Projeto de Pesquisa Temático: Rappers, os novos mensageiros urbanos da diáspora
africana na Periferia de São Paulo: a contestação estético-musical que emancipa e
educa.
Coordenadora: Prof. Dra. G. T. do Amaral.
Pesquisador: Marcos Vinícius Puttini
Nível: TT-III
Título: Os signos no “ canto falado”.
Resumo: A pesquisa tem como objetivo a compreensão do RAP, expressão musical do
Movimento Hip-Hop, quanto ao seu aspecto cultural de protesto e de expressão estética ,
pertinente à cultura juvenil da Periferia de São Paulo, estudando como os signos, como
descritos por Barthes: “A Lingüística não é uma parte, mesmo privilegiada, da ciência dos
signos: a Semiologia é que é uma parte da Lingüística; mais precisamente, a parte que se
encarregaria das grandes unidades significantes do discurso” (BARTHES, 1991, p. 13)
são usados pelos rappers , com o intuito de levar o estudo do RAP para dentro das salas
de aula, como matéria e como meio para se estudar outras matérias.
Usaremos o conceito de “Ring-Shout”, ou o “Canto Falado”, herança cultural dos escravos
na América do Norte como suporte à compreensão do Hip-Hop, compreendendo-o como
expressão cultural construída por hibridismos e que, por seu caráter universalista, une
gerações e etnias distanciadas, cronológica e geograficamente. Este processo foi descrito
por Béthune como “ telescopia histórica” (01). Estes hibridismos, construídos pela
comunidade do Hip-Hop são, ao nosso ver, o modo pelo qual a cultura juvenil
contemporânea da Periferia de São Paulo expressa suas necessidades, sua identidade, seus
anseios e suas verdades, exatamente como se fazia e se faz em manifestações de “Ring
Shout”, aliás, ainda em uso por comunidades nos EUA ( a ); portanto, o RAP não se trata,
de modo algum, de “apologia ao bandidismo”, como colocado, muitas vezes, pela Mídia,
mas sim de uma revolução cultural e estética que se produz naquela comunidades, que,
certamente, merece um olhar atento dos pesquisadores.
Ao refletirmos sobre estes aspectos, pretendemos contribuir para que o RAP seja visto
como genuína forma de expressão cultural e nossa proposta é compreendê-lo e aprender,
com os jovens que o praticam, como ele pode ser aproveitado nos ambientes de educação
formal e informal, encurtando a distância cultural entre educandos e educadores e criar uma
nova leitura do ethos da cultura juvenil através de elementos da Psicanálise e da
Lingüística, presentes neste trabalho.
1. Faremos um trabalho de compilação de imagens, video-clips do YouTube com o
cancioneiro do Rap e trabalharemos com um corpus aproximado de 30 canções
significativas, selecionadas dentro do período de meados dos anos oitenta até o período
contemporâneo, cerca de três décadas de produção. As canções consideradas serão de
grupos diversos, famosos ou não, a título de amostragem.
2. Nesse corpus, investigaremos o percurso narrativo e expressivo das canções e
performances do RAP enquanto expressão estético-musical, elencando e compreendendo a
sua gestualidade, sua movimentação, seus neologismos, seus empréstimos lingüísticos,
gírias, xingamentos, ou seja, que signos fazem parte do jogo de significados na construção
da poética musical e corporal do Rap. Nesta investigação, queremos compreender se o
“Ring Shout” se mantém também no Rap, como se manteve, em diversas configurações,
em tantas expressões afro-americanas: o próprio “Ring Shout”, o Jazz, o Blues e nas
expressões afro-brasileiras, como nos cantos das lavadeiras, nas rodas de samba, de
capoeira, nos folguedos, para citar apenas algumas, todas elas trazidas e consolidadas pelos
antigos africanos nas Américas, de modo a compreender a sua universalidade e seus
hibridismos estético- regionais e políticos expressos em sua cultua, à luz de elementos da
Psicanálise e da Lingüística.
