Revista Memória LGBT - Edição 3
Ano 2 - Abril / Maio 2014
ISSN 2318-6275
REVISTA MEMÓRIA LGBT
www.memorialgbt.com
Patrimônio Imaterial
LGBT: O Baile das
Chiquitas – Conflitos
e Negociações de um
Patrimônio LGBT
Artigos: As relações
entre Cultura, Memória e
Identidade LGBT
Patrimônio Material
LGBT: Já parou
para pensar que a
sua boate pode ser
tombada?
Internacional:
Sala de cinema
Urdaneta –
um espaço de
identidade gay
Patrimônio cultural
LGBT
Expediente
Revista Memória LGBT – Ano 2 No 3 –
Abril/Maio
ISSN 2318­‑6275
www.memorialgbt.com
[email protected]
Editor: Tony Boita
Redação: Aline Inforsato, Jean Baptista e
Tony Boita
Direção de Arte: Aline Inforsato
Website: Cássio Dourado e Eldon Luis
Revisão: Jean Baptista e Wellington Pedro
da Silva
Corpo Editorial: Danielle Agostinho,
Jean Baptista, Julia Moura Godinho, Tony
Boita, Treyce Ellen Goulart e Wellington
Pedro da Silva
Colaboradorxs desta edição
Rodrigo Medsan, Vagner de Almeida,
Andressa Pereira, Rosa Flor Moreno, Aline
Montenegro, Jefferson Borges, Diogo
Carvalho,
Paulo Cogo, Hagá Galvão, Andreia Laís
Canelli, Sasha Caprina, Graciele Oliveira,
Edegar Ribeiro Júnior, Alex Fernandes,
Felipe Medeiros, Cassiano Celestino de
Jesus, Elaine de Jesus Souza, Tony Willian
Boita, Jean Baptista, Stephanie Borchardt
Reidel, Jaddson Luiz Sousa Silva,
Victor Urresti, José Alirio Peña Zerpa e
Mario di Lorenzo
Agradecimentos
Rodrigo Medsan, Vagner de Almeida,
Andressa Pereira, Rosa Flor Moreno, Aline
Montenegro, Jefferson Borges, Diogo
Carvalho,
Paulo Cogo, Hagá Galvão, Andreia Laís
Canelli, Sasha Caprina, Graciele Oliveira,
Edegar Ribeiro Júnior, Alex Fernandes,
Felipe Medeiros, Cassiano Celestino de
Jesus, Elaine de Jesus Souza, Tony Willian
Boita, Jean Baptista, Stephanie Borchardt
Reidel, Jaddson Luiz Sousa Silva,
Victor Urresti, José Alirio Peña Zerpa e
Mario di Lorenzo ,
aos membros da Rede LGBT de Memória e
Museologia Social, Comissão Organizadora
do Seminário Nacional de Lésbicas.
Todos os Direitos Reservados da Revista Memória LGBT a Tony Willian Boita.
É proibida a comercialização e a
reprodução da Revista Memória LGBT.
Qualquer pessoa poderá pesquisar, estudar e
comunicar o mateiral da Revista Memória LGBT
desde que autorizado pela mesma.
Entre em contato: [email protected]
Editorial
Tony Boita
Em sua terceira edição, a Revista Memória LGBT versa sobre o patrimônio cultural da
comunidade LGBT no Brasil. Com esta proposta o periódico vem atender aos seguintes
questionamentos: nós LGBT temos patrimônios? Nos sentimos representados em museus,
espaços de memória, exposições, monumentos, praças, nomes de ruas e outras referências
nacionais patrimoniais? A conquista destes espaços oficiais e o reconhecimento de um con‑
junto de referências culturais LGBT poderá combater a homo, trans e lesbofobia?
Esses questionamentos tentarão ser respondidos no decorrer da presente edição. No en‑
tanto, é importante frisar que toda a comunidade LGBT tem direito garantido à cultura e à
memória, bem como, tod@s @s cidadãos brasileir@s, conforme artigos 215 e 216 da Cons‑
tituição Federal (1988), a Carta de Durban (2001), a Declaração Universal sobre a Diversida‑
de Cultural ( 2002) e as leis estaduais que dispõem sobre a liberdade de orientação sexual de
15 estados. Para tal, é necessário que nós LGBT's nos empoderemos destes conceitos, ações
e legislação. Afinal, onde estamos representados na memória nacional?
Como nas edições anteriores, vários integrantes da comunidade LGBT do Brasil e da Amé‑
rica Latina foram fundamentais - com isso, cumpre-se um dos principais objetivos da revista,
que é o de propiciar um canal de publicação e comunicação para LGBT's. Em suas primeiras
páginas você poderá conferir os depoimentos de leitores que nos enviaram comentários via
e-mail e facebook. Em seguida o psicólogo afirmativo Paulo Cogo discorre sobre as relações
entre cultura, memória e identidade da comunidade LGBT em uma abordagem inédita na se‑
ção Artigo. Na seção Debates, o turismólogo Hagá Galvão e a pós-drag Sasha Caprina falam
sobre a polêmica do primeiro beijo gay em novela global, ao passo que a professora Andréia
Lais Canelli questiona se o dia 29 é o dia da visibilidade ou da invisibilidade travesti. Em se‑
guida Graciele Oliveira emocionará leitor@s com a entrevista publicada no periódico o Grito
do Povo, De Keila a David: Uma metamorfose ambulante que quer voar. Na seção Memória
e Resistência, uma pluralidade de temas que retratam distintas demandas LGBT do Brasil:
o Advogado Edegar Ribeiro Júnior nos apresenta o descaso com os direitos das travestis do
presídio central de Porto Alegre; Alex Fernandes, estudante de museologia da UFG, discorre
sobre os encontros entre grupos de ativistas LGBT's em parques da cidade de Goiânia; Felipe
Medeiros nos contempla com a exposição "T: um outro olhar" que está ocupando espaços
públicos em Recife; por fim, Cassiano Celestino de Jesus e Elaine Jesus de Souza falam sobre
a violência e o preconceito nas escolas. A seção Especial, traz, ainda, o tema desta edição,
discorrendo sobre as potencialidades do patrimônio material e imaterial LGBT: ali o debate
inicia com o projeto Patrimônio cultural LGBT e museus: mapeamento e potencialidades de
memórias negligenciadas, projeto que origina esta revista, coordenado e mantido por mim;
em seguida, Jaddson Luiz Sousa Silva fala sobre o primeiro patrimônio imaterial LGBT bra‑
sileiro, a Festa das Chiquitas em Belém; Victor Urresti apresenta uma reflexão a respeito das
boates LGBT na qualidade de patrimônio material. Já na seção Internacional, José Alirio Peña
Zerpa problematiza o Cine Urdaneta, em Caracas, fundado em 1951 e, assim como outros ci‑
nemões, importante espaço de sociabilidade de gerações LGBT. Por fim, Hagá Galvão encerra
essa edição falando sobre o turismo LGBT, ou Gay-Friendlye, indicando as potencialidades da
relação entre memória, patrimônio e turismo.
Vale ressaltar que a Revista Memória LGBT é um espaço aberto para a população LGBT,
bem como redes, coletivos, cooperativas, comunidades, grupos, militantes, projetos, pesqui‑
sas, boletins e outras ações que promovam a memória, história e o patrimônio cultural de
nossa comunidade plural.
Boa Leitura e não esqueçam, nós LGBT's temos direito a cultura e a memória e, juntamen‑
te com elas, teremos mais ferramentas para combater a homo, lesbo, transfobia e todas as
formas de preconceito correlato..
Um beijo
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Depoimentos
Palavra d@s LeitorXs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Acontecerá
O SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas é o maior evento
das lésbicas e Mulheres bissexuais do Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Aconteceu
Tribunal de Justiça do RJ realiza maior casamento homoafetivo do mundo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Artigos
As relações entre Cultura, Memória e Identidade LGBT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Debates
A importância do Beijo Gay na Teledramaturgia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
29 de janeiro, dia da Visibilidade Travesti. INVISIBILIDADE? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Não Beijei ninguém na noite do primeiro Beijo Gay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Entrevista
De Keila a David: uma metamorfose ambulante que quer voar!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Memória e Resistência LGBT
Considerações acerca dos direitos das travestis do presídio
central de Porto Alegre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Entre o verde da grama e a cor do Arco­‑Íris. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Exposição “T: Um Outro Olhar”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Violência e preconceito: A homossexualidade nas escolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
CAPA
Patrimônio cultural LGBT e museus: mapeamento e
potencialidades de memórias negligenciadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Memórias
Minha vida com Marina Reidel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Patrimônio Imaterial LGBT
O Baile das Chiquitas: Conflitos e Negociações de um
Patrimônio LGBT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Patrimônio Material LGBT
Já parou para pensar que a sua boate pode ser tombada? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Internacional
Sala de cinema Urdaneta: um espaço de identidade gay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Turismo
Turismo Gay­-Friendly e lucros de 2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
DEPOIMENTOS
Palavra d@s LeitorXs
A última edição da Revista Memória LGBT foi um sucesso. A cada edição
aumenta o número de visualizações e colaborações. Tem gente do mundo
todo lendo e comentando. Colabore você também enviando sua mensagem,
artigos e relatos sobre a memória e a história LGBT.
Visibilidade Trans
A Visibilidade trans vem crescendo na mídia e na história, mas muitas vezes vemos essa exposição
ocorrer de forma vexatória, e vocês vem executando da forma mais positiva, parabéns Revista Memória
LGBT! #NossasMusas
Rodrigo Medsan
Excelente que a história possa ser contada por suas próprias protagonistas e que lembranças das
ausentes possam ser publicadas.
Vagner de Almeida
Fiquei emocionada com a Revista Memória LGBT. Pela primeira vez encontrei uma revista onde pude
ver que minha história esta contemplada de forma digna e luxuosa. Bom saber que não estou sozinha.
Bjimmm e sucesso!
Andressa Pereira
4 | MEMÓRIA LGBT
Clóvis Bornay
Merecida homenagem. Na exposição permanente inaugurada em 1987, no Museu Histórico Nacional,
foi feita uma homenagem a ele, no painel de abertura feito pelo pintor contemporâneo Clécio Penedo.
Atualmente, esse painel encontra­‑se antes da exposição “Cidadania em construção”. Clóvis Bornay vive!
Aline Montenegro
Minha memória
Bom, aqui está este disco Like a Prayer da Madonna, Lançado em 21 de Março de 1989, ano no qual
eu completei 1 aninho. Sou fã e além de tudo é uma diva GLS.
Jefferson Borges
Visibilidade lésbica
Sou Rosa Flor Moreno, 45 anos, lésbica feminista, moro em Simões Filho – BA.
Tudo começou aos 17 anos, foi uma bomba explodindo em meu corpo e minha mente, era um amor diferen‑
te. Sim, uma mulher, uma mulher... e naquele momento o que fazer? Decidi largar o casamento, um amor de
repente diferente, fazendo o coração acelerar, pernas tremerem e vagina doer. Medo, angustias, não sabia o que
fazer, meu preconceito a atormentar, não mais aguentar resolvi me jogar, e decidi amar! Momentos que nunca
esqueci, vivi, vivi té os 14 anos passarem. Sofri, rodei, cai no fundo do poço; lá passei muito tempo, até que uma
nova mulher encontrei. A partir dai, parei em alguns corpos e portos, novas emoções senti, mas não era amor.
O tempo passou, e o ENLESBI chegou, era um Encontro de Lésbicas e Bissexuais do Estado da Bahia,
promovido pela Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), me renovou, me achei em cada rosto que ali encon‑
trei, eram mulheres que amam mulheres, que lutam pelo Feminismo Lésbico, pela Visibilidade, contra a
Lesbofobia, Racismo, contra todo tipo de violência contra a Mulher, pela saúde da Mulher Lésbica, e na
construção de Politicas Públicas, dentro de um processo de equidade.
Após o ENLESBI, mais fortalecida, convidei mulheres Lésbicas e Bissexuais para lutarmos juntas, em
defesa dos Direitos Humanos das Lésbicas e Bissexuais, pela Visibilidade Lésbica, Ativismo e Feminismo
e Plano de Feminilização, nasce o Núcleo de Lésbicas e Bissexuais de Simões Filho. Hoje: Feliz, Lésbica,
Feminista, Ativista e aberta ao Amor!
Finalizo minha história, dizendo obrigada a LBL, ao ENLESBI, ao GCP (Grupo Contra o Preconceito) e a
Gami (Grupo Afirmativo de Mulheres do Rio Grande do Norte).
Rosa Flor Moreno
MEMÓRIA LGBT | 5
ACONTECERÁ
O SENALE
SEMINÁRIO NACIONAL DE LÉSBICAS
é o maior evento das lésbicas e mulheres
bissexuais do Brasil
O SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas – é
o maior evento das lésbicas e mulheres bissexuais
do Brasil.
Lésbicas e mulheres bissexuais reuniram­‑se pela
primeira vez em 1996, na cidade do Rio de Janeiro,
onde se estabeleceu o 29 de agosto como dia nacio‑
nal da visibilidade lésbica. Ao todo foram realizados
apenas sete (07) Encontros Nacionais, apesar da pre‑
visão de realização de encontros Bi­‑anuais a partir do
encontro de 1998:
I SENALE: 1996 – Rio de Janeiro/RJ
II SENALE: 1997, na cidade de Salvador\BA
Esta dificuldade, sem sombra de dúvida, tem
tudo a ver com o processo de invisibilização so‑
cial imposto às mulheres, em especial às lésbicas
e bissexuais que além de contestarem o machismo
rompem com o padrão heteronormativo social‑
mente eleito. E isto está diretamente ligado à difi‑
culdade organizativa e da falta de apoio institucio‑
nal e social para realização dos eventos.
