Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
Qualidade de vida no trabalho
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: PERCEPÇÕES DOS
AGENTES COMUNITÁRIOS DE EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA
QUALITY OF LIFE AT WORK: PERCEPTIONS OF THE COMMUNITARIAN
AGENTS OF HEALTH FAMILY TEAMS
CALIDAD DE VIDA EN EL TRABAJO: PERCEPCIONES DE LOS AGENTES
COMUNITARIOS DE EQUIPOS DE SALUD DE LA FAMILIA
Isadora Mishima de FigueiredoI
Daniele Silva Neves II
Daiane Montanari III
Silvia Helena Henriques Camelo IV
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo avaliar, de acordo com a percepção dos agentes comunitários de saúde
(ACS) que atuam em unidades de saúde da família, a sua qualidade de vida no trabalho. Esta pesquisa, de abordagem
quantitativa, é do tipo exploratória, e seus participantes foram 42 ACS de um município do interior paulista. Os dados
foram coletados em abril de 2008, utilizando-se a escala de percepção de Walton sobre qualidade de vida no trabalho.
Através dos dados coletados, foi observado que os maiores índices de satisfação no trabalho é em relação à integração
social na organização e ao trabalho e espaço total de vida, porém, os trabalhadores mostram-se insatisfeitos quanto à
oportunidade de crescimento e segurança prejudicando sua qualidade de vida no trabalho. Esses resultados indicam
que se faz necessário uma política de recursos humanos na organização e/ou mudança no estilo de gestão que promova
o crescimento profissional e segurança de seus colaboradores.
Palavras–Chave: Qualidade de vida; satisfação no trabalho; agente comunitário de saúde; saúde da família.
ABSTRACT
ABSTRACT:: This article aims at evaluating quality of life at work as seen by the Communitarian Health Agents (ACS)
acting in Family Health Units. This research had an exploratory character and involved 42 ACS in the country of the São
Paulo State, Brazil. Data was collected in April, 2008, on the basis of Walton’s perception scales on quality of life. The data
collected showed that the highest indices of satisfaction at work are related to the workers’ social integration in the
organization, to their work, and to their total space of life; however, they report dissatisfaction when it comes to their career
path and security, harming their quality of life at work. These results point to the need for a human resources policy in the
organization and/or a change in the management style, which can ensure professional growth and security.
Keywords: Quality of life; job satisfaction; communitarian health agent; family health.
RESUMEN: El actual artículo tiene como objetivo evaluar, de acuerdo con la opinión de los agentes comunitarios de
salud (ACS) actuantes en unidades de la salud de la familia, su calidad de vida en el trabajo. Esta investigación, de enfoque
cuantitativo, es exploratoria y sus participantes fueron 42 ACS de una ciudad del interior de São Pablo-Brasil. Los datos
fueron recogidos en abril de 2008, usándose la escala de percepción en calidad de vida en el trabajo de Walton. Con los
datos recogidos, se observó que los índices más grandes de la satisfacción en el trabajo están en lo referente a la
integración social en la organización y al trabajo y espacio total de la vida, no obstante los trabajadores se revelan
insatisfechos cuanto a la ocasión de crecimiento y seguridad que daña su calidad de vida en el trabajo. Esos resultados
indican que se hace necesario una política de recursos humanos en la organización y/o cambio en el estilo de gerencia
que promueva el crecimiento profesional y seguridad de sus colaboradores.
Palabra
Palabrass Clave
Clave: Calidad de vida; satisfacción en el trabajo; agente comunitario de salud; salud de la familia.
INTRODUÇÃO
O Ministério da Saúde, a partir de 1994, propôs
a implantação da estratégia de saúde da família com o
propósito de reorganizar a prática da atenção à saúde
em novas bases e substituir o modelo tradicional
centrado predominantemente na prática médica, le-
vando a saúde para mais perto da família e, com isso,
melhorar a qualidade da assistência prestada.
Essa estratégia de saúde prioriza a indissociabilidade das ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas, de forma integral e contí-
Aluna do Curso de Graduação de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
Aluna do Curso de Graduação de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
III
Aluna do Curso de Graduação de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
IV
Profa. Dra. do Curso de Graduação de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail:
[email protected].
V
Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Centro Universitário Barão de Mauá, na Conclusão de Curso de Enfermagem.
I
II
p.262 •
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):262-7.
Recebido em: 05.12.2008 - Aprovado em: 08.03.2009
Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
nua1. O atendimento é prestado na unidade de saúde ou
no domicílio, por uma equipe multiprofissional. Essa equipe é composta minimamente por um médico, um enfermeiro, um a dois auxiliares de enfermagem, quatro a seis
agentes comunitários de saúde e equipe de saúde bucal,
sendo que outros profissionais podem ser incorporados
de acordo com a necessidade da população2.
O funcionamento da estratégia de saúde da família, portanto, é resultante de um trabalho em equipe, na busca permanente de comunicação e troca de
saberes entre profissionais e a população3. Nesse modelo de assistência, cada profissional executa um dado
conjunto de ações, em separado, porém buscando,
constante e continuamente, articulá-las às ações realizadas pelos demais agentes4.
O agente comunitário de saúde (ACS) como membro da equipe de saúde da família possui uma situação
singular, uma vez que deve obrigatoriamente residir na
área de atuação da equipe e exercer a função de elo de
ligação entre a equipe e a comunidade, o que faz com
que viva o cotidiano da comunidade com maior intensidade do que os outros membros da equipe de saúde5.
De acordo com o Ministério da Saúde, esse trabalhador possui atribuições especificas como: desenvolver
ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à unidade de saúde; cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados; orientar famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis; desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e de agravos, e de vigilância à saúde, por meio de
visitas domiciliares e de ações educativas individuais e
coletivas nos domicílios e na comunidade, entre outras2.
Assim, observa-se que são delegadas a tais trabalhadores das equipes de saúde da família, múltiplas
tarefas, com um alto grau de exigências e responsabilidades, para as quais, dependendo do ambiente e da
organização do trabalho para a sua realização e de seu
preparo para exercê-las, podem levar à insatisfação do
profissional comprometendo sua qualidade de vida no
trabalho (QVT), afetando, consequentemente, a qualidade da assistência prestada.
Apesar das diferenças individuais, que não podem ser ignoradas, há evidência cientifica sugerindo
determinadas situações estressantes no trabalho para
a maioria dos trabalhadores. Segundo Camelo6, a falta
de informação para desenvolver as atividades, e a ansiedade frente ao desconhecido, gera insegurança em
alguns trabalhadores, podendo levar ao estresse
ocupacional. Essas situações podem alterar a qualidade de vida no trabalho quando são percebidas como
envolvendo uma grande exigência, a qual não é proporcional ao conhecimento e habilidades dos trabalhadores, ou por não estarem relacionadas às suas necessidades, especialmente quando detêm pouco con-
Figueiredo IM, Neves DS, Montanari D, Camelo SHH
trole sobre seu próprio trabalho.
A nossa experiência, como estudantes, estagiando
em unidades de saúde da família, nos mostrou que desenvolver esse tipo de atividade junto à comunidade,
onde a realidade do individuo fica muito próxima, os
problemas são de diversas ordens, as limitações internas e externas incontáveis, expõem o trabalhador a riscos do ambiente que podem desencadear alterações na
sua qualidade de vida no trabalho. O ACS como membro da equipe de saúde da família, atuando na unidade, bem como na comunidade desenvolvendo inúmeras atividades da complexa realidade sanitária, pode
estar sujeito a alterações da sua qualidade de vida no
trabalho.
O presente estudo teve o objetivo de avaliar, de
acordo com a percepção dos agentes comunitários de
saúde que atuam em unidade de saúde da família, a
sua qualidade de vida no trabalho.
