SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC Ensino Fundamental de nove anos Extensão do período de permanência na escola antecipa inclusão de crianças aos 6 anos de idade Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC dezembro/2006 edição no 05 Grade curricular Ensino de espanhol obrigatório nas escolas brasileiras Lula reeleito Júlio Turra fala das pespectivas para o 2º mandato 1 Diga SIM pro SINPRO ABC SINDICALIZE-SE Ao longo dos anos O SINPRO ABC obteve várias conquistas em prol da categoria, basta dizer que antes da fundação do Sindicato não existia pagamento de janelas, garantia semestral de salários, hora-atividade, pagamento de férias adiantadas e o abono de 1/3, entre outros. Hoje, lutamos para que esses direitos sejam cumpridos pelas escolas, mantidos e ampliados nas próximas convenções coletivas. As categorias profissionais mais organizadas formam sindicatos mais fortes, e conquistam melhores condições de trabalho e salários. Categoria unida é direito garantido! 2 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC ENTREVISTA 5 Desigualdade Racial Mais de um século depois da abolição da escravatura a sociedade brasileira ainda ignora direitos iguais Entrevista com Wellington Lopes Goes e Camila Cistina da Silva INTERNACIONAL 12 Crise mexicana Eleições fraudulentas impedem democracia no país SINDICAL 14 Direitos em segundo plano Processo de terceirização avança no Brasil dezembro/2006 edição no 05 EDUCAÇÃO 20 Espanhol obrigatório nas escolas do Brasil Mas aos alunos cabe o direito de escolha, diz nova lei 28 Ensino Integral nas escolas Por Maria Silvia Betti CULTURA 22 “Grande Sertão: veredas” completa 50 anos NACIONAL 24 Lula reeleito, e agora? Por Julio Turra ARTIGO 26 Alguns apontamentos sobre “cotas” ESPECIAL 16 Educação Básica Ensino fundamental de nove anos estende o período de permanência na escola e antecipa a entrada de crianças a partir dos seis anos de idade Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Por Weber Lopes Góes AULA DE PORTUGUÊS 29 Aprender português é divertido Por Sergio Simka 3 editorial Muitos movimentos, encerramento de ciclos sociais e políticos.. E a educação? H á perguntas que não calam... E nosso cenário político gera situações tão ambíguas que, algumas vezes, nos surpreendemos pensando o futuro, como se o presente fosse imutável, ou imexível, para usar o neologismo político. Reeleito o presidente, a esquerda deverá reavaliar sua atuação, a direita, idem. As campanhas serão esquecidas até as próximas eleições, acordos serão firmados em nome da governabilidade, o PT sai com o ônus total da corrupção. Não podemos esquecer, porém, que ela não é invenção petista. Que não foram os governos de esquerda que inventaram a corrupção. A direita beneficia-se dela há muito... muito tempo. Mas essa é uma outra história! A Revista do Professor centra-se na discussão das políticas educacionais, temática polêmica, e que ocupou grande espaço na mídia durante as campanhas eleitorais deste último pleito. O Ensino Fundamental de nove anos, a obrigatoriedade do ensino de espanhol, a implementação de Piso Salarial Nacional, o ensino integral, as cotas nas universidades, o guarani que ganhou status de língua oficial dos países integrantes do Mercosul. Apresentamos, ainda, uma contribuição sobre as quotas nas universidades, anexada à discussão política das ações afirmativas, assunto pautado na entrevista sobre a desigualdade racial. Aprofundamos, nesta edição, a discussão, não menos polêmica, sobre terceirização. E, trazemos a contribuição de análises conjunturais, nacional e internacional, que, certamente, irão subsidiar nossas intervenções. O tempero que faltava, fica por conta dos 50 anos de “Grande Sertão: veredas”, e da página “aula de português, assinada pelo professor Sérgio Simka. Muitas novidades... Muitos ciclos encerrados... E, as transformações sociais? Já assistimos a muitas alterações estruturais nos processos educacionais, que apontavam para a melhoria na qualidade do ensino, a formação voltada à cidadania, à criticidade, enfim, todas as alterações pressupunham uma transformação social, que, infelizmente, ainda não presenciamos. É necessário que a sociedade se mobilize para que a educação, saia das plataformas eleitorais, e integre um projeto político, sério, que gere as transformações desejadas, que envolva toda a sociedade numa luta, que independe de partidos políticos, de ideologias ou de projetos pessoais, uma vez que a educação encampa todos os movimentos, todos o setores e classes sociais, pois somente através dela é que se construirá, verdadeiramente, uma sociedade igualitária. Somente ela aglutina todas as demandas e lutas sociais, comporta todas as discussões. E, essa luta depende de nossa mobilização, de nossa conscientização de que as soluções para muitas mazelas sociais virão através do fortalecimento da educação pública e de sua qualidade. Esse deve ser nosso pleito. Não pode abandonar nossas reivindicações, deve ser a tônica de nossas ações, porque sabemos que todos os governos se movem pela pressão que a sociedade é capaz de imprimir. Educação pública e de qualidade é nossa prioridade, pois garantirá a implementação de um projeto social mais justo, e, portanto, deve integrar as pautas de reivindicatória dos sindicatos, das centrais de trabalhadores , dos movimentos sociais, de todos os trabalhadores, de estudantes, enfim, essa luta somente será vencida se cada um dos brasileiros fizer a sua parte! O Sinpro-ABC congratula-se com todos os professores desejando-lhes boas festas. Boa leitura, boas férias, e até breve. expediente Revista do Professor - Ano I - Número5 - Nov/Dez 2006 - SINPRO ABC - Sindicato dos Professores do ABC - Gestão 2004/2007 Diretoria executiva: Aloisio Alves da Silva, Célia Regina Ferrari; Denise Filomena L. Marques, José Carlos Oliveira Costa, José Jorge Maggio, Paulo Cardoso de Souza, Paulo Ostroski e Paulo Roberto Yamaçake; • Presidente: Aloisio Alves da Silva; • Diretora de Imprensa: Denise Filomena L. Marques -Edição e reportagem: Josane Beckman - Mtb 43944 • Projeto Grágico: Imprensa SINPRO ABC • Capa: Israel Barbosa • Tiragem: 4.000 exemplares • ISSN 1807-7994. SINPRO ABC - Rua Pirituba, 61 - Bairro Casa Branca - Santo André - CEP 09015-540 - São Paulo www.sinpro-abc.org.br • [email protected] 4 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC entrevista Desigualdade Racial Mais de um século depois da abolição da escravatura a sociedade brasileira ainda ignora direitos iguais Fotos: Israel Barbosa “...em pleno século XXI, quando se discute direitos humanos e que todos são iguais, nós precisamos de uma lei específica, dentro dessa conjuntura, para afirmar a desigualdade que existe no Brasil”. Wellington Revista do Professor - SINPROLopes Sindicato dos Professores Wellington Goes, 23 anos, do ABC integrante do Movimento Força Ativa Camila Cristina da Silva, 21 anos, estudante da Faculdade de 5 Letras N o dia 20 de novembro fez exatos 35 anos que se comemora o Dia da Consciência Negra. Uma data de grande significado no calendário histórico nacional: a memória de Zumbi dos Palmares dentre tantos heróis que escreveram, com a própria vida, a história do povo brasileiro, na luta por ideais grandiosos como igualdade e justiça social. Nesta edição, para promover o debate a Revista do Professor entrevistou dois jovens. Camila Cristina da Silva, 21 anos, estudante da Faculdade de Letras e Wellington Lopes Goes, 23 anos, integrante do Movimento Força Ativa na Cidade Tiradentes, da Zona Leste de São Paulo. Aqui eles falam de preconceito, desigualdades e políticas afirmativas. Revista do Professor – No dia 20 de novembro foi comemorado o dia da Consciência Negra, uma data importante para os negros do Brasil. Você considera que essa parcela da população pode comemorar? Wellington – Eu acho que nesses últimos 500 e poucos anos de história do Brasil, a nossa população teve mais derrotas do que vitórias. Mas teve algumas conquistas. O 20 de novembro nós vemos como um dia de luta, um dia em que temos “Dificilmente a criança, como referência a morte de Zumbi dos Palmares. É um dia o adolescente vai querer que deve ser lembrado como se identificar como preta, um acúmulo de lutas no Brasil, porque estão falando para uma série de resistências e rebeldia. Quem colocou como ela que ser preto é ruim, comemoração foi a mídia. é feio, é ter o cabelo Quando você ligava a televisão, qualquer jornal falava que o dia duro, a pele escura”. 20 de novembro estava sendo comemorado dentro da cidade, só que não mostraram as manifestações, as lutas que houve. O movimento não vê a data como um dia de festa, de comemoração, mas sim como um dia de resistência que não deve restringir-se ao dia 20 de novembro, a luta é contínua durante todo ano. Para mim não há o que comemorar, embora seja importante o feriado, porque se a gente pegar o calendário do Brasil, tem várias datas que lembram os brancos, os bandeirantes, os assassinos, D. Pedro e uma série de heróis europeus que oprimiram aqui no Brasil. Para mim ainda não tem o que comemorar, não. Revista do Professor – E qual seria então a importância do feriado do dia 20 de novembro? Camila – Eu acredito que seja importante justamente devido a isso que o Wellington falou. Dado ao histórico do Brasil, 6 tudo que se relaciona à população negra sempre foi esquecido e a data serve para lembrar que a população negra é inferiorizada, é esquecida nas periferias, não é só mais um feriado para passear ou para comemorar. É para lembrar que existem pretos oprimidos no Brasil. Revista do Professor – O feriado foi decretado em apenas algumas cidades brasileiras. Você acredita que a data possa se tornar um feriado nacional? Wellington – É possível sim um feriado nacional. Até porque se já conseguimos em São Paulo que é a maior cidade do Brasil, acho que pode ser um feriado nacional. Embora aqui, a declarada direita, queira tirar o feriado do calendário e já tem projetos para isso. Mas independente de ser nacional ou municipal, o que importa é o que está por trás dessa data, que é a luta, a memória da população preta aqui no Brasil. Revista do Professor – Vocês se referem à população negra como pretos. A maioria chama de negros, outros dizem que o politicamente correto é o termo afro-descendente. Qual é o correto? Wellington – Não há forma correta. Mas o que é o negro no dicionário? O que foi o termo negro nas fases ruins na Europa como a “peste negra”? Na África, antes da invasão dos brancos nem existia esse termo negro. Nos Estados Unidos eles falam “black” que é preto. Então tem uma diferença, o “negro” tem uma conotação ruim, pejorativa. E aqui no Brasil é usado com freqüência. Com o movimento hip hop, que é um movimento juvenil, o pessoal influenciado pelo hip hop dos EUA começou a usar o termo preto e não negro, porque aí o preto tem outra forma. A gente se assume como preto e não como negro. Não existe o correto. Revista do Professor – Estima-se que metade da população do Brasil seja parda ou preta. Mas segundo o IBGE, a população negra corresponde a menos de 10% dos brasileiros já que o critério de contagem é a autodeclaração. Existe um preconceito dessa parcela da população em assumir sua identidade? Wellington – Primeiro, existe controvérsias, vários números. Recentemente passou no jornal que mais da metade da população é preta, se não me engano, são 80 milhões. Não me lembro de onde veio essa fonte. Mas independente dos números a gente sabe que a população preta é maioria no Brasil, isso é visível em qualquer cidade onde você for. Mas por que não se declaram pretas? Se pegarmos a história do Brasil, foi feito todo um processo para a população preta negar sua própria identidade. Se você liga a televisão só vê brancos. Nas universidades tem 1,5% de pretos. Enquanto na periferia tem um número muito grande de pretos. Nas escolas você não tem referências, a professora não trabalha a questão racial na sala de aula, nem em casa com a família. O padrão de beleza é o cabelo liso, a pele clara. Então essas pessoas vão perdendo sua auto-estima, vão perdendo o que elas têm de afro. Dificilmente a criança, o adolescente vai querer se identificar como preta, porque estão falando para ela que ser preto é ruim, é feio, é ter o cabelo duro, a pele escura. Então as pessoas vão tentar sempre negar a sua identidade, por mais que sofra preconceito, já que a realidade diz para ela que ela é preta. Eu não diria que é um preconceito dela, mas ela projeta para si essa ideologia e fica difícil romper com Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC esse pensamento. Camila – É isso que ele disse. Tem toda uma estrutura montada para que nós nos declaremos como brasileiros, a Constituição enfatiza que somos todos iguais, mas no cotidiano não somos tratados como iguais. Então todo o processo de implementação do capitalismo no Brasil teve como condição tornar o preto inferior. Tido como inferior e que ele criasse uma identidade nacional como uma das condições do capitalismo, mas dentro disso, na realidade, o que estava acontecendo é que os pretos estavam sendo empurrados para a periferia. Então tudo de ruim era denotação do africano. Revista do Professor – O Estatuto da Igualdade Racial está em trâmite no Congresso. Qual o lado positivo e negativo da implementação desse projeto, já que algumas pessoas acham que o texto lesa a igualdade entre os brasileiros? Wellington – O lado negativo é que a gente em pleno século XXI, quando se discutem direitos humanos e que todos são iguais, nós precisamos de uma lei específica, dentro dessa conjuntura, para afirmar a desigualdade que existe no Brasil. Acho que o mundo já criou forças produtivas suficientes para todos viverem na igualdade social. E o que a gente vê é o contrário. Quanto mais a gente avança, se tem mais retrocesso. E no Brasil isso é visível. A gente precisa de uma lei, embora a Constituição esteja lá dizendo que todos são iguais. O Estatuto tem uma importância porque traz algumas leis, traz alguns pontos que vão tratar da questão da terra, da educação, da saúde da população preta que é diferenciada e outros vários aspectos que são importantes. O ponto positivo é o próprio Estatuto, só que hoje há um debate muito duro no poder legislativo. Tem gente que é contra, que acha que não é necessário. E nós, que somos do movimento, achamos que o Estatuto é importante, mas não vai resolver os problemas. É importante que ele tenha fundos para abrigar os artigos, porque não adianta aprovar uma lei e não ter recursos para