O 8o SENALE será realizado, pela primeira vez na
região sul do País, na cidade de Porto Alegre, RS
e está sendo organizado de forma coletiva pelas
maiores redes de Lésbicas e Mulheres Bissexuais
do País, além um grande número de mulheres in‑
dependentes.
III SENALE: 1998 – Betim\ MG
IV SENALE: 2001 – Aquiráz\CE
V SENALE: 2003 – São Paulo/SP
VI SENALE: 2006 – Recife\PE
VII SENALE: 2010 em Porto Velho/RO
VIII SENALE – 2014 – Porto alegre – RS
6 | MEMÓRIA LGBT
Para maiores informações acesse:
www.senale.wordpress.com
ou envie e­‑mail para:
[email protected]
LBL – LIGA BRASILEIRA DE LÉSBICAS – RS
www.lblrs.blogspot.com.br
www.lblsaudelesbica.blogspot.com.br
[email protected]
ACONTECEU
Tribunal de Justiça do RJ
realiza maior casamento
homoafetivo do mundo
Fonte: Assessoria de Imprensa da Amaerj
Diogo Carvalho / Amaerj
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro realizou, em
8 de dezembro – Dia da Justiça e da Família –, a
maior cerimônia civil de casamento homoafetivo do
mundo. Na ocasião, 130 casais tiveram oficialmente
reconhecidas suas uniões estáveis. Confira o vídeo
da solenidade, que foi produzido por TJ­‑RJ e Amaerj.
A mesa da solenidade foi formada pelas juízas ce‑
lebrantes Raquel de Oliveira e Raquel Santos Pereira
Chrispino; pelo superintendente do Programa Rio Sem
Homofobia, Claudio Nascimento; pela representante do
Núcleo de Defesa dos Direitos Homoafetivos da Defen‑
soria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Elisa Cruz;
pela diretora do Departamento de Sustentabilidade do
TJ­‑RJ, Rosiléia Di Masi Palheiro; e pelos atores David Pi‑
nheiro e Fabiana Schunk, do elenco da TV Globo.
A iniciativa do evento é fruto da parceria entre o Po‑
der Judiciário fluminense, através do Departamento de
Promoção da Sustentabilidade; o Governo do Estado do
Rio, através do Programa Rio Sem Homofobia, da Se‑
cretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Huma‑
nos; a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
através do Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e
Direitos Homoafetivos; e a Associação dos Registradores
de Pessoas Naturais do Estado do Rio de Janeiro.
Video: http://youtu.be/CxKRs_WFlb0
MEMÓRIA LGBT | 7
ARTIGOS
AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA,
Paulo Cogo1
Apesar dos avanços inegáveis ocorridos nas últi‑
mas décadas em nosso país em relação à conquista
de uma cidadania dos indivíduos que compõem o
grupo LGBT, especialmente lésbicas, gays, bissexuais,
travestis, transexuais e transgêneros, o preconceito
em relação às pessoas que expressam orientações
sexuais diferentes da heterossexual ainda é enorme.
Devido a esse grande preconceito manifestado em
todas as formas de fobias que especialmente os indi‑
víduos heterossexuais expressam contra os membros
da comunidade LGBT, o medo, a vergonha, a invisibili‑
dade escolhida por medo ou conveniência ou impos‑
ta tem caracterizado a maioria dos seus integrantes.
Ocorre que enquanto a maior parte dos mem‑
bros do grupo LGBT continuar portando diferen‑
tes tipos de medo, pudor ou de culpa pela sua
orientação sexual a construção de uma cultura e
identidade de grupo assertiva, afirmativa e posi‑
tiva se torna impossível.
Dentro desta perspectiva, é possível, hoje no
Brasil, falarmos da existência de uma “cultura
LGBT”? A resposta é afirmativa. Porém, a realida‑
de dessa cultura, ou melhor, ainda uma “subcul‑
tura” ou “cultura marginal” é paradoxal. Utilizo
aspas ao me referir a essa cultura para enfatizar
esse paradoxo, no meu ponto de vista um falso
paradoxo, uma vez que é possível tentar entendê­
‑lo ou explicá­‑lo, o que vou buscar fazer a seguir.
Quando falo em paradoxo ou falso paradoxo, me
refiro ao fato de que a existência, crescimento e forta‑
lecimento da comunidade LGBT no Brasil hoje é uma
realidade, um fato social relevante, de acordo com a
análise sociológica, basta olharmos as estatísticas ofi‑
ciais a respeito ou os estudos sobre o tema realizados
pelas grandes instituições acadêmicas no Brasil.
Porém, grande parte desse crescimento se deve,
por um lado, a conquistas de somente parte do
grupo LGBT, especialmente gays e lésbicas que têm
conseguido um maior espaço na mídia e na socie‑
8 | MEMÓRIA LGBT
dade devido a um aumento da conscientização das
pessoas que compõem esses grupos e de parte da
parcela mais esclarecida da nossa sociedade que
tem apoiado as reivindicações destes grupos e au‑
xiliado através de seu poder de influência social.
No entanto, a outra parte do grupo LGBT, tra‑
vestis, transexuais e transgêneros, apesar de al‑
gumas conquistas relevantes obtidas nos últimos
anos, seguem em uma condição de invisibilidade
e fragilidade social absurda.
Por outro lado, parte do fortalecimento do grupo
LGBT se deve apenas por um viés econômico, ou
seja, a nossa sociedade tem concedido espaço a
gays e lésbicas pela constatação do grande poder
de consumo desses grupos sociais, identificado por
expressões como “pink money”, ou seja, uma forma
, MEMÓRIA E IDENTIDADE LGBT
de “inclusão e reconhecimento social” às avessas,
não pela participação social, mas pela relevância no
processo de consumo de bens e serviços.
Nada contra a inserção das pessoas do grupo
LGBT na denominada “sociedade de consumo”,
uma vez que esse tipo de inserção é uma parte
do desenvolvimento da cidadania, porém a inclu‑
são no consumo deveria ser uma decorrência da
inclusão e reconhecimento social e não o inverso.
Assim, é possível falarmos de uma cultura
LGBT, no sentido de que existe hoje um conjunto
de práticas sociais, que incluem rituais, compor‑
tamentos, linguagens, reações emocionais condi‑
cionadas e valores próprios deste grupo, porém
essa cultura altamente heterogênea, rica e diver‑
sificada ainda encontra­‑se à margem da cultura
oficial, dominante ou instituída.
O número de profissionais, manifestações cultu‑
rais e produtos culturais realizados integralmente
ou direcionados aos membros do grupo LGBT ain‑
da é muito pequeno se comparado ao de produtos
culturais heteronormativos, ou seja, voltados pre‑
dominantemente ao público heterossexual.
Para que essa realidade se transforme é necessá‑
rio que os membros do grupo LGBT se empoderem,
ou seja, que reconheçam o seu poder pessoal de ser,
existir e realizar a partir da sua orientação sexual.
Somente através do reconhecimento, construção e
afirmação de uma identidade de gênero e sexual
positiva e apreciativa é possível contar uma história
pessoal, uma história de vida, uma história de gru‑
po. Sem uma identidade pessoal clara, transparente,
forte e assertiva é impossível contar a própria histó‑
ria e menos ainda lutar pela afirmação dos próprios
direitos e dos direitos dos grupos a que se pertence.
A construção de uma identidade de gênero e
sexual positiva e apreciativa passa pela identifi‑
cação com outras pessoas que possuem identi‑
dades semelhantes e que servem de referência
nesse processo. Nesse sentido, contar a história
e trajetória dos grandes nomes do movimento
LGBT, bem como dos principais eventos e realiza‑
ções no Brasil é essencial para construir uma me‑
mória coletiva e um sistema de referência cultural
para os outros membros do grupo LGBT.
E para que isso se torne um fato é fundamental
a construção da memória LGBT, através do le‑
vantamento e registro da história do movimento
LGBT no Brasil, incluindo todas as formas de ma‑
nifestações e expressões materiais e simbólicas
existentes desde o surgimento do movimento.
Para este fim torna­‑se imprescindível a constru‑
ção da historiografia e trajetória do movimento
LGBT em nosso país, a partir da pesquisa minucio‑
sa de seus fatos e personagens históricos, mortos
e vivos, bem como da herança cultural deixada por
seus pioneiros, incluindo mártires, heróis e perso‑
nagens que tiveram seu peso diminuído ou que
foram esquecidos pela historiografia oficial.
Da mesma forma, é fundamental que os cursos de
história, bem como as demais licenciaturas, os cur‑
sos de museologia, e todos os demais campos que
abordem a educação e memória que incluam em
seus currículos as relações de gênero como catego‑
ria fundamental de análise histórica na historiografia
contemporânea e não apenas como uma categoria
transversal como tem ocorrido na maioria das nossas
instituições de ensino acadêmico de história no Brasil.
PAULO COGO é psicólogo pela UFRGS, Mestre e Doutor em Sociologia pela
UFRGS, Especialista em Administração de Recursos Humanos pela PUCRS, Es‑
pecialista em Psicologia Transpessoal pela UNIPAZ; Bacharel em Direito pela
PUCRS, Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela
PUCRS; Professor Adjunto do UniRitter, ministrando aulas para os cursos de
Psicologia, Publicidade e Propaganda e Administração; Atua como Psicólogo
Afirmativo auxiliando os membros do grupo LGBT na construção e afirmação
de uma identidade de gênero e sexual positiva e afirmativa e como Personal
Coach na área de planejamento e gestão de carreira.
1
MEMÓRIA LGBT | 9
DEBATES
A importância do Beijo G
Hagá Galvão
No dia 31 de janeiro foi ao ar o último capítulo da
novela Amor a Vida, de Walcyr Carrasco. O vilão prota‑
gonista, Felix, personagem do Mateus Solano protago‑
nizou, junto com Thiago Fragoso, o que foi comemorado
como o primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira.
Contudo, não foi, de fato, o primeiro beijo gay da
televisão brasileira. Uma emissora menor havia apre‑
sentado um beijo entre personagens do mesmo sexo
em 2009 e, antes disso, em 2003, na própria Rede
Globo, Alinne Moraes e Paula Picarelli também se
beijaram como Clara e Rafaela, estudantes e lésbi‑
cas. O site Sapatômica lista quinze beijos entre perso‑
nagens do mesmo sexo – incluindo um em 1963, na
novela A Calúnia da extinta Rede Tupi – todos com
baixa repercussão na mídia e na sociedade.
Mas, de fato, o beijo apresentado na novela Amor
a Vida foi dado em um contexto singular, em que a
10 | MEMÓRIA LGBT
disputa instalada entre setores conservadores e pro‑
gressistas da política nacional digladiam­‑se sobre a
pauta dos direitos LGBT. É esse impacto que o tornou
diferente dos demais e o colocou no patamar de Pri‑
meiro Beijo Gay da Televisão Brasileira. As reações
foram as mais variadas: o deputado Jean Willys disse,
em sua página no Facebook, comemorar o aconte‑
cido como uma final de Copa Mundial de Futebol;
frentes religiosas processaram a emissora pela audá‑
cia de exibir a cena, acusando­‑a de tentativa de des‑
truir a família tradicional; acadêmicos viraram o nariz
criticando que a Rede Globo dera mais um hipócrita
golpe interessado somente em audiência.
Independente desse ser ou não o primeiro beijo
gay da televisão brasileira, no contexto em que se
apresenta, é uma vitória para a classe LGBT. Em
primeiro lugar dá visibilidade aos casais homos‑
SAPATOMICA. 15 Beijos Gays Na TV Brasileira Em Horário Nobre! Disponível em: <http://
sapatomica.com/blog/2012/09/09/15­‑beijos­‑gays­‑na­‑tv­‑brasileira­‑em­‑horario­‑nobre/>
Gay na Teledramaturgia
Disponível em: http://cordelirando.blogspot.com.br
sexuais e ao tema em geral. Além disso ela dá a
oportunidade de milhões de homossexuais se ve‑
rem representados com respeito, como tantas ma‑
nifestações festivas comprovaram a aceitação. Por
anos nós homossexuais assistimos na TV beijos e
mais beijos de casais heterossexuais sem que isso
nos ofendesse. Ser representado estende o senso
de igualdade que, no fundo, é o que querem todas
as militâncias LGBT, incluindo esta publicação.
Por fim, a representação do beijo gay quebra um pa‑
drão, quebra o gelo do debate sobre orientação sexual
O beijo aconteceu
Em pleno horário nobre
E a pessoa que o perdeu
Seguirá sendo mais pobre
Pois o teor desse beijo
No atacado ou no varejo
Vale mais que ouro e cobre
Foi um beijo delicado
Singelo e comovente
Há anos interditado
Pela moral excludente
Foi um beijo de amor
Para aliviar a dor
De muita gente decente
Foi um beijo esperado
Por quem luta por direitos
Um beijo fundamentado
Na ideia de respeito
De justiça e igualdade
e oportuniza o tratamento do tema de maneira mais
aberta e – esperamos – de forma mais leve. Parece
mesmo ser um marco histórico, uma vitória. E desejo
que seja tratado como tal.