O entendimento do tema investigado é de fundamental importância para os agentes comunitários
de saúde, uma vez que o bem-estar e qualidade de
vida no trabalho são fatores que influenciam a qualidade final do cuidado.
REFERENCIAL TEÓRICO
São várias as definições e categorias de QVT, e
não há um consenso da conceituação do termo7. Mesmo assim, QVT tem sido entendida como a aplicação
concreta de uma filosofia humanística, visando alterar aspectos do e no trabalho a fim de se criar uma
situação mais favorável à satisfação das necessidades
dos trabalhadores e ao aumento da produtividade
organizacional8.
Pesquisadores têm realizado várias abordagens e
identificado diferentes categorias de QVT, auxiliando na compreensão do tema. Este estudo adotou o
Modelo de Walton que, segundo Monteiro7, significa
dizer que QVT é a humanização do trabalho, considerada como uma responsabilidade social da organização. Isso porque envolve o atendimento às necessidades do trabalhador pela reestruturação do desenho
de cargos e de novas formas de organizar o trabalho8.
A abordagem de Walton envolve categorias variadas, desde condições físicas e financeiras até questões de realização e motivação do trabalhador. Elas
compõem esta análise não somente os aspectos internos e fatores externos ligados à organização e ao trabalhador como, por exemplo, relevância social do trabalho. Ela se interessa pelo desejo, pelos anseios e
expectativas do funcionário em relação a sua tarefa e
por seu relacionamento interpessoal dentro da organização e suas consequências fora dela8.
A qualidade de vida no trabalho é percebida
individualmente pelos empregados e deve envolver
condições seguras; um trabalho que valha a pena faRev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):262-7.
• p.263
Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
Qualidade de vida no trabalho
zer; remuneração e benefícios adequados; certa estabilidade no emprego, supervisão competente, feedback
quanto ao seu desempenho, oportunidade de crescimento e de aprendizado no emprego, possibilidade de
promoção com base no mérito, clima social positivo e
justiça social9 .
Dessa forma, a alteração da qualidade de vida
relacionada ao trabalho pode ser definida como um padrão de relações emocionais, cognitivas e comportamentais para aspectos diversos e difíceis do conteúdo
do trabalho, organização e ambiente de trabalho.
Pode-se compreender que ações que identifiquem a satisfação do trabalhador e promovam a qualidade de vida no trabalho são importantes não só do
ponto de vista do trabalhador, mas também dos empregadores e da sociedade em geral.
O ACS, como membro da ESF, pode ter sua qualidade de vida no trabalho alterada, o que nos propomos a investigar neste estudo. Verificar o grau de satisfação do ACS proporcionou informações significativas
para a construção de estratégias voltadas para o desenvolvimento de reformas organizacionais. Só assim é possível gerar condições para o crescimento profissional,
pessoal e da comunidade, que poderá ser expresso em
uma assistência segura e de qualidade inquestionável,
com garantia na própria saúde da organização.
METODOLOGIA
Este estudo é uma pesquisa do tipo exploratória,
com abordagem quantitativa. As pesquisas
exploratórias têm como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo
mais explicito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer
que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições10.
A amostra deste estudo foi composta por 42 agentes comunitários de saúde pertencentes a sete equipes de saúde da família de um município do interior
do Estado de São Paulo.
O estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Centro Universitário Barão de
Mauá, protocolo nº 236/2008, em 26 de março de 2008.
Os sujeitos aderiram ao estudo por meio do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a
Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.
A coleta de dados foi realizada em abril de 2008
e foi utilizada como instrumento a escala de percepção sobre QVT de Walton apud França e Rodrigues11.
O instrumento de coleta foi constituído por categorias e/ou dimensões relativas ao nível de satisfação do indivíduo em relação a sua qualidade de vida
no trabalho. Foram realizadas oito categorias relacionadas à qualidade de vida no trabalho: compensação
justa e adequada, condições de trabalho, uso e desenp.264 •
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):262-7.
volvimento de capacidades, oportunidade de crescimento e segurança, integração social da organização,
cidadania, trabalho e espaço total de vida e relevância social do trabalho8.