implementar essa lei. Também nem sabemos se vai passar no Senado porque a maioria dos senadores é contra ou já está propondo modificações no próprio Estatuto. Igual acontece com o Estatuto da criança e do adolescente, que foi aprovado só que uma parte da sociedade está contra e quer propor modificações também. A maioria no governo é branca, a maioria tem propriedade privada, tem terras, tem suas universidades particulares. Então eles detêm a maior parte do poder e não querem ceder nada. brancos retratam nas novelas, que está longe de ser a realidade. A questão é pensar na inclusão dos pretos na televisão, na mídia, mas não para colocá-los lá com uma visão pejorativa como tem ocorrido durante todo esse tempo. Porque geralmente quando fazem algum papel nas novelas é como empregados ou como escravos nas novelas de época. Acho que temos que mudar esse quadro, porque é importante para a construção da identidade da população negra. Já que estamos falando aqui que a maioria da população do Brasil é preta e ela não se autodeclara é justamente porque ela não se vê tanto na televisão, como em outros meios de comunicação. A importância da luta é dos pretos conquistarem vários espaços dentro da sociedade brasileira, não só estar na televisão por estar, mas estar enquanto população oprimida. Wellington – Acho que nós não temos nada para compartilhar dessa mídia que está aí. Eu vejo que é muito complicada essa entrada para a mídia. Por quê? Quem controla a mídia? Sabemos que são grupos de empresários. Por mais que seja uma concessão pública, dá lucro, dá dinheiro. Então são grupos de empresários que a todo momento expressam as idéias da classe dominante na televisão, não falam de lutas, de resistência. E quando se coloca algum preto em algum programa, ou novela, é só exercendo papéis submissos, estão sempre sendo mandados, controlados, não são protagonistas. Essa é uma discussão que tem que ser mais aprofundada. Acho que temos forças suficientes para ter meios de comunicação alternativos. Como acontece com algumas instituições nos EUA que têm sua própria rádio comunitária e televisão. Acho que é difícil você querer entrar para a Globo, para a Record, é um espaço que não está em disputa, mas já tem dono, já está definido. A concessão pública que o país dá para a TV e rádio deveria ser pública de fato. Mas o que a gente vê é o espaço privado tomando conta do público. O lance da gente criar outras alternativas é que podemos ter autonomia de produzir um programa com a nossa cara. Não basta só ter uma TV, ter uma rádio, mas qual o objetivo que você quer atingir. É somente entretenimento? Qual tipo de entretenimento? A questão é como criar meios alternativos de mídia que não reproduzam um padrão de sociedade. A sociedade que temos aí é desigual, com desigualdades sociais, raciais e de gênero. Revista do Professor – É possível Revista do Professor – Um dos pontos do Estatuto que um dia esse Estatuto da Igualdade estabelece que filmes e programas de televisão tenham 25% Racial não seja mais necessário? de seus atores pretos. Qual o peso dos meios de comunicação Wellington – Enquanto a gente viver na questão racial? no capitalismo, enquanto tiver classes sociais Camila – Acho que se nós pensarmos na mídia hoje, distintas, enquanto tiver gente que é dono ela exerce um grande poder na opinião da população, inclusive e outras que não são, gente que precisa do em relação à questão racial. Se pegarmos o histórico dos trabalho para sobreviver, gente que precisa programas de televisão, das novelas que são assistidas pela trabalhar para que o outro tenha lucro em maioria da população da periferia do Brasil, verificamos que é como se os pretos não fizessem parte da história do “Tem toda uma estrutura montada para que nós nos Brasil. Porque muitas novelas retratam declaremos como brasileiros, a Constituição enfatiza o que eles chamam de realidade que somos todos iguais, mas no cotidiano não somos brasileira, mas eles nunca estão como tratados como iguais”. participantes dessa história que os Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 7 cima dela. Enquanto existir essa falsa democracia que a gente vive, a via que temos é a lei. É tentar instituir algumas leis que não vão resolver os problemas, não vão minimizar. Mas é uma lei que vai estar lá e podemos lutar pela implementação dela. Enquanto existir esse mundo em que vivemos, vai ter Estatuto da Igualdade Racial, da criança, da Juventude, que não foi aprovado. Por quê? Porque essa sociedade se reproduz das desigualdades. Então essa sociedade não tem por princípio a igualdade ou liberdade. O princípio da sociedade é propriedade privada. Se você tem, beleza. Se não tem, está condenado a viver na miséria eternamente até morrer. O que podemos fazer? Tentar enviar a lei para o congresso. Um estatuto pelo menos para reconhecer que nós existimos aqui no Brasil. É uma luta diária que temos. O dia que não precisarmos desse estatuto, será o dia em que as pessoas consigam se emancipar da sua condição de explorado, de submisso. da renda, porque senão chega um monte de gente lá que pode pagar e é beneficiada. Quem não pode pagar fica à margem. Revista do Professor – As cotas nas universidades são uma das políticas afirmativas mais conhecidas. Quais outros passos concretos poderiam começar a mudar de fato a desigualdade racial no Brasil? Camila – Eu acredito que deva haver espaços que atendam as demandas para sobrevivência da população. Por exemplo, saúde e educação, não só a questão da universidade, mas na educação básica, além de moradia, trabalho. As estatísticas mostram que o espaço social necessário para a sobrevivência da população é onde tem menos pretos. Tanto na questão do trabalho ou educação, eles estão muito abaixo da população branca. Revista do Professor – Como você avalia a política de Wellington – Acho que tem vários espaços, só que tem cotas nas universidades? uns que são estratégicos. Por exemplo, a questão do trabalho. Wellington – Não sei se dá para fazer essa avaliação. Hoje a gente vê que o emprego está difícil e ainda temos um Foram tão poucas as universidades que aderiram ao sistema trabalho bastante precarizado onde a população preta consegue de cotas, que às vezes é difícil avaliar. Quem conseguiu entrar entrar, com trabalhos terceirizados. Trabalhos que não garantem na universidade pelas cotas, os direitos que estão lá na CLT. tem uma dificuldade de se Acho que o trabalho, a saúde, “Enquanto existir esse mundo em que vivemos, vai a educação são três coisas manter nela. A gente vê que tem política de cotas fundamentais e importantes. ter Estatuto da Igualdade Racial, da criança, da em várias universidades O trabalho porque precisamos Juventude, que não foi aprovado. Por quê? Porque para sustentar a nossa vida particulares, como o pró-uni. essa sociedade se reproduz das desigualdades”. cotidianamente, mas sem essa Nesse caso, só favorece o grupo de pessoas que vê a forma de trabalho precarizada educação como mercadoria e que vivemos hoje. A saúde não como outra forma de sociabilidade. As cotas são importantes da população negra tem que ser prioritária. Hoje nós vemos dada a situação que vivemos hoje. Mas mesmo com as cotas, os índices de mortes por doenças que poderiam ser evitadas. ainda é pouco comparado ao número total da população preta. É Esses, então, são setores importantes de cidadania para serem necessário que as pessoas consigam entrar para a universidade, mudados. sabendo o que é a universidade. Que é um espaço que não está aberto para idéias novas, que é um espaço que está sempre Revista do Professor – Qual a sua avaliação da tentando legitimar a atuação das elites, é um espaço que postura do governo Lula em relação à questão racial? está muito longe das periferias, é um espaço que produz um Wellington – Falar desse governo é uma tarefa difícil, conhecimento limitado sobre a realidade brasileira. É um espaço porque é um governo de um partido que, historicamente, surgiu limitado, mas é importante. Vemos pessoas se formando, sendo das lutas sindicais, atendendo às demandas dos trabalhadores. professores, trazendo referências para as crianças nas salas de Surgiu das greves, se envolveu com a luta pela reforma agrária, aulas e em outros lugares também da sociedade. foi ampliando as discussões, trazendo os movimentos que lutam pela questão racial, o movimento feminista, então não é qualquer Revista do Professor – A forma de identificar os partido. E, por não ser qualquer partido, é difícil avaliar a sua pretos no sistema de cotas ainda é muito discutida... postura quando chegou ao governo, principalmente no trato da Wellington – O critério para ser selecionado é realmente questão racial. Na minha opinião, foi criada uma secretaria de complicado. Mas a autodeclaração é uma forma menos arbitrária promoção de políticas públicas para reduzir a desigualdade racial da pessoa se identificar. Vão ter brancos que vão se identificar no Brasil, só que é uma secretaria que não tem recurso, que como pretos. A Cidinha da Silva escreveu o livro Ações afirmativas não tem financiamento e tem poucos projetos. Poucas pessoas em Educação, em que ela diz que “vão ter sempre os negros conhecem essa secretaria com status de Ministério. A leitura que de ocasião”. Que são os brancos que nessa ocasião são negros eu faço é que o governo fez pouca coisa pela questão racial. para tentar entrar pela cota. É falho o critério, mas é uma coisa Demandas históricas do movimento negro não foram atendidas, que está sendo construída ainda. Nos EUA, por exemplo, se até a ainda. Pelo histórico do partido, poderia ter feito muito mais, não 8ª geração tiver um preto na família, a pessoa vai ser considerada só na questão racial, mas poderia ter vários avanços em outras preta. Agora no Brasil não tem como fazer isso porque houve áreas. Eu acho que a única coisa que o governo conseguiu jogar projeto de miscigenação, de embranquecimento no país. Houve para a sociedade é o debate sobre a questão racial no Brasil. Era vários estupros de escravas pelos senhores na casa grande. um debate que não tinha visibilidade, ficava só nos movimentos Então é difícil a gente avaliar por essa questão da geração. O mesmo. Quando você fala de ações afirmativas, de tentar critério na minha opinião tem que estar relacionado com a questão disputar alguns espaços de poder, a elite ela vai se manifestar. 8 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Quase todo dia você pega a Folha de S. Paulo, um jornal elitizado, e tem editorial falando contra as cotas, contra as ações afirmativas, contra o Estatuto da Igualdade Racial. O Estado de São Paulo é outro jornal que está sempre batendo nessa questão racial. Então teve o debate ampliado, só que está só no debate, tem poucos avanços mesmo no sentido de modificar vidas de pessoas. A gente vê aqui mesmo em Cidade Tiradentes, o debate pode até chegar aqui. Mas as pessoas estão conseguindo mudar de vida, estão conseguindo entrar na universidade, estão conseguindo trabalho, emprego? Onde estão as políticas de ações afirmativas? Acho que tem muita coisa, ainda, que precisa ser feita e eu não sei se esse governo tem espaço para isso, mas os movimentos têm força para pressionar. Revista do Professor – Você acha que o preconceito no Brasil diminuiu nos últimos 35 anos? Wellington – Eu acho que teve mudanças, a gente não pode falar que não teve senão estamos jogando fora, descartando mudanças que ocorrem no nosso dia-a-dia. Mas foram pequenas mudanças. Não houve uma mudança estrutural, mas houve mudanças aparentes. A gente pode pegar, por exemplo, as diferenças salariais entre brancos e pretos. As desigualdades se mantêm ainda. Mas nesses 35 anos é lógico que houve avanços. A lei 10.639 que institui o estudo da história afro-brasileira no currículo escolar já é um avanço. A luta agora é fazer com que essa lei seja implementada. Revista do Professor – O Brasil é um país para poucos? Wellington – O Brasil é visto como o país das oportunidades, embora 75% da população não tenha oportunidade de nada. Às vezes a oportunidade que você tem é para entrar para o tráfico. Porque estão oferecendo um salário melhor, o trabalho não está tão precarizado, não precisa bater ponto, não precisa pegar ônibus e passar duas horas para chegar só para ganhar um salário. Então às vezes, as oportunidades que a gente tem é para o crime, que é o que está mais perto da gente. Só que nós fazemos outra leitura da sociedade e é lógico que temos outros meios de sobreviver. O Brasil é assim, um país de poucos. Porque são poucas pessoas que conseguem viver bem no país. São poucas pessoas que não precisam trabalhar ou que trabalham pouco e ganham muito. Pessoas que são herdeiras de propriedades de famílias patriarcais reminiscentes do Brasil, no século passado. Então dizem que há muitas oportunidades, só que a gente não vê. A maioria da população vive na extrema miséria que o próprio país tenta negar e esconder. Revista do Professor – Estudos norte-americanos apontam que o negro é intelectualmente inferior ao branco. Como você avalia esse tipo de resultado mirabolante? Camila – Eu acredito que esse é só mais um elemento que os caras que estão no poder utilizam para tentar justificar as desigualdades entre os seres humanos, entre pretos e brancos. Se formos averiguar esses testes a fundo, vamos verificar que Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC eles são manipulados, que eles não levam em consideração que os brancos e pretos já vivem em desigualdade social e em todos os parâmetros. Então é muito fácil criar um teste e manipular esse teste para tentar provar que os pretos são inferiores aos brancos. Eu acho que é mais uma arma que eles utilizam para tentar legitimar a desigualdade, para justificar o que os europeus fazem na África, a exploração dos africanos, e tentar justificar a miséria que eles mesmos produziram. Revista do Professor – O que é o Movimento Força Ativa? Wellington – O Força Ativa é um grupo juvenil da Cidade Tiradentes que está aqui no bairro há 11 anos, desde 1995, mas é um grupo que tem 16 anos e que surgiu como uma “posse” de hip hop lá na Zona Norte, em Santana. Posse de hip hop é a união de vários grupos de rap, grafiteiros, DJs que se juntam para fazer uma organização maior, para divulgar o hip hop, para fazer trabalhos comunitários e discutir algumas coisas, a questão racial, por exemplo. E aí quando veio para Cidade Tiradentes não veio como posse, veio como o Núcleo Cultural Força Ativa. Aí amplia mais a visão porque não é um grupo que trabalha só com hip hop. E não são só rapers que podem participar do grupo. Qualquer pessoa pode entrar, o critério nosso é compartilhar nossas idéias. A gente discute questão racial, questão de gênero, direitos humanos, orientação e prevenção de DST e Aids, realizamos oficinas em escolas e na comunidade. Promovemos o incentivo à leitura, nós temos uma biblioteca comunitária que é do projeto “Vamos lê um livro” que surgiu baseado numa letra de música de rap do mesmo nome. E essa biblioteca vem no sentido de questionar o poder público, porque aqui tem uma população muito grande, é uma das maiores COHAB da América Latina e não tem uma biblioteca pública. A gente não quer fazer o papel do Estado, nós queremos denunciar que falta biblioteca pública aqui. Nós temos reuniões todo primeiro domingo do mês, e o grupo de estudos no terceiro domingo. Nós não somos uma associação, nem ONG. Não é um grupo institucionalizado, não recebe financiamento de ninguém, quem matem são os próprios membros. O que mantém o grupo é o ideal que temos e acreditamos de poder juntar forças para tentar questionar essa sociedade em que a gente vive. “A questão é pensar na inclusão dos pretos na televisão, na mídia, mas não para colocálos lá com uma visão pejorativa como tem ocorrido durante todo esse tempo”. 