Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 ENSAIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS POTENCIALMENTE MEDICINAIS ORIUNDAS DA FLORESTA AMAZÔNICA NA COMPOSIÇÃO DE MEDICAMENTOS PROCESSADOS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Helvio Moreira Arruda¹ RESUMO Dentre as riquezas da Floresta Amazônica, destacam-se as plantas medicinais, as quais, comprovadamente, possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de pessoas no mundo. Há muito poucos estudos científicos acerca deste assunto. Não existem pesquisas que comprovem a real importância das plantas medicinais como fármacos e seu uso maximizado pela indústria farmacêutica. Acreditamos que a utilização de plantas medicinais em medicamentos industrializados é uma atividade em franco crescimento. O objetivo central deste artigo é levantar a discussão acerca da importância das plantas medicinais no mercado farmacêutico. Palavras-chave: plantas medicinais no mercado farmacêutico – Amazônia ABSTRACT Among the riches of the Amazon Rainforest, medicinal plants call special attention as they are proven to have pharmacological properties and are used by millions of people around the world. There are very few scientific studies in this topic. There is no research proving the real importance of medicinal plants as drugs and its maximized use in the pharmaceutical industry. We believe that the use of medicinal plants in industrialized drugs is a fastly growing activity. This work intends to raise the discussion about the importance of medicinal plants in the pharmaceutical industry. Key words: medicinal plants in the pharmaceutical industry – Amazon 32 ¹ Graduado em Administração. Especialista em Marketing. Mestre em Administração. Atualmente é: Diretor Geral das Faculdades Integradas do Tapajós – FIT; Diretor Geral do Colégio Tapajós; Coordenador da Região Oeste do Pará do Conselho Regional de Administração do Estado do Pará; Avaliador de Cursos e Avaliador Institucional do INEP – MEC; 1º Secretário do Conselho Fiscal da Associação Comercial e Empresarial de Santarém – ACES; Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular – FUNADESP. Revista Perspectiva Amazônica I. Introdução Ano 3 N° 5 p.32-45 A Floresta Amazônica é imprescindível para o futuro do Brasil e do Mundo, à medida que o nosso e outros países começam a eleger bens e serviços ecológicos como as melhores opções para uma economia sustentável e para o bem-estar humano, aumentando as promessas de preservação e de cuidado com a floresta. É detentora da maior reserva de plantas medicinais do mundo, segundo a FIEAM – Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, 2002. Este ensaio versa sobre a importância das plantas medicinais para a produção de medicamentos em escala. Em 1987 a ONU publicou o relatório “Nosso Futuro Comum”, com o objetivo de demonstrar a necessidade de um ajuste da demanda mundial para um ritmo mais próximo da natureza (MUNDO VERDE, 2011, p. 28). Entender a importância da Amazônia para o Brasil e para o mundo deverá ser o aspecto central para o desenvolvimento de uma política para a região, o que está descrito em vários trabalhos e artigos científicos, dependendo do enfoque sócio-econômico-ambiental que se queira abordar (VEJA, 2010, p.94). Hoje em dia há uma preocupação crescente e há cada vez mais consciência da população mundial com a preservação dos recursos naturais ainda existentes no globo, especialmente os da Amazônia e seu uso sustentável. A sociedade precisa ter uma resposta sobre a manutenção da biodiversidade, especialmente da floresta degradada da Amazônia, na qual hoje já prosperou uma floresta secundária. Segundo Lovatto, Etges e Karnopp (2008) a agropecuária somada à exploração da madeira são as principais causas da devastação das florestas primárias e secundárias existentes no Planeta. O uso de plantas potencialmente medicinais, oriundas da Floresta Amazônica, integra o seu ecossistema, e tem importância ímpar na manutenção do meio ambiente, pois onde se encontra plantas medicinais, há preservação da floresta secundária. Ademais, a utilização de plantas medicinais para produção de medicamentos apresenta a melhor relação custo/benefício quando comparada aos produtos sintéticos, pois sua ação biológica é eficaz, com baixa toxidade e efeitos colaterais, além de apresentar um custo de produção inferior. Grandes empresas farmacêuticas vêm investindo milhões em pesquisas com plantas brasileiras, e, por consequência disso, acabam por requerer patentes e sintetizar novos fármacos. (FUZÉR ; SOUZA. 