive challenges, chiefly the absence of diversity in the economic and social strata of their occupants and the architectural and urban planning solutions, causing a loss of the meaning and identity of location. No less important, these estates are difficult to maintain and manage. Projects that employ more contemporary practices of urban design, jointly with implementation and sales strategies, may assist in solving the mentioned problems, so that dimensions may not necessarily become a dilemma. Defining the number of new homes required each year (leaving aside the housing shortage) requires a complex formula involving the marriage rate, young people who leave their homes, separations of couples, etc. At this point, a quick count is sufficient to find that at the Metropolitan Region’s current rate of 3.1 occupants per home, 30 thousand units would be required each year during ten years, to put up a growing population of close to one million persons, from 2000 to 2010, of which 14 thousand units in the city of Rio de Janeiro and 16 thousand in the rest of the Metropolitan Region. These numbers are in favorable contrast with the series found in Table 9 and 10, indicating that under the current macro-economic scenario and with a reasonable subsidizing program, the growth of informality could be eliminated in the course of the coming decade in the Metropolitan Region. B8 THE BEGINNING AND END OF INFORMALITY: UPPS AND LIVING IN RIO’S FAVELAS One thing is avoiding growth in informal areas; and another is finding solutions to problems in existing informal areas. Nonetheless, the issue of the liabilities created by informal housing in the Metropolitan Region, in the homes of hundreds of thousands of inhabitants, will continue for along time into the future. The idea that favelas are solutions and not problems (credited to John Turner) implies acceptance that the lower income population should gradually meet their own housing needs, without recourse to the government. This partnership seemed to make sense during the rapid urbanization scenario of 50 to 60 years ago, when the large Brazilian cities were in need of more and more labor, and on the other hand were faced by the deficiency in government funds to invest in both the productive sector and in urban infrastructure – a dilemma which at the time was thought to be genuine. The scenario is another in this new century. With time, owing to the increase in new inhabitants and concentration B7 O COMEÇO DO FIM DA INFORMALIDADE: EM DIREÇÃO AO ATENDIMENTO MAIS PLENO DA DEMANDA RESIDENCIAL A Região Metropolitana chegou ao fim do século XX sob o domínio da auto-construção e da informalidade, uma considerável parcela das novas habitações sendo construídas através do esforço familiar direto, fora do mercado, o que resultou em bairros inteiros da cidade destituídos de infraestrutura e amenidades. Este estado de coisas é mais o produto de questões situadas no plano nacional do que no plano local. Pela mesma razão, as políticas macroeconômicas estabelecidas no país nas duas últimas décadas vêm tendo e terão maior impacto nas cidades brasileiras do que qualquer outra política específica do setor, em particular, por promoverem a recuperação do mercado habitacional. Pelo lado da demanda, vem surgindo uma nova classe média com renda para entrar no mercado imobiliário formal, enquanto, pelo lado da oferta, a estabilização da moeda permite o renascimento do financiamento habitacional de longo prazo. A reabilitação do mercado imobiliário – o antídoto eficaz contra a autoconstrução e a informalidade – vem sendo sentida em todo o país e no Rio em particular. No entanto, na ausência de subsídios, o mercado imobiliário tende a demorar a chegar aos grupos de renda mais baixa, limitado que fica quando restrito apenas aos ditames de mercado, aos chamados mecanismos de “filtração53”. Assim, os subsídios presentes no Programa Minha Casa Minha Vida54 contribuem não só para agilizar o mercado, como para garantir mais equidade ao seu funcionamento. No entanto, é importante assinalar que o formato adotado por este programa poderia ser eventualmente mais eficaz caso os subsídios fossem dirigidos, através de critérios transparentes de alocação diretamente às famílias demandantes e não às moradias. Tal procedimento seria um incentivo a métodos mais eficientes de produção e a uma escolha mais ampla e eficaz de imóveis por parte das famílias. Outras medidas55 podem contribuir para o surgimento de um mercado ágil de habitações no Rio, entre os quais se destaca a presença de terrenos dotados de serviços urbanos e adequadamente localizados. Neste caso, a intervenção municipal no sentido de aumentar a oferta de solo no mercado seria necessária. Como consequência do crescimento da renda e do crédito na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, depois de uma fase de rendas declinantes56 e de crédito in occupied areas, favelas have become unsatisfactory solutions for their inhabitants as well as for formal cities. The public authorities (with rare exceptions) have looked on favelas for decades as temporary entities, abstaining from making necessary investments to integrate them into the surrounding districts58. The most important of such measures would be to determine on the one hand what are public spaces (streets, squares, rights of way for urban services and people and vehicles, etc.), and on the other hand private spaces (homes, retail trade, etc.), to proceed with a legal definition and separation. This separation would imply granting to local inhabitants title deeds for the occupied lots and the government admitting its responsibilities with regard to the public space, for security, urban services, and social facilities. Inhabitants would bear the costs of services, with any likely subsidies59. This is no different from the set of rules and criteria in force for the rest of the city. In the absence of this kind of action, the “favelas of expectations” (as they are often known in countries with rapidly growing cities, such as in Brazil) will stand side by side with the “favelas of despair” (those in countries with consolidated cities, such as in the USA), which occurred chiefly after the drug traffic took them over, as in the case of Rio. Table 11 reflects the growth from of favelas in the municipality of Rio de Janeiro 1990 to 2010. Pacifying the Rio de Janeiro favelas will give way to their absorption into the Metropolitan Region’s formal territory. Rio is not inexperienced in designing and putting in place programs with this purpose. It has a background of projects for urbanizing favelas, the first of which occurred in the 1960s influenced directly by Turner, though in a modest scale, right through to the Favela-Bairro program of the 1990s. Recently, the PAC (acceleration of growth) program provided funds to benefit the urban renewal of some of Rio’s largest favelas (Rocinha, Maré, Manguinhos, and Complexo do Alemão), which are being favored with total investments of roughly R$ 1.2 billion in urban renewal, sanitation, and integration with the urban environment. It is worthy of note that refining these actions requires an assessment of the successes and failures of projects implemented to date, in connection with cost / benefit of the project components as well as the effectiveness of the urban design principles employed. Following through with these efforts, in July 2010 the local government created the Morar Carioca program, intended to encourage the definite urban and social integration of Rio’s favelas by 2020, as part of the Olympic Games’ legacy. The program will invest R$ 8 billion by 2012. The Morar Carioca program covers new infrastructure, equipment, and services, according to the size and 177 ARQTEXTO 17 Finalmente, a LM no. 5128/2009 concede benefícios fiscais relacionados com a Operação Urbana Consorciada da Região Portuária. ARQTEXTO 17 limitado, a produção imobiliária é retomada com vigor, como mostra o Gráfico 3. Neste vê-se que, depois de um período de estagnação de 1984 a 2004, a área licenciada para construção no Município do Rio de Janeiro cresce a partir de 2005, acelerando em 2008 e 2009. A Tabela 9 confirma a tendência mostrada no Gráfico 3, com base em dados da ADEMI. Já, a Tabela 10 mostra que este crescimento se dá sobretudo nas AP4 e AP5, justamente, como seria de se esperar, nos bairros de maior crescimento demográfico. Não só na cidade do Rio de Janeiro mas em toda a Região Metropolitana, há sinais de um mercado imobiliário mais ativo. Niterói, por exemplo, tem visto um número de lançamentos fora do seu padrão habitual. Já Nova Iguaçu, que tem apresentado lançamentos habitacionais com características semelhantes aos da Barra da Tijuca, está presenciando a construção da primeira fase de um conjunto habitacional, cujo tamanho final passa de 10.000 unidades residenciais, graças à disponibilidade de terrenos no Município. A questão de provisão de áreas passíveis de desenvolvimento passa a figurar como a questão chave na oferta de imóveis residenciais na Região Metropolitana, o que vai requerer uma postura mais ativa do Governo Estadual e dos governos municipais no sentido de estimular a oferta de blocos de terrenos à iniciativa privada, principalmente ao longo dos novos corredores de transporte e próximo aos novos complexos industriais em Itaguaí e Itaboraí. Não só os eixos de BRTs oferecem potencial para tanto; a Via LIGHT, em