INFORME
ECONÔMICO
Ano 17 ● Número 9 ● 02 de março de 2015
Tempestade perfeita: a sucessão de más notícias na Petrobras
O forte expansionismo dos gastos, sem uma contrapartida adequada das receitas e as denúncias de
corrupção culminaram na perda do grau de investimento da Petrobras por parte da Moody’s.
Produção industrial gaúcha caiu 4,3% em 2014
O setor mais uma vez não conseguiu superar a trajetória errática que o caracteriza nos últimos anos.
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Tempestade perfeita: a sucessão de más notícias na Petrobras
O forte expansionismo dos gastos, sem uma contrapartida adequada das receitas e as denúncias de
corrupção culminaram na perda do grau de investimento da Petrobras por parte da Moody’s.
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O cenário no qual se insere a Petrobras, uma das
maiores empresas do segmento petrolífero em todo o
mundo, tem piorado sistematicamente ao longo dos
últimos meses. São vários os elementos que compõem a
sua via-crúcis e que contribuem para fragilizar a
economia brasileira.
Em primeiro lugar, destaca-se a opção deliberada
por parte do Governo em manter os preços dos
combustíveis num patamar artificialmente baixo,
principalmente até 2014, como instrumento de política
econômica para controle da inflação. Isso acabou
gerando uma redução da capacidade de investimento
por parte da empresa, a partir da defasagem provocada
pelo controle rígido do preço do bem final, por um lado,
e da forte elevação dos custos de produção, por outro.
Esses foram determinados pelos maiores gastos com a
importação de petróleo, causados por uma taxa de
câmbio
que
apresenta
clara
tendência
de
desvalorização: entre agosto de 2011 até fevereiro
passado, o Real perdeu 80,1% do seu valor em
comparação com o Dólar.
É necessário lembrar que a Petrobras necessita do
óleo adquirido no exterior como matéria prima, uma
vez que o tipo aqui extraído é mais pesado, e a maior
parte das refinarias instaladas no Brasil apresentam
capacidade somente para tratar o tipo considerado leve.
Se, por um lado, a queda do preço do barril de petróleo
desde a metade do ano passado e a elevação dos preços
dos combustíveis em 2015 deram um caráter mais
realista ao seu preço, a diminuição na cotação da
commodity também reduziu os valores recebidos pelas
operações de exportação.
O principal elemento, no entanto, recai sobre as
denúncias de corrupção envolvendo a estatal, que têm
ganhado cada vez mais força e gerado enorme perda de
credibilidade junto aos investidores. A divulgação do
seu balanço, referente ao terceiro trimestre do ano
passado, precisou ser postergada. Quando finalmente
houve
a
divulgação,
admitiu-se
um
mau
dimensionamento dos ativos de ordem bilionária.
Na semana passada, a Petrobras sofreu mais um
duro golpe ao ter um rebaixamento do rating de sua
dívida emitida em moeda estrangeira. A agência de
classificação de risco Moody’s, uma das mais influentes
em todo o mundo, diminuiu em duas notas a sua
avaliação (de “Baa3” para Ba2). Como resultado, a
empresa perdeu o chamado “grau de investimento”.
Além disso, a perspectiva sinalizada para novos
diagnósticos da situação da estatal no futuro é negativa.
Entre as razões que serviram para justificar essa
decisão, estão as preocupações sobre a corrupção na
empresa e sobre a sua capacidade em fazer frente a suas
obrigações. Convém lembrar que o forte incremento
dos gastos da Petrobras nos últimos anos gerou
problemas de fluxo de caixa e forte aumento do seu
endividamento ao longo dos últimos anos. Esse,
medido como proporção do PIB brasileiro, passou de
1,7% para 5,3% entre 2006 e 2013 (último dado
consolidado).
O rebaixamento do rating deve trazer consequências
drásticas, tanto para a empresa em si, quanto para piorar
o já combalido cenário macroeconômico brasileiro. Em
primeiro lugar, os estatutos de vários fundos de
investimentos só permitem aplicações quando pelo
menos duas das três principais agências de risco do
mundo (Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s) atestam a
qualidade de um determinado ativo. A tendência é de
que as demais também atribuam a Petrobras o chamado
“grau especulativo”.
Nesse caso, o mercado de crédito disponível para a
captação de recursos por parte da empresa diminui
tremendamente. Como há uma maior disputa por esses
recursos, tais firmas precisam recompensar essa
escassez de oferta pagando uma taxa de juros mais
elevada. Uma consequência desse encarecimento é o
diminuição no ritmo dos investimentos envolvidos com
a exploração do pré-sal.
Essa conjunção de elementos negativos também
apresenta repercussões na taxa de câmbio. Vale
destacar que a Petrobras é uma das empresas brasileiras
que mais realiza captações em moeda estrangeira para
financiar seus projetos. Devido a essa magnitude, o
mercado já tem precificado uma menor entrada de
dólares no Brasil, gerando portanto uma depreciação
cambial.
Outro alvo de preocupação diz respeito ao impacto
contracionista da redução esperada dos investimentos
da própria estatal e das empreiteiras envolvidas na
Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Para se ter um
ideia, os investimentos da Petrobras como proporção da
formação bruta de capital fixo do Brasil atingiram
10,5% em 2013. Portanto, somente por esse vetor, a
estatal contribuiu para gerar R$ 91,2 bilhões, ou 1,9 %
do PIB daquele ano. Esse é um dos fatores que tem
levado as instituições consultadas pelo Relatório
FOCUS do Banco Central em prever um crescimento
0,58% menor para o Brasil em 2015 em comparação
com 2014.