2003) Historicamente, das florestas primárias só se valoriza a madeira nobre, quase nenhum valor é atribuído aos produtos não madeireiros e os serviços ambientais das florestas comumente são desconhecidos (SCHAFFER; PROCHNOW, 2002). Essa mentalidade extrativista-exploratória permanece até hoje. Com a valorização das plantas medicinais, oriundas da floresta secundária (capoeira) talvez esta condição mude. Segundo Arruda (1999), o manejo florestal deve ser uma exploração racional, ou seja, a exploração da floresta secundária deverá ser realizada através de um conjunto de atividades a serem estabelecidas. O cultivo de plantas medicinais na Amazônia contribui para a manutenção do 33 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 ecossistema e deve valorizar a flora regional. Investimentos na produção de plantas medicinais, em especial nas nativas, poderão gerar melhorias na qualidade dos produtos fitoterápicos, reduzindo os custos de medicamentos industrializados. A ausência de estudos e pesquisas que determinem a importância das plantas medicinais como produto farmacêutico contribuem para a falta de conscientização com relação ao tema. Sua utilização por grandes laboratórios deve ser conhecida, para que se dê a real importância para esse produto nativo da Amazônia. Apesar de haver registros de utilização de plantas medicinais há mais de seis mil anos, somente no século XV é que seu uso foi maximizado em virtude dos resultados observados nos tratamentos, hoje, com o advento da cultura ecológica, incentiva-se cada vez mais o uso de medicamentos naturais. Na década de 90, no Brasil, os produtos alopáticos começaram a ceder mercado para as plantas medicinais, inclusive com a automedicação e o cultivo de ervas em quintais, as quais traziam os mesmos resultados dos alopáticos com menor custo. Atualmente a utilização de plantas medicinais em medicamentos industrializados é uma atividade em franco crescimento. Na esfera governamental, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo ações no sentido de elaborar políticas públicas para introduzir algumas plantas medicinais nos programas do Sistema Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2006b). Estima-se que 25% dos R$ 8 bilhões de faturamento da indústria farmacêutica brasileira registrados em 1996 advêm de medicamentos derivados de plantas. As vendas nesse setor crescem 10% ao ano, alcançando a cifra de 550 milhões no ano de 2001 (GUERRA; NODARI, 2003). II. Questões para investigação O conceito básico de sustentabilidade começou a ser delineado em 1972, na primeira Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo para discutir as atividades humanas em relação ao planeta região. Hoje, o conceito que vigora foi criado em 1988, por John Elkington, o qual possui três esferas: a ambiental, a econômica e a social, sendo a sua interseção a própria sustentabilidade (MUNDO VERDE, 2011, p. 28). A situação atual exige ações urgentes para promover o desenvolvimento econômico, ambiental e socialmente sustentável da floresta. Já é fato que as plantas medicinais possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de indivíduos no globo terrestre. O Ministério da Saúde reconheceu esse recurso terapêutico como útil nos diversos programas de atenção à saúde (BRASIL, 2006a). Os laboratórios farmacêuticos se valem de várias destas plantas para comporem medicamentos produzidos em grande escala. Acreditamos que estas plantas têm maior importância e valor comercial para os mercados nacionais e internacionais, 34 fato que deve ser objeto de investigação científica. Revista Perspectiva Amazônica Diante deste contexto, levanta-se uma interessante questão de pesquisa: qual a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da Floresta Amazônia na composição de medicamentos processados por grandes laboratórios farmacêuticos? Para se chegar à resposta científica a esta pergunta, é preciso encontrar soluções para uma série de outras questões de investigação secundárias: Ano 3 N° 5 p.32-45 Quais são as plantas medicinais mais procuradas pela indústria farmacêutica nacional e internacional? Quais são os laboratórios que utilizam este produto