TERAPIA GÊNICA Profa. Dra. Ana Elizabete Silva Departamento de Biologia IBILCE - UNESP TRATAMENTO DE DOENÇAS GENÉTICAS Na maioria das vezes o tratamento das doenças genéticas é somente paliativo amenizando os sintomas ao invés de agir na causa primária: o gene Terapia Gênica Consiste na transferência de material genético para células- alvo, com o objetivo de suprir os produtos de um gene estruturalmente anormal no genoma do paciente: -adição do gene normal -correção do gene -silenciamento do gene defeituoso ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS RELATO DE CASO -criança de 8m após batida na cabeça apresenta sangramento nasal com recorrência distúrbio coagulação??? -testes mostrou 1% atividade fator IX Hemofilia B -teste genético confirmou mutação -19 anos: incluído ensaio clínico p/ Terapia Gênica -tratamento padrão: infusão intravenosa de concentrado da -vetor AAV- com gene fator proteína recombinante ou derivado IX direcionado p/fígado plasma (injeção na veia porta) -risco de doenças infecciosas -aumento nos níveis fator IX (hepatite, AIDS) e anticorpos contra proteína recombinante FORMAS POTENCIAIS DE TERAPIA GÊNICA Terapia gênica germinativa Terapia gênica somática TERAPIA GÊNICA GERMINATIVA Terapia gênica para a mutação little(lit): hormônio do crescimento Regulador-Promotor da Metalotioneína: remover metais pesados TERAPIA GÊNICA DE CÉLULAS SOMÁTICAS Terapia in vivo: as células são tratadas dentro do corpo Terapia ex vivo: as células do paciente são retiradas e manipuladas fora do corpo TERAPIA GÊNICA IN VIVO http://www.smartplanet.es/articulos.php?pageNum_ctapag=6&totalRows_ctapag=11&id=9-4-3 TERAPIA GÊNICA EX VIVO 1. Inserção de um gene em um vetor 2. Contato Vetor / Célula 3. Entrada e transporte do gene até o núcleo da célula 4. Transcrição do RNAm a partir do gene 5. Tradução do RNAm em proteína 6. Secreção, fixação na membrana ou expressão citoplasmática da proteína PROCEDIMENTO BÁSICO PARA TERAPIA GÊNICA Doença apropriada Estratégia de transferência: ex vivo ou in vivo Células alvo Vetor www.edu365.com/aulanet/comsoc/Lab_bio/simulacions/GeneTherapy/GeneTherapy.htm (Animação) CÉLULAS ALVO Características: acessíveis, tempo de vida longo no corpo, alta taxa de proliferação Tipos de células alvo: Células tronco (medula óssea- cordão umbilical) linfócitos fibroblastos de pele células musculares (mioblastos) células vasculares endoteliais hepatócitos Técnicas de introdução de genes em células de mamíferos: A- Técnicas que utilizam métodos físicos ou químicos: baixa eficácia e transitório microinjeção de DNA eletroporação (choque elétrico) biobalística (gene gun) precipitado de fosfato de cálcio lipossomos Sistemas Não-Virais: Microinjeções de DNA Microinjeção: núcleo da célula (terapia ex vivo ou in vivo- embrião) utilizada principalmente no desenvolvimento de vacinas de DNA. http://www.bioloja.com/info/info.asp?id=96 Sistemas Não-Virais: Eletroporação - Pulsos elétricos curtos de alta voltagem; - Permeabilização da membrana celular; - Entrada na célula de diferentes tipos de moléculas, entre as quais os DNA. Eletroporação: choque elétrico→poros (morte celular) Fonte: http://aragoneria.com/boreas/articulos/terapiagenica1.htm Sistemas Não-Virais: Microesferas – Biobalística ou Gene-Gun Bombardeio partículas de ouro/ tungstênio conjugada ao DNA: bomba de hélio (morte celular) Sistemas Não-Virais: Transfecção com Fosfato de Cálcio - Método utilizado com sucesso para introduzir transgenes em células in vitro; - Não apropriado para aplicação in vivo. Precipitado c/DNA- endocitose (cultura celular – ex vivo) Sistemas Não-Virais: Lipossomos dupla camada lipídica englobando uma fração aquosa -complexo de DNA e lipídeos. Lipossomos catiônicos: padrão ouro de vetores não virais Desvantagens: - Não possuem capacidade intrínseca de atravessar a membrana nuclear:1 em 1000 plasmídeos atinge o núcleo; - Grande maioria são levados ao sistema lisossômico. Fonte:http://www.ufv.br/dbg/trab2002/TERAPIAG/TRG002.htm Técnicas de introdução de genes em células de mamíferos: B- Técnicas que utilizam vetores biológicos: retrovírus (RNA) Adenovírus (DNA) Adenovírus associado-AAV (parvovírus) Lentivírus (retrovírus → cels. não dividem) Herpes vírus (invadir neurônios) Cromossomo artificial RETROVÍRUS Retrovírus (vírus de RNA) são os vetores ideais para a transferência de genes em células humanas: são capazes de infectar quase 100% das células-alvo em divisão→ integra no genoma hospedeiro carregam fragmentos relativamente grandes de DNA (8kb) Desvatagem: infectam somente células em divisão Genes retrovírus: Gag: proteína cápsula interna RETROVÍRUS Env: transcriptase reversa e integrase Pol: envelope glicoproteína Fonte:http://www.ufv.br/dbg/trab2002/TERAPIAG/TRG002.htm INSERÇÃO RETROVIRAL A inserção casual do DNA no genoma das células hospedeiras pode : inativar um gene importante: morte celular ativar um oncogene: alterar o padrão normal de controle e divisão celular câncer causar mutação Adenovírus Vantagens: - DNA dupla fita; - Infectam grande variedade - de tecidos; Não possuem envelope, sua partícula é muito estável; Não se integram no DNA das células hospedeiras; Aceitam inserções de 30Kb; Penetram em células que não se multiplicam; Não ativam protooncogene ; Desvantagens - Não é integrado ao genoma celular; - Resposta imune contra o tecido transduzido com o vetor. - Baixa taxa de entrega in vivo expressão transitória Vetor mais utilizado em terapia gênica contra o câncer http://bio.leo.sites.uol.com.br/terapiagenica.htm Barreira para Terapia Gênica - Entrega do Gene 1- Estabilidade do vetor que carrega o gene durante transporte 2-Penetrar o tecido e ser captado pelas células alvo 3- Após endocitose, escapar de degradação lisossomal 4- Transporte para o núcleo 5- Manter atividade transcricional no núcleo 6- Evadir a resposta imune Pré-Requisitos : Terapia Gênica escolher a doença apropriada a ser tratada identificar e clonar o gene e suas regiões reguladoras assegurar que prejudiciais o gene inserido não tenha efeitos determinar as células-alvo certas que tenham duração de vida adequada verificar se a técnica é segura e eficiente para a introdução do gene nas células restringir a transferência do gene às células alvo somáticas documentar e divulgar os resultados obtidos Classes de Doenças Passíveis de Terapia Gênica Doenças Hereditárias (monogênicas - AR) Neoplasias Doenças infecciosas (AIDS) Outras Doenças: doença arterial coronária; artrite; doença renal, etc Mais de 1800 protocolos aprovados 2004: China aprovou 1º terapia gênica comercial para câncer de cabeça e pescoço 2011: Pensilvania (CTL019) terapia de leucemia linfoblástica aguda Algumas tentativas de terapia gênica : Deficiência da enzima desaminase de adenosina (ADA) Imunodeficiência combinada severa ligada ao X (XSCID) Fibrose Cística Hemofília DMD Hipercolesterolemia Familial: LDLR (receptor de lipoproteína de baixa densidade) Doença de Parkinson e artrite Câncer AIDS Deficiência da Desaminase de Adenosina - (ADA) Doença imunológica rara: debilitação do sistema imune (imunodeficiência) Enzima ADA: via purinas (tóxica) linfócitos T (células-alvo) são muito acessíveis grande variação no nível de expressão do gene ADA entre indivíduos normais o primeiro protocolo aprovado para terapia gênica foi para a correção da deficiência da ADA. 1990: Drs. Anderson e Blease (Ashanti De Silva) ADA o linfócitos T foram coletados e expandidos em cultura ex vivo infectadas com retrovírus recombinante os linfócitos foram injetados nos pacientes expressão do gene ADA detectada por 12 anos nos linfócitos periféricos transferência do gene não foi eficiente: receberam PEGADA (enzima exógena) DEFICIÊNCIA DA DESAMINASE DE ADENOSINA - ADA NOVA TÉCNICA: gene ADA transferido para células tronco: sangue do cordão umbilical 10% dos linfócitos T circulantes carregavam o gene normal tratamento com enzima ADA exógena (PEG-ADA) foi removida progressivamente Células T expressando ADA significantemente IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA SEVERA LIGADA AO X - XSCID Devido mutação do gene IL2RG: codifica a cadeia do receptor IL-2 Pacientes faltam células T e células B prejudicadas França: 10 crianças selecionadas para terapia gênica: células da medula óssea retrovírus 9/10 crianças apresentaram células T com o gene transduzido Duas crianças desenvolveram leucêmia de células T ~ 3 anos após a terapia inserção do retrovírus próximo ao promotor do oncogene LMO2 (fator de crescimento) http://www.blackbookdopina.net/2009/07/fibrose-cistica.html FIBROSE CÍSTICA gene mutante: CFTR - 7q31-32 (AR) proteína reguladora de condutância transmembrana: transporte de Cldiminuído e do Na+ aumentado afeta as glândulas exócrinas: problemas respiratórios, digestivos e pancreáticos Fibrose Cística vetor adenoviral: infecta os pulmões, penetra em células que não estão em divisão sem integrar no seu DNA, permitindo que estas expressem o DNA viral, introduzido pelo nariz com um spray (terapia in vivo) Desvantagem: inflamação com ataque imune que neutraliza as células contendo gene adenoviral; efeito da terapia de vida curta, cerca de 6 semanas Nova estratégia (2014): vetor pDNA (DNA plamídeo) complexado com lipossomo usando nebulizador (aerosol viscoso) Terapia Gênica - Cegueira Abril/2008: Universidade da Pennsylvania e Hospital da Philadelphia (USA) e Universidade de Londres: trataram pacientes adultos jovens com neuropatia óptica de Leber (LCA2) defeito no pigmento do epitélio da retina Inserção do gene RPE65 (injeção com vetor viral direto na retina): codifica a enzima que auxilia na conversão da vitamina A para rodopsina A (pigmento das células fotorreceptoras que absorvem luz) Terapia Gênica - Cegueira Terapia Gênica - Cegueira Após a terapia mostraram melhora na visão: maior sensibilidade a luz, detectaram movimentos manuais e leitura de linhas de um cartaz de exame oftalmológico Perspectiva: terapia em crianças c/LCA2 e retinoblastoma 2014- Universidade de Oxford: terapia gênica da coroideremia (lesão da retina) mutação no gene CHM vetor AAV injetado na retina em 6 homens melhora da visão (Nature, 2014) VÍTIMAS DE TERAPIA GÊNICA Mulher 36 anos - faleceu 22 dias após terapia TERAPIA GÊNICA DO CÂNCER Introdução de genes supressores de tumor para restaurar a função perdida. Ex.: inserção do gene TP53 normal em tumores de pulmão bloquear a progressão tumoral e apoptose TERAPIA GÊNICA DO CÂNCER Terapia pró-droga ou gene suicida: transferência de um gene (HSV-tk) → tirosina quinase → que ativam pró-drogas → tornam as células em divisão sensíveis a drogas selecionadas Usado no tratamento do Glioma: tipo de tumor cerebral que afeta as células da glia que suportam e interagem com os neurônios; Um gene suicida na presença de um droga é ativado e mata as células que o contêm. Ex.: câncer cerebral, cabeça e pescoço, ovário, mama, pulmão, cólon e pele TERAPIA PRÓ-DROGA – GENE SUICIDA http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n70/a04v2470.pdf Terapia Gênica no Brasil - Em 2004 foi criada a Rede de Terapia Gênica - 27 institutos ou Departamentos de 6 estados (Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), financiados pelo Institutos do Milênio do CNPq/MCT. - Pesquisas: introdução de genes com efeito terapêutico Qual o alvo do Brasil? - terapia gênica em câncer - doenças graves do metabolismo - doenças degenerativas e cardiovasculares - vacinas de DNA profiláticas para doenças infecciosas e vacinas de DNA terapêuticas para HPV Terapia Gênica no Brasil Rede é composta por: Rio de Janeiro: o Instituto de Biofísica da UFRJ, o Instituto Oswaldo Cruz e o Instituto Nacional do Câncer (INCA); São Paulo: os Departamentos de Microbiologia e Biologia Celular e Desenvolvimento da USP, o CINTERGEN da UNIFESP, o InCor e o Instituto Butantã; Rio Grande do Sul: os Departamentos de Genética e de Biofísica e o Hospital de Clínicas da UFRGS, bem como o Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Terapia Gênica no Brasil 2009: 1o. Estudo Clínico em pacientes cardíacos (isquemia) – fases 1 e 2 (segurança e eficácia) Coordenado pelo Dr. Renato Karan Kalil – Inst. Cardiologia do Rio Grande do