Agronegócios – As Oportunidades Continuam1 “As organizações buscaram, no planejamento estratégico, o recurso gerencial para apoiar o processo de revisão e ajustes. Tal planejamento, no caso do agronegócio e da PD&I para o agronegócio, exige antecipação temporal de pelo menos uma década considerando-se, por exemplo, que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação constituem um processo complexo e de longa maturação” Embrapa. Cenários do Ambiente de Atuação das organizações públicas de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro: 2002 - 2012 Introdução O Brasil é tradicionalmente exportador de bens agrários. Isso não é nenhum segredo. Entretanto, a diversidade de produtos atualmente na pauta de exportação nem sempre foi observada na história nacional. O crescimento populacional interno, o crescimento do comércio internacional e o aumento das exigências da demanda ao redor do mundo incentivaram algumas mudanças na estrutura de produção e na composição dessa pauta, além de estimular os países a buscarem formas mais econômicas de se produzir e com maior padrão de qualidade dos produtos. No caso específico do agronegócio brasileiro, a inovação tecnológica é um dos principais fatores determinantes da posição do país como um dos gigantes da agropecuária. As melhorias genéticas e a seleção de embriões mais ‘evoluídos’ exemplificam o poder da inovação tecnológica sobre o sucesso comercial de um setor que representa cerca de 1/3 de toda a riqueza do país. Diante de tamanha relevância, o Instituto Inovação se propôs a realizar uma investigação mais detalhada sobre a inovação tecnológica do agronegócio brasileiro, seus agentes e suas perspectivas de crescimento. Nesse estudo, trataremos do passado, do presente e do futuro do agronegócio brasileiro, abordando os aspectos da pesquisa e da contribuição da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o aumento da competitividade do país nesse setor. Do passado ao presente De acordo com o IBGE, a agropecuária é um setor de atividade econômica. Podemos considerá-lo como o setor primário da economia, excluindo o extrativismo. Incluímos a agricultura, a pecuária bovina e a criação de outros animais para consumo, além da silvicultura2. Nesse estudo, entretanto, não estamos considerando as atividades pesqueiras. Baseada na definição de agropecuária, podemos classificar agronegócio como toda atividade relacionada a esse setor de atividade econômica. Além da produção agrícola e pecuária e da silvicultura, atividades centrais da cadeia produtiva, também os fornecedores, distribuidores, prestadores de serviços agropecuários e as 1 Esse estudo contou com a colaboração do Sr. José Manuel Cabral de Souza Dias, chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – CENARGEN. 2 A silvicultura é a atividade de criar e desenvolver povoamentos florestais, satisfazendo à necessidade de mercado. Foi adicionada às atividades centrais do agronegócios na década de 90, quando as preocupações com o Meio Ambiente tornaram-se maiores. atividades de pesquisa compõem o que conhecemos como agronegócios (ver esquema figura 1). A Cadeia Produtiva do Agronegócio Atividade Central Atividades Suporte Pesquisa e Desenvolvimento Prestação de Serviços • Educação • Controle • Consultoria • Gestão Ambiental Agricultura, Pecuária e Silvicultura Fornecedores • Defensivos agrícolas • Fertilizantes • Sementes • Máquinas Análise Instituto Inovação Distribuidores Figura 1 Historicamente, a agricultura e a pecuária tiveram grande relevância para a história e para a economia do país. As economias açucareira e cafeeira, e a ocupação do interior utilizando como suporte a pecuária são exemplos dessa importância. Nos século XVII e na segunda metade de século XIX, a cana-de-açúcar e o café, respectivamente, eram os principais produtos brasileiros e destinavam-se essencialmente ao mercado externo. De forma geral, essas economias eram favorecidas pelo clima e solo, e pela baixa competitividade do mercado internacional. Clima e solo, entretanto, cada vez menos determinam a produtividade agropecuária do país. Esses dois fatores, sozinhos, não garantem o sucesso econômico. As experiências mostram que a estrutura de custo e a qualidade dos produtos são fatores fundamentais. Dentro da história brasileira, assim que os holandeses passaram a produzir nas Antilhas açúcar mais barato e com a mesma qualidade que os nossos produtos, instaurou-se a crise em nossa economia monocultora. Hoje o Brasil exporta diversos produtos agropecuários. Destaque para a soja e outros grãos, frutas tropicais, sucos de