8 27 DE OUTUBRO 2 0 0 7 Opinião Conferência Nacional de Saúde rejeita fundações estatais Sara Granemann* Trabalhadores derrotam a proposta do governo de privatização da saúde Estrutura da conferência: A 13ª Conferência Nacional de Saúde ocorreu nos dias 14 a 18 de novembro de 2007 em Brasília – DF. Na verdade, as palavras de encerramento da conferência foram proferidas pelo presidente do Conselho Nacional de Saúde, o senhor Francisco Batista Júnior, por volta das 02:40 horas da segunda-feira, dia 19.11.07. Para os que estiveram, como eu estive, até o momento final desta reunião resta uma forte impressão: nestas gigantescas assembléias sobre a política social de saúde a anônima força de trabalho composta por homens e mulheres simples é resgatada das opressões cotidianas, por intermédio da política no seu sentido mais pleno, e opinam na construção dos rumos do nosso país. Os números da 13ª Conferência Nacional de Saúde impressionam: 4.800 pessoas foram credenciadas e mais de 5.000 participantes passaram pela conferência, conforme informou o presidente do Conselho Nacional de Saúde, razão pela qual esta foi a maior conferência já realizada no país. Sua estrutura de debates é construída desde os municípios; nesta instância, foram realizadas conferências em cerca de 4.500 municípios. Após, estruturam-se conferências no plano estadual e dela participam delegados dos municípios. Na segunda instância, foram realizadas conferências nos 27 Estados da Federação. A Conferência Nacional de Saúde é um momento-síntese de um longo processo e que representa um novo ponto de partida já que suas deliberações devem ser implementadas pelo Ministério de Saúde ao longo dos quatro anos seguintes como política de Estado para a área. Participam da Conferência Nacional de Saúde amplos segmentos sociais dentre os quais, gestores, profissionais de saúde, estudiosos da área, prestadores de serviços e usuários, obedecidas as seguintes proporções para a escolha dos delegados: 50% dos delegados são usuários, 25% gestores e 25% As polêmicas: Duas propostas marcaram a 13ª Conferência Nacional de Saúde: a criação da Fundação Estatal de Direito Privado e o direito ao aborto como política de saúde pública. A proposta de Fundação Estatal de Direito Privado que, no âmbito da saúde, pretende transformar os hospitais públicos federais – inclusive os Hospitais Universitários – em fundações de direito privado foi encaminhada pelo governo Lula, protagonizada pelo Ministro da Saúde José Gomes Temporão. Todavia, o Projeto de Lei Complementar nº 92/2007 em discussão na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, no Congresso Nacional, pretende instituir as fundações de direito privado para várias áreas de proteção social do estado brasileiro, assim como para as de conhecimento, turismo, meio ambiente, comunicação social, num flagrante ataque às soberanas decisões do povo brasileiro que, em 1988, quando da elaboração da Constituição Federal, decidiu que todas estas atividades deveriam ser de responsabilidade direta do Estado. A contra-reforma do estado brasileiro realizada por Fernando Henrique Cardoso/ Bresser Pereira tem no projeto de fundação de direito privado, de responsabilidade do governo Lula, o seu mais duro ataque à força de trabalho brasileira – ocupada e excedente - que conta com as políticas sociais para sua sobrevivência. A compreensão do projeto privatizante contido nas fundações de direito privado foi, certamente a razão que levou a massa de 5.000 participantes da Conferência a se ausentarem do Plenário quando o Ministro da Saúde José Gomes Temporão iniciou sua conferência, logo após a abertura do evento. Visivelmente irritado com o esvaziamento do auditório o Ministro pediu/ordenou que todos tomassem seus assentos. Diante da recusa do plenário, o Ministro informou que tinha mais trabalho a fazer e que iria para casa se os delegados não o quisessem ouvir. Seus apelos não foram suficientemente fortes e no plenário restaram duas centenas de delegados. Para os delegados participantes, esta seria apenas a primeira de uma série de manifestações da esmagadora maioria contrária ao projeto de fundação de direito privado. Porém, para o governo, para o Ministro e para seus aliados na conferência, esta derrota não foi bastante. Antes mesmo da realização da Conferência Nacional de Saúde 26 de 27 conferências estaduais já haviam reprovado o projeto de fundação estatal. Na conferência estadual da Bahia, longe de uma aprovação sem problemas, decidiu-se pela continuidade do debate. Na avaliação da maioria dos delegados – a proposta de fundação de direito privado foi derrotada nos 10 grupos da conferência nacional – a continuidade da discussão foi inviabilizada pelo próprio governo/executivo quando encaminhou para o Congresso Nacional o projeto de Lei Complementar 92/ 2007 sobre as fundações sem ao menos discuti-lo com o Conselho Nacional de Saúde. A derrota imposta aos signatários da proposta de fundação de direito privado nos 10 grupos-plenários da conferência ainda teria de ser afirmada mais algumas vezes. Numa tentativa de driblar o regimento, os defensores das fundações de direito privado novamente apresentaram a sua proposta de defesa das fundações de direito privado, de modo dissimulado, ao grande plenário. Novamente amargaram fragorosa derrota porque os homens e as mulheres simples de nosso país, estatal para gerir instituições hospitalares públicas. O evento, para o qual foram convidados representantes do Sintufrj e da Adufrj- SSind, ocorre no dia 30 de novembro (sexta-feira), às 11h30, no Anfiteatro Nobre do IPPMG. A professora Sara Granemann, da Escola de Serviço trabalhadores da política social de saúde. Os cerca de 5.000 participantes examinaram um caderno de deliberações, composto de mais de 500 propostas elas mesmas resultados de milhares de deliberações construídas ao longo de todo o processo, por sua vez, agrupado em 3 eixos: Eixo 1 – Desafios para a efetivação do direito humano à saúde no século XXI: Estado, Sociedade e padrões de desenvolvimento. Eixo 2 – Políticas públicas para a saúde e qualidade de vida: o SUS na Seguridade Social e o Pacto pela Saúde. Eixo 3 – A participação da sociedade na efetivação do direito humano à saúde. O debate em cada um dos eixos tinha início com uma mesa-redonda seguida de plenária temática na qual a totalidade dos participantes eram divididos em 10 grupos simultâneos, cada um com cerca de 350 delegados, observadores e convidados. Ao final, as deliberações que alcançaram 70% dos votos dos delegados nos grupos foram levadas à Plenária Final para votação dos delegados. delegados à conferência, entenderam que a proposta de fundação de direito privado não contribuirá nas suas lutas para melhorar o SUS, razão pela qual lá estavam e motivação maior de suas cotidianas batalhas. Esta, porém, não foi a derradeira tentativa do governo e de seus aliados para sair da conferência com alguma aprovação que lhes permitisse respaldo em tão recusado projeto. Restavam as moções! No ‘contrabando’ de discursos empolados novamente o apoio às fundações de direito privado apareciam para a ‘apreciação’ dos delegados. Mesmo com a madrugada alta, novamente e em júbilo comemorativo diante da desfaçatez do governo e seus aliados, milhares de delegados disseram um sonoro NÃO às fundações de direito privado. Outra polêmica que atravessou a Conferência Nacional de Saúde referiu-se à interrupção da gravidez e ao direito de a mulher decidir sobre seu próprio corpo. Nesta discussão amplos segmentos da população, especialmente os organizados pela Igreja Católica e por suas pastorais, manifestaramse contrários, ao atendimento pelo SUS, das mulheres que interromperam a gravidez. Foi aprovada também uma deliberação importante para a defesa do SUS e para a organização sindical dos trabalhadores: que estes excluam das suas pautas de reivindicações a realização de convênios com planos privados de saúde. Por fim, também digno de nota, a Conferência Nacional de Saúde votou a convocação da Conferência Nacional de Seguridade Social como uma das necessidades para superar-se a fragmentação das políticas de Seguridade Social e da defesa do Orçamento da Seguridade Social para as políticas de seguridade (saúde, assistência social e previdência social). Neste sentido, exigiu-se: 1) o fim da Desvinculação dos Recursos da União (por esta lei são retirados 20% dos recursos da seguridade para outros fins); 2) o fim imediato do pagamento de juros e da utilização dos recursos da seguridade social para a formação dos superávit que sustentam a dívida pública. *Professora da Escola de Serviço Social da UFRJ. Delegada à Conferência pelo segmento dos trabalhadores/CFESS (Conselho Federal de Serviço Social) Anote Debate sobre Fundação Estatal O IPPMG, o HUCFF e a Câmara dos Hospitais da UFRJ convidam para debate sobre proposta de fundação Social da UFRJ, e Heider Pinto, Diretor de Atenção Básica da Secretaria de Saúde da Bahia, farão as exposições iniciais.