Vera Lúcia Messias Fialho Capellini Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues (organizadoras) CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS: relatos dos participantes Editora FC/ UN ESP Bauru - 2015 VERA LÚCIA MESSIAS FIALHO CAPELLINI OLGA MARIA PIAZENTIN ROLIM RODRIGUES Organizadoras CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS: RELATOS DOS PARTICIPANTES Editora FC/UNESP Bauru 2015 Faculdade de Ciências. Bauru/UNESP – ISBN 978-85-99703-80-9 Av. Eng. Luiz Edmundo C. Coube, 14 -01 17033-360 - Bauru-SP - Brasil Telef. (14) 3103 6000 Permitido a reprodução desde que citada a fonte UNESP – Universidade Estadual Paulista Vice-reitor no exercício da Reitoria – Prof. Dr. Julio Cezar Durigan Campus de Bauru Faculdade de Ciências – FC Diretora: Prof. Adj. Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger Vice Diretor: Prof. Adj. Paulo Noronha Lisboa Filho Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem Coordenadora: Profª. Drª. Alessandra Turini Bolsoni Silva Vice-Coordenadora: Profª. Drª. Ana Cláudia Moreira Almeida Verdu Revisora de Língua Portuguesa Priscila Rocha Machado Design gráfico Jamile de Oliveira Ficha catalográfica 371.9 C986 Curso de aperfeiçoamento em práticas educacionais inclusivas : relatos dos participantes / Vera Lúcia Messias Fialho Capellini, Olga Maria Piazentin Rolin Rodrigues (organizadoras) – Bauru : UNESP/FC, 2015 115 p.104: il. ISBN 978-85-99703-80-9 Inclui bibliografia 1. Práticas educacionais inclusiva. 2. Deficiência intelectual. 3. Relatos de experiências. I. Capellini, Vera Lúcia Messias Fialho. II. Rodrigues, Olga Maria Piazentin Rolin. Sumário Apresentação 4 Prefácio 9 Práticas Inclusivas - Vivências do tutor em EaD 11 Relato de Experiência – Cleomara de Fátima Ferreira 21 Relato de Experiência – Elcen Nocera Simão 24 Relato de Experiência – Juliana Carla Tremontini de Carvalho 26 Relato de Experiência – Luciane Maria Molina Barbosa 32 Relato de Experiência – Marina de Souza Jacob 43 Relato de Experiência – Marina Pavão Battaglini 48 Relato de Experiência – Elaine Maria Nocera Kaizer 51 Relato de Experiência – Marilene Domanovski 53 Relato de Experiência – Luci Regina Alves de Paula 56 Relato de Experiência – Marilú Descanio Ramos e Denise Descanio 59 Relato de Experiência – Rosália Aparecida Puríssimo 69 Relato de Experiência – Giselda 73 Relato de Experiência – Sária Cristina Nogueira 77 Relato de Experiência – Luciana Apolônio Rodrigues Carneiro 80 Relato de Experiência – Adriane Aparecida Carneiro de Jesus 84 Relato de Experiência – Jaíza Helena 87 Relato de Experiência – Maria Antonia Almeida 88 Relato de Experiência – Olívia de Castro Oliveira Bento 90 Relato de Experiência – Marina Batista Santos de Carvalho 92 Relato de Experiência – Cecília Nogueira Siqueira Pereira 94 Relato de Experiência – Ana Cristina Brito de Costa 95 Relato de Experiência – Silvia Cavalcanti Vicentin 96 Relato de Experiência – Kátia de Abreu Fonseca e Luciana Apolônio Carneiro 103 Referências 113 4 Apresentação O livro Curso de Aperfeiçoamento em Práticas Educacionais Inclusivas: relatos dos participantes foi pensado, principalmente, como veículo para divulgação de experiências vividas por professores da Educação Básica de escolas públicas (municipal ou estadual) que visam construir escolas que possam, de fato, ser denominadas de Inclusivas. Tais professores participaram do curso de Aperfeiçoamento em Práticas Educacionais Inclusivas, promovido pela Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Bauru, sob minha direta coordenação, Prof.ª Dra. Vera Lúcia Messias Fialho Capellini. Para o desenvolvimento deste trabalho, contei com o apoio de diversos professores do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, sobretudo, da Prof.ª Olga Maria Rolim Piazentin Rodrigues. Numa parceria com o Ministério da Educação, por intermédio da, na época, Secretaria de Educação Especial, que desenvolve, em parceria com o programa Universidade Aberta do Brasil – UAB, o Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial que tem por objetivo formar professores dos sistemas estaduais e municipais de ensino, através da constituição de uma rede nacional de instituições públicas de educação superior que ofertem cursos de formação continuada de professores na modalidade à distância. Este livro de Relatos tem como temática geral o amplo campo da educação, tornando-se porta-voz de experiências concretas e verdadeiras que versam acerca de questões imediatas ou de curto prazo relacionadas às práticas educativas como podemos observar no relato da professora-cursista quando diz: “Interessante observar que fomos nos construindo enquanto grupo, criando laços, apesar da distância que um curso na modalidade EAD nos impõe. Não sei se o mesmo ocorreu com outros grupos, com outros tutores e formadores, mas no caso de nossa turma, a turma 38, ficou claro que as participantes, tutora e formadora, apresentaram, desde o início, grande afinidade. O carinho nos emails trocados era palpável, se é que tal coisa possa existir em termos de comunicação virtual.” É satisfatório e digno de orgulho poder reunir aqui, relatos vindos de terras longínquas. Queremos que nossos leitores participem dessas contribuições que vêm de longe, mas que dizem respeito muito de perto à dignidade do ser humano em 5 toda a face da Terra e, portanto, têm a ver de modo imediato com a tarefa educativa. Realçamos com esses Relatos que a tarefa da educação é humana por excelência, esmerando-se, muitas vezes, em seu aspecto científico, porém, sem nunca perder de vista o humano que orienta a prática que devemos, quotidianamente, exercer. A professora-cursista em seu Relato abaixo demonstra claramente nosso objetivo de oferecer a você leitor, uma variada gama de experiências e de sugestões de aprofundamento na compreensão da educação enquanto prática social. Seu depoimento diz: No segundo módulo, começamos a ter contato com a especificidade da educação inclusiva, sua trajetória ao longo da história. Nesse ponto, que sempre se levanta questionamentos sem fim, ficou visível o quanto já progredimos quando falamos em inclusão, educação e sociedade. Em nossos debates, nos maravilhosos bate-papos agendados, percebemos que ainda há muito a se evoluir sim, sempre. Uma das características da humanidade é a constante busca e necessidade de evolução é isso o que nos torna diferentes dos demais animais, o que nos confere a racionalidade como diferencial. Sendo assim, ainda precisamos e iremos sempre precisar evoluir. Porém, quando olhamos para a história dos deficientes, em geral, é fato que grandes e largos passos já foram dados até o presente momento. Do total abandono, em lares especializados, passando pela época em que divertiam o povo sendo usados como bobos da corte, vagando pelas vielas da exclusão, transitando levemente pelo movimento da integração, quando obtiveram um olhar diferenciado, até o momento inclusivo em que vivemos hoje, o trajeto foi longo. Foi tortuoso, dolorido, muitas vezes, exaustivo para os familiares, porém bem sucedido. Nos capítulos dois e três do módulo dois, discutimos ética e direitos dos deficientes. Foram dois capítulos bem intensos e com discussões bem acaloradas, diria eu. O assunto abordado levantou o tapete de nossas vidas, de nossa sociedade e de nossas escolas, mostrando que, muitas vezes, a lei é deixada de lado sim e todos nós fazemos vista grossa. E o fazer vista grossa sinaliza uma forma de negligência, pois embora, na maioria dos casos, não dependa única e exclusivamente de nós professores, quando nos calamos ao perceber um erro legal, estamos contribuindo para a perpetuação desse erro. Finalizamos esse momento, percebendo nosso papel político na instituição escola, junto aos nossos alunos da Educação Especial e da educação regular que estejam incluídos. 6 Neste livro, vamos encontrar Relatos que abordam questões filosóficas, metodológicas e práticas que nos provocam, nos deixam incomodados e, muitas vezes, numa situação instigante, impulsionando o Educador a buscar respostas em cursos de aperfeiçoamento como este, em Relatos e vivências de outros professores, em salas de bate-papo onde nossos cursistas se reuniram semanalmente, para discutir e trocar experiências que deram certo. O Relato da professora abaixo mostra o quão importante foi para ela a experiência de um curso na modalidade de EaD. E chegamos ao final do curso... Um curso que irá deixar muita saudade. Quando optamos por um curso na modalidade EaD, invariavelmente, é por falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das atividades, dar prosseguimento parece impossível. Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta. Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano. Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de engrandecimento profissional. Ser professor... Uma missão! Não somente uma profissão, pois não se exerce tal função nas 8 horas em que se está frente à classe. Quando se é professor, se é... 24 horas por dia, 7 dias por semana. As crianças do mundo parecem estar sob sua responsabilidade, é como me sinto. Ontem, 15 de outubro, dia do professor! Quero dividir um relato... Um relato bobo talvez, mas que me fez encontrar, no dia de ontem, motivos suficientes para acreditar que estou no caminho... Na véspera, 14 de outubro, realizamos a festa do dia das crianças na escola onde leciono pela manhã. Alugamos um pula-pula grande, pois nossos alunos são adolescentes e adultos, é uma escola especial. Um dos meus alunos é cadeirante e assistia a brincadeira dos demais alunos de sua cadeira de rodas. No meio de tantas coisas para fazer, não me dei conta de imediato de sua solidão. Não sei precisar o momento em que bati os olhos nele. Fui até lá e perguntei se ele gostaria de ir no pula- pula. Ele disse que não. Eu insisti, disse que o colocaria lá. Ele disse que sim. Não precisei de ajuda para tirá-lo da cadeira e colocá-lo no brinquedo. E como ele não conseguia 7 sustentar o corpo sentado, coloquei-o deitado mesmo, no centro da cama elástica. Solicitei a outro aluno que pulasse bem devagar ao lado do meu cadeirante. Com o vibrar da cama elástica, seu corpo saltava também. E ele ria, gargalhava alto, como eu nunca havia visto antes. Não fui a única a me emocionar ali. O monitor do brinquedo olhou para mim e disse que nunca havia visto cena tão linda antes. Acabados os 3 minutos que lhe eram de direito, coloquei-o de volta em sua cadeira, e a festa continuou normalmente para todos nós. Ontem à noite recebi uma ligação do aluno em questão. Era para me desejar feliz dia dos mestres, dizer, com sua fala um pouco enrolada, que sou muito importante para ele e que ele me ama. Emoção maior veio depois, quando sua mãe veio ao telefone me falar que o brilho nos olhos de seu filho, ao chegar em casa, relatando que havia pulado na cama elástica e que eu o havia colocado lá, não tinha preço. A cada dia, na Educação Especial ou regular, vivemos situações de vida com nossos alunos que podem realmente fazer aquele dia valer a pena em nossas vidas. Enquanto professores, munidos de um olhar que talvez nenhum outro profissional tenha, podemos fazer toda a diferença. E cursos como o que estamos encerrando, contribuem e muito para a aquisição desse olhar. Um olhar não de piedade, de compaixão, de estar fazendo isto ou aquilo porque Deus pregava. Um olhar humano que batalha constantemente pelo humano. Um olhar que vê, que enxerga através e além... Um olhar que não se traduz, um olhar mais que especial! Observamos, claramente, mediante os Relatos publicados neste livro que o trabalho com a família merece um olhar especial... Que uma das funções da escola para com essas famílias é a acolhida, o prestar esclarecimentos, o orientar. Muitas dessas famílias são de origem bem humilde e desconhecem por completo seus direitos. Percebe-se, aqui, a escola enquanto força política nas vidas dessas pessoas e os professores, tornando-se a ponte que, certamente, ligará essa família a uma forma mais confortável de viver. Esses Relatos também se constituíram em subsídios valiosos para reflexão de muitos paradigmas. Percebemos isso nitidamente, quando a professora diz que: O módulo cinco veio colaborar para a desconstrução de paradigmas. Já no primeiro capítulo a bomba: SEXO! Sim, nossos alunos se interessam por sexo! Não, sinto muito, o deficiente não é uma samambaia! O vídeo abordando o tema, com depoimentos de deficientes intelectuais, foi fabuloso. Algumas colegas mostraram-se receosas, até chocadas. Mas, 8 abrir os olhos para a sexualidade de nossos alunos é imprescindível na construção de um ser humano completo, integral, pleno. E precisamos ter em mente que, se para os pais de crianças ditas normais, lidar com esse assunto é um tabu, imagine para os pais de alunos deficientes. Nas escolas de modo geral ainda não se trabalha com projetos que abordem a sexualidade efetivamente. Ficou a deixa para pensarmos e avaliarmos nosso papel em mais essa empreitada. Apresentamos assim aos nossos leitores, diferentes experiências de educadores que se debruçaram e refletiram sobre o processo de ensino e aprendizagem, oferecendo uma variada gama de experiências fundamentais para a compreensão da educação enquanto prática social como relata a professora cursista: E chegamos ao final do curso... Um curso que irá deixar muita saudade. Quando optamos por um curso na modalidade EaD, invariavelmente, é por falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das atividades, dar prosseguimento parece impossível. Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta. Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano. Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de engrandecimento profissional. Acreditamos ser esta uma leitura que incitará novas ideias, onde cada leitor poderá se identificar com uma ou mais situações aqui citadas, reforçando que o ensino é cada vez mais uma incrível e satisfatória aprendizagem. Profª. Drª. VERA LÚCIA MESSIAS FIALHO CAPELLINI Coordenadora do Curso 9 PREFÁCIO Uma manhã de segunda-feira chuvosa, em pleno início de maio, abro meu email e me deparo com uma mensagem da “Verinha” (como muitos amigos a chamam) – “Oi, amor, pode fazer o prefácio?”. Vejo em anexo um texto com 105 páginas, inicio a leitura e não consigo parar de ler. Fico esperando o próximo e o próximo relato, me perguntando: será que o próximo relato vai conseguir me comover como esse? Será possível? E termino o livro querendo mais. Relatos dos Cursistas que fizeram o curso Práticas Educacionais Inclusivas é o retrato da sinergia que se estabeleceu entre os diferentes atores (cursistas, tutores, autores) envolvidos no curso – rompendo com a “solidão adquirida”, muitas vezes, na prática docente. Os cursistas se uniram em torno de um objetivo comum, compartilhando vivências muito distintas – há entre eles, aqueles com necessidades especiais, aqueles com parentes/amigos com necessidades especiais e aqueles que não comungam dessas experiências. Isso, sem sombra de dúvida, enriqueceu o curso e conferiu a ele “a cara da diversidade”. Ao longo de todo o texto, será possível perceber que a ferramenta tecnológica empreendida no curso, EAD, não foi limitadora para a promoção da sinergia entre os atores e, consequentemente, mudanças de paradigmas e melhoria da prática docente. Ao contrário, verifica-se que um curso nesses moldes, quando se pauta em um conteúdo pensado/refletido e uma equipe comprometida com a formação dos cursistas, transcende qualquer barreira distancional. O tema, Práticas Educacionais Inclusivas, é desafiante, e por si só já merece essa leitura. Todavia, o que mais atrai neste livro é o fato de ser formado por relatos de professores que estão em sala de aula, falando para outros professores, de igual para igual. Quebra-se totalmente o paradigma de que quem está na ativa não escreve e de que quem escreve não está na ativa, estando totalmente apartado da realidade de que se fala. Dessa forma, tem-se a união, efetiva, da teoria com a prática, o que é tão ansiado quando se pensa em inclusão, diversidade, práticas pedagógicas exitosas – aqui pensadas como algo que provoca uma “realização” no estudante, seja ela em qual nível for, considerando, realmente, o potencial que cada um tem. Isso é inclusão. Isso é respeito. 10 Desejo que todos, por meio desta leitura, se deleitem e reflitam sobre as Práticas Educacionais Inclusivas e possam, como no relato a seguir, tornar-se agente transformador em prol da “inclusão” e do “respeito” à diversidade. Foram tantos os temas estudados que se torna impossível sair deste curso como entramos. Nós também nos transformamos para poder transformar as realidades por onde pisamos. Assis, 13 de maio de 2015. Carina Alexandra Rondini UNESP/Assis 11 Práticas Inclusivas - Vivências do tutor em EaD Maria Aparecida Amaral Vassoler¹ Vera Lúcia Spezi Pereira² Nas últimas décadas, o ensino a distância vem desempenhando um papel extremamente importante ao proporcionar o acesso à formação e informação, além de introduzir mudanças significativas nos ambientes de aprendizagem. As modificações nas coordenadas de espaço e tempo ampliam significativamente as possibilidades tradicionais do contexto educativo. Nessa perspectiva, a UNESP - Campus Bauru - em parceria com o MEC e Secretarias de Educação - desenvolvem cursos de pós-graduação voltados para Práticas Inclusivas, oferecidos na modalidade à distância. Nesse curso, trabalhamos com a inclusão do aluno com deficiência intelectual em escola regular, um grande desafio para pais, alunos e todos os profissionais da educação. Os professores se veem diante de novas questões para atender as necessidades específicas do aluno com deficiência e, concomitantemente, atender ao demais da classe. A experiência tem nos mostrado que grupos de alunos mantêm-se próximos por bastante tempo, passando a assimilar as limitações e possibilidades dos colegas com naturalidade. Assim, o convívio entre alunos com características diferentes é um meio para entender que não existe apenas uma maneira de aprender e de ser. O compartilhar entre esses alunos possibilitará que todos sejam menos preconceituosos, comuniquem-se, e sejam flexíveis. Enquanto tutoras dessa modalidade - EaD – nesse curso ofertado pela UNESP, nosso trabalho abrange o acompanhamento do percurso do estudante, com um olhar parceiro para conhecer as metodologias de estudos, as dificuldades apresentadas na busca de orientação, práticas de relacionamentos com demais colegas de pesquisa, se faz uso de bibliografias de apoio, se realiza as atividades ____________________________ ¹ Tutora. Professora Pós Graduada em Docência no Ensino Superior pela Educacional Anhanguera Bauru - Tema da monografia: O papel do tutor na Educação a Distância. - Aposentada da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. - Tutora EAD da UAB, convênio MEC – Unesp ² Tutora. Professora Mestra em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. Aposentada da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo - Professora da Pós Graduação Instituto Passo 1 - Unidade/Bauru 12 propostas, se é capaz de relacionar teoria/prática. Atualmente, as recentes conquistas da tecnologia nos apresentam veículos para a comunicação que possibilitam uma redefinição para Educação a Distância. Nossos alunos não só compartilham textos, vídeos e opiniões dos colegas, mas também se comunicam conosco e com outros estudantes em fóruns virtuais. Adotamos, assim, padrões mais interativos e processos de aprendizagem mais abertos, com maior variabilidade de produção e responsabilização do trabalho. Temos então, nesse curso, uma proposta de ensino que se caracteriza pela flexibilidade, onde as interações são garantidas e acontecem no tempo e possibilidade do aluno. Pontuamos, também, que o valor dessa proposta está centrado na qualidade dos conteúdos atualizados, dos novos enfoques, dos conceitos relevantes, provocadores de reflexões e que nos apoiam, positivamente, em nosso trabalho como tutor. Registramos o quão relevante é a nossa preocupação em compreender nossos alunos/cursistas em seu processo de apropriação do conhecimento. Posicionamos assim, atentos à compreensão dos alunos, ao desenvolvimento das pesquisas solicitadas em seu campo de atuação que alimentam e favorecem os processos de aprendizagem. Sabemos que a origem do processo de construção e reconstrução do conhecimento não se dá pela nomenclatura adotada, mas por mudanças ocasionadas pelos valores e pelas ações que os professores imprimem ao seu trabalho e de estabelecimento de relações dialógicas, afetivas e éticas frente à individualidade do aluno – desse modo caminhamos nesse curso. A ênfase do nosso trabalho de tutoras foi o de instigar a busca pelo conhecimento e não a mera transmissão de conhecimentos. Nessa prática, o uso das novas tecnologias na Educação a Distância foca pressupostos construtivistas, segundo os quais a construção do conhecimento é coletiva. Nossos alunos envolvem-se em um processo dialógico, reflexivo, complexo, colaborativo e ativo, de modo que a aprendizagem significativa é privilegiada. Nessa experiência, podemos afirmar que a tecnologia mais moderna não garante a qualidade de uma proposta de Educação a Distância. Sozinha, ela não resolve os problemas educacionais e sociais. Os conteúdos e as atividades são propostos para gerar uma aprendizagem significativa, oportunizando ao aluno 13 comentários que requeiram esforço intelectual para formular e desenvolver uma argumentação, levando a um processo de reestruturação cognitiva. Reiteramos a ideia de que as tecnologias não transformam o trabalho docente, apenas expressam com grande impacto os novos cenários da sociedade contemporânea e permitem um armazenamento amplo de informação, por meio de novas linguagens. As potencialidades e virtualidades das novas tecnologias levam, algumas vezes, a supervalorizar o seu papel relativo ao processo de ensino aprendizagem. É nesse sentido que se assiste, atualmente, a uma grande vitalidade do pensamento pedagógico no contexto da Educação a Distância. Procuramos, no decorrer do curso, aproveitar o enorme capital de saber construído relativamente a outros contextos de ensino-aprendizagem e integrar, de forma adequada e produtiva, as ferramentas e possibilidades que as novas tecnologias proporcionam para o desenvolvimento e construção do conhecimento do nosso aluno. Trata-se, pois, de reconduzir a tecnologia ao lugar que deve ocupar, enquanto meio e não princípio definidor da aprendizagem. As tecnologias são ferramentas ou recursos disponíveis ao nosso aluno, porém, as digitais interferem nos ambientes de aprendizagem, posto que não somente oferecem novas e eficientes possibilidades de armazenar e transportar a informação, como também, viabilizam o acesso a novos conhecimentos e formas de relacionamento. Visualizamos, na trajetória do curso, que as tecnologias transportam, ao lado das informações, emoções, valores e sentimentos, retratados em muitos momentos de interação. Percebemos que o seu uso requer novas técnicas, uma nova maneira de conceber o processo educativo, implicando no desenvolvimento de novas estratégias de ensino e aprendizagem, bastante compartilhadas pelos professores cursistas - nosso papel de tutor é de fundamental importância na orientação dos participantes. Na primeira semana de curso, nosso foco esteve voltado à ambientação dos alunos. Esse é o tempo que ele precisa para conhecer o material, acessar a plataforma e se familiarizar com o ambiente de navegação, conhecer o perfil dos colegas e tirar dúvidas sobre o ambiente e sobre o curso. Compartilhamos muitos saberes. 14 Durante essa primeira semana, nós tutores, ficamos atentos ao movimento dos alunos no curso. Comumente, percebemos que ao acessarem a plataforma, eles apresentaram dificuldades técnicas na manipulação das ferramentas. Nesse período enviamos aos alunos mensagens de boas-vindas, estimulando-os a explorarem o ambiente do curso, encorajando-os a explicitarem suas dúvidas, motivando-os a se fazerem conhecer e a conhecerem uns aos outros, orientando-os na identificação das ferramentas do sistema. Em nenhum momento perdemos o foco no processo de ambientação do aluno no curso, nas turmas e nas ferramentas. Essa etapa é de suma importância para o acolhimento do cursista. Assumimos, nessa trajetória, o papel de mediador na construção autônoma e colaborativa do conhecimento, estabelecendo um efetivo processo de comunicação. Partimos do princípio de que a comunicação, como produção de sentido, é um elemento chave no processo educativo, pois não há educação sem comunicação. O "estar junto virtual" usado no EaD, envolve múltiplas interações entre professor e alunos em formação, no sentido de acompanhar e assessorar, constantemente, o aprendiz para entender o que ele faz, propor desafios e auxiliá-lo a atribuir significado ao que está realizando. No decorrer desse curso a distância, vivenciamos situações em que os cursistas deveriam publicar as atividades realizadas dentro de um portfólio. Nessa ferramenta, as tarefas eram publicadas de forma organizada para facilitar a correção, evitando que alguma atividade fosse perdida. Os arquivos ali postados poderiam ser compartilhados entre todos do grupo a fim de registrarem seus comentários. Para tanto, o cursista deveria seguir um protocolo de ações que permitia uma organização clara dos seus trabalhos. Ao acompanhar o desenvolvimento das tarefas, observamos que nem todos os participantes estavam compreendendo os passos estabelecidos para a postagem correta nos portfólios. Essa dúvida foi compartilhada num dos bate papo, teve a colaboração de vários alunos que registraram sua forma de postar as atividades e os colegas passaram a publicar seus trabalhos com mais facilidade e êxito. Vale ressaltar que as interações realizadas dentro do estar junto virtual permitem a aprendizagem dos sujeitos em formação e, não é apenas o formador, o agente de aprendizagem no ciclo de ações, mas também os colegas em formação. 