9 notas na Educação Faltam professores adros de Básica l professores nos qu 700 mi do MEC, Hoje faltam cerca de Segundo estimativa il. as Br do a sic Bá Médio há Educação de 2002, no Ensino o ns ce do s do da nta para baseada em es. Número que aume or ad uc ed l mi 5 23 no Ensino carência de ficit de profissionais dé o o ad ali av do an 475 mil, qu 8ª séries. docentes”, Fundamental de 5ª a chamadas “funções às em fer re se s ou seja, um Os dado ada a cada cargo – ion lac re tá es e qu o as funções expressã duas escolas tem du em la au dá e qu maior por professor as, a demanda é lin cip dis as tre En docentes. e biologia. ática, física, química rior a 10% licenciados em matem é desemprego supe de a tax a e qu em No entanto Num país va parece absurda. ati tim es a , ão laç la cheias, da popu nadas, salas de au jor s ga lon m co listas como problemas o vistos por especia sã ios lár sa s ixo ba e conflitos ão. el para tal constataç a causa mais razoáv Estratégias em debate O MEC, em conjunto com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), quer estimular a realização de pesquisas e estudos sobre educação, sobretudo a respeito de estratégias das políticas públicas do setor. Para tanto, estão sendo oferecidos R$ 2,2 milhões de apoio, além de estimular a utilização da massa de dados produzida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Ensino Fundamental Quem ainda tiver dúvidas sobre o Ensino Fundamental de nove anos, pode consultar o documento que orienta a mudança na página do MEC na internet: http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/Ensfund/ensfund9mais1.pdf Piso Salarial O projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que institui o piso salarial federal dos professores da Rede Pública de Ensino, no âmbito da União, acaba de ser aprovado por unanimidade na Comissão de Educação do Senado. O projeto recebeu parecer favorável da relatora, senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), e foi aprovado por unanimidade em caráter terminativo (sem necessidade de ser submetido ao plenário). Pela proposta de Cristovam, um ano depois da sanção da lei, o piso salarial dos professores em todo o Brasil referente à jornada de 40 horas semanais de trabalho não poderá ser inferior a R$ 700 para aqueles que têm nível médio e a R$ 980 para os que têm nível superior. Uma emenda também aprovada hoje na Comissão de Educação atualiza os valores para R$ 800 e R$ 1.100. Quem já tem rendimento superior a esses valores, não terá alteração salarial. Nos anos posteriores, o piso salarial fixado por lei de iniciativa do Executivo nunca poderá ser inferior a, no mínimo, 60% do investimento mínimo anual por aluno. A proposta assegura ainda aos educadores públicos o direito de optar pelo regime de trabalho e de remunerações atuais, ou de se adaptar à jornada de trabalho exigida para garantia do piso salarial federal proposto por Cristovam, que nunca será inferior a 40 horas semanais. Enade O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) avaliou este ano 5.388 cursos de 1.619 instituições de ensino superior. De uma amostra total de 488.906 estudantes, 406.076 compareceram aos 2.081 locais de prova, em 871 municípios de todas as 27 unidades da Federação. As provas do Enade 2006 foram realizadas no dia 12 de novembro com a presença de 83% dos alunos selecionados para participar do exame, informou o Ministério da Educação (MEC). O Rio de Janeiro teve uma presença abaixo da média (77,5%) e foi o terceiro estado com menor comparecimento ao exame. Livro "Causos do ECA" As melhores histórias sobre experiências de educadores com o Estatuto da Criança e do Adolescente podem ser encontradas no livro Causos do ECA: Histórias em Retrato – O Estatuto da Criança e do Adolescente no Cotidiano. O livro não será vendido. Os professores que quiserem um exemplar podem baixar o arquivo pelo site www.promenino.org.br 10 Hugo Chávez por mais seis anos O presidente Hugo Chávez foi o grande vencedor do pleito venezuelano, reelegendo-se por mais seis anos com a promessa de aprofundar sua “revolução socialista” e de seguir combatendo o “imperialismo norte-americano”. Com 78,31 por cento das urnas apuradas, Chávez alcançava 61,35 por cento dos votos válidos, frente aos 38,39 por cento do principal candidato da oposição, Manuel Rosales, que reconheceu a derrota. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Inovação tecnológica aliada à prevenção da Aids A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids) é, atualmente, a doença infecciosa que mais mata no mundo. No Brasil, estima-se a existência de mais de 600 mil infectados somente na faixa etária de 15 a 49 anos de idade. A utilização de preservativos durante as relações sexuais é o método mais seguro de prevenção à doença; entretanto, muitos deixam de utilizá-lo. Como forma de ampliar o acesso dos jovens aos preservativos, será realizado o Prêmio Inovação Tecnológica em Prevenção das DST/Aids, voltado para os centros federais de educação tecnológica (Cefets) de todo o País. Serão premiados os Cefets que desenvolverem os melhores projetos de máquinas dispensadoras de preservativo. Os dispensadores são equipamentos que armazenam e liberam, conforme demanda, preservativos masculinos, semelhante a uma máquina de refrigerante. Um projeto-piloto será escolhido e testado em unidades escolares, para avaliar a funcionalidade do dispensador dentro do processo educativo. O projeto precisa estar aliado a ações pedagógicas no âmbito da educação sexual, com foco na prevenção das DST e Aids, destacando o uso do preservativo pelos alunos. O prêmio é um grande desafio, já que tenta aliar conhecimento tecnológico a processos pedagógicos que contribuam para a instauração de uma cultura de saúde e prevenção às DST/Aids. Da mesma forma, busca ampliar a temática de educação sexual no ambiente escolar, pensada e apropriada por seus membros: alunos, professores, famílias, servidores e comunidade. Capes assina convênio de avaliação internacional Novos mecanismos de avaliação do ensino na pósgraduação estão sendo criados com parcerias entre especialistas brasileiros, da América Latina e Caribe. Para isso, serão desenvolvidos estudos sobre métodos mais eficientes de avaliação de acordo com as normas de cada país. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) assinou no dia 17 de novembro convênio com o Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Iesalc/ Unesco), a Rede Ibero-Americana para a Avaliação da Qualidade da Educação Superior (Riaces) e a Comissão Nacional de Avaliação Universitária da Argentina (Coneau). O objetivo é promover o desenvolvimento da avaliação das carreiras de pós-graduação nesses países, segundo as prioridades e normas de cada um. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Guarani será a terceira língua oficial do Mercosul Os ministérios de Cultura dos países-membro do Mercosul aprovaram no dia 21 de novembro, a pedido do Paraguai, a inclusão do guarani como idioma oficial do bloco, da mesma forma que o espanhol e o português. A decisão foi um dos resultados da 23ª Reunião de Ministros do Mercosul Cultural, no Rio de Janeiro. A adoção do guarani como língua oficial do bloco, em igualdade de condições com o espanhol e o português, obrigará, por exemplo, a fazer traduções de todos os documentos do grupo e a promover a aprendizagem da língua. Além dos aspectos formais, a decisão fortalece a tendência de integração das comunidades tradicionais da região, segundo vários participantes da reunião. A decisão será levada aos presidentes dos países do bloco (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), durante a próxima Cúpula do Mercosul, nos dias 18 e 19 de janeiro de 2007, em Brasília. Exclusão social Embora o acesso às escolas brasileiras tenha aumentado, a exclusão social ainda é uma característica de peso na educação do país. A análise é do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), no estudo Brasil – O Estado de uma Nação. De acordo com o relatório, 84% dos alunos, que entram no Ensino Fundamental, concluem a 4ª série e 57% finalizam os estudos nesse nível de ensino. No Ensino Médio, o índice de conclusão é de apenas 37%. A pesquisa aborda também o aspecto sócio-econômico da exclusão escolar e constata que: na 1ª série, cerca de dois terços dos estudantes vêm de segmentos mais pobres da população. Já no Ensino Superior, menos de 5% têm essa origem. Segundo a pesquisa, a má qualidade no sistema educacional vem da necessidade da entrada prematura da população no mercado de trabalho. Isso leva a, mais tarde, parte dessa população procurar programas de educação e treinamento. O Ipea ainda ressalta que o Sistema de Avaliação do Ensino Básico classificou a metade dos alunos da 4ª série como incapazes de ler um texto relativamente simples e que isso significa mão-de-obra inabilitada para operar em economia moderna, lembrando que a renda será determinada pelo investimento em educação. 11 internacional Crise mexicana Eleições fraudulentas impedem democracia no país U m país dividido. Esse é o cenário atual do México. E a julgar pelos últimos acontecimentos, também será a realidade dos próximos quatro anos. De um lado, as forças políticas conservadoras que se aglutinam na figura do presidente Vicente Fox, aliado incondicional de George W. Bush, e o seu sucessor imposto, Felipe Calderón, do Partido da Ação Nacional (PAN). De outro, a oposição progressista encabeçada pelo ex-prefeito da Cidade do México, Andrés Manuel Lopes Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), apoiado pela “Coalizão pelo Bem de Todos”. As eleições presidenciais, realizadas em 2 de julho, não colocaram um fim à disputa entre Calderón e Obrador. Ao contrário. As votações foram repletas de denúncias de fraudes, ilegalidades, interferências indevidas do Estado e até mesmo desaparecimento de milhares de urnas. No dia 28 de agosto, o Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (TEPJF) apimentou ainda mais a batalha política. Os magistrados decidiram arquivar os processos movidos que pediam a recontagem dos 41 milhões de votos das eleições. O tribunal examinou somente 9% das urnas em que houve denúncias de fraudes e anulou 238 mil votos. Na prática, a decisão favoreceu a Calderón - embora some mais um elemento que questiona a legitimidade de sua vitória. Apoio popular Segue uma crescente mobilização popular a favor da “Coalizão pelo Bem de Todos”. Desde julho, milhões de simpatizantes de Obrador têm feito protestos massivos em todo o país questionando o resultado das eleições. O candidato do PRD convocou todos os partidos de esquerda a uma convenção para criar um “governo de resistência”. Após o anúncio do tribunal, suas palavras foram enfáticas: ‘’Com esse tipo de decisão, a ordem constitucional é quebrada e o caminho para um usurpador tomar posse da Presidência através de um golpe de Estado está aberto’’, disse, acrescentando que não reconhecerá Felipe Calderón Hinojosa como o presidente da República. Para Obrador, a decisão do Tribunal sinaliza que os problemas nas urnas não ocorreram devido a um erro de contagem dos votos, mas sim foram provocados por uma ação fraudulenta do Estado comandada por Vicente Fox, para impedir a vitória de seu opositor. Indiferente à lisura do processo, o Tribunal mexicano optou por não reconhecer a manifestação de milhões de pessoas que saíram às ruas exigindo nova votação. 12 Em setembro, o Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (TEPJF) anunciou, por decisão unânime de seus sete ministros, que o candidato do Partido da Ação Nacional (PAN), Felipe Calderón é o presidente eleito do México. O Tribunal concluiu que existiram diversas irregularidades no processo eleitoral, encabeçadas pela indevida intervenção do presidente Vicente Fox, mas que estas não foram de tal gravidade para invalidar a eleição presidencial. A revolta social dos professores em Oaxaca O Estado de Oaxaca, no sul do México, vive dias de organização popular, diante de um cenário de violência e repressão política, que já resultou em muitos feridos e mortos. Os conflitos começaram no dia 22 de maio, durante manifestações de professores que exigiam aumentos salariais, entre elas uma marcha de 70 mil pessoas, que transformou-se na mais violenta revolta popular do país. Professores, sindicalistas, camponeses e um pequeno grupo guerrilheiro, a Frente Revolucionária Popular, criaram a Assembléia Popular do Povo de Oaxaca (APPO) e ocuparam os principais prédios públicos da capital do Estado. O movimento exige a renúncia do governador e mais recursos para a região. Em resposta à reivindicação da categoria, o governador Ulises Ruiz ordenou uma violenta repressão para desalojar os docentes da praça principal de Oaxaca, onde estavam acampados. A repressão contra os professores causou imensa indignação no povo de Oaxaca. Camponeses e indígenas aderiram aos protestos da APPO, exigindo a destituição de Ruiz. Eles reivindicam que Oaxaca seja gerida pelo próprio povo, através de assembléias populares. A cada dia a repressão aumenta. O presidente mexicano Vicente Fox e o governador Ulises Ruiz estão dispostos a acabar com o movimento popular de Oaxaca com mais violência, enviando soldados para o Estado. O que começou em Oaxaca como um problema sindical, se tornou um problema político que o governo do presidente Vicente Fox transformou num assunto de segurança nacional. A greve dos professores ainda continua, eles prometem acabar com a paralização somente quando o governador Ruiz renunciar ao cargo. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC No Zócalo, Obrador afirma-se “presidente legítimo do México” Por Bernardo Joffily O dirigente de centro-esquerda mexicano Andrés do lado progressista os cidadãos se reagrupam. “Não digo Manuel López Obrador se empossou na noite que seja todo o povo, mas sim que há milhões de mexicanos do dia 20 de novembro como “presidente dispostos a insistir na necessidade de uma mudança legítimo do México”, contestando a alegada vitória do direitista verdadeira”, afirma. Felipe Calderón por 0,6% dos votos, na eleição presidencial “Estou muito satisfeito com a decisão que tomamos. de julho último. “Começa a batalha para Foi correta. A partir de hoje vamos impedir que a máfia de colarinho branco, entrar numa nova etapa”, diz ainda. que impôs Calderón, faça o que bem “O fato de lhe arrebatarem a entender no país, disse AMLO, como presidência foi um dos golpes mais é conhecido, em entrevista ao diário fortes que já sofreu?”, quis saber mexicano La Jornada. o jornal. “Não sei. Já recebi muitos O “governo legítimo” terá como golpes, mas sempre me levantei, e sustentáculo o povo organizado, disse isto me ajuda a não me deixar abater AMLO. Seu lançamento no dia 20 de agora. Qheguei à conclusão de Andrés Manuel López Obrador Novembro coincide com o 96º aniversário que a causa que defendemos é tão da Revolução Mexicana. importante, tão justa, que não importa López Obrador adverte que não lhe importam “as o tempo que leve. Se eu me retirasse, recuasse, seria como desqualificações e as burlas da direita”, porque governará um ato de traição aos que se rebelam contra o predomínio das minorias”, respondeu AMLO. com o povo, em “um governo legítimo, não de sombra nem simbólico”, mas atuando por meio de uma força popular que começa a crescer em todo o país, para enfrentar “um regime Calderón, “pelego” e gerentezinho” neofascista que só beneficia a uma minoria privilegiada”. Sobre o governo do presidente eleito conforme o "Se eu me retirasse, recuasse, seria como um ato de traição aos que se rebelam contra o predomínio das minorias” Papel “desonroso” da maioria da mídia O ato público da posse foi marcado para a Praça do Zócalo. A praça, que tem sua origem nos tempos pré-colombianos, constitui o centro histórico da capital mexicana e é o ponto de concentreação tradicional das manifestações de massas no país. La Jornada quis saber sobre a forte campanha de mídia, que classifica López Obrador como “patinho feio” ao governo que encabeçará, e acusa-o de se autoproclamar presidente legítimo. O líder do PRD contesta: “É lamentável e inclusive desonroso o papel da maioria dos meios de comunicação. Com honrosas exceções, quase todos atuam em bloco sempre a favor do poder. São muito poucos os que têm uma postura próxima da sociedade. Quando se põe de um lado da balança a imprensa livre e independente, e do outro a imprensa que defende o regime e sobretudo os grupos de interesse criados, há uma enorme desproporção”, opina. “Vamos entrar numa nova etapa” López Obrador afirma que vê o futuro com tranquilidade, pois, apesar das tentativas de liqüidá-lo politicamente, continua na luta. “Assim como a direita e a ultradireita conseguiram aglutinar os grupos mais conservadores”, argumenta, também Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC resultado oficial, Andrés Manuel López Obrador é duro: “Não vou fazer prognósticos. O que posso dizer é que Calderón é cria dos delinqüentes de colarinho branco. Quando o chamo de pelego, não me proponho a insultá-lo, simplesmente o descrevo. É um gerentezinho dos poderosos. Por isso não vai representar o povo do México. Impuseram-no para representar um grupo, uma minoria. Ele sabe qual é o seu triste papel”, comenta. Ainda sobre Calderón: “Ele recusou a recontagem voto por voto e urna por urna. Ele sabe que não ganhou, que é produto de uma fraude eleitoral. Isto não pode lhe dar tranqüilidade! Por mais cínico que seja, não pode se sentir seguro. Calderón fez um pacto com a quadrilha da política e a delinqüência de colarinho branco, para roubar a eleição. Está comprometido”, declara AMLO. Ele promete fazer um governo intinerante, de segunda a quarta-feira em Cidade do México e nos dias restantes percorrendo “os 2.500 municípios do país”. E exemplifica: “Haverá um Diretório de representantes. Se, por exemplo, Calderón pretender marchar para a privatização da Pemex (a estatal petroleira mexicana), da Luz e Força, ou buscar socavar as conquistas trabalhistas, ou gravar os pobres, no sentido de cobrar impostos de vacinas e alimento, ou reprimir o povo, imediatamente convocarei esses representantes para nos mobilizarnos.” Bernardo Joffily Editor do portal www.vermelho.org.br 13 sindical Direitos em segundo plano Processo de terceirização avança no Brasil e gera para os trabalhadores efeitos negativos que vão além das remunerações mais baixas Por Olavo Soares R eduzir custos, dinamizar processos e direcionar o foco apenas ao que é prioritário. São estes os objetivos geralmente alegados num processo de reorientação produtiva cada vez mais comum no Brasil e no mundo: a terceirização. Embora em alguns países tenha se constituído como recurso válido para o aumento do potencial competitivo das empresas, no Brasil tornou-se sinônimo de precariedade nas relações de trabalho e redução de direitos. Para cortar custos, as corporações delegam grande parte de suas funções a terceiros. Estes, por sua vez, contratam trabalhadores para, em muitos casos, desenvolver funções semelhantes às desenvolvidas na companhia original. Evidentemente, sem receber a mesma remuneração e os benefícios de seus funcionários regulares. O avanço da terceirização no país nos últimos anos foi significativo. Entre 1995 e 2005, os trabalhadores terceirizados passaram de 1,8 milhão para 4,1 milhões, numa expansão de 127%. Os reflexos disso não são apenas salários e benefícios mais baixos. Também o movimento sindical enfrenta as conseqüências. Muitos dos terceirizados não se encaixam nas categorias tradicionais e acabam não encontrando o lugar para lutar pelos seus direitos. “A terceirização é um imperativo econômico do atual sistema capitalista”, afirma o economista Marcio Pochmann, da Unicamp. O programa atual no mundo do trabalho brasileiro confirma essa tese. “Em média, a cada três postos abertos no Brasil, um vai para o trabalhador terceirizado”, explica. Segundo dados do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit-Unicamp), só em 2005 a terceirização permitiu que as empresas economizassem R$ 26 bilhões em salários e encargos sociais. No início do período pesquisado, o número desses postos de trabalho representava 9,2 do total dos assalariados e, no final, tinha subido para quase 16% do total. Com o crescimento no número de empresas terceirizadas, outra conseqüência negativa para o trabalhador, apontada por José Nicolau Pompeo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é o rebaixamento ainda maior do salário que se verifica entre as próprias subcontratadas que disputam o mercado. “Quando as próprias terceirizadas começam a ter concorrência entre si, elas se vêem na necessidade de reduzir custos e, por conseqüência, salários. O que acaba contribuindo para uma queda no salário médio desse tipo de empresa”, esclarece. 14 Identidade Bruno (nome fictício) tem 21 anos e trabalha em uma companhia de telemarketing que presta serviços a uma empresa de telefonia fixa no estado de São Paulo. Trabalha seis horas por dia, seis dias por semana (com folga no sábado ou domingo), atuando no telemarketing receptivo. Ou seja, é a pessoa que ouve queixas dos clientes insatisfeitos com os serviços da empresa. Tudo isso por R$ 430 mensais. Não bastasse e já árdua tarefa de falar com clientes irritados, Bruno ainda tem obrigação de vender serviços adicionais da empresa – identificador de chamadas, Internet banda larga e outros –, caso queira ganhar um adicional no salário. A necessidade de vendas se traduz em uma política da própria empresa subcontratada, que é paga pela contratante de acordo com o desempenho dos seus funcionários. A cobrança sobre quem está na ponta do processo aumenta ainda mais. “É muita cobrança em troca de pouca coisa. Se nós fôssemos funcionários diretos, acho que nosso dia-a-dia seria melhor”, diz o atendente. “Quando alguém me pergunta onde trabalho, digo que é na companhia telefônica, para facilitar. Até me sinto um funcionário deles. O problema é que eu não recebo salário e benefícios de quem é de lá”. No meio sindical, o avanço é visto como uma ameaça direta aos direitos trabalhistas. Ainda assim, os líderes se preocupam em deixar claro que sua luta não é contra os trabalhadores que ali estão – pelo contrário, a preocupação do setor é expandir suas atividades até os “terceiros”. “O trabalhador subcontratado não representa um problema para nós. A questão é a estrutura precária em que a terceirização é adotada”, explica o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Hélio Seidel. A mudança gerada na luta sindical pelo avanço da terceirização tem um exemplo concreto na criação, em janeiro deste ano, da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), vinculada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). A entidade da necessidade de ampliara aos funcionários de empresas terceirizadas a representação antes restrita aos bancários. Com a pulverização do sistema financeiro em uma série de companhias subcontratadas que fazem serviços semelhantes aos dos bancos, criou-se uma massa de trabalhadores que não poderiam ser chamados de bancários e também não possuíam uma representação sindical que atendesse às suas expectativas. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC O setor bancário é talvez um dos mais emblemáticos no tocante à terceirização. Muito se fala sobre a redução do número de trabalhadores na categoria – eram 1 milhão no final da década de 1980 e hoje não são mais que 400 mil –, que análises rápidas podem atribuir ao avanço das tecnologias. Mas parte da queda no número de assalariados pode ser explicada também por artifícios adotados pelos bancos. Por exemplo, a instituição das financeiras, o surgimento dos correspondentes bancários (casas lotéricas e supermercados, por exemplo) e empresas externas, que atuam exclusivamente para alguns bancos, mas que oficialmente têm outra personalidade jurídica (como as dos setores de previdência, seguridade e capitalização). A transformação é veloz. Segundos dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a porcentagem de terceirizados em relação ao corpo total de funcionários passou de 15,32% em 2004 para 25,30% em 2005 nos sete principais bancos brasileiros (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Caixa Econômica Federal, HSBC, Real-ABN e Santander-Banespa). As únicas instituições que apresentaram se subcontratados foram justamente os dois bancos públicos federais, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Ou seja, isto está muito mais relacionado a uma política do atual governo do que a uma tendência do setor. Para o diretor de finanças da Contraf, Miguel Pereira, a segurança do dia-a-dia desses profissionais também está em jogo. Muitas vezes, os funcionários de financeiras e outras companhias semelhantes trabalham com grandes somas em estabelecimentos cujo sistema de segurança está nem de longe lembra o dos bancos, com suas portas giratórias e vigilantes armados. A tradicional ojeriza que os brasileiros têm de filas – somadas a recentes leis que proíbem as instituições de deixarem seus clientes em esperas longas dentro das agências – determinou que fosse necessário criar alternativas para retirar, gradativamente os clientes das agências bancárias. Serviços habitualmente “de banco”, como pagamentos de contas, depósitos e saques, passaram a ser executados por casas lotéricas e até supermercados. Por conta dessa nova conjuntura, hoje a Contraf engloba todos os profissionais que, de um modo ou de outro, têm envolvimento com o setor financeiro. “Nossa proposta é nos tornarmos um grande ‘guarda-chuva’ para reunir todos que atuam nessa área”, diz Pereira. Segurança Outro exemplo dos efeitos nocivos da terceirização é o caso da Petrobrás, que viveu um intenso processo de subcontratação na década de 1990 até meados de 2002. A estatal, uma das empresas mais rentáveis do país, transferiu grande parte de suas funções para trabalhadores terceirizados. O resultado, segundo o sindicalista Hélio Seidel, foi um boom na ocorrência de acidentes registrados na empresa. “Entre 1998 e 2001, tivemos um drástico aumento no número de acidente na Petrobrás”, diz o coordenador da FUP. Nessa época, relata Seidel, 90% dos acidentes verificados na companhia tinham o envolvimento de trabalhadores subcontratados. Para Seidel, a causa disso não eram eventuais “desleixos” Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC ou falta de vontade desses trabalhadores. A situação chegava a esse ponto por um motivo concreto e até de fácil detecção: os subcontratados não possuíam a qualificação adequada e, em tese, nem deveriam executar alguns serviços. “O que ocorria na Petrobrás era que os piores trabalhos, de maior risco, como entrada em poços e outros, ficavam com terceirizados. E eles não estavam preparados para esse tipo de trabalho. Com isso, muitos acidentes ocorreram”, aponta. À gravidade dessa situação acresce, de acordo com o sindicalista, a falta de cuidado em relação à segurança de muitas plataformas da empresa. “Muitos processos de manutenção foram negligenciados. O nível necessário para a segurança não era uma realidade”, ressalta Seidel. Faltam leis? “Discutimos bastante, fazemos estudos, mas ainda não se pode dizer quais são os rumos da terceirização. O fato é que falta entendermos em definitivo o fenômeno”. Essa é a opinião de Fausto Augusto júnior, sociólogo e técnico da Dieese. A instituição está fazendo um estudo detalhado sobre o tema. Augusto avalia que é necessário identificar as transformações que a terceirização gerou e, além disso, perceber as mudanças observadas no processo. “O que ocorria até os anos de 1990 era a terceirização focada unicamente em processos não ligados à atividade fim da empresa, como limpeza, vigilância