1.
INTRODUÇÃO
O feijoeiro (Phaseolus vulgaris) é uma cultura de crescimento vegetativo curto,
sensível à interferência das plantas daninhas no estádio inicial de seu desenvolvimento
vegetativo, as quais competem por fatores essenciais como luz, água, espaço e
nutrientes (COBUCCI, 1999). Kozlowski et al. (2002) observaram que a produtividade
do feijoeiro pode ser afetada por vários fatores, sendo que a interferência das plantas
daninhas pode reduzir a produtividade de grãos em mais de 80%. Segundo Lunkens
(1997), a produtividade de grãos da cultura do feijão pode ser reduzida pela
interferência das plantas daninhas de 15 a 97%, de acordo com a cultivar, época de
semeadura, composição e densidade das espécies infestantes.
O grau de interferência das plantas daninhas nas culturas pode ser definido como
a redução percentual da produção provocada pela convivência com a comunidade
2
infestante, dependendo de vários fatores ligados à cultura, às plantas daninhas, ao meio
ambiente e ao manejo; sendo que, dentre estes fatores, a época e a extensão do período
de convivência, são uns dos principais fatores que afetam o grau de interferência entre
culturas e plantas daninhas (PITELLI, 1985). Os períodos críticos de interferência são
descritos como: período anterior à interferência (PAI), período total de prevenção à
interferência (PTPI) e período crítico de prevenção à interferência (PCPI), através dos
quais é possível determinar o tempo em que efetivamente o controle das plantas
daninhas deve ser efetuado (PITELLI & DURIGAN, 1984).
Pitelli (1985) ressalta ainda que a época e extensão desses períodos podem ser
afetadas por diversos fatores, entre os quais se destaca a adubação mineral,
principalmente a nitrogenada, que pode favorecer tanto o crescimento da cultura quanto
das plantas daninhas. Dessa maneira, os períodos críticos de interferência poderão ser
reduzidos ou estendidos, afetando o período ideal para ser realizado o controle da
comunidade infestante. O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos do uso da
adubação nitrogenada sobre a época e a extensão do PAI, PTPI e do PCPI na cultura do
feijoeiro cultivar “Rubi”.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A cultura do feijoeiro
O feijão pertence ao gênero Phaseolus que possui cerca de 55 espécies, das
quais cinco são cultivadas: P. vulgaris L., P. lunatus L., P. coccineus L., P. acutifolius
A. Gray var. latifolius Freman e P. polyanthus Greenman. Dentre elas, o feijão comum,
Phaseolus vulgaris, é o mais importante, por ser a espécie cultivada mais antiga e
também a mais utilizada nos cinco continentes. Os grandes exploradores ajudaram a
difundir o uso e o cultivo de feijão para as mais remotas regiões do planeta,
(EMBRAPA, 2009).
Por possuir um teor protéico de aproximadamente 22%, o feijão é, juntamente
com o arroz, consumido por milhões de brasileiros, constituindo-se a base alimentar do
país. O Brasil é o maior produtor mundial de feijão comum. As produções de feijão em
grão nos anos de 2000 e 2008 foram, respectivamente, de 3,0 milhões e 3,5 milhões de
4
toneladas, com uma média de 3,10 milhões de toneladas no período (FAO, 2010). O
cultivo dessa leguminosa é realizado em três safras, a primeira (safra das “águas”) com
plantio nos meses de agosto a novembro e colheita de novembro a fevereiro, a segunda
(safra da seca ou safrinha) com plantio de dezembro a março e colheita de março a
junho e a terceira (safra de inverno ou irrigada) com plantio de abril a julho e colheita
de julho a outubro.
O feijão comum (Phaseolus vulgaris) é uma das culturas mais importantes do
país, sendo a terceira em área plantada e, de acordo com a CONAB (2011), possui área
cultivada no Brasil, correspondente a 3.789,8 mil hectares, sendo que as áreas plantadas
de feijão 1ª safra, 2ª safra e 3ª safra, foram de 1.382.800 ha, 1.630.300 ha e 776.700 ha,
respectivamente. A produção de feijão na safra 2010/2011 foi de 3.796,9 mil toneladas
e a produtividade cerca de 1.002 kg.ha-1.
A produtividade média brasileira é de aproximadamente 882 kg ha-1, muito baixa,
considerando a possibilidade de se obter média de 3.483 kg ha-1 (STONE, 2008). Esse
fato ocorre porque há influência de vários fatores, dentre os quais a interferência das
plantas daninhas (TEIXEIRA et al., 2009); há falta de calagem e rotação de cultivo,
adubação e tratos fitossanitários inadequados; baixa utilização de sementes sadias;
deficiência hídrica no período crítico da cultura; compreendido entre o florescimento e
o enchimento de grãos, ou excesso de chuva durante a colheita e, principalmente, pela
ocorrência de doenças, causadas por fungos, bactérias, vírus, nematóides, pragas
durante todo o ciclo da cultura (CHIORATO et al., 2006) e em destaque interferência
exercida pelas plantas daninhas (TEIXEIRA et al., 2000).
5
2.2 Estudo dos períodos críticos de interferência
As culturas agrícolas podem conviver com as comunidades de plantas daninhas
que as infestam por um determinado período a partir do plantio ou da emergência, sem
perda de produtividade (PITELLI & DURIGAN, 1984). Segundo esses autores, nesse
período, a mobilização dos recursos pela cultura e comunidade infestante é baixa e não
suplanta a capacidade do meio em disponibilizá-los. Esse período foi definido, pelos
pesquisadores, como o Período Anterior à Interferência (PAI) e seu final reflete o
momento em que a disponibilidade de um ou mais recursos essenciais à cultura é
suplantado pelo recrutamento das plantas daninhas presentes na área.
Há um período no final do ciclo das culturas agrícolas em que o controle da
comunidade infestante não produzirá qualquer benefício à produtividade (PITELLI &
DURIGAN, 1984). Segundo os autores, as plantas daninhas que emergirem nesse
período não atingirão crescimento suficiente para entrar em competição com a cultura, a
qual já está em fase avançada do ciclo de desenvolvimento e já mobilizou grande parte
dos recursos necessários para completar seu ciclo agrícola. O período compreendido
desde o plantio ou a emergência até o início do período mencionado acima foi definido,
pelos pesquisadores, como o Período Total de Prevenção à Interferência (PTPI), e
corresponde, na prática, ao período em que as capinas ou o poder residual dos
herbicidas devem abranger.