especial, ao longo do Parque de Madureira, merece um estudo visando sua densificação. A questão da intervenção em mercados de terra é um dos assuntos mais espinhosos do planejamento urbano, uma vez que as medidas mais bem intencionadas, tais como bancos de terra e outros, freqüentemente resultam ser um tiro pela culatra, tirando terra do mercado e aumentando os preços em lugar de facilitar o acesso a terra por interessados. O Estatuto da Cidade provê algumas alternativas de intervenção no mercado de terras que merecem exame. Fica aparente pelos dados da ADEMI que os conjuntos habitacionais estão crescendo em tamanho. Resultado da tentativa de obter economias de escala nos negócios imobiliários, estes conjuntos trazem grandes desafios, principalmente a falta de diversidade na tipologia econômico-social dos moradores e nas soluções arquitetônicas e urbanísticas, com uma perda do sentido e identidade de lugar. Não menos importante, estes conjuntos são difíceis de manter e administrar. Projetos nos quais se aplicam as práticas mais contemporâneas da disciplina de desenho urbano e estratégias de im178 conditions in each favela, in an attempt to integrate them to their surroundings. Those communities not suitable for urban renewal and deemed to be in a risk situation (subject to recurring flooding and landslides), will have their inhabitants relocated. The Morar Carioca program will prepare urban planning rules for each favela, which will be subject to inspection by the Postos de Orientação Urbanística e Social – POUSOS. Improvements in living conditions will also be provided in the benefited areas. By means of an agreement undersigned with IAB on October 2010, 40 architectural offices have already begun to develop projects under the Morar Carioca program. Rio and Niterói are two of the Metropolitan Region’s municipalities most affected by the existence of favelas. The outlying municipalities have fewer favelas but many more informal housing developments, where owner-builders predominate, urban services are non-existent or of poor quality, and where the property of land is often disputed. Though these informal estates have a clearer definition of public and private spaces (as opposed to favelas), ownership of individual lots is precarious, as is the provision of urban services. The Rio de Janeiro local government has a unit to formalize these housing developments, while the state government put in place a pilot plan in the outlying Baixada Fluminense region with overseas funding. CONCLUSION The topic of economic decadence and urban expansion has been discussed extensively, in particular regarding the mishaps undergone by US and European cities in the post-war years. The essence of such analyses has to do largely with the ability of large cities to renovate and the components required for this renovation. The previously mentioned Edward Glaeser lists a number of principles for successful urban economies, resulting from his surveys: (i) complexity and diversity – this is where the mentioned effects of clustering come in, which act on productivity and urban competitiveness; (ii) an ample freedom of doing business, eliminating foolish sanctions and costly regulations; (iii) an educated population, a powerful component determining the ability to conduct business; and (iv) infrastructure and reasonable housing. Based on a study strongly influenced by the experience of US cities, Richard Florida60 also includes factors such as a tolerant and diversified environment, leisure and security – all of which are required by the new generations that feel distant from the somber and contaminated urban model based on manufacturing. This article reviews briefly factors that seem to point to a better future for the city and metropolitan region of Rio de Janeiro, providing opportunities for much awaited urban solutions and adding value to the landscape. B8 O COMEÇO DO FIM DA INFORMALIDADE: AS UPPS E O MORAR CARIOCA NAS FAVELAS Uma coisa é evitar-se o crescimento das áreas informais; outra é a solução dos problemas das áreas informais existentes. No entanto, o problema do passivo constituído pelas áreas informais da Região Metropolitana, na casa de centenas de milhares de habitantes, continuará por muito tempo, futuro adentro. A percepção de que favelas são soluções e não problemas (que se deve a John Turner) implica em aceitar que as populações de mais baixo nível de renda progressivamente atendam, sem o uso de recursos governamentais, às suas próprias necessidades em habitação. Isto parecia fazer sentido, no quadro da urbanização rápida de há 50-60 anos, quando as metrópoles brasileiras demandavam mão-de-obra crescentemente e, por outro lado, diante da clara precariedade de recursos governamentais disponíveis para se investir, ao mesmo tempo, nos setores produtivos e em infraestrutura urbana – dilema que, então, se via como verdadeiro. O quadro neste início de século é outro. Com o passar do tempo, pelo acréscimo de novos moradores e densificação das áreas ocupadas, as favelas se transformaram em soluções insatisfatórias, tanto para seus habitantes quanto para os da cidade formal. O poder público (com raras exceções), encarou as favelas, ao longo de décadas, como entidades temporárias, negaceando a implantação das medidas e dos investimentos necessários para promover sua integração aos bairros que as circundavam58. Destas medidas, a mais importante seria identificar-se, por um lado, o que são espaços públicos (logradouros, praças, di- In the first place, two exogenous factors – recovery of economic development and a slowdown in population growth – will impact strongly Rio’ profile. This should become evident not only as a whole, in the improved quality of life arising from higher per capita income by inhabitants, but also in the allocation of economic activities and public and private investments. Population trends are strongly subject to inertia, and hence they behave in protracted cycles that are difficult to reverse. This being the case, the population’s migration in the course several decades to Barra da Tijuca, the West Zone, and to the outlying Baixada Fluminense region, should continue during a few more. These trends may become stronger or milder due to a number of factors in the repertory of city planners. One of these, transport systems, commands the configuration and expansion of urban structures. Rio de Janeiro’s Arco Metropolitano by-pass highway with its 145 km across eight municipalities in the Baixada Fluminense region will surely reinforce growth, and in particular it will change the region’s spatial organization, aggravating problems and giving rise to interesting possibilities. In a region with limited resources in the hands of the local governments, this would recommend putting in place a governance structure (consultation and coordination) for issues involving transport, land, and housing. The transport system based on a BRT in Rio will also favor its region where expansion is greater, Barra da Tijuca, in the medium term consolidating an alternative metropolitan hub. Alternately, the BRT systems themselves, jointly with the proposals for the master plan macro-zones and the port renewal proposal, may lead to a reversal of the trend for population decrease in the suburbs and city center. Implementation of BRT systems in the city of Rio will reverse the age-old trend favoring individual transport in detriment of mass transport, reducing commuting costs for hundreds of thousands of low-income users. The trend most in evidence in Rio’s scenario will be its growing formalization, replacing decades of expanding favelas and informal urban sprawls. The construction activity’s rebirth will be at the head of this trend, now in progress after 20 years of stagnation. The construction activity’s recovery has been assured by economic stability, and more recently boosted by family income, which is not only on the rise but is also more equally spread out, and in particular by the availability of loans and subsidies. Hence, with a demand for housing that will be met more and more by means of formal housing projects, the favelas that currently mark the city may be coming to the end of their days as a major solution for low-income housing. In turn, reactivating the construction business will pose challenges in the opposite direction for city planners. In 179 ARQTEXTO 17 plantação e venda podem ajudar a resolver os problemas mencionados, evitando que tamanho seja necessariamente um problema. A definição do número de novas moradias requeridas a cada ano (deixando de lado a questão de déficit habitacional) requer modelagem complexa na qual entram a taxa de formação de casais, jovens que abandonam a casa, separação de casais, etc. Aqui, basta especular que, para se manter a atual taxa de 3,1 habitantes por domicilio vigente na Região Metropolitana, seriam necessárias mais 30 mil unidades residenciais/ano durante 10 anos, para abrigar o crescimento populacional de cerca de um milhão de pessoas, no período 2000-2010, sendo 14 mil unidades no Município do Rio e 16 mil no resto da Região Metropolitana. Estes números contrastam favoravelmente com as séries apresentadas nas Tabelas 9 e 10, fazendo crer que, mantidos o quadro macroeconômico e um programa de subsídios razoável, poder-se-á eliminar o crescimento da informalidade na Região Metropolitana ao longo da próxima década. ARQTEXTO 17 reitos de passagem de serviços urbanos e de circulação de pessoas e veículos, etc.) e, por outro, espaços privados (moradias, comércio, etc.) e, então, promover-se sua definição e separação legal. Esta separação implicaria em conceder ao morador um título de propriedade referente ao lote que ocupa e, por outro, na assunção por parte do estado, no que é espaço público, das responsabilidades que lhe correspondem quanto à segurança, serviços urbanos e equipamentos sociais. Aos moradores corresponderiam os custos dos serviços, com os subsídios que possam caber59. Portanto, nada diferente do conjunto de normas e critérios que já vigora para o resto da cidade. Na ausência deste tipo de ação, as “favelas da esperança” (assim frequentemente denominadas as de países em rápida urbanização, como Brasil) passam a se incorporar às “favelas do desespero” (aquelas dos países de urbanização consolidada, como os EUA), o que se deu sobretudo depois que o tráfico de drogas passou a controlá-las, como no caso do Rio. A Tabela 11 mostra, para o período 1990-2010, o crescimento das favelas no Município do Rio de Janeiro. A pacificação das favelas no Rio Janeiro permite que se avance na sua incorporação ao território formal da Região Metropolitana. O Rio não é neófito na concepção ou execução de programas com este objetivo. Tem tradição na realização de projetos de urbanização de favelas, o primeiro dos quais na década de 1960, sob a influência direta de Turner, embora todos em escala modesta, até a implementação do Programa Favela-Bairro na década de 1990. Recentemente, recursos do PAC permitiram que fossem beneficiadas por programas de urbanização algumas das maiores favelas do Rio (Rocinha, Maré, Manguinhos e Complexo do Alemão), que estão recebendo investimentos totais da ordem de R$ 1,2 bilhão para urbanização, saneamento e integração com a malha urbana. É importante registrar que o aprimoramento destas iniciativas requer a avaliação dos sucessos e falhas dos projetos realizados até então, tanto no tocante à relação benefício/custo dos componentes dos projetos, quanto da efetividade dos princípios de desenho urbano utilizados. Dando continuidade a estes esforços, a Prefeitura criou, em julho de 2010, o Programa Morar Carioca que pretende promover a integração urbana e social definitiva das favelas cariocas até o ano de 2020, como parte do legado das Olimpíadas. O programa investirá 8 bilhões, sendo 2 bilhões até 2012. O Morar Carioca prevê a instalação de infraestrutura, equipamentos e serviços, de acordo com o porte e a condição de cada comunidade, buscando integrá-las com seu entorno. Nas comunidades não urbanizáveis, diagnosticadas como 180 search of reduced average construction costs, the market and technology will develop larger and larger housing projects, causing them to face a growing scarcity of land. This scarcity, while the public sector will wish to see greater use in certain districts, may require more vigorous government intervention in the property market, and to this end the city of Rio has conveniently included in its master plan the instruments contained in the Estatuto da Cidade. This kind of intervention is nonetheless complex and dangerous. It should be noted that large-scale housing projects may include problems of a social and economic nature, and the use of quality urban design may valuable to solve them. The Metropolitan Region’s local and state administrations, based on ongoing stability and economic development, will have available more funds and will possibly be better equipped to run their investment projects. In Rio’s case, the programmed investments are directed at the urban renewal of favelas and mass transport systems. In fact, having established a security policy in the favelas by means of the Unidades de Policia Pacificadora (UPPs), and in view of the control, albeit partial, over the factors that give rise to expansion in favelas, it seems appropriate to intensify urban renewal, which the local government has committed to do in June 2010, with the creation of the Morar Carioca program. This program is intended to encourage a definite urban and social integration of Rio’s favelas by 2020 as part of the Olympic Games’ legacy, and 40 architectural offices were selected to prepare the respective projects. The recovery of city centers in several parts of the world has been justified based on the interest in making use of a good quality infrastructure, no longer in use or underused. In Rio’s case, this infrastructure should be included in the domestic and civil architectural heritage found in the Central Region, the quality and scale of which is broadly recognized as exceptional. This region’s recovery, albeit deprived of its past functions, will reconcile its continued activities as a CBD with the maintenance of a historical heritage provided with a useful vitality. Rio is primarily its historical city center. There is currently no plan and vision for the Central Region’s recovery, which plan should include the recovery of its sanitation infrastructure, reinstatement of the “dead land” to the property market, and incentives to recondition habitable properties. The local authorities should avoid errors such as the recent proposal to remove the city legislature from its current location in the Cinelândia city center area. However, the Porto Maravilha project that will kick off the port area’s recovery, in an unprecedented scale for the city’s inhabitants, has a number of objectives: it will create well located and quality areas for housing and retail trade developments, and will segregate from heritage areas, protecting these, those areas that may be put to more intensive use. CONCLUSÃO O tema da decadência econômica e do crescimento urbano vem sendo amplamente discutido, com foco nos percalços pelos quais, a partir do pós-guerra, passaram cidades americanas e européias. A tônica destas análises recai sobretudo na capacidade que as grandes cidades têm de se reinventar e nos elementos necessários para esta reinvenção. Resultado de suas pesquisas, o anteriormente mencionado Edward Glaeser enumera alguns princípios para economias urbanas de sucesso: (i) complexidade e diversidade – ai entram os tais efeitos de aglomeração, que agem sobre a produtividade e a competitividade urbana; (ii) ampla liberdade para empreender, com a eliminação de sanções tolas e regulamentações custosas; (iii) população educada, um elemento poderoso na determinação da capacidade de empreender; e (iv) infraestrutura e moradia em conta. Richard Florida60, a partir de uma análise fortemente marcada pela experiência das cidades norte-americanas, inclui ainda fatores como ambiente tolerante e diverso, lazer e segurança – todas exigências das novas gerações, que se sentem distantes do sombrio e contaminado modelo urbano baseado na indústria. Neste artigo foram rapidamente repassados fatores que parecem apontar para um futuro melhor para a cidade e a área metropolitana do Rio de Janeiro, oferecendo oportunidades para que se conte com soluções The universal concern with environmental issues, boosted by climate change concerns, will imply increasing proposals regarding electric and mass transport, energy-efficient buildings, and expanding green areas. The historical and cultural heritage will be threatened by the construction industry’s dynamism. Groups dedicated to their defense are small and disorganized, and their message, different from the environmental message, will draw scarce attention from young people. In conclusion, the Metropolitan Region’s governance comes to mind, currently deprived of a structure and coordination. Literature61 on this topic is to the effect that complex or multi-sectoral governance structures, whether in theory or in practice, are not considered in good government administration. An alternative suggested is the practice of inter-municipal agreements (conventions or consortiums) covering specific objectives such as transports, sanitation, etc., for their physical structures or for trans-municipal services. The issue of transportation in Rio’s Metropolitan Region is one that deserves special attention. The question remains: Is this array of factors and actions, even in their best possible configuration, sufficient to assure the sustainable growth of Rio de Janeiro and to improve its population’s quality of life? Some would have it that albeit necessary, they would be insufficient in the context of a modern urban economy. The region lacks better educational standards, and the local inhabitants (and those who come to it) have restrictions on their ability to show initiative. Should such conditions be assured, then Rio may take off. 181 ARQTEXTO 17 em situação de risco (sujeitas a recorrente alagamento ou a deslizamentos), as famílias serão reassentadas. O Morar Carioca elaborará normas urbanísticas para cada comunidade, que serão fiscalizadas pelos Postos de Orientação Urbanística e Social – POUSOS. Estão previstas também melhorias habitacionais nos domicílios das áreas beneficiadas. Através de convênio assinado com o IAB em outubro de 2010 foram selecionados 40 escritórios de arquitetura que já começaram a desenvolver os projetos do Morar Carioca. Na Região Metropolitana, Rio e Niterói são os municípios mais afetados pela presença de favelas. Os municípios da periferia são caracterizados menos pela presença de favelas do que pela de loteamentos informais, onde a autoconstrução