da Floresta Amazônica? Como o comércio das plantas medicinais pode contribuir com a preservação ambiental? Como os produtos pesquisados são comercializados? Qual o comportamento do mercado de plantas medicinais, no âmbito dos grandes laboratórios? Quais são os principais laboratórios que processam plantas medicinais, transformando-as em insumos farmacêuticos? A comunidade científica ainda não encontrou respostas satisfatórias. Acreditamos que diversos laboratórios farmacêuticos, inclusive os que têm abrangência multinacional, usam plantas medicinais em seus principais produtos. Há de se investigar quais plantas medicinais têm maior importância e valor comercial para os mercados nacionais e internacionais, como os produtos pesquisados são comercializados, qual o comportamento do mercado de plantas medicinais, no âmbito dos grandes laboratórios, qual a real importância farmacológica das plantas medicinais da Amazônia e quais são os principais laboratórios que processam plantas medicinais, transformando-as em insumos farmacêuticos. III. As plantas medicinais: etnofarmacologia Define-se etnofarmacologia como “a exploração científica interdisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem” (BRUHN, 1992). A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia que estuda o complexo conjunto de relações entre plantas e animais com a sociedade humana (BERLIN, 1992). A Etnofarmacologia não trata de superstições, e sim do conhecimento popular relacionado a sistemas tradicionais de medicina. Para apreciar o conhecimento popular é preciso admiti-lo como tal – um corpo de conhecimento, um produto do intelecto humano – e não se pode ser preconceituoso. A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia, uma disciplina devotada ao estudo do complexo conjunto de relações de plantas e animais com sociedades humanas, presentes ou passadas (BERLIN, 1992). Como estratégia na investigação de plantas medicinais, a abordagem etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto a usuários da flora medicinal, com estudos químicos e farmacológicos. (ELISABETSKY; SETZER, 1990). A seleção etnofarmacológica de plantas de acordo com informações relatadas pela população sobre um determinado efeito terapêutico pode 35 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 contribuir sobremaneira com a descoberta de fármacos. O real valor do conhecimento tradicional de novos fármacos só seria possível se houvesse a possibilidade de comparar os resultados de uma amostra razoável de pesquisas feitas com base em coletas de plantas ao acaso ou por etnofarmacologia, considerando-se também que a maioria dos estudos não publica resultados negativos. Segundo Vlietinck e Van den Berghe (1991), Spujt e Perdue (1976), ao analisarem compostos com potencial anticancerígeno verificaram que a porcentagem de gêneros/espécies vegetais ativas citadas em compêndios de plantas medicinais, é consistentemente próxima ao dobro das de triagem ao acaso. Quanto a antivirais, a seleção de plantas com uso tradicional mostrou uma porcentagem 5 vezes maior de substâncias ativas. A maior parte da flora ainda desconhecida, tanto química quanto farmacologicamente, e o saber tradicional associado existem predominantemente em países em desenvolvimento. A perda da biodiversidade e o acelerado processo de mudança cultural acrescentam um senso de urgência no registro desse saber. A criação de instrumentos legais de direitos de propriedade intelectual para conhecimentos tradicionais é de fundamental importância (ELISABETSKY,1990). IV. O preparo das plantas medicinais Plantas medicinais são aquelas que possuem em sua composição substâncias químicas, biologicamente sintetizadas a partir de nutrientes, água e luz. Estas substâncias provocam no organismo humano e animal reações que podem variar entre a cura e o abrandamento de doenças, pela ação de princípios ativos como alcaloides, glicosídeos, saponinas, etc. A utilização de plantas medicinais para tratamento de doenças é denominada fitoterapia. Apesar do potencial que representam essas plantas, na região amazônica a aplicação empresarial dos resultados das pesquisas é bastante rara. A eficiência da fitoterapia é assegurada por milênios de tradição, sendo prática comum entre os índios e as populações tradicionais. Já existe comprovação científica das propriedades de um número razoável