O período situado entre os finais do PAI e do PTPI é denominado de Período
Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI) (PITELLI & DURIGAN, 1984). Esse
período, definido pelos autores, indica o período crítico para aplicação de medidas de
controle das plantas daninhas, que se não for realizado, pode acarretar perdas intensas
6
de produtividade, pois, segundo Kavaliauskait & Bobinas (2006), refere-se aos estádios
de crescimento das culturas agrícolas que são mais vulneráveis à competição imposta
pelas plantas daninhas. Na prática, esse período pode ser definido como o número de
semanas em que a cultura deve ser mantida livre da presença de plantas daninhas para
prevenir perdas de produtividades maiores que 5% (HALL et al., 1992; VAN ACKER
et al., 1993; KNEZEVIC et al., 1994). Para Pitelli (1985), a aplicação prática do PCPI
visa o controle da comunidade infestante, antes que a interferência se instale de maneira
definitiva, até o momento em que as plantas daninhas que vierem a emergir
posteriormente não mais interfiram na produtividade da cultura.
Esses são considerados os períodos críticos de interferência das plantas daninhas
sobre as culturas agrícolas. O conhecimento desses períodos, em parte, reflete a
adequação das condições de implantação e manejo da cultura (PITELLI, 1985).
Segundo o pesquisador, plantas vigorosas, plantadas na época correta e com adubação
adequada, tanto em dosagem quanto na localização dos fertilizantes, tendem a
apresentar maiores valores de PAI e menores valores de PTPI, permitindo que o
agricultor tenha maior versatilidade em termos de época de controle das plantas
daninhas. Quando o valor do PAI for menor que o do PTPI, o controle das plantas
daninhas deve ser realizado a partir do final do primeiro até o final do segundo período;
enquanto quando o PAI for maior que o PTPI, um único controle em qualquer época
entre os períodos será suficiente para prevenir perdas significativas de produtividade
(PITELLI & PITELLI, 2004).
Para o estabelecimento de programas de manejo de plantas daninhas em
agroecossistemas é fundamental que se conheça o comportamento das culturas, das
plantas daninhas e, principalmente, da interação entre culturas e plantas daninhas
7
(SCHEIDE, 1992). Nessa interação, destaca-se a necessidade da determinação do
período em que a interferência imposta pelas plantas daninhas torna-se crítica para a
produtividade da cultura (ou seja, o PCPI), para que assim se possa justificar a adoção
de determinada medida de controle, sabendo que o conhecimento desse período auxilia
na determinação da época mais apropriada a ser realizado o controle das plantas
daninhas, na escolha dos métodos de manejo mais adequados (manual, mecânico e/ou
químico) e na estimativa de perdas na produção (AZZI, 1970).
Os trabalhos de pesquisa que abordam a determinação do período crítico de
interferência de plantas daninhas em culturas agrícolas seguem, normalmente, um estilo
clássico com períodos crescentes, a partir da emergência, em que a cultura é mantida
livre ou na presença da planta daninha (DEUBER & FORSTER, 1975). Isso se deve
pelo fato, segundo os autores, de que a extensão do período crítico depende da
habilidade competitiva da cultura e da infestação de plantas daninhas. Por meio desse
esquema, pode-se determinar o PAI e o PTPI (PITELLI, 1985) e, assim, estimar o PCPI.
Nos últimos dez anos, inúmeros estudos têm sido feitos com intuito de determinar
os períodos de interferência das plantas daninhas em diversas culturas agrícolas, sendo
os mais recentes realizados nas culturas de amendoim (AGOSTINHO et al., 2006;
ALVES
et
al.,
2006),
arroz
(SILVA
&
DURIGAN,
2006),
beterraba
(KAVALIAUSKAIT & BOBINAS, 2006), cana de-açúcar (MARTINS, 2006; SILVA,
2006a), cebola (WILLIAMS II et al., 2007), mandioca (JOHANNS & CANTIERO,
2006), milho (COX et al., 2006; WILLIAMS II, 2006) e soja (NEPOMUCENO et al.,
2007).
A época e a extensão dos períodos crítico de interferência das plantas daninhas na
cultura do feijão também foram determinadas em certos estudos encontrados na
8
literatura. Alguns deles mostraram que o PAI pode estender-se até 17 dias após a
emergência (DAE) cultivar carioca (SALGADO et al., 2007), 11 dias após a emergência
(DAE) cultivar de feijão-caupi (FREITAS et al., 2009), cultivar BR IPEAN V69 foi até
o 5 dias após a semeadura (DAS), ao passo que para BR8 Caldeirão foi de 6 dias após a
semeadura (DAS) e para EVx91-2E-2 de 7 dias após a semeadura (DAS) cultivar-caupi
em várzea no amazonas (OLIVEIRA et al.,2010).
Da mesma maneira, o PTPI pode estender-se até 25 DAE (SALGADO et al.,
2007), 35 dias após a emergência (DAE) (FREITAS et al., 2009), a maioria dos
trabalhos que envolvem as relações de interferência entre plantas daninhas e o feijoeiro
(AGUNDIS et al., 1962, 1963; RODRIGUEZ & FAIGUENBAUM, 1985; CHAGAS &
ARAÚJO, 1988) estabeleceu como período total de prevenção da interferência (PTPI)
os 30 DAE.
2.3 Adubação nitrogenada na cultura do feijoeiro
O feijoeiro é uma planta exigente em nutrientes e, por possuir ciclo curto,
necessita que eles estejam prontamente disponíveis nos momentos de demanda, para
não limitar a produtividade. O nitrogênio (N) é considerado um dos mais importantes
nutrientes para essa espécie de planta.
Entre os principais fatores limitantes da produtividade da cultura do feijoeiro no
país, destacam-se aqueles relacionados ao baixo nível técnico empregado pelos
produtores e ao cultivo do feijoeiro em solos de baixa fertilidade, especialmente pobres
em N2 (CABALLERO et al., 1985; MERCANTE et al., 1999).
Na cultura do feijoeiro as principais fontes de N provém solo através da
decomposição da matéria orgânica, da aplicação de adubos nitrogenados e a fixação
9
biológica de N2 atmosférico, proveniente da associação do feijoeiro com bactérias
simbióticas presentes no solo (HUNGRIA et al., 1997; MERCANTE et al., 1999). Além
do elevado custo econômico, o uso de adubos nitrogenados em solos tropicais tem ainda
um custo ecológico adicional. Considera-se que as perdas de adubos nitrogenados
aplicados estão em torno de 50 %, sendo ocasionadas principalmente por lixiviação, na
forma de nitrato e escorrimento superficial, provocado pela água das chuvas e, ou,
irrigação (STRALIOTTO et al., 2002). O N perdido nesse processo é altamente
poluente e, uma vez carregado para o lençol freático, provoca a contaminação dos
aquíferos subterrâneos, rios e lagos.
Outras perdas de N aplicado ocorrem nas formas gasosas, que retornam à
atmosfera, sobretudo pelos processos de desnitrificação e volatilização (SIQUEIRA et
al.,1994; STRALIOTTO et al., 2002).
Nesse contexto, o manejo adequado da adubação nitrogenada representa uma das
principais dificuldades da cultura do feijoeiro, visto que a aplicação de doses excessivas
de N, além de aumentar o custo econômico, pode promover sérios riscos ao ambiente, e
a sua utilização em quantidade insuficiente pode limitar o seu potencial produtivo,
mesmo que outros fatores de produção sejam otimizados (SANTOS et al., 2003).
Por outro lado, estudos têm demonstrado que é possível que essa cultura se
beneficie, em condições de campo, do processo de fixação biológica de N2, podendo
alcançar produtividade acima de 2.500 kg ha-1 (HUNGRIA et al., 2000). Sob condições
ambientais adequadas, o N2 atmosférico fixado pela simbiose pode atender à maior parte
das necessidades do feijoeiro (HUNGRIA et al., 1985). Entretanto, os fatores da acidez
do solo, pH baixo e concentrações elevadas de Al tóxico, freqüentemente, limitam todas
as etapas do processo de infecção das raízes, formação de nódulos e assimilação do N
10
pela planta (DERNADIN, 1991; MARTINEZ- ROMERO et al., 1991; MERCANTE,
1993).
Diversos sistemas de manejo de solo foram utilizados, com o objetivo de se
estudar o desempenho produtivo do feijoeiro quanto à adubação nitrogenada, pois
alguns resultados mostraram resposta da cultura a doses de N acima de 100 kg ha-1
(CARVALHO et al., 2003; SILVA et al., 2003; MEIRA et al., 2005). No entanto,
autores como Chidi et al. (2002) e Bordin et al. (2003) verificaram resposta da
produtividade do feijoeiro com aplicação de 50 a 75 kg ha-1 de N. Farinelli et al. (2006)
observaram produtividade mais elevada com a aplicação de 78 kg ha-1. Junior et al.
(2009) observaram que a dose de 40 kg ha-1 de N no plantio, associada a 48 kg ha -1 de N
na cobertura proporcionou os melhores resultados de rendimento de grãos do feijoeiro
cv. Talismã no Estado de São Paulo. Em outro ensaio realizado em Mato Grosso do Sul,
a produtividade máxima de grãos do feijoeiro foi alcançada com aplicação de 140 kg ha1
de N, para três das quatro cultivares avaliadas (MERCANTE et al., 2006). Essa
variabilidade nas respostas de produtividade às doses de N, nos diferentes locais, tem
sido verificada especialmente em função dos níveis de fertilidade do solo e outras
técnicas empregadas nos sistemas produtivos, destacando-se o uso de sistemas de
irrigação. O N é o elemento mais absorvido e extraído pelo feijoeiro, e o seu uso tem
influência significativa na produtividade.
11
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Instalação dos experimentos: preparo do solo, semeadura e adubação
O experimento foi instalado e conduzido sob condições de campo, em área da
Fazenda de Ensino, Pesquisa e Produção (FEPP), da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias – FCAV – UNESP, campus de Jaboticabal. O solo da área experimental foi
classificado como um Latossolo Vermelho-escuro, de textura argilosa. Foi feita uma
amostragem do solo para fins de se efetuar a análise química e física. Essas análises
foram realizadas no Departamento de Solos e Adubos da Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias – UNESP- campus de Jaboticabal, sendo que os resultados
encontram-se nas Tabelas 1 e 2. O preparo do solo foi efetuado no sistema
convencional, com uma aração seguida de duas gradagens.
12
Tabela 1. Resultados da análise física do solo da área experimental. Jaboticabal,
2010.
Amostra
Argila
Silte
Fina
Areia
Grossa
Classe
Textural
g/kg
1
542
243
128
87
Argilosa
Tabela 2. Resultado da análise química do solo da área experimental. Jaboticabal,
2010.
pH
M.O.
Presina
Amostra CaCl2 g/dm³ mg/dm³
1
5,3
27
81
K
4,4
Ca
Mg
H+Al
47
mmolc/dm³
18
38
SB
69,4
T
V
107,4
(%)
65
A semeadura foi executada de forma mecanizada (semeadora adubadora Jumil
EXACTA air 2640 PD), numa densidade de 15 sementes por metro, com espaçamento
de 0,45 m entre linhas, realizada no dia 12 de maio de 2010. A cultivar de feijão
utilizado foi a ‘Rubi’, um material de alto potencial produtivo (3.900 kg ha -1); suscetível
às raças 31, 65 e 89 da antracnose; grão do tipo Carioca e massa de 1.000 sementes de
240 g (CARBONELL et al., 2003).
Na semeadura, realizada no dia 12 de maio de 2010, foi utilizado 270 kg ha -1 da
formulação (NPK) 2-20-20, a quantidade fornecida foi calculada levando-se em
consideração a análise do solo e as recomendações de Ambrosano et al. (1997) e na
adubação de cobertura, realizada no dia 33 de junho de 2010, em uma das áreas foi
utilizado 160 kg ha-1 de N, empregando-se como fonte uréia (320 kg ha-1), a quantidade
fornecida está baseada em classe de resposta de trabalhos publicados. Esses tratamentos
foram dispostos em esquema fatorial 2x7 + 2T, com quatro repetições.
13
3.2 Delineamento experimental
As parcelas foram constituídas por cinco linhas de plantio de feijão, com seis
metros de comprimento cada uma, resultando em uma área de 10,8 m2. Como área útil
foi considerada as três linhas centrais.
O experimento foi constituído de duas áreas adjacentes com infestação homogênea
de plantas daninhas, dentro de cada área foram aplicados os 14 tratamentos, separados
em dois grupos.
No primeiro deles, do primeiro ao sétimo tratamento, a cultura
permaneceu livre da competição das plantas daninhas desde a emergência até sete
períodos do seu ciclo de vida: 0-10 dias, 0-20 dias, 0-30 dias, 0-40 dias, 0-50 dias, 0-60
dias e 0-70 dias (colheita). Após cada um desses períodos, as plantas daninhas que
germinaram foram deixadas livres para crescer. No segundo grupo, do 8o ao 14o
tratamento, procedeu-se ao contrário do grupo anterior em relação ao controle das
plantas daninhas, ou seja, a cultura permaneceu em convivência com as plantas
daninhas desde a emergência até diferentes estádios do ciclo de vida: 0-10 dias, 0-20
dias, 0-30 dias, 0-40 dias, 0-50 dias, 0-60 dias e 0-70 dias (colheita). Após cada um
desses sete intervalos de convivência, as parcelas foram mantidas sem plantas daninhas
até o final do ciclo de vida do feijoeiro. Foi utilizado o delineamento experimental em
blocos casualizados, com quatro repetições por tratamento.