impera, os serviços urbanos são ou inexistentes, ou de baixa qualidade, e onde a propriedade é muitas vezes contestada. Embora nos loteamentos informais, a delimitação de espaços públicos e privados seja mais clara (diferentemente do caso das favelas), a titulação dos lotes individuais é precária, tal como a presença de serviços urbanos. A Prefeitura do Rio de Janeiro mantém um núcleo de regularização de loteamentos enquanto o governo do estado executou um projeto piloto na Baixada Fluminense, com financiamento externo. ARQTEXTO 17 urbanísticas e de valorização da paisagem de que há muito se sente falta. Primeiro, dois fatores exógenos – a recuperação de crescimento econômico e a desaceleração do crescimento populacional – terão forte impacto na nova feição do Rio. Isto deverá se manifestar não só no agregado, através da elevação da qualidade de vida resultante de maior renda per capita disponível para seus habitantes, como na espacialização de atividades econômicas e investimentos públicos e privados. Tendências demográficas são objeto de forte inércia e, portanto, costumam observar ciclos longos de difícil reversão. Assim sendo, o deslocamento de população para a Barra, Zona Oeste e para a Baixada Fluminense que vem ocorrendo há já algumas décadas, deve continuar ao longo das próximas. Estas tendências podem ser reforçadas ou atenuadas por vários fatores do arsenal de instrumentos ao comando de planejadores e urbanistas. Um destes, os sistemas de transporte, comanda a configuração e a expansão de estruturas urbanas. O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, correndo através de 145 km da Baixada Fluminense e atravessando 8 municípios da Baixada, seguramente reforçará o crescimento e, em particular, modificará a organização espacial da região, acentuando problemas e abrindo interessantes possibilidades. Numa região de recursos limitados nas mãos dos governos municipais, isto recomendaria o estabelecimento de uma estrutura de governança (consulta e coordenação) para questões de transporte, terras e habitação. No Rio, o sistema de transportes estruturado em torno aos BRTs, igualmente reforçará sua região de maior crescimento, a Barra, consolidando, a médio prazo, um centro metropolitano alternativo. Alternativamente, os próprios BRTs, aos quais se juntam as prescrições propostas para as macro-zonas do plano diretor e a proposta de revitalização do porto, podem levar a uma reversão da tendência de declínio populacional dos subúrbios do Rio e de seu Centro. No Município do Rio a implantação de BRTs, reverte uma tendência histórica de favorecimento do transporte individual em detrimento do público, reduzindo o custo de viagens para centenas de milhares de usuários de baixa renda. A tendência de maior visibilidade na paisagem do Rio será a de sua crescente formalização, revertendo décadas de crescimento de favelas e áreas de urbanização informal. Comandando esta tendência estará a reativação do setor imobiliário, em curso depois de mais de 20 anos de estagnação. A volta do setor imobiliário tem sido garantida pela estabilidade econômica e, mais recentemente, animada pela renda familiar, não só em ascenção como melhor distribuída, e, muito particular182 ARQTEXTO 17 mente, pela presença amplificada de crédito e subsídios. Assim, com uma demanda habitacional que será cada vez mais atendida por projetos habitacionais formais, as favelas que hoje são uma das marcas da cidade poderão estar vendo o fim do seu tempo como solução de moradia predominante entre os grupos de renda baixa. A reativação do setor imobiliário, por sua vez, trará desafios de sinais opostos para os planejadores da cidade. Mercado e tecnologia, na procura de uma redução de custos médios de construção, produzirão projetos habitacionais cada vez maiores em tamanho, o que fará o setor se deparar com uma escassez crescente de terrenos. Esta escassez, ao mesmo tempo que o desejo do setor público de ver a intensificação de usos em certos bairros, pode requerer uma intervenção governamental mais forte no mercado de terras, o Município do Rio tendo para isto convenientemente incorporado em seu recentemente aprovado plano diretor os instrumentos do Estatuto da Cidade. Tal tipo de intervenção é no entanto complexa e perigosa. Anote-se que projetos habitacionais de grande escala trazem em si problemas de natureza social e econômica, o emprego de desenho urbano de qualidade podendo ser aqui de alguma valia para solucioná-los. As administrações municipais e estadual da Região Metropolitana, na presença de estabilidade continuada e de crescimento econômico, virão a dispor de mais recursos e, eventualmente, a estar melhor capacitadas para escolher e executar seus projetos de investimentos. No caso do Rio, a programação de investimentos está dirigida para a urbanização de favelas e sistemas de transporte coletivo. Efetivamente, com a implantação da política de segurança nas favelas, através da instalação das Unidades de Policia Pacificadora (UPPs) e com a perspectiva de controle, mesmo que parcial, dos fatores que levam ao crescimento das favelas, parece apropriado intensificar sua urbanização, o que a Prefeitura se comprometeu a fazer, em julho de 2010, com a criação do Programa Morar Carioca. Este pretende promover a integração urbana e social definitiva das favelas cariocas até o ano de 2020, como parte do legado das Olimpíadas, tendo sido selecionados 40 escritórios de arquitetura para desenvolver os respectivos projetos. A recuperação de centros urbanos vêm sendo justificada em várias partes do mundo com base no interesse em se aproveitar uma infraestrutura de boa qualidade, caída em desuso ou subutilizada. No caso do Rio, a esta infraestrutura deve ser agregada o patrimônio arquitetônico doméstico e civil presentes na Região Central, cuja qualidade e escala é amplamente reconhecida como excepcional. A recuperação desta região, mesmo que destituída das funções que teve no passado, deverá compatibilizar a permanência de 183 ARQTEXTO 17 suas atividades CBD com a manutenção de um patrimônio histórico ao qual se dê uso e vitalidade. O Rio é, em primeiro lugar, seu centro histórico. Não há no momento uma visão e plano para recuperação da Região Central, plano que deveria incluir recuperação de sua infraestrutura de saneamento, devolução de “terra-morta” ao mercado imobiliário, e incentivos à recuperação habitacional do seu casario. As autoridades locais deveriam evitar erros tais como a recente proposta de retirada da Câmara de Vereadores de sua atual localização nas Cinelândia. No entanto, o Porto Maravilha que dá inicio à recuperação da região portuária, num projeto de escala até agora desconhecida para os cariocas, acerta multiplamente: cria áreas para desenvolvimento imobiliário residencial e comercial bem localizadas e de qualidade. e separa áreas passíveis de intensificação de uso das áreas patrimoniais, protegendo-as. A universal preocupação com a questão ambiental, empurrada pela preocupação com as mudanças climáticas, implicará em reforço de propostas de transporte público e elétrico, edificações energeticamente eficientes, e com a ampliação de áreas verdes. Já o patrimônio histórico e cultural edificado estará ameaçado pelo vigor do setor imobiliário. Os grupos interessados em sua defesa são pequenos e desarticulados e sua mensagem, diferente da mensagem ambiental, encontra pouca guarida entre os jovens. Por fim, vem à mente a questão da governança da Região Metropolitana, atualmente desprovida de qualquer estrutura de coordenação. A literatura61 sobre o tema diz que estruturas de governança complexas ou multi-setoriais não encontram guarida quer na teoria, quer na prática da boa gestão governamental. A alternativa proposta tem sido o da realização de acordos intermunicipais (convênios ou consórcios) voltados para objetos específicos, como transportes, saneamento, etc., para suas estruturas físicas ou para serviços efetivamente trans-municipais. A questão dos transportes na Região Metropolitana do Rio é uma das que merece ser especial atenção. Fica a pergunta: Seria este conjunto de fatores e intervenções, mesmo que configurando-se da melhor maneira possível, suficiente para assegurar o crescimento sustentável do Rio de Janeiro e a melhoria da qualidade de vida de sua população? Diriam alguns observadores que, embora necessários, não seriam suficientes nas condições de uma moderna economia urbana. Faltam à região melhores padrões educacionais e pesam sobre sua gente (e a quem a ela queira se agregar) restrições à capacidade de empreender. Garantidas estas condições, aí, sim, poderia o Rio despegar. 184 NOTES 1 Agradeço os comentários feitos sobre a primeira versão deste texto por Carlos Eduardo D. Comas, Joel Ghivelder, José Luiz Alquéres, Maria Teresa F. Serra, Ricardo Pontual e Tim Campbell. 2 Neste artigo, consideram-se como pertencentes à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, os seguintes municípios: Mangaratiba, Itaguaí, Paracambi, Japeri, Seropédica, Queimados, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti, Petrópolis, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Tangua, Itaboraí, São Gonçalo, Maricá, Niterói, um a mais do que a lista oficial, que não contem Petrópolis. 3 André Urani, Trilhas para o Rio – Do Reconhecimento da Queda à Reinvenção do Futuro, 2008, Elsevier Editora Ltda. 1 4 4 My thanks for the comments on this text’s first version by Carlos Eduardo D. Comas, Joel Ghivelder, José Luiz Alquéres, Maria Teresa F. Serra, Ricardo Pontual, and Tim Campbell. 