Que mostra a diversidade
Pra combater preconceito
Foi um beijo de novela
Mas refletiu a real
E talvez deixe sequela
Na doença terminal
Chamada de homofobia
Que ainda contagia
Gente que se diz legal
Foi um beijo pra quebrar
Um tabu de longa data
Um beijo pra comentar
E se registrar em ata
Um beijo gay necessário
Para tirar do armário
Gente que morre e que mata
Foi algo sensacional
E importante demais
Um beijo que deu moral
Para a gente beijar mais
Pensando nele eu dormi
Acordei e escrevi
Mais um cordel pros anais:
Um beijo faz diferença
Faz ruído, faz questão
Faz balançar muita crença
Faz gerar celebração
Um beijo faz muito bem
Faz avançar mais de cem
Anos­‑luz de solidão
Um beijo faz muita gente
Abrir mais o coração
Mexe bastante com a mente
De nossa população
Amplia a democracia
Renova nossa energia
Que venha mais beijo, então!
Salete Maria
MEMÓRIA LGBT | 11
DEBATES
29 de janeiro, dia da Visibilidad
Profa Andreia Lais Canelli*
Inicio parabenizando todas as companheiras e de que o alheio é o detentor do poder, da razão e
companheiros que em todo dia 29 de janeiro, se mo‑ da palavra, as pessoas Travestis e Transexuais que
bilizam em suas bases com ações afirmativas com constroem suas identidades de gênero de maneira
vistas a reduzir a violência e o preconceito que diaria‑ autônoma, e fora dos padrões pré­‑determinados por
mente agride as pessoas Trans, e que também lutam um coletivo dominante heteronormativo, julgam­‑se
durante o ano todo por uma sociedade plural, justa, no direito de excluir e colocar para bem longe do co‑
de respeito, paz e sem Transfobia. Considerando que tidiano social as pessoas trans, ou seja, a margem
históricamente a população Trans brasileira ao longo social, contribuindo assim para a violência que as
de nossa história vem sofrendo com os mais diversos pessoas trans sofrem cotidianamente.
aspectos que a violência social pode gerar.
Para LUZ, Nanci (2009, p.69):
Luta, história, humanização, conscientização e
A aceitação social da violência contra as pessoas
conquistas
Travestis e Transexuais é a própria negação dos direi‑
O Dia Nacional de Visibilidade Trans surgiu de uma tos fundamentais de toda uma parcela populacional,
campanha de prevenção para travestis, lançada em contribuindo para o agravamento das injustiças so‑
2004, com o tema “Travesti e Respeito”, onde o ciais e as afastando da democracia.
objetivo é praticar no cotidiano social o Respeito,
Em um passado recente, uma série de conquistas fo‑
que para a população de travestis e transexuais na ram adquiridas como por exemplo o Nome Social, po‑
mentalidade social brasilei‑
rém é simbólico, pois toda cida‑
ra é invísível, assim nesse
A Violência invade a vida dã ou cidadão brasileiro/a tem
contexto, quem é invisível,
direito a um nome civil, que é
das
pessoas
Travestis
e
consecutivamente não ne‑
um direito tão primordial quan‑
Transexuais,
porém
para
a
cessita do tal respeito, sen‑
to o direito à vida, nesse sentido
do assim alvo de violência, mídia é apenas um fantasma, onde a população trans brasilei‑
estigmatização, violência,
ra não tem garantido o uso do
colocado à sombra.
exclusão, vulnerabilidade
próprio nome enquanto pessoa
e a não participação nas práticas cotidianas sociais, humana detentora de direitos e deveres, não podemos
pelo fato de que travestis e transexuais não corres‑ nos basear no respeito às diferenças. Sendo que na so‑
pondem a um constructo social heteronormativo e ciedade contemporânea a Vida das pessoas Travestis e
patriarcal. Assim, a partir desse histórico, o dia 29 Transexuais é um marco de luta e enfrentamento de vio‑
de janeiro foi instituido como data nacional, agora lência no dia­‑a­‑dia.
lembrada em todo o território nacional.
A Primeira Violência que podemos destacar é no seio
A Sociedade Brasileira tem em sua mentalidade a familiar, onde pai e mãe traçam destinos para seus fi‑
existência da população de Travestis e Transexuais lhos/as, e no decorrer da trajetória dos/as filhos/as, nem
como fato, porém ao longo da História recente e sempre o destino traçado é correspondido, principal‑
por conta do fundamentalismo e da predominância mente no caso de filhos/as Trans, inicia­‑se aí o primeiro
"
"
12 | MEMÓRIA LGBT
de Travesti.
ato de violência contra a pessoa Travesti/Transexual. O
segundo e talvez o maior trauma na vida das pessoas
Travestis e Transexuais encontra­‑se no ambiente esco‑
lar regular, onde na quase totalidade as pessoas trans,
por não corresponderem aos constructos sociais pré­
‑estabelecidos acabam evadindo do processo de en‑
sino aprendizagem e, assim, na continuação de suas
trajetórias a violência e o preconceito não se extingue,
estigmatizando cada vez mais as pessoas Trans.
De acordo com LÖWY (1996, p.23), a consciência en‑
tre a modificação das circunstâncias e a automodifica‑
ção só pode ser entendida racionalmente como práxis
revolucionária, isto quer dizer que não se trata de es‑
perar milagrosamente que um indivíduo transforme cis‑
cunstâncias, mas sim um coletivo que “supostamente”
encontra­‑se fora da sociedade.
Assim as ações do dia 29 de janeiro da Visibilidade
Trans que ocorrem em todo o Brasil são ações legítimas,
pois são idealizadas por coletivos institucionais que tem
o mesmo objetivo, que é lutar para fortalecer a cidada‑
nia da população Trans do Brasil, que foi negada duran‑
te a história da nação a qual pertencemos.
Quando falamos em invisibilidade, podemos perceber
que no decorrer de todas as outras épocas do ano, a
população de Travestis e Transexuais do Brasil continua
na luta para o reconhecimento da visibilidade e da ocu‑
pação de espaços e de práticas cotidianas sociais, que
na maioria das vezes é barrada por um Estado funda‑
mentalista e uma sociedade heteronormativa e conser‑
vadora. Pessoas Travestis e Transexuais não possuem
um “botão: tornar visível – tornar invisível” As pessoas
trans tem por direito constitucional experimentar todas
as ofertas propostas pelos mais diversos seguimentos
sociais, sejam públicos das três esferas governamentais
ou ainda organismos da sociedade privada. Travestis e
?
Transexuais são pessoas humanas, e sim devem ter vi‑
sibilidade em todos os espaços e em todas as práticas
sociais como família, educação, mercado de trabalho,
saúde, segurança […].
A Violência invade a vida das pessoas Travestis e Tran‑
sexuais, porém para a mídia é apenas um fantasma, co‑
locado à sombra. Isso pode ser justificado pelo opressor
como uma legitimidade e uma não prioridade na pauta
de discussões, como se isso fosse parte do processo civi‑
lizador, onde Travestis e Transexuais não se enquadram
nesse processo.
Continuando a discussão sobre a violência sofrida pe‑
las pessoas Travestis e Transexuais, notamos ainda que
na hora do óbito, o empoderamento do corpo e a cons‑
trução da identidade de gênero é deslegitimado, onde
muitas pessoas trans são descontruídas e desempode‑
radas, assim sendo enterradas como o alheio conserva‑
dor e heteronormtivo determina, desrespeitando toda
uma trajetória histórica pessoal.
* Professora de História da Rede estadual de ensino do Paraná
Coordenadora de articulação social e política do Transgrupo Marcela Prado
Secretária de Travestis e Transexuais – ABGLT
Colaboradora da ANTRA
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Programa Nacional de Direitos Humanos. Brasil, gênero e raça: todos
pela Igualdade de oportunidades, Brasília, Assessoria Internacional, 1998
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA: formação de professores/as em gênero,
sexualidade, orientação sexual e relações étnico­‑raciais. Brasília, 2009
ABGLT, manual de comunicação LGBT – Lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transexuais. Curitiba, 2008.
LUZ, Nanci. CARVALHO, Marilia. CASAGRANDE, Lindamir. Construindo
a igualdade na Diversidade: gênero e diversidade na escola. ORGS. ED:
UTFPR. Curitiba, 2009.
BRASIL. Diversidade Sexual na educação: problematizações sobre homofobia
nas escolas. ORGS, Ministério da Educação. Brasília,2009.
LÖWY, Michael. Ideologias e Ciência Social: Elementos para uma análise
marxista. ED CORTEZ. São Paulo, 1996
MEMÓRIA LGBT | 13
DEBATES
NÃO BEIJEI NINGUÉM
NA NOITE DO PRIMEIRO
BEIJO GAY
Sasha Caprina – Pós­‑Drag, de Nova York.
Monas, monas, monas – não,
não foi o primeiro beijo gay da TV
aquele da bixa má Felix na dos ca‑
chinhos. Antes disso já teve sapata
de mais dando beijo por tudo que
é canal. Mas, o que me recordo do
alto do salto dos meus 50 anos de
transcendência corporal, é que o
primeiro beijo gay entre homens
foi dado entre personagens da sé‑
rie Mãe de Santo, da TV Man‑
chete, inspirados pelo encanta‑
mento dos Orixás. Isso há 24 anos
antes de Felix.
Não houve gritaria, nem come‑
morações tipo gol de copa. Em‑
bora a série não tivesse audiên‑
cia, muita gente ficou sabendo e
para quem estava em casa na ca‑
lada da noite assistindo a série,
como eu, foi como ganhar rosas
e quindins dos próprios Orixás.
Não beijei ninguém naquela noi‑
te, mas aquele beijo me fez ter
esperança de que um dia beijaria
um boy com muito amor antes
de dormir.
14 | MEMÓRIA LGBT
Tá, tá, de fato, de lá para cá
muita coisa mudou. Começaram
a falar da gente na TV quando
começamos a morrer como mos‑
cas de HIV, dai aparecemos, tími‑
das no início, então veio a inter‑
net, o facebook e despertamos
os conservadores que, na falta
de coisa melhor para fazer, ati‑
ram pedras escondidos atrás do
nome de Jesus, logo Dele, que
certamente vibraria ao ver uma
minoria apedrejada ganhando
mínimos segundos que afirmem
sua sensibilidade. Que atire a
primeira pedra aquele que não
tiver pecado...
A Globo não perdeu a vez. No
mesmo capítulo do beijo, pastores
evangélicos e famílias conservado‑
ras estavam lá. Morde e assopra,
ativa e passiva, sai do armário e
para ele volta, no mesmo segundo.
Tudo em nome do freguês.
O que eu achei desse beijo? Mui‑
to rapidinho, discretinho de mais,
sem pegada, as duas monas estão
mais para colar velcro do que para
qualquer outra coisa.
Mas, ali, vendo a novela no si‑
lêncio de meu pequeno palace‑
te, me emocionei. Gostei de ver
beijo gay na novela das 8h, com
todo mundo vendo, um sabor de
vingancinha – “tomou?”. Desejei
vida longa a todas inimigas para
verem mais e mais beijinhos do
tipo. Joguei minha pedrinha na‑
quele momento nos apedrejado‑
res. Vitória e vitória.
Logo depois, desentorpecida pelo
calor da mansão à beira do mar de
Felix, vendo a gritaria comemorati‑
va no face e o alarde midiático, me
dei conta de algo terrível, que me
desalentou: no ano em que não
criminalizamos a homofobia, no
mesmo ano em que os indicadores
de homocídios no Brasil gritaram,
percebi o quão miseráveis somos
hoje por termos somente uma bico‑
ta gay para se comemorar.
E dormi, sem nenhum boy para
beijar.
ENTREVISTA
De Keila a David:
uma metamorfose
ambulante que quer voar!
Graciele Oliveira
O professor de academia que trocou o passado de preconceito e prisão
por um presente de superação e liberdade quer contar sua história
Homem ou mulher? Culpado ou inocente? Talvez
esses e outros julgamentos o acompanhem por toda
vida. Em entrevista exclusiva para O Grito do Povo,
o personal trainer e também artesão David Boule‑
vard conta um pouco sobre sua vida, desde a infância
de abusos, passando pela fase da prisão e sua vida
atual. David, que considera justa toda forma de amor,
conta que ama a natureza, os animais, as mulheres e,
sobretudo as crianças, sendo delas que tira inspiração
para viver. Passando por problemas de saúde, ele nos
recebeu na casa de Dona Detinha, uma senhora de
quem cuida e que o acolheu. Entre suas revelações,
David relata a vontade de lançar um livro onde irá nar‑
rar toda a sua vida, trazendo detalhes da época do
cárcere. “Vai ser uma bomba”, adianta. Acompanhe.
O Grito: Que lembranças você traz da infância?
David: Não são nada boas. Sofri muito abuso e
violência sexual por parte de familiares. As recorda‑
ções são difíceis de serem resgatadas. Na escola, so‑
fria o que hoje é chamado de bullying. Apanhava
todos os dias, tomavam meu lanche, meus cadernos,
cuspiam nas minhas costas. Só por volta dos 12 anos
que descobri que eu era menina. Sou de uma família
David agora quer escrever um livro contando sua historia.