15 A educação, também na modalidade à distância, é um processo vital e dinâmico em que o diálogo entre professor e aluno torna-se indispensável, não podendo, portanto, ser concebido como um ato mecânico. O uso das tecnologias sem a nossa intervenção de tutores não é suficiente para resolver os problemas que se apresentam durante o processo de ensino e aprendizagem. Nessa abordagem, sentimos o laço estreito que estabelecemos com nossos alunos, no decorrer das atividades desenvolvidas. A comunicação educativa pressupõe um processo interativo, de relação entre pessoas que ultrapassa a mera transmissão tecnológica da informação. Estabelecemos uma interação dinâmica com nossos alunos e também com outros tutores e formadores - parceiros na condução de outras turmas. Essa interação sempre foi mediada por múltiplas visões de mundo, de diferentes aspectos socioculturais e psicológicos que incidem e reconfiguram as interpretações que as pessoas realizam das mensagens recebidas – é uma experiência enriquecedora. Muitas vezes, nós, tutores exercermos um papel de "animador", ou seja, aquele que mantém contato com os alunos, incentivando-os a continuar seus estudos. Para obter resultados positivos, há a necessidade do domínio do conteúdo por nós, educadores virtuais e também o uso de diversas estratégias pedagógicas, tornando o aprendizado significativo. Além disso, o tutor garante o alcance dos objetivos propostos e cria uma parceria com o aluno para contribuir no processo de construção do pensamento em rede e mediar as interações. Promover o diálogo, o debate e desafios que despertem atitudes críticas e reflexivas também são nossas atribuições. Além disso, nos programas de educação à distância, nós, tutores, trabalhamos com a perspectiva de aprendizagem que consiste em orientações e encaminhamentos (à distância) dos processos de compreensão e de transferência. A organização do tempo e do espaço em nosso trabalho de tutoria, não é algo tão simples como parece. Implica rever a lógica de organização dos tempos/espaços educativos própria do ensino, totalmente, presencial. Saber administrar níveis diferenciados de presenças é algo novo em nossa cultura educacional. Romper com a lógica linearizada de tempo exige rever a forma de administrar o próprio tempo e, mais ainda, rever e negociar o tempo que é compartilhado nas instituições. Nesse curso a Distância, tivemos uma participação ativa em todo o processo 16 educativo: na sequência de leituras, nas pesquisas individuais e/ou em grupos, nas atividades avaliativas, entre outras. Percebemos o quanto é indispensável o contato regular e eficiente entre os participantes desse processo educativo, pois facilita uma interação satisfatória, proporciona segurança psicológica entre os alunos e a instituição do curso. Consideramos de extrema importância a motivação do aluno que se estabelece no decorrer do processo, consequentemente, é uma das condições indispensáveis para a aprendizagem autônoma. As tendências do mercado globalizado, em relação aos paradigmas educacionais emergentes, apontam para a necessidade de incentivar os processos de interação. Visualizamos, no decorrer do curso, o desenvolvimento dos nossos alunos ao realizar atividades cooperativas, que os instigaram a uma visão crítica e criativa, auxiliando-os na compreensão dos conteúdos por meio do diálogo com os colegas e nós - tutores. Através de diálogos, de confrontos, de discussão entre diferentes pontos de vista, das diversificações culturais e/ou regionais e do respeito entre formas próprias de se ver e de se postar frente aos conhecimentos, nós, tutores assumimos essa função estratégica relacionada ao incentivo. Privilegiamos, a todo o momento, o acompanhamento do processo de aprendizagem, muito enfatizado nos cursos de formação à distância. É um aspecto fundamental, mas que perde o valor na medida em que é abordado, isoladamente, pois, o sujeito se qualifica dialogando com um determinado contexto, com determinadas práticas profissionais, com determinada organização e uso dos tempos e espaço. Reiteramos que para desenvolver um processo de formação significativo, que ultrapasse a mera certificação, será necessário dialogar com os demais aspectos, inclusive para que realmente possamos intervir e auxiliar o aluno em suas dificuldades de aprendizagem e em seus dilemas profissionais. É imprescindível criar mecanismos para acompanhar individual e coletivamente os alunos, onde nós, tutores, ao respeitar a autonomia da aprendizagem de cada cursista, estaremos, constantemente orientando, dirigindo e supervisionando o processo de ensino aprendizagem em cursos de Educação a Distância. Nos diferentes momentos do curso, procuramos oferecer a tutoria como espaço de consulta, promovendo a colaboração entre os colegas da turma. A elaboração de propostas que não provoquem o isolamento do aluno, mas que valorizem a 17 solidariedade, a participação, a interação e a aprendizagem colaborativa é um dos desafios da Educação a Distância. A valorização dos aspectos apontados acima, interagindo com o cotidiano da prática pedagógica dos cursistas, contribuiu muito para a superação dos desafios no contexto do processo ensino aprendizagem. Em todas as modalidades de Educação a Distância, a linguagem é a principal ferramenta de que dispõem professores e estudantes para atingir a construção do conhecimento. A linguagem escrita é um dos meios mais importantes de comunicação entre docentes e alunos. Vivenciamos situações, no decorrer do curso, em que a linguagem escrita mostrou-se um obstáculo presente, tanto na produção de textos e devolutivas às questões propostas quanto no entendimento e compreensão das atividades, fóruns e comentários. Nossas intervenções junto aos alunos colaboraram significativamente, no sentido de oferecer a eles novas alternativas de produção de textos, enriquecendo assim seu vocabulário e argumentação escrita. Nossa prática docente é compartilhada, rotineiramente, com nossos alunos, nas reflexões propostas nas atividades, na resolução de situações problema, protagonizando juntamente com os mesmos a apropriação do conhecimento. Propiciamos, desse modo, enriquecimento das informações que favorecem a compreensão e o aprofundamento das discussões. Esta perspectiva baseia-se nas pesquisas da psicologia da aprendizagem que se fundamenta na construção do conhecimento. O tutor deve promover a realização de atividades e apoiar sua resolução, e não apenas mostrar a resposta correta. Planejamos junto com os alunos a melhor alternativa para aproveitar o tempo, que sempre se mostra escasso. Procuramos oferecer intervenções nos questionamentos dos alunos, cuidando para não dar uma resposta pontual ou permitir uma compreensão parcial da dúvida apresentada. Ao oferecer boas pistas para o aprofundamento do tema ou apontar uma contradição a um fato, oportunizamos processos de reconstrução de uma determinada situação. Selecionamos algumas vivências que nos apoiaram, positivamente, na condução da turma. Pontuamos assim: O feedbacK - a consistência e frequência com que as mensagens escritas foram encaminhadas aos alunos constituem-se em subsídios importantes para que 18 eles valorizem suas conquistas, reelaborem e se posicionem de maneira mais aprofundada na atividade em questão. A rapidez – as mensagens dos alunos, respondidas rapidamente, fez com que eles sentissem que estávamos presentes e atentos a eles. É importante que os demais vejam as respostas, mesmo que não seja para eles. Assim, podem se sentir encorajados a participar ou até mesmo a tirar as próprias dúvidas com as respostas dos outros. Percebemos que nossa resposta imediata e assertiva é um elemento fundamental nos modelos virtuais para que o aluno continue confiando e buscando a tutoria. A informalidade – contribuiu para minimizar a distância psicológica entre nós e o aluno. O bom humor, o tom pessoal nas mensagens, as sugestões de leituras e as recomendações de tarefas estreitaram muito nossa relação com a turma, sem importuná-los, mas fazendo com que se sentissem acolhidos por nós. A especificidade – as orientações encaminhadas aos alunos precisam ser detalhadas. Tivemos o cuidado de recomendar sobre algumas devolutivas incompletas que necessitavam de melhor argumentação ou mesmo alertá-los para o prazo de entrega das mesmas ou as datas do bate papos. A proatividade – em todos os momentos e, principalmente, no início do curso mobilizamos e motivamos os alunos com comentários positivos sobre os temas do curso. A positividade – encaminhamos, frequentemente, mensagens de elogio e valorização aos participantes. O foco – mantivemos nossos alunos informados sobre o ponto em que se está no curso e quais as atividades seguintes. A flexibilidade – demos ciência, constantemente, aos participantes sobre o calendário de postagem das atividades. Porém, mostramo-nos flexíveis, ajustando-o às necessidades dos alunos diante de situações inesperadas, sem que isso viesse a comprometer os módulos seguintes. Por se tratar de um curso on line, muitas leituras e tarefas puderam ser executadas em espaços físicos e momentos diferenciados, facilitando o cumprimento das atividades. A visibilidade - acreditamos que as mensagens veiculadas por nós seja um aspecto determinante para a percepção, quer individual, quer do grupo, da presença do tutor. O que consideramos fundamental para os estudantes é a demonstração, da parte do tutor, que este é ativo na análise/leitura das discussões em curso. 19 Refletindo sobre nosso trabalho de tutor nesse curso gostaríamos de registrar que o trabalho docente on-line é bastante diferente daquele realizado na sala de aula presencial. Nas atividades de ensino a distância, nós tutores, facilitadores ou orientadores, dedicamo-nos mais à orientação e ao atendimento das necessidades individuais dos alunos. Em especial, empenhamo-nos, continuamente para: - utilizar palavras estimulantes e positivas; - interagir com o grupo mantendo-se presente; - estimular os cursistas no desenvolvimento de novos esquemas mentais (habilidades e atitudes); - estimular o estudo de temas pertinentes ao curso; - dialogar e estimular o diálogo permanente entre os participantes, de forma contextualizada e significativa; - fazer uso das diversas ferramentas de comunicação para manter a motivação; - contribuir de forma mediadora ou facilitadora para que os alunos superem concepções prévias e construam concepções mais fundamentadas; - apresentar perguntas orientadoras; - estimular a construção e reconstrução do conhecimento dos alunos, incentivando-os a adotarem uma postura investigativa e crítica frente aos conhecimentos apresentados e os fenômenos observados ou vivenciados; - estimular a reflexão dos alunos sobre as possibilidades de aplicação consciente e eficiente dos conhecimentos adquiridos, apontando vínculos entre a teoria e a prática profissional; - respeitar os limites, bem como valorizar e estimular o desenvolvimento das potencialidades de cada aluno; - estimular a integração e colaboração entre os alunos. Inegavelmente, a Educação a Distância amplia os espaços de aprendizagem e diversifica as formas de interação comunicativa. Graças à flexibilidade de tempo e aos espaços permitidos pelos avanços tecnológicos, as instituições de Educação a Distância ampliam as oportunidades de estudo a uma grande parte da população. Formam-se ambientes interculturais, criando novos desafios aos processos comunicativos e ampliando as oportunidades de acesso ao conhecimento. Na Educação a Distância, são relevantes os processos de interação comunicativa que privilegiam o diálogo, o respeito e a afetividade. São momentos 20 em que alunos e nós, tutores recuperamos um aspecto muito importante da aprendizagem que contraria o excesso de racionalismo e objetividade presentes em algumas práticas educativas: a importância das relações interpessoais que dinamizam e vitalizam os espaços comunicativos. Concluindo nosso relato, gostaríamos ainda de registrar que o encorajamento aos que aprendem a distância, muitas vezes, inseguros e frágeis diante das dificuldades encontradas e, também, da pequena familiaridade com os ambientes virtuais de aprendizagem foram preocupações rotineiras do nosso trabalho que minimizaram um dos maiores riscos dos cursos ministrados a distância: o da evasão dos alunos, fator preocupante nos projetos extremamente ricos e interessantes em EaD. Ainda nesse relato conclusivo, para destacar uma competência, dentre tantas aqui apresentadas, optamos pela ousadia. Foi ela que nos permitiu superar os obstáculos e dificuldades, para construir, em nosso cotidiano da EAD o “fazer pedagógico” de que falamos nesse relato numa parceria contínua com nossos alunos – compartilhando saberes. 21 Relato de Experiência Cleomara de Fátima Ferreira3 Nós professores, hoje, precisamos repensar e rever metodologias, bem como enfrentar nossa própria história. Buscar a compreensão dos porquês e conviver com as angústias de reconhecer aquilo que ainda não sabemos. Aceitar erros como construtivos. Aceitar o “novo” sem preconceito e não abandonar os acertos já conquistados. Vivemos na sociedade da informação, do conhecimento, esta nos exige rapidez nas atividades intelectuais, prescindindo da atividade motora, em que as consequências se apresentarão com o passar do tempo. Mas, e na educação? A escola ainda continua pensando de forma tradicionalista, onde sua preocupação é apenas com a leitura e com a escrita, muitas vezes desconhece como resolver as dificuldades apresentadas por alguns alunos. Pensando em tudo que vivenciei no curso, desenvolvi entre as atividades, uma em especial que relatarei abaixo, que se constitui em um trabalho com literatura com a turma de 1° ano do Ensino Fundamental, 1ª fase da Escola Municipal Papa Paulo VI Araucária–PR. Primeiramente, gosto muito de trabalhar com literatura, pois acredito no potencial imaginário que cada aluno tem e trabalho para desenvolver estes potenciais. Me encanto com a literatura de Ana Maria Machado, pois meus alunos adoram ouvir e brincar com suas histórias alegres que estimulam suas fantasias. A turma conta com 14 alunos, sendo um aluno de inclusão (deficiência intelectual), muitos deles com seis anos de idade ou a completar no corrente ano, são bastante criativos e críticos, encaram desafios com bastante estímulo, são ingênuos e encantadores. A atividade desenvolvida com a turma foi através da literatura abaixo descrita. Livro: O Pavão do abre e fecha Autora: Ana Maria Machado ______________________________ 3Professora de Ensino Fundamental - Araucária/PR 22 Ilustrações: Marilda Castanha Editora: Melhoramentos Objetivos da atividade Trabalhar com as diferenças, com o ser feio ou ser bonito; Desenvolver a consciência corporal e social; Familiarizar-se com a imagem do corpo, trabalhar imitações, gestos e expressões; Construir a identidade. Desenvolvimento da atividade Primeiramente sentei com a turma no chão e contei a história “O Pavão do abre e fecha”. Logo após realizou-se alguns comentários das partes mais intrigantes da história, como quando o pavão se pavoneava na beira do lago, se olhava na água e perguntava a si mesmo: - Sou feio? Sou bonito? Cada aluno comentou suas impressões da história lida pela professora, com estas foi realizado um trabalho de consciência corporal de diferenças. Na parte seguinte foi proposto para os alunos atividade de frente ao espelho para observação de sua própria imagem e da imagem do outro. Durante esta atividade os alunos, através de cartazes com diversas fisionomias, brincaram de fazer expressões faciais e atividades como balançar os cabelos, cruzar os braços, ficar de joelhos, entre outras em frente ao espelho. Para trabalhar com diversidades pedi para que elas de frente observassem seu coleguinha e depois responderam algumas perguntas, tais como: O seu cabelo é da mesma cor que o do seu coleguinha? Onde está a sua sobrancelha? Quem é mais alto? Quem tem o pé maior? Quem tem a mão maior? Etc. Percebido o corpo de cada aluno e explorando todas as possibilidades de imagens solicitei aos mesmos que fizessem um autorretrato, o qual ficou exposto na sala de aula. Construímos também, um pavão com os desenhos das mãos dos alunos e verificou-se também a questão do ser diferente: cada mão é de um tamanho e cada ser humano é único. 23 Cada atividade que planejo para os meus alunos, seja ele com alguma deficiência ou não, procuro analisar se realmente esta atividade vai ajudá-los a construir melhores significados, se com a atividade irão ampliar seus conhecimentos. Com o curso aprendi que o professor deve acolher o aluno com deficiência em sua sala não por pena, mas por ter consciência que naquilo que aprendemos e vivenciamos é fundamental o contato com as outras crianças, pois o conhecimento se constrói mediante essa troca. Diante disso, é essencial que as crianças com necessidades educacionais especiais não fiquem em um mundo à parte, pois é preciso que lutemos para que ela faça parte de nossas escolas e que o professor busque o aperfeiçoamento, visto que o trabalho com alunos inclusos é uma realidade e não podemos ignorar, temos sim que buscar orientação, seja em cursos como este que ajudou muito na minha prática ou em qualquer outro. O professor precisa abandonar antigos preconceitos e buscar um trabalho que vise à criatividade, o individual (cada aluno é único) e heterogeneidade e mostrar assim para aquelas famílias que não acreditam no sucesso de seu filho, que ele é capaz e que escola e família devem lutar juntas para que a criança tenha sucesso e seja respeitada em todos os seus direitos. 24 Relato de Experiência Elcen Nocera Simão O curso “Práticas em Educação Especial e Inclusiva na área da Deficiência Mental” proporcionou uma formação necessária, porém ainda não havia se tornado realidade. Ressalto que não foi por falta de participar de formações relacionadas à área de Deficiência Intelectual, afinal a Inclusão é um processo cada vez mais inerente à Educação e toda vez que havia um curso relacionado ao tema, sempre quis participar. A formação na qual mencionei no início deste relato refere-se à abordagem prática que, tanto os organizadores quanto a tutora, ofereceu durante e, principalmente, após o curso. Na época eu estava em sala de aula. Lecionava em duas escolas do Ensino Fundamental I (estadual e a outra municipal). Em ambas havia alunos com deficiência intelectual e a coordenadora da escola estadual, Elaine Maria Nocera Kaizer (na qual devo agradecer imensamente) ofereceu o curso. Foi uma oportunidade da qual sou muito grata, pois estava com muita dificuldade para atender um aluno de seis anos, que além da deficiência intelectual, apresentava grandes problemas comportamentais. Já no início do curso as expectativas foram aumentando, pois além da formação oferecer subsídios voltados para a prática em sala de aula, nossa tutora Márcia Massa ofereceu todo o suporte aos meus receios, dúvidas e angústias. E lá estava a oportunidade que até então os demais cursos que eu havia participado ainda não tinham proporcionado; eu estava amparada de todas as formas e tenho a certeza que consegui atender melhor meus alunos com deficiência intelectual, principalmente o aluno do qual citei, pois ele apresentou melhora tanto em sua aprendizagem como em seu comportamento. O curso de aperfeiçoamento foi à distância, mas o suporte que ele ofereceu foi ainda melhor do que os cursos presenciais dos quais tinha participado até então. Durante o curso realizamos atividades práticas e compartilhamos nossas ideias nos fóruns, dos quais foram extremamente enriquecedores para a troca de opiniões e vivências. O material do curso e a assessoria da professora Márcia Massa me auxiliam e me amparam até hoje, pois mantivemos contato e mesmo após a finalização do 25 curso foram surgindo dúvidas e a professora continuou prontamente me auxiliando. Felizmente após estar terminando o curso fui convidada para ser Coordenadora Pedagógica, deste modo o que pude aplicar em sala de aula foi possível compartilhar com minhas colegas de trabalho. Seis meses depois fui convidada para ser Chefe de Supervisão Escolar e pude ampliar ainda mais este leque de informações, já que foi possível compartilhar este conhecimento com mais 19 escolas de ensino infantil e fundamental, através de reuniões realizadas com as coordenadoras pedagógicas das escolas, onde elas foram e estão sendo um fio condutor deste contexto. Não posso deixar de colocar que esta formação em “Práticas em Educação Especial e Inclusiva na área da Deficiência Mental” me deixou com gosto o de “quero mais”, não por falta de algum subsidio do curso, e sim pelo conhecimento que o tema despertou em mim. Deste modo finalizo o presente relato me colocando à disposição, agradecendo e expondo o quão este curso foi importante para a minha formação e para a minha prática, onde acredito que estou preparada para o tema em questão. 26 Relato de Experiência Juliana Carla Tremontini de Carvalho4 Inicio esse relato com um texto que trilha minha vida profissional e existencial: “Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam. E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é ___________________________________ 4Professora de Ensino Fundamental - Arealva/SP 27 curto. Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida” William Shakespeare A inclusão é tudo isso, é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos à educação - e assim diz a Constituição. 28 Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As grandes inovações estão, muitas vezes na concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e aceito sem outras resistências, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades. O objetivo da inclusão é torná-la uma inovação compreensível, aos que se interessam pela educação como um direito de todos e que precisa ser respeitada. Pretende-se, também demonstrar a viabilidade da inclusão pela transformação geral das escolas, visando a atender aos princípios deste novo paradigma educacional. Devemos focalizar nossas experiências no cenário educacional brasileiro sob três ângulos: o dos desafios provocados por essa inovação; ações no sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de formação de professores e, finalmente o das perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de sua implementação. Trata-se de uma educação para todos e que só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exigem da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. Uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico. O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem aptas para responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias da Educação Especial e suas modalidades de exclusão. O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as crianças com deficiência são excluídas, mas 29 também as que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar. Toda criança precisa da escola para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas águas os alunos pode afundar. Mas há sistemas organizacionais de ensino que tornam esse percurso muito difícil de ser vencida, uma verdadeira competição entre a correnteza do rio e a força dos que querem se manter no seu curso principal. Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um desafio que precisa ser assumido por todos os educadores. Um compromisso inadiável das escolas, pois a educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar. Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não estão associados a mudanças de base nas escolas e que continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas especiais, os serviços de itinerância). As escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares se justificam, na maioria das vezes, pelo despreparo dos seus professores para esse fim. Existem também as que não acreditam nos benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais. Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação, novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio. Muda então a escola ou mudam os alunos, para se ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especializado em todas as crianças ou ensino especial para deficientes? Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções, atendendo 30 às peculiaridades de todos os alunos, ou professores especializados para ensinar aos que não aprendem e aos que não sabem ensinar? É preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino nelas ministrado. A escola aberta para todos é a grande meta e, ao mesmo tempo, o grande problema da educação. Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige trabalho em muitas frentes. Devemos destacar as que consideramos primordiais, para que se possa transformar a escola, em direção de um ensino de qualidade e, em consequência, inclusivo. Temos de agir urgentemente: Colocar a aprendizagem como o eixo das escolas, porque escola foi feita para fazer com que todos os alunos aprendam; Garantir tempo para que todos possam aprender e reprovando a repetência; Abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas, por professores, administradores, funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania; Estimular, formando continuamente e valorizando o professor que é o responsável pela tarefa fundamental da escola - a aprendizagem dos alunos; Elaborar planos de cargos e aumentando salários, realizando concursos públicos de ingresso, acesso e remoção de professores. Acredito que para melhorar as condições pelas quais o ensino é ministrado nas escolas, é preciso universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a educação, felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de ensino, verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão. A inclusão não implica em que se desenvolva um ensino individualizado para os alunos que apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendizagem e outros, relacionados ao desempenho escolar. Porque é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de construção intelectual. A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiência. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor considera o nível de possibilidades de desenvolvimento de cada um e explora essas 31 possibilidades, por meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se enquadra por si mesmo, na medida de seus interesses e necessidades, seja para construir uma ideia, ou resolver um problema, realizar uma tarefa. Eis aí um grande desafio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais, cujo paradigma é conteudista, e baseado na transmissão dos conhecimentos. Sabemos que, alguns professores tendem a ser resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. A tendência é se refugiarem no impossível, considerando que a proposta de uma educação para todos é válida, porém utópica, impossível de ser concretizada com muitos alunos e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino. A maioria dos professores tem uma visão funcional do ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de trabalho prático, que aprenderam a aplicar em suas salas de aula, é rejeitado. Também reconhecemos que as inovações educacionais abalam a identidade profissional, e o lugar conquistado pelos professores em uma dada estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a experiência, os conhecimentos e o esforço que fizeram para adquiri-los. Os professores, como qualquer ser humano, tendem a adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é habitual, no caso dos cursos de formação inicial e na educação continuada, é a separação entre teoria e prática. Finalizo minhas palavras com uma reflexão cabível: “Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser. Porque você possui apenas uma vida. E nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazêla feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.” Clarice Lispector 32 Relato de Experiência Luciane Maria Molina Barbosa Desde muito cedo a educação esteve presente em minha vida como instrumento de transformação de realidades e busca de novas oportunidades. Nasci com baixa visão, o que me levou a construir um repertório próprio de imagens, através das sensações e percepções que fui abstraindo do mundo. É certo que minha família sempre esteve presente e acompanhou, com total dedicação, meu desenvolvimento. Minhas experiências educacionais tiveram início numa escola regular e apesar de qualquer receio, a inclusão aconteceu de uma forma muito natural. Minha cegueira nunca foi usada como justificativa para os possíveis fracassos ou dificuldades decorrentes de um mundo cujas imagens são predominantes para o acesso ao conhecimento. Na ocasião, a educação inclusiva não era construída através da mera fundamentação teórica e, graças a isso, esse tenha sido o grande segredo para que eu recebesse todos os incentivos familiares e pedagógicos. Aprendemos juntos a construir uma educação que respeitasse o outro, dentro da diversidade, por meio das experiências, de erros e acertos e de uma relação saudável entre colegas, professores e equipe docente, firmadas muito naturalmente. Fica evidente que minha família nunca me negou à educação, mesmo com todos os empecilhos impostos pela sociedade. No início da década de 90, poucos eram os recursos tecnológicos disponíveis e, menor ainda era o conhecimento sobre educação inclusiva, que começava a ganhar, timidamente, um espaço no cenário educacional. Durante o ensino fundamental eu ainda conseguia ler impressos ampliados e com ajuda de potentes lentes, lupas, contraste de cores e fonte ampliada fui alfabetizada igualmente aos meus colegas. Sem o conhecimento do que significava “acessibilidade”, aqueles professores iam criando um estilo próprio e muito especial de fazer inclusão, quando ditavam as matérias escritas no quadro negro ou quando escreviam com uma letra maior no meu caderno. Acredito que esse foi o maior legado deixado por uma dezena de professores e que foi a grande inspiração para que eu seguisse o caminho do magistério. No final do ensino fundamental, quando as fontes ampliadas já não mais cumpriam seu papel diante dos meus olhos embaçados, porque a visão 33 regredia diariamente, busquei o aprendizado do Braille. Jamais conseguirei descrever em palavras a sensação dessa libertação intelectual vivida aos 13 anos de idade. Só então consegui ler um livro inteirinho através do meu próprio esforço, sem os olhos e vozes emprestadas de alguém. Apesar de residir há poucos quilômetros da capital, São Paulo, o conhecimento especializado em Educação Especial na área da deficiência em minha região era defasado e inexistente ainda no final da década de 90. Encontrar uma professora que dominasse o Braille não foi tarefa fácil. Entretanto aprendi a escrever pontinhos e ler com o tato em apenas quatro meses, com auxílio dessa única profissional especialista em deficiência visual. Ela mal conseguia atender uma demanda crescente vinda do setor público e, então, precisei ter aulas particulares para absorver esse novo aprendizado, que me transformaria para sempre numa nova estudante, numa profissional incansável. Com o início de uma relação visceral e dedicada aos estudos, a vida escolar e profissional foi se alargando e após concluir o nível básico, passei para a universidade onde cursei Pedagogia. A partir daí a "educação" começa a ter um significado ainda maior, oferecer um ensino de qualidade para aquelas pessoas que, talvez, não tiveram as mesmas oportunidades que eu, evidenciadas pela escassez de profissionais habilitados para o ensino do Braille. Embora dentro de um espaço formal de ensino, cujo objetivo seria o da formação inicial de professores, foi talvez essa a etapa mais difícil, onde as ações inclusivas se fizeram pouco presente, na falta de material, na ausência de adaptações, na inexistência de bibliografia acessível. Cresci como pessoa e fui me reinventando, construindo minha identidade profissional em meio aos fragmentos que se juntavam. Durante a graduação, frequentei inúmeros outros cursos de atualização profissional com temática sobre Educação Especial e Inclusiva e sobre pessoas com deficiência. Quanto mais estudava, maior era a certeza de que a educação consistia num instrumento de transformação de realidades. Aprovada por um concurso público passei a atuar dentro de uma instituição especializada. Por mais de oito anos fui responsável pela alfabetização Braille e pela reabilitação de mais de três dezenas de crianças, jovens e adultos cegos ou com baixa visão. Durante esse período, fui criando uma metodologia própria, praticando todas as técnicas aprendidas, aliadas às minhas experiências enquanto pessoa com deficiência visual no ensino do Braille. Ajudei a construir muitas histórias de 34 protagonismo da pessoa cega, na recolocação profissional delas, no regresso ao ensino regular do qual haviam abandonado, na reabilitação para o convívio em sociedade. Acima de tudo, percebia claramente a dignidade e cidadania conquistadas por meio daquele trabalho, mas que estavam ameaçadas pela falta de perspectiva institucional. De nada adiantava continuar com um trabalho que ficaria preso em quatro paredes se o mundo lá fora não pudesse absorver tal riqueza. A educação inclusiva precisava, então, ser construída dentro das escolas regulares, em meio aos anseios e questionamentos dos professores de classes comuns, já que pessoas cegas ou com baixa visão era um público crescente nesse universo educativo. A partir do momento que esses alunos com deficiência cruzavam o portão das instituições para ganhar o mundo, estavam reféns dessa mesma institucionalização, pois as escolas regulares julgavam não ter o conhecimento específico para atendê-los. Sequencialmente tornei-me uma representante da educação inclusiva no atendimento às pessoas com deficiência visual de nível nacional e descobri que não bastava apenas ensinar Braille para quem não enxerga, privando-os do convívio com as demais pessoas. Constatei a urgência em implantar ações que estivessem ligadas ao uso e difusão do código Braille entre professores de todo o país e investir na formação profissional presencial ou à distância como forma de afirmação que a educação inclusiva é existente e precisa ser impregnada em todos os detentores da prática docente. Conheci inúmeras realidades como agente multiplicadora do conhecimento nessa modalidade de ensino. Tendo ainda como base a metodologia criada e minhas experiências enquanto pessoa cega, usuária de Braille, passei a oferecer formação para professores, ministrar palestras, participar de congressos, oferecer consultoria em diferentes municípios e publicar artigos em diferentes mídias impressas. O objetivo é que tal conhecimento alcance o máximo de pessoas possíveis, pois educação inclusiva passa, obrigatoriamente, pela apropriação da pessoa com deficiência e pela informação prestada à sociedade. Nessa tentativa incansável pela divulgação de práticas inclusivas, também fui me atualizando profissionalmente, buscando o conhecimento científico, o estudo e a pesquisa como formas de encontrar respostas mais consistentes aos problemas educacionais enfrentados pelos alunos com deficiência. 35 Neste sentido, o Curso Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual, promovido pela UNESP - Campus Bauru, em parceria com a Rede de Formação Continuada de Professores na Educação Especial MEC/SECADI - Turma 40, surge como mais um desafio para redimensionar minhas práticas docentes, incorporando metodologias mais adequadas e eficientes no processo de construção colaborativa do saber, atingindo um público carente desse conhecimento tão necessário para efetivar a educação inclusiva pelo país. Quando decidi efetivar minha inscrição no curso pretendia, além da atualização profissional, vislumbrar novas perspectivas para a prática docente. Poucas vezes havia me deparado com alunos com deficiência intelectual, embora muitas das dificuldades apresentadas por crianças cegas, sem estimulação precoce adequada, ainda sejam vistas como problemas de ordem intelectual por profissionais despreparados. Minha expectativa era, então, conhecer um pouco mais sobre essa realidade para poder intervir junto aos alunos com deficiência múltipla, ou seja, deficiência intelectual associada à deficiência visual. Pela primeira vez estava prestes a frequentar mais um curso na modalidade à distância, com temática diferente de tudo que eu havia experimentado até então. Uma novidade que me traria enorme satisfação. Acostumada com essa modalidade de ensino Online, aprendi que o importante é criar uma rotina de estudos, aproveitar o compartilhamento de informações e contribuir para a troca de experiência. Cumprir com as tarefas, então, dependia tanto do individual quanto do coletivo, pois o processo educativo é dinâmico e requer a relação entre as pessoas e com o conhecimento. Recebi com alegria a confirmação da inscrição e ali não só iniciaria mais um curso, e sim uma nova maneira de encarar o estudo sobre a deficiência intelectual. Fomos muito bem recebidas e saudadas pela tutora da Turma 40, que nos acolheu com os melhores desejos de um rico aprendizado. Apenas nesse momento, em resposta ao primeiro e-mail recebido, informei sobre minha deficiência visual. A tecnologia nos faz mais iguais na multidão, quando não rotula o outro medindo seus limites com base numa deficiência aparente ou não. A tutora não se mostrou receosa pelo que viria pela frente. Encarou a informação como se a diversidade não lhe provocasse questionamento. Pela primeira vez, após ter concluído o ensino fundamental, senti que estava novamente diante de um cenário tão inclusivo quanto ao de vinte anos atrás. Nem mesmo durante a 36 especialização em atendimento Educacional especializado senti-me tão confortável. Aquele era mesmo o cenário inclusivo perfeito para que um curso nessa temática fosse desenvolvido. Ambientar-me com a plataforma TelEduc não foi difícil. A tecnologia e a informática estão presentes de maneira constante nas minhas tarefas. Embora já tivesse frequentado outros cursos dentro dessa plataforma, dessa vez também foram diferentes. Durante a navegação percebi que os pontos inacessíveis em cursos anteriores, agora estavam ajustados ao leitor de tela utilizado por mim. O software leitor de tela cumpre o papel de ler toda e qualquer informação presente no formato texto, visualmente presente na tela do computador. As agendas e a criação de pastas, por exemplo, se tornaram acessíveis e o bate papo sofreu alterações que facilitou a navegação. Li os perfis e conheci mais sobre a minha tutora, meus colegas de curso e meus formadores. Percebi que estávamos diante de uma turma diversa, em busca do mesmo ideal e que ali, construiríamos uma relação bastante sólida, envolvida por muito aprendizado e troca de experiências. Assim que o período de ambientação terminou, começamos arregaçar as mangas para o trabalho. A bibliografia foi bastante densa e consistente, trazendo uma pertinência grande com o tema. Trabalhamos legislações, conhecimento técnico, metodológico, tecnologia assistiva, adequações curriculares e as ferramentas para tornar a inclusão do aluno com deficiência intelectual mais possível. Percebi que, embora se tratasse da deficiência intelectual, muitas informações serviriam para a prática de outras deficiências, o que deixou o conteúdo muito mais abrangente do que imaginaria que fosse. Sempre encorajados pela tutora e pelos formadores, nós alunos, procurávamos absorver o máximo de conhecimento. Os espaços como fóruns e bate papo serviram para fortalecer ainda mais os estudos, com o debate e as participações em grupo. A cada semana, a dinâmica do curso se fazia mais uniforme. O Curso teve carga horária de 180 horas e foi organizado em cinco módulos com atividades On-line e atividades práticas a serem desenvolvidas ao longo de cinco meses. Muito mais do que apenas apropriação de conteúdos, o curso nos levou a “apaixonar-se pelas experiências e ideias, explorando a criatividade e incentivando a participação”. No primeiro módulo aprendemos sobre educação a distância (EAD). O Decreto nº 5.622/05 caracteriza a Educação a Distância como “modalidade educacional na 37 qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”. A Educação à Distância também é reconhecida como modalidade educacional pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/96), tendo reflexo positivo no crescimento da oferta de cursos nessa modalidade aqui no Brasil. Conhecemos as ferramentas do TelEduc e interagimos com cada uma delas. Iniciamos o preenchimento do nosso perfil, com nossos dados, endereço eletrônico para contato e fotografia. Lembrando que a imagem permitia descrição num campo destinado à legenda, para que pessoas cegas conhecessem seus colegas de curso através da descrição textual de suas características físicas. Em seguida fomos apresentados ao espaço onde são arquivadas as agendas, desde a primeira até a última, conforme iam sendo disponibilizadas. No ambiente de correio, pudemos interagir com os colegas, tirar dúvidas com a tutora e contatar os formadores. Foi no Correio que recebi da tutora todo o material bibliográfico utilizado no curso convertido em formato texto, pois meu leitor de telas teve alguma dificuldade com formatos PDF, de imagem. Essa flexibilidade fez parte das ações praticadas pela UNESP juntamente com a equipe que coordenou esse trabalho de formação. Através do espaço do Portfólio publicamos os nossos trabalhos de cada módulo, alguns compartilhados apenas com formadores, outros compartilhados com todos os demais cursistas, que poderiam ver os demais portfólios para comentá-los. Foi através da ferramenta fóruns de discussão que acessamos cada tópico aberto para debate, interagindo com nossos colegas com opiniões, relatos ou questionamentos. O bate papo também possibilitava essa interação, só que de forma simultânea, no qual todos deveriam estar conectados em horário e datas agendadas pela tutora. Além disso, também utilizávamos outras ferramentas, como Estrutura do Ambiente, que continha informações sobre o TelEduc, Dinâmica do curso, com a metodologia e a organização geral dos módulos, Atividades, um espaço para detalhar as tarefas a serem realizadas, Material de apoio, com os materiais de leitura, Leituras, com material bibliográfico complementar e a Parada Obrigatória, com atualização da planilha de acompanhamento da turma. Fomos orientados sobre a organização do tempo para os estudos, a fim de tirar o máximo proveito do curso e criar um ambiente amigável, com trocas de 38 conhecimento que promovessem a aproximação, que favorecessem a construção de conhecimentos e a formação de qualidade. E o contato foi estabelecido mesmo de maneira virtual. Foi nesse clima que demos início aos estudos do segundo módulo, dividido em quatro capítulos. Durante este segundo módulo, fomos apresentados a temas que envolviam a aprendizagem e o desenvolvimento humano, retomando conceitos de pensadores como Emília Ferreiro e Jean Piaget. Por meio dos conceitos e das definições sobre deficiência intelectual, entramos em contato com essa realidade e analisamos quais eram as contribuições da psicologia histórico-cultural nas intervenções com esse público alvo, como por exemplo, a aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, o estímulo ao desenvolvimento e a função da Zona de desenvolvimento proximal para um bom ensino, adquiridos por intermédio do desenvolvimento dos conceitos científicos ou espontâneos. Na sequência, fomos instigados a pensar sobre o processo de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual, no ensino que esteja pautado no processo educacional e não nas condições biológicas desses alunos. Nesse módulo realizamos algumas atividades, teórica e prática, e uma participação no fórum. Também participamos do bate-papo agendado. Talvez tenha sido esse o momento mais complexo enfrentado por mim, já que uma das atividades consistia na análise das etapas de desenvolvimento da escrita, tendo como base imagens meramente ilustrativas com atividades de sondagem em escrita. Percebi nesse momento que eu teria dificuldade. Solicitei uma adequação curricular e sugeri que essa análise fosse feita por mim tendo como base a escrita em Braille e um teste aplicado com alunos com deficiência múltipla, visual e intelectual. Fui atendida prontamente e minha atividade pontuada como sendo válida para a avaliação. Partimos para o terceiro módulo do curso, cujo tema foi a Escola Inclusiva e o Projeto Político Pedagógico. Esse estudo envolveu além dos requisitos para a elaboração de um PPP pautado na inclusão, as habilidades sociais no contexto inclusivo e a função do professor como mediador das práticas pedagógicas. Retomamos o contexto histórico da Pessoa com deficiência, da exclusão a inclusão. A reestruturação administrativa da escola também foi pensada como forma de transformação de uma realidade cuja presença de alunos com deficiência apenas não basta. É preciso que tanto professores quanto diretores mostrem confiança e atitude positiva frente ao princípio do atendimento educacional sistematizado, planejado e registrado em relação à diversidade presente nessa escola inclusiva. A 39 escola inclusiva deve ter como pressuposto que todos os alunos podem aprender, evidentemente, respeitando o ritmo e as particularidades de cada um. Então, precisa propiciar condições para que o processo de ensino-aprendizagem se efetive, criando infraestrutura adequada ao desenvolvimento de todos. Nesse módulo tive contato com um conceito novo e que fez muita diferença na minha prática docente, daí em diante. Trata-se das Habilidades sociais (HS), que são um conjunto de comportamentos aprendidos que envolvem interações sociais entre os educandos. Também estão relacionadas a habilidades de comunicação, de resolução de problemas, de interação social e de defesa de direitos. Incorporam componentes verbais e não verbais, como gestos, olhar, contato visual, postura corporal, entre outros. O professor precisa desenvolver suas habilidades sociais educativas a fim da promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em situação formal ou informal, como por exemplo: expressividade e enfrentamento, estabelecimento de limites e comunicação. Aprendi que como professores podemos mediar positivamente uma situação de aprendizagem por meio das habilidades praticadas nesse relacionamento com os alunos. Fiquei mais atenta a essas habilidades a partir de então e percebi uma mudança significativa na minha relação com os alunos e na relação deles com o conhecimento. Foi no quarto capítulo que estudamos sobre a colaboração entre professor da classe comum e do atendimento educacional especializado. Tenho percebido que sem essa articulação o trabalho do AEE torna-se vazio. Também tomamos contato com a identificação de necessidades e habilidades dos alunos com deficiência. A avaliação educacional funciona como a base para o planejamento dos procedimentos de ensino com foco no aluno com deficiência, visando a perspectiva de alavancar o progresso desse educando, ao contrário da mentalidade quantitativa e excludente devido ao insucesso da aprendizagem. Nesta proposta, a avaliação não pode ser vista como um procedimento para decidir pela aprovação ou reprovação do aluno, mas sim um procedimento pedagógico pelo qual se verifica continuamente o progresso da aprendizagem e se decide, se necessário, sobre os meios que serão utilizados para implementar a aquisição das habilidades alvo de ensino. E por isso ela é vista como um instrumento de motivação, com função de facilitar o diagnóstico, melhorar o ensino e estabelecer situações individuais de aprendizagem. Integram-se a esse conceito as adequações curriculares, pois em 40 cada atividade planejada para o dia é preciso questionar sobre quais modificações serão necessárias e como ocorrerão. Aprendemos também sobre aprendizagem colaborativa, cujo apoio e companheirismo caminham juntos no ambiente escolar inclusivo. A colaboração é uma estratégia bastante pertinente para integrar o trabalho do ensino regular e do AEE, já que ambos os profissionais compartilham a responsabilidade de planejar e programar uma prática voltada para a educação inclusiva e sistemática. Essa colaboração não apenas interfere no aprendizado e desenvolvimento do aluno com deficiência, mas é necessária para que ofereça a oportunidade para ampliar o conhecimento especializado do professor do ensino comum. Os professores do Ensino Comum trazem especialização em conteúdo, ao passo que os de Educação Especial são mais especialistas em avaliação, instruções e estratégias de ensino. Nesse módulo, assim como também ocorreu em outros anteriores, a bibliografia escrita foi complementada com vídeos bastante pertinentes com o assunto e que fez toda diferença para a compreensão dos conceitos estudados. As tarefas foram teóricas e interativas, além dos fóruns e bate papo. No quinto e último módulo observamos as estratégias metodológicas e recursos de acessibilidade ao currículo na classe comum. Foram temas presentes nesse estudo a educação sexual voltada a pessoas com deficiência intelectual e o papel do professor para esclarecerem as dúvidas de seus alunos. Também foi dado um espaço grande para a