Os dados foram submetidos à análise estatística, mediante os cálculos de frequências e médias aritméticas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados possibilitou observar dife-
rentes percepções dos trabalhadores com relação às
dimensões de satisfação durante o desempenho de suas
tarefas, conforme está descrito na Figura 1.
Ao avaliar a satisfação geral dos ACS que participaram da pesquisa, obtivemos uma média geral de
6,72 pontos. Ao transportar para o quadro de índice
de satisfação de Walton, foi concluído que os ACS,
de um modo geral, encontram-se moderadamente satisfeitos em relação á sua QVT.
A satisfação no trabalho é um fenômeno complexo e de difícil definição, por se tratar de um estado
subjetivo, podendo variar de pessoa para pessoa, de
circunstância para circunstância e ao longo do tempo
para a mesma pessoa. A satisfação no trabalho pode
ser definida como um conjunto de sentimentos favoráveis ou desfavoráveis com os quais os trabalhadores
percebem seu trabalho12. A satisfação está sujeita à
influência de forças internas e externas ao ambiente
de trabalho imediato. Ela pode afetar a saúde física e
mental do trabalhador, interferindo em seu comportamento profissional e/ou social13.
Observamos, através dos dados que as dimensões que apareceram com maior índice de percepção
dos sujeitos quanto ao grau de satisfação no trabalho
foram as dimensões Integração social na organização
(8,02) e Trabalho e espaço total de vida (7,53), significando que estes trabalhadores estão satisfeitos em relação a tais dimensões.
A integração social na organização pode ser caracterizada pela ausência de preconceito dentro da
instituição, habilidade social e valores comunitários14.
Neste estudo, a ausência de preconceito está relacionada à igualdade de oportunidades, que é o grau
de ausência de estratificação na organização de trabalho, em termos de símbolos status ou estruturas hierárquicas íngremes, e de discriminação quanto à raça, sexo,
credo, origens, estilos de vida e aparência15.
A habilidade social, por sua vez, é aquele comportamento considerado como desejável que capacita
a pessoa a interagir com o outro de modo que as necessidades sejam satisfeitas e satisfaçam as expectativas dos demais16.
A satisfação percebida pelos sujeitos da pesquisa em relação a esses aspectos mostra que a organizaRecebido em: 05.12.2008 - Aprovado em: 08.03.2009
Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
ção proporciona relações internas de trabalho adequadas, sem discriminação com relação aos seus colaboradores. É importante destacar que, na unidade de saúde
da família, a interação entre os diversos membros da
equipe de saúde é indispensável para que o processo de
trabalho aconteça. No modelo de assistência de saúde
da família, o trabalho em equipe não deve ser o simples
compartilhar do mesmo espaço físico, mas sim, deve
haver uma real abordagem de interdisciplinaridade. E
a satisfação do ACS mostra que há uma prática democrática e construtiva na equipe de saúde.
Os valores comunitários, também considerados
como partes da integração social, podem ser definidos
como o grau de senso de comunidade existente na
instituição.
O fato de o ACS ser morador da área, ter laços
estabelecidos de amizade e similaridade das condições sociais e de vida, favorece a horizontalidade das
relações que se estabelecem com a comunidade e vão
trazendo, passo a passo, credibilidade ao trabalho
desse agente, integrando o saber técnico adquirido
ao saber popular, sem o distanciamento de uma relação hierárquica17.
O trabalho e espaço total de vida foi outra dimensão percebida pelos trabalhadores com elevados índices de satisfação.
O trabalho e espaço total de vida podem ser definidos como o equilíbrio entre a vida social do empregado e a vida no trabalho, sendo caracterizado pela
liberdade de expressão, vida pessoal preservada e horários previsíveis14.