Foto: Edinaldo Rufino
MEMÓRIA LGBT | 15
ENTREVISTA
de quatro irmãos, apenas eu que sou do sexo femi‑
nino. Eu sabia que eu era diferente deles, mas não ti‑
nha consciência do que era. Minha mãe me vestia de
menina para ir à escola, quando chegava lá, eu ba‑
gunçava tudo. Aí, ao voltar para casa, apanhava. Na
verdade, nunca tive família. Sempre fui sozinho. Eu
gosto deles, e ainda busco saber onde errei. Não sou
apegado a nada e família faz muita falta. Uma base
familiar é importante na vida de todo ser humano!
O Grito: O que levou você a transformar seu físico?
David: Eu gosto de ser diferente, gosto de chamar a
atenção. Vou fazer 45 anos e acredito ter sido um dos
primeiros a passar por uma transformação como essa.
Fiquei perfeito fisicamente, tomando testosterona,
hormônio masculino. O David surgiu também como
Dona Detinha acolheu David em sua casa.
Foto: Edinaldo Rufino
forma de proteção, pois tendo uma imagem masculi‑
na, eu acreditava que assim poderia me defender das
agressões da vida, que era um jeito de intimidar. Tenho
marca no rosto de soco que levei quando já trabalha‑
va em academia da cidade. Já passei por cirurgia em
decorrência de uma surra que levei de seis homens
no Rio de Janeiro. Agora a lei ampara o transexual.
Quando eu vou a um hospital, por exemplo, e mostro
minha identidade, para tudo! Eu sou um sobrevivente.
Sou uma história, uma verdade, um mito que ninguém
sabe quem é. O que acabou chamando atenção das
pessoas foi o caso fatídico que aconteceu. Mas graças
a Deus, eu soube sobreviver a tudo isso. Eu fui massa‑
crado, não houve justiça.
16 | MEMÓRIA LGBT
O Grito: Como foi sua vida na prisão?
David: Na verdade, não fiquei nem no presídio
masculino nem no feminino. Fiquei na delegacia de
Cidade Ocidental. Na verdade, não tenho nada a
reclamar. Nesta delegacia eu fui amparado. Alguém
tinha que pagar por esse crime. Passei o tempo na
prisão escrevendo e lendo livros. Estudei para ver se
encontrava algo que pudesse me tirar daquele lugar.
Quando eu mandava meus escritos para a promo‑
tora da época e para o juiz, ficavam admirados com
minha letra e escrita. Eu escrevia para não entrar em
depressão, para não trilhar o caminho do crime, de
aterrorizar as pessoas. Hoje ando de cabeça erguida.
É tão fácil você apontar alguém, mas viver o que o
outro viveu é muito diferente. Não sou culpado, mas
também não sou inocente. Quem nunca errou? Pre‑
senciei muita coisa horrível!
O Grito: Por falar nisso, o que você tem a declarar
sobre o crime e sua condenação?
David: Eu estive no lugar errado e na hora errada.
O meu erro foi chegar à delegacia e contar o que vi.
Os outros que têm ligação com o caso não assumem.
No decorrer de tudo, o juiz da cidade, Dr. André Jucá,
foi justo comigo. Eu usei a sabedoria e a paciência
para sobreviver. Deixei aquela vida de apresentações
para viver no cárcere.
O Grito: Como foi a fase que esteve foragido?
David: Fiquei no Rio de Janeiro e na Bacia Amazô‑
nica. Trabalhei de pedreiro na draga em um rio tirando
areia. Vivi em uma barraca de pau sem parede, sem
cama, sem nada e comia banana verde frita com capim
santo. Fui picado de escorpião e tomei minha própria
urina para me curar de uma virose. Fiz desenhos em al‑
gumas casas, todos gostavam de mim. As pessoas não
entendiam porque eu estava naquela situação, até que
contei a verdade para todos. Convivi com índios, ensi‑
nei muitas pessoas a escrever, fui espancado por po‑
liciais, além de ter sido queimado com cigarro. Fiquei
desfigurado! Nessa jornada forçada, Deus me guiava,
pois não teria conseguido sozinho. Depois disso tudo
que passei a cadeia não foi tão ruim.
O Grito: Enquanto foragido, o caso foi exibido no
programa Linha Direta, da TV Globo. Você assistiu
na época?
David: Assisti sim, mas ninguém sabia que era so‑
bre mim. Teve muita mentira ali. Nunca tive caso com
a Dona Graça (viúva da vítima). Ela era apenas minha
aluna, nunca recebi dinheiro nem conhecia a vítima.
O Grito: O que você acredita que o ajudou a su‑
perar tudo?
David: As crianças. Elas são a minha motivação.
Sou apaixonado por elas. Eu não vim ao mundo para
gerar, mas elas gostam de mim e eu delas. Hoje mes‑
mo levei quatro crianças para a escola, porque o pai
não havia chegado do serviço.
O Grito: Qual o peso do preconceito em sua vida?
David: Hoje já está mais tranquilo, mas já teve um
peso muito grande. Sofri muito por parte da família.
De pais também que, ao descobrirem quem eu sou,
queriam afastar seus filhos de mim.
O Grito: Conte um pouco da sua carreira
David: Eu sempre gostei de fazer apresentações. E
era ousado no palco. Por 12 anos imitei Michael Jack‑
son, de quem sou muito fã. Inclusive, quando houve o
escândalo com ele, foi na mesma época em que minha
vida tomou outro rumo. Durante oito anos, fui a mulher
mais forte do Goiás e do DF e a 4ª do Brasil em 1997.
Sempre ensinei crianças e mulheres a se defender. Já
ministrei aulas de Karatê, Boxe e Kickbox, além de ter
atuado como professor em várias academias. Tenho o
Registro Provisionado do CREF (Conselho Regional de
O professor tem divulgado sua historia nas redes sociais para
conseguir patrocinio e lancar seu livro.
Foto: Edinaldo Rufino
Educação Física), sem falar que também sou professor
de Jump, Step, Ginástica Localizada e Musculação.
O Grito: O que tem feito atualmente?
David: Atualmente estou afastado das academias.
Estou sofrendo de condromalácia patelar, que é o des‑
carte da cartilagem, nos joelhos. Preciso de uma cirur‑
gia. Agora vivo de dar aulas particulares e de trabalhar
no meu artesanato. Recentemente, tive uma notícia de
que estava com um tumor maligno no útero e que tinha
pouco tempo de vida. Cheguei a entrar em depressão,
mas tudo passou de um diagnóstico errado de um mé‑
dico irresponsável e homofóbico. Não é maligno e vou
me recuperar. Essa questão da doença acabou chaman‑
do a atenção dos meus parentes, o que me assustou.
O Grito: Como conheceu Dona Detinha?
David: Dona Detinha me contratou para dar aulas
de dança para uma apresentação que ela queria fazer
em seu aniversário. Sem ela, não teria acontecido nada
na minha vida. Eu não teria casa. Ela me viu dormin‑
do em uma academia, numa fase em que eu passava
fome. Ela me acolheu e foi contra tudo que falaram
sobre mim. Isso já tem seis anos. Também cuido dela.
Sou muito grato pelo que tem feito por mim!
O Grito: Como surgiu a ideia do livro?
David: Desde muito jovem eu venho escrevendo
minha história. No tempo do cárcere, escrevi todos os
dias. Meu livro é uma bomba! Conto detalhes do que
me levou à cadeia, na fase em que estava foragido,
da minha infância. Metamorfose de um Transgênero
é o nome que tenho em mente para a publicação.
O Grito: O que você ainda espera da vida?
David: Há anos não tenho um relacionamento, o que
sinto falta. Passei por muita coisa. A Fênix, pássaro da
mitologia grega, que renasce das cinzas, ficou pequena
perto de mim. Gosto de ajudar e transformar coisas e
pessoas, acho que por isso que sou artista e profissional
da educação física. Sonho ainda em ter uma creche, es‑
pecializar em geriatria e montar uma academia de trei‑
namento funcional. Tenho fé que irei conseguir!
Matéria Publicada Originalmente em O Grito do Povo 18­‑fev-2014
MEMÓRIA LGBT | 17
MEMÓRIA e RESISTÊNCIA LGBT
Considerações acerca do
presídio central
Edegar Ribeiro Júnior
1
Em 2013, houve, em Porto Ale‑
gre, apresentações de uma peça de
teatro intitulada “BR Trans”, apre‑
sentada e dirigida por Silvero Perei‑
ra do Coletivo Artístico “As Traves‑
tidas”. Em uma das passagens da
peça, Silvero interpreta uma travesti
presidiária e seus medos, seus mo‑
dos, sua identidade e o que pouco
é visto no Presídio Central de Porto
Alegre: a violência explícita e implí‑
cita contra aqueles que possuem
identificação de gênero diverso do
convencional. Muito em voga, nos
dias de hoje, são os direitos de afir‑
18 | MEMÓRIA LGBT
mação dos homossexuais, traves‑
tis e transexuais. Reivindicam­
‑se
direitos ao nome, ao casamento
igualitário, direito de terem filhos,
direitos previdenciários e sucessó‑
rios, de modificar o corpo, em ter‑
mos gerais, direitos que decorrem
da autodeterminação de gênero. A
par dessas reivindicações, como o
próprio Silvero deixa claro, as tra‑
vestis e homossexuais presos recla‑
mam esses direitos e o direito de,
enquanto estiverem presos, serem
simplesmente respeitados. Nesse
sentido, ao que tudo indica, a cria‑
ção de uma ala especial seria uma
forma de respeito.
Conforme notoriamente divulga‑
do, a situação desse presídio é pre‑
cária, ou seja, é insalubre, populosa
e está em desacordo com o que se
considera digno, assim, contribuin‑
do ao desrespeito da finalidade da
pena, qual seja, de acordo com as
teorias modernas, reintegrar aque‑
le que sofreu as consequências de
uma sentença penal condenatória
de privação da liberdade ou aguarda
alguma outra espécie de decisum
liberatório. Ante isso, é justificável a
os direitos das travestis do
l de Porto Alegre
preocupação com a presente temá‑
tica, uma vez que, a realidade viven‑
ciada por essas travestis e homos‑
sexuais do Presídio Central de Porto
Alegre fere direitos básicos.
Por certo que há e a mídia rela‑
ta a violência sofrida pelas traves‑
tis quando ficam encarceradas em
presídios masculinos. Muitas são
estupradas e agredidas moral e fisi‑
camente. Essa situação, acrescida à
criação de uma ala especial para as
travestis, homossexuais e seus com‑
panheiros importa ao contexto so‑
cial atual, uma vez que se proliferam
políticas públicas, ações afirmativas
a grupos socialmente desprivilegia‑
dos aos quais se inserem as travestis.
A violência nos/dos presídios é
dada pelo próprio encarceramen‑
to, de acordo com o que se expôs
acima e o que se pretende inves‑
tigar. A violência cometida contra
as travestis é dada pela mesma do
encarceramento e pelo desrespei‑
to ao gênero quando são agredi‑
das físicas, sexual e moralmente.
Por isso, o mínimo deve ser ense‑
jado, qual seja, a criação de uma
ala especial, sob pena de respon‑
sabilização estatal, já que o estado
deve responder pela incolumidade
física e moral de seus presos.
1
Advogado
MEMÓRIA LGBT | 19
MEMÓRIA e RESISTÊNCIA LGBT
r
o
c
a
e
a
m
a
r
g
Entre o verde da
do Arco­‑Íris
Alex Fernandes
Entre o céu azul, o verde da grama e a transparência
da água nos vêem representados por um Arco­‑Íris. O lo‑
cal de encontro é o Parque Vaca Brava, em Goiânia, um
dos postos onde tem ocorrido as reuniões de um amplo
grupo de ativistas LGBT da cidade, em pleno domingo
de fevereiro. Junto aos agentes de saúde do projeto
Phoco (Projeto Horizonte Centro­‑Oeste), sentados em
cangas coloridas, com preservativos a mostra para quem
quiser pegar, discutimos a prevenção das DST´s.
O objetivo é problematizar as infecções das DST, HIV/
Aids e Hepatites Virais junto aos Gays, defendendo o
uso da liberdade do seu corpo junto ao sexo seguro. O
encontro teve como Phoco mostrar a importância do
uso do preservativo na relação sexual entre homens
que fazem sexo com homens –HSH, Trabalhadores Se‑
xuais Masculinos­‑ TSM e por final mostrar que a convi‑
vência com portadores do vírus HIV é mais comum do
que unir as cores das bandeiras.
Entre assuntos sobre a homofobia convidamos com
alegria outras pessoas para participarem. Com isso as
discussões vão ficando calorosas. A diversidade da ho‑
mossexualidade dentro do grupo mostra o tanto que o
grupo é pluri, de meninos novos a meninas experientes
na arte da sedução, vai dando um ar de provocação, de
demonstração de resistência entre grupos que existem
e precisam do seu espaço respeitado.
Exemplo desses questionamentos é “quem matou
Kaique?”. O parque Vaca Brava, como muitos luga‑
res em Goiânia, tornaram­‑se ponto de encontro para
esse grupo, tal qual o Banana Shopping, o Bosque
Botafogo, entre outros espaços, mostrando a luta por
permanência do nosso grupo em meio a tantos con‑
flitos cria e recria lugares de memória clandestina.