abordagem sobre a criatividade e a importância dessa característica no trabalho com a diversidade. A proposta da utilização de jogos e brincadeiras na escola enriquece o cotidiano em sala de aula e desafia o professor a pensar em outras possibilidades de intervenção. Esse capítulo foi um dos mais divertidos, pois permitiu que cada um de nós colocássemos para fora a criatividade ainda desconhecida, recriando novos rumos para as ações e práticas educativas. É como se estivéssemos diante de novas perspectivas de trabalho, com as quais conseguimos interagir de maneira mais leve e dinâmica. O curso chegou à sua última semana e deixou gostinho de “quero mais”. Fomos nos transformando ao longo de cinco meses e reconstruindo nossa prática muito mais embasada e sistemática, coerente com as diversas realidades que tomávamos como únicas e, ao mesmo tempo como sendo responsabilidade de todos nós. Conheci uma nova realidade e pude somar esse aprendizado a todos aqueles já construídos durante a minha trajetória. Fui aluna, fui colega e hoje sou 41 instrumento dessa renovação pedagógica, multiplicando tudo aquilo que aprendi em ensinamentos e propostas melhores direcionadas a esse público. Os estudos sobre a deficiência intelectual não descaracterizaram o meu trabalho com a deficiência visual. Pelo contrário, agregaram um novo rumo metodológico, um aprofundamento teórico que compreendi na prática, embora nem todos ali tivessem alunos com a deficiência estudada, assim como eu também não tinha. Muito além das limitações intelectuais, estudamos o aluno, independente de qualquer aspecto que pudesse caracterizá-lo como “especial”. Estudamos o aluno dentro da diversidade. Estudamos o desenvolvimento infantil, as habilidades cognitivas e psicológicas, as relações sociais. Aprendemos a enxergar uma metodologia que contemplasse a todos, uma avaliação diagnóstica para nortear um planejamento e uma adequação curricular. Compreendemos que devemos ser flexíveis, criativos e colaborativos e que as habilidades sociais são a chave para uma educação democrática. Passamos a conceber o Projeto Político Pedagógico como instrumento de transformação, construído por várias mãos e que o fator administrativo não acontece isoladamente ao pedagógico. Família e escola devem ser parceiros na tomada de decisões e que o professor é apenas o facilitador do processo de ensino e aprendizagem. Foram tantos os temas estudados que se torna impossível sair deste curso como entramos. Nós também nos transformamos para poder transformar as realidades por onde pisamos. Aqueles professores que me acompanharam durante toda minha formação foram os grandes responsáveis pelas escolhas que fiz e pelas práticas que reproduzo, assim como neste curso, encontrei profissionais tão sensíveis ao mundo de diversidades que revivi, em cinco meses, todos aqueles doze anos de educação básica pautada no respeito e no reconhecimento da individualidade. Hoje somos privilegiados por esse conhecimento sistematizado alcançar os quatro cantos desse país e levar pra dentro das escolas cidadania e dignidade para as pessoas com deficiência. Ao estarmos habilitados em atuar com alunos com deficiência intelectual, estaremos ampliando ainda mais as possibilidades de ação educativa, que no meu caso visa atender não somente às exigências legais por uma educação inclusiva, mas, sobretudo, às necessidades do público alvo da Educação Especial. O redimensionamento profissional buscado nesse curso veio cumprir um papel ainda mais significativo e desafiador, pois ampliando as minhas possibilidades, reafirmo o 42 compromisso ainda mais forte em fazer da educação um instrumento de transformação de realidades, assim como na célebre frase de Albert Einstein: "A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.". 43 Relato de Experiência Marina de Souza Jacob5 A Deficiência Intelectual é um grande desafio para a escola regular e inclusiva pela complexidade de seu conceito, formas de expressão e variedade de abordagens pedagógicas com que o profissional deve saber lidar a fim de alcançar resultados. O deficiente intelectual é aquele cujo funcionamento intelectual atinge níveis de aprendizado bem inferiores à média, sendo possível diagnosticá-lo até antes dos 12 anos, atingindo algumas habilidades como: comunicação, locomoção, cuidados pessoais, etc. Para atender estes educandos, os professores precisam ser capacitados e ter a certeza de que aprenderão, mas em seu ritmo, à sua maneira, o que exige um olhar e uma ação diferenciados, com novos procedimentos de ensino a serem oferecidos. “A deficiência mental não se esgota na sua condição orgânica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um único saber. Ela é uma interrogação e objeto de investigação de inúmeras áreas do conhecimento” (MANTOAN; BATISTA, 2007, p.15). Complementando o pensamento da estudiosa acima, podemos nos remeter à Vigotsky (1991) o fundador de uma importante concepção para a educação: o aprender se faz no coletivo, com as trocas sociais, com diálogos e interação. Assim, a figura do outro se torna uma ponte que direciona e auxilia na apreensão de saberes. O professor, portanto, tem o papel de mediador, facilitador para que seu aluno com mais dificuldade consiga avanços cognitivos. O importante é pensar e concretizar diferentes estratégias de abordagem de conteúdo/ aprendizado, fato que contribui para a turma toda, bem como para o deficiente intelectual, quem apresenta grande dificuldade para construir o próprio conhecimento. O deficiente intelectual possui prejuízo cognitivo, das funções cognitivas superiores. Assim ficam comprometidas as funções de aprender e compreender de modo geral, afetando a linguagem, aquisição da informação, percepção, memória, etc. Desta maneira, ao longo dos anos a prática e o olhar do professor tendem a mudar, principalmente por que se deve buscar formação continuada a fim de __________________________ 5Professora de Português da rede municipal de Ipatinga. Mestranda em Educação Uemg 44 encontrar caminhos mais eficazes na promoção do saber destes alunos. Algumas dicas são imprescindíveis, como: reforçar a identidade do aluno, encorajar a participação e diálogo, verificar a área do saber ele aprecia (fala, escrita, desenho, etc.) e desenvolvê-la, elogiar comportamentos adequados, promover aprendizagem com momentos lúdicos, repetir pontos essenciais da matéria apresentada favorecendo a memorização, etc. A seguir, um exemplar de produção de texto de uma aluna deficiente intelectual, produzido em 2012. Foi-lhe apresentada uma imagem de um homem cortando uma árvore. No texto oral, a aluna verbalizou com sucesso o seu diálogo, mas na escrita os problemas de pontuação e conectivos persistem, mesmo após explicações e modelo de diálogo. A seguir, outra produção de texto da aluna, feita neste ano de 2015. A educanda leu o poema “Sono Pesado” e montou um diálogo entre pai e filho. 45 Observe que a dificuldade em estabelecer o discurso direto do pai e do filho pelo sinal ‘travessão’ persistiu ao longo destes anos, entretanto seu texto mantém a coerência. A aluna está matriculada na mesma escola há mais de quatro anos e, conforme seu relatório inicial houve um grande avanço cognitivo. Mesmo com todos os problemas da escola pública como troca de professores, falta de formação continuada e apoio/orientação pedagógica, é possível realizar um trabalho bem articulado e sequenciado, desde que a direção da escola auxilie os professores, dêlhes suporte pedagógico. Veja um exemplar da avaliação sobre o poema “Sono Pesado” na qual a educanda consegue acertar quase todas as questões: SONO PESADO Toca o despertador e meu pai vem Uma coisa, no entanto, impede que eu me chamar: me levante: - Levanta, filho, levanta, Sentado nas minhas costas, há um Tá na hora de acordar. enorme elefante. 46 Ele tem essa mania, todo dia vem aqui. Senta em cima de mim, e começa a ler gibi. O sono, que estava bom, fica ainda mais pesado. Como eu posso levantar com o bichão aí sentado? O meu pai não vê o bicho, deve estar ruim da vista. Podia me deixar dormindo enquanto ia ao oculista... Espera um pouco, papai... Não precisa ser agora. Daqui a cinco minutos, o elefante vai embora... Mas meu pai insiste tanto, que eu levanto, carrancudo. Vou pra escola, que remédio, com o bicho nas costas e tudo. 47 Fonte: A autora. Questões implícitas foram respondidas com sucesso graças à prática cotidiana de leitura, resolução de atividades variadas. Além disto, é preciso citar que a aluna tem uma vida social considerada normal, com 17 anos, costuma ver novelas, vai à igreja, já namora, sai com colegas e namorado. A experiência em lidar com alunos com deficiência intelectual é um desafio, já o professor precisa repensar todo o seu planejamento, refazê-lo sob a perspectiva de melhor apreensão a todos. Não é um mero simplificar de atividades, e sim estratégias orais/ escritas/ lúdicas/ criativas. 48 Relato de Experiência Marina Pavão Battaglini6 Lembro-me, claramente, do dia em que se iniciou a minha trajetória como tutora no referido curso, no ano de 2011. Entrei no ambiente EAD para realizar as tarefas do processo de seleção para tutores. Até então, não havia tido nenhuma experiência em educação à distância. Apreensiva, várias dúvidas e questionamentos me ocorreram. “Como seria possível um curso à distância? Como seriam estabelecidos os relacionamentos entre os membros? E como seriam as avaliações e participações?”. Confesso que meus pré-conceitos, sem embasamento teórico ou empírico sobre a educação à distância eram, em sua maioria, negativos. Não conseguia acreditar totalmente na eficácia de um processo de ensino-aprendizagem por meio de uma máquina, o computador. Na primeira vez em que entrei no ambiente EAD, ainda como parte do processo seletivo pensei se alguém estava controlando e monitorando todos os meus passos e “cliques” no computador. Como era estranho, algo totalmente novo, um desafio. Apesar do “incômodo” inicial, surpreendi-me com a imensa felicidade ao receber um e-mail da Coordenação do curso informando que eu havia sido selecionada para atuar como tutora, juntamente com outros colegas. Durante o curso, percebi que as minhas pré-concepções sobre a educação à distância eram grandes equívocos, decorrentes da falta de conhecimento e, principalmente, da falta de experiência com esta modalidade de educação. Tornei-me, desde então, uma “defensora" dos cursos à distância. Ainda hoje, busco por cursos na modalidade EAD para me aperfeiçoar, porém, ainda são poucos os oferecidos na minha área de atuação. Na minha experiência como tutora, senti-me mais próxima dos colegas (formadores e cursistas) do que quando participei de cursos presenciais, como aluna. As trocas de conhecimentos e o ambiente de reflexão proporcionado pelo curso foram ______________________________ 6Tutora do Curso – Turma 34 49 muito enriquecedores e gratificantes. Cada cursista (professor, coordenador ou diretor da rede pública) trazia consigo uma bagagem de conhecimentos e experiências, e compartilhavam-os com todos. Discutíamos e refletíamos não somente temas já expostos, mas também situações recorrentes nas escolas. E nada melhor do que as diversas ideias, pensamentos e sugestões vindos de pessoas com histórias singulares e, ao mesmo tempo, com alguns ideais, objetivos e “sonhos” em comuns. Alguns professores cursistas também tinham filhos com necessidades especiais e lutavam por uma sociedade mais inclusiva. A história de vida destes cursistas era permeada por lutas, sofrimentos, alegrias e conquistas. Eles demonstravam um motivo a mais para se empenharem no processo de inclusão escolar, pois vivenciaram em âmbito familiar (e profissional) as consequências negativas da falta de acesso a uma escola inclusiva, a uma escola aberta e preparada para as diferenças. Outros cursistas tinham uma trajetória profissional consagrada no ensino de indivíduos com necessidades especiais. Outros eram iniciantes neste processo. Independente do tempo de formação e de experiências profissionais ou pessoais, todos assumiram um compromisso com um objetivo em comum: adquirir conhecimentos teóricos e/ou práticos, que lhes possibilitassem promover a inclusão escolar em suas escolas e melhorar a qualidade da educação para todos. Assim, foram trocados conhecimentos e experiências entre cursistas e formadores por meio dos Fóruns de discussão ou por mensagens e e-mails. Foram feitas reflexões sobre o processo de ensino-aprendizagem, sobre os problemas enfrentados em âmbito escolar, sobre práticas que produziram bons resultados, sobre as mudanças e caminhos necessários para garantir uma inclusão escolar bem sucedida. No entanto, “nem tudo foram flores.” Deparei-me com relatos de cursistas que ainda justificavam o fracasso escolar devido a “desestrutura” familiar ou causas “intrínsecas” a criança, como baixa motivação para aprender, pouca participação e empenho dos pais. Por outro lado, tais concepções baseadas no senso comum foram sendo substituídas por conhecimentos científicos no decorrer do curso. Alguns cursistas apresentaram dificuldades com as ferramentas do ambiente EAD, necessitando de esclarecimentos adicionais e maior apoio. O acesso escasso e o pouco conhecimento sobre como manusear o computador geravam insegurança e 50 preocupação em alguns cursistas, tendo como consequência o atraso na entrega das atividades e a baixa participação. Por outro lado, as dúvidas eram sanadas a partir de orientações, além do tutorial elaborado pela coordenação do curso, permitindo que as maiorias dos cursistas concluíssem o curso com ótimo aproveitamento. As relações estabelecidas entre os colegas durante o curso permaneceram mesmo após a sua conclusão. Os cursistas criaram um grupo na página do Facebook, onde continuam trocando informações e compartilhando materiais sobre educação inclusiva. Esta é uma das evidências de que os cursistas continuam se preocupando e lutando para o avanço da educação inclusiva, a qual se trata de um processo que está apenas começando. Devo salientar também que os textos disponibilizados para leitura contribuíram imensamente para a minha atuação profissional. Tenho usado-os tanto para orientar alunos de graduação em Psicologia quantos professores de crianças com necessidades especiais atendidas por mim em clínica. Para finalizar, sinto-me muito honrada por ter tido a oportunidade de participar, de alguma forma, de um processo de ensino-aprendizagem que teve a pretensão de favorecer a inclusão escolar no país, auxiliando educadores em suas práticas profissionais e contribuindo para uma educação de qualidade. 51 Relato de Experiência Elaine Maria Nocera Kaizer Hoje foi preciso dar um “tempo” na vida agitada e refletir sobre tudo o que já passei em relação à inclusão. A primeira experiência com pessoas com deficiência foi na casa da minha avó materna, querida Vó Dalila. Meu saudoso tio Luiz (querido tio LÚ) teve paralisia infantil com um ano de vida, lembro-me da minha primeira pergunta “infantil” marcante à minha mãe: por que a vó deixa o tio de castigo no sofá o dia inteiro? Minha mãe explicou sobre a doença e disse que nunca iria andar, foi a partir daí que comecei a inventar brincadeiras onde o tio Lú pudesse participar também. Ele nunca foi à escola, mas tanto nas minhas brincadeiras de escolinha como depois de minha formatura oficial como professora, consegui ensinar tio Lú escrever seu nome. Esta não foi à única experiência. Tanto pessoal como profissional, é incrível a “EDUCAÇÃO ESPECIAL” sempre está comigo. Por isso procuro realizar cursos como as Práticas Inclusivas. Na minha vida pessoal também tive outra experiência que vou relatar antes de falar da vida profissional: há dez anos, minha filha Vitória Maria nasceu no sexto mês de gestação com 770 gramas, no Hospital da UNESP de Botucatu. Ficaram três meses na UTI neonatal. Quando teve alta, os médicos relataram que ela tinha uma má formação cerebral não tinha o lobo temporal direito- portanto teria dificuldades para falar, andar, etc. Imediatamente procurei a APAE da minha cidade. Eles nunca tinham atendido bebês para a estimulação precoce, que a Vitoria precisava naquele momento, conversei com a psicóloga e levei alguns estudos que encontrei na internet, ela aceitou o desafio, montou uma equipe e atendeu minha filha por dois anos. Minha filha andou e falou na idade certa, os neurologistas explicaram que graças aos estímulos que recebeu (tanto na APAE, como em casa, pois eu continuava estudando sobre bebês prematuros e suas necessidades), ela teve a neuroplasticidade. Hoje ela está no 4º ano e acompanha normalmente sua turma e a APAE tem uma ala que atende crianças que necessitam de estimulação precoce. Minha vida profissional sempre esteve relacionada com a Educação Especial e 52 atualmente mais do que nunca. Hoje estou com dezesseis anos de magistério na Rede Estadual Paulista, dos quais, doze permaneceram na Coordenação Pedagógica, um ano na Direção de escola e atualmente estou na Supervisão de Ensino da Diretoria de Ensino da Região de Piraju, onde sou responsável pela Educação Especial. Enquanto estava na Coordenação Pedagógica, sempre trabalhei em escolas onde havia sala de recursos, portanto procurava textos para entender a inclusão e como auxiliar os professores. No ano passado, quando já estava na Direção de uma escola na Diretoria de Ensino de Ourinhos, fui convidada para realizar o curso Práticas Inclusivas. Era tudo o que precisava naquele momento, pois eu tinha muitas duvidas em relação aos alunos que haviam acabado de chegar no 6º ano e também outros que já estavam na escola. Foi através dos textos e da interação com a professora Márcia que avancei muito em relação às práticas inclusivas. Além disso, através das ATPCs repassei algumas orientações aos professores da escola no mesmo ano. Já neste ano, quando cheguei e a Dirigente disse que uma das pastas que eu seria responsável era a Educação Especial, lembrei-me do curso e da possibilidade de repassar os conhecimentos a muitas pessoas. Enfim, não vou parar, já fiz o curso de pós-graduação em Psicopedagogia Institucional, minha meta é realizar o mestrado em Educação Especial e lutar cada vez por uma inclusão de qualidade para todos os alunos! 53 Relato de Experiência Marilene Domanovski7 Considerando a inclusão um fato marcante e importante na história da educação, o curso sobre práticas pedagógicas inclusivas veio com tudo para orientar e enriquecer o trabalho dos professores, bem como também fornecer subsídios teóricos metodológicos através do material disponível para realização das atividades, complementando com a troca de experiências dos colegas. O objetivo do curso é analisar materiais com fundamentação legal, orientar o professor, dar opção de estratégias e adaptações para desenvolver um trabalho inclusivo com responsabilidade e comprometimento, para que o aluno esteja realmente incluso na rede regular de ensino com seus direitos e deveres garantidos. Antes de falar de práticas inclusivas, temos que saber o que é inclusão e fazer valer a prática inclusiva com atitudes e não só no discurso. Inclusão é dar oportunidade ao aluno, de frequentar a escola junto com todos respeitando suas especificidades, com material adequado e adaptado quando necessário. O curso sobre as práticas inclusivas veio de encontro com as dificuldades que muitos professores enfrentam no dia a dia ao trabalhar com o aluno com necessidades especiais de aprendizagem e acreditam não estarem preparados para conduzir o trabalho significativo e com êxito de aprendizagem efetiva. Pensando em inclusão foi realizado um trabalho com as alunas do curso de formação de Professores, em que elas pesquisaram e desenvolveram o assunto: COMO ESTÁ ACONTECENDO A INCLUSÃO NO MUNÍCIPIO. As alunas do curso fizeram um levantamento das pessoas que residem no Município e apresentam alguma deficiência, coletando informações e depoimentos delas sobre suas dificuldades e anseios diante de uma proposta inclusiva, realizaram entrevistas com os órgãos competentes para esclarecimentos com o presidente da câmara dos vereadores, o prefeito, a Secretária da Educação, Coordenadora de _____________________________ 7Professora de Recurso (de apoio) - Rebouças/PR 54 Educação Especial do Município e o diretor do Colégio onde há vários alunos inclusos. Então, foram expostos os serviços realizados tanto de caráter pedagógico quanto de acessibilidade que existem no Município, os trabalhos foram gravados em vídeos, com apresentação em sala de aula para os demais analisar e refletir se realmente está acontecendo à inclusão. No decorrer do trabalho os entrevistados colocaram que a inclusão está engatinhando, mas que na medida do possível estão se empenhando para que ela se desenvolva com sucesso, seriedade e responsabilidade com políticas públicas voltadas para a diversidade, autonomia e identidade da criança com deficiência. No decorrer do trabalho foi apresentado um grupo de surdas onde em seguida tiveram algumas noções básicas de libras, enfocando que a linguagem de sinais é a ferramenta de ligação entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem do surdo e que a escola deve estar preparada para receber estes alunos. Em seguida exibiram materiais que podem ser trabalhados com os alunos cegos ou com os alunos de baixa visão realizando cálculos com o soroban e leituras em Braille, foram realizadas dinâmicas de sensibilização sobre as deficiências e como agir diante das limitações de cada um, fornecendo orientações de como trabalhar com cada especificidade. Juntamente com as alunas, os professores se envolveram no trabalho, cada um com uma área de deficiência para expor o assunto aos outros alunos do Colégio em forma de oficinas, trabalhando com simulações de como se sente a pessoa com deficiência e preparando-os para acolher os alunos com deficiência sem discriminação ou preconceito em uma escola com praticas e espírito inclusivo. O trabalho foi motivador de curiosidade e análise teórico metodológico, que provocou ação de cobrança com relação às normas legais existentes na escola para concretização das praticas inclusivas. O trabalho realizado foi muito gratificante, pois os alunos ficaram conhecendo a realidade do seu Município com respeito à inclusão, o que os responsáveis estão fazendo para que ela se efetive, qual o comprometimento de cada um com esse assunto tão polêmico e difícil de colocar em prática. Pelo visto causou efeito positivo, os alunos estão exigindo o curso de LIBRAS dos responsáveis, devido ter alunos surdos estudando. Os professores realizam adaptações 55 de acordo com cada aluno respeitando seu potencial de aprendizagem através de avaliações e recursos diversificados que facilitem a assimilação dos conteúdos. Também ficou claro que a inclusão ainda é um desafio a ser superado, que está caminhando a passos lentos, onde alguns lutam para que se efetive, mas que muitos se calam e se acomodam por ignorância, privando o deficiente de exercer seu direito. A inclusão depende de conhecimento, de habilidade e de boa vontade e, de atitude de todos os envolvidos. 56 Relato de Experiência Luci Regina Alves de Paula8 Quanto se oferece um curso de formação continuada de professores, busca-se muito além de um processo de atualização das discussões teóricas atuais, mas principalmente uma reflexão da prática pedagógica individual e coletiva, objetivando a melhoria na qualidade da educação ofertada. O professor precisa estar constantemente em busca da atualização, em face de velocidade com que as mudanças e as informações acontecem neste momento da nossa história. Ser um professor do século XXI é uma tarefa que exige do profissional da educação além dos conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade também muita criatividade para driblar todo desafio que encontra diariamente após os rotineiros sinais de entrada em suas salas de aula, na face a face com seus educandos. No mundo da tecnologia, os professores devem considerados como parceiros da transformação social da escola, para enfrentarem juntas as novas demandas do mundo contemporâneo, com competência, ética e consciência seu papel transformador. O movimento pela inclusão das pessoas com deficiência no Brasil e especificamente a inclusão escolar com qualidade reflete o desejo de transformação de uma situação de discriminação onde perpetuava a segregação de pessoas. A proposta da Educação Inclusiva que favorece a diversidade e compreende a escola como um espaço para todos, deve oferecer além de novos recursos, apoio especializado para garantir a aprendizagem de seus alunos. Para STAINBACK (STAINBACK, 1999, p.46) [...] Se realmente desejamos uma sociedade justa e igualitária, em que todas as pessoas tenham valores e direitos iguais, precisamos reavaliar a maneira como operamos em nossas escolas, para proporcionar aos alunos com deficiência as oportunidades e as habilidades para participar da nova sociedade que está surgindo [...]