2 This article considers as part of the Rio de Janeiro Metropolitan Region the following municipalities: Mangaratiba, Itaguaí, Paracambi, Japeri, Seropédica, Queimados, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti, Petrópolis, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Tanguá, Itaboraí, São Gonçalo, Maricá, Niterói, one more than the official list, which does not include Petrópolis. 3 André Urani, Trilhas para o Rio – do Reconhecimento da Queda à Reinvenção do Futuro, 2008, Elsevier Editora Ltda. TAXAS GEOMÉTRICAS DE CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO ANUAL 1980/1991 1991/2000 GEOMETRIC RATES OF ANNUAL POPULATION GROWTH 1980/1991 1980/2000 Brasil 1,93% 1,63% 1,79% RMRJ 1,03% 1,17% 1,09% Rio de Janeiro 0,67% 0,74% 0,70% Fonte: Censos Demográficos IBGE. 5 Carlos Alberto Sardenberg. A Bolsa é para a Escola. O Globo, 2 de março de 2011. 6 Há, no entanto, desvios de conduta na política macroeconômica e importantes reformas setoriais ainda não levadas a cabo, que preocupam a muitos analistas da política econômica. Ninguém menos do que Albert Fishlow, observador simpático aos progressos da política econômica brasileira, chamou recentemente atenção para o nível total de investimento que é requerido para sustentar o crescimento nacional e para o fato de que o papel de aumentá-lo cabe à poupança interna, com crescimento menor do consumo privado e público. (Política Econômica. Brasil avança, mas ainda há muito a melhorar., diz Fishlow. Valor, 1 de março de 2011). 7 Em 2011, o Rio abrigará o Fórum Econômico Mundial Latin America em abril, em agosto, o Ultimate Fighting Championship, e em setembro/outubro, o Rock in Rio. 8 Ao final da década instalaram-se na região duas fábricas, a primeira de pneus especiais, da Michelin, e a segunda, de embalagens de vidro, da AMBEV. 9 Mansueto Almeida: As compras da Petrobras: controle seu entusiasmo, Valor Econômico, 4/04/2011. 10 O governador do estado estendeu aos Municípios de Queimados, Paracambi e Japeri a aplicação da lei 5.636 que reduz de 19% para 2% a alíquota do imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS). 11 Segundo o site “geólogo.com.br”, a “Petrobras segue revisando, a toque de caixa, seu plano de negócios para o período 2009-2020, que necessitou de adaptações por conta das novas possibilidades abertas pela exploração de petróleo na camada pré-sal. Mas alguns dos detalhes já vão sendo revelados por seus executivos: nesta terça-feira, o gerente de Exploração e Produção do Pré-sal, José Formigli, declarou que o ano de 2017 terá um marco significativo na produção, com oito sistemas in- 1991/2000 1980/2000 Brazil 1,93% 1,63% 1,79% Rio Metropolitan Region Rio de Janeiro 1,03% 1,17% 1,09% Rio de Janeiro 0,67% 0,74% 0,70% Source: IBGE Demographic Census. Carlos Alberto Sardenberg. A Bolsa é para a Escola. O Globo, March 2, 2011. 6 There are, however, deviations of conduct in macro-economic policy and important sectoral improvements not yet concluded, which concern a number of economic policy analysts. None other than Albert Fishlow, a sympathetic observer of the advances in Brazilian economic policy, recently pointed out the total investment level required to sustain domestic growth, and the fact that domestic savings are responsible for increasing it, with a lower growth in private and public consumption. (Economic Policy. Brazil advances, yet there is plenty to improve, says Fishlow. Valor, March 1, 2011). 7 In 2011 Rio will host the Latin America World Economic Forum in April, in August the Ultimate Fighting Championship, and in September / October the Rock in Rio festival. 8 Late in the decade two factories were built in the region, the first by Michelin to produce special tires and the second by Ambev for glass containers. 9 Mansueto Almeida: Purchases by Petrobras: control your enthusiasm, Valor Econômico, April 4, 2011. 10 The state governor extended to the municipalities of Queimados, Paracambi, and Japeri the application of Law 5636, which reduces the ICMS (value-added) tax rate from 19% to 2%. 11 According to the “geólogo.com.br” site, “Petrobras continues to hastily revise its business plan for 2009-2020, which needed to be adapted in the light of the new possibilities brought about by the pre-salt stratum’s oil finds. Yet some of the details are being disclosed to its executives: This Tuesday 5 185 ARQTEXTO 17 NOTAS ARQTEXTO 17 stalados no cluster da bacia de Santos, com uma produção conjunta de 960 mil barris diários, além dos 300 mil produzidos pelos planos pilotos do projeto. Na prática, isso equivale a dizer que a produção em escala comercial no pré-sal será iniciada neste ano”. 12 Corden WM e Neary JP (1982). “Booming Sector and Deindustrialisation in a Small Open Economy”. The Economic Journal 92 (December): 825–848. 13 O Polo de Biotecnologia do Fundão funciona como incubadora de empresas de biotecnologia e fornece terrenos para empresas de base biotecnológica que requeiram instalações de porte industrial. Em 52 mil m2, abriga 10 empresas. 14 Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) e o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV). Estudo teve como objetivo revelar a avaliação que o carioca faz de sua percepção de Inclusão, de Justiça, Segurança Pública, Universalismo e Igualdade, bem como a dimensão dos serviços como Educação, Saúde, Infraestrutura Básica, Transporte, Ambiente de Convivência e Cultura. Foram feitas 1.200 entrevistas feitas em janeiro de 2011, no Complexo do Alemão. 15 A expressão “normal” em referencia ao atual governo do Rio é tomada de Andre Urani em Trilhas para o Rio. 16 Rodolfo Giuliani, mayor de Nova Iorque de 1994/02 e Antanas Mockus Sivicka, alcalde de Bogota nos períodos 1991/93 e 2001/03. 17 Global Metro Monitor: The Path to Economic Decovery, December 2010. Prepared by Metropolitan Policy Program, The Brookings Institution, LSE CITIES, London School of Economics and Political Science with Deutsche Bank Research supported by the Alfred Herrhausen Society, the International Forum of Deutsche Bank. 18 Lidera a lista com o ranking das melhores universidades do mundo (Times Higher Education de Londres) a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. A lista é majoritariamente composta por instituições norte-americanas, com o Japão em segundo lugar. Países emergentes, como Rússia, China, Cingapura e Hong Kong, têm universidades entre as 50 melhores. Já Coreia do Sul, Taiwan e Índia aparecem entre as 51ª e 100º posições. Nenhuma universidade brasileira aparece entre as 100 primeiras. 19 Edward Glaeser, Triumph of the City, How our Greatest Invention Makes us Richer, Smarter, Greener, Healthier, and Happier. The Penguin Press, New York, 2011. 20 O Plano Lucio Costa tem quatro elementos dignos de mérito: o esquema viário de integração com a cidade; a criação de um centro urbano alternativo (que promete vir a ser efetivamente um importante centro alternativo para a Região Metropolitana; a proteção de ambientes naturais de ocupação humana; e os núcleos de ocupação habitacional (menos importantes do ponto de vista de um urbanismo não modernista). 21 Deyan Sudjic, The 100 Mile City. Harcourt Brace, 1992. 22 A expansão aparentemente sem limites de áreas urbanas foi objeto de amplo e interessante estudo, onde recebeu comprovação empírica, explicação e métrica. Ver: The Dynamics of Global Urban Expansion, Shlomo Angel, Stephen C. Sheppard and Daniel L. Civco with Robert Buckley, Anna Chabaeva, Lucy Gitlin, Alison Kraley, Jason Parent, and Micah Perlin; Transport and Urban Development Department, The World Bank, Washington D.C., September 2005. 23 No seu diagnóstico, o PDTU/RMRJ revelou a distribuição modal dos deslocamentos casa-trabalho (indicador chave nos 186 José Formigli, Pre-salt Exploration and Production manager, stated that 2017 will show a significant production milestone, with eight systems put in place in the Santos cluster and a joint production of 960 thousand barrels daily, in addition to 300 thousand barrels produced by the project’s pilot plans. In practice, this is equal to saying that pre-salt commercial production will start this year”. 12 Corden WM and Neary JP (1982). “Booming Sector and Deindustrialisation in a Small Open Economy”. The Economic Journal 92 (December): 825–848. 13 The Biotechnology Center in the island of Fundão acts as and biotechnology company incubator and supplies land for biotechnology-based companies that require industrial facilities. It harbors ten companies in 52 thousand sq. meters. 14 Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) and Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV). The study’s purpose was to disclose the opinion by Rio’s inhabitants if Inclusion, Justice, Public Security, Universalism, and Equality, in addition to the dimension of services such as Education, Health, Basic Infrastructure, Transport, Living Environment, and Culture. In January 2011, 1200 interviews were held in the Complexo do Alemão favela. 15 The “normal” expression referring to Rio’s current government is borrowed from André Urani, in “Trilhas para o Rio”. 16 Rodolfo Giuliani, mayor of New York (1994/2002) and Antanas Mockus Sivicka, mayor of Bogotá during the periods 1991/1993 and 2001/2003. 