3. Descrição dos objetivos:
1. A maior fonte de pesquisa será a Internet, em particular vídeos postados no
“YouTube, pois o Rap tem sido divulgado, principalmente, através da Rede.
2. Cada canção/performance será analisada individualmente e produzir-se-á um
inventário de configurações, gestualidades, léxicos mais freqüentes, neologismos,
gírias, empréstimos lingüísticos, xingamentos etc., com o objetivo de se
compreender como é a construção estética e poética do RAP, semiologicamente
falando, e se ela cumpre a função que o RAP pretende ter: protesto, expressão,
manifestação de ancestralidade, contestação, inovação, inclusão, construção da
pertença social da comunidade que o pratica e, assim, verificarmos se a proposta se
mantém eficaz desde o início do movimento até os dias atuais e buscarmos nele a
telescopia histórica de que fala Béthune.
3. Através deste levantamento, pretendemos identificar como se constrói a estética do
RAP, sistematizando os seus recursos expressivos mais recorrentes, através das
imagens postadas pelos praticantes do Rap, desde o início do movimento, no
YouTube.
4. Uma vez realizada a análise do corpus, partiremos para o contato com as
manifestações do Rap, e aprenderemos, com seus praticantes, suas manifestações e
aprenderemos com eles como elas se fazem e para que elas se fazem, com o
objetivo de aproximar este universo da cultura jovem aos docentes e causar aos
discentes o sentimento de pertença na comunidade escolar, através da contemplação
da estética que eles elegeram para expressar o ethos contemporâneo em que eles se
inserem e estão inseridos.
4. Plano de trabalho
-Metodologia
Primeiramente, reconstruiremos a cronologia do movimento Hip-Hop, como se iniciou na
cidade e na Periferia de São Paulo, que grupos eram mais ativos, em que locais e condições
ocorriam e ocorrem as manifestações de expressão e de produção da música do movimento,
o RAP, através de levantamentos de registros textuais e entrevistas com integrantes do
movimento, também nos utilizando na Rede e de bibliografia específica. Esta fase terá
duração aproximada de 04 (quatro) meses e tem o objetivo de conceituar o movimento,
fundamentá-lo teoricamente e identificar os grupos que terão suas canções/performances de
Rap consideradas no corpus. Após esta fase conceitual, partiremos para o levantamento das
canções, aproximadamente 30, que, ao nosso ver, pode, como amostragem, representar a
estética; utilizaremos a média de 10 performances por década da produção, uma vez que o
movimento se inicia em meados dos anos oitenta. Esta fase terá a duração aproximada de
06 (seis) meses. A terceira fase deste projeto é a análise do corpus, o levantamento dos
signos, dos vocábulos, o estudo lexical, dos neologismos, das gírias, dos empréstimos
lingüísticos, de palavras de baixo calão, xingamentos, da gestualidade, da postura corporal,
dos arranjos coreográficos ET., e pretendemos levá-la a cabo em 08 (oito) meses. A última
fase é pragmática, pois, junto aos praticantes do Rap, descobriremos suas formas, suas
manifestações e expressões, que poderão auxiliar aos professores na compreensão do Rap e
no ensino de suas matérias com atividades baseadas na cultura Hip-Hop – esta atividade é
a última fase e tem a duração de 06 (seis) meses.
Cronograma de Elaboração do Projeto
Mês
1
Conceituação
Levantamento
de corpus
Análise
Formalização
das atividades
de interação
2
3
4
5
6
7
8
9
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
5. Bibliografia
(01)
BARTHES, Roland.
Elementos de Semiologia, São Paulo: Cultrix, 1972
(02)
BETHUNE, Christian
Le Rap: une esthétique hors de la loi
Tradução de Mônica do Amaral
6. Webgrafia
a. http://www.ringshout.org/
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Hip-Hop: Percurso de neologismos, de termos de