Prospectando genes de defesa das plantas
Luiz Alberto da Silveira Mairesse é engenheiro agrônomo, doutorando em
Agronomia e conselheiro do CIB
Quando os organismos vegetais são atacados por fungos, bactérias, vírus
ou mesmo insetos, ácaros, nematóides e outros, imediatamente reagem
produzindo substâncias (metabólitos) de defesa, capazes de agir sobre os
agressores, limitando o ataque ou até mesmo exterminando-os. As plantas
possuem genes de defesa, que são ativados a partir de receptores de sinais,
que desencadeiam o funcionamento da maquinaria genética, resultando em
respostas de defesa.
Uma das respostas melhor estudadas é a reação de hipersensibilidade,
pela qual as células na região do ataque inicial morrem, impedindo a progressão
da moléstia. A partir desta reação, sinais são levados a outras partes da planta e
até mesmo para plantas vizinhas, gerando a denominada resistência sistêmica
adquirida, prevenindo contra futuros ataques.
Em muitos casos, tais substâncias de defesa das plantas são produzidas,
independentemente da presença ou ausência de organismos invasores, na
chamada resistência constitutiva. Visando identificar moléculas de defesa de
espécies vegetais, potencialmente herbicidas, inseticidas, fungicidas e outras,
presentes constitutivamente ou ativadas, experimentos de laboratório e de
campo, com a integração de diversas áreas de pesquisa, têm sido realizados na
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS). Os resultados até o momento
são extremamente promissores.
A produção de metabólitos de defesa por parte das plantas parece ser
uma regra (inclusive nas plantas domesticadas), mas algumas espécies
parecem ser extremamente úteis. Na família das anonáceas, por exemplo, onde
já foram identificados no mundo mais de 400 compostos citotóxicos, inclusive
agentes anticancerígenos, espécies dos gêneros Annona e Rollinia (ariticum),
comuns na Região Sul, têm sido testadas na UFSM, com resultados muito
animadores. Acrescente-se ainda espécies da família das meliáceas (cinamomo,
nim e triquila) e dos gêneros Baccharis, Mikania, Cymbopogon, Ocimum,
Eucaliptus, Solanum, Pinnus (carqueja, guaco, capim-cidró, manjericão,
jurubeba, etc) e muitas outras que projetam esta área de pesquisa como
extremamente promissora, principalmente para os brasileiros, já que o Brasil
detém mais de 20% da biodiversidade e dos genes do planeta. O estudo dos
metabólitos secundários das plantas tem inestimável interesse prático na busca
de novas moléculas inseticidas, fungicidas, bactericidas, drogas medicinais em
geral ou mesmo para outros fins, como na área industrial, na fabricação de
diversos produtos de usos mais variados.
Com os avanços da biologia molecular, genes que codificam para
metabólitos de defesa podem ser transferidos para espécies cultivadas ou
mesmo superativados nelas, para aumentar os níveis dos compostos de defesa.
Uma possibilidade excitante e que começa a ganhar espaço nos projetos de
pesquisa em todo o mundo é o desenvolvimento de plantas geneticamente
modificadas, alelopáticas às ervas daninhas, dispensando o uso dos herbicidas
sintéticos, como são substituídos os fungicidas e inseticidas, quando se opta
pela resistência genética a pragas. Entretanto, no Brasil, os recursos para a
pesquisa, que poderia colocar a nação nos trilhos do desenvolvimento, estão
muito aquém das necessidades. Isto torna a luta por recursos para a área de
biotecnologia como prioridade máxima.
A oportunidade que os brasileiros receberam da natureza será mais uma
vez apenas motivo de cobiça e da intensificação da ação neocolonialista do
Primeiro Mundo. Através de campanhas anti-tecnologia, as populações do
Terceiro Mundo em geral recebem informações deturpadas, tornando-se
insensíveis à compreensão do quanto é nefasta para as nações pobres a falta
de investimentos em pesquisa. Assim, juntamente com a luta por mais verbas
para a pesquisa, há a necessidade urgente de se contrapor aos interesses
neocolonialistas e informar adequadamente à população, para que esta venha a
respaldar os objetivos da Ciência Brasileira.
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