Sul Grupo de 10 pacientes injeção de DNA (plasmídeo c/gene VEGF-165) diretamente no coração estimula angiogênese 8 pacientes apresentaram bons resultados: -aumento na capacidade de bombear sangue -desempenho em testes de esforço físico Terapia Gênica no Brasil Glybera: primeiro medicamento comercial de terapia gênica (Lab UniQure - Holanda) Deficiência da enzima lipoproteína lipase: digestão da gordura. Vetor: adenovírus-associado Aplicação de 12 injeções no músculo da perna (dose única) Custo: 1,5 milhão de euros (R$ 3 milhões) NANOTECNOLOGIA NANOTECNOLOGIA É o estudo de manipulação da matéria numa escala de nanômetros (1 milímetro é igual a 1 milhão de nanos) Tamanho: 5-500nm (um bilionésimo de metro) - minúsculas partículas: variadas formas tubos, conchas, espirais -materiais: polímeros, dendrímeros, lipossomos, nanotubos de carbono e metais (ouro e óxido de ferro) NANOTECNOLOGIA -Polímeros: vetor para entregar drogas quimioterápicas e RNAi -avaliar a toxicidade (ativação do complemento, imunogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade) devem ser não tóxicos e biodegradáveis evitar acúmulo no organismo (fígado, baço e medula óssea) NANOTERAPIA NANOTECNOLOGIA Nanoconchas - esferas microscópicas núcleo de sílica, recoberto com uma finíssima camada de ouro e, em segundo lugar, luz com comprimento de onda na faixa do infravermelho destroem células tumorais quando aquecidas com a luz de um raio laser interagem com a luz de forma específica "configuradas" para destruir sob a ação de comprimentos de onda específicos •injetaram nanoconchas na corrente sangüínea de camundongos com câncer de cólon as nanoconchas se acumulam preferencialmente nos tumores (vasos mal formados e permeáveis) irradiação dos tumores com fonte de laser 82% dos camundongos sobreviveram NANOTECNOLOGIA ”Nanocomplexo”: liposomo + anticorpo, junto com terapia genética irá tanto detectar quanto alvejar células metastatizadas de câncer, destruindo-as. •liposomo encapsula o gene p53 ativa apoptose nas células com danos genéticos. •O complexo liposomo-anticorpo encontra a célula cancerosa ligando-se ao receptor transferrina (presente em grande número na superfície das células cancerosas). • Terapia : melhorou o tratamento do câncer por quimioterapia e radiação morte das células danificadas nanocomplexo atinge somente as células cancerosas NANOTECNOLOGIA ”Imunonanoconchas”: nanoconcha direcionável possa encontrar um tipo específico de câncer, onde quer que ele possa estar escondido •conectaram anticorpos anti-HER2 em nanoconchas aplicaram essas imunonanoconchas sobre células de câncer de mama (em laboratório) utilizaram raios laser para aquecer o agente. -Coraram as células somente morreram as células de expressão do HER2 que tinham sido ligadas a nanoconchas •Células que não foram expostas ao câncer também sobreviveram, sugerindo que o tratamento anticorponanoconcha efetivamente destrói as células cancerosas HER2+. NONOEMULSÃO MULTIFUNCIOANAL NONOTERANÓSTICO Nanopartícula de óxido de ferro em emulsão água-óleo carregando um fluoróforo (imagem guiada) e droga terapêutica, após injeção intravenosa para alvejar câncer de cólon em ratos. Adv Mater . Author manuscript; available in PMC 2012 September 22. Nanopartículas alvo-dirigidas em estudos préclínicos e clínicos SGT-53: lipossomo contendo plasmídeo com o gene TP53 tem como alvo receptor de transferrina alta expressão em células cancerosas. Nanopartículas: doxorrubicina + 5-aza-dC câncer mama Nanopartículas e toxicidade •Apesar do uso de nanopartículas até mesmo para consumo há poucas informações sobre os possíveis efeitos tóxicos para a saúde humana e o meio ambiente - Efeitos já observados: - Catalisar danos oxidativos ao DNA - Nanopartículas de ouro: têm a capacidade de mover-se através da placenta da mãe para o feto quando injetadas em ratas grávidas - Nanopartículas de prata: Granulomas em ratos e camundongos após a exposição aguda Nanotubos de carbono: causam acelerado estresse oxidativo na pele Pouca atenção tem sido dada aos efeitos ambientais