de plantas, ponto de vista medicinal, tornando-se viáveis para a agro industrialização ou uso in natura. As indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais, especialmente estas últimas, vêm buscando nas plantas da Amazônia, ou domesticadas na região, essências, produtos e formulações para a produção de medicamentos, vacinas e outras formas de terapias. Visam a industrialização e comercialização em larga escala de, aproximadamente, 5.000 princípios ativos identificados nestas plantas De acordo com o Ministério da Saúde (2006), estão identificadas na Amazônia Legal em torno de 650 espécies vegetais farmacológicas, de valor econômico. O estado do 36 Pará é o que mais se destaca com 540 espécies, seguido dos estados do Amazonas, com 488; Mato Grosso, 397; Amapá 380; Rondônia, 370; Acre, 368; Roraima, 367; Maranhão, 261, além do Tocantins. Revista Perspectiva Amazônica A distribuição de plantas medicinais e afins, na Amazônia, está basicamente circunscrita às lojas de produtos naturais, ambulantes, feirantes, fabricantes de remédios caseiros, empresas familiares de empacotamento de plantas in natura e alguns laboratórios e/ou farmácias de manipulação de atuação localizada. Para uma planta medicinal tornar-se produto de mercado necessita e, pelos menos, dois anos de testes de laboratórios e uso regular em pacientes. O isolamento de princípios ativos Ano 3 N° 5 p.32-45 habilitados à indústria farmacêutica demanda vários anos de pesquisa. As plantas, dependendo da espécie, chegam ao consumidor final na forma sólida in natura em pacotes de cascas, raízes, sementes e folhas, ou após rudimentar processo de beneficiamento. Em alguma situações são comercializadas na forma líquida: óleos, xaropes, tinturas, e vinhos. V. Algumas plantas medicinais oriundas da Amazônia Nome científico: Carapas guianensis Nome Popular: andiroba – Brasil; crab wood – Guiana Inglesa Principais características: Árvore que tem nome originado pelas populações indígenas devido o seu sabor amargo (nhandi – óleo e rob – amargo), pertence a família das meliaceas, e se encontra em sociedade com árvores de ucuuba, heveas, jaboti, pracaxis, etc. Encontra-se em solos alagados pelas mares e ilhas baixas, porém se adapta muito bem em solos de terra firme. A árvore possui um tronco alto, com diâmetro as vezes de até dois metros, folhas compridas imparipinadas, flores brancas hermafroditas, reunidas em maços. O fruto é um ouriço redondo, formado de 4 valvas, de 3 a 4 mm de espessura, coriáceas, duras, de cor parda, e, quando o fruto está maduro, abre-se deixando cair no chão as sementes que recobre. Estas sementes ou castanhas, em número 7 a 9, geralmente, são grossas, poligonais, chata na arte interna e convexa na arte externa, casca lisa um pouco mais esponjosa, cor havana, recobrindo uma massa branca, levemente rosada, compacta, mas um pouco dura, oleosa. É encontrada também em toda Bacia Amazônica, com predominância nas várzeas e faixas alagáveis ao longo dos cursos d'água, frequentemente formando associações com as seringueiras e outras espécies. Registra-se maior ocorrência nos Estados do Pará, Amapá, Amazonas, Maranhão e Roraima. Em floresta natural, a andiroba é uma árvore grande, podendo atingir 30m de altura, de fuste reto e cilíndrico, com sapopemas na base. Possui casca grossa e amarga, apresentando descamação em placas. Da andiroba aproveita-se comercialmente o óleo derivado das sementes e a madeira. Tradicionalmente, o principal uso desta planta é a madeira, pelas suas qualidades físico-mecânicas (densidade 0,70% kg/cm2). Devido à qualidade superior, a madeira é muito procurada e a exploração é feita de forma seletiva para construção de casas, forros e esquadrias, com alto risco às espécies, uma vez que praticamente não existe plantação tecnicamente organizada, nem replantio sistemático. 