Controle de Plantas Daninhas
Biologia das Plantas Daninhas
Aula 3 e 4: 18 e 19/02/2014
1. Introdução
Muitos autores têm conceituado plantas daninhas ao longo dos anos, com vários
conceitos:
“...qualquer planta que cresce onde não é desejada” (Blatchley, 1912; Georgia,
1916; Shaw, 1956; Klingman, 1961; Salisbury, 1961; Buchholtz, 1967) ou
“...qualquer planta ou vegetação que interfere nos objetivos do ser humano”
(EWRS, 1986).
Outros autores conceituam, ecologicamente, plantas daninhas como sendo:
“...plantas pioneiras de sucessão secundária, das quais campos agrícolas são um
caso especial” (Bunting, 1960) ou
“...espécies oportunistas (espontâneas) que ocorrem em ambientes com distúrbio
humano. ” (Pritchard, 1960).
1. Introdução
Há, ainda, conceitos como:
“...planta sem valor econômico ou que compete, com o homem, pelo solo”
(Cruz, 1979);
“...plantas cujas vantagens ainda não foram descobertas” e
“...plantas que interferem nos objetivos do homem em determinada situação”
(Fischer, 1973).
Segundo Silva et al. (2007), na verdade, em um conceito mais amplo, uma planta
só pode ser considerada daninha se estiver, direta ou indiretamente,
prejudicando determinada atividade humana. Portanto, pode-se notar que
qualquer planta, de qualquer espécie, pode ser considerada planta daninha se
estiver ocorrendo em um local de atividade humana e se estiver afetando de
maneira negativa, em algum momento ou durante todo o tempo, essa atividade.
Planta daninha será:
Qualquer planta que cresça espontaneamente em um
local de atividade humana e cause prejuízos a essa
atividade.
OU
Planta que ocorre em local onde não é desejada,
interferindo com os objetivos do homem, e que quando
presente em agroecossistemas interfere com as culturas
econômicas afetando a produtividade ou a qualidade do
produto colhido.
2. Nome da Ciência que estuda Plantas Daninhas
A Ciência que estuda as plantas daninhas ainda não tem nome definido.
Alguns autores e a Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas a
denominam Ciência das Plantas Daninhas.
Outros autores a denominam Herbologia, o qual não seria um conceito
totalmente apropriado devido ao termo herbo referir-se à erva (do hábito
herbáceo) e ao fato de que nem toda planta daninha apresenta hábito herbáceo.
Outros a denominam Matologia, ou seja, estudo do mato.
A Matologia é uma ciência multidisciplinar, integrando muitas áreas do
conhecimento, desde ciências básicas até ciências específicas de formação.
Conhecimentos de: Biologia, Botânica e Ecologia, envolvidos no manejo
biológico, adaptação das espécies, relação planta cultivada x planta daninha,
dinâmica de populações de plantas daninhas etc;
Fisiologia Vegetal e Climatologia, envolvidos em estudos de comportamento e
adaptação em diferentes ambientes (juntamente com Biologia e Ecologia),
resposta à aplicação de herbicidas, crescimento e desenvolvimento etc;
Mecanização Agrícola, envolvido no controle de plantas daninhas, eficiência da
tecnologia de aplicação de herbicidas etc; Ciência do Solo, Física do Solo e
Química do Solo, envolvidos nas interações herbicida x ambiente, disponibilidade
de nutrientes e água, adaptações edáficas etc; Química e Bioquímica, aliada a
outras ciências, no estudo de fisiologia de herbicidas, dinâmica ambiental de
herbicidas etc; Toxicologia, Sociologia, Legislação, envolvidos nos estudos de
herbicidas, certificação e venda de produtos etc; Matemática e Estatística,
envolvido na modelagem e análise experimental; Fitotecnia, Entomologia,
Fitopatologia, Nematologia, Acarologia, Virologia, Genética e Biotecnologia,
envolvidos no melhoramento vegetal, transgenia, controle biológico etc.
Plantas Daninhas Comuns e Verdadeiras
As Comuns são aquelas que NÃO possuem habilidade de sobreviver em condições
adversas. Por exemplo, num plantio rotacional de soja/milho, as plantas de soja
que surgirem das sementes remanescentes no solo (perdas na colheita), passam a
ser consideradas daninhas a cultura do milho.
As verdadeiras possuem características especiais, como a dormência, que
permitem sobrevivência em condições adversas, além de:
A. não ser melhoradas geneticamente;
B. serem rústicas no ataque a pregas e doenças;
C. possuírem capacidade de produzir grande número de sementes por planta,
geralmente com facilidade de disseminação pelo vento, água, pêlo de animais,
etc. Exemplo: Desmodium tortuosum, que produz até 42.000 sementes por
planta [ Soja tem 200 vagens de 3 grãos em média = 600 sementes/planta >>>
70 VEZES MENOS !!!] facilmente dissemináveis por animais e máquinas,
misturadas com outras sementes, etc.
D. apresentam dormência e germinação desuniforme, atributos que facilitam a
perpetuação da espécie, pois se todas as sementes germinassem de uma só
vez seria fácil erradicá-las. Essas plantas se multiplicam por meio de sementes,
rizomas, bulbos, tubérculos, folhas, raízes, etc.
Desmodium tortuosum
Espécies (mais de 40)
Desmodium adscendens
(Carrapicho-beiço-de-boi)
Desmodium canadense
Desmodium cuneatum
Desmodium discolor
Desmodium distortum
Desmodium elegans
Desmodium incanum (Pega-pega)
Desmodium leiocarpum
Desmodium motorium
Desmodium pendulaeflorum
Desmodium perplexum
Desmodium podocarpum
Desmodium psilocarpum
Desmodium tortuosum
Desmodium uncinatum
Desmodium tortuosum
Desmodium tortuosum
3. Importância das Plantas Daninhas
As plantas daninhas apresentam tanto importância econômica quanto social, pois
afetam atividades de produção, causando perdas econômicas com reflexos sociais.
Pensando em termos conceituais, plantas daninhas causariam apenas impactos
negativos sobre as atividades humanas.
Porém, alguns autores consideram que há aspectos positivos de plantas daninhas
para o ser humano e/ou ambiente (neste caso, não deveria ser chamada de
planta daninha, na visão do autor, mas ainda não há um conceito descrito para
esses casos).
Para algumas plantas daninhas, foi descoberto algum tipo de uso pelo ser
humano (medicinal, alimentício etc.), sendo que essas plantas ocorrem como
daninhas ou podem ser cultivadas ou usadas em algum tipo de extrativismo.
Com base em um pensamento ecológico e de sustentabilidade, pode-se atribuir,
ainda, aspectos positivos conservacionistas da presença de plantas daninhas no
ambiente.
3.1 Aspectos Negativos
A. Redução da produtividade e do valor da terra
B. Perda da qualidade do produto agrícola
C. Disseminação de pragas e doenças
D. Maior dificuldade e custo do manejo agrícola
E. Problemas com manejo e perda de água
F. Danos à vida e à saúde do ser humano
G. Danos a outras áreas de atividade humana
3.1 A. Redução da produtividade e do valor da terra
A presença de plantas daninhas em áreas cultivadas resulta em redução da
produtividade devido à interferência causada pelas plantas daninhas.
As perdas variam conforme a espécie e podem, inclusive, inviabilizar a colheita.
Nesse sentido, dependendo da espécie e da densidade de indivíduos na área, o
valor potencial da terra pode ser reduzido.
Em áreas agrícolas, espécies de difícil controle, como tiririca (Cyperus spp.),
grama-seda (Cynodon dactylon) etc., podem reduzir o valor da terra.
Em áreas de pecuária, a presença de plantas tóxicas, como guanxuma (Sida spp.),
mio-mio (Baccharis coridifolia), maria-mole (Senecio brasiliensis) etc., também
podem reduzir o valor da terra.
Em áreas de prática de esportes náuticos e criação de peixes, a presença de altas
densidades de plantas aquáticas, como aguapé (Eichornia crassipes), entre outras,
também pode causar o mesmo problema.
3.1 B. Perda da qualidade do produto agrícola
A presença de restos vegetais de plantas daninhas, por ocasião da colheita, além
das impurezas, pode resultar em aumento no teor de água do produto,
favorecendo a ocorrência de podridão.
Além disso, há a questão de contaminação de lotes de sementes. Um exemplo é
a presença de arroz-vermelho (Oryza sativa) em lotes de sementes de arroz,
entre outros, sendo que existe Legislação específica (Decreto 24.114 de
12/04/1934) para controlar a qualidade do lote de sementes no Brasil.
[Em nenhuma das classes de sementes (básica ou certificada) é permitida a
presença de grãos de arroz-vermelho ou preto].
Outras daninhas responsáveis pela não certificação de sementes das culturas
quando colhidas juntas são leiteiro (Euphorbia heterophylla), capim massambará
(Sorgum halepense) e feijão-miúdo (Vigna unguiculata). Mudas em torrão, com
presença de tiririca (Cyperus rotundus).
