INFORME ECONÔMICO Ano 17 ● Número 9 ● 02 de março de 2015 Tempestade perfeita: a sucessão de más notícias na Petrobras O forte expansionismo dos gastos, sem uma contrapartida adequada das receitas e as denúncias de corrupção culminaram na perda do grau de investimento da Petrobras por parte da Moody’s. Produção industrial gaúcha caiu 4,3% em 2014 O setor mais uma vez não conseguiu superar a trajetória errática que o caracteriza nos últimos anos. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL Av. Assis Brasil, 8787 Fone: (051) 3347.8731 Fax: (051) 3347.8795 UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS www.fiergs.org.br/economia As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Tempestade perfeita: a sucessão de más notícias na Petrobras O forte expansionismo dos gastos, sem uma contrapartida adequada das receitas e as denúncias de corrupção culminaram na perda do grau de investimento da Petrobras por parte da Moody’s. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S O cenário no qual se insere a Petrobras, uma das maiores empresas do segmento petrolífero em todo o mundo, tem piorado sistematicamente ao longo dos últimos meses. São vários os elementos que compõem a sua via-crúcis e que contribuem para fragilizar a economia brasileira. Em primeiro lugar, destaca-se a opção deliberada por parte do Governo em manter os preços dos combustíveis num patamar artificialmente baixo, principalmente até 2014, como instrumento de política econômica para controle da inflação. Isso acabou gerando uma redução da capacidade de investimento por parte da empresa, a partir da defasagem provocada pelo controle rígido do preço do bem final, por um lado, e da forte elevação dos custos de produção, por outro. Esses foram determinados pelos maiores gastos com a importação de petróleo, causados por uma taxa de câmbio que apresenta clara tendência de desvalorização: entre agosto de 2011 até fevereiro passado, o Real perdeu 80,1% do seu valor em comparação com o Dólar. É necessário lembrar que a Petrobras necessita do óleo adquirido no exterior como matéria prima, uma vez que o tipo aqui extraído é mais pesado, e a maior parte das refinarias instaladas no Brasil apresentam capacidade somente para tratar o tipo considerado leve. Se, por um lado, a queda do preço do barril de petróleo desde a metade do ano passado e a elevação dos preços dos combustíveis em 2015 deram um caráter mais realista ao seu preço, a diminuição na cotação da commodity também reduziu os valores recebidos pelas operações de exportação. O principal elemento, no entanto, recai sobre as denúncias de corrupção envolvendo a estatal, que têm ganhado cada vez mais força e gerado enorme perda de credibilidade junto aos investidores. A divulgação do seu balanço, referente ao terceiro trimestre do ano passado, precisou ser postergada. Quando finalmente houve a divulgação, admitiu-se um mau dimensionamento dos ativos de ordem bilionária. Na semana passada, a Petrobras sofreu mais um duro golpe ao ter um rebaixamento do rating de sua dívida emitida em moeda estrangeira. A agência de classificação de risco Moody’s, uma das mais influentes em todo o mundo, diminuiu em duas notas a sua avaliação (de “Baa3” para Ba2). Como resultado, a empresa perdeu o chamado “grau de investimento”. Além disso, a perspectiva sinalizada para novos diagnósticos da situação da estatal no futuro é negativa. Entre as razões que serviram para justificar essa decisão, estão as preocupações sobre a corrupção na empresa e sobre a sua capacidade em fazer frente a suas obrigações. Convém lembrar que o forte incremento dos gastos da Petrobras nos últimos anos gerou problemas de fluxo de caixa e forte aumento do seu endividamento ao longo dos últimos anos. Esse, medido como proporção do PIB brasileiro, passou de 1,7% para 5,3% entre 2006 e 2013 (último dado consolidado). O rebaixamento do rating deve trazer consequências drásticas, tanto para a empresa em si, quanto para piorar o já combalido cenário macroeconômico brasileiro. Em primeiro lugar, os estatutos de vários fundos de investimentos só permitem aplicações quando pelo menos duas das três principais agências de risco do mundo (Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s) atestam a qualidade de um determinado ativo. A tendência é de que as demais também atribuam a Petrobras o chamado “grau especulativo”. Nesse caso, o mercado de crédito disponível para a captação de recursos por parte da empresa diminui tremendamente. Como há uma maior disputa por esses recursos, tais firmas precisam recompensar essa escassez de oferta pagando uma taxa de juros mais elevada. Uma consequência desse encarecimento é o diminuição no ritmo dos investimentos envolvidos com a exploração do pré-sal. Essa conjunção de elementos negativos também apresenta repercussões na taxa de câmbio. Vale destacar que a Petrobras é uma das empresas brasileiras que mais realiza captações em moeda estrangeira para financiar seus projetos. Devido a essa magnitude, o mercado já tem precificado uma menor entrada de dólares no Brasil, gerando portanto uma depreciação cambial. Outro alvo de