Música no Brasil - século XIX
História do Brasil Independente I
Marcos Napolitano
Música no séc. XIX – Proposições
gerais
• Diferente de outras artes, como a literatura e as belas artes, o
projeto civilizatório e a afirmação da uma cultura oficial na música
foi mais contraditório, tensionado por sonoridades e sociabilidades
não institucionalizadas ou limitadas às elites(“boa sociedade”).
Neste sentido, a polca pode ser considerada uma mediação cultural
no II Império, “agente promíscuo” que desafia a exclusão das
classes populares.
• “Sociabilidade musical de rua” reunia os estamentos em um mesmo
espaço social ou evento híbrido (exemplo, a festa religiosa, com
ares profanos). No século XIX há um esforço em separar a
sociabilidade musical elite (salão, concerto) / povo (rua, clubes
populares, “Festa da Penha-RJ”).
• Ainda não havia público burguês amplo e estável para sustentar um
sistema de música erudita.
Música na corte joanina
• Música sacra e de corte – Inovações no período
Joanino (ver Maurício Monteiro – A construção
do gosto...) – José Maurício Nunes Garcia, Marcos
Portugal, Sigismund Neukomm (discípulo
predileto de Haydn, ver LANZELLOTE, Rosana.
Música secreta – minha viagem ao Brasil,
Arteensaio, 2009), cultura musical vienense
(classicista) final séc. XVIII- (Ver Tia de Nora e
Norbert Elias).
• Instrumento central: cravo.
Lundu e Modinha
• Laicização da vida musical começa a se ampliar
depois da Independência.
• Lundu e Modinha – “gêneros” considerados
fundadores de uma brasilidade musical (Bruno
Kiefer, Renato Almeida).
• Importância das fontes legadas pelos “viajantes”
(KIEFER, Ana Maria. Apontamentos musicais dos
viajantes, Revista USP, 30, 1996)
• Modinhas imperiais (ver Mario de Andrade) =
música de salão, “italianizada”
Música no Segundo Reinado
• Polca – entra no Brasil por volta de 1844-46,
via Rio de Janeiro (ver biografia de Maria
Baderna, dançarina italiana).
• “Pianomania” a partir da década de 1850 –
ver Alencastro, Luiz F. História da Vida Privada
no Brasil, vol. II)
• Ópera + Vida musical baseada no concerto
sinfônico: entraram no Brasil por volta de
1860.
Choro e Maxixe
• Trio “Pau e corda” (flauta, violão, cavaquinho) –
maneira diferente de tocar Polca, surgida por
volta de 1870 na Cidade Nova, Rio de Janeiro.
• Características: Síncopa (deslocamento do tempo
forte do compasso) e improviso (tocar sem
partitura, “de ouvido” - forma de performance
musical popular).
• Maxixe – década de 1880, dança de “bas-fond”.
Espaços, sociabilidades e instituições
• Irmandades religiosas (séc.XVIII) e grupos musicais
“Lira Sanjoanense” em Diamantina –
• Capela Real (1808) e Capela Imperial (1822) –
Instituições da Corte
• Sociedade Beneficiência Musical (1833) – Francisco
Manuel da Silva
• Sociedade Filarmônica (1834) – trechos de óperas
• Conservatório de Música (1848) - (Francisco Manuel
da Silva) – esboço de uma vida musical culta e
independente entre 1840-1860
• Sociedade dos concerto clássicos (1863)
Espaços, sociabilidades e instituições
• Clube Mozart (1867) – lugar de audição e sociabilidade
musical – Frequentado por Viriato, Ernesto Nazareth,
Henrique Osvald, Carlos Gomes, Francisco Braga,
Henrique Mesquita
• Clube Beethoven (1882 – 1899) - tem como
bibliotecário Machado de Assis – música como evento
público e comercial (concerto pago, via cotização).
• Clubes de “periferia” – São Cristovão, Rio Comprido.
• Fazenda Real Santa Cruz – (SANTOS, Antonio Carlos dos
“Os músicos negros – Escravos da Real Faz.Sta Cruz” –.
Annablume, 2009)
Música e Mercado
• Entre 1870-90, houve 121 firmas dedicadas ao
comércio livreiro no RJ.
• Editoração musical –importância de Paula Brito,
Edward e Henrique Laemmert (Almanaque
Laemmert) e Garnier.
• Inicio de um mercado editorial popular, com
livros e brochuras menores – cordel, pornografia,
cancioneiros, manuais de boa civilidade, trovas.
• Ver Biblioteca da Algibeira (Garnier) e Coleção
Econômica (Laemmert).
Carlos Gomes
• Carlos Gomes (ver MAMMI, L. ) – primeira música profana erudita (nem
entretenimento, nem liturgia ou cerimonial).
• Óperas: Noite do Castelo e Lo Schiavo, passando pelo Guarani e pela
Fosca. Seus críticos apontam que sua obra é “um capítulo da história
italiana”.
• Após a República, outros compositores começam a pensar um projeto de
música sinfônica e camerística (H.Osvald, Alberto Nepomuceno, Leopoldo
Miguez, Francisco Braga), rejeitando o paradigma operístico de Carlos
Gomes.
• Sob o modernismo: Ópera passa a ser coisa da “italianada” imigrante (cfe
Mário de Andrade), oposto da “música nacional”. Entretanto sua música
permanece popular: A cabeleira de Carlos Gomes e a barba do Imperador
(cfe Mammi) são os símbolos do Império, assim como a “protofonia” do
Guarani um segundo hino nacional (ao lado de “Aquarela do Brasil”, mais
profana). “Resultado mais eficiente e prestigioso da política cultural de
Pedro II” (Mammi).
• Ver também Carlos Gomes- uma obra em foco, Funarte, 1986
Bibliografia complementar
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ALENCASTRO, L.Felipe (org.). Império - A Corte e a Modernidade Imperial - Vol. 2 da
"História da Vida Privada”, direção de Fernando A. Novais. Ed. Companhia das
Letras, São Paulo, 1998
ALENCASTRO, Luis Felipe. “Vida privada e ordem privada no Império” IN: História
da Vida Privada no Brasil. São Paulo, Cia das Letras, 1998
AZEVEDO E SOUZA, Carlos Eduardo de. Dimensões da vida musical no Rio de
Janeiro: de José Maurício a Gottschalk e além. 1808-1889. Tese de doutorado,
História, UFF, Rio de Janeiro, 2003
BELLUZZO, Ana Maria. O Brasil dos viajantes. Rio de Janeiro, Metalivros/Objetiva,
1999
KARASH, Mary. A vida dos escravos no Rio de Janeiro. 1808-1850. São Paulo, Cia
das Letras, 2000
LISBOA, Karen. A Nova Atlântida de Spix e Martius. São Paulo, HUCITEC, 1997
MACHADO, Caca. O enigma do homem célebre. Ambição e vocação em Ernesto
Nazareth. Instituto Moreira Salles, 2007
SCHWARCZ, L. As Barbas do Imperador. São Paulo, Ed. Cia das Letras, 1999
WISNIK, José Miguel. “Machado-Maxixe: o caso Pestana”. Teresa 4/5. Revista de
Literatura Brasileira, USP, 13-79, 2004
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