3.3 Avaliação das plantas daninhas
No final de cada período de convivência as plantas daninhas presentes em duas
áreas de 0,25 m2, assinaladas aleatoriamente nas parcelas experimentais, foram
removidas, identificadas, separadas por espécie, contadas e secas em estufa com
14
circulação forçada de ar a 70 ºC por 96 h, para determinação da matéria seca realizada
com o auxílio de balança com precisão de 0,01 g.
3.4 Tratamento fitossanitário
No decorrer do período experimental, foram realizadas aplicações preventivas de
inseticida e fungicida visando a prevenção contra mosca branca (Bemisia tabaci Genn)
vetor do Mosaico Dourado do Feijoeiro, mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola
(Sacc.) Ferr.) e antracnose (Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Magn.) Scribner),
conforme constam da Tabela 3.
O experimento foi conduzido utilizando-se, quando da ausência de chuvas,
sistemas de irrigação suplementar por aspersão convencional.
Tabela 3. Descrição dos produtos fitossanitários empregados no decorrer do
período experimental, com data de aplicação, dose e modo de aplicação. Jaboticabal,
2010.
Comercial
Karate Zeon 50 CS
Actara 250WG
Actara 250WG
Isatalonil 500SC
Produto
Ingrediente ativo
Inseticida
Lambda−Cialotrina
Tiametoxam
Tiametoxam
Fungicida
Chlorothalonil
Dose do p.c.
Data de aplicação
600 ml/ha
28/5/2010
200 g/ha
8/6/2010
200 g/ha
29/6/2010
2,5 L/ha
29/6/2010
15
3.5 Colheita
A colheita foi realizada 114 dias após a semeadura, no dia 03 de setembro de
2010. Na colheita, foram coletadas as plantas existentes em três metros das duas linhas
centrais da parcela, totalizando 6 metros por parcela. Depois de colhidas, as plantas
foram deixadas ao ar livre para secar e, quando a umidade dos grãos atingiu cerca de
11%, foi realizada à debulha mecânica das vagens. Os grãos coletados foram pesados
em balança de precisão 0,01g para cálculo de produtividade de grãos do feijoeiro
(kg ha-1) e determinação da massa de 100 grãos.
3.6 Análise dos dados
Aos dados médios de densidade e massa seca acumulada pelas plantas daninhas
foram ajustadas curvas de regressão, foram escolhidas aquelas que melhor expressaram
o comportamento biológico das plantas daninhas, assim como foi feito para os dados de
massa de 100 grãos de feijoeiro (processando-se separadamente em cada grupo,
períodos iniciais de convivência ou de controle das plantas daninhas).
Além disso, os dados médios de produtividade de grãos foram submetidos à
análise de regressão pelo modelo sigmoidal de Boltzman, conforme utilizado por
KUVA et al. (2000):
y=
(P1
y = produtividade de grãos do feijoeiro em função dos períodos de convivência.
P1 = produção máxima obtida nas plantas mantidas capinadas durante todo o ciclo. P2
= produção mínima obtida nas plantas em convivência com as plantas daninhas durante
16
o período máximo (80 dias). (P1 – P2) = perdas de produção. X = limite superior do
período de convivência. X0 = limite superior do período de convivência, que
corresponde ao valor intermediário entre a produção máxima e mínima. dx = parâmetro
que indica a velocidade de perda de produção em função do tempo de convivência.
Com base nas equações de regressão, foram determinados os períodos de
interferência das plantas daninhas para o nível arbitrário de tolerância de 5% de redução
na produtividade do feijoeiro, em relação ao tratamento mantido na ausência das plantas
daninhas (testemunha no limpo). Também foi realizada análise de regressão dos dados
de produtividade de grãos de feijão com a matéria seca das principais espécies
presentes, quando a cultura conviveu com as plantas daninhas por períodos crescentes.
17
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Plantas daninhas e tigueras presentes nas áreas
As plantas daninhas e tigüeras que ocorreram na área experimental se encontram
na Tabela 4.
A comunidade infestante foi composta por 17 espécies de plantas daninhas e três
plantas cultivadas anteriormente e em áreas próximas (tigüeras), sendo 80%
dicotiledôneas (16 espécies) e 20% monocotiledôneas (4 espécies). Dentre as
dicotiledôneas,
destacaram-se,
quanto
ao
número
de
espécies,
as
famílias
Amaranthaceae (duas espécies), Asteraceae (duas espécies) e Fabaceae ( três espécies);
dentre as monocotiledôneas destacou-se a família Poaceae (seis espécies),
representando cerca de 30% do total de famílias da área experimental.
Segundo Deuber (1992) e Ferreira et al. (1994), as espécies de plantas daninhas
anuais que predominam no inverno pertencem à classe dicotiledônea, ocorrendo poucas
18
espécies da classe monocotiledônea nos períodos mais frios. As espécies de gramíneas
perenes são exceções, sobrevivendo no período frio, com redução do seu crescimento
ou entrando em repouso vegetativo.
Tabela 4. Plantas daninhas e tigüeras componentes da comunidade infestante da área
experimental, Jaboticabal, 2010.
Família
Amaranthaceae
Amaranthaceae
Nome Científico
Alternanthera tenella Colla
Amaranthus defluxus L.
Acanthospermum hispidum
Asteraceae
DC.
Asteraceae
Parthenium hysterophorus L.
Brassicaceae
Raphanus raphanistrum L.
Commelinaceae Commelina benghalensis L.
Convolvulaceae
Ipomoea nil L. Roth
Cyperaceae
Cyperus rotundus L.
Euphorbiaceae
Euphorbia heterophylla L.
Fabaceae
Arachis hypogaea L.
Fabaceae
Glycine max L.
Fabaceae
Indigofera hirsuta L.
Malvaceae
Sida rhombifolia L.
Poaceae
Cenchrus echinatus L.
Poaceae
Digitaria sp.
Poaceae
Eleusine indica (L.) Gaerth
Poaceae
Panicum maximum Jacq.
Poaceae
Brachiaria decumbens
Poaceae
Pennisetum glaucum L.
Portulacaceae
Portulaca oleraceae L.