20 | MEMÓRIA LGBT
A reunião da galera LGBT intensifica­‑se em cores:
existe o rosa, o vermelho, o amarelo e o laranja da
ONG Grupo Eles por Eles, representando a Associação
Goiana de Cidadania e Direitos Humanos. Para ficar
aquele colorido de encher os olhos, o roxo, o azul e o
verde a ART GAY (Articulação Brasileira de Gays) surge
empoderada na defesa dos nossos direitos.
Através dessas reuniões outros projetos foram se en‑
caixando. Organizamos cartazes do Dia da Visibilidade
Trans* em Goiânia, tendo reunido travestis e transexuais
para comemorar o seu dia no centro da cidade, mostran‑
do que el@s existem e querem ser respeitad@s.
Outra idéia pensada pelo grupo foi o “Carnaval Folia
LGBT”, o primeiro carnaval em Goiânia do gênero, com
muita diversão e varias apresentações, sempre lembran‑
do que a diversão começa com a proteção. Realizado no
dia 23 de Fevereiro, com entrada franca, com sete DJ´s e
banda de axé para deixar o carnaval ainda mais colorido.
As idéias são muitas e todas as semanas vão sur‑
gindo novas, outro apoio que estava sendo levado as
reuniões é a inscrição do Curso de Formação de Ati‑
vista/ Novas Lideranças #LGBT para o controle Social
no SUS das regiões Norte e Centro­‑Oeste. A inscrição
foi feita no site da Ceperj.
Uma leitura colorida para #TODOS.
MEMÓRIA e RESISTÊNCIA LGBT
Exposição “T: Um Outro Olhar”
Felipe Medeiros1
A Gerência de Livre Orientação Sexual – GLOS é um núcleo vinculado a Secretaria
de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos da Prefeitura Municipal do Recife,
e atua como agente articulador para construção e fortalecimento de políticas
públicas voltadas para garantia da cidadania da população de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT no município do Recife.
Igualmente, com vistas em fortalecer e integrar as
ações do município às políticas públicas que visem o
enfrentamento à homofobia e a promoção de direi‑
tos da população LGBT, nas áreas de direitos huma‑
nos, assistência social, saúde, educação e segurança
pública a GLOS desenvolve ações e campanhas na
perspectiva da promoção da cidadania e da garantia
dos direitos fundamentais dessa população.
Assim, a Exposição “T: Um Outro Olhar” integra
o Programa ‘Recife Sem Preconceito e Discrimina‑
ção’ concebido pela Gerência de Livre Orientação
Sexual para enfrentar a homofobia e combater
MEMÓRIA LGBT | 21
MEMÓRIA e RESISTÊNCIA LGBT
toda violência e a discriminação contra a popula‑
ção LGBT.
OBJETIVO
Esta exposição propõe uma reflexão que promo‑
va inclusão social e o respeito à diversidade sexual,
trazendo um olhar sensível sobre esta população,
que também é criativa e talentosa, desmistificando a
ideia de inferioridade.
As obras mostram retratos do cotidiano de pessoas
transexuais, suas historias de vida, seus sonhos e suas
dores, a luta para vencer o preconceito e a discrimina‑
ção social na hora de se inserir no mercado de traba‑
lho e como elas venceram as barreiras. Esse contexto é
apresentado em vinte fotos assinadas pelo Fotógrafo
Sol Pulquério, sob a curadoria de Claudia Aires.
Assessor Técnico da Gerência de Livre Orientação Sexual
1
22 | MEMÓRIA LGBT
Coquetel de lançamento da exposição no Museu Murillo la Greca
Estação Central do Metrô Recife
MEMÓRIA LGBT | 23
MEMÓRIA e RESISTÊNCIA LGBT
Violência e preconceito:
A homossexualidade nas
escolas
Cassiano Celestino de Jesus1
Elaine de Jesus Souza2
QUESTÕES INICIAIS
A instituição escolar é permeada pela diversidade
sexual, que engloba as diferentes formas de viven‑
ciar a sexualidade que não seja o modelo da hete‑
rossexualidade. Dentre as identidades sexuais que
perpassam a escola, sobressai­‑se a homossexualida‑
de, ainda que de forma camuflada ou estereotipada.
Assim sendo, tal identidade precisa ser (re)conhecida
e incluída de forma efetiva na escola, seja através de
informações sobre os temas que a rodeiam, ou pela
desconstrução dos preconceitos que culminam em
diversas formas de violências.
As concepções que educadores/as possuem acerca
dde tal identidade sexual influenciam a (des)constru‑
ção de atitudes preconceituosas e discriminatórias
que são manifestadas no ambiente escolar.
No entanto, a carência na formação docente de es‑
tudos que engloba as temáticas diversidade sexual,
homossexualidade e homofobia faz com que os/as
docentes se sintam despreparados para discutir tais
assuntos em sala de aula. Tal situação contribui com
a omissão desses temas no espaço escolar, acarre‑
tando diversas práticas homofóbicas (agressões físi‑
cas e/ou verbais, exclusões, ameaças, simbólica, entre
outros) contra os indivíduos que se declaram contrá‑
rios ao padrão heteronormativo. Assim sendo, o si‑
lenciamento e/ou negação da diversidade sexual na
escola contribui para o enaltecimento das manifesta‑
24 | MEMÓRIA LGBT
ções de preconceitos. Neste contexto, os/as educado‑
res/as devem desconstruir atitudes preconceituosas e
discriminatórias contra tais indivíduos.
A dificuldade de combater o preconceito contra os/
as homossexuais, bem como incluir definitivamente a
diversidade sexual na escola acaba levando muitos/
as jovens a abdicarem dos estudos.
Assim sendo, este artigo tem por objetivo analisar
de que forma é concebida essa expressão sexual na
instituição escolar.
DIVERSIDADE SEXUAL: A HOMOSSEXUALIDADE
NAS ESCOLAS
A pluralidade sexual abrange as diversidades prá‑
ticas e expressões da sexualidade que não são regu‑
ladas pelo modelo heterossexual. É perceptível que o
ambiente escolar engloba a diversidade de pessoas
que fazem parte da sociedade. Indivíduos de diversas
culturas e orientações sexuais.
No entanto, a diversidade sexual nas escolas é invi‑
sível. Em matéria de sexualidade prevalece o silêncio
sobre a diversidade, constitui a relação afetiva sexual
entre pessoas de sexo opostos como a única forma
de expressão sexual e obrigatória. “Essa exigência
normativa tem como efeito a desqualificação de ou‑
tros modos de viver a sexualidade, gerando a prá‑
tica discriminatória” (LIONÇO e DINIZ, 2009, p.11).
Prevalece então a desvalorização para toda e qual‑
quer forma contrária a esta ordem social. O tema só
Por conseguinte, a heterossexualidade tornou­‑se
é colocado em pauta quando vem acompanhado de mais do que uma orientação sexual, se constituiu
situações de conflitos e tensões.
como uma ordem social, e tudo o que não se encaixa
Além disso, quando a temática é sexualidade e mais nesse modelo sofre violência homofóbica. Até mes‑
especificamente homossexualidade, a escola ainda mo homens com trajetos femininos e mulheres com
oferece certos obstáculos em
trajetos masculinos também
discuti­‑los. Os Parâmetros Curri‑
sofrem com ela. O confronto
Em matéria de
culares Nacionais (PCN) apresen‑
com as diferenças tem gerado
sexualidade
prevalece
tam poucas menções referentes à
um sentimento de estranheza
homoafetividade. Eles tendem a
a tal ponto de querer exter‑
o silêncio sobre a
debater as manifestações sexuais
minar este diferente. E o que
diversidade,
constitui
a
sob um viés heterossexual. A es‑
sustenta esta discriminação é
cola permanece sem contribui‑ relação afetiva sexual uma ideologia de superiori‑
ções apropriadas para lidar com
dade (BORRILLO, 2009).
entre
pessoas
de
sexo
esses assuntos. “[...] a escola,
De acordo com Lionço e
como instituição e da forma em opostos como a única Diniz (2009), esta discrimi‑
que está organizada, não permite
forma de expressão nação pode acarretar danos
a aparição desses diversos ele‑
pessoais e sociais para quem
sexual
e
obrigatória.
mentos da cultura no interior dos
sofre. Desqualificar o outro,
muros e tenta uniformizá­‑los, ao
emitir juízo de valor por ser
ignorar, refrear, paralisar as diferenças e os paradoxos diferente, produz desigualdade e prejuízos. É neste
aí postos” (SILVA JUNIOR, 2010, p.49).
contexto que se insere a educação, uma ferramen‑
Compreender que a homossexualidade é uma ta possível para reprimir os atos discriminatórios e
entre as possíveis identidades sexuais, faz­‑se rele‑ tornar da escola um espaço de socialização para a
vante debater as concepções que a norteiam, sobre‑ diversidade, a fim de concretizar o seu compromisso
tudo na instituição escolar, já que é um espaço que com a igualdade.
lida com a fabricação dos corpos e das identidades
Por isso, é de extrema importância pensar sobre a
(SILVA JUNIOR, 2010).
qualidade da escola e sua relação com políticas sociais
É preciso entender que tal orientação é uma entre que tenham por objetivo fomentar a inclusão de to‑
as outras possíveis formas de expressão da sexuali‑ das as sexualidades. Pois ela influência e/ou determina
dade. E o mais importante é sabermos identificar os como alunos/as devem atuar, como eles/as devem se
argumentos que orientam em nossa cultura acerca comportar, e se relacionar. (SILVA JUNIOR, 2010). Pois
das sexualidades como forma de combater a discri‑ a livre orientação sexual é direito humano fundamen‑
minação e o preconceito que são formados e repro‑ tal para todos os indivíduos, e apenas uma educação
duzidos ao longo de nossa história (TORRES, 2010). diferenciada, que respeite as especificidades étnicas,
As práticas sexuais foram naturalizadas e utilizadas religiosas, raciais, e a livre orientação sexual é que po‑
para controlar o corpo dos sujeitos restringindo as derá fazer desabrochar em todo menino, sem traumas
possibilidades da expressão da diversidade sexual. A ou exageros, o seu lado feminino, e em toda a menina
compreensão das outras formas de expressão sexual seu lado masculino (MOTT, 2009).
que não seja a heterossexual pode nos levar a ques‑
A omissão e o silêncio exercido sobre os indivíduos
tionar e até mesmo recusar essa naturalização.
que se expressam contrários à norma e ao padrão esta‑
MEMÓRIA LGBT | 25
MEMÓRIA e RESISTÊNCIA LGBT
belecido pela sociedade tido como o único e legítimo, é
um tipo de violência a estes indivíduos que devem ser
questionadas. Tais sujeitos são obrigados a manterem
em segredo sua orientação sexual já que a homosse‑
xualidade é pregada como algo anormal, uma doença e
pecado, produzidos pela mídia, e religião.
O reconhecimento da discriminação é um problema
recente que precisa ser enfrentado pela educação no
Brasil. Apresentar as diversidades sexuais não como
o outro e estranho (LIONÇO e DINIZ, 2009).
Deve­‑se trabalhar com os/as estudantes os princí‑
pios da dignidade e igualdade humana, reprimindo
os comentários preconceituosos, e conscientizando a
respeito das diferenças num ambiente tão diverso em
que vivemos.
Na atualidade ela é entendida como um dos pre‑
conceitos ainda tolerado. “[...] dizer publicamente
não se simpatizar ou mesmo odiar pessoas homos‑
sexuais ainda é algo não só tolerado, como constitui
também em uma forma bastante comum de afirma‑
ção e de constituição da heterossexualidade masculi‑
na” (DINIS, 2011, p.41).
Assim sendo, se estas normas e estereótipos já
acabados e estabelecidos não forem questionados
na instituição escolar teremos como resultado: o
preconceito, a discriminação e a exclusão. A presen‑
ça de homossexuais ‘assumidos’ na escola produz
uma série de conflitos na classe e na instituição.
Conflitos esses que vão desde diálogos que tocam
a sexualidade, piadas, e até mesmo protestos de
outros estudantes acerca de suas atitudes no setor
MANIFESTAÇÃO DA HOMOFOBIA NA ESCOLA: diretório (SILVA JUNIOR, 2010).