Categorias
Compensação justa e adequada
Figueiredo IM, Neves DS, Montanari D, Camelo SHH
A vida pessoal preservada diz respeito ao equilíbrio entre jornada de trabalho, exigências de carreira,
viagens; e os horários previsíveis nada mais são do que
o equilíbrio entre horários de entrada e saída do trabalho e convívio familiar15.
Se, por um lado, a carga horária de trabalho de 40
horas semanais dos ACS favorece o cumprimento de
um grande número de atividades, por outro, demanda
muita dedicação. Tal situação pode afetar
significantemente a sua vida familiar, pois as longas horas
de permanência no trabalho podem impedir o trabalhador de dispensar maior tempo de dedicação à família6.
A interface trabalho/família é considerada de
grande relevância na avaliação da qualidade de vida
no trabalho, pois a este aspecto estão relacionadas
questões como: conflitos nas exigências do trabalho e
do lar e pouco suporte no lar6.
Conciliar a atividade profissional com o cotidiano familiar nem sempre é tarefa fácil, todavia, os trabalhadores, cada um com sua historia de vida, tem
buscado o alcance da realização profissional6.
Considerando a população desta pesquisa, que
foi 100% feminina, tornam-se necessárias habilidades
para conciliar o trabalho e a família, pois a mulher
inserida no mercado de trabalho não deixou as responsabilidades da casa. E neste estudo a presença de
um elevado índice de satisfação nos mostrou que as
participantes desta amostra percebem que há um equilíbrio entre a jornada de trabalho e as atividades desenvolvidas fora dele.
Dimensões
Salário
Jornada de trabalho
Condições de trabalho
Ambiente
Salubridade
Uso e desenvolvimento de capacidades
Autonomia
Estima
Capacidade múltipla
Informações sobre o trabalho
Oportunidade de crescimento e segurança Carreira
Desenvolvimento pessoal
Estabilidade no emprego
Integração social na organização
Ausência de preconceito
Habilidade social
Valores comunitários
Cidadania
Direitos garantidos
PrivacidadeImparcialidade
Trabalho e espaço total de vida
Liberdade de expressão
Vida pessoal preservada
Horários previsíveis
Relevância social do trabalho
Imagem da empresa
Responsabilidade social da empresa
Média global
6,44
6,41
7,14
4,77
8,02
6,31
7,53
6,95
FIGURA 1: Distribuição do nível de satisfação dos agentes comunitários de saúde em relação às dimensões de
qualidade de vida no trabalho segundo a Escala de Percepção de Walton.. Ribeirão Preto. 2008.
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):262-7.
• p.265
Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
Qualidade de vida no trabalho
As trabalhadoras deste estudo estão satisfeitas
com as demais dimensões relacionadas ao trabalho,
exceto com a oportunidade de crescimento e segurança
no emprego, em que se observou o menor índice (4,77),
demonstrando insatisfação com relação a este aspecto, conforme mostra a Figura 1.
A dimensão oportunidade de crescimento e segurança, de acordo com a escala de Walton, significa
índice de satisfação em relação à carreira, desenvolvimento pessoal e estabilidade no emprego.
A evidência científica informa sobre uma crise
na situação de trabalho dos profissionais de saúde atuantes no âmbito do SUS. Diversas pesquisas mostram
que no SUS, assim como nos demais setores do mercado de trabalho nacional, ao longo da década de 90,
proliferaram os contratos informais de trabalho e o não
pagamento, por muitos empregadores, dos encargos
sociais de sua responsabilidade, para, enfim, privar os
trabalhadores de direitos garantidos a eles pela lei,
como férias, tempo de fundo de garantia de serviço
(FGTS), licenças, décimo terceiro salário e aposentadoria. Sem essa proteção, esses profissionais permanecem à mercê da instabilidade político-partidária e diferenças entre governos que se sucedem no poder, tão
presentes na realidade dos municípios brasileiros18.
