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Comunicação Organizacional: o discurso simbólico das
organizações pela semiótica social
Caroline Delevati COLPO1, Cleusa SCROFERNEKER1 (orientador)
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Faculdade de Comunicação Social, PPGCOM, PUCRS.
Resumo
Esta reflexão busca uma possível compreensão dos discursos simbólicos das organizações
através da semiótica social.
A semiótica social está particularmente preocupada com a
produção de significados humanos, como um fenômeno inerentemente social. Tem-se como
pressuposto, para esta análise, que é com base na comunicação e no simbolismo
organizacional que os indivíduos interagem entre si e com as imagens produzidas pelas
organizações. Diante disto, há uma tentativa de analisar, através da semiótica social, com o
uso das metafunções ideacional e interpessoal, os discursos simbólicos das organizações na
possibilidade de visualizar a produção de sentido nos seus atores sociais. Para isto utiliza-se o
modelo de simbolismo organizacional descrito por Wood, (2001).
Introdução
As organizações encontram-se em um cenário de mundialização e globalização,
tornando-se um dos principais pontos de identificação da vida individual. As organizações
contemporâneas exercem influência cada vez maior sobre as condutas individuais
contribuindo desta forma para edificar uma ordem social. Esta ordem social acontece na
maioria das vezes no nível do simbólico que facilita a articulação de relações sociais que são
tecidas entre os diferentes indivíduos e grupos que compõem a sociedade.
Desta forma as organizações usam da imagem e de seu referencial simbólico para criar
discursos, no qual, os atores sociais integrantes do contexto organizacional, possam se
identificar e sintam-se parte deste cenário. A liderança é caracterizada pelo uso de símbolos,
imagens e retóricas, os ritos de passagens e mitos são empregados de símbolos de
identificação, os eventos são criados para alavancar uma imagem construída pela simbologia.
Neste emaranhado de símbolos empregado no discurso é que os atores sociais criam seus
significados, uma vez que estes símbolos precisam ser interpretados, gerados e lidos no
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contexto social e cultural da organização. Assim se efetiva um processo de comunicação
organizacional.
Metodologia
Na tentativa de refletir como podem ser criados e lidos estes discursos repletos de
simbolismo, que criam a imagem de organizações, que se propõe a semiótica social como
uma forma de compreensão de como podem ser transmitidos e comunicados mitos, valores,
lideranças, histórias, através do discurso, dentro do contexto organizacional. A semiótica
social é a ciência que se encarrega da análise dos signos na sociedade, cuja função principal é
o estudo da troca de mensagens, ou seja, da comunicação dentro de um contexto social (neste
caso as organizações). Para uma delimitação da proposta reflexiva optou-se por trabalhar com
duas metafunções da semiótica social: a ideacional, no qual o sistema é representativo e a
interpessoal no qual a interação é preponderante, uma vez que se considera a subjetividade
dos atores sociais. Para o uso da semiótica social, partiu-se da aplicação das metafunções nos
modelos de simbolismo organizacional de Calás e MacGuire (WOOD Jr., 2001, p.34). Para
este entendimento buscou-se referências em comunicação organizacional, simbolismo
organizacional, e principalmente em semiótica social.
Resultados (ou Resultados e Discussão)
Para esta análise partiu-se do modelo proposto com seis atividades simbólicas
possíveis de desvendar a organização.
Primeira função - distinção: a procura pelo grupo, da construção da identidade simbólica
por meio de rituais, geração e adoção de mitos e cultivo de histórias. O discurso
organizacional do rito de passagem deve servir de alimento para o imaginário do trabalhador
para que ele possa construir a sua identidade simbólica com base na simbologia da
organização. Percebe-se aqui a metafunção ideacional pela representação da organização no
imaginário, mas também a metafunção interpessoal pela necessidade de interação entre os
sujeitos, e sujeitos e organização.
Segunda função - comunicação: troca constante de mensagens e seu compartilhamento
de significados entre os membros. A comunicação nas organizações é permeada por símbolos
que afetam a percepção e a interpretação dos indivíduos. Logo a comunicação é processo pelo
qual toda a simbologia de uma organização é transmitida. Neste caso a metafunção
interpessoal se faz mais presente pela interação entre os sujeitos.
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Terceira função - tomada de decisão: a existência de padrões de procedimentos para
geração de cursos de ação.
Quarta função - autoridade e liderança: que ocorre por meio de um processo de mútua
estimulação entre os líderes e liderados, que inclui a manipulação de símbolos.
A terceira e quarta função podem ser analisadas juntas, uma vez que a metafunção
ideacional é mais apropriada neste caso. Tanto na ação de tomada de decisão, quanto na
autoridade e liderança da organização o que se faz presente é a representação da ideologia e
do poder da organização. Os discursos são construídos como unidades de significação que são
estruturadas em configurações de funções (papéis) de diferentes níveis na hierarquia que no
contexto organizacional são identificados pela tomada de decisão, autoridade e liderança.
Quinta função – ideologia: formada pela integração orgânica de mitos, normas e valores.
Quando se fala na ideologia organizacional transmitindo normas e valores pensa-se na
metafunção ideacional, pois a organização se representa através destes mitos que estão
construídos por simbologias. Entretanto, a metafunção interpessoal também se faz presente
uma vez que estes mitos, normas e valores só se efetivam na interação entre os sujeitos.
Sexta função - a socialização: por intermédio da promoção de cerimônias freqüentes para
manter o sistema vivo. Nesta sexta função de socialização percebe-se a metafunção
interpessoal, uma vez que só a interação entre os indivíduos organizacionais é capaz de
socializar. Entretanto, dento dos contextos organizacionais algumas formas de socialização
acontecem em momentos específicos, definidos pelas lideranças da organização e nestes
momentos específicos, pode-se perceber a função ideacional uma vez que constroem o mundo
circundante e o mundo interior da organização como um sistema vivo.
Todas estas atividades simbólicas interagem entre si, ou seja, as diferentes metafunção da
semiótica social acontecem simultaneamente em vários discursos e de forma integrada dentro
do mesmo contexto organizacional com a finalidade de efetivar o simbolismo organizacional.
Não são excludentes, nem segregadas, mas efetivam a comunicação na organização.
Referências
DESCARDECI, Maria Alice. Ler o mundo: através da semiótica social. UFMG, 2008.
ENRIQUEZ, Eugene. A organização em análise. Petropolis, RJ: Vozes, 1997.
HALLIDAY, M.A.K. Introduction to Functional Grammar. London: Arnold. 1985, 1994
MORGAM, Gareth. Imagem das organizações. São Paulo, Atlas. 2000.
SANTOS, Milton. Técnica, espaço e tempo. Editora Hucitec. São Paulo, 1994
WOOD Jr. Thomaz. Organizações espetaculares. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2001.
– PUCRS, 2010
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