frutas, pimenta, café, açúcar e carnes. Na mudança de uma economia monoexportadora para uma poliexportadora3, como conhecemos hoje, a pesquisa exerceu um papel fundamental. A instalação do Ministério de Agricultura em 1909 foi um dos marcos iniciais para o fortalecimento do agronegócio nacional. Com sua criação, surgiram as primeiras fazendas experimentais e institutos de pesquisa direcionados à agropecuária. Os 3 Referimos monoexportadora aquela economia cuja pauta de exportação depende de um único produto, como era o Brasil no século XVII, com a cana-de-açúcar e no século XIX com o café. O termo poliexportador refere-se a uma economia cuja pauta de exportação é composta por diversos produtos, de forma que se uma crise se instaurar num mercado unicamente, não afeta drasticamente a economia do país. primeiros resultados das pesquisas e experimentos começaram a surgir após 1913, com as pesquisas sobre cana-de-açúcar. Elas proporcionaram um aumento da produtividade dessa cultura (passando de uma média de 55 toneladas por hectare para 105) e o país iniciou a exportação de mudas de cana para México, Irã, África do Sul, Formosa, entre outros4. Os avanços da pesquisa continuaram de forma marginal até a década de 1970. Entre os principais problemas estava a falta de coordenação dos trabalhos, que não seguiam nenhuma política direcionada ao agronegócio. Em 1973, com a criação da Embrapa, a pesquisa ganhou em profissionalismo e coordenação. A figura a seguir apresenta o resumo da evolução histórica do agronegócio no país: As fases do Agronegócio Brasileiro Até 1900 Entre 1900 e 1973 • Ausência de pesquisa e desenvolvimento • Início da pesquisa aplicada brasileira • Baixa competitividade no mercado internacional • Desenvolvimento isolados e desordenados • Tradicionalmente monoexportador • Baixíssimos níveis de investimento em P&D • Destaque para a cana-de-açúcar e o café, além da pecuária extensiva • Aumento da competitividade no mercado internacional • Início da diversificação da pauta de exportação agropecuária • Primeiros exportações de mudas e sementes de cana-de-açúcar desenvolvidas em laboratório Era EMBRAPA • Planejamento e gestão por diretrizes nas pesquisa e desenvolvimento agropecuário • Desenvolvimento da capacidade da mão-de-obra empregada em pesquisa • Início da participação privada na pesquisa agropecuária • Busca sistemática por recursos financeiros para pesquisa • Alta competitividade internacional • Avanço na transferência de tecnologia aos produtores • Pauta de exportação diversificada Análise Instituto Inovação Figura 2 Até o começo do século XX, o país não fazia nenhum tipo de investimento tecnológico. Também, percebia-se baixa competitividade no mercado externo, de forma que o que determinava a produção seria a composição do custo de produção, sem incremento de produtividade. Entre os fatores que determinaram que o Brasil produziria cana-deaçúcar está o fato de não terem descoberto outra localidade em que esse produto poderia ser produzido a um menor custo. Já no século XX, as pesquisas ocorriam de acordo com a preferência dos pesquisadores. Isso já mostrou um ganho de produtividade para algumas culturas, possibilitando ao país substituir importações. Entretanto, esse modelo não era suficiente para que níveis elevados de produtividade fossem alcançados, dada a falta de sistematização das atividades e a inexistência de uma política de desenvolvimento tecnológico. 4 Rodrigues, C. A pesquisa agropecuária federal no período compreendido entre a República Velha e o Estado Novo. Cad. Difusão Tecnológica. Brasília, maio/agosto de 1987. Após a criação da Embrapa, a pesquisa agropecuária ganhou outras características. Além de se tornar sistemática, atendendo a uma política de desenvolvimento do agronegócio, a inovação gerada chegou ao produtor de forma simplificada, facilitando a assimilação. Essa capacidade de transferir tecnologia, incorporando inovações à produção, está entre os fatores de sucesso da Embrapa e do agronegócio nacional. Construindo o presente e o futuro do agronegócio Além da competitividade internacional, o cenário interno também contribuiu para os ganhos de produtividade da agropecuária brasileira. Observando os acontecimentos do início dos anos 70, podemos identificar claramente a necessidade de se extrair mais produtos da terra, seja ele pecuário ou agrícola. Em primeiro lugar, o país vivia o auge do milagre econômico, de forma que o mercado interno aumentava seu consumo consideravelmente. Aliado a isso, havia um grande crescimento populacional e a necessidade de aumento da oferta