EFEITO DA MASSA MUSCULAR ENVOLVIDA NO COMPORTAMENTO
DA VARIABILIDADE DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM EXERCÍCIO
PROGRESSIVO MÁXIMO
Daniela Cristina Sester1;
Walter Shinji Obara 1;
Leo Massahiro Moreira Nishimura 1
César Cavinato Cal Abad2
Área do Conhecimento: Ciências da vida
Palavras-chave: massa muscular, controle autonômico, variabilidade da freqüência cardíaca, exercício máximo
INTRODUÇÃO
O corpo humano é constituído por bilhões
de células e todas necessitam de energia para manter o
metabolismo e garantir o perfeito funcionamento dos
sistemas orgânicos. A maneira mais simples e rápida de se
obter energia é degradar fontes intracelulares de adenosina
trifosfato (ATP) e, no caso de falha neste processo, todos
os sistemas ficariam desequilibrados e a falência de cada
um deles seria inevitável.
Ao passar do repouso para a atividade física,
eleva-se o gasto energético e, para garantir o suprimento de
energia, diversos mecanismos de ajustes serão acionados.
Tais ajustes provocam alterações morfofuncionais
(PEREIRA; SOUZA JÚNIOR, 2002) agudas e/ou crônicas
nos diferentes sistemas orgânicos e estas alterações
dependerão do metabolismo predominantemente utilizado
na atividade que está sendo realizada.
Em repouso, como o gasto energético é menor,
o coração precisa mandar menos sangue para os órgãos
e, portanto, passa ser regulado pela predominância do
sistema nervoso parassimpático.
Em intensidades leves de exercício, a
freqüência cardíaca deve aumentar e essa resposta ocorre
principalmente pela retirada vagal; em intensidades
moderadas este aumento ocorre principalmente pela
elevação da atividade simpática neural.
Nas intensidades mais elevadas (próximas da
máxima), concomitantemente com os dois mecanismos
explicados anteriormente, passa a haver maior ação
simpática decorrente da liberação de adrenalina pelas
glândulas supra-renais (GALLO Jr; MACIEL; MARIN
NETO; MARTINS, 1989)
Como a variabilidade da freqüência cardíaca é
uma maneira indireta de aferir as alterações da modulação
autonômica, seu estudo durante teste progressivo
que envolva diferentes grupos musculares passa a ser
importante para melhor compreensão das respostas
fisiológicas decorrentes de esforço físico.
OBJETIVOS
O presente projeto tem como principal objetivo
comparar o comportamento da variabilidade da freqüência
cardíaca em exercício máximo realizado com grandes e
pequenos grupos musculares.
METODOLOGIA
Após divulgação do estudo (cartazes, e-mail e
contatos pessoais), os sujeitos passaram por uma entrevista
prévia. Os indivíduos saudáveis, do gênero masculino,
entre dezoito e trinta e cinco anos, fisicamente ativos,
não fumantes e que não faziam uso de medicamento ou
agente farmacológico, foram autorizados a participar do
estudo que constou da execução de dois testes físicos
máximos com carga inicial de 0 kpm/min e incremento de
0,25 kpm/min a cada 3min, sendo um realizado com os
dois membros inferiores e outro com apenas um membro
inferior (dominante).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
(Pág.2).
Os resultados estão expressos na Tabela 01
Não houve diferença significativa durante o
repouso e nas cargas mais elevadas. O decréscimo rápido
da variabilidade da freqüência cardíaca encontrado nas
cargas iniciais corrobora os achados de Lima (1997), Silva
e Lima (2001), Fronchetti, Aguiar, Aguiar e Nakamura
1 Estudante do Curso de Licenciatura em Educação Física
2 Professor da Universidade Bandeirante de São Paulo. e-mail: c.cavinato@uol.
com.br
--
(2004), Oliveira e Kokobun (2001), Martin, Dante, Barros,
Uezu, Matsushigue, Franchini, Regazinni, Luna Filho,
Oliveira Filho, Amato, Paola, Böhme, Kiss (1999) e Dante,
Martin, Regazzini, Barros e Kiss (2000).
Esses efeitos ocorrem porque a contração
muscular, mantida durante intensidades altas, ativa
mecanoceptores e, para aumentar o fluxo sangüíneo
muscular, há vasoconstrição de órgãos inativos realizada
pela ativação simpática visceral. Além disso, também há
maior produção de metabólitos ativando quimiorreceptores
musculares que promovem aumento expressivo da
ventilação e também da atividade nervosa simpática
(BRUM, 2004).
Forjaz e Tinucci 2000 sugerem que, quanto maior
a massa muscular exercitada de forma dinâmica, maior é o
aumento da freqüência cardíaca.
Rezende (1996) verificou o comportamento
da variabilidade da freqüência cardíaca em repouso, em
exercício submáximo (50% do VO2máx), em exercício
progressivo (trinta W.min-1) e na recuperação passiva
(noventa min). Durante o exercício, constatou diminuição
significativa da variabilidade da freqüência cardíaca em
intensidades próximas ao primeiro limiar e aos 50% do
VO2máx. Terminado o teste, observou que os valores
da variabilidade da freqüência cardíaca retornavam
rapidamente a valores próximos ao repouso e se mantinham
estáveis durante toda recuperação.
Martin et al (1999) e Dante et al (2000) estudando
a variabilidade da freqüência cardíaca em, respectivamente,
25 adolescentes futebolistas e em adolescentes obesos,
encontraram resultados semelhantes aos outros autores
já citados e concluíram que os valores da variabilidade
da freqüência cardíaca diminuem de forma diretamente
proporcional à intensidade.