. ________________________________ 8Fonoaudióloga APAE - Bauru e tutora da Turma 24 57 A oportunidade pelo aprimoramento profissional pode ser vista com a forma mais efetiva no momento de melhorar a qualidade do ensino ofertado nas escolas e, assim suprir as falhas da formação inicial, ajustando além de conceitos teóricos fundamentais à prática diária, também a troca de experiências entre profissionais de diversas, e porque não dizer todas as regiões do país, ampliando, assim, a aprendizagem de forma colaborativa e enriquecedora já que diversas realidades educacionais foram confrontadas. A plataforma TelEduc, proporcionou aos professores a interação com seus tutores, formadores e com a coordenação do curso por meio de e-mail, fóruns de discussão, bate-papos, e respostas a dúvidas, além de troca de experiências entre os participantes. O professor participante teve a possibilidade de realizar atividades práticas com seus alunos em todas as disciplinas e pode discorrer essa experiência na elaboração de seu Portfólio. Cada conteúdo do curso foi disponibilizado semanalmente, exigindo do aluno o acesso diário do ambiente para apropriar-se deste material, para entrar em contato com os colegas, exposição e resolução das dúvidas surgidas e das contribuições, para o grupo e execução tarefas necessárias. O papel de Tutora a Distância do curso de Práticas Educacionais Inclusivas me exigia a responsabilidade de mediação dos diálogos com a turma, incentivando os alunos a irem de encontro de outros saberes, relacionando-os com sua prática pedagógica de acordo com a realidade e a especificidade da comunidade educacional em que estavam inseridos, respeitando suas diferenças geográficas e culturais, oportunizando lidar com uma vasta diversidade de sujeitos e saberes externalidades pelas suas histórias de vida, e pela sua relação com a sociedade. Neste contexto de EAD, o feedback foi um instrumento incansavelmente utilizado na interação com o grupo, reforçando a apresentação das tarefas nos tempos estabelecidos , bem como na captura dos ausentes do ambiente. O uso do feedback foi muito positivo para diminuir a distancia interpessoal, favorecendo a interação entre o grupo e garantir a correspondência das mensagens aliando a teoria a prática. 58 Algumas tarefas sugeridas durante as aulas do curso “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual” elaboradas nos portfólios virtuais proporcionaram aos professores participantes do curso aplicar na escola em que trabalhavam o que vivenciavam na teoria dando oportunidade de relatarem suas experiências e refletir sobre elas e ainda contribuírem positivamente comentando os portfólios de seus colegas de turma. O desafio de novas estratégias apresentadas a cada conteúdo estudado foi muito bem aproveitado pelos professores/alunos onde durante os fóruns de discussão opinaram e trocaram relatos de experiências da prática. A rotina diária de trabalho no ambiente virtual proporcionava uma contagiante sensação das salas de aula, empolgante e barulhenta, principalmente durante as atividades de bate papo. O refletir sobre o fazer de cada professor a compreensão dos conteúdos ofertados agrupados a prática desenvolvida em contextos reais transformaram realidades de ensino. Consideramos que experiências como esta deveriam ser contínuas, pois certamente contribui significativamente e de forma positiva para mudanças no paradigma da Educação Inclusiva no Brasil. 59 Relato de Experiência Marilú Dascanio Ramos9 Denise Dascanio10 A reforma do Estado, a disseminação do neoliberalismo econômico, a descentralização dos sistemas de ensino, a abertura da escola para as camadas sociais menos privilegiadas economicamente, o intenso desenvolvimento econômico e tecnológico, as mudanças no papel do Estado e da sociedade civil marcaram o final do século XX e inauguraram as preocupações com o século XXI (HOBSBAWN, 1995; BALL, 2004). Nesse contexto de profundas mudanças, a universalização e a qualidade da educação pública ficam em evidência, sendo objeto de discussões, projetos e inúmeras políticas públicas. Associada às políticas de universalização e qualidade tem-se a preocupação com a Educação Inclusiva, afinal, para que se universalize a educação escolar é necessário que a escola seja acessível a todos, viabilizando não só condições para o acesso, mas também para a permanência, a aprendizagem e o “pertencimento” à cultura, à sociedade e ao mundo do trabalho. Intrínseco a estas questões está a formação continuada do professor, afinal, o professor é a figura central que fará com que as políticas públicas de universalização da educação se efetivem em práticas inclusivas e acolhedoras. Neste bojo, inúmeras ações têm sido desenvolvidas para oferecer formação continuada aos professores da rede pública. Nessa perspectiva merece destaque o curso de “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual”, implementado através de convênio entre a Secretaria de Educação Especial (SEE), em parceria com a Secretaria de Educação à Distância (Sead) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), com a Faculdade de Ciências da Unesp Campus Bauru para oferecer o curso de formação continuada a professores da rede pública, tendo como principal objetivo sensibilizar os ________________________________ 9Tutora Turma 36 Turma 14 10Tutora 60 professores para o acolhimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, conduzindo-os a uma reflexão sobre sua prática e direcionando-os a práticas de ensinoaprendizagem mais inclusivas. Este relato traz considerações/ reflexões das autoras sobre as mudanças observadas em suas próprias práticas a partir do contato com o curso de “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual”, permeadas de apontamentos legais sobre a Educação Especial no Brasil. Antes, porém, de iniciar os apontamentos de cunho reflexivo das autoras é importante citar algumas políticas públicas implementadas nos anos noventa, que foram salutares para que a Educação Inclusiva assumisse nova orientação no país. 1. Os Anos Noventa – Bases para Redefinições da Educação Especial Os anos noventa foram um período de especial importância para a redefinição da educação no âmbito mundial, sobretudo, nos países “subdesenvolvidos” ou “em desenvolvimento”, como o Brasil. Consubstanciados pelas correntes teóricas neoliberais, os organismos internacionais – como o Banco Mundial (BM), de modo articulado, têm protagonizado as políticas públicas educacionais com a organização de conferências e o estabelecimento de metas, planos e prazos, impulsionando uma Reforma da Educação. A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, convocada conjuntamente pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação PNUD (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e o BM, definiu a educação básica como prioridade da década de 1990. Realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e aprovada por representantes de mais de cem países e organizações nãogovernamentais (ONGs) que se comprometeram com a meta da Educação Primária Universal para a população mundial num prazo de dez anos, argumentando-se que esta conseguiria satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem (TORRES, 2009). Em novembro de 1991, realizou-se a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, presidida por Jacques Delors e em 1993, um novo encontro foi realizado, desta vez em Nova Delhi, reunindo os nove países mais populosos do 61 mundo, dentre eles o Brasil, dando continuidade aos debates iniciados em Jomtien, cujo foco era a universalização da educação, que deveria se desenvolver para suprir as necessidades básicas de aprendizagem dos indivíduos e da sociedade. Destaca-se que a Declaração de Jomtien associava a Educação para Todos à necessidade de um compromisso político, pautado por medidas fiscais adequadas e reformas na política educacional, partindo de uma visão abrangente da educação básica, sem restringi-la apenas à educação escolar, compreendendo a educação infantil, primária, alfabetização, educação básica e educação de jovens e adultos (TORRES, 2006). Em Nova Delhi, o compromisso político foi aliado à mobilização dos inúmeros segmentos da sociedade, que deveriam contribuir com a Educação para Todos (RABELO; MENDES-SEGUNDO; JIMENEZ, 2009). Outro documento de suma importância, que foi determinante para trilhar os novos rumos da educação, sobretudo, da Educação Especial, foi a Declaração de Salamanca (Salamanca - 1994) – uma resolução das Nações Unidas que trata dos princípios, da política e das práticas em Educação Especial, enfatizando a necessidade de uma pedagogia centrada na criança e defendendo o princípio da educação integrada, na qual todas as crianças podem frequentar escolas comuns e nelas aprender juntas. A declaração é o resultado da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, realizada entre 7 e 10 de junho de 1994, na cidade espanhola de Salamanca. Foi dotada em Assembléia Geral e apresenta os procedimentos-padrões das nações unidas para a equalização de oportunidades para pessoas com deficiências. É considerada mundialmente um dos mais importantes documentos que visam a inclusão social, juntamente com a Convenção sobre os Direitos da Criança (1988) e a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990). Em 1996 a Unesco divulga o relatório organizado por Delors – “Educação: um tesouro a descobrir; relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI”, o relatório reforça a ideia de que a educação deve acompanhar os indivíduos por toda a vida, constituindo-se de um processo permanente, centrado em quatro pilares principais: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos; e aprender a ser, com isso a educação passa a ser centrada no sujeito. 62 O século XX se encerra com um novo evento internacional sobre educação, em 2000 o Fórum de Dakar reúne participantes de 180 países e 150 ONGs que reiteraram o papel da educação não só como um direito fundamental, mas também como a chave para o desenvolvimento sustentável, a paz, a segurança e a estabilidade interna e externa de todos os países envolvidos, além disso, vinculou à educação a tarefa de promover a participação efetiva dos sujeitos na economia e na sociedade. Entre Jomtien e Dakar, constata-se uma redução conceitual da meta inicial de Educação para Todos, considerando-a apenas como educação escolar primária, além de efetivar uma inversão na lógica comum da educação, que deixa de ser centrada no ensino para centrar-se na aprendizagem (no sujeito) (IRELAND, 2009). Os objetivos do milênio, lançados em 2000 pela ONU, incluem oito objetivos e metas voltadas principalmente para redução da pobreza e da fome, alocando a educação como um instrumento de alívio à pobreza e atribuindo ao voluntariado importância fundamental para o alcance dessas metas (TORRES, 2006). Os objetivos destacam ainda a prioridade de universalizar a educação primária e a promoção da igualdade de gênero na educação. Além das orientações e metas gerais, os países “em desenvolvimento” ou “subdesenvolvidos” ainda recebem “atenção especial” dos organismos internacionais através da definição de planos e objetivos específicos, destaca-se a aprovação em Havana, no ano de 2002, do Plano Regional de Educação para a América Latina e o Caribe (Prelac), estabelecendo, sob as orientações da Unesco, metas para o período de 2002 a 2017. Reforçando as metas de Educação para Todos, o Prelac apontava a necessidade de mudanças nas políticas e nas práticas educacionais para garantir a qualidade da educação e o desenvolvimento humano ao longo da vida (IRELAND, 2009). Em 1994, o Brasil instituiu a Política Nacional de Educação Especial, orientando o processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (p.19). Logo, nota-se uma abertura ainda muito incipiente da escola aos alunos com deficiência, afinal, para que estes possam participar da escola comum, é 63 preciso que se adaptem às atividades planejadas para os estudantes sem deficiência, ou seja, é o aluno que deve se adaptar à escola e isso faz com que, na prática, a Educação Especial ainda funcionasse apenas em escolas/ classes especiais, totalmente segregadas das classes comuns. Embasado nas orientações e tendências mundiais, o país institui na Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB/ 1996) um capítulo para instrumentalizar a Educação Especial, trazendo apontamentos significativos. Sendo que esta deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e acompanhada de serviços de apoio especializados e equipe multiprofissional capacitada, incluindo-se aí professores com especialização adequada (LDB, 1996). O texto da LDB, ao contrário do que a Política Nacional de Educação Especial instituía em 1994, determina que a escola é que precisa se adequar ao aluno, afinal, a lei preconiza que os sistemas de ensino devam assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades. No entanto, sabe-se que a inserção do termo ‘preferencialmente’ no texto da LDB serviu de ‘escape’ para muitas unidades públicas e privadas de ensino evitarem a matrícula de alunos com deficiência, alegando, por exemplo, falta de condições para o atendimento adequado a estas crianças. Posteriores à LDB, outras diretrizes e resoluções foram instituídas visando consolidar práticas educacionais inclusivas no Brasil. Grosso modo, destacam-se: o Decreto nº 3.298/1999 que define a Educação Especial como modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino; a Resolução CNE/CEB nº 02/2001 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial, na qual é reafirmada a obrigatoriedade da escola organizar-se para atender aos alunos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para oferecer uma educação de qualidade para todos; a Lei nº 10.172/2001 que institui o Plano Nacional de Educação, estabelecendo objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais e aponta déficits referentes à matrícula, formação docente, acessibilidade física e atendimento educacional especializado; a Resolução nº 01/2002 estabelece que as instituições de ensino superior devam prever, em sua organização curricular, formação docente 64 voltada para a atenção à diversidade e que considere conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais; o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, lançado em 2007, tendo como eixos a formação de professores para a Educação Especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, o acesso e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior. Deste modo, percebemos que um arcabouço legal foi se constituindo no país a fim de regulamentar/ prover a Educação Especial, garantindo que a inclusão realmente se efetivasse dentro da escola comum. Ainda nesse sentido, vale citar a aprovação do novo PNE – Plano Nacional de Educação – instituído pela Lei nº 13.005/2014, nele há como meta a universalização do acesso à Educação Básica à população com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: Meta 4: universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos e multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados (BRASIL/PNE,2014). É incontestável que a legislação brasileira, içada ao longo das duas últimas décadas, tem se consolidado como um arcabouço para promover a Educação Especial na escola comum/regular, impelindo-a a atuar de modo mais inclusivo e respeitoso, compreendendo que indivíduos diferentes necessitam de atitudes e metodologias diferentes para que passem a atuar em condições de equidade. Destarte, do direito de adaptar-se à escola ao dever de adaptar-se ao aluno muitos avanços foram observados, no entanto, percebemos que a questão da Educação Inclusiva ainda está longe de ser uma prática quotidiana e incondicional nas escolas brasileiras. Um longo caminho ainda há de ser trilhado para que as crianças com deficiência possam realmente “pertencer” à escola, indubitavelmente, sabe-se que o trabalho será árduo e minucioso, contudo, o curso de “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual” tem se constituído como um primeiro passo desta longa jornada. 2. Educação à Distância (EaD) – modalidade internet 65 Considerando o cenário atual da educação, está claro que a educação por meio de mídias virtuais, como a internet, por exemplo, é uma realidade cada vez mais presente, além disso, devido ao processo de inclusão escolar, é fundamental a formação continuada do professor, visto que muitos, que hoje exercem a docência, não tiveram esses conteúdos e práticas durante a sua formação (PALLOF; PRATT, 2002). É importante também destacar a grande extensão do território brasileiro, cujo maior volume de pesquisadores da área encontra-se no eixo Sul e Sudeste, dificultando, assim, o acesso a cursos locais por esses especialistas. A educação à distância tem o respaldo do MEC por meio do Art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 9394/96, ao longo dos anos, teve adicionado o Decreto 2.494/98 e as Portarias MEC Nº 301/98 e nº 2.253/2001, que incentivam o desenvolvimento e a veiculação de programas de EaD, em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada. E ainda, o parágrafo III, do Art. 87, item 3, que autoriza a realização de programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da Educação à Distância. Nota-se que os aspectos legais e técnicos vêm favorecendo a emergência de inúmeros cursos à distância, no entanto, uma grande parte desses cursos é estruturada a partir de uma concepção tradicional de educação, em que o objetivo final do processo de aprendizagem é apenas a reprodução de um conhecimento já estabelecido, propiciando poucas condições efetivas para uma construção mais criativa do conhecimento, a ser realizada pelos participantes dessa prática educativa. O curso de Práticas Educacionais Inclusivas foi estruturado no ambiente de aprendizagem TelEduc em que se realizam cursos à distância por meio da internet, desenvolvido no Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E, tanto como tutora/ formadora deste curso, como aluna de outros cursos EaD, podemos afirmar que as ferramentas oferecidas pelo TelEduc superaram a escola tradicional e permite um ambiente de troca de experiências e aprendizagem ativa por parte do aluno fortalecendo a criação de um grupo, promovendo a sensação de estar com o outro, mesmo considerando a distância geográfica. 66 3. Reflexões – Redirecionamento da Prática Docente A Educação Especial, por meio das políticas e das legislações, conquistou novos espaços de atuação e formação, reformulando metodologias, concepções sobre práticas e sobre a formação de professores. O uso das tecnologias disponíveis promove e oferece oportunidade para que as pessoas com deficiência superem ou eliminem as barreiras impostas pelas diferenças, colocando, desse modo, a Educação Especial sob um novo enfoque no contexto da educação brasileira e também da educação à distância. O trabalho como tutora e formadora do curso de “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual” foi uma experiência desafiadora, afinal, trata-se de um curso voltado para professores que estão atuando na rede pública de todo o país, logo, o público-alvo do curso é vasto e diversificado, englobando professores advindos de realidades educacionais muito díspares, algumas muito bem estruturadas e completas, outras com limitações e dificuldades de diversas ordens (formação inicial aligeirada e precária dos professores e gestores; salários ínfimos; dificuldades para acesso à internet e ferramentas tecnológicas; salas superlotadas; escolas poucos estruturadas; pouco ou nenhum apoio da gestão escolar e da comunidade; realidades de extrema violência e miséria...). Enfim, a união de professores de realidades tão diferentes sob o mesmo objetivo não é uma tarefa fácil, mas um curso que se propõe a discutir sobre a consolidação de uma escola verdadeiramente inclusiva tem que se pautar numa visão inclusiva sobre o ser humano. Ciente de que nem todos conseguirão aprender no mesmo tempo e com a mesma facilidade, ciente de que nem todos poderão se dedicar o mesmo número de horas para as leituras e atividades, assim, o curso foi se desenhando, a partir de uma proposta de leituras, discussões e atividades sempre reformuladas, reorganizadas, rearranjadas, para que o professor participe de um curso inclusivo que busca uma escola inclusiva. As experiências com o TelEduc mostraram que o aluno virtual precisa ser autodidata e saber conduzir sua agenda de estudo de maneira que as tarefas sejam realizadas sem a necessidade de cobrança por parte do professor, já que a grande 67 vantagem oferecida pelos cursos à distância é fazer suas tarefas em hora e local escolhidos, o que não isenta o aluno da realização das mesmas. Ele precisa também saber levantar questionamentos, trocar informações, dar sugestões e opiniões, elaborando e expressando suas ideias de forma clara e concisa. Foi possível observar que, numa comunidade de aprendizagem, os participantes dependem uns dos outros para alcançar os resultados exigidos pelo curso. Se um deles conectar-se a um site em que nenhuma atividade ocorre há dias, pode sentir-se desestimulado ou ter sensação de abandono, o que reforça o papel do tutor e do formador enquanto mediadores da aprendizagem neste contexto. Nos estudos de Palloff e Pratt (2002) os autores relatam também como uma das vantagens da Educação à Distância, que a pessoa tímida não tem a pressão do meio que, muitas vezes, desfavorece sua participação, por medo de expor verbalmente suas ideias, passando a impressão de não dominar o conteúdo; já o ambiente à distância pode ser favorável para que ela as exponha, sem a pressão do meio e, muitas vezes, com feedback positivo dos colegas e dos tutores e formadores em relação à sua participação. Podemos notar este aspecto a medida que os professores relatavam durante os bate-papos (encontros virtuais semanais) sobre suas dúvidas sobre como lidar com pessoa com deficiência, a dificuldade em falar sobre este tema na sua escola, seja por timidez, seja por falta de abertura da organização escolar. Com essa metodologia, o professor, que aqui é aluno, juntamente com seu tutor e formador rompem com o tradicional e reconstroem seus papéis, favorecendo a construção do conhecimento, a formação de grupo e a troca de experiências. Como mediadores deste curso, seja enquanto tutora ou formadora, percebemos que o trabalho é sempre mais voltado para o redirecionamento das estratégias e dos prazos do que para a cobrança do cumprimento dos mesmos, que as nossas principais atribuições envolvem responsabilidade; autonomia; criatividade; interesse; bem como ser disciplinado e auxiliar o aluno a organizar seu tempo, além de propiciar um ambiente aberto para discussões e troca de experiências. Um dos principais aprendizados que apontamos é que a metodologia do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” não funciona na educação e que para discutir e orientar a respeito de uma escola inclusiva é necessário agir dentro da ideologia da 68 inclusão, aceitando e respeitando o professor que tem muita dificuldade com as ferramentas tecnológicas, ou o professor que tem grande quantidade de aulas semanais e pouco tempo para estudo, enfim, cada ser humano é diferente em saberes e valores e estes precisam ser respeitados sempre. Encerramos essas reflexões trazendo uma breve asserção de Codo e Gazzotti (1999) sobre a natureza do trabalho, sendo este considerado uma relação de dupla transformação entre homem e objeto, na qual tanto o trabalhador se transforma durante o processo de trabalho, quanto o objeto alvo de seu trabalho é transformado. Logo, o trabalho deve ser analisado em duas esferas: uma objetiva, que é a transformação física propriamente dita; outra subjetiva, que ocorre na atuação do homem sobre a natureza para atender suas necessidades, ou seja, é o significado que o homem atribui ao seu trabalho, sua transformação durante o processo de trabalho (CODO; GAZZOTTI, 1999). Nessa perspectiva, o trabalho é a própria essência humana, que se aprofunda e se torna complexo com o passar do tempo (SAVIANI, 2007; CODO; GAZZOTTI, 1999). Considerando, então, a natureza do trabalho e a extensão de um curso como este oferecido na plataforma TelEduc que em cada versão do curso atinge em torno de 1.000 professores agrupados em 50 turmas, defende-se que a educação à distância, neste formato específico, contribui para a formação continuada dos educadores no processo de inclusão da pessoa com deficiência e para a práxis social na área da educação. Por fim, além de proporcionar uma ampla reflexão em relação à consolidação de uma escola inclusiva, o trabalho como formador/ tutor tentou de múltiplas formas apoiar o professor a enfrentar as vicissitudes de sua profissão, afinal, é uma profissão que exige do educador a constante revisão dos saberes e práticas, além da constante atualização e reflexão sobre a sociedade em que se vive. Acredita-se que tal qual pudemos transformar, também transformamo-nos durante o trabalho no curso. 69 Relato de Experiência Rosália Aparecida Puríssimo11 Desde que comecei a ouvir a palavra INCLUSÃO lá pelos anos de 1997/98, inclusive em comerciais na TV apresentados pelo ator Renato Aragão e algumas crianças, onde cada uma apresentava uma deficiência e a população “desinformada” achava tal exposição linda e comovente, eu e outros educadores “entortávamos o nariz”, pois víamos ali mais uma jogada de marketing governamental. Não demos muita importância e também não acreditávamos em sua eficácia, até que os primeiros alunos com deficiência física e mental começaram a serem matriculados nas escolas comuns e em nossas salas. E com o passar dos anos mais professores demonstraram ter os mesmos conceitos que eu. Escutava sempre as mesmas reclamações e ajudava a engrossar o coro em uníssono com a fala que já parecia decorada: “Não tem como colocar crianças com deficiência na mesma sala, pois não somo preparados, e não saberemos lidar com elas...” A outra fala era: “O que vamos fazer com essas crianças que não ouvem, não enxergam, que se babam toda, que não conseguem sentar direito, etc. Sem contar no desespero de alguns professores Educação Física, que ficavam enlouquecidos sem sabe quais atividades deveriam trabalhar com tais alunos. Tinha-se a impressão que o caos havia sido instalado, já que a progressão continuada já estava difícil de ser engolida. Ninguém sabia o que fazer, por onde e nem como começar, parecia que estávamos todos perdidos, professores, diretores e coordenadores. Todos sem saber como agir corretamente. De um lado a Lei que implantava a “famigerada” inclusão, paralelamente estava à sociedade exigindo que a lei fosse cumprida, do outro lado, nós, professores e adversários ferrenhos da tal inclusão, pois o sapo boi da progressão continuada ainda e estava entalado em nossa garganta, e já éramos obrigados e engolir a inclusão. ______________________________________ 11Professora de Ensino Fundamental - Professor de Ensino Fundamental/SP 70 Tudo aquilo parecia demais para os “pobres” e sofridos educadores, cheios de problemas salariais da época e que agravava nossas vidas particulares. Observando que nesse contexto a inclusão foi apenas a gota d’água que transbordou em um mar de problemas que já havia na área da educação. Pois somos eternos insatisfeitos como seres humanos e não seria diferente com a classe do professorado, que já é sabido pelo povo brasileiro que nossos governantes não nós dá o devido respeito que achamos/pensamos que deveria ser dado. Mas mesmo entre greves e paralisações da época, voltamos para nossas salas de aula e para nossos alunos, apesar de todos esses problemas. Quero deixar bem claro que até o meio desse curso, minha opinião era quase a mesma a da época de 97/98. Para mim não era aceitável a inclusão da forma como vinha sendo feita. Eu via a inclusão como uma falta de respeito com os professores e falta de humanidade com as crianças com deficiência. Mas eu não era contra o aluno com qualquer deficiência estudar em escola comum era contra a forma como estava sendo feita. Acreditava que a inclusão deveria ser feita com o devido amparo aos educadores e educandos, seja com materiais e conteúdos adequados a cada tipo de dificuldade ou com um profissional da área da saúde dando apoio, na escola ou em clínicas. Mas isso não ocorria até então. Em 1999/2000. Tive um aluno cadeirante na 5° série, e tivemos que improvisar umas tábuas sobre uma mesa para ele poder escrever. Aquilo me cortava o coração. Em outra sala, na 6ª série uma aluna deficiente auditiva foi quem me ensinou a forma certa de explicar o conteúdo, pois às vezes eu esquecia e falava muito rápido ou de costas. Com isso minha revolta com essa forma de inclusão só aumentava. Pois estava sentindo na pele o sofrimento de ver alunos com necessidades especiais “jogados” de qualquer maneira sem que os professores tivessem qualquer tipo de instrução de como trabalhar com eles, entre outras informações relevantes. Mas essa fase de revolta começa a se dissipar no meio do curso, pois minha inscrição no mesmo foi para tentar entender de uma vez por todas o verdadeiro motivo da inclusão, e o motivo dessa força “descomunal” em colocar crianças deficientes em sala comum que tanto se propaga nos meios acadêmicos. 71 Até o modo de falar tivemos que mudar para não parecer que somos preconceituosos. Agora é politicamente correto falar pessoas/crianças com necessidades especiais. Isso também me incomodava, pois dava a impressão de falso moralismo, pois ninguém estava muito feliz com a situação, mas tinha que fazer cara de feliz, ou - esta ai gente “temos” que aceitar. Mas agora, posso dizer sem sombra de dúvidas que sou outra. A Professora Rosália antes e a depois do curso. E tudo isso graças às informações preciosas que foram passadas, pela troca de experiência e minha boa vontade em estudar e entender o real motivo da inclusão. Hoje penso que se os governos em suas esferas fazem pouco, ou nada, nós educadores devemos fazer. Temos que dar o máximo como educadores para fazer com que nossos alunos, seja com deficiência ou não, tenham oportunidade de adquirirem os conhecimentos básicos e de forma prazerosa e com todo o respeito que se deve ter como todo ser humano, ainda mais em se tratando de crianças muitas vezes indefesas que só tem a nós educadores, um adulto a quem recorrer em uma hora de precisão ou aflição. Percebi o quando estava errada e cheia de preconceitos, que hoje em dia não há mais lugar dentro de uma sociedade que deseja, quer e deve ser mais justa e humana, e que não devemos ficar esperando muito de nossos governantes e sim, temos que “arregaçar” as mangas, sair da zona de conforto e fazer o que é possível para que todas as crianças e adolescentes tenham uma vida digna, uma educação de qualidade e que possa no futuro ser também um adulto mais humano, sem qualquer tipo de preconceito com qualquer situação que possa parecer diferente momentaneamente, pois somos sim, todos iguais perante Deus e perante as leis brasileiras. E a partir desse fato é que devemos traçar um objetivo e seguir em frente, sem preconceitos que só servem para atravancar o progresso da humanidade. Hoje não espero muito de ninguém no que diz respeito a proporcionar boas aulas, principalmente para o aluno com dificuldades. É óbvio que vou atrás do que é de direito segundo as normas governamentais e as normas e regimento da Secretaria de Educação de Indaiatuba, que se diga, cumpri muito bem sua função no que se refere à inclusão, deixando a desejar apenas no quadro de algumas psicólogas que 72 prescreveram mais de uma vez receita errada. Mas graças a Deus nada de grave ocorreu. Finalizando quero agradecer a todos, formadora, tutora e as queridas alunas do grupo 40 que tanto que ajudaram a entender de uma vez por todas que fazemos parte de uma sociedade inclusiva, seja na educação ou fora dela e que todos nós estamos INCLUSOS nesse Planeta Terra para cumprir uma função de acordo com os desígnios Divinos. Então que, por amor a ELE, e ao nosso próximo vamos cumprir com dignidade amor e muita dedicação esse dom maravilhoso de ser professor/educador que nos foi dado por Deus. 73 Relato de Experiência Giselda12 A presença dos elementos tecnológicos digitais vem promovendo um "dilúvio de dados" que a cada dia cresce de forma desordenada, exigindo meios diferenciados para acondicionar essas informações em diversas áreas do conhecimento. Nas sociedades contemporâneas, as rápidas transformações do mundo do trabalho, o avanço tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de informação vêm incidindo fortemente na educação, aumentando o desafio para torná-la uma conquista democrática efetiva. Essa realidade mundial tem levado a instituição de ensino a questionar-se sobre seu papel ante as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo atual. As transformações ocorridas nas sociedades contemporâneas exigem um repensar das instituições educativas, especialmente por sua atuação no campo da formação humana e da capacitação técnico-profissional, e o professor é um agente central da ação educativa realizada em diferentes espaços pedagógicos. Considera-se, atualmente, que a comunicação humana não se limita a um simples mecanismo de codificação e decodificação de uma informação. Comunicar implica falar a alguém e para alguém, implica ainda que entre os interlocutores possa haver conflitos, negociação, relações afetivas e/ou hierárquicas as mais diversas que se atualizam no momento da comunicação, comunicar significa interagir socialmente por meio da linguagem, das mais diversas formas e com os mais diversos propósitos e resultados. Diante do exposto, o mundo atual requer um professor com competências diversas, inovador, multidisciplinar, multi qualificado, dinâmico, capaz de aprender a aprender, que domina as tecnologias da informação e comunicação, enfim um novo professor para um novo tempo. A Educação a Distância (EAD) ganha força, pois ela é totalmente dependente das tecnologias, faz uso das mídias e multimídias para promover o ensino, caracteriza-se por uma educação mercadológica pautada nos princípios da racionalidade, divisão do _________________________________________ 12Tutora Turma 41 74 por uma educação mercadológica pautada nos princípios da racionalidade, divisão do trabalho e produção em massa. Configura-se hoje como uma modalidade regular, utilizando-se de diferentes linguagens, como a escrita, a informática. Dessa forma, é com o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) que a EAD modifica seu conceito ao longo de quatro gerações. Com o advento da linguagem escrita e fundação das primeiras escolas no século XIX, temos o início da primeira geração. O grande desafio da EAD atualmente está centrado em desenvolver propostas que ultrapasse a visão bancária de educação ainda tão presente na educação presencial onde o educador é o narrador conduzindo os alunos à memorização mecânica dos conteúdos. Nessa perspectiva, estaríamos reproduzindo no ciberespaço as aulas expositivas do ensino presencial negando ao ser humano a condição de sujeito. Um dos papéis fundamentais do professor seria a de assumir a função de orientador e avaliador vivenciando com os alunos todas as potencialidades das mídias na democratização e participação de engrenagem do conhecimento através das interações discursivas nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). Assim, o relato aqui proposto, apresenta a experiência de um docente vindo do ensino presencial para atuar no ensino a distância. Antes desse relato, algumas definições que inicialmente fizeram parte do pensamento do tutor. E o que é a função de tutoria? Tutor é professor? A legislação é clara no sentido de que tutor é professor. Sua mediação é uma função docente, tanto na tutoria específica de uma disciplina, quanto na tutoria, em geral presencial, como um orientador de estudo. O que é a EAD? A Educação a Distância é uma modalidade de ensino que tem sido utilizada com o intuito de ampliar as possibilidades de acesso ao estudo. A EAD proporciona ao seu público a formação continuada de profissionais nas diversas áreas do conhecimento. Com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), o acesso à educação passa a utilizar esses recursos tecnológicos, oferecendo cursos online, por exemplo, dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, os AVA. Para Corrêa (2007, p.9-10) 75 A EAD tem sido uma alternativa de ensino/aprendizagem, principalmente, em um cenário marcado pelas dificuldades de acesso de nossa população ao ensino formal e pelas altas taxas de defasagem de escolarização e de analfabetismo, em função de uma carga horária de trabalho que impossibilita o investimento em educação continuada. As aulas são postadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o qual é um: [...] termo usado para definir uma plataforma de software multiusuário disponível via web que dá suporte a cursos presenciais e a distância, que integra ferramentas que possibilitam a interação entre os usuários, o compartilhamento de arquivos e gerenciamento de turmas (LEITE; BEHAR; BECKER, 2009, p.114). Além das aulas, são postados no ambiente virtual todos os materiais que compõem a disciplina de cada professor, como: plano de ensino, livro da disciplina, slides das aulas, conteúdos complementares (artigos, vídeos, links etc.). No ano de 2010 surgiu a oportunidade de ser tutor do curso de Aperfeiçoamento “Praticas em Educação Especial e Inclusiva na Área da Deficiência Intelectual”. No decorrer do curso, vários relatos foram descritos na plataforma, em síntese eles descreviam as dificuldades vivenciadas relativas à autonomia necessária ao estudo à distância, como administrar o tempo e cumprir o cronograma. Para vencer as dificuldades, referiam que o primordial era o convívio virtual com os amigos, a qualidade do material disponibilizado na plataforma e a atenção e compreensão da tutora. O fato é que o conhecimento através da EAD nos inclui como profissionais autônomos para gerenciar o saber através do mundo virtual. O curso gerou o aprimoramento da prática profissional no trabalho com serviço de referência para atenção a inclusão, além de novos conhecimentos sobre a deficiência. Segundo algumas alunas o “Espaço Virtual” cumpre com a função de manter um vínculo, uma referência, que é importante na constituição de um espaço de aprendizagem o ter para onde se dirigir quando for necessário. Destacamos também a importância da tutoria estar presente para servir de suporte as demandas que possam advir. Como este Espaço acabou também sendo constituído como um ponto para as orientações de monografias, estando “sempre aberto” possibilitou uma maior interação 76 entre os alunos e os seus orientadores; auxiliando desta forma na edificação de suas monografias. O que se conclui com esta experiência é do quanto este espaço, pode ser um instrumento, a ser utilizado na Educação a Distância, como propiciador além de aprofundar relações, trocas, subsídios; de fornecer informações, lembretes; auxiliar na organização do curso, dos trabalhos, das disciplinas; entre outros de uma forma de planejamento institucional para a gestão de cursos em Educação a Distância. Comentamos este ponto, pois verificamos na prática que existe um hiato entre as instituições promotoras dos cursos à distância e os alunos; sendo que este “espaço virtual” pode vir a ser pensado como uma forma de construirmos uma ponte. Outro ponto, que também carece de maiores reflexões é de que se esse tipo de espaço não possa vir a servir como uma ferramenta para contribuir com a minimização da evasão na EAD. Neste caso específico, os dados apontam que os usos foram bastante promissores e carecem de outras experiências para analisarmos cada uma destas contribuições que aqui elencamos como viáveis. Apenas cumpre ainda destacar, que se torna essencial, aliarmos esta prática ao conceito de cooperação, ou seja, constituindoa como uma prática cooperativa, requerendo a participação e responsabilidade de todos neste processo. 77 Relato de Experiência Sária Cristina Nogueira13 A educação à distância trata-se de uma ferramenta importante nos dias atuais, mas ao mesmo tempo, exige adaptações disciplinares por parte dos que a utilizam. Por isso, exercer a função de tutora do curso “Práticas educacionais inclusivas na área da deficiência intelectual” foi, para mim, um grande desafio. O trabalho na área educacional não era algo evidente em minha prática profissional, de forma que a participação no curso foi uma novidade que oportunizou conhecimentos teóricos e de ordem prática. A administração do tempo de dedicação ao curso e ao exercício da tutoria é um aspecto essencial, podendo constituir-se em fator decisivo para o sucesso das atividades a serem realizadas. Essa situação estende-se aos alunos das turmas e aos tutores, pois todos precisam, necessariamente, organizarem-se. Os tutores, especialmente, precisam administrar e estipular horários para realizar orientações aos alunos e também para serem guiados pelos orientadores, além de manterem atualizada uma planilha de acompanhamento do desempenho dos alunos. A planilha de acompanhamento das atividades dos alunos trata-se de uma importante ferramenta para que os próprios cursistas exijam de si aquilo que está em falta, oportunizando a eles autonomia para vivenciar o curso. Uma das vantagens em participar da tutoria foi o amplo contato que foi possibilitado com o tema da Educação Inclusiva, afinal, este também é um tema relativamente novo na realidade do contexto educacional. O curso proporciona tanto para os alunos quanto para os tutores a aprendizagem de novos conteúdos, exigindo a prática da leitura e reflexão sobre os temas tratados. Uma das primeiras dificuldades encontradas deu-se no primeiro contato com os alunos que fariam parte da turma: um e-mail para cada um, uma espera da resposta de cada um, um aceite, uma recusa, uma omissão. Felizmente, foram muito mais aceites ________________________ 13Psicóloga formada pela Unesp de Bauru; mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Unesp campus Bauru; tutora na modalidade EAD da Unesp pela UAB. 78 que recusas, mas um novo desafio se colocava: entrar em contato com novos prováveis alunos. Após o fechamento das turmas, o próximo passo dos tutores consistia em pedir aos alunos que respondessem dois questionários relativos à Educação Especial que, na verdade, era uma forma de levantamento de conhecimento prévio. Os questionários eram: Questionário de Tecnologia Assistiva para Educação e o ELASI. Assim que se realizaram as adaptações necessárias, principalmente o auxílio aos alunos no que se refere ao manejo do sistema informatizado e do site que continha o curso, foram organizadas as atividades de maneira contínua. Neste ponto, é importante salientar que muitos professores não possuíam computadores em suas casas, necessitando realizar as atividades do curso na própria escola onde trabalhavam para o que era necessário adaptarem-se à rotina das escolas e organizarem horários para utilizar os computadores. Os bate-papos semanais foram algo que exigiu bastante adaptação, pois foi difícil conciliar um dia e horário em que todos os alunos pudessem participar. Assim, considerando que a contribuição de todos era salutar, bem como a importância dos debates sobre questões polêmicas, optei por agendar dois horários semanais de batepapos, que passaram a acontecer às quartas- feiras e aos sábados. Os fóruns de discussões também foram um espaço ímpar para a troca de ideias, colocando questionamentos acerca da prática profissional em relação à educação inclusiva. Além disso, houve enriquecimento na formação de valores pessoais, sobre as práticas inclusivas num âmbito social. Um item que merece atenção trata-se das avaliações e trabalhos relativos aos módulos: é preciso auxiliar os alunos a se atentarem aos prazos, para que as atividades não se acumulem. Nesse sentido, há alunos que participam assiduamente, outros precisam de uma flexibilidade do tutor responsável para que possam cumprir seus deveres assiduamente. Entende-se que o fato dos professores colocarem-se no papel de alunos, e enfrentarem os desafios desta condição, pode ser um fator facilitador para que passem 79 a compreender a realidade de seus próprios alunos, utilizando-se da flexibilidade necessária em estratégias de ensino e nos processos avaliativos. Dos professores que realizaram o curso, muitos somavam anos de experiência dentro da sala de aula, e todos contribuíram com relatos acerca da realidade escolar em que atuam. Dentre os problemas compartilhados pelos professores, um dos mais evidentes tratou-se da questão do envolvimento da família, havendo muitos relatos de que as famílias de muitos alunos tinham condições socioeconômicas desfavoráveis, o que acabava prejudicando o compromisso com a educação. Outro problema trazido pelos professores referiu-se aos recursos econômicos da escola, sendo que alguns diziam que utilizavam o próprio dinheiro para adquirir materiais utilizados nas aulas. Houve, também, relatos no sentido de que muitos professores têm sua prática cristalizada, assim formada por um acúmulo de experiência e o hábito de agir de uma ou de outra maneira, não havendo disposição de muitos docentes para tentar novas estratégias e novas visões acerca da educação. Notou-se que todos os professores que participaram da 5a edição encontravam-se ávido na busca do conhecimento, buscando incessantemente informações que auxiliassem suas práticas, o que nos permite acreditar na competência dos atores educacionais. Trata-se, assim, oportunizar o conhecimento àqueles que têm disposição de adquiri-lo, enfrentando as dificuldades que a rotina coloca. Ou seja, todos os membros do curso possuem outros incontáveis compromissos profissionais e pessoais, mas ainda assim dedicaram tempo e esforço para conhecer nova perspectiva no âmbito da educação inclusiva. De todas as ações realizadas, concluo que o resultado foi bastante positivo e gratificante, pois, enquanto tutores podem contribuir com um pouco da formação de cada profissional, além de cooperar para a transformação enquanto seres humanos. Nesse sentido, como membro responsável pela tutoria, aprendi importantes elementos que contribuem para o exercício da cidadania, além de conhecer as nuances das diferentes realidades do contexto educacional do país. 80 Relato de Experiência Luciana Apolônio Rodrigues Carneiro14 Nada do que foi será. De novo do jeito que já foi um dia. Retomo minhas experiências no curso Práticas Educacionais Inclusivas, turma 7, parafraseando a música Como uma onda, de Lulu Santos. Essa música traduz exatamente meu percurso e remete meus sentimentos durante as minhas leituras que provocaram as mesmas indagações em todos os módulos e capítulos: “Nunca pensei nisso antes... E por quê?” Tudo passa. Tudo sempre passará. Esses porquês fizeram-me retomar ao passado a fim de refletir a qualidade da minha formação inicial, a começar no módulo 1, capítulo 1: “Não me recordo da cronologia histórica da Educação Especial. Será que tive esta aula? “ A vida vem em ondas como um mar. Num indo e vindo infinito. Em relação às formações continuadas, este curso Práticas Educacionais Inclusivas, foi o primeiro que cursei da área da Educação Especial. Informo que a falta de oportunidade nunca foi e nem é o motivo, ao contrário, sempre nas ofertas da Secretaria Municipal da Educação eu dava prioridades a outros tipos de cursos por de repente acreditar e minimizar a Inclusão apenas ao fato de aceitar o aluno e dar atividades adaptadas. Hoje sei que não é exclusivamente isso. Incluir não é somente aceitar a presença de alunos com e sem laudo, mas precisamente acreditar que o que temos em comum é que somos diferentes, que não aprendemos ao mesmo tempo e que não temos as mesmas habilidades. São essas diferenças que nos une e nos complementa. Nossa tutora, ao conduzir com excelência a turma 7, exercitou a teoria estudada, evidenciando ao grupo por meio de bate-papo, correio e fórum o respeito a cada integrante na sua individualidade, nos fazendo capazes de manipular com segurança o ambiente 81 TelEduc e principalmente executar as tarefas propostas. Creio que se ela não tivesse tido essa postura contextualizada a teoria, hoje eu não estaria fazendo este relato. Aproveito o espaço e registro aqui para as professoras Vera, Sandra e em especial Kátia, meus agradecimentos pela oportunidade, aprendizado, paciência e disposição em compartilhar seus conhecimentos e experiências. Também registro minhas desculpas pela falta de pontualidade em algumas situações e perdão pelos meus equívocos. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo. Amparada na teoria da Psicologia Histórico-Cultural, as leituras e as interações me fizeram estar numa zona de desenvolvimento proximal. As citações do módulo 3, especificamente no texto Projeto Político Pedagógico na Perspectiva da Educação Inclusiva, evidenciam tal sensação: “A inclusão escolar só se efetivará com qualidade, se medidas administrativas e pedagógicas forem tomadas pela equipe gestora do sistema e da escola. ” ,“Os diretores escolares são peças-chaves no contexto sociopolítico para garantir a implementação de uma escola inclusiva.” e “ (...) que o diretor seja um membro de apoio com a qual professores, funcionários, alunos e comunidade possam efetivamente contar.”. Tais afirmações me fizeram (re)pensar numa ótica que causou-me certo estranhamento, talvez por atribuir de forma camuflada, que eu mesmo não fazia a inclusão do diretor nesse processo de inclusão escolar, transferindo diretamente de forma única e exclusiva a responsabilidade da prática da inclusão para nós professores, o que é um equívoco. Os Estilos de Aprendizagem, a Tecnologia Assistiva, a Flexibilização Curricular e o Ensino Colaborativo foram conceitos novos, desconhecidos, mas que fragmentos da sua essência já se faziam presente na minha prática, por sempre buscar conforto e orientação de ações pedagógicas nas colegas especialistas da Sala de Recurso. Uma espécie de fazer, mas sem saber o que fazia. Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora. Aqui dentro sempre. 