de alimentos. Por outro lado, a capacidade produtiva do país estava quase atingindo seu limite. As áreas do sul, sudeste e as mais produtivas do nordeste estavam ocupadas e pouco se sabia sobre a capacidade de produção do centro-oeste brasileiro5. Havia dois caminhos a percorrer. Ou se plantava mais no espaço já conhecido ou se expandia a produção, para o cerrado brasileiro. Em ambos a pesquisa seria necessária: no primeiro, era indispensável desenvolver técnicas que permitissem no mesmo espaço extrair mais produtos; no segundo, era preciso realizar estudos e testes para determinar quais produtos poderiam ser produzidos de maneira mais eficiente naquela região. O Brasil tomou a decisão mais acertada, optando por fazer as duas coisas. Nesse contexto, a Embrapa, pelo conhecimento herdado de instituições e pesquisadores que lhe antecederam, por sua estrutura organizacional centralizada e alinhada com as diretrizes do país, tornou-se peça central para o desenvolvimento tecnológico do agronegócio. A Embrapa foi instalada em 26 de abril de 1973, como uma empresa pública de direito privado6. Entre as principais atribuições estava o estabelecimento de diretrizes para a pesquisa agropecuária em âmbito nacional. Definiram-se prioridades, de acordo com as necessidades de cada região. As pesquisas passariam, com a nova empresa, a ocorrer em cooperação, com os laboratórios espalhados pelo país e com instituições de pesquisas internacionais. Assim, unidades centrais coordenavam unidades descentralizadas, sendo que todas foram submetidas a uma mesma política de atuação. Ficou clara a opção “pela concentração de esforços em produtos e/ou regiões, saindo de um modelo difuso, onde os projetos eram montados segundo o conhecimento do pesquisador, para o modelo concentrado, onde as pesquisas buscavam a solução para questões práticas”7. Prova da mudança estrutural da pesquisa agropecuária está no fato de que o planejamento passou a fazer parte das políticas de inovação. Após a década de 1990, esse planejamento passou a ser baseado nas estratégias e análises de cenários. “As organizações buscaram, no planejamento estratégico, o recurso gerencial para apoiar o processo de revisão e ajustes. Tal planejamento, no caso do agronegócio e da PD&I para o agronegócio, exige antecipação temporal de pelo menos uma década 5 Agropecuária e Qualidade de Vida: A história da EMBRAPA, Brasília 2002. A definição de Empresa Pública de Direito Privado surgiu após a reestruturação do mercado de capitais da Bovespa, atendendo às regras de governança coorporativa, transparência nas demonstrações contáveis e participação de acionistas minoritários nos órgãos de direção ou fiscalização da empresa. Dessa forma, ela torna-se pública (pertencente ao governo) porém os investidores privados tem direito na tomada de decisão. 7 Agropecuária e Qualidade de Vida: A história da EMBRAPA. Pág 18, Brasília, 2002. 6 considerando-se, por exemplo, que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação constituem um processo complexo e de longa maturação8”. Por esse motivo, os resultados apresentados nos primeiros 10 anos da empresa não foram tão visíveis quanto aqueles apresentados na última década. Hoje a Embrapa é a maior empresa de pesquisa e desenvolvimento do Brasil. Em 2002, teve um orçamento de aproximadamente R$ 721 milhões. Recebe do Ministério de Agricultura e Abastecimento cerca de 20% de todo o recurso federal aplicado em pesquisa e desenvolvimento. Adicionado ao orçamento anual da Embrapa, a empresa ainda recebe recursos provenientes dos Fundos Setoriais e das bolsas do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Esses recursos, em 2003 foram da ordem de R$18,3 milhões. Considerando tudo isso, a Embrapa é responsável por quase 10% de todo investimento nacional em P&D, conforme figura abaixo: Investimento em P&D Investimento em P&D Governo Federal(1) (R$ milhões) Total de Investimentos em P&D no Brasil(1) Orçamento Embrapa (R$ milhões) Total de Investimentos 3.017 (R$ milhões) 721 Total de Investimentos 7.543 Recursos Ministério da Agricultura e Abastecimento Embrapa 20% 601 Fundos Setoriais + e = Embrapa 10% CNPq Receita Direta e Indireta 120 Fontes: Embrapa, Relatório de Gestão 2002; MCT, Indicadores de Ciência e Tecnologia, 2002; Finep, Fundos Setoriais, 2003; CNPq, Relatório de Gestão, 2003; Análise Instituto Inovação Nota: (1) Estimativa. A última pesquisa sobre investimento em P&D envolvendo setores públicos e privado data de 2000 e mostrava que o governo federal investia 40% do total do investimento brasileiro em P&D. Figura 3 Esses