Tratamento da Hemofilia: passado, presente e futuro Margareth Castro Ozelo Unidade de Hemofilia “Luis Cláudio Pizzigatti Correa” Hemocentro UNICAMP Evolução do tratamento da Hemofilia A Imobilização, gelo, repouso, analgesia Pré-1930 1930 Crioprecipitado Plasma 1940 1950 1960 Sangue total Estudos clínicos: novos produtos (ex. PEG-FVIII) Concentrado FVIII de alta pureza com inativação viral 1970 Concentrado FVIII de pureza intermediária 1980 1990 2000 1a geração FVIII recombinante 2a geração FVIII recombinante Vol. (mL) 2000UI > 4000 2000 400 80 20 5 5 2010 Hemofilia: Tratamento • Reposição de fator • Terapêutica auxiliar: – – – – antifibrinolíticos DDAVP cola de fibrina gelo • Abordagem multidisciplinar – Centro de referência – Equipe multiprofissional – Programas educativos Hemofilia: Tratamento • Reposição de fator – Objetivos • Terapêutica auxiliar: – – – – antifibrinolíticos DDAVP cola de fibrina gelo • Abordagem multidisciplinar – Centro de referência – Equipe multiprofissional – Programas educativos Tratamento de Reposição • Formas de tratamento: – sob demanda – profilaxia: • • • • primária secundária dose única período: limitado ou à longo prazo • Modo de administração: – em bolus – infusão contínua Modo de administração Fator (%) Contínua (dose fixa) 100 Intermitente (bolus) 80 60 40 Contínua (com ajuste) 20 12 24 36 48 Horas 60 72 Reposição sob demanda • Definição: infusão dos fatores VIII ou IX após o episódio hemorrágico • Objetivo: interrupção do sangramento e prevenção de lesões ortopédicas • Brasil: base do tratamento da hemofilia Profilaxia Primária • Justificativa: quadro clínico da hemofilia moderada • Relato pioneiro: Mälmo, Suécia (1970) Nilsson, Act Paed Scans 1976 • Regime terapêutico: grande heterogeneidade – Baixas doses vs altas doses – Quando iniciar – Quando parar • Qualidade de vida • Impacto no desenvolvimento de inibidores Profilaxia secundária ou de curta duração • Início – Relacionada à presença de articulação-alvo – > 3 sangramentos em 6 meses (Manco-Johnson et al, 1994) – 3 sangramentos em 3 meses (Blanchette et al, 2003) • Regime: 30 a 40% 2 a 3 vezes por semana • Resultados – Retarda progressão da artropatia – Diminui frequência de sangramentos, hospitalizações e ausência na escola – Diminui dor e restrição física Tratamento domiciliar • Definição – Quantidade suficiente para elevar o fator deficiente a um nível de 30 a 40% a ser utilizada logo que seja percebido o sangramento. • Objetivo – Reduzir o tempo entre o início do sangramento e a infusão de fator. – Reduzir as seqüelas decorrentes dos sangramentos. Hemofilia - Terapia de reposição Produtos disponíveis • Hemofilia A – Crioprecipitado (80UI FVIII / bolsa): RDC 23/2002 – Concentrado FVIII - plasmático – Concentrado FVIII recombinante • Hemofilia B – – – – PFC (plasma fresco congelado) Concentrado FIX plasmático Concentrado FIX recombinante Concentrado de complexo protrombínico (CCP) Coagulopatias Hereditárias: Tratamento de reposição • RDC n° 23 (publicada em 24 de Janeiro de 2002): – Proíbe a utilização de crioprecipitado para terapia de reposição em hemofílicos e portadores de doença e von Willebrand, exceto em situação de ausência da disponibilidade de hemoderivados. Hemofilia Reposição de Fator • FVIII: 1U/kg eleva 2 % fator plasmático (t 1/2: 12h) • FIX: 1U/kg eleva 1% fator plasmático (t 1/2: 18h) (1ml plasma fresco = 1UI FVIII e 1UI FIX) Reposição de Fator Risco de transmissão de doenças: • Hepatites virais (vírus B e C) • HIV • Outros: – hepatite A, – Parvovírus B19, – doenças emergentes (doença de Creutzfeldt-Jakob ou doença da “vaca louca”) Reposição de Fator Medidas segurança na produção de hemoderivados: • Triagem clínica e sorológica dos doadores (incluindo NAT) • Avanços técnicos no fracionamento plasmático (purificação dos concentrados) • Técnicas de inativação viral Tecnologia de produção de proteínas recombinantes Produção de Hemoderivados Processos de inativação viral: • pausteurização • inativação pelo calor (seco ou úmido) • solventes (TNBP) / detergentes (tiocianato de Na, Triton X-100, Tween 80) • ultrafiltração e nanofiltração associação c/ técnicas cromatografia Produção de Hemoderivados Métodos de fracionamento e purificação: • precipitação proteica (álcool, glicina, PEG) • absorção e adsorção (Sefadex, DEAE, celulose,fosfato tri-cálcico) • cromatografia: – afinidade – troca iônica – anticorpos monoclonais Produção de Hemoderivados Grau de pureza (atividade específica de fator): atividade de fator / quantidade de proteína (UI/mg) Contaminantes: albumina, fibrinogênio, FVW, fibronectina, IgG, IgM, IgA, outros fatores (FVII, FX, PC, PS) Concentrado de Factor VIII: grau de pureza Grau de Método Ordem de pureza fracionamento purificação Contaminantes maiores Intermediária Precipitação 100 a 300 x (1a geração) proteica em série plasma Fibronectina, FII, FvW, Alta (2a geração) IgG, IgA, IgM, albumina Precipitação 100 x pureza Mesmo em menores proteica e intermediária concentrações (mg), cromatografia antes da proteína estabilizadora Ultra alta (3a geração) Precipitação + 1000 x ou mais Menos que acima em ng, cromatografia por que de pureza antes proteína ac monoclonais estabilizadora intermediária Gomperts et al, 1992; Manual Coagulopatias Hereditárias MS, 2006 Concentrado de Factor IX: grau de pureza Grau de pureza Método fracionamento Ordem de purificação Contaminantes maiores Intermediária Precipitação em (1a geração) série c/ ou s/ 100 x plasma FII, FVII,FX, PC, PS, IgG, IgA, quininases Precipitação e vários ciclos de cromatografia 10 x pureza intermediária mesmos em menores concentrações cromatografia Alta (2a geração) Ultra alta (3a geração) Precipitação com 50 x ou mais menos que acima em ng, ac monoclonais que de pureza antes proteína + separação por intermediária estabilizadora cromatografia Gomperts et al, 1992; Manual Coagulopatias Hereditárias MS, 2006 Concentrado de Fatores Recombinantes Variáveis: • Estabilizadores: – Albumina humana – Outros (sucrose) • Tipo de célula produzida: – CHO (chinese hamster ovary) – BHK (baby hamster kidney) • Características do fator: – FVIII completo (full-lenght) – BDD-FVIII (depletado domínio B) NH2 A1 A2 B A3 C1 C2 COOH Estratégias de melhora dos fatores coagulantes Prolongar a eficácia PEGylation Hyperglycosylation Aumentar a potência FVIIa, FIX, FVIII: GlycoPEGylation (Novo) FVIII: Site-directed PEGylation (Bayer) FVIII, FIX: Random PEGylation (Baxter) FVIIa: Maxy-7 (T106N - V253N) (Bayer) FVIII: Polysialylation +vWF (Baxter) Fusion proteins FVIIa: FVIIa-albumin (CSL Behring); FIX-Fc (Biogen Idec) FIX, FVIII polymorphism screening Liposome formulation (FVIIa, FVIII) Polymer-based delivery (FIX, FVIII) Protein sequence FVIII, FIX: Change sequence to make it less immunogenic Hybrid proteins FVIII: Porcine-human hybrids 23 Higher specific activity Improved activation Increased membrane affinity Improved post-translational modifications FVIIa: Novo NN1731 (V158D - E296V - M298Q) FVIIa: FVIIaVEAY, FVIIaDVQ FVIII: E113A FIX: R338A, Y1A, other muteins FVIII: (FVIII/HCII hybrid) FVIIa: Gla-domain (Maxy-7, other muteins) FIX: Gla, sulfation, phosphorylation, glycosyl. Maior produção Menor risco de inibidores Increase secretion FVIII: A1 mutation (F309S) FVIII: B domain variants (226aa/N6) Mais resistentes à inativação Stabilized protein Hybrid protein FVIII: IR8; Disulfide bond-FVIII Porcine-human hybrids (D318G/M337R) Hemofilia: Tratamento • Reposição de fator • Terapêutica auxiliar: – – – – antifibrinolíticos DDAVP cola de fibrina gelo • Abordagem multidisciplinar – Centro de referência – Equipe multiprofissional – Programas educativos Tratamento Antifibrinolíticos • Ácido épsilon aminocapróico – • Ácido tranexânico – • Ipsilon Transamin, Hemoblock Aprotinina – Trasylol Antifibrinolíticos não devem ser administrados na presença de hematúria. Tratamento Desmopressina (DDAVP) • indicações: doença de von Willebrand tipo I e IIA, que apresentem resposta ao DDAVP ( teste positivo) hemofílicos A leve (aumento 3 a 6x FVIII) outras coagulopatias ou trombopatias onde o teste do DDAVP for positivo dose: 0,2-0,4 g/Kg de peso, diluído em 100 ml de SF 0,9% endovenoso infundido em 20 - 30 minutos. Tratamento Desmopressina (DDAVP) • efeitos colateriais: ação vasomotora: rubor facial, cefaléia de leve a moderada intensidade, hipotensão/hipertensão, ação antidiurética: retenção hídrica e hiponatremia. • contra indicações: pacientes com portadores de pacientes com pacientes com história pregressa de quadro convulsivo, hipertensão e cardiopatias, plaquetopenia após "dose teste", polidipsia Hemofilia: Tratamento • Reposição de fator • Terapêutica auxiliar: – antifibrinolíticos – DDAVP • Abordagem multidisciplinar – Centro de referência – Equipe multiprofissional – Programas educativos