Sabe-se que os sujeitos desta pesquisa tiveram
seus contratos trabalhistas vinculados indiretamente
à entidade filantrópica privada e regime de trabalho
de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT). Portanto, não são cargos municipais, estáveis,
deixando-os insatisfeitos com a instabilidade no emprego e, consequentemente, prejudicando a sua qualidade de vida no trabalho. É importante se ter claro
que dar mais estabilidade aos profissionais pode significar aumentar a possibilidade de acúmulo de conhecimento e habilidade que permitam tornar mais consistente e duradoura as propostas de formação dos futuros trabalhadores das equipes de saúde da família.
A insatisfação também em relação a carreira e
ao desenvolvimento pessoal deve-se ao fato de o Ministério da Saúde não exigir que este trabalhador seja
do nível superior. Dessa forma dificulta o empenho das
instituições em estabelecer programas de aprimoramento, desenvolvimento na carreira, visto que é exigido do ACS que ele saiba apenas ler e escrever para
atuar nas equipes de saúde.
Entretanto, para uma melhor qualidade na assistência diante das mudanças que têm ocorrido no
setor da saúde, que exigem hoje, inclusive, um atendimento mais humanizado, é necessário que as instituições se preocupem com a capacitação de seus profissionais19.
A qualificação/capacitação do profissional de
saúde, certamente, é um dos caminhos e um dos desafios a enfrentar para que se alcance maior qualidade
dos serviços de atenção à saúde. Outras medidas são
p.266 •
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):262-7.
imprescindíveis, entre elas o aumento salarial, novas
formas de contratos de trabalho que garantam maior
estabilidade e fortaleçam o vínculo empregatício, além
da melhoria das condições de trabalho e de
infraestrutura dos relevantes serviços de responsabilidade social prestados pelos profissionais da estratégia
de saúde da família20.
A pesquisa permitiu uma reflexão e discussão dos
profissionais que atuam em equipes de saúde da família, bem como dos futuros profissionais, e trouxe subsídios para implantar e/ou implementar intervenções
quanto às possíveis causas de insatisfação que podem
interferir na sua qualidade de vida no trabalho.
CONCLUSÃO
A qualidade de vida no trabalho está diretamente
associada à satisfação dos trabalhadores no desempenho de suas funções.
A abordagem de aspectos que afetam, positiva ou
negativamente, a qualidade de vida no trabalho de
agentes comunitários de saúde caracteriza a importância desta pesquisa, podendo propiciar a criação de estratégias para reestruturação que favoreça a melhoria
das condições de trabalho, com repercussão no aumento de produtividade e na qualidade de assistência.
A satisfação encontrada está diretamente relacionada ao grau de relacionamento do ACS na organização, bem como na comunidade. Os horários de
trabalho são respeitados e há, portanto, conciliação
entre a jornada laboral e o período de dedicação à
família, deixando os trabalhadores satisfeitos.
Ao se olhar mais de perto para os aspectos do
trabalho com índice de insatisfação, percebe-se que
eles estão relacionados com a política de recursos humanos da organização, com o estilo de gestão da instituição. Infere-se que falta à organização analisada
uma política de recursos humanos que promova estabilidade no emprego, oportunidade de crescimento na
carreira, desenvolvimento pessoal dos agentes comunitários de saúde e que lhes permita conquistar como
consequência, o reconhecimento pela sua função e
assim obter melhor qualidade de vida no trabalho.
É preciso que investigações sobre esse assunto não
se limitem ao agente comunitário de saúde e passem a
abranger todos os membros da equipe de saúde e da
família, de forma que revelem a realidade que envolve
esses trabalhadores em seu universo ocupacional.
REFERÊNCIAS
1.Ministério da Saúde (Br). Departamento de Atenção
Básica. Modalidade de contratação de agentes comunitários de saúde – um pacto tripartite. Brasília(DF): Gráfica
do Ministério da Saúde; 2002.