37 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 O óleo, conhecido na região como “azeite de andiroba”, é muito utilizado na medicina doméstica, para fricção sobre tecidos inflamados, tumores, distensão muscular, etc. É usado pelos indígenas em mistura com corante de urucum (Bixa orellana L.), como repelente contra insetos e medicamentos para parasitas do pé. Pode também ser usado como protetor solar. A abundância da espécie na região Amazônica torna-o também atraente como insumo ora produtos empregados no controle de transmissão de malária, de alta ocorrência na área. Na indústria farmacêutica homeopática, onde está sendo comercializado na forma de cápsulas, é utilizado para diabetes e reumatismo, o bálsamo para o uso típico de luxações e sabonetes medicinais. Investimento com grande potencial apresenta como principais alternativas a comercialização do óleo de andiroba e a fabricação de velas repelentes de insetos, especialmente os mosquitos de gênero Anopheles, transmissores de malária. Espécimes semelhantes: Carapas touloucouna (África Ocidental); Carapas grandiflora (Uganda); Carapas indica (Índia) Ingredientes Bioativos: Artrite e Câncer Uterino. Fonte (Jornal of EthnoFharmacology 40 (1993) 53-75) Utilização: como repelente, cicatrizante, contra luxações e contusões em massagens com relaxante, na fabricação de cremes para pele, na fabricação de sabonetes finos (fábrica artesanais), nas florestas os barcos quando são colocados nos estaleiros para reforma, são untados com óleo de andiroba para evitar a ação dos cupins com grande eficiência. Nome científico: Dipterix odorata Nome Popular: cumarú Principais características: esta árvore que produz frutos extremamente aromáticos e com uma elevada porcentagem de óleo, é uma leguminosa que produz como fruto uma noz verde-amarelada de forma ovóide, constituída de uma massa consistente, esponjosa que recobre uma semente construída por uma casca lenhosa. Espécies semelhantes: fava tonka – Europa; angustura – Venezuela Ø Ingredientes bioativos: cumarinas; óleo gordo Utilização: antispasmódico e utilizado nos tratamentos de otites e outros processos inflamatórios do ouvido. Ø Nome científico: Ptychopetalum uncinatum Nome popular: muira-puama, marapuama, muira-pixi, mirindiba doce Principais características: utilizam-se hastes principalmente e as raízes das plantas novas o que é ecologicamente correto. Espécimes semelhantes: Ptychopetalum olacoides Ingredientes bioativos: alcalóide semelhante a yoinbina Utilização: como tônico neuro-muscular de primeira ordem. A decocção da 38 raiz é empregada em banhos e em fricções contra a paralisia facial. Internamente, o Revista Perspectiva Amazônica extrato aquoso ou alcoólico produz efeitos notáveis na debilidade, na impotência sexual (neurastenia-sexual), na ataxia locomotriz, no reumatismo crônico, nas Ano 3 N° 5 p.32-45 paralisias faciais, nas gripes e segundo consta é muito utilizada em determinadas regiões da Amazônia na forma contra a queda de cabelo. Ø Nome científico: Stryphodendron rotundifolium Mart. Família: leguminosae Nome popular: barba-de-timão, barba-de-timan, charaosinho-roxo, cascasda-virgindade, casca-da-mocidade, iba-Timão, paricarana (Pará), uabatima, uabatimo, babatimão Principais características: árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos. Folhas com 16 a 24cm de comprimento com 10 a15 pares de pinas, pinas com 6 a10 pares de folíolos; folíolos oblongos, oblíquos, glabros, de face inferior acastanhada ou ferrugínea; pecíolo apresentando uma glândula nas proximidades da base. Inflorescências compostas de espigas axilares de 10 a 12 cm de comprimento, multifloras; flores brancas de corolas curtas. O fruto é um legume séssil, castanhoescuro, recurvado, com 10 a 14 cm de comprimento, sementes alongas de 10 a 13, inseridas obliquamente. Floresce de julho a agosto e frutifica em setembro-novembro. Indicações terapêuticas: antiblenorrágica, antiescorbútica, antidiarreico, antileucorreica, antihemorrágica, antigonorreica, adstringente, tônica, emética, oftálmica Utilização: contra impigem, ferimentos, flores brancas, doenças venéreas. Ø Nome cientifico: Mauritia vinijera, Mauntia flexuosa Nome popular: buriti, miriti, cocô buriti Principais características: palmeira de grande porte, que tem o nome derivado do tupi-guarani que tem como significado "o que contem água". Encontram-se as margens dos rios em forma de florestas densas aonde chegam a atingir 50m de altura, onde a média de palmeiras por hec¬tare é de 200 a 500. Seus cachos chegam a dar de 500 a 800 frutos, e em cada arvore encontra-se até cinco cachos. A árvore é considerada pelos nativos como árvore da vida, pois dela tudo se aproveita. Em algumas regiões da Amazônia esta palmeira não é muito valorizada e o seu fruto é carregado pelas águas dos rios todos os anos, desperdiçando um dos óleos mais ricos em material graxo e