VIOLÊNCIAS E PRECONCEITOS
Por isso ainda há muito a ser feito. A homofobia
Na escola a homofobia se revela através de agressões prejudica a nossa formação e danifica a constru‑
físicas e verbais aos estudantes que se declaram e se ex‑ ção de uma sociedade democrática e plural (SILVA
pressam contrários a heteronormatividade. As práticas JUNIOR, 2010). A homofobia constitui como uma
de violência contra alunos (as) gays, lésbicas, bissexuais, ameaça à democracia. Promove a desigualdade.
transexuais, e travestis são chamadas no contexto esco‑ Desse modo, a educação tem um papel fundamen‑
lar de bullyinghomofóbico.
tal para a propagação do en‑
No entanto, a homofobia
tendimento de igualdade, e
A intolerância as
não se limita apenas a repul‑
promover a cidadania. Ela tem
diferenças
faz
com
sa ou o preconceito contra
o papel de desmistificar a rea‑
tais sijeitos. Podemos enten‑ que o grupo rejeitado lidade que corrobora com os
der a homofobia, assim como não tenha acesso aos preconceitos e violências em
as outras formas de precon‑
torno na diversidade sexual,
ceito, como uma atitude de seus direitos básicos e, sobretudo da homossexua‑
colocar a outra pessoa, no
lidade.
e sociais.
caso, o homossexual, na con‑
Todas as formas de expres‑
dição de inferioridade, de anormalidade, baseada são da sexualidade não são doenças ou desvios.
no domínio da lógica heteronormativa, ou seja, da Neste sentido, não são doenças virais que podem
heterossexualidade como padrão, norma. Mas, a ser transmitidas de pessoas para pessoas. Os desco‑
toda a forma de expressão que contraria as nor‑ nhecimentos acerca das orientações sexuais acabam
mas sociossexuais já existente. Este tipo de homo‑ contribuindo para a negação ou mesmo conformis‑
fobia é definido como a repulsão a certos indiví‑ mo acerca das práticas de violências que permeiam
duos que demonstra certas atitudes consideradas o âmbito escolar, possibilitando o enaltecimento
como do gênero oposto (BORRILLO, 2009).
dos preconceitos, discriminações e estereótipos per‑
26 | MEMÓRIA LGBT
petrados contra indivíduos com identidades sexuais
e de gênero fora do modelo heteronormativo.
A intolerância as diferenças faz com que o grupo
rejeitado não tenha acesso aos seus direitos bási‑
cos e sociais. Os/as homossexuais são considerados
“bizarros” e são entendidos como uma ameaça
potencial à coesão cultural e moral da sociedade
(Borrillo, 2009, p.29).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, destaca­‑se que essa reflexão não vai
no sentido de julgar ou culpabilizar a escola, mas
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe/UFS;
Bolsista do programa de iniciação cientifica (PIBIC/CNPq/UFS).
Email: [email protected]
1
Mestranda em Psicologia Social pela Universidade Federal de Sergi‑
pe/UFS; Professora de Educação Básica.
Email: [email protected]
2
REFERÊNCIAS
BORRILLO, D. A homofobia. In: LIONÇO; DINIZ, D (Orgs.). Homo‑
fobia & Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: LetrasLivres:
EdUnB, 2009, p.15­‑46.
DINIS, N. F. Homofobia e educação: quando a omissão também é
signo de violência. Educar em Revista, Curitiba, v. 39, p. 39­‑50.
Editora UFPR, jan./abr. 2011.
FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Diversidade sexual: subsídios para
a compreensão e a mudança de atitude. In: FIGUEIRÓ, M. N. D
(Org.). Homossexualidade e Educação Sexual: construindo respeito
à diversidade. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2007.
p. 15­‑67.
FRY, P; MACRAE, E. O que é Homossexualidade. São Paulo: Brasi‑
liense, 1985.
sim de tornar consciente tal problemática e assim
pensar e efetivar ações que busquem romper com
essa violência, unindo todos os seus atores sociais
em torno do combate a homofobia.
É necessário combater a homofobia e contribuir
com a desconstrução de preconceitos e estereótipos
em torno da homossexualidade, compreender que a
sexualidade e todos os aspectos a ela relacionados
são indicadores de todo um equilíbrio que o organis‑
mo busca. Encarar a viver a sexualidade como uma
das coisas mais bonitas da vida exige muita coragem
de todos nós.
KAMEL, L.; PIMENTA, C. Diversidade sexual nas escolas: o que os
profissionais de educação precisam saber. Rio de Janeiro: ABIA,
2008. Disponível em: <http://www.vagnerdealmeida.com/Publi‑
cations/Cartilha_Diversidade_sexual_Escolas.pdf>. Acesso em: 13
jul. 2011.
LIONÇO, Tatiana; DINIS, Debora. Qual a diversidade sexual dos
livros didáticos brasileiros? In: LIONÇO, T; DINIS, D (Org.). Homo‑
fobia & Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Letraslivres:
Edunb, 2009. p. 09­‑14.
LIONÇO, Tatiana; DINIS, Debora. Homofobia, silêncio e naturaliza‑
ção: por uma narrativa da diversidade sexual. In: LIONÇO, T; DINIS,
D (Org.). Homofobia & Educação: um desafio ao silêncio. Brasília:
Letraslivres: Edunb, 2009. p. 47­‑61.
MOTT, Luiz. O jovem homossexual: noções básicas para profes‑
sores, jovens gays, lésbicas, trangêneros e seus familiares. In: FI‑
GUEIRÓ, M. N. D (Org.) Educação Sexual: Em busca de mudanças.
Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2009.p. 17­‑34.
SILVA JÚNIOR, J. A.Rompendo a mordaça: Representações Sociais
de Professores e Professoras do Ensino Médio sobre homosse‑
xualidade(Tese de doutorado).São Paulo: Faculdade de Educação
daUSP, 2010.
TORRES, Marco Antonio. A diversidade sexual na educação e os
direitos de cidadania LGBT na escola. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2010.
MEMÓRIA LGBT | 27
CAPA
Patrimônio cultural LGBT e
potencialidades de mem
Tony Willian Boita / Jean Baptista
O presente projeto propõe um mapeamento sobre
o reconhecimento do patrimônio e da memória LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais)
em experiências museológicas no Brasil. Justifica-se
por dar visibilidade às potencialidades patrimoniais e
museológicas desta comunidade a partir do aporte da
Mesa Redonda de Santiago do Chile(1972), dos ar‑
tigos 215 e 216 da Constituição Federal (1988), da
Declaração de Durban (2001), da Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural ( 2002) e das leis esta‑
duais que dispõem sobre a liberdade de orientação se‑
xual de 15 estados ( BA, RJ, RS, DF, MG, SP, MS, PI, PA,
PB, AL, MA e PE). Para tal, objetiva identificar e mapear
propostas museográficas, registros e tombamentos do
patrimônio cultural LGBT, avaliando os processos de in‑
clusão e de ausências presentes em cada processo. Até
o momento, o projeto identificou, mapeou e analisou
as seguintes ações: a) o Museu da Sexualidade (Salva‑
28 | MEMÓRIA LGBT
dor, Bahia), criado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) em
setembro de 2008, primeira instituição de memória do
país que abarca o tema da sexualidade; b) o Círio de
Nossa Senhora de Nazaré, festa registrada no livro de
celebrações no ano de 2004, onde ao fim da procissão
ocorre a festa das Filhas das Chiquita, protagoniza‑
da pelo movimento LGBT do Pará, esse responsável
pela articulação necessária de inclusão da Chiquita no
Museu do Círio de Nazaré; c) o Museu da Diversidade
(SP), onde a memória e a história LGBT configuram-se
como protagonistas do espaço; d) as exposições so‑
bre Pierre Verger, em especial a exposição O Brasil de
Pierre Verger, onde se percebe a ausência do discurso
sobre a orientação sexual do fotógrafo; e) as exposi‑
ções Sim estou vivendo: Registros fotográficos de uma
sociedade plural e Do Babado: Registros de uma So‑
ciedade Plural e Homofóbica promovida pelo Museu
da Bandeiras (IBRAM-Minc), primeiro museu federal
e museus: mapeamento e
mórias negligenciadas
a contemplar a questão LGBT em suas exposições
temporárias; f) o Ponto de Memória LGBT, de Maceió,
reconhecido pelo Ibram pelo Programa Pontos de Me‑
mória; g) apresenta-se a potencialidade de reconheci‑
mento de espaços e festas de sociabilidade LGBT na
qualidade de patrimônio material, tal qual o Cabaret
Casanova (Lapa, RJ), a mais antiga casa noturna do
gênero em funcionamento no Brasil, e a Parada Gay de
São Paulo; h) por fim o Parque do Flamengo, idealiza‑
do por Lotta ( Lotta Macedo de Moraes / Maria Carlota
Costallat de Macedo Soares) , assumidamente lésbica
e tombado no livro tombo arqueológico, etnográfico e
paisagístico em julho de 1965, tornando-se o primeiro
parque brasileiro a preocupar-se com a qualidade de
vida dos frequentadores.
Exposição “Brasil de Pierre Verger” - culturadigital.br
Museu da Diversidade - http://www.generoseetnias.com.br/noticias/museu/
MEMÓRIA LGBT | 29
CAPA
Cabaret Casanova – Lapa, RJ
“A casa é um Cabaret com apresentações e shows
de transformistas e travestis. É uma das mais antigas
da Lapa, ainda em funcionamento. Funciona no mes‑
mo local desde 1939, e sua maior atração é o show
da transformista, a Drag-Queen Meine dos Brilhos,
que se apresenta no local, no mesmo palco há 33
anos.” (Lapa Criativa)
Foto da Foto: http://www.lapacriativa.com.br/es‑
pacosculturais/316
Parque do Flamengo
Patrimônio arqueológico, etnográfico e paisagis‑
tico LGBT
“O Parque do Flamengo, é um complexo paisagísti‑
co composto por dois parques, o Museu de Arte Mo‑
derna, jardins projetados por Burle Marx, Monumento
Nacional aos Mortos da Segunda Guerra, clubes náu‑
ticos, conjuntos arquitetônicos, playgrounds, trilhas e
restaurantes. Ele foi tombado (número do processo
0748-T-64) no livro tombo arqueológico, etnográfico
e paisagístico em julho de 1965 ( IPHAN)”
Foto: Instituto Lotta
30 | MEMÓRIA LGBT
MEMÓRIAS
Minha vida com
Marina Reidel
Stephanie Borchardt Reidel
Um relato de quem desde cedo aprendeu a amar as diferenças.
Meu nome é Stephanie Borchardt, sou jornalista,
filha, irmã, noiva, e sobrinha de uma transexual.
Para muita gente isso pode parecer esquisito, esse
fato pertencer a uma definição. Mas como filha,
irmã, noiva... ser sobrinha de Marina Reidel tam‑
bém define diretamente quem eu sou, quem fui e
quem quero ser.
Marina Reidel sempre foi um exemplo, nasceu
Mário e cresceu em uma família humilde do interior
gaúcho. No decorrer das suas descobertas se viu em
um corpo que não era seu e mais do que a dúvida
de não saber ao certo quem era também poderia
ser acusada e condenada por isso. Como foi.
Porém, ao invés de baixar a cabeça, ela, antes ele,
ergueu. Formou­‑se professor e se tornou meu mes‑
tre. Foi quem ocupou o primeiro degrau na minha
escadaria até o jornalismo. Até hoje quando falamos
disso, dedico a ela boa parte das minhas conquistas,
já que foi quem com muita delicadeza colocou “as
letrinhas na minha cabeça” e que desde então nunca
me abandonaram.
Mas como sempre Marina não se acomodou,
estudou e viajou. Lembro­‑me como se fosse hoje,
com tanto orgulho, do período em que ficou nos
Estados Unidos e que voltou com o inglês afiado
na ponta da língua. Afinal, para aquela menini‑
nha que sempre adorou as palavras, falar em outro
idioma era como se fosse um “super­‑poder”, que
me encantou desde sempre. Depois cursou artes e
tornou­‑se a primeira pessoa a concluir um curso
superior na família.
Não pense que foi fácil, era árduo. O dinheiro era
curto, o pai aposentado e mãe sem renda. Uma uni‑
versidade longe de casa, dois trabalhos ao mesmo
tempo e precisando diariamente fingir não ouvir os
comentários que vinham das ruas.
Marina Reidel
Foto: Juliana Moscofian / Arquivo Pessoal
MEMÓRIA LGBT | 31
MEMÓRIAS
Afinal, as pessoas podem ser bondosas e suas
amigas, mas as línguas são afiadas sempre. Fico
imaginando a dor que tudo isso gerou além de todo
o medo. Medo não apenas pela violência a si mes‑
mo, mas de algo que pudesse constranger seus pais
já idosos. Afinal, nem as crianças eram perdoadas
e nós também éramos apontados na rua por fazer‑
mos parte da família.
Porém, desde sempre meus pais apoiaram suas
escolhas, assim como nós. Não nos importava se
Mário era Marina, se Marina poderia cantarolar a
canção de Renato Russo “e eu gosto de meninas
e meninos”, ou só de meninos ou só de meninas.
Isso tanto faz hoje, como ontem e amanhã! Marina
era amada, era sensível, amiga e justa. Marina era
batalhadora, sensata e amável. Marina sendo Mário
ou não, era minha madrinha. Alguém em quem eu
confiava independente de precisar colocar um “A”
ou “O” no final ou início do seu nome. Isso nun‑
ca foi importante para mim como para ninguém da
nossa família.
E como uma criança muito bem “mal criada”,
sempre tive resposta na ponta da língua para
quem questionasse esse parentesco e dizia: “Sou
sobrinha sim... tenho orgulho e quero conhecer o
mundo como meu tio. Também vou estudar como
ele faz, enquanto você fica fofocando e falando
dos outros!”.
Dito e feito! Estudei, formei e viajei. Durante esse
meu percurso em que eu me modificava, Marina saía
do casulo. Deixava o corpo de Mário e virava Marina
durante um recesso que pediu ainda no período leti‑
vo. Linda, bela e cheia de vida, ela voltou para escola
e foi aceita de braços abertos por aqueles que para
ela mais importavam, seus alunos. Mas mesmo com
a mudança não perdeu aquele sorriso, aquela força,
aquilo que herdara de sua trajetória. Marina não quis
apenas mudar o seu mundo, mas quis mudar o mun‑
do de muitas, quis modificar as dificuldades de tantos
jovens. Por isso, batalhou e tornou­‑se exemplo.