preocupação diz respeito ao impacto contracionista da redução esperada dos investimentos da própria estatal e das empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Para se ter um ideia, os investimentos da Petrobras como proporção da formação bruta de capital fixo do Brasil atingiram 10,5% em 2013. Portanto, somente por esse vetor, a estatal contribuiu para gerar R$ 91,2 bilhões, ou 1,9 % do PIB daquele ano. Esse é um dos fatores que tem levado as instituições consultadas pelo Relatório FOCUS do Banco Central em prever um crescimento 0,58% menor para o Brasil em 2015 em comparação com 2014. A falta de gerenciamento profissional está na raiz dos problemas da Petrobras. O apadrinhamento político da gestão, em várias ocasiões, não foi ao encontro dos sinais de mercado, o que diminuiu o potencial de crescimento da empresa. A retomada da credibilidade requer transparência e comprometimento. Enquanto isso não ocorre, os tempos serão difíceis: tanto para a empresa, quanto para o próprio Brasil. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia Produção industrial gaúcha caiu 4,3% em 2014 O setor mais uma vez não conseguiu superar a trajetória errática que o caracteriza nos últimos anos. Produção Industrial do RS A produção industrial do Rio Grande do Sul, medida I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S (Variação em %) Mesmo mês ano anterior Acumulado no ano 5,7 1,9 2,8 1,4 -0,1 -4,3 -4,7 -6,8 -7,3 -6,2 dez/14 nov/14 out/14 set/14 ago/14 jul/14 jun/14 -10,7 -12,4 mai/14 abr/14 mar/14 fev/14 -10,4 jan/14 pelo IBGE, avalizou a dimensão do cenário recessivo enfrentado pelo setor em 2014 demonstrado pelo Índice de desempenho industrial da FIERGS (IDI/RS). De fato, a produção gaúcha mais uma vez não conseguiu superar a trajetória errática que a caracteriza nos últimos anos e voltou a cair no ano passado: -4,3%, devolvendo grande parte do avanço de 2013 (+7,6%). Para se ter uma ideia do alcance dessa contração, ao comparar-se os níveis de produção industrial de anos anteriores, constata-se que a produção em 2014 ficou abaixo de 2007. Além disso, a taxa média de crescimento anual na última década foi de somente 0,12%, uma estagnação. Em 2014, não apenas a intensidade chama atenção, mas a disseminação da queda: ocorreu em todos os quatorze setores pesquisados. Montagem de veículos exerceu a maior influência, apresentando queda de 7,8%, impactado pela menor fabricação de reboques e semirreboques, eixos e semieixos para veículos automotores e carrocerias para ônibus. O setor de Químicos reduziu a produção em 6,3%, puxado por adubos, fertilizantes e petroquímicos. No caso de Máquinas e equipamentos, a produção recuou 4,4%, pressionada por máquinas, tratores, reboques e semirreboques agrícolas, semeadores, plantadeiras ou adubadores e aparelhos de ar condicionado. O ranking dos Estados demonstra que, em 2014 relativamente a 2013, a produção caiu nos principais produtores do País. O Rio Grande do Sul registrou o terceiro pior resultado em catorze estados, mas não foi muito diferente dos mais industrializados. São Paulo, exibindo queda de 6,2%, foi o que mais contribuiu para a redução da produção industrial no país (-3,2%). Há razões estruturais e conjunturais por trás das dificuldades da indústria, que espelham, na essência, sua fragilidade competitiva. Seus efeitos combinados, potencializados pelos desequilíbrios da economia brasileira e por um arranjo incomum de fatores (Copa do Mundo e eleições acirradas) levaram o setor a enfrentar em 2014 as piores condições em cinco anos. Para 2015, as incertezas são ainda maiores e as perspectivas não são animadoras. De certeza, a permanência dos mesmos fatores, mas uma profusão de outros aumentam os riscos. O agravamento da questão energética (maiores custos e possibilidade de racionamento) e hídrica, a crise sem fim na Petrobras, a retirada dos incentivos fiscais e a adoção de políticas monetárias e fiscais contracionistas devem ampliar as dificuldades do setor num ambiente econômico de recessão. Com tudo isso, uma nova queda da indústria gaúcha em 2015 é um cenário concreto. As primeiras sinalizações do ano, como o pessimismo empresarial recorde em janeiro, apontam nesse sentido. Produção industrial do RS - últimos dez anos (Índice de base fixa anual: média 2004=100) 105,8 102,6 104,3 103,4 102,7 101,2 100,0 98,3 98,3 97,3 95,3 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Produção industrial - estados (Variação acumulada em 2014 em %) Pará Espírito Santo Mato Grosso Goiás Pernambuco Santa Catarina Bahia Minas Gerais Ceará Rio de Janeiro Amazonas Rio Grande do Sul Paraná São Paulo 8,1 5,6 3,0 1,7 0,1 -2,2 -2,8 -2,9 -2,9 -3,0 -3,9 -4,3 -5,5 -6,2 Produção industrial setorial do RS (Variação acumulada em 2014 em %) Tabaco Bebidas Der. do petróleo e biocomb. Alimentos Celulose e produtos de papel Minerais não-metálicos Veículos automotores Máquinas e equipamentos Borracha e plástico Produtos de metal Couros e calçados Outros químicos Móveis Metalurgia Fonte: IBGE. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia -0,3 -0,4 -1,3 -1,5 -2,8 -4,3 -4,4 -4,4 -4,5 -5,2 -5,2 -6,3 -7,2 -16,0