17 Global Metro Monitor: The Path to Economic Recovery, December 2010. Prepared by Metropolitan Policy Program, The Brookings Institution, LSE CITIES, London School of Economics and Political Science, with Deutsche Bank Research supported by the Alfred Herrhausen Society, the International Forum of Deutsche Bank. 18 Harvard University in the United States heads the list of the world’s best universities (Times Higher Education, London). The list is largely composed of US institutions, with Japan in second place. Emerging countries such as Russia, China, Singapore, and Hong Kong have universities among the top 50. South Korea, Taiwan, and India rank from the 51st to the 100th position. There are no Brazilian universities among the top 100. 19 Edward Glaeser, Triumph of the City, How our Greatest Invention Makes us Richer, Smarter, Greener, Healthier, and Happier. The Penguin Press, New York, 2011. 20 The Lucio Costa plan has four components worthy of mention: the traffic system for integration with the city; creation of an alternative urban hub (with real prospects of actually becoming an important alternative hub for the Metropolitan Region); protection of natural environments of human occupation; and housing areas (less important as non-modernistic urban planning). 21 Deyan Sudjic, The 100-Mile City. Harcourt Brace, 1992. 22 The apparently limitless expansion of urban areas was the subject of an extensive and interesting study, with empirical evidence, explanations, and metrics. Seer: The Dynamics of Global Urban Expansion, Shlomo Angel, Stephen C. Sheppard and Daniel L. Civco with Robert Buckley, Anna Chabaeva, Lucy Gitlin, Alison Kraley, Jason Parent, and Micah Perlin; Transport and Urban Development Department, The World Bank, Washington D.C., September 2005. 23 In its analysis, the PDTU/RMRJ described the modal breakdown of home-to-work commuting (a key indicator in urban transports) as being: metro and trains, 4%; buses and vans, 60%; private cars, taxis and motorcycles, 14%; bicycles and on foot, 21% (the num- ber of cars in the city grows rapidly – 2009 data allocate 2.7 persons per vehicle, as against 3.8 in 2001.) 24 Interstate roads that joint the Arco Metropolitano by-pass highway are scheduled for improvements and expansion, one of the most important being the BR-040 stretch between Rio and Petrópolis, reducing traveling time between these two cities. 25 Municipal Government of Belford Roxo. City of Belford Roxo Master Plan. Complementary Law no. 84 dated January 12, 2007; Municipal Government of Duque de Caxias. City of Duque de Caxias Master Plan, in the Law approved on October 10, 2006. Municipal Government of Mesquita. City of Mesquita Master Plan. Law no. 355 dated October 25, 2006; Municipal Government of São João De Meriti. City of São João de Meriti Master Plan. Complementary Law no. 89 dated November 21, 2006. 26 O Globo: October 30, 2010 (based on data from IBGE). 27 In its analysis, the PDTU/RMRJ described the modal breakdown of home-to-work commuting (a key indicator in urban transports) as being: metro and trains, 4%; buses and vans, 60%; private cars, taxis and motorcycles, 14%; bicycles and on foot, 21% (the number of cars in the city grows rapidly – 2009 data allocate 2.7 persons per vehicle, as against 3.8 in 2001). 28 Institute for Transport and Development Policy, BRT Planning Guide, 2007. 29 In conclusion, it should be noted that as part of the remodeling of the urban transport system, Rio’s local government has planned to out in place 20 traffic corridors, the BRT system, allowing priority to mass transport. In the BRT systems, vehicles and existing routes will be reorganized, ensuring greater efficiency and speed by buses. Rio began to implement this system with Avenida N.S. de Copacabana, in which two of its four lanes are reserved for mass transport, and the bus lines are divided into three groups with 17 bus stops, with an estimated operating speed in peak hours rising from 13 km to 24 km per hour, a decline in time of roughly 40% to cover the route. Please note also that the PDTU/MRRJ asserts that 21% of total commuting takes place by bicycle or on foot, more than the total using metro, trains, private cars, taxis, and motorcycles for this same purpose. Commuting by bicycle or on foot is important environmentally, as an alternative to motorized commuting, and as for income comparison, the lower income groups tend to go to work more on foot. Nonetheless, the local government plan for bicycle commuting is hardly expressive. There are also no signs of improvements for the walking public, as sidewalks in Rio are notoriously deficient, even in higher income districts (which in this regard brings to mind the timely Rio-Cidade program). 30 Presentation held at Clube de Engenharia on April 29, 2011 31 The nature of the city center’s occupation, as provided in the local government’s study, is: (i) 1,770,048 m² in built-up area of residential buildings (assuming 60 m² units, there is a total of 22,600 units which at 2.5 occupants per unit, i.e.: a fixed population of 59,000; and (ii) 2,559,353 m² in built-up area of commercial buildings; and (iii) number of parking spaces residential buildings, 23,600, and for commercial buildings, 85,312. 32 O Imperador dos Terrenos da Barra, Paola de Moura, Valor Econômico, March 14, 2011. 33 Plano de Legado Urbano e Ambiental, Olimpíadas – Rio, 2016, City Government of Rio de Janeiro. 34 The sambódromo should undergo extensive refurbishing in 2011 / 2012 as required for the Carnaval and other commercial uses. 187 ARQTEXTO 17 transportes urbanos) como sendo: metro e trem, 4%; ônibus e van, 60%; veículos particulares, taxi e moto, 14%; bicicleta e viagens a pé, 21% (O número de carros na cidade cresce velozmente – dados de 2009 revelam a presença de 2,7 pessoas por veículo, enquanto em 2001 eram 3,8). 24 As estradas interestaduais que interceptam o Arco Metropolitano tem melhoria e ampliação programadas, uma das mais importantes sendo o redesenho da BR-040 no trecho Rio-Petrópolis, reduzindo o tempo de acesso entre estas duas cidades. 25 Prefeitura Municipal de Belford Roxo. Plano Diretor da Cidade de Belford Roxo. Lei Complementar no084 de 12 de janeiro de 2007; Prefeitura Municipal de Duque De Caxias. Plano Diretor da Cidade de Duque de Caxias S/N da Lei aprovado em 10 de outubro de 2006. Prefeitura Municipal de Mesquita. Plano Diretor da Cidade de Mesquita. Lei No355 de 25 de Outubro De 2006; Prefeitura Municipal de São João De Meriti. Plano Diretor da Cidade de São João De Meriti. Lei Complementar no089 de 21 de Novembro de 2006. 26 O Globo: 30/10/2010 (a partir de dados do IBGE). 27 No seu diagnóstico, o PDTU/RMRJ revelou a distribuição modal dos deslocamentos casa-trabalho (indicador chave nos transportes urbanos) como sendo: metro e trem, 4%; ônibus e van, 60%; veículos particulares, taxi e moto, 14%; bicicleta e viagens a pé, 21% (O número de carros na cidade cresce velozmente – dados de 2009 revelam a presença de 2,7 pessoas por veículo, enquanto em 2001 eram 3,8). 28 Institute for Transportation and Development Policy, BRT Planning Guide, 2007. 29 Finalmente, vale salientar que, como parte desta racionalização do sistema de transportes urbanos, a Prefeitura do Rio planejou o estabelecimento de 20 corredores viários, os BRS, que permitem dar prioridade aos transportes coletivos. Nos BRS, tanto as frotas quanto os itinerários das linhas existentes são racionalizadas, garantindo maior eficiência e velocidade aos ônibus. O Rio deu início à implantação deste sistema pela Avenida NS Copacabana, onde duas de suas quatro faixas foram dedicadas ao transporte público e as linhas de ônibus serão divididas em três grupos com 17 pontos de parada, prevendo-se que sua velocidade operacional passe dos 13 km/h nos horários de pico para 24 km/h, com redução aproximada de 40 % no tempo de percurso. Vale salientar, também que no PDTU/MRRJ está indicado que 21% do total de viagens casa-trabalho são feitas de bicicleta e a pé, mais do que a soma de viagens utilizando-se metrô, trens, veículos particulares, taxis e motos, para o mesmo fim. Viagens a pé e de bicicleta têm importância tanto do ponto de vista ambiental, sendo as viagens a pé e de bicicleta uma alternativa para viagens motorizadas, quanto da equidade de renda, sendo os grupos de renda mais baixa os mais assíduos nas viagens a pé. No entanto, o plano para um sistema municipal de circulação de bicicletas é pouco expressivo. Tampouco há indicações relativas a melhoria da circulação a pé, quando as calçadas do Rio são notòriamente precárias, mesmo em bairros de renda alta (trazendo à mente, neste tocante, o papel oportuno do Programa Rio-Cidade). 30 Apresentação feita no Clube de Engenharia em 29/04/2011. 31 As características de ocupação do centro metropolitano, tal como previsto no estudo da prefeitura, são: (i) área de construção das edificações residenciais de 1.770.048m2 (na base de unidades de 60m2, tem-se um total de 22.600 unidades que com 2,5 habitantes/unidade, ou seja uma uma população fixa de 59.000 pessoas; e (ii) área de construção das edificações comerciais de 2.559.353m2; e (iii) n.º de vagas das edificações ARQTEXTO 17 residenciais, 23.600 e das edificações comerciais, 85.312. 32 O imperador dos terrenos da Barra, Paola de Moura, Valor Econômico, 14 de março de 2011. 33 Plano de Legado Urbano e Ambiental, Olimpíadas – Rio, 2016, Prefeitura do Rio de Janeiro. 34 O sambódromo deverá passar em 2011/2012 por uma extensa remodelação ditada por interesses carnavalescos e comerciais outros. 