Outros exemplos são a presença de sementes de picão-preto (Bidens pilosa)
junto a fibra do algodão, sementes de capim carrapicho (Cenchrus echinatus)
junto ao feno, sementes de carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum)
aderidas a lã, tubérculos de tiririca (Cyperus rotundus) se desenvolvendo dentro
de tubérculos de batata, etc. FOTOS A SEGUIR - Cyperus
Tiririca se desenvolvendo em batata
Tiririca
Tiririca se desenvolvendo em batata
1
4
3
2
Leiteiro
Leiteiro ou Amendoim Bravo (Euphorbia heterophylla) germina desde 20 cm de
profundidade mantendo a viabilidade germinativa por vários anos, mesmo quando
enterradas. Estágio de controle com 2 a 4 folíolos (Foto 4).
Teor de umidade e rendimento de soja em função da densidade de plantas de
amendoim-bravo ou leiteiro (E. heterophylla) (plantas/m²).
Fonte: Campo et al, (1983)
Níveis de Número de Umidade Rendimento Rendimento
Infestação Plantas de dos grãos de da cultura
da cultura
Leiteiro
soja (%)
(Kg/há)
(sc/há)
0
0
9,62
2555
42,6
I
6
15,9
2390
39,8
II
17
16,1
2447
40,8
III
48
21,1
1678
28,0
Nível de Infestação III teve redução de
35% do rendimento da cultura.
Capim Massambará
Capim Massambará - Capim argentino, sorgo de alepo (Sorghum halepense)
Sinônimos: Andropogon sorghum, Andropogon halepensis, Andropogon
halapensis var. anatheus e Blumembaechia halepensis
É uma das plantas invasoras mais temidas no mundo. No Brasil, sua área de infestação vem
aumentando, sendo freqüente ao longo de rodovias, invadindo lavouras anuais e perenes,
principalmente cana-de-açúcar. A sua presença, se não controlada, inutiliza completamente o
solo para a agricultura, exceto para pastagem, cujo valor forrageiro é razoável.
1
Arroz Vermelho
2
Esse tipo de arroz integral apresenta 15% mais proteína que o arroz polido, três vezes
mais ferro e duas vezes mais zinco que o tradicional. É rico em fibras (duas vezes e
meia mais que o polido) e tem baixo teor de gordura.
Também auxilia na diminuição da absorção do colesterol pelo organismo, graças à
monocolina (estatina natural), substância presente em sua composição.
Alternativa ao controle na Bibliografia. Variedade Resistente a Agrotóxico BASF.(2011)
Receitas com Arroz preto
Arroz preto com legumes e
castanha do Pará.
Arroz Preto
Esse tipo de arroz é fonte de ferro e fibras, a versão escura do arroz tem vitamina
E, além de conter mais antioxidantes do que as blueberries.
O site americano Huffington Post consultou diversos médicos e nutricionistas e
elegeram um dos “Os Cinco Alimentos Mais Saudáveis do Mundo” (bibliografia) –
além de pimenta preta, pimenta Chili, manjericão e damasco.
3.1 C. Disseminação de pragas e doenças
As plantas daninhas são potenciais hospedeiras de pragas, doenças, nematoides,
ácaros, bactérias e vírus, sendo, portanto, fonte de inóculo desses organismos em
culturas de interesse comercial ou ainda de animais peçonhentos como cobras,
aranhas e escorpiões.
Como exemplo as guanxumas, várias espécies do gênero Sida (Sida rhombifolia,
Sida glaziovii, Sida micrantha, Sida santaremnensis, Sida cordifolia, etc.) são
hospedeiras de pulgões (Aphis spp.) e da mosca-branca (Bemisia tabaci), que são
vetores da doença mosaico-dourado do feijoeiro, soja e algodão.
Outro exemplo é o capim-massambará (Sorghum halepense), que é hospedeiro do
vírus do mosaico da cana-de-açúcar. O capim-marmelada ou papuã (Urochloa
plantaginea) hospeda a bactéria da estria-vermelha da cana-de-açúcar.
Mais de 50 espécies de plantas daninhas hospedam nematóides dos gêneros
Meloydogyne e Heterodera (nematóide-do-cisto da soja).
3.1 D. Maior dificuldade e custo do manejo agrícola
Logicamente, uma lavoura com alta presença de plantas daninhas é mais difícil
de ser manejada que outras com poucas plantas daninhas.
Além disso, o custo de controle das plantas daninhas acarreta aumento no custo
de produção da área.
Em lavouras convencionais, há necessidade de preparo do solo mais intenso e
cultivos adicionais. Em plantio direto, o uso de herbicidas pode ser maior.