etc. Atualmente o perfil está alterado, com a terceirização já aparecendo nas atividades-meio”, explica o sociólogo. Apesar da definição que ainda permeia os debates no setor, é consenso entre os sindicalistas de que o fenômeno sofre uma grande alteração com a troca de governo no Brasil a partir de 2003. Na avaliação deles, houve avanços significativos na legislação e, principalmente, na fiscalização sobre os abusos no uso do trabalho terceirizado. “No caso da Petrobrás, verificamos um substancial aumento no número de funcionários de 2003 para cá. Isso significa que foram trocados postos de trabalho destinados a terceirizados e em seu lugar entraram funcionários de carreia, admitidos por meio de concurso público”, destaca Hélio Seidel. Para Miguel Pereira, o debate entre o sindicalismo e o governo federal foi favorecido com a administração Lula. “Há mais espaço para se discutir projetos para a área”, diz. O professor Márcio Pochmann segue a mesma linha de raciocínio. “O que se verifica é que o governo Lula está desenvolvendo um processo de correção de erros, com a substituição de terceirizados por funcionários de carreira”, aponta. Pochmann destaca ainda a ação fiscalizadora do Ministério do Trabalho – que tem coibido muitas atitudes extremas de empresas. Já José Nicolau Pompeo discorda: “acredito quer os trabalhadores do Brasil estão à mercê dessas negociações. Não se pode esperar atitudes ‘salvadoras da pátria’ de nenhuma governo. Não vejo diferenças entre as últimas políticas econômicas”, diz. Olavo Soares Revista Fórum 15 especial Educação básica Ensino Fundamental de nove anos estende o período de permanência na escola e antecipa a entrada de crianças a partir dos seis anos de idade A caminho da escola: l Ba rae o: Is Fot Marcela Souza Ferrari, hoje com 5 anos de idade, e na pré escola, em 2007, com 6 anos, terá que dividir seu tempo entre, as brincadeiras de criança e a responsabilidade do Ensino Fundamental. sa rbo U ma importante discussão sobre a Educação Básica envolveu políticos, professores, pesquisadores e representantes da sociedade civil no último ano. O debate diz respeito à extensão do período de permanência na escola, no Ensino Fundamental, o que mostra os rumos dados às políticas nacionais de educação no Brasil e exemplifica as ações do Estado para garantir, à criança, o direito à educação. No dia 24 de novembro de 2005, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 3.675 de 2004, que amplia a duração do Ensino Fundamental de oito para nove anos. Assim, o ingresso das crianças no ensino fundamental passa a ser a partir dos seis anos, não mais do sete. A proposta, da deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/96). O relator do projeto, deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), acolheu as modificações apresentadas ao texto original pela Comissão de Educação 16 e Cultura. Como tramitam na Casa outros projetos que tratam desse assunto, a comissão decidiu apresentar um único substitutivo, consolidando todas as propostas. Foi feita apenas uma alteração ao substitutivo da Comissão de Educação: retirou a obrigação dos pais matricularem os filhos na escola a partir dos 6 anos. Essa exigência já consta na Lei 11114/05, que altera a LDB com esse objetivo. Segundo o MEC, a intenção é ampliar o período de escolaridade obrigatória, que assegura o acesso da criança de seis anos de idade ao ensino fundamental para possibilitar, a essas crianças, um tempo maior de convívio escolar, ampliando e qualificando suas oportunidades de aprendizagem. De acordo com informações publicadas na Agência Câmara, estados e municípios terão até 2010 para instituir o ensino de nove anos. A ampliação exigirá modificações nos currículos, na proposta pedagógica, no material didático e nos recursos. O prazo é necessário porque a ampliação Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC tem implicações em várias áreas escolares. Além disso, mais pedagógico, ou seja, como os alunos e professores vão provoca mais gastos para Estados e municípios, o que exige tratar a questão da aprendizagem a partir dos seis anos de planejamento financeiro. Também dentro deste prazo será feita idade”, esclareceu Francisco das Chagas. a adaptação ao novo modelo das pré-escolas, que passarão a A proposta do MEC, na verdade, já consta da Lei de atender crianças de quatro e cinco anos de idade. Diretrizes e Bases da Educação, aprovada no final do 1996. Segundo o secretário de Educação Básica do MEC, O que a LDB propõe e o MEC tenta viabilizar é que mais Francisco das Chagas, o fato de o aluno ingressar um ano municípios e Estados comecem a incluir os estudantes já aos antes no Ensino Fundamental não aumenta o gasto do seis anos na primeira série do ensino fundamental. estado ou município, pois esse aluno será incluído no Fundo O Conselho Nacional de Educação deverá fixar o de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica mês de aniversário do aluno para que ele tenha assegurada (Fundeb). sua matrícula no ano seguinte e a nomenclatura que será “Hoje, após dois anos de debate sobre o ensino adotada para a nova série. A Secretaria de Educação Básica fundamental de nove anos, as matrículas de crianças com (SEB) recomendou aos sistemas de ensino a adoção do dia seis anos nas escolas públicas ultrapassam 7,3 milhões em 22 28 de fevereiro como data-limite do aniversário do aluno, mas Estados e no Distrito Federal”, disse Francisco das Chagas. a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, por “Em 2003, segundo o censo escolar, tínhamos 3,9 exemplo, prefere adotar o dia 30 de abril. milhões de alunos matriculados aos seis anos”, afirma. Entre as vantagens para a criança ingressar na escola um ano Desigualdade mais cedo, ele destaca a redução das situações de risco, A idéia é boa porque, na prática, os filhos de classe especialmente para quem vive na periferia das cidades, e a média e alta já adotam o ensino fundamental de nove anos. melhoria do aprendizado. Em bairros ricos do Rio de Janeiro e de São Paulo, a grande A educação básica é hoje dividida em Ensino maioria das crianças já está alfabetizada aos seis anos. No Fundamental e Médio, outro extremo, em áreas pobres sendo que a educação das mesmas cidades, as taxas Entre as vantagens para a criança ingressar na fundamental compreende de alfabetização não passam duas faixas, educação escola um ano mais cedo, ele destaca a redução das de 20%. infantil (0 a 6 anos), situações de risco, especialmente para quem vive na A criança com mais educação fundamental (7 recursos estudou aos seis a 14 anos), e a educação periferia das cidades, e a melhoria do aprendizado. anos (e até mesmo antes) média que envolve a faixa em uma boa pré-escola, que etária entre 15 e 17 anos. já começou a preparar sua O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a entrada para o ensino fundamental. medida vai beneficiar principalmente os estudantes de baixa Esse é o principal motivo para defender a ampliação renda. “O que vocês fizeram, na verdade, foi estender para do Ensino Fundamental. O que preocupa especialistas em milhões e milhões de crianças pobres, o direito que algumas educação é como essa antecipação será feita. É preciso tomar outras crianças já tinham, de poder se preparar antes de entrar alguns cuidados. no ensino fundamental. Vocês estão dando, agora, condições para que todas as crianças do Brasil tenham a mesma Educação infantil oportunidade”, afirmou Lula na cerimônia de assinatura da lei, Aos seis anos, a criança ainda aprende por meio de ano passado, no Ministério da Educação. brincadeiras, de forma lúdica, e não deve entrar para o sistema Em seu discurso, o presidente afirmou que o país vive do ensino fundamental sem que isso seja levado em conta. um momento de esperança na educação. Entre as iniciativas Para alguns educadores, essa fase é favorável ao adotadas nos últimos três anos, ele destacou a aprovação do desenvolvimento cognitivo, em que a criança passa a ter mais Fundeb pela Câmara dos Deputados e a proposta de reforma facilidade para lidar com a linguagem, a escrita, a leitura e a universitária. interpretação. Ela também começa a entender os mecanismos A ampliação do Ensino Fundamental vem sendo das quatro operações matemáticas. discutida no País desde o final dos anos 90. O Plano Nacional Já outros discordam. A polêmica é de que simplesmente de Educação, em vigor desde 2001, prevê o aumento de um jogar uma criança de seis anos no Ensino Fundamental hoje ano na vida escolar. Alguns Estados se anteciparam e já tinham é também expô-la, ainda mais cedo, a uma das maiores iniciado a ampliação, como Minas Gerais e Amazonas. tragédias da escola: a repetência. O MEC sinalizou claramente que pretende acelerar a Dados do MEC mostram que é justamente na primeira implementação do ensino fundamental de nove anos. Trata-se série do Ensino Fundamental onde estão as maiores taxas de de uma boa idéia, defendida por quase todos os educadores, repetência do Brasil: 36%. Isso significa que um em cada três mas que deve ser analisada com cuidado, para que não haja estudantes da primeira série estão repetindo a série. perda de qualidade. Não é preciso ser especialista para saber que os “Agora, estamos trabalhando para garantir apoio técnico efeitos da repetência de um estudante de sete anos em sua e financeiro aos municípios e estados por meio de material Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 17 auto-estima são devastadores. Antecipar essa bomba para mais cedo deve afetar ainda mais a auto-estima da criança. É esse tipo de preocupação que se deve ter com as propostas do MEC. Os técnicos do ministério sabem desse problema e prometem orientar os municípios e Estados a dar um tratamento adequado à idade da criança de seis anos. O problema é que o ensino fundamental é responsabilidade dos municípios. Como o MEC não tem como fiscalizar cada município, cabe à sociedade verificar se uma boa idéia como essa não vai acabar, no final das contas, trazendo ainda mais prejuízos para a qualidade do ensino. Experiência Minas Gerais é um dos Estados pioneiros na adoção do ensino fundamental de nove anos. Dos 853 municípios, 680 implantaram o sistema. Em 2006, toda a rede deve ser incluída. Em 2004, as redes públicas estadual e municipal matricularam 100 mil alunos aos seis anos. Em 2005, o número subiu para 130 mil. Para incluir os novos estudantes, o Estado não precisou aumentar o número de professores, uma vez que as matrículas do ensino fundamental vinham caindo em 2,5% ao ano e a municipalização na última década foi da ordem de 40%. A quem interessa? Os debates entre educadores e a movimentação de redes públicas de ensino, motivados por esse dispositivo legal que precisa ser analisado no contexto das políticas educacionais brasileiras das últimas décadas, têm sido constantes. Em julho de 2004 foi lançado o documento “Ensino fundamental de nove anos: orientações gerais”, produzido pela Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação. Este documento, segundo a SEB, é resultado de sete encontros regionais com gestores da educação para se debater o tema. Nele é ressaltada a situação de muitos dos municípios e estados brasileiros que já adotavam o ensino fundamental de nove anos. Segundo censo escolar de 2003, realizado pelo Inep/ MEC, e divulgado pelo referido documento, naquele ano havia no território nacional 159.861 escolas públicas que ofereciam o ensino fundamental em 8 anos e 11.510 escolas que o ofereciam com nove anos de duração. Entretanto, é importante ressaltar o tempo de preparação e adequação das redes de ensino, bem como o envolvimento dos docentes no debate e na definição das ações necessárias para que tal adequação seja realizada. A justificativa apresentada pelo governo federal para a incorporação de crianças de seis anos no ensino fundamental se dá em parte pela constatação de que um número significativo de crianças com essa idade, filhas de famílias das classes média e alta, já se encontram inseridas no mundo escolar, seja na pré-escola ou no ensino fundamental (Brasil, 2005), o que difere da realidade da maior parte das crianças brasileiras dessa mesma faixa etária. Sendo assim, acredita-se que a reorganização proposta pelo MEC poderia contribuir para que este último grupo tivesse a mesma oportunidade. É importante deixar claro que a inclusão de crianças de seis anos de idade não deverá significar a antecipação dos conteúdos e atividades que tradicionalmente foram compreendidos como adequados à primeira série. O objetivo é construir uma nova estrutura e organização dos conteúdos em um ensino fundamental, agora de nove anos. Propostas alternativas Outra proposta de aumento do tempo de permanência da criança na escola se dá no sentido de ampliar o número de horas do dia e não ao longo dos anos. Essa era a proposta dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), instalados no Rio de Janeiro na década de 90. Foi o primeiro sistema de ensino público que funcionou em período integral, em contraposição aos sistemas de períodos da maioria das escolas brasileiras. Inspirados nas escolas de Porto Alegre (RS), os Cieps são escolas que funcionam como centros de educação e cultura para as populações da periferia metropolitana do Rio de Janeiro, constituídos de laboratórios e bibliotecas e que oferecem atividades de cultura e lazer. Foram construídos 506 Cieps, sendo que alguns perderam sua função original e funcionam hoje como escolas comuns que dividem o ensino em períodos. Alguns funcionam como Ginásios Públicos (GPs) onde são oferecidos cursos para alunos do ensino Fundamental, Médio e alguns programas de educação à distância. Outros foram simplesmente abandonados. No final de 2003, foram implementados pela prefeitura de São Paulo os Centros de Educação Unificados (CEUs), que 18 trouxeram uma nova proposta para a educação básica, incorporando atividades ligadas à cultura e ao lazer, em um projeto que recupera o modelo dos Cieps cariocas. Além de priorizar as áreas mais carentes, principalmente da zona leste e zona sul, os complexos educacionais incluem creche, escola de educação infantil, escola de ensino fundamental, teatros, cinemas e espaços para esporte, como piscinas, quadras e pista de skate. Essa ação visa transformar o lugar em um ponto de encontro da comunidade. Notícias recentes dizem que o atual prefeito de São Paulo, José Serra, pretende construir mais cinco unidades. É possível que a prefeitura, diante dos resultados das avaliações dos CEUs, amplie o número de centros no município. Os CEUs funcionam em período integral, inclusive nos finais de semana. Além das aulas, como em qualquer escola comum, oferecem a programação de tempo livre para esporte e lazer tendo como público-alvo crianças e adolescentes das próprias unidades e das escolas adjacentes, com faixa etária a partir de quatro anos. Os centros também atendem pessoal da terceira idade, com atividades esportivas e socioculturais. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Estados onde já existe Ensino Fundamental de 9 anos 4.584 530 3.193 8.650 1.778 3.719 Número de matrículas de crianças <= 6 anos de idade em estabelecimentos de Ensino Fundamental de nove anos 4.988 1.670 202 2.522 36.222 8.424 609 Fonte: Censo 2005/INEP Nas orientações para a implementação do ensino educacional brasileira à dos países vizinhos na América Latina, fundamental de nove anos divulgadas pelo Ministério da onde a escolarização obrigatória tem em média 12 anos de Educação, consta a não obrigatoriedade de freqüência na duração. Na Argentina, por exemplo, o equivalente ao ensino educação infantil, como sendo uma das razões para se inserir fundamental brasileiro (Educação Geral Básica) tem duração as crianças com 6 anos no ensino fundamental, este sim de nove anos. O mesmo ocorre no Uruguai. Possivelmente, com caráter de obrigatoriedade. Defende-se, desse modo, a essa iniciativa significaria uma ação no sentido de aproximação possibilidade de assegurar a todas as crianças um tempo mais desses países, contribuindo assim para a consolidação do longo de convívio escolar, e melhores condições para uma Mercosul. aprendizagem mais ampla. É preciso compreender que a implementação de Junto a isso, tornamudanças educacionais se fundamental uma análise dessa natureza não É preciso compreender que a implementação que revele o sentido do acontece simplesmente de mudanças educacionais dessa natureza não projeto político que sustenta pela aplicação de novas acontece simplesmente pela aplicação de novas tal modificação no sistema legislações, mas exige educacional. Diferentes o comprometimento legislações, mas exige o comprometimento de pesquisadores têm apontado de professores e das professores e das comunidades com a formulação o caráter economicista e comunidades com a das políticas. mercadológico que tem formulação das políticas. orientado as políticas Portanto, o prazo educacionais nas últimas décadas. de cinco anos estipulado pela Lei 11.114 para que toda a Portanto, é preciso refletir criticamente sobre a rede pública incorpore a população de crianças de seis motivação política que fundamenta a tomada de decisão acerca anos de idade, parece não considerar essas questões. As da inserção de crianças com seis anos no ensino fundamental. especificidades e histórias das redes públicas das diferentes De certo modo, a ampliação do ensino fundamental para nove regiões do país precisam ser levadas em consideração no anos e a progressiva extensão da obrigatoriedade do Ensino momento de se definir e implementar políticas como essa. Médio podem ser compreendidas também como estratégias que visam proporcionar uma aproximação da realidade Com informações do MEC Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 19 educação Espanhol obrigatório nas escolas do Brasil Mas aos alunos cabe o direito de escolha, diz nova lei por Josane Beckman Palabrasqueusted necesitasaber.. D epois de ter passado pela mesa de três presidentes da República, foi o atual, Luiz Inácio Lula da Silva, quem assinou definitivamente a lei que, além de ter indiscutíveis efeitos práticos para os alunos brasileiros, possui, segundo os analistas, um grande valor político, por ser o primeiro passo para um Brasil “bilíngüe” em um futuro próximo. A lei que estabelece a obrigatoriedade de oferecer aulas de espanhol nos colégios de Ensino Médio do Brasil, tanto privados como públicos, foi finalmente desbloqueada, ao ser aprovada por unanimidade pela Comissão de Educação e Cultura do Congresso brasileiro. O Projeto de Lei nº 3.987, de 2000, de autoria do deputado Átila Lira (PSDB/PI), já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional no dia 7 de julho. O presidente da comissão, Carlos Abicalil, do Partido dos Trabalhadores (PT), disse que a previsão do governo é que a nova lei comece a ser aplicada a partir do próximo período escolar. Esta nova lei especifica o artigo 36, inciso 3º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), tornando 20 obrigatório o ensino do espanhol na educação média. O inciso 3º da LDB diz que “será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda língua, em caráter optativo, dentro das prioridades da instituição”. A língua estrangeira moderna obrigatória de que trata a LDB, agora será o espanhol. A lei prevê a implantação gradativa do ensino do espanhol, no prazo de cinco anos, e atribui aos conselhos estaduais de educação a responsabilidade pelas normas que tornem viável sua execução de acordo com as condições e peculiaridades locais. O artigo 1º do projeto diz que a escola é obrigada a oferecer a disciplina, mas ao aluno é facultada a matrícula. Mas quando trata da oferta nas redes pública e privada, a lei faz distinções. Os sistemas públicos devem oferecer a língua espanhola em centros de ensino de língua estrangeira, em horário regular de aula. Já a rede privada poderá ofertar a disciplina de duas formas: nas salas de aula, dentro da carga horária ou em centros de estudos de língua moderna. Depois dos oito anos de educação elementar, os alunos Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC “a rede privada poderá ofertar a disciplina de duas formas: nas salas de aula, dentro da carga horária ou em centros de estudos de língua moderna”. do Ensino Médio (etapa que dura três anos, cursada entre os 14 e os 17 anos, e que dá acesso à universidade) poderão escolher por fazer o estudo de espanhol que todas as escolas públicas e privadas deverão oferecer. O projeto de lei aprovado também introduz o estudo do espanhol na 5ª e 8ª séries da educação elementar, embora seja optativo para as escolas oferecê-lo. Liberdade de escolha Para evitar que pudesse ser impugnado como inconstitucional (como aconteceu há alguns anos), o texto finalmente aprovado pela comissão impõe a obrigatoriedade do ensino de espanhol somente às escolas, deixando ao aluno a liberdade de optar por esse ensino. O organismo também rejeitou uma emenda introduzida pelo Senado que impedia que as aulas de espanhol fossem dadas fora do horário escolar. Essa recusa foi crucial para o desbloqueio da lei que estabelece finalmente sua introdução “dentro do horário escolar” e como parte do currículo de oferta obrigatória. No Brasil ainda não são obrigatórios os três anos de educação secundária, embora entre os objetivos do governo se encontre modificar essa etapa educativa para que o seja. De acordo com dados preliminares do Censo Escolar de 2004, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), o Ensino Médio tem 9,1 milhões de matrículas. Deste total, 8 milhões de alunos estão nos sistemas públicos municipal, estadual e federal e 1,1 milhão na rede privada. O estudo de uma língua estrangeira não é obrigatório para os alunos de Ensino Médio, mas a experiência que se tem hoje nas escolas que já oferecem espanhol, como uma opção de língua estrangeira, reflete que existe grande demanda e que cerca de 80% dos alunos preferem estudar espanhol a inglês, algo que já começou a ser observado, por exemplo, nas universidades. A demanda de espanhol foi também muito bem entendida pela escolas de inglês, muitas das quais passaram, inclusive, a oferecer cursos grátis de espanhol junto com as aulas de inglês, como uma forma de atrair os estudantes. Obstáculos Segundo diversos especialistas, quando a lei estiver em vigor, os problemas vão girar em torno de sua aplicação. As secretarias de Educação dos 26 Estados brasileiros terão de convocar concursos para contratar cerca de 200 mil professores de língua espanhola para as escolas públicas. Um levantamento preliminar realizado pela Secretaria de Educação Básica (SEB) indica que para implantar o ensino da língua espanhola nas 1.354 escolas de Ensino Médio nos 11 estados que fazem fronteira com países que falam espanhol serão necessários 1.411 professores. A simulação da SEB é Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC que cada um desses professores dará 20 horas aula por semana para, no máximo, dez turmas. Os estados que fazem fronteira são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará. Outro problema que o Brasil deverá resolver é a escassez de material para o ensino da matéria. É algo que se destaca ao visitar as aulas de espanhol em algumas escolas. Em algumas do Rio de Janeiro, os alunos estudam a língua de Cervantes com fotocópias de jornais e revistas argentinas e os professores também se queixam da falta de meios para ensiná-la. A partir de agora, também será possível ver o papel, depois da aprovação dessa lei, que o Ministério da Educação da Espanha terá em apoio à iniciativa, segundo manifestaram vários especialistas do ensino de espanhol no Brasil. Primeiras iniciativas A SEB e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC) estão examinando a produção de materiais didáticos que possam apoiar os sistemas públicos de Ensino Médio dos estados para a implantação da língua espanhola como determina a nova lei. Esse exame envolve o Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio e o Programa Nacional de Biblioteca Escolar. O Pró-Licenciatura, que atua na capacitação de professores, também vai reforçar a formação para o ensino do espanhol. Lei impulsiona formação de profissionais Com esta iniciativa espera-se que o curso de licenciatura de Letras, especialmente os com o foco em espanhol, ganhe força. Para a coordenadora do curso de licenciatura em LetrasEspanhol do Centro Universitário UNA, Helivane de Azevedo, esta nova lei deverá aumentar consideravelmente a demanda por profissionais especializados. “A formação de professores de espanhol está contemplada nos editais do Programa de Formação Inicial para Professores do Ensino Fundamental e Médio”, explica. Segundo Helivane, o MEC está agendando - com os pró-reitores de graduação das instituições de ensino superior - uma reunião para discutir formas de ampliar vagas de espanhol nos cursos de licenciatura. O objetivo é aumentar o número de professores com formação adequada para cumprir os requisitos da nova lei. O governo oferecerá ainda subsídios aos professores das escolas públicas de Ensino Médio que já oferecem o espanhol. O kit consta de um livro para o professor, uma gramática, um dicionário monolíngüe espanhol/espanhol e um dicionário bilíngüe espanhol/português e português/ espanhol. 21 cultura 50 anos de “Grande Sertão: veredas” Guimarães Rosa revolucionou a literatura brasileira com o romance que inventou uma nova língua para traduzir uma epopéia sertaneja E m maio de 1956, João Guimarães Rosa lançava sua principal obra literária, o romance Grande Sertão: veredas. O livro que traz as reflexões do jagunço Riobaldo e conta as histórias das guerras de jagunços, nos interiores de Minas, Bahia e Goiás, representando além de tudo, um estilo único na literatura brasileira. 22 O romance “Grande Sertão: Veredas” conta a história do amor proibido de Riobaldo, o narrador do romance, por Diadorim, que revela depois ser uma mulher. Os dois se juntam para vingar o assassinato do pai de Diadorim. Assim, Grande Sertão: veredas não é só um livro sobre os interiores e sertões do Brasil. O livro fala também sobre as construções do medo do homem, das carências, das fragilidades humanas. Os regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas são características fundamentais na literatura de Rosa e em “Grande Sertão: veredas” não é diferente. A obra é marcada pela inventividade do autor - como verificamos nos trechos “nu da cintura para os queixos” (no lugar de “nu da cintura para cima”) e “não sabiam de nada coisíssima” (em vez de “não sabiam de coisa nenhuma”) - e pelos aforismos - como em “toda saudade é uma espécie de velhice” ou ainda “vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”. Foi dessa forma que há 50 anos o romance modificou definitivamente o panorama literário brasileiro. A inventividade da linguagem do autor, que buscou inspiração no jeito de falar e pensar do sertanejo do interior do Brasil uniu a cultura popular com referências eruditas, como os mitos de Fausto e Ulisses, em uma história contada de maneira apaixonante pelo jagunço Riobaldo. O autor esteve no sertão e descreveu como ninguém o que viu e sentiu naqueles cantos esquecidos do Brasil. Primeiro, escrevia com um regionalismo tão peculiar ao sertão, que muitos o consideraram um estrangeiro em seu próprio país. Até hoje, fazer uma tradução de Guimarães para outras Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC línguas é um desafio inacabado. Depois, não que sua escrita seja rebuscada, mas os poucos que encaram livremente o autor, em regra, possuem alguma erudição. Guimarães não é difícil. Simples e sofisticado seja talvez a melhor definição. Por incrível que soe, sua leitura exige mais desprendimento do que inteligência e mais interesse do que preparo. Especialistas diriam que decifrá-la é permitir que palavras novas invadam o inconsciente. Ou ainda, esquecer o certo e o errado. Assim, num instante, o estranho fica familiar. “Foi de certa feita – o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranqüilo. Parou-me à porta o tropel”, diz “Famigerado”, um dos contos mais sarcásticos do autor. O Diplomata do Sertão O dinamismo ao lidar com diversas línguas demonstra características da vida de João Guimarães Rosa. O autor de outras obras de sucesso, como Sagarana e Corpo de Baile, nasceu no interior de Minas Gerais no município de Cordisburgo e aos seis anos já estava aprendendo, autodidaticamente, o Museu da Língua Portuguesa Em comemoração aos 50 anos do lançamento do livro Grande Sertão: veredas, vários eventos estão sendo realizados, desde o início do ano, em todo o Brasil. Em São Paulo, o mundo particular de Grande Sertão: Veredas (1956) está exposto em uma sala árida de 480 metros quadrados. De portas abertas desde março de 2006, o Museu da Língua Portuguesa dedica todo seu primeiro andar a esse enigma em forma de livro. E mostra aos visitantes que a saga do jagunço Riobaldo não é impenetrável, dentro de uma proposta que funde linguagem e arte. O espaço caminha tão bem, que foi considerado o primeiro