valores são empregados tanto no desenvolvimento de novas tecnologias quanto na capacitação de sua mão-de-obra. Quando criada, a Embrapa possuía pouco menos de 200 mestres e cerca de 10 doutores, para um total de pouco mais de 800 pesquisadores. O crescimento da capacidade técnica dos pesquisadores foi uma das oportunidades de melhoria identificadas pelos primeiros financiadores9 da pesquisa agropecuária na década de 70. Diante disso, o desenvolvimento intelectual e profissional de sua mão-de-obra de pesquisa sempre esteve no centro de seu planejamento. Hoje a empresa possui 1.257 doutores, 902 mestres e 50 bacharéis em seu quadro de pesquisadores, totalizando 2.20910. Para se ter uma idéia do potencial de geração de conhecimento dessa instituição, a Petrobrás outra empresa pública, 8 Embrapa. Cenários do Ambiente de Atuação das organizações públicas de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro: 2002 - 2012. Pág 4, Brasília, 2002. 9 De acordo com o Livro Agropecuária e Qualidade de Vida: a História da Embrapa, a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural foi a primeira a intermediar o financiamento privado para a Embrapa. 10 Documento Embrapa 31 anos, Brasília 2004. reconhecida pela estrutura de P&D e número de patentes, possui 1.165 pesquisadores, sendo que desses, somente 81 são doutores11. A capacidade de sua mão-de-obra está diretamente relacionada com capacidade de produção. São diversos os estudos e artigos publicados pela empresa. Entretanto, está em sua capacidade de transferir conhecimento um outro grande fator de sucesso da Embrapa. As transferências de tecnologia ocorrem através de treinamentos, contratos de transferência, geração de licenças para o produtor rural, serviços de consultoria e pesquisas contratadas. Em 2003, as pesquisas da Embrapa proporcionaram a assinatura de 1.500 contratos de transferência de tecnologia. Esses contratos, além de representarem um ganho de receita12 para a empresa, são responsáveis pelo ganho de produtividade agropecuária do Brasil. Além deles, a Embrapa também comercializou 463 mil toneladas de sementes licenciadas13. Quanto mais contratos e licenças forem efetivados, mais produtores rurais estarão utilizando os avanços tecnológicos desenvolvidos em laboratório. Também na área de transferência de tecnologia, a Embrapa criou o Proeta14. Numa primeira etapa, já em andamento, pesquisadores da Embrapa estão buscando conhecimento sobre o processo de incubação em incubadoras em funcionamento. Na segunda fase, prevista para ocorrer a partir de 2006, serão criadas incubadoras dentro das unidades da empresa, para o empreendimento de novos negócios a partir das tecnologias já pesquisadas. A figura de número 4 exemplifica alguns resultados das pesquisas da Embrapa. São casos de sucesso mostrando como a pesquisa pode aumentar a produtividade no agronegócio. Os números e os exemplos apresentados mostram os resultados de anos de pesquisa. No caso brasileiro, contribuiu para transformar a economia agrícola em líder mundial na produção de café, cana-de-açúcar, laranja, leite, mamão, mandioca, maracujá, sucos de frutas, entre outros, sendo que também é o maior exportador na maioria desses mercados. Adicionada a essa lista está a soja, em cujo mercado o Brasil ocupa a segunda posição no ranking de produção e de exportação, considerando o produto em grão, em farelo e o óleo. Também, é o terceiro maior produtor de cacau, algodão e milho do planeta. Com relação à pecuária, o país possui o maior rebanho comercial do mundo e é o maior exportador de carne bovina, apesar de ser o segundo maior produtor. É o terceiro maior produtor de carne de frango e o segundo maior exportador.15 Enfim, esses resultados comprovam que a pesquisa agropecuária brasileira encontra-se no caminho certo. 11 Petrobrás: www.petrobras.com.br O senhor Jose Manuel Cabral de Sousa Dias, avalia que o teto para geração de receita em transferência tecnológica deve variar de 10 a 15% do total do orçamento da empresa, devido a características estatutárias e sociais da Empresa. 13 Documento Embrapa 31 anos, Brasília 2004. 