35 “Not in my backyard” é a voz daqueles que embora concordando com aspectos positivos das medidas ambientalistas, não querem aceitar os seus ônus. 36 A Prefeitura anunciou a construção, nas proximidades da futura Vila Olímpica, de instalações permanentes para concertos populares, a Cidade do Rock, que voltará a abrigar a popular e bem sucedida série “Rock in Rio”. 37 O CBD do Rio, conhecido popularmente como “Cidade”, e, na terminologia oficial, Região Administrativa II (RAII), é parte de uma região central mais ampla, definida, na mesma terminologia, como AP1 (Área de Planejamento 1). A AP1 contém, além da RA do Centro (CDB), as RAs da Área Portuária (RA I); do Rio Comprido (RA III), de São Cristóvão (RA VII) e de Santa Teresa (RA XXIII), com seus respectivos bairros, somando uma área de cerca de 3,3 mil hectares que corresponde a 2,7% do território do Município. 38 Tudo faz crer que a tendência ao esvaziamento populacional da região central e de seu CDB se manteve na década de 2000-2010. 39 A primeira parte desta seção toma emprestado com liberalidade de Paulo Ávila, “As Áreas Centrais do Rio de Janeiro”, mimeo, Instituto LIGHT para o Desenvolvimento Urbano e Social, Paulo Ávila, Consultor. 40 Indústria de transformação, serviços industriais de utilidade pública, comércio, serviços e administração pública. 41 Cadastro Imobiliário da Secretaria de Municipal de Fazenda, Coordenação do IPTU. 42 Razões para “terra morta” sendo, entre outras, a ausência de herdeiro, divida ativa alta, longas pendências judiciais, entre as quais inventários prolongados, etc. 43 Dentre os projetos residenciais, o mais interessante é o “Cores da Lapa”. Dentre os comerciais, sem pretensão a exaustão, aparecem os retrofits dos edifícios Sul America, Serrador, Manchete, e Hotel Gloria, todos notáveis em seu tempo; construção nos terrenos desde sempre vazios ao longo da Presidente Vargas; de torres para BNDES e Petrobras na Lapa. 44 Grupos desta natureza são encontrados no: Estácio/Cidade Nova (agitado pelo Metro), na Lapa (em torno a comerciantes, reunidos no Novo Rio Antigo), na Rua da Alfândega e arredores (em torno a comerciantes reunidos no SAARA), na Praça XV (em articulação de comerciantes, Associação Comercial do Rio de Janeiro, e Instituto de Merchandising); na Praça Tiradentes (apoiado pelo Projeto Monumenta); e, na região da Marechal Floriano (em torno a comerciantes, reunidos no Polo da Nova Rua Larga e da LIGHT). 45 Em 2002, o Instituto Pereira Passos submeteu ao BNDES o exame do financiamento de 6 linhas de VLT para o centro do Rio. Há noticia de que os projetos voltaram à pauta de Prefeitura. 46 Berlim oferece um exemplo excelente de ocupação incremental de vazios urbanos com muita qualidade. 47 O fato de que a propriedade dos terrenos é majoritariamente da união, estado e Municípios e de que o número de 188 “Not in my backyard” is the voice of those who, although in agreement with the positive aspects of environmental policies, are reluctant to accept their cost. 36 The local government announced that it would build the Cidade do Rock permanent facilities for popular concerts, to hold the successful “Rock in Rio” festival, in the neighborhood of the future Olympic Village. 37 Rio’s CBD, widely known as “Cidade” and officially Região Administrativa II (RAII), is part of a more extensive central region, officially the AP1 (Área de Planejamento 1). Besides containing the city center’s RA, AP1 includes the Port Area (RA I); Rio Comprido (RA III), São Cristóvão (RA VII), and Santa Teresa (RA XXIII) and their respective districts, covering an area of roughly 3.3 thousand hectares or equal to 2.7% of the municipality’s territory. 38 It is accepted that the trend of a declining population in the central region and CBD continued in the 2000-2010 period. 39 This section’s first part borrows generously from Paulo Ávila: “As Áreas Centrais do Rio de Janeiro”, mimeo, Instituto Light para o Desenvolvimento Urbano e Social, Paulo Ávila, Consultant. 40 Processing industry, public service industrial services, trade, services, and public administration. 41 Real Estate Registry, City Secretary of Finance, IPTU (property tax) Coordination. 42 The reasons for “dead land” being among others the lack of heirs, high indebtedness with government, extended court proceedings, leading to endless probate proceedings, etc. 43 The most interesting among housing projects is the “Cores da Lapa”. In the commercial area, naming but a few, there are the retrofits of the Sul America, Serrador, Manchete, and Hotel Gloria buildings, all of which exceptional in their days; building in the long-vacant lots along Avenida Presidente Vargas; the BNDES and Petrobras towers in the Lapa district. 44 Groups of this kind are found in: Estácio/Cidade Nova (revived by the Metro), Lapa (around the retail trade gathered in the Novo Rio Antigo), Rua da Alfândega and surroundings (around the retail trade gathered in the SAARA), Praça XV (arising from efforts by the retail trade, Associação Comercial do Rio de Janeiro, and Instituto de Merchandising); Praça Tiradentes (supported by Projeto Monumenta); and in the region of Avenida Marechal Floriano (around the retail trade gathered in the Nova Rua Larga hub and Light S.A.). 45 In 2002 Instituto Pereira Passos submitted to BNDES the funding project for six streetcar lines in the Rio city center. It is said that these projects have returned to the City Government’s agenda. 46 Berlin provides an excellent example of incrementally occupying vacant urban spaces with great quality. 47 The fact that the land is owned chiefly by the federal, state and local governments, and that the number of idle property is a majority, makes it easier to prepare a large-scale project. 48 Rio made an awkward attempt in the mid 2010s to introduce spectacular architectural projects in order to revive and value urban areas – the so-called Bilbao effect. The dockside Pier Mauá was to have a branch of the Guggenheim museum by Gehry, and Barra da Tijuca saw the construction of the Cidade da Música, by Portzamparc, inspired by the Cité de La Musique in Paris. The idea for a Guggenheim museum in Rio was set aside and replaced by the Museu do Amanhã, in the hands of Calatrava, also a renowned architect. Following interruptions in the building site and extended controversies, Cidade da Música should be delivered in 2011. The Cidade do Samba was to be a part of this series of inaugurations. 49 Verena Andreatto: Porto Maravilha: Seis Casos de Sucesso de Revitalização Portuária, Casa da Palavra 2010. 35 50 Comparing La Defense and Canary Wharf to Porto Maravilha La Defense Canary Wharf Distance from city center 6-8 km 5- 7 km Age 50 years 20 years Area 31 a 161 ha 40 ha Built-up area 3.5 milhões m2 1.3 milhões m2 Buildings 72 e 14 > 150m 12 de 16 a 50 andares Maior prédio: All Canada One (50 andares), 114.000 m2 9 > 150m c> 15 180,000 90,000 Number of passengers in the main metro station Yearly average of 70,000 entries and exits in the train / metro system 46% metro, 23% train; 9% cars, and 10 % on foot, 12% others Local metro station 65,000 per day Parking Spaces 65,000 per day Residents 20,000 Hotels 2,600 beds 50 COMPARANDO LA DEFENSE E CANARY WHARF AO PORTO MARAVILHA La Defense Canary Wharf Distância do centro 6-8 km 5- 7 km Idade 50 anos 20 anos Área 31 a 161 ha 40 ha Área construída 3.5 milhões m 1.3 milhões m Edificações 72 e 14 > 150m 12 de 16 a 50 andares Maior prédio: All Canada One (50 andares), 114.000 m2 2 Edificações a partir de 2010 9 > 150m Número de postos de trabalho 180.000 Número de passageiros na estação principal de metrô 70.000 media/ ano entradas e saídas no sistema trem/metro Vagas automóveis 65.000/dia Residentes 20.000 Hotéis 2.600 leitos Number posts 2 c> 15 90.000 as of of work 100,000 Source: Internet sites The Novas Alternativas program acts in the reinstatement, recovery, and building of property in the Rio city center, by preparing projects that preserve the buildings’ basic architectural features while at the same time devising modern and comfortable building solutions, accessible to the lower income strata. The program recovered large houses and tenements in a number of streets in Rio’s city center (such as Santanna, Senador Pompeu, Sacadura Cabral, and Travessa do Mosqueira), yet unfortunately in a very reduced scale. The key challenge faced by Novas Alternativas is precisely to prove its feasibility in a broader scale. To this end, the use of funds from the Minha Casa, Minha Vida program is being considered, in addition to partnerships with owners, builders, and entrepreneurs interested in reinstating city center buildings. 52 A 62% portion of the land belongs to the federal government, and 12% to the state and local governments. The federal government will transfer its properties to the City. 53 When higher income groups move to new housing, they leave their previous homes for occupation at lower prices by lower income groups, as occurred for example in all of Rio’s city center 51 46 % metro, 23% trem; 9% carro e 10 % a pé, 12% outros Estação local do metro 65.000/ dia 10.000 Fonte: sites internet O Programa Novas Alternativas atua na re-habilitação, recuperação e construção de imóveis no Centro do Rio, através da realização de projetos capazes de preservar as características arquitetônicas básicas dos imóvel ao mesmo tempo em que 51 Buildings 2010 189 ARQTEXTO 17 imóveis sem uso é a grande maioria, facilita a preparação de um projeto em grande escala. 