museu do mundo dedicado exclusivamente a um idioma. Agora, homenageia o primeiro escritor a reinventar a língua de um país. Organizada para a inauguração do museu, a exposição coincide com os 50 anos da morte do autor. Logo na entrada, a atmosfera convida a sentir o clima do sertão: cores cruas e texturas ásperas no chão, nas paredes e nas janelas. Algo que lembra o som de um vasto campo ressoa nos fundos, quase imperceptível. Mas o que prevalece é o carnaval de letras espalhadas por todos os cantos. De perto, elas ganham sentido. “A linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade, não vive”. São os esboços do escritor, dispostos com todo cuidado das formas mais criativas. A íntegra do manuscrito de Grande Sertão, com correções feitas a mão pelo autor, desce do teto em cartazes ampliados. Os tijolos, os vidros e a terra vermelha, todos merecem uma inscrição grafada pelas palavras de Guimarães. No fundo de latões enferrujados, a narrativa dança debaixo d’água. O lixo caótico também abriga trechos do livro. Até os banheiros completam a mostra, com comentários em vídeo de Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC francês. Estudou medicina na capital mineira, e atuou como médico em muitos locais do interior do estado. Mais tarde, o grande admirador e conhecedor de idiomas como o alemão, inglês, italiano, esperanto, russo, latim, tupi entre muitas outras, tornou-se diplomata na Europa e na América Latina. Em 1963 foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras, mas só tomou posse em 1967, três dias antes da sua morte. “De repente, morreu: que é quando um homem vem inteiro pronto de suas próprias profundezas. Morreu, com modéstia. Se passou para o lado claro, fora e acima de suave ramerrão e terríveis balbúrdias... Alegremo-nos, suspensas ingentes lâmpadas. E: sobe a luz sobre o justo e dá-se o teso coração alegria! – desfere então o salmo. As pessoas não morrem, ficam encantadas. ...Mais eu murmure e diga, ante macios morros e fortes gerais estrelas, verde o mugibundo buriti, buriti, e a sempre-viva-dos-gerais que miúdo viça e enfeita: O mundo é mágico. – Ministro, está aqui CORDISBURGO”. (Últimas palavras de Guimarães Rosa em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras). Paulo Mendes da Rocha, Antonio Candido e Décio Pignatari. As 14 últimas páginas do livro são narradas pelo timbre de Maria Bethânia. É assim que a exposição tenta chamar a atenção do visitante para o universo longínquo e desconhecido do sertão. Dentro dele, um mundo ainda mais profundo: o da linguagem como nunca se viu. Nos rabiscos em caneta, nota-se a obstinação do autor por um vocabulário perfeito, que encaixasse a outros na medida exata, como em uma equação matemática. Apesar da profunda abstração da sua narrativa e da liberdade com que fundia palavras de diferentes classes gramaticais, não faltava lógica nessa ciência vocabular. Isso explica, talvez, porque os leitores de Guimarães parecem ter voltado de uma longa viagem. É como se desbravassem uma selva intocada, que só a obsessão máxima pela linguagem é capaz de permitir. Tanto que Grande Sertão é considerada uma obra mais do que prima. Para os já leitores e os que pretendem ser, a mostra temporária no Museu da Língua Portuguesa é um belo convite ao intelecto. Também pega de surpresa os que nem sonhavam em entrar nesse mundo. Isso porque mistura, num ato inovador, literatura com artes plásticas. Se não incentiva a ler o livro, pelo menos introduz o visitante a um universo desconhecido. E não menos fascinante. Exposição: Grande Sertão Veredas Museu da Língua Portuguesa Estação da Luz – Praça da Luz, s/nº De terça a domingo, das 10h às 18h R$ 4,00 e R$ 2,00 (meia-entrada) Grátis aos sábados 23 nacional Lula reeleito, e agora? adotou políticas sociais compensatórias, do tipo Bolsa Família, em busca de uma base de sustentação junto aos setores mais pobres e desorganizados da população. Isso lhe garantiu uma certa popularidade até a eclosão dos escândalos como o mensalão, fruto direto das alianças com partidos corruptos e de direita como o PL, PTB, PP, setores do PMDB, em nome da “governabilidade”, isto é, de uma maioria no Congresso Nacional que aprovasse as iniciativas do Executivo. Crise resulta das opções políticas Julio Turra A s condições da eleição de Lula para um segundo mandato são consideravelmente diferentes daquelas que presidiram sua chegada à Presidência da República em 2002. A posse de Lula em janeiro de 2003 expressou o sentimento predominante nas amplas massas exploradas e oprimidas do Brasil, com 200 mil pessoas em Brasília, vestindo camisetas vermelhas, com bandeiras e máscaras do Lula, como a dizer “chegou a nossa vez, estamos no poder”. Havia então enormes expectativas e também ilusões, de que o primeiro governo de um operário de origem, fundador do PT e da CUT, iniciaria o atendimento das reivindicações fundamentais da nação oprimida: terra, salário, soberania nacional. E isso mesmo se a “Carta aos Brasileiros”, divulgada pouco antes do desenlace eleitoral de 2002, dava garantias à classe dominante e ao imperialismo de que os “contratos seriam cumpridos”, anunciando a ditadura do superávit fiscal primário que viria (“economizar” dinheiro para pagar a dívida interna e externa aos banqueiros e especuladores) com Palocci e Meirelles. Recursos bilionários que, é claro, iriam faltar, como faltaram, para uma verdadeira política de Reforma Agrária, para dobrar o poder aquisitivo do Salário Mínimo, para recuperar os Serviços Públicos sucateados desde Collor com investimentos maciços em Educação, Saúde e infra-estrutura. Depois de um começo de mandato em que Lula atacou um setor importante da sua base social, o funcionalismo, com a contra-reforma da Previdência exigida pelo FMI – cujo objetivo era abrir terreno para os fundos de pensão privados no apetitoso campo da previdência complementar – o governo 24 Manejando de forma cínica o tema da “ética” – justo eles que esbulharam a nação nos 8 anos anteriores de FHC – a oposição tucano-pefelista sentiu que poderia reverter o até então favoritismo absoluto de Lula para um segundo mandato. Lula, para salvar sua própria pele e prestígio, jogou toda a responsabilidade da situação no PT, principal partido de sustentação do governo e partido do próprio Lula. Todo núcleo dirigente histórico petista – Dirceu, Genoíno – desabou, uma nova equipe dirigente, encabeçada por Berzoini, ministro de Lula que impulsionou a impopular reforma da Previdência, mais afinada com a tal “governabilidade”, vale dizer, com a ampliação da presença de representantes das elites nos ministérios. Como não poderia deixar de ser, as organizações sindicais e populares, que tinham uma relação histórica com o PT (que retirava sua força da grande presença de petistas na direção da CUT, por exemplo), às quais o governo Lula virou as costas, sofreram o impacto dessa crise política. Assim, enquanto o PT vivia a maior crise de sua história, seguiam firme nos ministérios chave do governo Lula, representantes orgânicos dos capitalistas, como Rodrigues na Agricultura, Furlan na Indústria e Comércio, o tucano declarado Meireles no Banco Central, com Palocci, o “queridinho de Wall Street”, segundo a imprensa internacional, continuava o homem forte do governo até surgir o episódio do caseiro da “República de Ribeirão Preto”. Foram quase dois anos de iniciativa política da oposição PSDB/PFL, que só não contava com o fato de que os milhões que haviam elegido Lula não queriam a volta deles ao poder central, como ficou demonstrado neste segundo turno de 2006. Polarização no segundo turno Todos hão de concordar que nunca houve processo eleitoral tão “gelado” no Brasil como o 1º turno das eleições presidenciais deste ano. Lula só falou de Bolsa Família e ProUNI, defendeu a política econômica que chegou ao cúmulo de antecipar o pagamento de 15 bilhões de dólares ao FMI (que faltaram para atender as reivindicações populares), e procurou se apresentar como “acima dos partidos”, uma nova versão de “pai dos pobres”. Os demais candidatos debatiam entre si, com Alckmin expressando a vontade da burguesia local e do imperialismo de Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC retomar diretamente o controle de seus negócios, livrando-se do “intermediário” que teve que engulir em 2002. Heloísa Helena, que poderia aparecer para alguns setores como uma “alternativa de esquerda” a Lula, decepcionou sua própria base, com uma campanha que priorizou Lula como inimigo, poupando os partidos da burguesia, com cujos dirigentes inclusive fazia “frente” contra a corrupção. Foi contra o direito ao aborto, disse que continuaria a pagar a dívida externa e governaria no quadro das leis existentes. Seu partido, o P-SOL, nem bem apareceu no cenário político, entre o 1º e 2º turno já entrou em crise e sua viabilidade para o futuro imediato é duvidosa. Assim, em contraste com a “geladeira” que foi o primeiro turno, no segundo turno a vontade dos trabalhadores, da juventude, de impedir a volta dos tucanos-pefelistas ao Palácio do Planalto, propiciou uma maior mobilização dos setores organizados, que foi fundamental para garantir a reeleição de Lula com 60% dos votos no 2º turno. O próprio Lula passou a falar que os tucanos só sabiam privatizar, que ele não teria privatizado a Vale, a atacar Alckmin como homem de Wall Street e compará-lo a Bush quando o tucano o provocou dizendo que o Brasil era mole com a Bolívia, etc. Inflexão necessária para dialogar com a base organizada de “esquerda” (PT, PCdoB, etc) nos sindicatos e movimentos populares. Cenário internacional Essa polarização no Brasil não pode ser entendida por fora do quadro de conjunto internacional, e em particular na América Latina. Empantanado no Iraque, o governo Bush, portanto o imperialismo dominante dos EUA, vê com preocupação uma perda de seu controle sobre o que sempre considerou seu quintal, a América Latina. Depois de Chávez, na Venezuela, veio Evo Morales na Bolívia adotando medidas na via da Nacionalização do Petróleo e Gás. Os porta-vozes da Casa Branca sempre fizeram questão de classificar Lula e Bachelet (sucessora de Lagos no Chile, do PS), como “esquerda responsável”, em contraste com os irresponsáveis Chávez e Evo, buscando jogar para que o governo Lula fosse um contraponto (pois até tropas brasileiras ao Haiti Lula enviou, para tirar as castanhas do fogo para Bush). Em julho deste ano, na iminência de López Obrador ganhar, como ganhou, as eleições no México, Bush ajudou seu amigo Fox a organizar a fraude para forjar a “vitória” de Felipe Calderón, contestada pelas massas até hoje, que em 20 de novembro deram posse a Obrador como legítimo presidente e prometeram impedir a posse do usurpador em 1º de dezembro. Assim o outrora “estável” México, amarrado pelo Nafta (tratado de livre comércio) aos EUA, entrou em ebulição. No Uruguai, Equador e mesmo na Argentina, a pressão popular pela ruptura com a política do imperialismo norte-americano é a marca da situação. Isso, obviamente, impacta a situação no Brasil, onde Bush manteve boas relações com Lula, mas, na primeira oportunidade gostaria de Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC ter representantes diretos, como os tucanos, no comando. E agora? Ocorre que o próprio Bush sofreu uma derrota acachapante nas eleições parlamentares dos EUA agora em novembro, com os republicanos perdendo o controle da Câmara e Senado. Evidentemente os democratas não são uma alternativa, nem para o povo trabalhador dos EUA, nem para os povos de todo o mundo que lutam pela sua soberania nacional. Mas é sintomático que Bush foi derrotado por uma afluência que não se via há muito de negros, trabalhadores e setores oprimidos às eleições (70% de participação, quando a média nos EUA é de menos de 50%, pois o voto não é obrigatório), para dizer não à guerra no Iraque e à guerra interna que Bush move contra a maioria do povo, como se viu no episódio do furacão Katrina. Esse resultado eleitoral nos EUA cria um novo elemento de instabilidade na situação mundial. Nesse cenário, o que será um segundo governo Lula? Se depender do próprio Lula, infelizmente, não se vê mudanças substanciais na política econômica. A batida tese da “governabilidade” – como tudo se resumisse a ter votos no congresso – indica que haverá ainda mais ministérios entregues para o PMDB e outros partidos da elite corrupta de sempre. Mas o que é decisivo é o que vamos fazer nós, os sindicatos, a CUT, o movimento popular, as organizações de luta de nosso povo! Ao tomar pelas declarações dadas pelos presidentes da CUT e da UNE, pela direção do MST, aumenta a consciência de que sem pressão social organizada não teremos nossas reivindicações atendidas, que é preciso mobilizar para empurrar o governo a ir mais “à esquerda”. Este é, por exemplo, o sentido da Marcha pelo Salário Mínimo que a CUT organiza para dezembro, reivindicando 420 reais (a proposta do governo no Orçamento para 2007 é de 367 reais), ou da volta com força das ocupações de terra, ou ainda das mobilizações que se iniciam pela retirada do atual Projeto de Lei de Reforma Universitária para reabrir a discussão de que Universidade queremos. O que é certo é que, para voltar a ser protagonista da luta pelas transformações profundas que a nação brasileira exige, os sindicatos, a CUT, devem resgatar sua independência em relação aos governos – inclusive diante daqueles, como o de Lula, que ajudou a eleger – sua autonomia diante dos partidos políticos, para mobilizar amplamente suas bases pelas reivindicações de emprego, salário, terra, serviços públicos de qualidade. Para tanto é preciso romper com a subordinação de nossa economia às exigências da “globalização”, na verdade os interesses das multinacionais de saquear nossos recursos, é preciso recuperar para o patrimônio público aquilo que foi privatizado, a começar por engrossar a campanha nacional pela Anulação do Leilão da Vale do Rio Doce. Julio Turra é Diretor executivo da CUT nacional e Fundador do SINPRO-ABC 25 artigo Alguns apontamentos sobre “cotas” Foto: Arquivo pessoal por Weber Lopes Góes S abemos que as cotas nas universidades são reivindicações de políticas de “ação afirmativa”. Para que possamos colocar o nosso ponto de vista sobre a questão das cotas nas universidades em primeiro lugar é preciso entender o que é essa política. As políticas de “ação afirmativa” integram um projeto cujos objetivos são corrigir os efeitos da discriminação racial existente na sociedade brasileira; diminuir as desigualdades entre brancos e