14 Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia 15 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: Estatísticas: http://www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=36,127198&_dad=portal&_schema=PORTAL 12 Exemplos de resultados do investimento em P&D Produto Solução Abacaxi Desenvolvimento de produto resistente à fusariose, doença grave da cultura Algodão Modificação genética que proporcionou a diminuição do uso de defensivos agrícolas Cebola Desenvolvimento de uma Cebola Doce, que não deixa hálito forte e pode ser comida como fruta, além de não procovar lágrimas Curauá Produção de mudas por micropropagação, diminuindo custos para fabricação de fibras Girassol Para uso ornamental, desenvolvimento da flor em diferentes cores Mamão Modificação genética garantindo a resistência ao vírus da mancha anelar Uva Desenvolvimento de 3 cultivares sem sementes Fonte: Documento Embrapa 31 anos; Análise Instituto Inovação Figura 4 Um futuro promissor Em 2002 foi realizada pela Embrapa e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGCE) uma pesquisa, traçando diversos cenários para o agronegócio até 201216. Nesse estudo, foram apresentadas algumas tendências nacionais e internacionais, nos espectros da macroeconomia, do agronegócio em si e da pesquisa e inovação. A figura de número 5 apresenta algumas dessas tendências, de acordo com essa divisão. De acordo com a pesquisa, o mercado internacional deve manter algumas barreiras para proteção da agropecuária de cada país. A União Européia deve escolher áreas estratégicas, enquanto que os Estados Unidos devem manter subsídios aos produtores até o ano de 2008, amparada na Farm Bill17. Além dos subsídios, o embargo a mercadorias não certificadas representa outra forma de constituição de barreiras. Dessa forma, observa-se um crescimento da necessidade de certificação de produtos e rastreamento completo da safra e do rebanho, de modo que se identifique a origem de qualquer produto disponível nas prateleiras dos supermercados ao redor do mundo. Os prestadores de serviços de certificação e os pesquisadores de tecnologias de rastreabilidade encontram nesse cenário boas oportunidades. A queda dos preços das mercadorias no mercado internacional deve ocorrer paralelamente ao aumento da competitividade. A oportunidade está em agregar valor às commodities existentes. O algodão colorido e a cebola doce são exemplos de como a tecnologia pode promover incrementos aos produtos comerciais existentes. 16 Embrapa. Cenários do Ambiente de Atuação das organizações públicas de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro: 2002 - 2012.Brasília, 2002. 17 A Farm Bill, é um documento elaborado pelo Ministério de Agricultura dos Estados Unidos e prevê uma série de incentivos e proteções à economia agrícola daquele país. É uma publicação recente, de 2002, atualizando a edição de 1996. Mais informações em http://www.usda.gov/farmbill. Tendências para o Agronegócio Mundo Macroeconômica Sócio-econômica • Manutenção dos Subsídios • Exigência da Demanda • Preocupação com o Meio Ambiente • Crescimento da Biotecnologia • Aumento de Competitividade • Alteração Hábitos de Consumo • Novas funções das florestas • Foco da Indústria Química • Gestão das Águas • Crescimento da Certificação • Crescimento dos Sis Florestais e Agroflorestais • Aumento da transferência de tecnologia • Uso sustentável da biodiversidade • Crescimento da Biotecnologia • Novos Produtos Brasil • Crescimento do Agronegócio • Fortalecimento da Agric. Familiar • Aumento da competitividade • Reconfiguração profissional • Crescimento do Mercado Interno CT&I • • • • • Meio Ambiente Tecnológica Aumento da complexidade do mercado de C&T Crescente importância da P&D como fator de aumento competitividade Geração de tecnologias de maior sustentabilidade ambiental e de energias renováveis Demanda por tecnologias que integrem os conceitos de saúde e nutrição Flexibilização de PD&I Fonte: Cenários do Ambiente de Atuação das Organizações Públicas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para o agronegócio Brasileiro – 2002 – 2012 Análise Instituto Inovação Figura 5 Aliado às “commodities inovadoras”, existe a possibilidade do fortalecimento de novos produtos. Segundo a pesquisa, o mercado de plantas ornamentais diferenciadas, de alimentos nutrifuncionais, de biofármacos, entre outros, estão entre as oportunidades de negócios para os próximos anos. Novos alimentos também devem surgir, justificado pelas mudanças dos padrões de vida da população, pela mudança na composição das famílias, pelo crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho e pelo envelhecimento da população. Observa-se uma tendência ao consumo de produtos saudáveis, de alto valor protéico, orgânicos e frutas, hortaliças e carnes brancas. Também aqui se observa uma oportunidade para empresas que compõem a cadeia no processamento dos produtos agropecuários, com a fabricação de produtos semi-prontos. Aos pesquisadores e prestadores de serviços na área ambiental, técnicas de uso racional de água e