Em busca das partículas mais fundamentais - O Globo Online
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CIÊNCIA
ENTREVISTA
Em busca das partículas mais fundamentais
Publicada em 12/09/2008 às 05h50m
Ângela Góes - O Globo Online
RIO - Depois de duas décadas de planejamento e quase uma de construção, a Organização Européia para
a Pesquisa Nuclear (Cern) ligou na quarta-feira o maior instrumento científico já construído pelo
homem, o LHC, ou grande colisor de hádrons . Com a promessa de responder a alguns dos mais
profundos mistérios da ciência, ao investigar as partículas mais elementares da matéria e replicar
fenômenos que tiveram lugar durante o Big Bang, a explosão que teria dado origem ao Universo, o
ambicioso projeto levou ao delírio milhares de pesquisadores em todo o mundo.
Brasil tem papel essencial no projeto de simulação do Big Bang
- O maior êxito já foi conquistado. O funcionamento bem-sucedido de uma máquina da complexidade
ímpar do LHC, por si só, já é muito bom - disse com exclusividade ao Globo Online o físico de
partículas do Instituto de Física da Uerj, Alberto Santoro, que participa da análise dos dados gerados pelo
superacelerador LHC. - Agora começarão os testes dessa grande máquina e dos detectores que estão inseridos nesse grande acelerador para dar
continuidade aos experimentos e gravar os dados produzidos pelas interações entre os prótons - acrescentou ele, que está da França participando de um
congresso.
(Veja imagens do acelerador e do laboratório)
A potente máquina fará colidir feixes de partículas subatômicas a uma velocidade bem próxima da velocidade da luz. Como fruto das colisões, os
especialistas estimam que conseguirão demonstrar a existência de partículas cuja existência foi estimada, mas nunca demonstrada experimentalmente.
- As interações podem acontecer a qualquer momento daqui em diante. Pode levar uma semana, um mês ? explicou Santoro. - Técnicos estão de plantão
24 horas por dia analisando o funcionamento do acelerador e dos detectores de partículas. Assim que forem verificadas as condições necessárias,
então haverá desvio do feixe para que haja a colisão.
Um dos resultados mais aguardados desse experimento é a descoberta do bóson de Higgs, partícula que seria responsável por dar massa a todas as
outras. A "partícula de Deus", como é chamada, teria surgido nos primeiros momentos do Universo. Ao recriar as condições imediatamente surgidas
após o Big Bang no superacelerador, os cientistas acreditam que será possível detectá-la.
- Se encontrado, nós não apenas explicamos a origem das massas das partículas, mas passamos para outra fase da pesquisa. Mas se o bóson não for
encontrado, o experimento se provará tão ou mais excitante ? se diverte Santoro.
A crença na existência da partícula põe em rota de colisão dois dos mais famosos físicos do mundo: Peter Higgs e Stephen Hawking. Higgs, de 79 anos
concebeu sua teoria sobre como as partículas subatômicas ganham massa ? na qual a existência do bóson seria fundamental ? há 44 anos, em 16 de
julho de 1964, ao ler um artigo do qual discordava profundamente. Poucos dias depois, concebeu a teoria que permitia explicar como uma partícula
elementar poderia ganhar massa. Higgs escreveu um trabalho matemático para explicar sua teoria e, depois de um breve período de férias, elaborou um
segundo artigo no qual descrevia o bóson, que receberia seu nome. O trabalho foi inicialmente rechaçado pelo "European Journal of Physical Letters",
mas, após algumas modificações conseguiu sua publicação numa revista americana, a "Physical Review Letters".
Stephen Hawking, por sua vez, defende a idéia que nunca será possível encontrar o bóson. Certa vez, apostou US$ 100 na inexistência da partícula.
Polêmicas à parte, Santoro diz que, além do bóson, outras partícula poderiam ser encontradas a partir dos experimentos realizados no superacelerador.
- No LHC existem todas as condições para que se observe uma série de outras partículas preditas teoricamente, mas que nunca foram detectadas. É o
caso das chamadas supersimétricas, partículas mais fundamentais que os quarks, as mais fundamentais que conhecemos hoje.
Vídeo: 'Rap das partículas', que explica o processo, faz sucesso na internet
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