2.Ministério da Saúde (Br). [site da internet]. Política NaciRecebido em: 05.12.2008 - Aprovado em: 08.03.2009
Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
onal de Atenção Básica. Portaria nº 648 de março de 2006.
[citado em 15 jan 2008] Disponível em: www.saude.gov.br.
3. Rocha JBB, Zeitoune RCG. Perfil dos enfermeiros do
programa saúde da família: uma necessidade para discutir
a prática profissional. Rev enferm UERJ. 2007; 15:46-52.
4.Camelo SHH, Angerami ELS. Riscos psicossociais relacionados ao trabalho das equipes de saude da família: percepções dos profissionais. Rev enferm UERJ. 2007; 15: 52-7.
5. Fortes PAC, Spinetti SR. A informação nas relações entre os agentes comunitários de saúde e os usuários do Programa de Saúde da Família. Saude Soc. 2004; 13(2):70-5.
6. Camelo SHH. Riscos psicossociais relacionados ao
estresse no trabalho das equipes de saúde da família e estratégias de gerenciamento. [tese de doutorado] Ribeirão
Preto(SP): Universidade de São Paulo; 2006.
7. Monteiro GF. Qualidade das condições de trabalho versus
produtividade: estudo de caso no setor de transportes urbanos de Goiânia (GO) [dissertação de mestrado].
Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa
Catarina; 2001.
8. Kirogi MS. Qualidade de vida no trabalho e suas diversas
abordagens. Rev Ciências Gerenciais. 2008; 12(16): 49-62.
9.Salles PEM, Federighi WJ. Qualidade de vida no trabalho (QVT): a visão dos trabalhadores. Rev O Mundo Saúde. 2006; 30: 263-278.
10.Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São
Paulo: Atlas; 2006.
11.França ACL, Rodrigues AL. Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas; 1999.
12. Cartolo MS, Camara SG. Propriedades psicométricas
do questionário de satisfação no trabalho (S20/23).
Figueiredo IM, Neves DS, Montanari D, Camelo SHH
PsicoUSF. [online] 2008; 13(2): 203-10.
13.Martinez MC,Paraguay AIBB, Latorre MRDO. Relação
entre satisfação com aspectos psicossociais e saúde dos trabalhadores. Rev Saúde Pública. 2004; 38:55-61.
14. Vissani A, Reis LB, Nogueira LB, Rocha M, Marangoni
O. Qualidade de vida no trabalho. Belo Horizonte(MG):
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; 2002.
15.Magalhães AR, Costa FC. [site da internet]. Impacto
do Projeto Viva Mais na Brasil Telecom - Mato Grosso.
2008 [citado em 10 jul. 2008]. Disponível em: http://
www.ismabrasil.com.br/tpls/163.asp?idCadastro=210
&idPg=573&m Ab=n.
16. Lucca E. Habilidade social: uma questão de qualidade
de vida. O Portal dos Psicólogos [internet]; 2009 [citado
em 13 maio 2009] Disponível em: www.psicologia.com.pt/
artigos/ver_artigo.php?9codigo=A0224&
area=d4&subarea= - 84k.
17.Carvalho VLM. A prática do agente comunitário de
saúde: um estudo sobre sua dinâmica social no município
de Itapecerica da Serra [tese de mestrado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2002.
18.Organização Pan – Americana da Saúde. Avaliação de
tendências e prioridades sobre recursos humanos de saúde.
Brasília(DF): OPAS; 2002.
19.Camelo SHH, Angerami ELS. Formação de recursos
humanos para a estratégia de saúde da família. Ciênc Cuid
Saúde. 2008; 7(1): 45-52.
20.Cotta RMM, Schott M, Azeredo CM. Organização do
trabalho e perfil dos profissionais do Programa Saúde da
Família: um desafio na reestruturação da atenção básica
em saúde. Epidemiol Serv Saúde. 2006; 15(3): 7-18.
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 abr/jun; 17(2):262-7.
• p.267
Download

Qualidade de Vida no Trabalho