reciclagem da mesma, além de tratamento de outros resíduos da agropecuária, como a indústria do couro, carecem ser aprimorados. Também, o desenvolvimento de defensivos e fertilizantes não poluentes e de cultivares resistentes a pragas apresentam espaços para aqueles que desejam investir no agronegócios. A biotecnologia está presente em grande peso no agronegócio mundial. Sua participação deve aumentar ainda mais. Em diversas oportunidades acima citadas, percebeu-se o uso de técnicas de manuseio de genes para a qualificação de produtos agrícolas. Na pecuária, técnicas de inseminação artificial, técnicas genéticas de identificação da casta, técnicas de tratamento de doenças serão aprimoradas nos próximos anos. No caso do Brasil, o estudo mostrou que o agronegócio continuará sendo o principal responsável pelo superávit da balança comercial. Também, os setores que o envolvem serão responsáveis por grande parte do enriquecimento rural brasileiro e a reorganização do espaço social do país. Grande parte dessas mudanças ocorrerá devido ao investimento em estrutura e inovação, incentivados por reformas estruturais na economia, como a reforma tributária e da legislação trabalhista, pelo desenvolvimento da rede de transportes e pelo crescimento do potencial energético. O Brasil deve continuar a investir em pesquisa e desenvolvimento para atividades agropecuárias, ou seja, as instituições de pesquisa agropecuária devem se fortalecer. O país será referência em inovação para países tropicais, para onde poderão ocorrer inúmeras ações de transferências de conhecimento. Destaque para o uso da biotecnologia. De acordo com o estudo18 publicado pelo Instituto Inovação em junho de 2004, 40% dos grupos de pesquisa em biotecnologia do país procuram soluções para o agronegócio. A silvicultura será uma das grandes oportunidades de negócio para os próximos oito anos. A constante preocupação mundial com a Amazônia e com as outras áreas ainda cobertas por florestas, fará que com que tecnologias que resolvam problemas de desmatamento sejam bem aceitas por todos os tipos de organizações. Incluem-se aí técnicas de recuperação de florestas e síntese ou produção de substâncias que hoje são extraídas das florestas, além de técnicas avançadas de replantio. As oportunidades observadas no cenário internacional também são válidas para o Brasil. Aliado a isso, o país ainda pode explorar os negócios destinados ao turismo rural, a floricultura diversificada, a criação de animais silvestres e o cultivo de ervas medicinais e aromáticas. Os óleos vegetais de dendê, coco e outros também apresentam um grande potencial, tanto para a comercialização desses produtos brutos, como para a utilização nas indústrias de biocombustíveis. Por fim, mas não menos importante, a tecnologia da informação corresponde a uma dos grandes fatores de aumento de produtividade no campo. Software e hardware proporcionaram melhores controles da produção e da gestão da inovação tecnológica. Novas tecnologias somente puderam ser ofertadas com o auxílio da tecnologia da informação. Entre os exemplos temos o controle das plantações via satélite e identificação dos gados da fotografia da retina19. Considerações finais Em 2003, a economia brasileira teve uma retração de 0,2%. Em compensação, o agronegócio apresentou um crescimento de 4,7%20. Estados como o do Mato Grosso do Sul, intensivos nesse ramo de atividade, apresentaram crescimento de mais de 15%. A participação do Brasil no comércio internacional nos últimos anos tem se mantido estável em torno de 0,95%. Considerando somente o mercado mundial agropecuário, a participação do país saltou de 2,34% em 1990 para 3,34% em 200221. No agronegócio, o Brasil compete de forma igualitária com as demais potências desse setor da atividade econômica. Como vimos, o agronegócio apresenta diversas oportunidades de inserção e crescimento. Não se deve, portanto, pensar que o Brasil já é bom o suficiente nessa área. O espaço para o desenvolvimento é enorme e deve acontecer nos próximos anos. Os demais setores econômicos brasileiros é que ainda não estão acompanhando o desenvolvimento do campo. Precisam se desenvolver mais rapidamente do que o agronegócio, para aumentar a participação do país no mercado internacional. 18 Instituto Inovação: Biotecnologia – Oportunidades que surgem a partir da vida. Radar do Inovação. Belo Horizonte, junho de 2004. 19 Os exemplos foram extraídos da Revista Veja Especial Agronegócio de Abril de 2004, páginas 28 e 29. 20 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 21 OMC – Organização Mundial do Comércio