vitamínico do mundo. Espécimes semelhantes: Hiphoene tebaica – África Ingredientes bioativos: B-caroteno Utilização: pelos nativos para frituras sem qualquer refino, como forma de aliviar as queimaduras do sol, conservando a pele dos nativos. Ø Nome cientifico: Copaíphera multijuga Família: leguminosae–caesalpinoideae 39 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 Nome popular: copaíba, óleo de copaíba, copaíba-vermelha, balsamo, oleiro, copaíba-da-várzea (AM), copaibeira-de-minas, copaúba, cupiúva, óleo-vermelho, paude-óleo (MG), podoí (PI, CE) Características morfológicas: altura de 10 a 15m, com tronco de 50 a 80 cm de diâmetro. Copa globosa densa, folhas compostas pinatífidas, com 3 a 5 jugos; folíolos alternos ou opostos, glabros, de 4 a 5 cm de comprimento por 2 a 3 cm de largura. Ocorrência: Pará, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, principalmente na floresta latifoliada da bacia do Paraná. Existem varias espécies de copaíba, dependendo da região de ocorrência, todas muito apreciadas, com as mesmas aplicações e os mesmo nomes. Na região sul ocorre a espécie "Copaífera trapezifolia Hayne". Os frutos amadurecem entre agosto e setembro, com a planta quase totalmente despida de folhagem. Ingredientes bioativos: cariofileno, um fitoquímico com fortes propriedades anti-inflamatórias Utilização: a madeira é indicada para a construção civil, como vigas, caibros, ripas, batentes de portas e janelas, para confecção de móveis e peças torneadas, como coronhas de armas, cabos de ferramentas e de vassouras, para carrocerias, miolos de portas e painéis, lambris e tábuas para assoalhos. A copaíba é usada topicamente para aliviar a inflamação e ajudar a curar péde-atleta, feridas, erupções cutâneas, dermatites, eczema e psoríase, além de ajudar a restaurar a pele danificada e curar pequenas cicatrizes. Age como um agente antisséptico, desinfetante e antimicrobiano para usos internos e externos em infecções bacterianas, câncer de pele, úlceras no estômago e câncer de estômago. Vários shampoos (xampus) que contém copaíba são eficazes no combate à caspa. O bálsamo de copaíba é benéfico para tosse crônica, catarro, resfriados, bronquite e outros problemas respiratórios. A planta é um bom remédio para tratar catarro e bronquite crônica, vez que auxilia na expectoração e é antisséptico. Também é recomendado no tratamento natural de leucorréia, cistite crônica, diarréia, hemorróida, gonorréia. A copaíba alivia os sintomas de uma ampla gama de doenças que causam a inflamação dos tecidos moles ou mucosas. Testes de laboratório mostraram que a resina atua reduzindo a permeabilidade das paredes capilares para a histamina, substância química responsável pelo inchaço doloroso em todas estas condições. O óleo volátil é antimicrobial e previne infecções secundárias no eczema, herpes e psoríase. Ø 40 Nome cientifico – Virola sebifera Nome popular: ucuubarana, ucuúba Principais características: árvore de grande porte da família das Miristicáceas, que tem seu nome originado da língua indíge¬na que significa ucu (graxa) e yba (árvore) cresce em regiões alagadas pelas marés ou várzeas, e Revista Perspectiva Amazônica encontrada em toda a Amazônia na região das ilhas, zona guajarina, Amapá, afluentes do Amazonas. Espécimes semelhantes- Miristica guatemalensis Ano 3 N° 5 p.32-45 Ingredientes bioativos - ácidos graxos: láurico, mirístico e palmítico Utilização: comumente, o óleo é usado na fabricação de velas e como combustível para iluminação de lamparinas, que na queima exala um cheiro aromático. Na medicina caseira, principalmente, é aplicado com sucesso no tratamento de reumatismo, artrite, cólicas, aftas e hemorroidas. A manteiga de ucuúba, que é dura e amarelada, pode ser usada em combinação com outros ingredientes para a produção de velas e sabonetes vegetais, sendo um substituto vegetal para a parafina oriunda do petróleo. Sabonetes e cremes a base de ucuúba tem ação anti-inflamatória, cicatrizante, revitalizante e antisséptica comprovada. Ø Nome científico: Uncaria tomentosa Nome farmacêutico: cortex uncariae Nome popular: unha de gato, bejuco de água, deixa, gabarato, gabarato amarillo, gabarato colorado, garra gavilán, jipotatsa, michomentis, paotati-mosha, paraguyayo, saventaro, tua juncara, uña de gato, uncucha, unganangi Principais características: gênero uncaria, família