32 | MEMÓRIA LGBT
Recentemente formou mestra pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, com a pesquisa “A
Pedagogia do Salto Alto”, Marina discutiu e des‑
mistificou a Transexualidade e a Travestilidade, os
conceitos de gênero na escola e fora dela, além
de experiências de outras professoras que como
ela se modificaram e, hoje trans, trabalham com a
temática da educação.
As experiências e histórias dessas mulheres ba‑
talhadoras são dignas de orgulho, ainda mais nes‑
te mês dedicado à mulher. Elas que mesmo não
nascendo mulheres, mostraram ter a força que só
vive dentro das verdadeiras mulheres. Sinto orgu‑
lho disso tudo, todos os dias que me deparo com
uma reportagem na TV, jornal, revista ou internet,
tanto da Marina quanto de outras guerreiras que
auxiliam na criação de uma juventude mais com‑
pleta e coerente.
Sinto isso o tempo todo, por saber que Marina
virou uma estrela ilustre na cidade que tanto a
apontava. Mas, muito mais do que isso, sinto um
orgulho imenso por saber que ela esteve sempre
ali. Que modificou minha vida, que me fez enxergar
aquilo que era diferente a mim com normalidade.
Afinal, todos os dias vemos pessoas, cores, cheiros
e tantas outras coisas diferentes. Não é pelo dife‑
rente que temos estranhamento, é por aquilo que
não podemos modificar.
Aprendi que não preciso mudar o outro para
respeitá­‑lo, aprendi que na vida tem coisas que
não temos escolhas, faz parte de nós e que quem
nos ama nos ama por completo por aquilo que en‑
tendem e pelo que ainda não compreendem. Mas
acima de tudo, aprendi a olhar o outro sem pre‑
conceitos, aprendi que naquele lá há uma Marina,
mesmo que menor que seja, querendo abrir as suas
asas e conquistar o mundo, pedacinho por peda‑
cinho. Por isso, hoje digo, meu nome é Stephanie
Borchardt, jornalista, filha, irmã, noiva, e sobrinha
de uma transexual.
PATRIMÔNIO IMATERIAL LGBT
O BAILE DAS CHIQUITAS:
Conflitos e Negociações
de um Patrimônio LGBT
Jaddson Luiz
“Entre tantas celebrações ligadas ao Círio e à Festa de Nazaré existem algumas que não são organizadas pela diretoria da festa.
Entre elas destaca-se a chamada festa das filhas da Chiquita, repudiada pela diretoria da festa e pelas autoridades eclesiásticas.”
(Dossiê IPHAN I Círio de Nazaré)
Foto: evnamoura.blogspot.com
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré ocorre em
Belém do Pará, na segunda semana de outubro,
especificamente no segundo domingo. Mas tam‑
bém possui várias comemorações que o antecede.
Destacamos entre as atividades que o envolve: 1)
a Passeata dos Motoqueiros que acompanham a
imagem de Nossa Senhora de Nazaré até o mu‑
nicípio de Icoaraci; 2) o Círio Fluvial, quando a
imagem retorna de Icoaraci à cidade Belém e 3)
a trasladação que ocorre no sábado e tem como
característica a transportação da imagem da santa
do Colégio Gentil à Igreja da Sé. É neste momento
que observamos a existência da festa sobre a qual
esta análise se debruça.
MEMÓRIA LGBT | 33
PATRIMÔNIO IMATERIAL LGBT
Quando a imagem na trasladação – atividade que
ocorre na virada de sexta­‑feira para o sábado – pas‑
sa pela Praça da República, local onde se encontra
o Teatro da Paz, inicia­‑se a festa mais antiga no ter‑
ritório brasileiro que homenageia o público LGBT.
Na manhã de domingo, o Círio de Nossa Senhora de
Nazaré é obrigado a conviver com os resquícios do
que fora abandonado pelos participantes do Baile
das Chiquitas.
Para o desenvolvimento deste trabalho, observare‑
mos a seguir considerações sobre patrimônio cultural.
Destarte, o patrimônio cultural, sendo conside‑
rado por determinado conjunto social como sua
cultura própria, que sustenta sua identidade e o
diferencia de outros grupos, não abarca apenas
os monumentos históricos, como foi por bastan‑
te tempo considerado, mas também o desenho
urbanístico e outros bens físicos, e a experiência
vivida condensada em linguagens, conhecimentos,
tradições imateriais, modos de usar os bens e os
espaços físicos (Canclini, 1990, p. 99).
Tendo como ponto de partida a afirmação aci‑
ma, o principal objetivo deste artigo vem a ser o
de apresentar a existência do Baile das Chiquitas.
Este, ligado a um dos mais antigos patrimônios
imateriais do Brasil, O Círio de Nossa Senhora de
Nazaré. Por este caminho que escolhi traçar, serão
também abordados os conceitos de Sincretismo e
Patrimônio Imaterial com o intuito de apresentar
as mudanças, o antagonismo e a convergência
presentes entre o Baile das Chiquitas e o Círio de
Nossa Senhora de Nazaré.
HISTÓRICO DO MOVIMENTO
O Baile das Chiquitas na época de sua gêne‑
se, em 1978, não passava de um simples bloco
de carnaval que contava com a participação de
alguns intelectuais, jornalistas e artistas paraen‑
ses, ou seja, personagens da cidade de Belém os
quais podemos classificar, poeticamente, como os
frequentadores das “vigílias etílicas” promovidas
34 | MEMÓRIA LGBT
pelo Bar do Parque, local onde até hoje ocorre esta
manifestação cultural. Resumindo, este evento co‑
meçou como um encontro de amigos cheios de
irreverência e aparentemente sem discriminação,
mas que na atualidade galgou dimensões bastan‑
te expressivas.
Com o passar do tempo, como é de se esperar em
qualquer manifestação cultural, a festa não conse‑
guiu permanecer imutável. Tal fato para uns pode
representar o declínio de toda a “magia” contida
no evento. Porém, para outros pode representar a
“ascensão” do Baile das Chiquitas devido à mega
produção do evento e o grande número de partici‑
pantes. Fato que pode ser associado ao pensamento
desenvolvido por Sant’Anna:
Não podendo ser fundada em seus conceitos de
permanência e autenticidade. Os bens culturais de
natureza imaterial são dotados de uma dinâmica
de desenvolvimento e transformação que não cabe
nesses, sendo mais importante, nesses casos, regis‑
tro e documentação do que intervenção, restaura‑
ção e conservação (Sant’Anna, 2009, p. 55).
No início o evento mantinha um caráter cordial en‑
tre os participantes e toda a concentração da festa
acontecia ao lado do Bar do Parque em frente ao
Teatro da Paz. Todavia, a festa das Chiquitas, a cada
ano que passa, aumenta expressivamente o número
de participantes e estes passaram a ocupar todas as
áreas da Praça da República.
Mesmo com as acusações daqueles que defen‑
dendo uma suposta pureza pretérita e não concor‑
dam com algumas mudanças que ocorreram com
o decorrer do tempo, O Baile das Chiquitas ainda
mantêm muitas de suas atrações principais, sendo
uma delas o prêmio O Veado de Ouro que é dado
à personalidade paraense que mais se dedicou du‑
rante todo o ano corrente a luta pelos direitos dos
homossexuais, como pode ser observado:
Já o ápice da noite, o prêmio Veado de Ouro, en‑
tregue aos que mais se dedicam na comunidade du‑
rante o ano por sua contribuição contra a homofo‑
bia, é o que atrai o público. ‘Este ano o escolhido foi
Adilson Oliveira, que está defendendo uma disser‑
tação sobre discriminação de professores homosse‑
xuais nas faculdades’ [...] (O Liberal; 2007 p.4)
Contudo, embora esta manifestação cultural tenha
sido batizada com um nome bem sugestivo, o que po‑
deria restringir os participantes somente a comunida‑
de LGBT, vários são os representantes da sociedade
belenense que frequentam o evento.
mo. Esse pensamento é fundamentado pelo trecho
bíblico a seguir:
Com homem não te deitarás como se fosse mu‑
lher; é abominação e se também um homem se
deitar com outro homem, como se fosse mulher,
ambos praticaram coisa abominável; serão mor‑
tos; o seu sangue cairá sobre eles. (BÍBLIA; Levítico
18:22, Levítico 20:13)
De fato, o que não se pode é cair no erro de acre‑
ditar que um festejo com tamanha grandiosidade
AMOR E ÓDIO: O EMBATE ENTRE O BAILE E A IGREJA como é o caso do Círio de Nazaré, não irá apresentar
O animador oficial da festa é Eloy Iglesias, que junções de várias culturas mesmo que antagônicas.
aparece no documentário ‘As Filhas da Chiquita’.
Os que torcem o nariz para tanta tolerância terão mes‑
Numa das cenas, o artista conta que a festa convi‑ mo é que se acostumar porque a festa da Chiquita atrai
ve em harmonia com o fes‑
mais gente a cada ano. Ela
tejo religioso. Atribui a con‑ Por parte das hierarquias consta no calendário oficial
tradição da parada gay e o
dos festejos do Círio de Na‑
católicas,
há
uma
Círio ao monopólio que a
zaré, reconhecido pelo mi‑
relutância
em
aceitar
igreja tenta impor. Mas diz
nistério da cultura, que [...]
que a participação popular
tombou a festa como patri‑
a ligação da festa
é um fenômeno incontro‑
mônio imemorial do povo
considerada
profana
com
lável. ‘o Círio de Nazaré já
brasileiro. E desde 2004,
faz parte da cultura paraen‑
a festa religiosa da qual é reconhecida como Patri‑
se. Extrapola a fronteira
mônio Cultural do Brasil. (O
os
católicos
paraenses
religiosa. Durante o Círio,
Liberal; 2007 p. 4)
em todos os municípios do
Esta junção que por
tanto se “envaidecem”.
Pará existem homenagens
agora compreenderemos
exclusivamente religiosas, cada uma com sua pe‑ como sincretismo cultural, diferente do que o nome
culiaridade. A festa sempre teve o lado profano. (O pode deixar parecer, não ocorre de forma harmônica
Liberal; 2007 p. 4)
como em um sincronismo, mas sim de uma forma
Por parte das hierarquias católicas, há uma relu‑ sofrível, movida por um jogo irtercultural que prevê
tância em aceitar a ligação da festa considerada perdas e ganhos, trocas e negociações. Para que se
profana com a festa religiosa da qual os católicos possa compreender a dimensão que ronda o que
paraenses tanto se “envaidecem”. Para tanto, por aqui entendemos como sincretismo, afirmamos que:
ser uma vertente do pensamento judaico­‑cristão,
[...] sincretismo como termo­‑chave para a compreen‑
o catolicismo assim como o cristianismo como um são da transformação que está se dando naquele pro‑
todo, condena as práticas homossexuais. Assim sen‑ cesso de globalização/localização que envolve, trans‑
do, negam a legitimidade do Baile.
forma e arrasta os modos tradicionais de produção
O argumento por parte da Igreja é o de que as de cultura, consumo, comunicação. Essa palavra não
práticas homossexuais são biblicamente conside‑ somente abre portas à compreensão de um contexto
radas pecado, portanto, condenadas pelo catolicis‑ feito de arrancadas e confusas mutações, mas também
MEMÓRIA LGBT | 35
PATRIMÔNIO IMATERIAL LGBT
pode permitir direcionar esta crescente desordem co‑
municativa ao longo de correntes criativas, descentra‑
das, abertas (CANEVACCI, 1996, p. 4).
Para que se possa perceber o sincretismo no Círio
de Nossa Senhora de Nazaré, não precisamos re‑
correr a livros ou a comentários de terceiros. Basta
apenas que os curiosos que queiram conhecer um
pouco mais sobre o que ocorre nas entranhas des‑
te evento acompanhem todas as atividades que
envolvem esta festa religiosa. Serão visíveis, para
este neófito, as várias manifestações religiosas
antagônicas ao catolicismo e que coadunam com
Para a tristeza dos
clérigos católicos, o Círio
de Nazaré já transcendeu
as pequenas paredes
da instituição da qual
outrora se originou.
Círio, abrem espaço para uma nova realidade social
que não é mais tal igual à realidade social da qual se
originou. Esta ocorrência permite a inserção das mais
variadas e contraditórias relações culturais, quando
este fato é colocado em pauta, abrem­‑se também
as dimensões de estudos que rondam as duas ma‑
nifestações, ampliando as discussões com relação ao
Patrimônio. Seja ele Patrimônio Material, Imaterial,
Cultural, Global, entre outros.
Em segundo lugar, não podemos esquecer sobre
as questões que tangem os registros de ambos os
movimentos culturais. Em suma, ao concluir este tra‑
balho, podemos afirmar que apesar de todo o caráter
espontâneo que é inerente a um Patrimônio Imaterial
nos dias de hoje, graças às iniciativas de alguns ór‑
gãos patrimoniais se tem feito muito para que haja
um registro desses patrimônios, para que estes em
alguns casos, não deixem de existir sem que se co‑
nheça algo sobre eles.
o Círio, sem que ocorra repressão direta. Para a
tristeza dos clérigos católicos, o Círio de Nazaré
já transcendeu as pequenas paredes da instituição
da qual outrora se originou.