Marães (1999) estudou o comportamento da
variabilidade da freqüência cardíaca pelo domínio do
tempo e da freqüência em 21 homens saudáveis (dez
jovens e 11 de meia-idade) afirmando haver possibilidade
de identificação do primeiro limiar quando os dados são
ajustados por modelo auto-regressivo-integrado-médias
móveis.
Teixeira (2003) estudou o comportamento da
variabilidade da freqüência cardíaca durante exercício
físico dinâmico, com protocolo progressivo descontínuo
tipo degrau, em adultos saudáveis de meia-idade, e também
constatou menor ativação vagal nas cargas iniciais,
1P
2P
REP
13,98
13,97
0,25
12,45
11,33
0,5
10,93
8,86*
0,75
9,85
7,16*
1
9,05
6,41
1,25
9,57
5,8
1,5
11,31
5,47
afirmando que este fenômeno corresponde ao primeiro
limiar.
CONCLUSÕES
A diferença encontrada entre os protocolos indica
que a modulação autonômica tem uma retirada vagal e uma
ativação simpática quanto maiores forem a intensidade e
massa muscular envolvidas na tarefa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUM, P., FORJAZ, C.L.M.; TINUCCI, T.; NEGRÃO,
C.E. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.18,
p.21-31, ago. 2004.
DANTE, C.; MARTIN, V.; REGAZZINI, M.; BARROS
R.V.; e KISS M.A.P.D.M. Comportamento da variabilidade
da freqüência cardíaca em adolescentes obesos
submetidos a condicionamento físico. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 27,
2000, São Paulo. Anais... São Paulo: Celafiscs, 2000.
p.127.
FORJAZ, C.L.M.; TINUCCI, T. A medida da pressão
arterial no exercício. Revista Brasileira de Hipertensão,
Ribeirão Preto, v.7, n.1, p.79-87, 2000.
FRONCHETTI; L. AGUIAR, C. A.; AGUIAR, A.;
NAKAMURA, F. Comparação do limiar de variabilidade
da freqüência cardíaca entre gêneros em teste progressivo
de esforço em cicloergômetro. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE 27,
2004, São Paulo. Anais... São Paulo: Celafiscs, 2004. p.
61.
GALLO Jr., L.; MACIEL, B.C.; MARIN NETO, J. A.;
MARTINS, L. E. B. Sympathetic and parasympathetic
changes in Heart rate control during dynamic exercise
induced by endurance training in men. Brazilian journal of
medicine and biology research. v. 22, p. 631-43, 1989.
LIMA, J.P.R. Freqüência cardíaca em cargas crescentes
de trabalho: ajuste sigmóide, ponto de inflexão e limiar
de variabilidade da freqüência cardíaca. 1997. 129f. Tese
(Doutorado em Biodinâmica do Movimento Humano) –
Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 1997.
MARÃES, V.R.F.S. Estudo da variabilidade da freqüência
cardíaca durante exercício físico dinâmico em voluntários
sadios. 1999. 178f. Dissertação (Mestrado em Fisiologia)
1,75
10,34
5,6
2
10,11
5,33
2,25
14,86
5,77
2,5
--5,86
2,75
---7,87
3
---3,09
3,25
---3,22
REC
8,67
TABELA 01: Variabilidade da Freqüência Cardíaca analisada pelo domínio do tempo (RMSSD) obtida durante teste progressivo
máximo realizado com grande (2pernas) e pequeno grupo muscular (1 perna)
* Diferença significante p<0,05 (Teste t de student)
--
Instituto de Biologia da Universidade Estadual de
Campinas, São Paulo, 1999.
MARTIN, V. DANTE, C. F.; BARROS, R.V.; UEZU, R.;
MATSUSHIGUE, K.; FRANCHINI, E. REGAZINNI, M.;
LUNA FILHO,B.; OLIVEIRA FILHO, J.A.; AMATO,
A.; PAOLA, V.; BÖHME, M.T.S.; KISS, M.A.P.D.M.
Variabilidade da freqüência cardíaca em adolescentes
futebolistas. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA, 6.; SIMPÓSIO DE PÓS GRADUAÇÃO,
4., 1999. São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 1999. p. 2425.
OLIVEIRA, V.R.; KOKUBUN, E. Estudo da variabilidade
da freqüência cardíaca durante o exercício físico
progressivo em jovens e idosos ativos. Motriz, v. 7, n. 1,
2001. Suplemento S175.
PEREIRA, B.; SOUZA JÚNIOR, T.P. Dimensões
biológicas do treinamento físico. São Paulo: Phorte editora,
2002.
REZENDE, L. O. Variabilidade da freqüência cardíaca
durante exercício físico progressivo e durante e após
exercício submáximo prolongado. São Paulo, 1996. 45f.
Monografia (Conclusão de Curso) – Escola de Educação
Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1996.
SILVA, R.P.; LIMA, J.R.P. Identificação do limiar de
variabilidade da freqüência cardíaca em mulheres jovens.
In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO
ESPORTE, 27., 2001, São Paulo. Anais... São Paulo:
Celafisics, 2001. p. 147.
TEIXEIRA, L.A. Análise do padrão de resposta da
freqüência cardíaca pelos métodos de séries temporais e
semiparamétrico e de sua variabilidade na determinação
do limiar de anaerobiose. 2003. 69f. Dissertação (Mestrado
em Bioengenharia) Programa interunidades - São Carlos,
São Paulo, 2003.
--
Download

EFEITO DA MASSA MUSCULAR ENVOLVIDA NO