A falta de gerenciamento profissional está na raiz
dos problemas da Petrobras. O apadrinhamento político
da gestão, em várias ocasiões, não foi ao encontro dos
sinais de mercado, o que diminuiu o potencial de
crescimento da empresa. A retomada da credibilidade
requer transparência e comprometimento. Enquanto
isso não ocorre, os tempos serão difíceis: tanto para a
empresa, quanto para o próprio Brasil.
Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
www.fiergs.org.br/economia
Produção industrial gaúcha caiu 4,3% em 2014
O setor mais uma vez não conseguiu superar a trajetória errática que o caracteriza nos últimos anos.
Produção Industrial do RS
A produção industrial do Rio Grande do Sul, medida
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(Variação em %)
Mesmo mês ano anterior
Acumulado no ano
5,7
1,9
2,8
1,4
-0,1
-4,3
-4,7
-6,8
-7,3
-6,2
dez/14
nov/14
out/14
set/14
ago/14
jul/14
jun/14
-10,7
-12,4
mai/14
abr/14
mar/14
fev/14
-10,4
jan/14
pelo IBGE, avalizou a dimensão do cenário recessivo
enfrentado pelo setor em 2014 demonstrado pelo Índice
de desempenho industrial da FIERGS (IDI/RS).
De fato, a produção gaúcha mais uma vez não
conseguiu superar a trajetória errática que a caracteriza
nos últimos anos e voltou a cair no ano passado: -4,3%,
devolvendo grande parte do avanço de 2013 (+7,6%).
Para se ter uma ideia do alcance dessa contração, ao
comparar-se os níveis de produção industrial de anos
anteriores, constata-se que a produção em 2014 ficou
abaixo de 2007. Além disso, a taxa média de crescimento
anual na última década foi de somente 0,12%, uma
estagnação.
Em 2014, não apenas a intensidade chama atenção,
mas a disseminação da queda: ocorreu em todos os
quatorze setores pesquisados. Montagem de veículos
exerceu a maior influência, apresentando queda de 7,8%,
impactado pela menor fabricação de reboques e
semirreboques, eixos e semieixos para veículos
automotores e carrocerias para ônibus. O setor de
Químicos reduziu a produção em 6,3%, puxado por
adubos, fertilizantes e petroquímicos. No caso de
Máquinas e equipamentos, a produção recuou 4,4%,
pressionada por máquinas, tratores, reboques e
semirreboques agrícolas, semeadores, plantadeiras ou
adubadores e aparelhos de ar condicionado.
O ranking dos Estados demonstra que, em 2014
relativamente a 2013, a produção caiu nos principais
produtores do País. O Rio Grande do Sul registrou o
terceiro pior resultado em catorze estados, mas não foi
muito diferente dos mais industrializados. São Paulo,
exibindo queda de 6,2%, foi o que mais contribuiu para a
redução da produção industrial no país (-3,2%).
Há razões estruturais e conjunturais por trás das
dificuldades da indústria, que espelham, na essência, sua
fragilidade competitiva. Seus efeitos combinados,
potencializados pelos desequilíbrios da economia
brasileira e por um arranjo incomum de fatores (Copa do
Mundo e eleições acirradas) levaram o setor a enfrentar
em 2014 as piores condições em cinco anos.
Para 2015, as incertezas são ainda maiores e as
perspectivas não são animadoras. De certeza, a
permanência dos mesmos fatores, mas uma profusão de
outros aumentam os riscos. O agravamento da questão
energética (maiores custos e possibilidade de
racionamento) e hídrica, a crise sem fim na Petrobras, a
retirada dos incentivos fiscais e a adoção de políticas
monetárias e fiscais contracionistas devem ampliar as
dificuldades do setor num ambiente econômico de
recessão. Com tudo isso, uma nova queda da indústria
gaúcha em 2015 é um cenário concreto. As primeiras
sinalizações do ano, como o pessimismo empresarial
recorde em janeiro, apontam nesse sentido.
Produção industrial do RS - últimos dez anos
(Índice de base fixa anual: média 2004=100)
105,8
102,6
104,3
103,4
102,7
101,2
100,0
98,3
98,3
97,3
95,3
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Produção industrial - estados
(Variação acumulada em 2014 em %)
Pará
Espírito Santo
Mato Grosso
Goiás
Pernambuco
Santa Catarina
Bahia
Minas Gerais
Ceará
Rio de Janeiro
Amazonas
Rio Grande do Sul
Paraná
São Paulo
8,1
5,6
3,0
1,7
0,1
-2,2
-2,8
-2,9
-2,9
-3,0
-3,9
-4,3
-5,5
-6,2
Produção industrial setorial do RS
(Variação acumulada em 2014 em %)
Tabaco
Bebidas
Der. do petróleo e biocomb.
Alimentos
Celulose e produtos de papel
Minerais não-metálicos
Veículos automotores
Máquinas e equipamentos
Borracha e plástico
Produtos de metal
Couros e calçados
Outros químicos
Móveis
Metalurgia
Fonte: IBGE.
Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS
www.fiergs.org.br/economia
-0,3
-0,4
-1,3
-1,5
-2,8
-4,3
-4,4
-4,4
-4,5
-5,2
-5,2
-6,3
-7,2
-16,0
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