82 Lendo e refletindo os conceitos abordados no texto “Fundamentos para uma educação na diversidade” endosso que a retomada de certos conceitos deve ser frequente no cotidiano escolar, metaforicamente como uma onda... Como uma onda no mar. É aquela questão de que o óbvio tem que ser dito sempre, e principalmente quando nós professores, de forma imperceptível, demarcamos as possibilidades de desenvolvimento com o uso de atividades que sinalizam mais as impossibilidades dos que as possibilidades dos alunos. Quando o texto oferece como exemplo as exposições estereotipadas de culturas diferentes, o autor evidencia com clareza a realidade das escolas. É intrigante falar sobre a diversidade cultural uma vez que somos genuinamente oriundos de uma cultura multirracional! O que temos em comum é o fato de sermos diferentes e essas diferenças envolvem vários aspectos: social, intelectual, físico, afetivo e também profissional. Como uma onda no mar. A Ética tratada em um dos módulos fortaleceu uma opinião particular de que ela não é algo que pode ser ensinado, nem aprendido. Ela apenas é mostrada no comportamento humano, na interação e principalmente na compreensão, sendo papel da escola confiar na capacidade que qualquer ser humano aprende, sem limites. Como uma onda no mar. O documentário Pipas no Ar me encantou! O tratamento com o tema Sexualidade escancarou a necessidade da Orientação Sexual na escola deixar de ser "apaga fogo", a fim de elaborarmos de fato um compromisso com um projeto envolvendo o tema, o que eu nunca havia feito até então. Ao refletir sobre a Alfabetização e a Criatividade no módulo 5, impulsionou a pensar sobre a minha prática diária. Cagliari é eficaz ao afirmar que o melhor método de trabalho deve vir da experiência baseada em conhecimentos sólidos e profundos. Quantas vezes me perguntei: será que tais intervenções são adequadas para que este aluno avance? Para responder busquei e ainda busco nas Literaturas, nas trocas de experiências e nas Tecnologias possibilidades e de repente... insight! Ainda não exercitei o desafio da concentração de dez minutos diários para revigorar o corpo e a 83 mente - uma espécie de matéria prima para a Criatividade. Resta-me experimentar a dica para extrair mais insights. Tentarei, pois lecionar num mundo cercado de Tecnologias e Informação usar e abusar da Criatividade no ofício de professor é um dos pré-requisitos fundamentais, desde o plano de aula mental ao executável. Enfim, foram semanas de muitas leituras, reflexão, trabalho, trocas de experiências e emails e “terapias pedagógicas” via bate-papo. Reconheço, respeito e agradeço profundamente nosso grupo pelo crescimento profissional que tive(mos). Desta oportunidade, como dizia Paulo Freire, “Transformei meu espaço pedagógico em um texto, para ser constantemente lido, interpretado, escrito e reescrito”. Eis aqui parte desta (re) leitura. E para não perder o “fio da meada”, ops, da música testifico, Nada do que foi será. De novo do jeito que já foi um dia. 84 Relato de Experiência Adriane Aparecida Carneiro de Jesus15 O curso realizado foi de fundamental importância para a minha prática pedagógica. Como coordenadora pedagógica da escola, sempre procuro buscar conhecimentos que possam, além de auxiliar a minha prática, contribuir com a de meus colegas. A inclusão educacional é um tema que gosto muito, pois acredito que, enquanto educadores podemos contribuir para que ela de fato, aconteça. Já fiz alguns cursos voltados a essa temática, porém destaco que o Curso Práticas Inclusivas foi um dos melhores que realizei. Merece destaque os textos trabalhados, pois trazem informações de modo resumido e de fácil compreensão, com sugestões que podem ser utilizadas na pratica cotidiana. Foi importante conhecermos as diferentes concepções da inclusão, no decorrer da história, sobre o modo como eram vistos as pessoas com deficiência. Pode-se perceber que, felizmente houve avanços nesse sentido, porém há longas batalhas pela frente, porque incluir não significa somente garantir o acesso do aluno com necessidade especial na escola. Os outros textos lidos foram ricos em conteúdos, destaco o texto Projeto Político Pedagógico na perspectiva da educação inclusiva, quando cita a figura do diretor como imprescindível ao processo da inclusão, “É importante também que o diretor apresente conhecimentos e habilidades que favoreçam a integração, a aceitação e o sucesso de estudantes com deficiência em classes comuns de escolas regulares.” E ainda: Para uma inclusão ser bem sucedida, primeiro e antes de tudo, tanto professores quanto diretores devem mostrar confiança e atitude positiva frente ao princípio do atendimento educacional sistematizado, planejado e registrado em relação à diversidade presente na escola. Outro texto que considerei excelente foi “Avaliação Educacional: Bases para o ___________________________________ 85 15Coordenadora Pedagógica- Castro/PR Planejamento de Procedimentos de Ensino e Ensino colaborativo”, que nos fez refletir sobre a avaliação, os métodos utilizados e a importância de conhecer o aluno. Em relação ao ensino colaborativo, foi importante discutir sobre as parcerias que podem ser estabelecidas, entre o professor da classe regular e o professor da Sala de Recursos, entre a direção, coordenação, professor da sala de apoio e demais profissionais da escola que podem favorecer no processo da inclusão. O texto traz sugestões até mesmo em relação aos agrupamentos na sala de aula, com sugestões de atividades/dinâmicas a serem utilizadas. Em relação ao texto Tecnologias Assistidas, pudemos conhecer sobre alguns recursos possíveis de serem utilizados com alunos surdos, com deficiência visual e deficiência física. Não temos, no momento, alunos com essas deficiências na escola, mas é importante conhecermos sobre tais recursos. Quanto ao texto “Reflexões sobre a Alfabetização: Conhecimento e Desafios para a Introdução ao Mundo Letrado” repassei as sugestões apresentadas no texto às professoras alfabetizadoras que gostaram das mesmas. Outro texto que merece destaque é “A Criatividade e a Ludicidade nas Práticas Pedagógicas Inclusivas”. Visto que explorar recursos diferentes, jogos, atividades que façam com que a aprendizagem se torne prazerosa é de fundamental importância, não somente para os alunos com deficiência intelectual, todos gostam muito, como confirmado durante a atividade realizada na sala de aula. Além desses e de outros textos lidos durante o curso, é importante destacar os bate-papos realizados, pois através destes tive a oportunidade de interagir com educadores de diferentes locais, mediados pela tutora, que sempre estava instigando e levando-nos a refletir. As atividades que constam no portfólio também foram interessantes, na escola discutíamos sobre as mesmas (mais duas professoras estavam realizando o curso), as elaborávamos e aplicávamos, em seguida conversávamos sobre os resultados. A participação no fórum possibilitou a reflexão a respeito de algumas situações que ocorrem no meio escolar, foi importante verificar o que alguns colegas pensavam a respeito de situações e ler o relato de algumas práticas realizadas. 86 Como citado no inicio do texto, acredito que importantes passos já foram dados na educação inclusiva, mas ainda há uma longa trajetória pela frente. Cursos como esse, favorecem a reflexão e fortalecem a nossa prática. Como educadores precisamos sempre procurar maneiras de tornar o ensino alcançável aos alunos, respeitando as diferenças, considerando a singularidade de cada aluno, pois, como sabemos, a educação é um direito de todos e todo aluno pode aprender, mesmo que, em tempos, ritmos diferentes. 87 Relato de Experiência Jaiza Helena Moisés Fernandes16 O Curso Práticas Inclusivas - Deficiência Intelectual me proporcionou grandes aprendizagens por meio de leituras produtivas e trocas de experiências com meus pares. As realidades envolvidas nessa experiência foram as mais diversas, pois participaram do curso pessoas de norte ao sul do país; daí a grande importância da realização de um curso a distância e a riqueza de conhecimentos teóricos e práticos que ele pode nos oferecer. Nesse curso tive o prazer de conhecer professoras bastante comprometidas com sua profissão procurando dar o melhor de si para mudar a realidade da educação de nosso país a partir de sua própria prática e contribuir de forma decisiva para o processo inclusivo. Ademais, me identifiquei muito com algumas cursistas, como por exemplo, Cecília, Denise, Olívia, Karine e tantas outras que não me recordo o nome agora. Obrigada, também a vocês Vilma e Silva pelo sucesso na condução do curso, sem vocês ele, certamente, não teria acontecido. _____________________________ 16Professora de Ensino Fundamental - Fortaleza/CE 88 Relato de Experiência Maria Antônia Almeida17 O tema inclusão vem sendo cada vez mais discutido, e ganhando destaque em nossa sociedade. O Brasil estabeleceu compromisso com a Declaração de Sala manca, fruto também do trabalho da UNESCO com o fim de estabelecer uma diretriz comum para a inserção da criança com necessidades especiais. Visando a necessidade de buscar alternativas para trabalhar com os alunos de inclusão, o sistema educacional está a todo o momento oferecendo ao corpo docente cursos de formação, buscando com isso, capacitar os professores e tirar as crianças deficientes do anonimato. Mudar a concepção que uma criança com deficiência não é capaz de aprender, participar e viver em sociedade. Hoje, segundo relatos e experiências concretas, já que temos vários casos de alunos com deficiências no ambiente escolar, podemos conviver e aprender muito com eles, pois são crianças como qualquer outra, apenas com dificuldades. O processo educacional vem melhorando muito a esse respeito, mas é preciso investir mais e adaptar as escolas para oferecer uma educação adequada. O processo é lento, mas não podemos desistir. Entretanto, o curso de inclusão foi um aprendizado muito valioso, embora já tivesse um pouco de conhecimento sobre o assunto, é sempre produtivo buscar novas metodologias. Pude conhecer o acervo de material riquíssimo que já existe sobre inclusão, pena que estão longe das escolas. O curso foi muito bem trabalhado, cada módulo poderíamos interagir com os colegas e trocar experiências. No início fiquei um pouco perdida, mas depois foi tudo muito bem e cada vez mais me envolvi com o curso, e tendo a certeza que é preciso sempre buscar, pois os alunos de inclusão estão juntos de nós. Não podemos cruzar os braços e ignorar a realidade. É importante lembrar que os alunos com deficiência vêm para a escola para aprender interagir e não ficar isolado, como o diferente. Nesse aspecto, as escolas ainda estão bem longe do ideal, mas acho que o primeiro passo já foi dado, agora é caminhar. Os dirigentes educacionais devem focar primeiramente, no preparo dos ___________________________________ 17Professora de Ensino Fundamental - Piracaia/SP 89 professores, para depois poder passar isso aos alunos. O ser humano está em constantes mudanças, mas é preciso querer. Hoje no final do curso, já consigo conviver e trabalhar com os alunos com deficiências de maneira natural, lembrando que são alunos que precisam de uma atenção especial. E não podemos esquecer a autoestima do aluno, se ele sempre for ficando de lado poderá vir a ter vários problemas psicológicos, além da sua deficiência. Nós professores precisamos rever nossas atitudes e nos colocar no lugar do aluno, só assim podemos entendê-los e trabalharmos de forma diferenciada. Lembrando que podemos conviver com as pessoas deficiências em todo lugar, famílias, trabalho, escola, parques, clubes e etc., por isso é preciso mudar a mentalidade e se preparar para os novos desafios que estão por vir. Hoje o mercado de trabalho já abriu um grande espaço, para as pessoas que possuem alguma deficiência, aliás, há uma cota reserva que garante o direito da pessoa deficiente no mercado de trabalho. Por fim, penso que venham os alunos com deficiência, pois estamos aqui para dar o melhor do melhor e convivermos de maneira harmoniosa e produtiva. Meus colegas e eu vamos nos preparar de forma significativa e unirmos para o grande desafio: “Inclusão, não vamos temer e sim nos unir”. Hoje no final do curso me sinto mais segura e confiante para trabalhar com os alunos de inclusão. 90 Relato de Experiência Olívia de Castro Oliveira Bento18 Primeiramente, pontuo que o Curso foi fundamental em minha prática pedagógica, foi direcionador e orientador na implementação da Estratégia do Ensino Colaborativo em minha Escola (Juiz de Fora/ MG). Neste contexto enfatizo que os aspectos etiológicos, conceituais, históricos e legais da Educação Especial apresentados durante o Curso, orientou a busca de elementos para elucidar o conflito vivenciado pela Escola. Desta forma registro a chegada da Letícia. Ao receber Letícia (três anos de idade, tem Deficiência Visual, nasceu com ausência do Globo ocular) a escola compreendeu que precisava de um professor para acompanhá-la devida às necessidades da aluna. A Letícia está matriculada na sala da Creche com 15 alunos, também com três anos, um percentual considerável pelas especificidades dos alunos. Dentro deste contexto, a Secretaria de Educação comunicou que precisava de alguns dias para contratar a Professora Colaborativa. A Escola na sua autonomia procurou resolver momentaneamente, a situação da aluna. Diante das possibilidades, promoveu um estudo reflexivo com toda equipe escolar. Tínhamos as seguintes possibilidades. Uma delas seria contar com o apoio da mãe dentro da escola para auxiliar a aluna. E a outra, baseada na Linha Colaborativa e na Perspectiva Inclusiva. É importante ressaltar que diante da escolha, em hipótese alguma, a Escola desconstruiu um trabalho inclusivo e nem "Fechou a porta para a comunidade". A base teórica que acompanhou a escolha apontava para o Ensino Colaborativo: "[...] As trocas enriquecem o nosso trabalho, dão-nos confiança e principalmente, a condição de sermos atores de nossa própria prática, mas não de forma isolada e solitária, e sim, de uma forma colaborativa com companheirismo". E foi dentro desta linha de raciocínio que a escola trabalhou e mobilizou toda a equipe escolar para atuar com a aluna. Cada professor, funcionário e direção tinham o ___________________________ 18Professora de Recurso (de apoio) - Santos Dumont/MG 91 seu dia para colaborar com a sala da Letícia. O trabalho em equipe aproximou os professores, os funcionários e a direção, ambos tinham as mesmas responsabilidades, envolvidos diante dos mesmos desafios e das mesmas decisões. O caminho foi percorrido com sucesso e no mês de abril a professora colaborativa foi contratada. As ações e atividades realizadas na sala do AEE foram pautadas em articulação entre a sala regular, contexto escolar, familiar e Área Clínica. Busquei informações no curso e fundamentei a minha proposta que foi estudada pelo coletivo da escola e consolidada na prática. 92 Relato de Experiência Marina Batista Santos de Carvalho19 Participar do curso foi muito importante para mim, pois foi como se eu tivesse vencido a batalha da informática. Desde meu primeiro acesso não encontrei nenhuma dificuldade e naveguei em todos os ambientes somente com as instruções dadas. Comecei gostando do texto “Administrar o tempo é planejar a vida”, pois já me organizava, mas agora sei organizar e priorizar ações. Fazer um curso sobre inclusão é simplesmente estar ciente e poder usar a lei para obter garantia do direito à educação mesmo que tenha um percurso longo devido às dificuldades. Pelo que sabemos da história, pessoas com deficiências sofreram injustiças, abandonos e até assassinatos por terem nascido com deficiência. Há a necessidade de uma escola inclusiva, cidadã, solidária e de qualidade social para todas as crianças, inclusive as crianças com alguma necessidade especial. Nós professores precisamos de formação para que possamos refletir pedagogicamente. Visto que a capacitação de profissionais garantirá que haja uma transformação e a escola comece a realmente cumprir com o seu papel. Na execução do Projeto Político Pedagógico o planejamento precisa ser coletivo e o currículo bem definido para que seja inclusivo. Não podemos esquecer que a avaliação precisa fazer parte do cotidiano escolar, pois será através da avaliação que os objetivos propostos serão concretizados ou replanejados. Pude compreender também, que a EDUCAÇÃO SEXUAL é um processo amplo, social e cultural e que é muito importante que haja orientação clara para que o aluno não busque informações em lugares ou com pessoas não confiáveis. Todos têm o direito de viver a sexualidade e receber esclarecimentos para que possa viver sem riscos de adquirir doenças ou gravidez indesejada. Eu não sabia que a Tecnologia Assistiva tão necessária nas escolas oferecia ___________________________________ 19Professora de Ensino Fundamental - São Paulo/SP 93 tantos recursos para o desenvolvimento educacional de pessoas com deficiências e fiquei emocionada de ver tantos avanços, mas também triste por nunca ter encontrado nenhum desses recursos nas escolas que trabalhei e trabalho. Por fim, os textos sobre Criatividade, uma palavrinha tão necessária na prática do professor, essa criatividade que nos proporciona bons resultados em determinadas atividades. Concluo minha reflexão grata pelas leituras escolhidas, pelos vídeos, e por todo o material de muito bom gosto e competência. 94 Relato de Experiência Cecília Nogueira Siqueira Pereira20 Este curso foi praticamente o primeiro a distância que participei e tudo foi cumprido como foi proposto no início, professores sempre presentes atendendo a tudo e a todas as alunas. O conteúdo foi maravilhoso, muito pertinente à nossa realidade e a cada novo módulo os assuntos foram sendo apresentados e nos levavam a reflexões profundas sobre nossa prática, sobre a inclusão e também fornecendo subsídios para multiplicarmos nossos conhecimentos. "Práticas educativas" conseguiu abordar uma grande visão global do que temos no dia a dia da inclusão: conceitos, histórico, planejamento, gestão, colaboração, família, comportamentos, avaliação, tecnologia, criatividade, vínculos afetivos, e até o cuidado que devemos ter conosco. Gostaria de poder participar de outro curso tão bem elaborado como este. Também gostaria de poder manter contato para ainda tirar dúvidas ou conseguir algum material, pois gostaria de me aprofundar um pouco mais em algumas referências que vocês indicaram. Por fim, aprendi muito, cresci nas minhas concepções sobre inclusão e com certeza tudo isto está cada dia influenciando positivamente neste processo histórico da inclusão do qual estou participando. ___________________________ 20Professora de Educação Infantil - São Paulo/SP 95 Relato de Experiência Ana Cristina Brito da Costa A princípio todo o trabalho de tutoria parece ser complicado e já supõe desafios a serem superados, visto que, sendo EAD, os cursistas nos terão como referencial e apoio principal. Esse desafio foi vencido com aprendizagem, extrema dedicação e empenho principalmente por não ter, a princípio, o conhecimento adequado sobre a educação inclusiva e tudo o que a envolve. Hoje, não digo que sou expert sobre o assunto, mas compartilho de todo o conhecimento adquirido, pois minha contribuição não se limitou na tutoria à distância, mas também no cotidiano escolar (a escola onde trabalho atualmente é polo de Educação Especial) sendo na consciência, sendo no despertar desse conhecimento e dessa consciência inclusiva em outros tempos tão desprezados, e hoje, humanizados nas diferentes áreas do conhecimento. Minhas turmas sempre foram ótimas, participativas, tive o privilégio de resgatar alguns alunos que queriam desistir no meio do caminho e puderam me agradecer posteriormente. Enfim, houve crescimento profissional e pessoal ter a oportunidade de vivenciar e compartilhar dessa educação “tão especial” para o nosso tempo. 96 Relato de Experiência Silvia Cavalcante Vicentin21 Estudar a distância não é necessariamente tão diferente de estudar presencialmente. Se pensarmos no tratamento cognitivo da informação ou no significado que esta deve ter para cada pessoa, podemos pensar na transformação do conhecimento em experiência, aprendizagem ou competência, dependendo da maneira como esta informação é transmitida e adquirida pelo indivíduo. Mas, sabemos, a aprendizagem é algo muito maior que simplesmente “armazenar informações”, ela depende de alguns fatores, a saber: motivação, organização, generalização, entre outros, e neste aspecto começamos a nos aproximar mais daquilo que iremos entender por Educação a Distância e nos afastarmos dos métodos presenciais. De acordo com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), “A educação a distância é caracterizada por um processo de ensino e aprendizagem realizado com mediação docente e a utilização de recursos didáticos sistematicamente organizados apresentados em diferentes suportes tecnológicos de informação e comunicação, os quais podem ser utilizados de forma isolada ou combinadamente, sem a frequência obrigatória de alunos e professores nos termos do art. 47, § 3º, da Lei de Diretrizes e Bases”. O mesmo órgão ressalta que esta modalidade de ensino necessita ter momentos presenciais, que podem ser avaliações dos alunos, estágios (quando previstos na legislação), defesa de trabalhos de conclusão de curso (também se previstos em legislação) e atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso. A Educação a Distância (EAD), se diferencia nos modos de organizar os tempos e espaços de aprendizagem em relação ao ensino presencial e demanda interação via comunicação digital entre professo e aluno. Portanto, o espaço físico torna-se _____________________________________________________ 21Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Unesp Bauru. Atualmente psicóloga da Prefeitura Municipal de Londrina. Tutora UAB, convênio MEC- Unesp. 97 secundário neste processo. A Educação a Distância (EAD) teve início a partir do ensino por correspondência na Alemanha, envolvendo os professores Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt (Cortelazzo, 2011). Em seguida, a modalidade foi se difundindo na Grã-Bretanha, Estados Unidos, Japão, e incluía desde cursos preparatórios para provas secundárias, concursos, até o ensino superior. Este desenvolvimento da EAD acompanhou também o movimento sócio-econômico mundial e foi se expandido para países como China, Noruega, Austrália, por exemplo, até chegar ao Brasil. Atualmente, a Turquia sedia a maior universidade a distância do mundo. No Brasil, os registros são de que a Educação a Distância tenha iniciado com cursos de correspondências, a exemplo de um curso profissionalizante de datilografia do Jornal do Brasil em 1891 (Maia e Matar, 2007). Em 1904 seriam iniciados cursos de espanhol por correspondência, oferecidos por instituições privadas, até que, em 1941, o Instituto Universal Brasileiro, que ficou mais popularizado no Brasil, começou suas atividades oferecendo cursos profissionais nas áreas técnicas. Em 1970, a Fundação Roberto Marinho iniciou o programa de educação supletiva a distância para primeiro e segundo grau, no modelo que era conhecido por “teleeducação” ou “tele-curso”, o que foi uma novidade para o sistema televisivo. Este sistema utilizava livros, vídeos e transmissão por TV. Apesar de toda esta trajetória, o Ministério da Educação só incluiu a EAD na legislação em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), estando hoje à modalidade à distância mais consolidada em nosso país no ensino superior. Nesta modalidade de ensino o aluno está em contato com as chamadas webaulas e toda sua interação é via computador, mesmo no momento de presença nos pólos, onde o professor está atrás de um telão. Isso pode limitar um pouco a socialização e desenvolvimento do aluno neste aspecto, se o mesmo não entender a necessidade de utilizar ferramentas de comunicação menos convencionais às que está 98 acostumado, através dos meios que as ciências da computação e as telecomunicações nos apresentam. O aluno pode então se comunicar “em tempo real”, a uma velocidade nunca antes imaginada, bem diferente de esperar “a aula da semana que vem” para tirar uma dúvida ou compartilhar algum material com o professor, como se dá no ensino presencial. É a oportunidade de contato com sons, imagens, dados diversos, correção automática, aprendizagem que respeita o ritmo individual, prática simulada, possibilidade de interação com diferentes “atores” em qualquer lugar do mundo, enfim, um mundo de possibilidades que o aluno deverá se adaptar e entender para, pouco a pouco, assimilar o conteúdo. As atividades podem incluir aspectos práticos e teóricos, individuais e em grupo, e neste último caso, necessitam um estreito nível de comunicação, já que, ainda que, grupal, acontecem entre indivíduos situados em diferentes localidades, com diferentes tecnologias, em tempos diversos. Esta confluência pode demandar esforços, paciência e habilidade em comunicação dos envolvidos, além de agilidade, já que há sempre prazos a serem cumpridos. Por isso, a motivação do aluno de Educação a Distância é peça chave para o desenvolvimento positivo do mesmo qualquer que seja a atividade que se proponha a realizar nesta modalidade. Ainda há muitos equívocos quanto ao EAD, e entendimento que seja uma modalidade mais “fácil” de ser cursada, surpreendendo muitas pessoas que às vezes acabam por desistir quando se deparam com o nível de disciplina e organização que a modalidade a distância exige de seus alunos. A atuação do professor na Educação a Distância por vezes diferencia-se do ensino presencial e, por vezes, aproxima-se dele. Comumente, um curso à distância envolve o chamado “professor conteudista” (que pesquisa e utiliza de seus conhecimentos para a produção dos materiais teóricos do curso), o professor formador (aquele que ministra as web-aulas ou aulas presenciais, quando é o caso) e o “tutor de educação a distância” (profissional preparado para mediar a relação entre aluno-conteúdo-professor). Vamos nos concentrar aqui mais na figura do tutor, já que este capítulo trata da experiência desta autora neste nível de atuação. 99 O tutor tem papel importante na Educação a Distância, já que ele garante a interrelação personalizada e contínua do estudante, articulando praticamente todos os elementos do processo a distância, entre eles: a operacionalização do ambiente virtual de aprendizagem pelo aluno; o contato entre aluno e professor formador; retorno dos emails, alimentação dos fóruns de discussão; postagens de atividades; correções de atividades (de acordo com a orientação dos professores); alimentação de planilhas de desempenho, dentre outros. Preti (2000) assevera que o tutor “é um professor mais próximo” na Educação a Distância, acompanha os estudantes, orienta seu aprendizado, sugere leituras e estimula a participação, atuando como professor e educador. Neste tópico trataremos da experiência desta autora no curso de aperfeiçoamento “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual” da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Bauru, SP. O objetivo geral do curso é a formação continuada de professores de classe comum, por meio de EAD, na área de deficiência intelectual, com enfoque nas práticas educativas inclusivas. O curso é composto por 50 turmas de professores de classe comum, de 20 alunos cada, utilizando a plataforma TelEduc, disponibilizada em parceria com o Núcleo de Educação a Distância (NEAD), com as ferramentas disponíveis. O material contém cadernos didáticos, sendo um para cada módulo, contendo: textos sobre cada tema, propostas de atividades práticas, indicações de links, vídeos e bibliografia básica. A Certificação do Curso de 180 horas em Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual, conta com o apoio do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação Especial do Estado de São Paulo, realizado como parte do "Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial". A dinâmica de desenvolvimento prevê como modalidades de atividades: - Livros temáticos: textos elaborados pelos professores pesquisadores versando sobre os conteúdos do curso. - Videoconferências: geradas no estúdio localizado no Departamento de Educação da FC/UNESP – Bauru, proferidas por docentes participantes deste projeto. 100 - Trabalho individualizado: leitura crítica dos textos, análise de vídeos e realização de tarefas orientadas pelos tutores, que são realizadas em data e hora de livre escolha dos cursistas, com prazo para devolução das mesmas. - Vivências orientadas: atividades complementares aplicadas com os próprios alunos nas salas de aulas e/ou com a comunidade escolar dos cursistas, orientadas por tutores e supervisionadas pelos professores formadores. - Narrativas: produção de textos narrativos a partir de estudos de caso e experiências realizadas. - Trabalho monitorado: realização de atividades em sessões on-line, sessões off-line e de suporte, orientadas pelo tutor e pelos professores pesquisadores. Para tal, são utilizados como recursos, a plataforma TelEduc, e-mails e batepapo, onde: - Os professores pesquisadores elaboram o material didático para os cinco módulos. - Os professores pesquisadores, com apoio de profissionais especializados em informática planejam e ministram o curso para formação e treinamento de toda a equipe. - Os tutores orientam o desenvolvimento de todas as atividades do curso junto aos cursistas. Cada módulo tem o conteúdo teórico em material escrito, através de videoconferência, além de lista de discussões, fórum, bate-papo e orientações por email. Ao término de cada módulo é proposta uma vivência orientada a ser realizada junto à própria sala de aula, com a família ou com a comunidade escolar, além de uma avaliação final com os conteúdos abordados. Em sequência a cada vivência orientada, cada cursista elabora uma narrativa relatando sua experiência no desenvolvimento da tarefa proposta. Os professores pesquisadores e formadores analisam as narrativas e fazem as devidas considerações. Tais narrativas são socializadas para os colegas da turma. Mediante este cenário, a experiência de tutoria neste curso foi bastante positiva e corroborou com o que versa a literatura. O início de um curso a distância é sempre uma novidade para o aluno, especialmente aqueles que irão ter contato com a modalidade pela primeira vez. A 101 princípio, a impressão que ficou para esta tutora é a de que o aluno tem exatamente a visão já tão apontada pelos autores da área, de que um curso à distância apresenta certa facilidade. Isso foi percebido no início do curso pelo número de participantes que somente acessaram uma vez o sistema, ou nunca acessaram, porque, em contato com outros cursistas, “ouviram dizer que o sistema era muito difícil de mexer”. Quando era realizado contato da tutora com estes alunos (que nunca acessaram ou somente acessaram uma vez), via e-mail, era a resposta que a tutora obtinha, sendo que a maioria dos cursistas nas situações descritas já havia pensado em desistir. Foi necessário mais de um contato motivando alguns cursistas a continuarem o curso, inclusive com o envio de “tutoriais” com o passo a passo para operacionalizar o sistema. Passado algum tempo, muitos deles deram retorno da importância deste contato e motivação, pois, do contrário, teriam desistido. Foi percebida que a maior dificuldade era mesmo a ambientação com o ambiente virtual de aprendizagem. Além disso, alguns cursistas desejavam obter orientações sem realizar a leitura do material, inclusive a apostila que disponibiliza os passos para acesso ao sistema, preferindo “encurtar o caminho” e receberem da tutora uma orientação mais diretiva. Também para a entrega das avaliações fez-se necessária constante lembrança, pois, atribulados com suas atividades em sala de aula (e também fora dela), alguns cursistas acabavam por perder prazos. À medida que o curso foi se desenvolvendo, foi possível perceber também o desenvolvimento dos cursistas. Não só se “familiarizaram” com o sistema, mas também traziam muitas ideias, feedbacks, questionamentos. Alguns compartilharam materiais com a tutora e com os colegas de curso e as trocas nos fóruns de discussão tomaram um rumo ascendente e positivo, tanto que, ao final do curso, muitos apontaram que sentiriam falta desta interação e troca de experiências, como uma forma de “aliviar” as tensões que os professores vivenciam em seu cotidiano escolar. Alguns cursistas apontaram a necessidade deste curso avançar, tornar-se uma especialização e outros ainda procuraram a tutora indagando acerca de novas turmas, devido intenção de colegas no curso. 102 A experiência não pode ser classificada apenas como “positiva”, seria reduzir a uma palavra um universo de chances de interação, formação e aperfeiçoamento profissional para esta autora. A cada cursista que compartilhou vivências profissionais, angústias pessoais, dúvidas, conquistas, avanços e temores, o agradecimento não seria suficiente. Sabemos que a Educação a Distância no Brasil ainda necessita avançar, assim também a cultura e credibilidade nesta modalidade, mas acreditamos que, pouco a pouco, conseguiremos alcançar tais objetivos. 103 EM TEMPOS DE INCLUSÃO É NECESSÁRIO FORMAÇÃO Kátia de Abreu Fonseca22 Luciana Apolônio Rodrigues Carneiro23 Ainda é grande o desafio da Educação Brasileira em relação à formação inicial ou continuada de professores de sala regular para atuar com alunos com algum tipo de deficiência. Especificamente na área da deficiência intelectual, a falta de formação e informação expõe a fragilidade e a insegurança dos professores que tem em suas salas de aula regular alunos com esta condição. A lacuna nos cursos de graduação voltados à educação no que tange os aspectos relacionados à Educação Especial e Inclusiva induziu ao erro a conceituação do que de fato significa deficiência intelectual, bem como as diferenças entre deficiência intelectual e necessidades educacionais especiais. Nesse universo idiossincrático da educação Glat e Blanco (2007, p.26), esclarecem os termos a partir de características singulares, Embora os termos sejam muitas vezes utilizados como sinônimos, é importante frisar que necessidades educacionais especiais não é o mesmo que deficiência. O conceito de deficiência se reporta às condições orgânicas do indivíduo, que podem resultar em uma necessidade educacional especial, porém, não obrigatoriamente. O conceito de necessidade educacional especial, por sua vez, está intimamente relacionado à interação do aluno à proposta ou realidade educativa com a qual se depara. Quanto à conceituação da deficiência intelectual, por cerca de 50 anos, este conceito carregou o termo retardo mental pela tradicional Associação Americana de Retardo Metal (AAMR). Num gesto de renovação e sintonia com os novos tempos mudou sua nomenclatura e sua sigla para Associação Americana de Incapacidades Intelectuais e do Desenvolvimento (AAIDD). __________________________________ 22Tutora da turma 07 do curso Práticas Inclusivas. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, Psicopedagoga, Pedagoga. Coordenadora da Área de Educação Especial do Departamento de Planejamento, Projetos e Pesquisas Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Bauru. 23Professora do Ensino Fundamental do Município de Bauru. Especialista em Informática na Educação e Pedagoga. 104 A Deficiência Intelectual é um termo mais preciso e moderno. [...] Nós queremos ficar longe da palavra “retardo” (ou “retardamento”) e, ao mesmo tempo, permitir que os educadores e outros profissionais descrevam acuradamente as necessidades das pessoas que eles atendem (AAIDD, 2006, p.1). Segundo a AAIDD (2006), a deficiência intelectual é caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual quanto em comportamentos adaptativos expressos em habilidades sociais, práticas e conceituais, com início antes dos 18 anos. Equívocos conceituais ainda são presentes nos discursos, registros e práticas do professor generalista. Para desmitificar a ideia de incapacidade e exclusão dos alunos com deficiência e suprir a lacuna da formação sobre o assunto é necessária a efetivação de formação aos professores, pois como Oliveira e Costa (2002, p.13) afirmam que, [...] sentimos o escorregadio da incerteza, percebemos a tonalidade da incompletude. Não há respostas fechadas quanto à dicotomia entre as perspectivas de inclusão e a manutenção das “identidades coartadas” pela exclusão diária e contumaz. Baumel e Castro (2002, p.10): [...] formar professores generalistas, face às necessidades educacionais especiais exige trabalhar os conhecimentos sobre: desenvolvimento organizacional; desenvolvimento e inovação curricular; ensino; suas concepções e práticas pedagógicas; professor e condições de profissionalidade. Tais conhecimentos devem ser articulados com conteúdos relativos às necessidades especiais. Nóvoa (1992, p.17) reforça a ideia de que “não há ensino de qualidade, nem renovação pedagógica sem uma adequada formação de professores”. Neste sentido a inquietação com a formação dos professores, apresenta-se como pedra fundamental no processo de formação do professor, tanto inicial como continuada. Esta é uma das variáveis vitais para propiciar uma mudança de mentalidade educacional, ou seja, criar uma nova perspectiva educacional que respeite e aceite as diferenças individuais. Sendo assim, a formação do professor do ensino comum, assume proeminência principal, uma vez que os professores adquiram conhecimentos básicos sobre tema educação especial e inclusiva, atrelando os conhecimentos adquiridos à prática 105 pedagógica, favorecendo o desenvolvimento e aprendizagens dos alunos com deficiências participantes da educação formal no ensino comum. Atualmente, diversas estratégias são eficazes para efetivar a formação de professores, dentre elas há a educação a distância (EaD), que será apresentada na próxima seção. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO Estudo por correspondência (Reino Unido), Estudo em casa (Estados Unidos), Estudos externos (Austrália), Télé-nseignement (França), Educación a distancia (Espanha), Istruzione a distanza (Itália), Teleducação (Portugal) e/ou Educação a Distância (Brasil). Não importa a denominação, idioma e espaço geográfico, todos as terminologias remetem a EaD - Educação a Distância. (Pretti, 2009, p. 40). Esta modalidade de ensino foi fundamentada no decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394/96) e que por meio da sua força possibilita definições e regulamentações a respeito. Art. 1º Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2494.pdfacessado em 16/06/2012) Observa-se que na literatura não existe consenso definitivo para a cronologia ou marco histórico inicial da EaD. Alguns estudiosos se apoiam no estudo por correspondência no século XVIII como o princípio dela. Segundo Pereira (2009 apud Moore e Kearsley 1996), existem três gerações de EaD, 106 Endossando essa trajetória, Costa (2007) por meio do seu artigo “Uma história da Educação a Distância”, apresenta o histórico da EaD no Brasil e no mundo, priorizando algumas experiências e programas significativos. Percebe-se que o marco inicial da EaD no Brasil foi o rádio com o Instituto Rádio Técnico Monitor em 1939 e a correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro em 1941. Com a possibilidade de se usar a televisão como um instrumento favorecedor no ensino a distância, a década de 50 incluiu este meio de comunicação surgindo o Projeto Saci, executado pelo INEP até os anos 70, a TV Educativa a partir de 1966 e o Telecurso 1° e 2° grau em 1978. No início da década de 80 e inicio das 90 o Programa Salto para o Futuro nasce pela parceria entre Fundação Roquete Pinto (TVE/RJ) e as Secretarias Estaduais de Educação. Após 1997, esse programa é incluído na programação do canal da TV Escola. Dentro destes três momentos históricos, a EaD no Ensino Superior surgiu no final dos anos 1960 na Inglaterra pela Open University. No Brasil, a Universidade de Brasília (UnB) tem sua participação em meados da década de 70 motivada pelo sucesso da Open University. Segundo Costa (2007), a Informática Educativa surgiu em abril de 1997 e foi denominada pela Secretaria de Ensino a Distância (SEED/MEC) como Programa Nacional de Informática da Educação (ProInfo). Esse programa tinha por objetivo 107 promover o uso pedagógico da informática na rede pública como ferramenta de apoio. Inicialmente o foco dos primeiros anos deu-se na capacitação de professores, posteriormente manifestou-se para os cursos de licenciatura e cursos de graduações, havendo uma ascendência nos cursos de especializações. Não há como negar que flexibilidade temporal e espacial são as principais características que a EaD agrega, sendo motivo responsável de todo o crescimento expressivo nos últimos tempos. Atualmente além do espaço conquistado pela EaD, percebe-se a conquista gradativa da credibilidade e ruptura de preconceitos perante ela. Soek e Gomes (2008 apud Pretti 2002) destaca a complexa organização estrutural da EaD, Mais complexa, às vezes, que um sistema tradicional presencial, visto que não só a preparação de material didático específico, mas também a integração de “multimeios” e a presença de especialistas nesta modalidade. O sistema de acompanhamento e avaliação requer, também um tratamento especial. Isso significa um atendimento de qualidade. Essa ruptura de tempo e espaço são as marcas que a EaD carrega, mas que de fato não é o parâmetro, e sim a intenção, a organização pedagógica e interatividade embutida nela. Metaforicamente, uma via de mão dupla. Situação oposta de quando o aluno está diante de uma receita seja em livro, rádio ou televisão. É importante ressaltar que lecionar em ambientes virtuais de aprendizagem está associado a uma organização didática não restrita aos materiais de apoio, mas sim a uma interação constante por meio de fórum, emails e chats, principalmente. Nos chats é fato a existência de “multidiálogos” e dispor de atenção e interatividade nesta ferramenta significa uma sobrecarga de informação e cautela ao tutor, a fim de não perder de vista o foco de trabalho. Ressalto a profissão “tutor” ainda não é regulamentada no Brasil. Isso faz com que cada instituição de EaD discrimine o perfil, a formação e a função desse profissional que participa ativamente dessa modalidade educacional. Outra característica é no aspecto da avaliação. O erro é tratado como objeto de análise e reformulação, pois o aluno tem a possibilidade de avaliar constantemente o próprio trabalho com ou sem o grupo, bem como, consultar e analisar produções alheias no ambiente virtual. 108 Apesar da EaD não ser algo novo, o uso das NTICs (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) trouxe uma nova forma de pensar e agir, afinal a escola não pode andar na contramão do tempo. Arruda (2004) destaca na sua obra as inovações tecnológicas na escola, desde a entrada das máquinas no ambiente escolar à terminologia NTICs. Relata que a função principal do computador em décadas atrás era a de calcular dados matemáticos. Com a evolução, a criação de ambientes gráficos fez emergir e aglutinar uma série de funções ao computador, passando ele então a ser utilizado para diversas finalidades e áreas de conhecimento. O termo NTICs surgiu para definir a introdução das inovações microeletrônica e/ou telemáticas - movimento denominado por Terceira Revolução Industrial. Percebe-se que essa nova tecnologia provocou mudanças nas práticas e concepção docente, desde sentimentos de resistência e aceitação. Não basta apenas inserir as novas tecnologias no cotidiano escolar; as escolas necessitam ter um projeto político pedagógico, em que os professores (...) sempre estejam repesando a sua prática pedagógica e acompanhando a tecnologia educacional. (Arruda, 2004, p. 80, apud Mercado, 1999, p. 16) EaD E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL O fato da escola não poder ignorar a “Era da Digitalização”, muitas ofertas de formação surgiram e uma delas, pontualmente tratada neste artigo, é o curso Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual oferecido pela UNESP/ Bauru, sob a orientação da Professora Doutora Vera Lucia Messias Fialho Capellini, docente da UNESP. Especificamente na turma sete, participaram 27 professores cursistas, do curso de aperfeiçoamento a distância em Práticas Educacionais Inclusivas na área da Deficiência Intelectual, 180 horas, cujo objetivo é a formação continuada de professores de classe comum, na área de deficiência intelectual, com enfoque nas práticas educativas inclusivas. Todos os participantes são professores do sexo feminino com idade entre 27 a 109 59 anos, a maioria com ensino superior completo na área da educação, sendo que apenas uma está em plena formação inicial. As participantes são provenientes de várias regiões do Brasil, atuantes em escolas públicas, no primeiro ciclo do ensino fundamental – séries iniciais, segundo ciclo, Educação Infantil, vice-diretores, coordenadores, professores da Educação Especial, professores de Educação Física. Este curso fez uso do ambiente TelEduc, desenvolvido no Nied (Núcleo de Informática Aplicada a Educação) sob a orientação da Prof. Dra. Heloísa Vieira da Rocha do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a partir de uma metodologia de formação de professores construída com base na análise das várias experiências presenciais realizadas pelos profissionais do núcleo. O ambiente é parte integrante da dissertação de mestrado "Formação a Distância de Recursos Humanos para Informática Educativa" de autoria de Alessandra de Dutra e Cerceau. Por meio de uma proposta curricular calculada em 180 horas de estudo e interação, os alunos acessavam semanalmente a plataforma TelEduc, a fim de interarse dos cadernos de leituras com os conteúdos das disciplinas e textos de apoio. Ao longo do curso os alunos interagiam com os formadores e integrantes utilizando as ferramentas: correio (e-mail), fóruns e bate-papos. A existência de atividades práticas acontecia em todas as disciplinas sendo motivo de relatos e armazenamento no Portfólio - ferramenta do ambiente virtual de aprendizagem disponibilizada na forma coletiva e individual. Os chats, mais conhecido como bate-papo foi a ferramenta de maior exploração para a interatividade grupal. Membros de todos os espaços geográficos brasileiros se encontravam semanalmente com a mesma finalidade: discutir o assunto e/ou tema da semana. Nessas discussões, originaram-se as reflexões, os equívocos, as trocas de experiências e principalmente algo que jamais todas integrantes esperavam: o vínculo afetivo. Quem pudera imaginar que na era da virtualidade laços de amizade pudessem ser construídos exclusivamente via teclado? A interação virtual deu-se de forma tão positiva que podemos nos valer das considerações de Madalena Freire (2007, p.24), definindo grupo, 110 Um grupo se constrói no espaço heterogêneo das diferenças entre cada participante: da timidez de um, do afobamento do outro; da serenidade de um, da explosão do outro; do pânico velado de um, da sensatez do outro; da seriedade desconfiada de um, da ousadia do risco do outro; da mudez de um, da tagarelice de outro; do riso fechado de um, gargalhada debochada do outro; dos olhos miúdos de um, dos olhos esbugalhados do outro; de lividez do rosto de um, do encarnado do rosto do outro. Um grupo se constrói enfrentando o medo que o diferente, o novo provoca, educando o risco de ousar. Um grupo se constrói não na água estagnada do abafamento das explosões, dos conflitos, no medo em causar rupturas. Um grupo se constrói, construindo o vinculo com a autoridade e entre iguais. Um grupo se constrói na cumplicidade do riso, da raiva, do choro, do medo, do ódio, da felicidade e do prazer à vida de um grupo tem vários sabores. INDO ALÉM DO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM Com o real envolvimento dos participantes do curso, a continuidade das discussões acerca do tema Práticas Educacionais Inclusivas foram migradas inicialmente para a rede social Facebook, conforme sugestão das alunas. Isso possibilitou o não afastamento entre as cursistas que após o término do curso virtual compartilharam neste ambiente experiências, indicações de livros, vídeos, blogs, músicas e informações gerais sobre assuntos diversos relacionados a educação especial e inclusiva. Figura 1: Imagem do grupo Práticas Educacionais Inclusivas – turma 7 Fonte: Disponível em<https://www.facebook.com/groups/160990277363888/> .Acesso em 06 jul 2012 111 Entretanto, nesta rede social constatou-se uma possível limitação para os anseios do grupo, que fortalecidos na temática do curso optou para a criação de um grupo de estudo virtual utilizando como ambiente a ferramenta BLOG. Assim surge o GEVIPEI (Grupo de Estudo Virtual Práticas Educacionais Inclusivas) na intenção de incluir todos aqueles dispostos a contribuir com estudos e discussões que envolvem a educação especial/inclusiva e práticas pedagógicas. Figura 2: Imgem do GEVIEPI – Grupo de Estudos Virtual – Práticas Educacionais Inclusivas Fonte: Disponível em: <http://gevipei.blogspot.com.br>. Acesso em 06 jul de 2012 Até o presente momento o ambiente gevipei.blogspot.com.br comporta todas as necessidades do grupo. Espera-se que as experiências online advindas desse espaço possam navegar a outros mares, seja no campo científico, pedagógico e social. O lance é navegar... 112 ”Um barco que veleje nesse infomar Que aproveite a vazante da infomaré Que leve meu e-mail até Calcutá Depois de um hot-link Num site de Helsinque para abastecer.” (Música: Pela Internet, Gilberto Gil) 113 REFERÊNCIAS BALL, S. J. Performatividade, Privatização e o pós-estado do bem-estar. Campinas: Educação & Sociedade, 2004. BRASIL. Constituição Federal. Senado Federal, Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto. gov.br. Acesso em: 02 jul. 2011. BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. BRASIL. Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2o do Art. 36 e os Arts. 39 a 42 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Congresso Nacional, 1997. BRASIL. 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