DIA INTERNACIONAL DA MULHER 2012 EMPODERAR A MULHER RURAL E ELIMINAR A POBREZA E A FOME Investindo no potencial da mulher rural Mulheres rurais são importantes agentes econômicos que contribuem para a renda das famílias e para o desenvolvimento de suas comunidades de diversas formas. Elas trabalham como empreendedoras, como trabalhadoras rurais, em negócios familiares, como autônomas; elas são ainda responsáveis por uma parcela desproporcional do trabalho doméstico não remunerado. Contudo, sua contribuição é limitada pelo acesso desigual a recursos bem como pela persistente discriminação e papéis rígidos de gênero, questões que precisam tratadas para garantir o pleno alcance de seu potencial. Você sabia? Enquanto a maioria dos homens ocupados na agopecuária são empregados permanentes, empregados temporários ou que trabalham por conta própria (22%, 17% e 32,2%, respectivamente), a maioria das mulheres ocupadas neste setor trabalha de forma não remunerada (30,7%) e para o autoconsumo (46,7%). Normas de gênero ditam os papéis desempenhados por homens e mulheres, bem como suas oportunidades em relação ao tipo de trabalho que podem e devem executar, tanto em áreas urbanas como rurais. Em algumas sociedades, estas normas restringem a mobilidade das mulheres e seu envolvimento no trabalho produtivo realizado fora dos domicílios. Por exemplo, o empreendedorismo feminino não é amplamente aceito em muitas sociedades, e mulheres podem enfrentar grandes obstáculos para começar, consolidar e desenvolver um negócio sustentável. Além disso, mulheres rurais frenquentemente enfrentam práticas discriminatórias no que diz respeito ao direito de propriedade, direito de família e herança. Mulheres rurais em países em desenvolvimento sofrem com o ônus de sua dupla responsabilidade, como trabalhadoras, remuneradas ou não, e como cuidadoras de sua família. Esta situação restringe seu tempo e mobilidade para se dedicar ao trabalho produtivo e limita seu tempo para educação, treinamento e outras atividades econômicas. O acesso limitado a recursos produtivos, baixos níveis educacionais e normas sociais sobre o trabalho apropriado para mulheres tendem a confiná-las a trabalhos com remuneração baixa e baixo status. Além disso, treinamento vocacional, educação, programas de qualificação e empreendedorismo para mulheres rurais são frequentemente limitados à uma reduzida variedade de áreas tradicionalmente ocupadas por mulheres, reforçando seu papel e suas responsabilidades tradicionais. Ao mesmo tempo em que a melhora de oportunidades nessas áreas gera aumento de renda, este tipo de enfoque limita as chances das mulheres se beneficiarem de atividades em novas áreas, não tradicionais, que podem oferecer a elas maiores rendimentos e empregos mas técnicos e gerenciais. Você sabia? Nas safras de 2006/2007, as mulheres responderam por 29,6% dos contratos do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e receberam cerca de 17% do montante de crédito. Quando mulheres desfrutam do mesmo nível de educação, experiência e recebem os mesmos insumos agropecuários, não há diferença significatica na produtividade de homens e mulheres trabalhadores rurais. Micro e pequenos empresas oferecem numerosas vantagens a trabalhadoras rurais: jornada flexível, localização no próprio domicílio ou próxima ao domicílio das mulheres, maior facilidade para acesso ao negócio e conexão com os mercados locais. No entanto, empreendedoras rurais enfrentam desafios particulares para entrar em mercados novos e lucrativos, bem como para expandir seus negócios. A participação de mulheres rurais em organizações de trabalhadores e empregadores é baixa, o que leva à falta de voz e representação no desenvolvimento de políticas e programas. Você sabia? No Brasil, em 2009, 52,3% das mulheres rurais faziam parte da população economicamente ativa, uma porcentagem não muito diferente das mulheres urbanas, entre as quais 52,7% faziam parte da PEA. Entretanto, enquanto 30,3% das mulheres urbanas começam a trabalhar antes dos 15 anos, 75,6% das mulheres rurais começam a trabalhar antes dessa idade. O trabalho infantil é amplamente disseminado em áreas rurais e meninas trabalhadoras formam uma parte significativa da força de trabalho rural. O trabalho infantil é prejudicial à saúde, educação e aquisição de habilidadas de alto nível a longo prazo, além de diminuir as chances de trabalho decente na juventude e idade adulta. Você sabia? Cooperativas são uma forma proeminente de empresa sustentável para mulheres em áreas rurais. Quando elas adotam práticas sensíveis a gênero, elas contribuem para o empoderamento das mulheres, fortalecimento de sua voz e representação nas tomadas de decisão, criam uma rede de negócios, melhoram o acesso a mercados e serviços e consequentemente facilitam a economia de escala. Os baixos índices de propriedade da terra por mulheres rurais podem impedir o acesso a recursos financeiros fundamentais para a criação de um negócio. No período de 2003 a 2007, por exemplo, apenas 31% dos beneficiários da reforma agrária no Brasil eram mulheres. Opções de Políticas/Recomendações Os fatores que limitam a produtividade das mulheres no setor rural são numerosos e diversos, e os programas e serviços voltados para a assistência à mulher rural devem tratar dos quatro aspectos da Agenda de Trabalho Decente. Criação de emprego • Aumentar a produtividade, particularmente em setores rurais com significativa presença feminina, mas também em outras áreas, por meio da qualificação de mulheres, bem como facilitando seu acesso a novas tecnologias. • Encorajar ou iniciar programas públicos de emprego rural. Incluir mulheres tanto como trabalhadoras (também em funções de alto nível) quanto como tomadoras de decisões nas fases de planejamento e implementação, de forma a garantir que os resultados e serviços reflitam as demandas das mulheres e contribuam com o fortalecimento da igualdade de gênero no trabalho rural. • Promover o acesso equitativo ao uso produtivo da terra por mulheres trabalhadoras rurais por meio de uma reforma agrária sensível à gênero, promovendo mercados de aluguel de terra e serviços para pequenos proprietários de terra, propriedade conjunta de terra/bens e revisão de leis discriminatórias. • Aumentar o alcance, bem como a incentivospara as mulheres acessarem serviços financeiros em áreas rurais, como estratégia fundamental para fornecer capital para empresas e propriedades agrícolas de mulheres, por meio da sensibilização sobre gênero e apoio à instituições financeiras. • Expandir o acesso das mulheres rurais à ciência, educação técnica, telefones celulares, computadores e outros instrumentos de tecnologia de informação e comunicação. Fortalecer o diálogo social • Garantir a inclusão explícita de questões rurais e de gênero nos principais marcos de políticas abordados no diálogo social, incluindo políticas de emprego. • Promover o diálogo social tripartite e a consulta nos níveis nacionais e locais, fortalecendo especialmente a representação e a voz das mulheres rurais. Proteção Social • Promover a igualdade de gênero no acesso a serviços básicos (escolas, saúde, cuidado infantil) em áreas rurais, por meio do investimento na oferta (infraestrutura, pessoal, etc.), para reduzir a vulnerabilidade das mulheres e aumentar sua capacidade de acessar empregos bem remunerados e melhores oportunidades. • Desenvolver mecanismos de proteção social para homens e mulheres empreendedores informais, incluindo benefícios em espécie para a licença maternidade ou por criança e arranjos para cuidado infantil, como forma de aumentar a habilidade das mulheres de mitigar riscos e se engajar nos negócios. • Promover o piso de proteção social, ou seja, um conjunto integrado de políticas sociais desenhadas para garantir segurança de renda e acesso a serviços sociais essenciais para todos. Tais transferências sociais podem ser particularmente importantes para mulheres, uma vez que dão a elas um maior controle sobre como a renda do domicílio é gasta. Promoção de direitos no trabalho • Encorajar a ratificação e apoiar a implementação de Convenções chave para a promoção de igualdade de direitos: especialmente a Convenção nº 100 sobre igualdade de remuneração (1951) e Convenção nº 111 sobre discriminação no emprego e na ocupação (1958). • Garantir que os pequenos produtores e trabalhadores rurais, particularmente os trabalhadores agrícolas, estejam cobertos pelas leis laborais e outras leis e regulamentações relevantes, e que estejam protegidos na prática. Bibliografia Gender dimensions of agriculture and rural employment: Differentiated pathways out of povery, 2010, FAO, IFAD e OIT. Disponível em http://www.fao.org/docrep/013/i1638e/i1638e.pdf Gender and Rural Employment Policy Brief 1, Gender-equitable rural work to reduce poverty and boost economic growth. Disponível em http://www.fao.org/docrep/013/i2008e/i2008e01.pdf Gender and Rural Employment Policy Brief 2, Investing in skills for socio-economic empowerment of rural women. Disponível em http://www.fao.org/docrep/013/i2008e/i2008e02.pdf Gender and Rural Employment Policy Brief 3, Rural women’s entrepreneurship is “good business!”. Disponível em http://www.fao.org/docrep/013/i2008e/i2008e03.pdf The State of Food and Agriculture 2010-11. Women in Agriculture: closing the gender gap for development. Disponível em http://www.fao.org/docrep/013/i2050e/i2050e.pdf DIEESE. Anuário das Mulheres Brasileiras 2011, São Paulo: DIEESE, 2011