rubiácea, subfamília cinchonoideae. É encontrado na América Central e América do Sul. São arbustos trepadores, pouco ramificados que têm entre 10 a 30 metros de altura, com diâmetro entre 5 a 40 centímetros, com folhas simples e opostas, pecioladas, com espinhos em forma de gancho (daí a aparência com unha de gato), tem flores globosas branco amareladas em glomérulos axilares. Ingredientes bioativos: alcaloides ativos (oxindólicos pentacíclicos, oxindólicos tetracíclicos e indólicos), triterpenos, ácidos orgânicos, glicosídeos, procianidinas e esteróis Utilização: em forma de vinho ou chá para doenças como: asma, artrite, antiinflamatório, úlceras gástricas, feridas profundas, contracepção, dores nos ossos e câncer. 41 NOME 42 andiroba crab wood cumarú muira-puama marapuama muira-pixi mirindiba doce barba-de-timão barba-de-timan barbatimão charaosinho-roxo cascas-de-virgindade casca-da-mocidade iba-timão paricarana uabatima uabatimó Carapas guianensis Dipterixodorata Ptychopelatum uncinatum Stryphodendron rotundifolium mart NOME POPULAR ptycho pelatum olacoides - árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos fava tonka angustura carapastouloucouna carapas grandiflona carapas indica ESPÉCIES SEMELHANTES raízes das plantas novas e hastes das plantas adultas frutos aromáticos leguminosa sabor amargo solo alagado ou firme tronco alto com até 30 metros de altura diâmetro de até dois metros folhas compridas flores brancas hermafroditas fruto ouriço redondo com 4 valvas PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS antiblenorrágica antiescorbútica antidiarreico antileucorreica antihemorrágica antigonorreica adstringente ofitálmica alcalóide semelhante a yoin bina cumarinas óleo gordo artrite câncer uterino BIOATIVOS INGREDIENTES impigem feridas flores brancas doenças venéreas tônico neuro- muscular combate a paralisia facial impotência sexual e queda de cabelo antispasmódico otite inflamação no ouvido repelente cicatrizante luxações UTILIZAÇÃO Ano 3 N° 5 p.32-45 CIENTÍFICO Revista Perspectiva Amazônica TABELA 1 Resumo das particularidades das plantas medicinais NOME copaíba óleo de copaíba copaíba- vermelha copaíba – da- varzea copaibeira-de-minas copaúba cupiúva óleo-vermelho pau-de-óleo podói ucuubarana ucuúba unha de gato bejuco de água deixa gabarato gabarato amarillo gabarato colorado garra gavilán jipotatsa michomentis pao tati-mosha paraguyayo saventaro tua juncara uña de gato uncucha unganangi Virola sebifera Uncaria tomentosa NOME POPULAR Copaiphera multijuga CIENTÍFICO arbustos trepadores com 10 a 30 m de altura diâmetro entre 5 e 40cm, folhas opostas com espinhos em forma de gancho regiões alagadas da amazônia árvore com 10 a 15 m de altura, com tronco de 50 a 80 cm de diâmetro PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS - miristica guatemalensis - ESPÉCIES SEMELHANTES alcaloides ativos, triterpenos, ácidos orgânicos, glicosíodeos, procianidinos e esteróis ácidos graxos: láurico, mirístico e palmítico cariofileno BIOATIVOS INGREDIENTES asma artrite anti-inflamatório úlcera gástrica, feridas profundas contracepção dores nos ossos câncer velas repelentes madeira para construção civil cicatrizante anti-inflamatório UTILIZAÇÃO Revista Perspectiva Amazônica TABELA 1 Resumo das particularidades das plantas medicinais Ano 3 N° 5 p.32-45 43 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 VI. Considerações finais Qual a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da floresta Amazônica na composição de medicamentos processados pela indústria farmacêutica? As ideias apresentadas neste ensaio demonstram a necessidade de mobilizar a comunidade científica para pesquisar um tema de alta relevância para a realidade amazônica e que, ao mesmo tempo, pode produzir soluções para a região. É preciso aprofundar os estudos e discussões sobre o assunto em pauta, é imperioso tratar da sustentabilidade (da riqueza) da floresta Amazônica, considerando as variáveis ambiental, econômica e social. Há de se realizar ações urgentes para promover o desenvolvimento econômico da sociedade, a preservação da natureza e o desenvolvimento sustentável da floresta. Referências ARRUDA, Helvio Moreira 1999 Identificar mercados potenciais para produtos derivados das florestas secundárias da Região Nordeste do Estado do Pará. 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