A presença de plantas daninhas, por ocasião da colheita, pode trazer transtornos
operacionais, retardando o processo de colheita e, por consequência,
aumentando as perdas e o custo de produção.
Um grande prejuízo da alta infestação de plantas daninhas por ocasião da
colheita mecanizada de grãos, ocorre da redução da velocidade do processo,
devido ao “embuchamento” da máquina, através de suas lâminas de corte, da
perda na colheita (5 até 10%), advinda da má pré limpeza feita na esteira da
máquina e do aumento da umidade da lavoura, podendo até condenar um
campo a não colheita. Exemplo: Corda-de-viola (Ipomoea spp.) em lavoura de
soja, ou alta infestação de Buva (Conyza bonariensis). FOTOS A SEGUIR - iPOMOEA
6
2
1
5
4
Corda de Viola
Ipoméia Rubra
3
Corda de Viola (Ipomoea spp.)
Nome Popular: Ipoméia, jitirana, jetirana, corriola, campainha, corda-de-viola.
Cultura do que?
BUVA
O ciclo germinativo se dá em 2 momentos: inverno e primavera.
É muito prolífera, pilosa, de alta capacidade de disseminação e adaptável a
diferentes ambientes (rústica).
Pode causar prejuízos de até 40% em 4,5 milhões de ha no Paraná e Paraguai.
Conhecida popularmente como “voadeira”, a buva tem capacidade de produzir
até 200 mil sementes viáveis por planta e é de fácil disseminação por ventos de
até 80 km, disseminando-se por até 100 Km de distância.
3
1
4
Buva
2
Frente: tratamento com Classic.
Fundo: testemunha no dia da
aplicação de pós-emergência.
Além dos prejuízos econômicos para os
agricultores, que gastam três vezes mais em
herbicidas, esta planta é forte competidora
em nutrientes, luz e água contra a soja. Uma
situação que dificulta a colheita, aumenta a
umidade e as impurezas.
Alto poder competitivo, dados que indicam redução de até 87% no rendimento da
soja, quando a conyza convive com a cultura durante todo o ciclo.
1
2
1
2
4
3
Embrapa: Tolerável entre 0,7 e 1,0 sacas/há de perda
3.1 E. Problemas com manejo e perda de água
Plantas daninhas aquáticas causam prejuízos a canais de irrigação, represas de
hidroelétricas, lagos de produção de peixes etc.
A perda de água e o consumo de oxigênio são elevados na presença de aguapé
(Eichornia crassipes), devido à alta evapotranspiração, podendo levar à morte de
peixes, diminuição da quantidade de água dos reservatórios etc.
Plantas aquáticas submersas, de difícil controle, podem causar muitos danos a
hidroelétricas, pois podem entupir grades e danificar turbinas, reduzindo a
produção e o fornecimento de energia.
Outra espécie importante é a taboa (Typha angustifolia), entre outras, cuja
presença em lagos e represas limita as dimensões do espelho d’água, causando
problemas no uso da água.
3.1 F. Danos à vida e à saúde do ser humano
Nas atividades agrícolas, plantas com espinhos como o Joá (Solanum viarum) e
arranha-gato (Acacia plumosa) ou com diásporos dotados de estruturas
pontiagudas como capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e Picão-preto (Bidens
pilosa), plantas tóxicas ou irritantes como cituta (Conium maculatum), mamona
(Ricinus communis), Mucuna (Mucuna pruriens), entre outras, podem trazer
transtornos na colheita manual e outras atividades de manejo agrícola.
Além disso, em meio às plantas daninham podem ficar alojados animais
peçonhentos, expondo o ser humano a perigos quando estiver exercendo alguma
atividade de manejo.
Ocorrência de alergia a pólen da grama-seda (Cynodon dactylon), capimmassambará (Sorghum halepense), losna-branca (Parthenium hysterophorus) e
capim-gordura (Melinis minutiflora). Dermatites e irritações na pele causadas por
urtiga (Jatropha urens).
A mamona (Ricinus communis) apresenta nas suas sementes uma substância
chamada ricina, que, quando ingerida por crianças e adultos em quantidade
elevadas pode levar à morte.
Cicuta
Picão-preto
3.1 G. Danos a outras áreas de atividade humana
A presença de plantas daninhas em outras áreas de interesse humano, nãoagrícolas, também se constitui em sério problema, sendo que muitos dos
aspectos negativos já discutidos podem ocorrer em áreas como jardins, parques,
campos de futebol, terrenos-baldios, beira de rodovias e ferrovias, gramados e
outras áreas urbanas, etc.
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Aula 3 e 4 Parte I