* Segundo a Internacional Weed Society
Nome Popular
Apaga – Fogo
Caruru
Carrapicho-decarneiro
Losna-Branca
Nabiça
Trapoerada
Corda-de-viola
Tiririca
Leitero
Amendoim
Soja
Anileira
Guanxuma
Capim-carrapicho
Capim-colchão
Capim-pé-degalinha
Capim-colonião
capim-braquiária
Milheto
Beldroega
Código
Internacional*
ALRTE
AMADE
Classificação
Dicotiledonea
Dicotiledonea
ACNHI
PTNHY
RAPRA
COMBE
IPONI
CYPRO
EPHHL
INDHI
SIDRH
CCHEC
DIGHO
Dicotiledonea
Dicotiledonea
Dicotiledonea
Monocotiledonea
Dicotiledonea
Monocotiledonea
Dicotiledonea
Dicotiledonea
Dicotiledonea
Dicotiledonea
Dicotiledonea
Monocotiledonea
Monocotiledonea
ELEIN
PANMA
BRADC
POROL
Monocotiledonea
Monocotiledonea
Monocotiledonea
Monocotiledonea
Dicotiledonea
4.2 Densidade total das plantas daninhas
Observou-se na área experimental que as maiores densidades de plantas daninhas,
foram atingidas no período de 10 a 30 dias após emergência (DAE) para a área sem N e
no período de 0 a 30 dias após a emergência (DAE) para a área com N, sendo que a
máxima foi atingida aos 19 dias para a área sem N e na área sem N a máxima foi
19
constante até os 30 dias com 104 plantas m-2. As menores densidades ocorreram no
período de 70 DAE, tanto para a área com N quanto para a área sem N, com 66 plantas
m-2 e 47 plantas m-2 respectivamente (Figura 10). As plantas presentes nas áreas
caracterizaram-se por apresentar diferentes tamanhos e estádios de desenvolvimento,
devido aos vários fluxos de emergência que se sucederam na área experimental.
Parreira (2009) trabalhando com dois espaçamentos em feijoeiro Carioca comum
observou que as maiores densidades de plantas daninhas foram atingidas no período de
20 a 60 dias e as menores ocorreram no período de 80 DAE para 10 plantas m -1 com
espaçamento de 0,45 cm, 10 DAE para 15 plantas m-1 com espaçamento de 0,45 cm e
80 DAE para 10 plantas m-1 com espaçamento de 0,60 cm e para 15 plantas m-1 com
espaçamento de 0,60 cm.
Densidade total sem N
Densidade total com N
300
-2
Densidade total (palntas.m )
250
200
150
100
50
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Dias após a emergência
Figura 10. Densidade total das plantas daninhas (planta m-2) que compuseram a
comunidade infestante em resposta ao período de convivência (dias) com a
cultura do feijoeiro. Jaboticabal, 2010.
4.3 Densidade das principais plantas daninhas
20
As espécies observadas na área com N em maior densidade foram Amaranthus
deflexus (caruru) com 51 plantas m-2 aos 20 DAE, Eleusine indica (capim-pé-degalinha) com 33 plantas m-2 aos 10 DAE, Cyperus rotundus (tiririca) com 28 plantas m-2
logo após a emergência e Raphanus raphanistrum (nabiça) com 19 plantas m-2 logo
após a emergência (Figura 11).
Caruru
Tiririca
Demais plantas Daninhas
-2
Densidade com N (plantas.m )
-2
Densidade com N (plantas.m )
60
45
30
15
Capim pé-de-galinha
Nabiça
Demais plantas Daninhas
40
30
20
10
0
0
0
0
10
20
30
40
50
60
70
10
20
30
40
50
60
70
80
Dias após a emergência
80
Dias após a emergência
Caruru
Nabiça
Demais plantas Daninhas
150
60
50
-2
-2
Densidade sem N (plantas.m )
120
Densidade sem N (plantas.m )
Capim pé-de-galinha
Tiririca
Demais plantas Daninhas
90
50
40
30
20
10
40
30
20
10
0
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Dias após a emergência
0
10
20
30
40
50
60
70
Dias após a emergência
Figura 11. Densidade das principais plantas daninhas infestantes (plantas m-2) em
função dos períodos de convivência com a cultura do feijoeiro.
Jaboticabal, 2010.
80
21
Na área sem N as maiores densidades foram representadas pelas mesmas espécies
de planta daninha, Amaranthus deflexus (caruru) com 131 plantas m-2 aos 20 DAE,
Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) com 40 plantas m-2 logo após a emergência,
Raphanus raphanistrum (nabiça) com 33 plantas m-2 aos 20 DAE e Cyperus rotundus
(tiririca) com 29 plantas m-2 logo após a emergência (Figura 11). E. indica e C.
rotundus, encontradas neste experimento em grande densidade estão entre as três
plantas daninhas mais importantes do mundo (COBUCCI 1999).
4.4 Massa seca total das plantas daninhas
Verificou-se aumento da massa seca total das plantas daninhas do 0 aos 70 dias
após emergência da cultura (DAE), com as máximas sendo atingidas aos 59 DAE, com
980 gramas na área com N e 64 DAE com 900 gramas na área sem N. Dos valores de
massa seca das plantas daninhas, a maior representação ficou por conta da espécie
Raphanus raphanistrum (nabiça), sendo que a mesma representou do total da massa da
matéria seca cerca de 73% na área sem N e 83% na área com N (Figura 12).
Scholten (2011), avaliando a cultura do feijoeiro, observou que a maior
representação dos valores de massa seca também foi de R. raphanistrum.
22
Ms total sem N
MS total com N
1000
Massa seca total (g)
800
600
400
200
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Dias após a emergência
Figura 12. Matéria seca total (g) das plantas daninhas que compuseram a comunidade
infestante em resposta ao período de convivência (dias) com a cultura do
feijoeiro.
4.5 Massa seca das principais plantas daninhas
O acúmulo máximo de massa seca nas áreas com e sem N foi verificado aos 60
DAE para a espécie R. raphanistrum (nabiça) atingindo valores de 895 gramas e 603
gramas respectivamente, para a espécie A. deflexus (caruru) foi verificado aos 69 DAE
com 58 gramas na área com N e 70 DAE com 161 gramas na área sem N (Figura 13).
Para a espécie C. rotundus (tiririca) o acúmulo máximo de massa seca nas áreas com e
sem N foram verificados aos 60 DAE com 11 gramas e 40 DAE com 5 gramas. Já para
a espécie Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) o acúmulo máximo foi de 8 gramas aos
30 DAE para as duas áreas, com e sem N (Figura 13).
23
Nabiça
Caruru
Demais plantas daninhas
1000
Tiririca
Capim pé-de-galinha
Demais plantas daninhas
800
50
600
Massa seca com N (g)
Massa seca com N (g)
400
200
70
60
50
40
30
20
10
20
0
10
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
Dias após a emergência
20
30
40
50
60
70
80
Dias após a emergência
Nabiça
Caruru
Demais plantas daninhas
700
Capim pé-de-galinha
Tiririca
Demais plantas daninhas
50
600
49
500
48
Massa seca sem N (g)
Massa seca sem N (g)
10
200
100
20
10
0
0
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
10
20
30
40
50
60
70
80
Dias após a emergência
Dias após a emergência
Figura 13. Massa seca das principais plantas daninhas infestantes (g) em função dos
períodos de convivência com a cultura do feijoeiro. Jaboticabal, 2010.
Teixeira et al. (2000), observaram que com o aumento da densidade de semeadura
do feijão Perola, a massa seca das plantas daninhas decresceu linearmente, devido a
maior cobertura do solo e do conseqüente aumento da competição entre as plantas de
feijão.
4.6 Produtividade da cultura
24
Os resultados da produtividade do feijoeiro podem ser observando nas Tabelas 5 e
6. Houve redução de 56% na testemunha em convivência das plantas daninhas durante
todo o ciclo do feijoeiro quando este foi submetido a adubação nitrogenada de cobertura
e 58% quando não houve adubação nitrogenada. Pela análise do parâmetro dx, infere-se
que a velocidade de redução de produção é maior no grupo do “sujo” (convivência) que
no grupo do “limpo” (controle). Deduz-se desses resultados que, quanto maior o
período de convivência da cultura com as plantas daninhas no início do ciclo, menor a
produtividade do feijoeiro. A velocidade de redução de produtividade do feijoeiro foi
menor na área que foi aplicado nitrogênio, indicando-se assim que a aplicação do
nitrogênio aumenta a produção da cultura.
A redução da produtividade do feijoeiro em razão da interferência das plantas
daninhas também foi verificada em outros estudos (NEARY e MAJEC, 1990;
BLACKSHAW, 1991; MALIK et al., 1993; ZOLLINGER e KELLS, 1993).
Freitas (2009) observou que a interferência das plantas daninhas reduziu o estande
final, o número de vagens por planta e o rendimento de grãos do feijão-caupi em até
90%. Esses resultados corroboram os de Matos et al. (1991), que verificaram redução de
produtividade de 70 a 90%, devido à livre interferência das plantas daninhas com o
feijão-caupi.
Para o feijão-comum, a queda no rendimento de grãos pode atingir 67%
(SALGADO et al., 2007) e 71% (KOSLOWSKI et al., 2002). Paes et al. (1999) por sua
vez, constataram reduções de 27 e 34 % na produtividade do feijoeiro (cultivares Ouro e
Ouro Negro, respectivamente). Fontes et al. (2001) aferiu redução de 73% na
produtividade.
25
Tabela 5. Parâmetros determinados para as equações sigmoidais de Boltzman ajustadas
aos dados de produtividade de grãos em função dos períodos de convivência
e controle com as plantas daninhas para a cultura do feijoeiro. Jaboticabal,
2010.
X0
dx
Convivência com
N
3543,5
1987,8
44,6
3,4
Controle com
N
2033,8
3516,2
13,1
2,8
Convivência sem N
3295,8
1907,3
39,9
12,6
Controle sem N
1848,9
3132,6
14,4
4,7
R2
0, 98069
0, 9651
0, 97602
0, 91433
Parâmetros
P1
P2
Equação (Boltzman)
y=
(P1 - P2
Obs: y (produtividade de grãos do feijoeiro em função dos períodos de
convivência), P1 (produção máxima obtida nas plantas mantidas capinadas durante todo
(X - X
1+e
o ciclo), P2 (produção mínima obtida nas plantas em convivência com as plantas
daninhas durante o período máximo de 80 dias), X (limite superior do período de
convivência), X0 (limite superior do período de convivência, que corresponde ao valor
intermediário entre a produção máxima e mínima), dx (parâmetro que indica a
velocidade de perda de produção em função do tempo de convivência) e R2 (coeficiente
de regressão).
Os feijoeiros também podem reduzir o acúmulo da matéria seca das plantas
daninhas. No trabalho de Silva et al. (2006), o feijoeiro foi altamente competitivo e
causou redução de 50% na massa seca da Brachiaria brizantha seca, em relação à sua
massa em monocultivo.
26
Tabela 6. Produção da cultura de feijão sem e com o convívio das plantas daninhas
durante todo seu ciclo de desenvolvimento e redução de produtividade.
Jaboticabal, 2010.
Convívio com as plantas daninhas
Produtividade (kg ha-1)
Sem
3543
3295
Com
1987
1907
Redução de Produtividade (%)
56%
58%
4.7 Determinação dos períodos de interferência na área com nitrogênio
Considerando-se perda de 5% na produtividade da cultura, verificou-se que na
área na qual foi realizada a adubação nitrogenada o período anterior à interferência
(PAI) estendeu-se até 38 dias após a emergência, enquanto o período total de prevenção
à interferência (PTPI) foi de 19 dias após a emergência (Figura 14). Portanto, a
adubação nitrogenada em cobertura, provavelmente, proporcionou ambiente de cultivo
mais favorável ao feijoeiro em relação as plantas daninhas, o que pode ser confirmado
pelo longo período de duração de PAI e pelo curto PTPI, quando comparado a estudos
realizados com o feijão carioca (SALGADO et al., 2007), feijão comum em semeadura
direta (KOZLOWSKI et al., 2002) e feijão caupi (FREITAS et al., 2009). De acordo
com Shafiq et al. (1994), aplicações de N podem reduzir a pressão de competição das
plantas daninhas com determinadas culturas, por incrementar o crescimento e a
habilidade competitiva das plantas cultivadas.
Com a realização da adubação nitrogenada não houve um período crítico de
prevenção à interferência, mas um período mais propício ao controle das plantas
daninhas. Sendo assim, um único controle da comunidade infestante entre 19 e 38 dias
após a emergência deveria ser feito para que não ocorressem perdas maiores de 5% na
produtividade do feijoeiro.
27
Desta maneira o controle das plantas daninhas poderia ser realizado por
meio de capina e/ou aplicação de herbicida seletivo, para garantir a não-interferencia
das plantas daninhas na produtividade da cultura do feijoeiro.
Convivência com N
Controle com N
4500
-1
Produtividade (kg.ha )
4000
3500
3000
PTPI=19 dias
2500
2000
PAI=38 dias
1500
0
20
40
60
80
100
120
Dias após a emergência
Figura 14. Produtividade do feijoeiro submetido à adubação nitrogenada e ajuste dos
dados pelo modelo sigmoidal de Boltzmann, em função dos períodos de
controle e convivência com as plantas daninhas, considerando-se uma
perda de 5%, Jaboticabal 2010.
4.8 Determinação dos períodos de interferência na área sem nitrogênio
Considerando-se perda de 5% na produtividade da cultura, verificou-se na área
sem nitrogênio que a convivência com as plantas daninhas começou a afetar a cultura
(PAI) aos 18 dias após a emergência da cultura, estendendo-se o controle até os 24 dias
após a emergência (PTPI). O período crítico de prevenção à interferência (PCPI),
28
caracterizado pelo intervalo de 18 a 24 dias após a emergência da cultura, deve estar
livre da interferência das plantas daninhas (Figura 15).
Convivência sem N
Controle sem N
3600
-1
Produtividade (kg.ha )
3300
3000
2700
2400
PAI=18 dias
PCPI 06 dias
2100
1800
PTPI= 24 dias
1500
0
20
40
60
80
100
120
Dias após a emergência
Figura 15. Produtividade do feijoeiro sem adubação nitrogenada e ajuste dos dados
pelo modelo sigmoidal de Boltzmann, em função dos períodos de controle e
convivência com as plantas daninhas, considerando-se uma perda de 5%,
Jaboticabal 2010.
Na prática, o PCPI é o período em que as capinas ou efeito residual dos
herbicidas, devem abranger, pois as plantas daninhas já presentes na área juntamente
com as que emergirem nesse período terá um estádio de desenvolvimento tal que
promoverão interferência e reduzirão significativamente a produtividade da cultura
(PITELLI,1985).
A maioria dos trabalhos que envolvem as relações de interferência entre plantas
daninhas e o feijoeiro (AGUNDIS et al., 1962, 1963; RODRIGUEZ &
FAIGUENBAUM, 1985; CHAGAS & ARAÚJO, 1988) estabeleceu como período total
29
de prevenção da interferência (PTPI) os 30 DAE. Salgado et al (2007) estabeleceu como
período total de prevenção da interferência (PTPI) os 25 DAE.
Verificou-se que a produção de grãos do feijoeiro na área onde foi realizada a
adubação nitrogenada reduziu exponencialmente com o aumento da massa da matéria
seca das plantas daninhas, quando a cultura conviveu por crescentes períodos de
convivência com a comunidade infestante da área experimental (Figura 16).
-1
Produtividade com N (Kg.ha )
4000
y= 1870,07*exp(-x/107,602)+1895,54
2
R = 0,96127
3500
3000
2500
2000
0
200
400
600
800
1000
Matéria seca (g)
Figura 16. Efeito da matéria seca (g) das plantas daninhas sobre a produção do feijoeiro
(em kg ha-1) com nitrogênio em resposta aos períodos de convivência.
Jaboticabal, 2010.
A produção de feijão inicial foi estimada em 3704 kg ha-1,e, com o aumento da
massa seca das plantas daninhas que aumentou próximo a 1000 g depois de 59 dias de
convivência), essa foi reduzida para 1898 kg ha-1. Mesmo comportamento foi verificado
por Salgado et al. (2007), Parreira (2009) e Sholten (2011) que constataram diminuição
acentuada da produção do feijoeiro quando em convívio por períodos crescentes com a
comunidade infestante.
30
Na área onde não foi realizada a adubação nitrogenada a produção de grãos do
feijoeiro também reduziu exponencialmente com o aumento da matéria seca das plantas
daninhas, quando a cultura conviveu por crescentes períodos de convivência com a
comunidade infestante. A produção de feijão inicial foi estimada em 3246 kg ha-1, e,
com o aumento da matéria seca das plantas daninhas que acumulou 800g depois de 64
dias de convivência esta foi reduzida para 1916 kg ha-1 (Figura 17).
3400
y= 1341,31* exp (-x/202,929) + 1891,29
2
R = 0,85583
-1
Produtividade sem N (Kg.ha )
3200
3000
2800
2600
2400
2200
2000
1800
0
200
400
600
800
Matéria seca (g)
Figura 17. Efeito da matéria seca (g) das plantas daninhas sobre a produção do feijoeiro
(em kg ha-1) sem nitrogênio em resposta aos períodos de convivência.
Jaboticabal, 2010.
O feijoeiro por se tratar de planta de ciclo vegetativo curto, torna-se bastante
sensível à competição, sobretudo nos estádios iniciais de desenvolvimento vegetativo,
dificultando todo o seu manejo (COBUCCI, 1999).
Levando-se em conta os valores arbitrários de redução da produtividade de 2,5%;
5% e 10%, obteve-se as velocidades de redução dos PAIs e PTPIs de 2,5%-5%; 5-10%
e 2,5%-10% em dias que podem ser observados na Tabela 7. O aumento da redução de
31
2,5 para 5% na convivência com N e controle com N demandou 3 dias e 1 dia de
convivência, enquanto para convivência e controle sem N foram necessários 7 e 3 dias.
Para um aumento de perda de 5 para 10% na convivência com N foram necessários 3
dias; no controle com N foram necessários 2 dias; na convivência sem N foram
necessários 9 dias e para controle sem N somente 4 dias. Numa situação mais extrema,
aumentando a perda de 2,5 para 10%, na convivência com N foram necessários 6 dias;
enquanto no controle com N foram 3 dias; na convivência sem N foram necessários 16
dias e para o controle sem N apenas 7 dias.
Tabela 7. Períodos anteriores à interferência (PAI) e período total de prevenção a
interferência (PTPI) para os limites de redução de produtividade na cultura
do feijoeiro de 2,5, 5 e 10% e a velocidade de redução de produtividade em
dias. Jaboticabal, 2010.
Identificação
Convivência com N (dias)
Controle com N (dias)
Convivência sem N (dias)
Controle sem N (dias)
Tolerância de redução
2,50%
5%
10%
35
38
41
20
19
17
11
18
27
27
24
20
Velocidade de redução
2,5-5%
5-10%
2,5-10%
3
3
6
1
2
3
7
9
16
3
4
7
4.9 Massa de 100 grãos
Com relação a massa de 100 grãos de feijão, não se constatou diferenças
significativas nos diferentes tipos de adubação para esta cultivar neste componente de
produção, estando entre 25 e 29 g. Parreira (2009) não constatou diferenças
significativas entre efeitos dos diferentes espaçamentos e populações testadas para a
cultivar Pérola, Sholten (2011) não constatou diferenças significativas entre efeitos dos
diferentes espaçamentos e populações testadas para a cultivar Carioca Rubi e Silveira et
32
al. (1990) para as cultivares Carioca e Rio Doce . Contudo, Andrade et al. (1999)
relataram que o peso de 100 grãos (g) da cultivar Aporé apresentou tendência linear
crescente com o aumento do espaçamento em tratamento capinado; para a cultivar
Pérola no tratamento capinado, a resposta foi quadrática, atingindo o maior peso de 100
sementes no espaçamento de 0,45 m (em torno de 19 g e 22 g, respectivamente), para a
cultivar Pérola no tratamento não capinado, o peso de 100 sementes diminuiu
linearmente com o aumento do espaçamento, já a cultivar IAPAR 14 apresentou
comportamento diferente das demais, sendo que no tratamento não capinado o peso de
100 sementes não foi afetado significativamente pelos espaçamentos; no entanto, para o
tratamento capinado, a resposta foi cúbica.
Freitas et al (2009) observaram que a interferência de plantas daninhas não afetou
o peso de 100 grãos para feijão caupi. Westermann e Crothers (1977), por sua vez,
verificaram que o a massa de 100 grãos aumentou com a redução da densidade de
semeadura em cultivares de hábito indeterminado, permanecendo, porém constante em
cultivares de hábito determinado.
33
5. CONCLUSÕES
- A adubação de cobertura nitrogenada aumentou a produtividade do feijoeiro
mesmo na presença das plantas daninhas.
- A adubação de cobertura nitrogenada favoreceu competitivamente o
feijoeiro em relação as plantas daninhas, aumentando o PAI.
34
6. RESUMO
O feijão é uma das principais culturas do Brasil, porém sua produtividade pode ser
prejudicada pela presença das plantas daninhas, que interferem negativamente no seu
desenvolvimento. Entre os períodos de interferência destacam-se três: período total de
prevenção da interferência (PTPI), período anterior à interferência (PAI) e período
crítico de prevenção da interferência (PCPI). O nitrogênio é considerado um dos mais
importantes nutrientes para essa espécie de planta. Desta forma, o objetivo deste
trabalho foi avaliar os efeitos do uso da adubação nitrogenada sobre a época e a
extensão do PAI, do PTPI e do PCPI na cultura do feijoeiro cultivar ‘Rubi’. A
semeadura foi no sistema convencional numa densidade de 15 sementes por metro, com
espaçamento de 0,45 m entre linhas. O ensaio foi constituído de duas áreas adjacentes
com infestação homogênea de plantas daninhas, dentro de cada área foram aplicados 14
tratamentos, separados em dois grupos. No primeiro deles a cultura permaneceu livre
35
da interferência das plantas daninhas desde a emergência até sete períodos do seu ciclo
de vida: 0-10 dias, 0-20 dias, 0-30 dias, 0-40 dias, 0-50 dias, 0-60 dias e 0-70 dias
(colheita). No segundo grupo, procedeu-se ao contrário em relação ao controle das
plantas daninhas, ou seja, a cultura permaneceu em convivência com a comunidade
infestante desde a emergência até diferentes períodos do ciclo de vida: 0-10 dias, 0-20
dias, 0-30 dias, 0-40 dias, 0-50 dias, 0-60 dias e 0-70 dias (colheita). Foi utilizado o
delineamento experimental em blocos casualizados, com três repetições por tratamento.
Em uma das áreas foi realizada a adubação nitrogenada de cobertura, nessa área, houve
predominância das plantas daninhas: Amaranthus deflexus, Eleusine indica, Cyperus
rotundus e Raphanus raphanistrum. O feijoeiro pode conviver com as plantas daninhas
até 38 dias após sua emergência (PAI), com um período total de prevenção à
interferência de 19 DAE, não houve um período crítico de prevenção a interferência, um
único controle das plantas daninhas entre 19 e 38 dias após a emergência deveria ser
feito para que não ocorressem perdas maiores de 5% na produtividade do feijoeiro. Na
área onde não ocorreu a adubação de cobertura houve predominância das mesmas
plantas daninhas e o feijoeiro pode conviver com as plantas daninhas até 18 dias após
sua emergência (PAI), com PTPI até 24 DAE, resultando em PCPI dos 18 aos 24 DAE.
Palavra-chave: Phaseolus vulgaris, Períodos de interferência, Adubação
nitrogenada.
36
7. SUMMARY
Beans are an important crop in Brazil, but its productivity may be hindered by the
presence of weeds, which negatively interfere with their development. Between the
periods of interference, three stand out: the total period of interference (PTPI), the
period before interference (PAI) and critical period of interference (PCPI). Nitrogen is
considered one of the most important nutrients for this plant species. Thus, the objective
is to evaluate the effects of N fertilization on the timing and extent of the PAI, PTPI and
the PCPI of bean cultivar 'Ruby'. The sowing of cv. Carioca will be done in the
conventional system at a density of 15 seeds per meter, with 0.45 m spacing between
rows. The test consisted of two adjacent areas with weed infestation homogeneous
within each area were applied to 14 treatments, separated into two different groups. In
the first, from first to seventh treatment, the crop was free from the interference of
weeds from emergence up to seven times of their life cycle: 0-10 days, 00-20 days, 00-
37
30 days, 0-40 days , 0-50 days, 0-60 days and 0-70 days (harvest). In the second group
of 8th to 14th treatment, was done contrary to the previous group in relation to weed
control, ie, the crop was in harmony with weeds from emergence up to different stages
of life cycle: 0 -10 days, 0-20 days, 00-30 days, 00-40 days, 00-50 days, 0-60 days and
0-70 days (harvest). We used a randomized block design, with three replicates per
treatment. In one of the areas was held on nitrogen fertilization in this area,there was a
predominance of weeds: Amaranthus deflexus,
Eleusine
indica,
Cyperus rotundus
and Raphanus raphanistrum. The bean can live with the weeds up to 38 days after its
emergence (PAI), with a total period of interference from 19 DAE, there was a critical
period to
prevent interference,
a
single weed
control between 19:38 days after
emergence should be done to prevent any further losses of 5% on bean productivity. In
the area where there was a predominance top dressing of the same bean and weeds can
live with the weeds up to 18 days after its emergence (PAI), with up to 24 DAE PTPI,
resulting in PCPI 18 to24 DAE.
Key words: Phaseolus vulgaris, Interference period, Nitrogen fertilization.
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