48 Em meados da década de 2010, o Rio intentou, um tanto atabalhoadamente, a estratégia de implantação de projetos arquitetônicos vistosos no apoio a revitalização e valorização de áreas urbanas – o chamado efeito Bilbao. Para o Pier Mauá, propôs-e a instalação de uma filial do Museu Guggenheim (Gehry) e na Barra da Tijuca, iniciou-se a construção da Cidade da Música (Portzamparc), nos moldes da Cité de La Musique parisiense. A idéia do Guggenheim carioca foi abandonada e substituída pela do Museu do Amanhã, entregue a Calatrava, arquiteto igualmente notável. A Cidade da Música, depois de interrupções nas obras e muita controvérsia, deve ser entregue ao público em 2011. A Cidade do Samba faria parte desta safra de iniciativas. 49 Verena Andreatto: Porto Maravilha: Seis Casos de Sucesso de Revitalização Portuária, Casa da Palavra 2010. ARQTEXTO 17 cria soluções imobiliárias modernas e confortáveis, acessíveis a níveis de renda mais baixo. O programa recuperou casarões e cortiços em várias ruas e áreas do Centro do Rio (Ruas de Santanna, Senador Pompeu, Sacadura Cabral e Travessa do Mosqueira) apenas, infelizmente, ainda em escala muito pequena. O grande desafio do Novas Alternativas é exatamente mostrar-se viável em escala mais ampla. Para isto se considera a utilização dos recursos e subsídios do programa Minha Casa, Minha Vida e, também, a parceria com proprietários, construtores e empreendedores interessados em rehabilitar imóveis no centro. 52 62% das terras na região pertencem à união e 12% ao Estado e Município. A União está passando a propriedade de seus bens para o Município. 53 Grupos de renda mais alta ao ocupar novas habitações deixam suas moradias anteriores para serem ocupadas, a preços menores, para grupos de renda mais baixa, tal como aconteceu, por exemplo no centro e em toda a Zona Sul do Rio. Naturalmente que através da “filtração”, os grupos de renda mais baixa demoram a ter acesso ao mercado habitacional. 54 Parte desta atividade crescente do setor imobiliário do Rio se deve ao Programa Municipal de Habitação “Minha Casa, Minha Vida”, que, em parceria com o Governo Federal, tem como meta a construção de moradias para famílias que ganham até 10 salários mínimos. No Rio, o programa prioriza famílias com renda até três salários através da concessão de subsídios e isenção de impostos e de taxas de análise de crédito e seguros. O subsídio varia com a renda familiar. Para famílias de até três salários mínimos, a prestação mensal é de 10% da renda, estendendo-se por 10 anos (começando em R$50,00 para quem recebe salário mínimo).Para famílias que ganham de três a dez salários mínimos, o subsídio também varia com a renda, para um financiamento que cobre 100% do valor do imóvel em 30 anos. As taxas de juros variam segundo o mesmo critério, indo de 5%/ano (+TR) até 8,16% (+TR) na faixa de 10 salários. A prestação inicial é calculada de acordo com a capacidade da pagamento da família e recalculada anualmente. Um Fundo Garantidor cobre temporariamente (de 12 a 36 prestações, dependendo da faixa de renda) a perda de capacidade de pagamento do comprador, depois de 6 prestações pagas. No Rio, os imóveis são construídos por empresas contratadas pela Caixa, que devem seguir um caderno de encargos elaborado pela Prefeitura do Rio. A Prefeitura isentou de Imposto sobre Serviços e do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis os empreendimentos do programa (100% até 6 salários e 50% até 10). Cancelou também dívidas do IPTU dos imóveis particulares transformados em moradias na área central e na Zona Norte. Limitou os processos de licenciamento a 10 dias. E, através da Secretaria de Habitação, criou um banco de imóveis, identificando terrenos públicos e privados. 55 Importante também é a possibilidade de fazer recurso a escala, materiais e tecnologias que reduzam o custo das construções. 56 “Em 2005, o PIB da Região Metropolitana era apenas 20% superior ao registrado um quarto de século antes” André Urani, Trilhas para o Rio – Do Reconhecimento da Queda à Reinvenção do Futuro, 2008, Elsevier Editora Ltda, pg.44. 57 AP1 (Centro e Santa Teresa); AP2 (Zona Sul e Zona Norte); AP3 (Subúrbios e Ilha do Governador): AP4 (Barra e Jacarepaguá); AP5 (Zona Oeste). 58 Programas desta natureza tendem a ser mais efetivos quando as condições que os criaram não mais está presente – ou 190 and South Zone. By means of “filtering”, it will surely take time for lower income groups to access the housing market. 54 A part of this growing activity in Rio’s real estate market is due to the local government’s Minha Casa, Minha Vida housing program, which in a partnership with the federal government is intended to build homes for families earning not more than ten minimum salaries. In Rio, the program aims at families that earn not more than three minimum salaries, by granting subsidies and exemption of taxes, credit analysis fees, and insurance. This subsidy will vary according to the family income. In the case of families that earn not more than three minimum salaries, the monthly installment will be 10% of income over ten years (starting with R$ 50.00 for those who earn one minimum salary). For those families that earn from three to ten minimum salaries, the subsidy will also vary according to income, for a loan covering 100% of the property’s value over 30 years. Interest rates vary according to the same criteria, from 5% p.a. (+TR) to 8.16% p.a. (+TR) in the case of ten minimum salaries. The initial installment is calculated in accordance with a family’s ability to pay and is recalculated every year. A guarantee fund will cover temporarily (from 12 to 36 installments, in accordance with the income level) any purchaser’s loss of payment ability, from the seventh installment onwards. In Rio, housing is built by contractors retained by Caixa Econômica Federal, who should comply with a manual of charges prepared by the city government. The city government has exempted the program’s developments from service tax and property transfer tax (100% up to six minimum salaries and 50% up to ten minimum salaries). It also cancelled property tax debt by private properties converted into housing in the central area and North Zone. Licensing procedures have been limited to ten days. And through the Secretary of Housing, it created a property bank listing public and private properties. 55 Please note the importance of resorting to scale, materials, and technology intended to reduce construction costs. 56 “In 2005 the Metropolitan Region’s GDP was only 20% above that witnessed a quarter of a century previously”, André Urani, Trilhas para o Rio – do Reconhecimento da Queda à Reinvenção do Futuro, 2008, Elsevier Editora Ltda., pg. 44. 57 AP1 (City center and Santa Teresa); AP2 (South and North Zones); AP3 (Suburbs and Ilha do Governador); AP4 (Barra da Tijuca and Jacarepaguá); AP5 (West Zone). 58 Programs of this kind tend to be more effective when the conditions that created them are no longer present – in other words, when there is income and credit to solve the housing problem caused by a growing population, which would otherwise look on favelas as a solution. As seen in this section’s initial discussion, this seems to be on the way to a solution. 59 It is important to compare the current costs of living in a favela with a cheaper formal alternative, but for which, as opposed to favelas, urban services (water, light, garbage collection, property tax, public lighting, etc.) must be paid for. After pacifying the favelas, the doors have opened for these services to be charged, which gradually eliminates the choice of living in favelas. On the other hand, this possibility requires from public administrators a longterm vision when determining costs (fees, levies, taxes) likely to be born at no sacrifice to the local populations. 60 Richard Florida: The Rise of the Creative Class, Basic Books, and Who’s your City? Basic Books. 61 Gérard Divay and Jeanne Wolfe, with the collaboration of Mario Polèse, Metropolitan Governance Background Study: What do We Need to Know? A Rapid Foray into Operational Concerns. ARQTEXTO 17 seja quando há renda e crédito para resolver o problema habitacional do incremento de população que de outra maneira estaria recorrendo às favelas como solução. Como viu-se na discussão inicial desta seção isto parece a caminho de se resolver. 59 É importante comparar os custos correntes de viver-se em uma favela vis-à-vis a alternativa formal mais barata, mas na qual, diferentemente de uma moradia em favela, tem-se que pagar pelos serviços urbanos (água, eletricidade, lixo, IPTU, iluminação pública, etc). Com a pacificação de favelas, abrem-se as portas para que estes serviços passem a ser cobrados, o que eliminaria gradualmente esta preferência por viver em favelas. Por outro lado, esta possibilidade exige dos administradores públicos uma visão de longo prazo no estabelecimento de custos (tarifas, taxas, impostos) que possam ser absorvidos sem sacrifício pelas populações locais. 60 Richard Florida: The Rise of the Creative Class, Basic Books e Who’s your city? Basic Books. 61 Gérard Divay and Jeanne Wolfe, with the collaboration of Mario Polèse, Metropolitan Governance Background Study: What Do We Need to Know? A Rapid Foray Into Operational Concerns. 191