negros em nossa sociedade; enfim, ela visa equiparar, reduzir tal diferença existente. Tais políticas são formas de equalizar as diferenças nas diversas instâncias, a saber: nas empresas, em cargos de chefia, nas universidades, nos cargos estatais (neste caso criar mecanismo para os negros poderem chegar aos cargos onde, em maior quantidade, estão os brancos) etc., bem como igualar os salários entre pretos e brancos. Neste sentido, podemos entender as políticas de “ação afirmativa” como uma política pública de eqüidade que deve ser encabeçada pelo Estado com o intuito de suprimir as diferenças entre brancos e negros bem como contribuir para o 26 progresso da população negra, a fim de afirmar a sua condição enquanto ser humano. Isto posto, é importante elencarmos três motivos pelos quais afirmamos nossa posição a favor dessas políticas: o primeiro elemento diz respeito à dívida histórica que as elites brasileiras têm com os descendentes de africanos que aqui vieram trabalhar na condição de escravos. Após a abolição da escravatura, os afro-descentes não receberam nenhum tipo de indenização. O negro foi colocado no patamar mais baixo na sociedade de classes. Passaram a ser os sem-terras, os primeiros moradores de rua etc. De maneira geral, o Estado não criou nenhuma condição digna para os descendentes de africanos viverem, os resultados foram as favelas, presídios, drogas e os subempregos para esta população, historicamente, violada. Podemos apontar como segundo elemento o fato de que já houve no Brasil implantação de políticas de ação afirmativa – principalmente na transição do trabalho escravo para o trabalho livre. Porém, estas políticas de “ação afirmativa” se consolidaram para beneficiar os imigrantes que vieram para o Brasil trabalhar no lugar dos africanos escravizados. Basta olharmos a história do Brasil e veremos que as elites escravocratas só admitiram o fim do trabalho forçado porque o Estado, além de indenizá-las, financiou a vinda de europeus Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC "De maneira geral, o Estado não criou nenhuma condição digna para os descendentes de africanos viverem, os resultados foram as favelas, presídios, drogas e os subempregos para esta população, historicamente, violada." para trabalhar na indústria que aqui estava sendo consolidada (de fato tiveram outras razões para que o colono optasse pelo trabalhador livre). Estes tiveram terra e trabalho, ao contrário dos descendentes de africanos, os quais não foram beneficiados em nada e sequer tiveram terra para morar. Assim, se analisarmos a questão da “ação afirmativa” veremos que no Brasil sempre houve tal política, mas para beneficiar somente grupos específicos e os negros não estavam inclusos nestes grupos, logo, não estavam dentro deste projeto de sociedade. No entanto, alguns historiadores e sociólogos justificaram a não inclusão dos negros na indústria argumentando que o negro era “incapaz intelectualmente” bem como não poderia adaptar-se à sociedade “moderna”. Este argumento, sem dúvida, não condiz com a realidade, ao contrário, foi uma opção nada inocente para justificar a não inclusão do negro na sociedade de classes. As elites brasileiras optaram por trazer os imigrantes europeus ao Brasil por duas razões: primeiro, por terem um modelo de sociedade eurocêntrica, isto é, o país precisava se organizar enquanto nação pautada nos valores da Europa, o padrão de pessoas que teriam de compor a nação brasileira deveria ser branco e também porque essa elite lucrava com a vinda desses imigrantes. Em suma, o Brasil para alcançar o modelo de sociedade do “tipo ideal” teria de tirar do cenário o negro, para muitos, do ponto de vista ideológico, o negro era um problema para o desenvolvimento do Brasil. Todas essas concepções foram apoiadas em teóricos brasileiros e europeus. Muitos desses autores estudaram a formação do Brasil a fim de propor um modelo de sociedade. Após a conclusão de seus estudos, argumentaram que o Brasil só poderia se desenvolver se tirasse o negro da sociedade brasileira, ou seja, culpabilizouse o negro pelas injustiças sociais, históricas que sofreu e pela impossibilidade deste país se desenvolver numa perspectiva de um projeto nacional de sociedade . O último elemento referente à política de “ação afirmativa” é a importância de politizar o debate, não podemos reduzir a ação afirmativa apenas em cotas em universidades, pelo contrário, conforme apontamos acima, esta tem como objetivo criar oportunidades, em todos os locais, para que os negros possam ser inseridos atenuando as desigualdades étnico/raciais. Politizar o debate a respeito das políticas de ação afirmativa significa entender que estas são limitadas. Na própria política de ação afirmativa há limites, esta deve ser entendida como uma ação paliativa, de fato não vai dar conta da realidade de toda a população negra, no entanto, ela pode vir a evidenciar uma questão que muito se tem discutido e omitido na sociedade: o racismo estrutural. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Para muitos, isto pode parecer menos central, porém, nós sabemos que a sociedade brasileira sempre quis esconder este fato, alegando que aqui perdura uma “democracia racial” onde todos têm “oportunidades iguais”. Problematizar o debate sobre ação afirmativa traz à tona o racismo no Brasil o qual se manifesta naqueles que são contra essas políticas e nos grupos que não querem abrir mão de seus privilégios, visto que falar em ação afirmativa é discutir privilégios no Brasil. Com isso, é possível fazermos uma indagação: quem estuda nas universidades públicas? Sabemos que são pessoas que em tese não precisam de universidade pública, até porque elas têm condições financeiras para pagar uma universidade privada. Portanto, quem deveria estar nas universidades públicas são pessoas que não teriam condições de pagar uma faculdade privada. Outro fator que acaba desqualificando a discussão sobre ação afirmativa é o argumento daqueles que não entendem o que seriam as políticas de ação afirmativa, e de outros, contrários a esta política. Argumentos como: “as cotas vão desqualificar o ensino”; “as pessoas que entram por meio das cotas não conseguem permanecer na universidade”, expressam o preconceito referente ao assunto. O primeiro argumento não condiz com a realidade, pois as universidades estão desqualificadas muito antes das políticas de ação afirmativa serem colocadas em pauta. Neste sentido, as universidades estão inabilitadas por não haver investimento por parte do Estado. Este é o motivo da baixa qualidade das universidades. Já o outro argumento, não se sustenta porque as pessoas que entraram nas universidades, por meio das cotas, são as que menos desistem do curso. Isto é, entre os cotistas e os não cotistas, o número de desistentes nos cursos universitários são mais expressivos pelos não cotistas. Assim, podemos afirmar que não são as cotas o problema da desistência e sim o interesse daqueles que estão cursando o ensino superior. Neste sentido, ao entrarmos na discussão sobre a nossa opinião a respeito das cotas nas universidades, temos de nos apoiar nestes três elementos expostos, estes nos ajudam a entender a importância da implementação das cotas para estudantes negros nas universidades públicas e podem contribuir para sermos contrários às cotas de negros nos presídios, na Febem, nos lixões e nas favelas. Weber Lopes Góes é do Movimento Força Ativa 27 educação Ensino Integral nas escolas Projeto de Lei determina que o Ensino fundamental tenha jornada de 7 horas Pelo projeto, a qualidade do ensino básico será aferida por processo nacional de avaliação escolar E stá circulando pelo Congresso, um Projeto de Lei 7420/06 da deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), que determina que a educação básica, em cada rede e sistema de ensino do País, obedeça a novos critérios obrigatórios de qualidade, entre os quais a jornada escolar universal em tempo integral, de pelo menos sete horas diárias no Ensino Fundamental e de cinco horas no Ensino Médio. Pelo projeto, a qualidade do ensino básico será periodicamente aferida por processo nacional de avaliação escolar, conduzido pela União, por intermédio do Ministério da Educação. Ainda segundo o texto, os gestores públicos do sistema serão responsabilizados pela obtenção dos padrões mínimos de qualidade. Melhora progressiva De acordo com o projeto, a cada avaliação nacional realizada, as médias de resultados em cada unidade da Federação deverão ser superiores às verificadas na avaliação anterior. A proposta determina também que enquanto houver estudantes com aproveitamento inferior ao mínimo aceitável, as unidades da Federação deverão desenvolver essas ações específicas, com destinação de recursos em escala compatível com a necessidade de superação das causas da insuficiência. O descumprimento dessas regras, segundo a proposta, será considerado crime de responsabilidade, infração políticoadministrativa e ato de improbidade administrativa. Além disso, levará à suspensão das transferências voluntárias, relativas à educação, da União ao estado ou ao município, enquanto não forem superadas as irregularidades. 28 Veja os critérios para a obtenção do padrão de qualidade: - titulação mínima de todos os professores, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB); - plano de carreira para o magistério público; - programa de formação continuada para os profissionais do magistério e servidores técnico-administrativos, de duração anual, e com dotação orçamentária específica; - período de tempo semanal dedicado a atividades de planejamento e estudo coletivo, inserido na jornada de trabalho dos profissionais da educação; - elaboração pelas escolas de seus próprios planos de educação, em consonância com o Plano Nacional de Educação; - padrões definidos de infra-estrutura e funcionamento das escolas, de acordo com uma relação custo/aluno/padrão/ qualidade periodicamente calculada para cada etapa e modalidade da educação básica; - estratégias diferenciadas na oferta de educação infantil, a fim de que todas as crianças na faixa etária de zero a cinco anos, com necessidade caracterizada desse tipo de atendimento, segundo critérios de natureza social e econômica, recebam a adequada atenção educacional; - ensino fundamental regular universal em tempo integral, com jornada escolar de pelo menos sete horas diárias; - ensino médio regular universal com jornada de pelo menos cinco horas diárias Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC aula de potuguês Sérgio Simka Aprender português é divertido Imagine que eu esteja escrevendo um romance e o primeiro capítulo comece “tipo assim”: “Sob a chuva fina, Florisvaldo Antonio não conseguia esquecer os olhos de Mariana Raquel, que costumava usar saias mais horríveis que os tapetes e as cortinas que havia na casa da avó dela”. Percebo que está faltando alguma coisa para piorá-lo de vez. Descubro então que uns adjetivos colocados em lugares estratégicos não farão mal e poderão até realçar minha descrição, tornando-a mais colorida, mais viva, mais “não-seio-que-mais”. Resolvo então inserir alguns adjetivos compostos escolhidos a dedo médio: “Sob a chuva fina, Florisvaldo Antonio não conseguia esquecer os olhos verde-mar de Mariana Raquel, que costumava usar saias azul-marinho mais horríveis que os tapetes cinza-chumbo e as cortinas verde-folha que havia na casa da avó dela”. Releio o texto e exclamo todo orgulhoso: agora sim. No entanto, uma dúvida aparece galopantemente à minha fantasia amarelo-ouro: será que o plural desses adjetivos grafa-se dessa forma? Procuro me recordar das regras e me vêm à mente aquelas frases que completava mecanicamente com os adjetivos compostos indicados entre parênteses, que esquecia após a saída para o recreio (no meu tempo ido e vivido, chamava-se recreio). A pergunta que está me sufocando (e antes que eu comece a ver seres azul-celeste) é: os alunos hoje aprendem os adjetivos compostos da mesma maneira que eu aprendi? Entre um sim e um não, proponho o seguinte texto, que aborda o uso dos tais. Porque acredito que aprender português pode ser divertido: - Cardoso, demorei um pouco porque fui à biblioteca pegar uns livros técnicos...é...como se fala, livros técnicos-científicos, livros técnico-científicos ou livros técnico-científico? - Você deve dizer livros técnico-científicos. - Por quê? - Porque nos adjetivos compostos somente o último elemento varia, tanto em gênero quanto em número. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC - Ah, entendi. Quer dizer que técnico é adjetivo; científico é adjetivo; logo, técnico-científicos. Moleza. - É isso aí. - Engraçado, Cardoso, na biblioteca vi muitos alunos usando camisas marrom-cafés. Você não acha estranho? - Estranho é dizer marrom-cafés. Você deve dizer camisas marrom-café, pois se o último elemento for substantivo, o adjetivo composto fica invariável. - Quer dizer que nenhum elemento recebe s quando o composto tiver um elemento substantivo? - Exatamente. - Cara, no seu aniversário, vou lhe dar uma blusa azulmarinho, aliás, duas blusas azul-marinhos. - Blusas azul-marinho, pois esse adjetivo composto fica sempre invariável. - Blusas azul-marinho? Você não está brincando comigo, está? - Lógico que não. É o mesmo caso de camisas azulceleste. - Você parece aqueles professores monstros que atormentam a vida dos alunos. - Professores monstro, pois substantivo empregado como adjetivo fica invariável. - Cansei, cara. Se eu tivesse agora alguns tijolos amarelos-ouro, jogaria nessa sua cabeça de sabichão. - Tijolos amarelo-ouro, Francisco. - Chega pra mim, Cardoso. Só porque você está usando essas calças azuis-pavão, pensa que está abafando. - Calças azul-pavão, Francisco. A propósito, essa sua camisa rosa chama muito a atenção. Você tem muitas camisas rosa? Francisco se mandou. Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires e na Universidade do Grande ABC. Colunista das revistas Ensino Superior, publicação mensal dirigida às instituições de ensino superior do país, e Expressão, publicação mensal dirigida ao ABC e Litoral. Autor de 11 livros, entre eles Aprender português é divertido (Editoras O Artífice e MHW). Seu site: www.sergiosimka.com 29 a tilh Car 30 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC T O TA L SOLIDARIEDADE ÀS MULHERES DA VIA CAMPESINA Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 31 Aquecimento Global... ...uma questão para ser pautada! 32 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC