A Gestão das Famílias e das Empresas Alfredo Fonceca Peris As famílias guardam semelhanças entre si ao mesmo tempo em que guardam diferenças tais capazes de nos dar segurança para afirmar que não há duas famílias iguais. Primeiro porque são formadas por diferentes pessoas, o que já seria um motivo suficiente para sustentar tal afirmação. Segundo, porque aspectos ligados à cultura, religião, tradição, costumes, entre outros, são também capazes de diferenciar as famílias. Com as empresas, não é diferente. Podemos encontrar empresas do mesmo ramo, às vezes funcionando no mesmo endereço, por exemplo, num shopping center, num prédio ou numa galeria, porém jamais encontraremos empresas iguais. Se tivermos matriz e filial, na mesma cidade, igualmente serão empresas diferentes. Isso se dá, principalmente, pela ação das pessoas que fazem a empresa. Não se consegue fazer matriz e filial funcionarem em endereços distintos, que seja na mesma cidade, com as mesmas pessoas. O fato de conviver pessoas diferentes, já é suficiente para dar uma conformação diferente para aquela unidade empresarial. Principalmente no caso das empresas pequenas, estas guardam muito da filosofia da família que é proprietária e que nela trabalha. Nesses casos, a empresa passa a fazer parte da vida das pessoas como se fosse um membro dela. Às vezes se discute mais sobre a empresa que sobre qualquer outro membro da família. A relação família e empresa pode ser motivo de muitas alegrias mas, na maioria das vezes e, principalmente, nos primeiros anos de sua existência, é motivo de muitas aflições e preocupações. Chegando, em alguns casos, a ser motivo até de separação do casal ou de atritos constantes. Como os aspectos culturais são tão importantes, geralmente cada membro do casal tem uma formação educacional e cultural diferente. Assim sendo, a tendência é terem idéias diferentes de como administrar a empresa. Se tudo vai bem, as discussões do que, como e quando fazer, são mais amenas e tendem a causar menos estragos no relacionamento dos membros da família, essencialmente marido e mulher que, na maioria das vezes, são os sócios da empresa. Se a empresa estiver com problemas, aí os estragos são sempre maiores. A experiência adquirida nesses anos trabalhando no ramo da consultoria tem mostrado que a primeira grande dificuldade que as pessoas têm é separar a gestão da empresa da gestão da família. Tenho sempre orientado as pessoas a não levar os problemas da empresa para casa. De nada adianta fechar as portas da empresa ao final do dia ou da semana e ir para casa levando todos os seus problemas. A casa precisa ser o reduto de paz, tranqüilidade, descanso e de diálogo procurando resolver os problemas que afetam a família diretamente. Por exemplo, a renda obtida pela família pode vir da empresa. Na empresa se resolve o quanto é possível ser retirado pela família para sua sobrevivência. Se a empresa não for capaz de suprir todas as necessidades da família, novas alternativas deverão ser criadas. Por exemplo, um ou mais membros da família ficam trabalhando na empresa e o outro ou os demais vão trabalhar fora da empresa. Se o volume de capital da empresa não for suficiente para gerar a renda que a família precisa, um volume maior de tempo para o trabalho deverá ser despendido de tal forma que compense a falta de capital. Uma vez definido quanto é possível a família obter de renda, quer seja advinda de sua empresa ou de outras atividades, como emprego para alguns membros da família, a discussão sobre o orçamento familiar deverá ser feita no âmbito da casa e não da empresa. Orçamento familiar é gestão financeira e econômica da família. Fluxo de caixa é gestão financeira e econômica da empresa. Famílias e empresas são duas unidades distintas e como tal deverão ser gerenciadas. Inclusive, em lugares distintos tal discussão deve ocorrer. Problemas da família deverão ser discutidos, administrados e, preferencialmente resolvidos, em casa e em família. Problemas da empresa deverão ser discutidos, administrados e, preferencialmente resolvidos, dentro da empresa. Como quase todos os problemas se resolvem com dinheiro, o mais poderoso calmante já inventado ou descoberto pelo homem, é importante que, em casa, tenha-se o hábito salutar de trabalhar sob a orientação de um orçamento familiar. Feito por toda a família. Cada um tem que colocar suas demandas e prioridades, a começar pela mulher, que é sempre a administradora do lar e que, portanto, sabe o que é essencial e que não pode faltar. Se todos participarem da elaboração do orçamento, incluindo as crianças, todos terão plenas condições de saber quais as limitações orçamentárias da família. Isso facilitará as negociações entre seus membros, melhorará o relacionamento e despertará todos para a necessidade de investir em educação caso queiram melhorar sua renda e suas possibilidades de novos gastos. Em primeiro lugar, o que se resolver fazer deverá ser de conhecimento de todos os membros. Por que se está fazendo assim e agora e por que será feito depois de forma igual ou diferente. Muitos atritos entre membros da família serão resolvidos durante essas negociações. Sem contar que pessoas educadas assim serão chefes de famílias e empresários bem mais organizados e com melhor qualidade de vida no futuro. Na empresa, as questões são mais técnicas e precisam ser administradas seguindo uma metodologia um pouco mais complexa, porém de fácil assimilação, caso haja a constatação da necessidade e o interesse em aprender. Em primeiro lugar, a tarefa mais básica e que é negligenciada pela maioria esmagadora das empresas: a confecção do caixa diário. Esse é o primeiro pedido feito pelo contador e, talvez, por ser o primeiro, seja o mais negligenciado. O relatório do caixa é a principal fonte de informações de uma empresa. Se o plano de contas, simplificado, para o caso de pequenas empresas, for bem elaborado e, para isso, o contador pode ajudar de forma decisiva, o segundo passo é ter um pequeno software ou mesmo uma planilha do Excel e efetuar os lançamentos. Ao final do dia, conferir se está tudo lançado nas contas certas e verificar se o caixa está com o seu saldo correto. O que tiver de saldo no relatório do caixa deverá ter de recursos no caixa, quer seja dinheiro ou cheques. A partir do relatório do caixa é possível se fazer uma DRE que é a abreviação de Demonstrativo de Resultado do Exercício. Com essa apuração, será possível avaliar o desempenho da empresa no período. Novamente o contador poderá dar as orientações necessárias e, no caso delas não serem suficientes, um consultor poderá ser procurado. Essa ação deverá ser considerada como essencial e fazer parte dos investimentos necessários para a implantação de uma empresa. Não é, definitivamente, um custo e sim um investimento. Além da elaboração do caixa e da DRE, mensalmente, faz-se necessário, ainda, a elaboração do fluxo de caixa, que é o equivalente ao orçamento familiar. Este poderá ser o principal indicador das possibilidades de gastos e investimentos da empresa. E para finalizar, a empresa precisa ter o hábito de elaborar, mensalmente, um balanço econômico, onde ela fará uma avaliação dos seus haveres e dos seus deveres, sempre a preço de mercado, para que possa identificar para onde o lucro ou o prejuízo apurado na DRE está sendo alocado. Se a empresa está obtendo lucros, estes podem estar sendo alocados para investimentos em construções, aquisição de máquinas e equipamentos, veículos, por exemplo, ou podem estar ficando em estoques de matérias primas ou produtos prontos. Ou se está sendo destinado para financiar clientes e está no contas a receber ou no caixa. Contrariamente, se a empresa está gerando prejuízos, se este prejuízo está consumindo as reservas da empresa em estoques de matérias primas e de produtos acabados e em dinheiro no caixa. Ou se está aumentando o endividamento geral da empresa. Alfredo Fonceca Peris é Sócio Diretor da Peris Consultoria Empresarial Ltda. http://www.perisconsultoria.blogspot.com/ Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados.