Notícias Grupo sintetiza partículas de ouro com potencial uso em nanomedicina Para caracterizar a partícula após a síntese, são usadas técnicas como microscopia eletrônica de transmissãovarredura e ultracentrifugação analítica Foto: freedigitalphoto A síntese de partículas de ouro ultrapequenas com potencial aplicação em nanomedicina é o objetivo de um projeto que vem sendo desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com apoio da FAPESP. Dados preliminares foram apresentados pelo professor do Departamento de Bioquímica Alioscka Sousa na Alemanha, durante a programação da FAPESP Week Munich. “Muitos grupos têm trabalhado com partículas de ouro com cerca de 10 ou 20 nanômetros (nm) de diâmetro. Nosso objetivo é sintetizar partículas com menos de 3 nm, pois estudos in vivo de outros pesquisadores mostraram que elas são pequenas o suficiente para serem excretadas pelos rins e, portanto, não se acumulam no organismo”, disse Sousa. De acordo com o pesquisador, dados da literatura científica revelam que esse tipo de partícula metálica, apesar do tamanho diminuto, mantém certa preferência por se depositar em tecidos tumorais, onde há grande vascularização e pouca drenagem linfática. Com isso, ela demora mais para ser excretada. Embora ainda não tenha sido testado in vivo nenhum potencial uso terapêutico, existe uma teoria de que as partículas metálicas ultrapequenas poderiam servir como carreadoras de drogas contra o câncer. “Uma preocupação do nosso projeto é sintetizar partículas esféricas extremamente uniformes, pois acreditamos 8 que pequenas diferenças de tamanho possam resultar em diferentes efeitos biológicos. A maior parte dos trabalhos publicados por outros grupos até o momento mostrou, em geral, partículas bastante heterogêneas”, disse Sousa. Para caracterizar a partícula após a síntese, a equipe da Unifesp usa técnicas como microscopia eletrônica de transmissão-varredura e ultracentrifugação analítica. Em conjunto, as metodologias permitem detectar com alta resolução pequenas diferenças de tamanho e forma. Outro aspecto importante a ser levado em conta, explicou Sousa, é a composição química da superfície, pois, além do tamanho, ela também é um fator que determina o comportamento da partícula no meio biológico. “Toda partícula metálica precisa de uma camada orgânica que lhe dê solubilidade. Em nosso projeto, propomos decorar a superfície das partículas com diferentes combinações de pequenos peptídeos – com cerca de três aminoácidos apenas – e estudar como isso modifica a interação com proteínas”, explicou o pesquisador. Para estudar a interação entre as partículas metálicas e diferentes proteínas modelo, o grupo faz uso de diversas técnicas biofísicas. Em especial, tem sido testada uma metodologia conhecida como ressonância plasmônica de superfície – normalmente utilizada em pesquisas que buscam desvendar a interação entre duas proteínas. “O equipamento permite calcular a afinidade, bem como a cinética com que a interação ocorre, se é que ela ocorre. Já estamos realizando os primeiros testes”, contou. Os experimentos têm contado com a colaboração do pesquisador Peter Schuck, do National Institute of Biomedical Imaging and Bioengineering – um dos órgãos vinculados ao National Intitutes of Health (NIH), dos Estados Unidos. “Procuramos entender, do ponto de vista da ciência básica, como a atividade biológica é afetada ao mudar a estrutura da partícula – seja o tamanho, a forma ou a química de superfície. Acreditamos que esse conhecimento poderá ser útil no desenvolvimento de nanopartículas com melhores respostas biológicas”, afirmou o pesquisador. R evista A nalytica • Dezembro 2014/Janeiro 2015 • nº 74