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões que rondam a relação entre O Baile
das Chiquitas e o Círio de Nazaré acabam por nos
guiar a duas questões básicas. Apontamos aqui, em
primeiro lugar, o fato de que se devem considerar
as manifestações populares. As mesmas, ao entrarem
em conflito com as tradições hegemônicas da institui‑
ção religiosa da qual podemos atribuir a patente do
CANEVACCI, Massimo. Uma exploração das hibridações culturais.
São Paulo: Studio Nobel, 1996.
CANCLINI, Néstor Garcia. O patrimônio cultural e a construção
imaginária nacional. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, nº 23. Rio de Janeiro, 1990.
Vianna, L. Dinâmica e preservação das culturas populares: experiên‑
cias de políticas no Brasil. Revista Tempo Brasileiro, 2001.
SANT’ANNA, Márcia. A face imaterial do patrimônio cultural: os
novos instrumentos de reconhecimentos e valorização. In: ABREU,
Regina e CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e Patrimônio: ensaios
contemporâneos. Rio deJaneiro: DP&A, 2003. p.46­‑55.
36 | MEMÓRIA LGBT
PATRIMÔNIO MATERIAL LGBT
Já parou para pensar
que a sua boate
pode ser
tombada?
Victor Urresti
Vamos citar a história do Cine Ideal! Uma boate
que (infelizmente) recentemente fechou suas por‑
tas (#todaschoram) e que tem uma longa história
por trás do seu nome, do seu espaço e do próprio
termo pelo qual era intitulado: “Templo da House
Music”
O atual Cine Ideal está localizado à Rua da Ca‑
rioca, no centro do Rio de Janeiro, ao lado da Praça
Tiradentes, onde outrora foi a praça dos cinemas e
teatros. Os poucos que restaram são contemporâ‑
neos ao passo dos cinemas da rua do Cine Ideal. O
Cine Ideal, já foi conhecido como Cinematographo
Ideal, inaugurado em 1908. Prédio tombado junto a
um conjunto arquitetônico que engloba a Rua da Ca‑
rioca, do número 02 ao 87 (o nosso cine é o número
60­‑62). Possui uma linda cúpula que nos seus tempos
áureos de cinema se abria no verão.
MEMÓRIA LGBT | 37
PATRIMÔNIO IMATERIAL LGBT
Bom, ao pensar no “templo da house music”,
título da boate, devemos olhar sua fachada para
entender isso. É uma fachada eclética com pilas‑
tras nas janelas, arcos plenos ladeando, frontões,
cornijas e um toque art nouveau fechando a de‑
coração. Na verdade, nunca tinha parado para ligar
o "1+1" que os idealizadores fizeram, de repente
não sou o único, porque o badalo lá é certo! Em
dias de festa, quem vai olhar a arquitetura?
O mais interessante de tudo isso é a ocupação
da comunidade LGBT nestes espaços, a festa durou
anos, onze para ser exato. Ora! Um espaço que po‑
deria muito bem estar à quem apenas tendo vistoria
do patrimônio uma vez na vida e outra na morte, es‑
tava em uso. Ainda tinha funcionalidade e não tinha
uma bee se quer que não tenha ouvido falar do Cine
Ideal ou se jogado nas suas pistas open bar.
38 | MEMÓRIA LGBT
INTERNACIONAL
Sala de cinema Urdaneta: um
espaço de identidade gay
José Alirio Peña Zerpa – Tradução: Mario Di Lorenzo
1
As salas de cinema pornô como espaços fixos moldados pela personalidade e referencias culturais do
usuário, fazendo deles lugares que permitem o bem­
O cinema pornô é companheiro do cinema comercial; ‑estar e sossego mental. Agora, se traduzimos essa
clandestino, ou não, representa uma produção parale‑ descrição àquelas salas de cinema pornô ou outras que
la ao cinema oficial. Provavelmente alguns produtos existiram durante várias décadas em algumas cidades
identificados como Made in USA tenham sido elabora‑ da America Latina, frequentadas, em sua maioria, pelo
dos na America Latina, porém o vestígio da nação que público gay. Não faltará aquele que, categoricamente,
o produziu se perdeu pelo mesmo adotar um título em comente sobre estes lugares como espaços que não
inglês para a sua distribuição. Evidentemente, antes do proporcionaram valor algum à sociedade.
boom da internet, a distribuição deste cinema se limi‑
Na Cidade do México o “Cine Teresa”, inaugurado no
tava a salas de cinema pornô. Estas salas foram muito dia 8 de junho de 1942, começou a exibir cinema pornô
populares nos anos 80 e algumas tem permanecido em 1994 para se recuperar de sua forte baixa econômi‑
até o século XXI. “Cine Teresa”, no México e o “Teatro ca. Em 2010 foi reformado e em 2011 foi reinaugurado.
Urdaneta”, em Caracas, são exemplos de salas de ci‑ Hoje em dia forma parte da Cinemateca Nacional e não
nema pornô fechadas, reformadas e reinauguradas por mais exibe filmes pornôs (Espinoza, 2013). Atualmente,
organismos governamentais para a exibição de cinema segundo dados da Câmera Nacional da Indústria Cine‑
oficial iberoamericano e estrangeiro.
matográfica (El Universal Tv, 2010) consultados em Gar‑
Ontiveros (1995) retomava as ideias de Hall (1973) cía (2013) existem menos de 20 salas de cinema pornô
sobre os espaços de características fixas que estão de um total de 2400 em todo o México.
O “Cine Urdaneta” nasceu no dia 14 de junho de
1951 com o filme “¡Ay amor, cómo me has puesto!”
protagonizado por Tin Tan. Seu nome é em homenagem
ao sobrenome do seu primeiro dono (Carlos Urdaneta
Carrillo) e formou parte do conjunto de cinemas po‑
pulares criado nos anos 50, em Caracas. Nos anos 70
já havia imposto a classificação D. “Las insaciables del
sexo” (As insaciáveis do sexo), “Morenas Ardientes”
(Morenas Ardentes), “Azafatas del Placer (Aeromoças
do prazer), “Dulce cálida Lisa” (Doce quente Lisa),
“Remolino de Pasiones”, (Moinhos de Paixões) “Pastel
para el amor” (Torta para o amor), “Noches de Pasión”
MEMÓRIA LGBT | 39
INTERNACIONAL
(Noites de Paixão), Girl Fever” foram alguns dos títulos
que foram exibidos nesse lugar.
Se lermos as salas de cinema pornô como espaços
fixos onde os usuários gays são livres de protagonizar
seus próprios filmes pornôs nos banheiros ou poltronas,
então, estamos assumindo, em primeiro lugar, o dife‑
rencialismo e em segundo lugar, o rapport entre esses
espaços fixos e seus usuários. Com diferencialismo se
faz referencia àquela postura de um conjunto de sujei‑
tos individuais e coletivos que não seguem os mesmos
direitos do que comumente foi denominado de socieda‑
de heteronormativa. A diferença das associações LGBTI
(lesbianas, gays, bissexuais, identidades trans e interse‑
xuais) não almeja o matrimonio civil igualitário nem a
constituição de famílias homoparentais. Para eles a vida
sexual ativa é valida com varias pessoas. Os conceitos
de monogamia e fidelidade não se correspondem ao
fato de casar para toda a vida com uma única pessoa.
Suprimem a palavra promiscuidade por considerá­‑la
estigmatizante. A postura diferencialista é descrita por
Vélez (2008) contrapondo­‑a a assimilacionista liderada,
em sua maioria, pelos coletivos LGBTI. Isso que chama‑
mos de “sexodiversidade” de fato reúne as posturas
assimilacionistas e diferencialistas.
Rapport entre a sala de Cinema Urdaneta e seus
usuários gays
Caracteriza­‑se por:
a. A relação com o mobiliário/ objetos: “Sentei e
apliquei a mesma da vez anterior… Aventuro­‑me
40 | MEMÓRIA LGBT
às primeiras fileiras para ver o que vou encontrar…
Tempos depois se senta um moreno lindo…” (Cara‑
cas Mensex CCS MS/ celebroso, 2009).
b. A experiência espacial que refere a distancia ín‑
tima, ou longínqua, que o individuo cria em relação a
outro(s): “Tempinho depois sentou um do meu lado
e me punhetou, daí em diante foram se revezando
para me dar umas boas chupadas... Não deixa de me
parecer engraçado que é parecido como uma loja de
doces, alguns provam os paus como balas de carame‑
lo...” (Caracas Mensex CCS MS/ perrobravo, 2009).
c. Cada detalhe do local é reconhecido e viven‑
ciado, o qual permite assegurar a continuidade do
grupo: “Um cheiro de sexo e fumo de cigarro impreg‑
nam toda a sala. A luz é escassa e só umas pequenas
lâmpadas vermelhas na parede e os letreiros de não
fumar iluminam todo o espaço” (Caracas Mensex
CCS MS/ Mamón, 2008). “Bom, vejo que já descobri‑
ram que o domingo é o dia no Urdaneta...” (Caracas
Mensex CCSMS/ Carlos, 2009).
Cinema Urdaneta: um lugar antropológico e
um não lugar
Se nos remetermos aos anos de existência do ci‑
nema Urdaneta (1970­‑2012) como sala de cinema
pornô poderia distingui­‑lo como:
a. Um espaço de identidade que tinha sentido de
unidade para seus usuários gays: “O que caralho
ocorre aqui? Se aqui não deixam chupar, ficaremos
todas loucas e este cinema arruína­‑se... É claro que
o cinema inteiro aplaudiu...” (Caracas Mensex CCS
MS/ videólogo, 2007).
b. Um espaço relacional onde se desenvolveu uma
linguagem gestual e corporal bem particular que di‑
namizou formas de fazer, agir, reunir­‑se: “De repen‑
te fez um movimento... o sacudiu assim como quem
oferece algo a um cachorro... fez­‑me um sinal com a
cabeça...” (Caracas Mensex CCS MS/ bryan, 2012).
c. Um espaço histórico por quanto podiam sentir fal‑
ta de tempos passados como melhores: “Ainda lembro
o dia que fui pela primeira vez, em comparação com o
dia de hoje, tinha muito mais gente...” (Caracas Men‑
sex CCS MS/ Alfasirius, 2008). “...frequentava o cine‑
ma há 15 a 20 anos, era muito diferente... que lem‑
branças tão bonitas e saber que não voltaram mais...”
(Caracas Mensex CCS MS/ carlos luis, 2009).
As características anteriores correspondem aos luga‑
res antropológicos descritos por Augé (1993). Mas, a
sala de cinema Urdaneta na sua etapa de censura D
também reuniu as condições de área efêmera e de lu‑
gar de passo vinculado ao anonimato, para alguns de
seus usuários: “... Necessitava escolher o trabalhador,
açougueiro, vigilante, motorizado, ou o que fosse para
lhe dar porra...” (Caracas Mensex CCS MS/ Campero,
2010). “Deixei atrás o cinema adulto... que na verdade
é um hotel onde alguns vão para manter seções de sexo
expresso” (Caracas Mensex CCS MS/ Mamón, 2008).
Neste sentido, se trata de um não lugar. E o não
lugar e o lugar antropológico não são opostos, são
um jogo continuo e confuso entre a identidade e a
relação, onde emerge a apropriação social.
Estudante de doutorado em Artes e Cultura para a América Latina e o
Caribe (UPEL). Magister Scientiarum em Comunicação. Menção Honro‑
sa (UCV, 2013). Ele estudou na Escola de Cinema e Televisão Caracas
(ESCINETV, 2009­‑2011). Especialista em Gestão Profissional Empresa‑
rial (Preston University, 2003). Locutor 34.217 (UCV, 2002). Industrió‑
logo, Cum Laude (UCAB, 2000). Presidente da Venezuela LGBTI Film
Festival­‑ FESTDIVQ. Membro da Rede Latino­‑Americana de Audiovisual
Narrativas (RedInav) e Rede de Pesquisa em Cinema Latino­‑Americano
(RICILA). Autor dos livros "Arco­‑íris Tricolor. Estereótipos de gays no fil‑
me venezuelano (1970­‑1999) "(2013) e" Rainbow Tricolor. Venezuela
Sexodiversas Audiovisual Productions (1982­‑2012) "(2013).
1
Referencias
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logía de la sobremodernidad (1era. Edición). Barcelona: Gedisa
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uso del espacio. Madrid: Colección Nuevo Urbanismo
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Gays, lesbianas y transexuales ante el debate identitario. Barcelona: Edi‑
ciones de Intervención Cultural
MEMÓRIA LGBT | 41
TURISMO LGBT
Turismo Gay­‑Friendly e
lucros de 2014
O que se entende como Turismo Gay são as prá‑
ticas de viagens, destinos e equipamentos que re‑
cebem o público LGBT (Lésbicas, Gays Bissexuais
e Transexuais/transgêneros) em toda sua diversi‑
dade. O segmento de mercado, no turismo, conhe‑
cido com Gay­‑Friendly1 é responsável pelo aten‑
dimento do público LGBT. São estabelecimentos
que não são necessariamente espaços exclusivos
desse público, são atrativos e equipamentos que
atendem todos os clientes do mercado, mas são
sensíveis as causas LGB e, portanto, compromis‑
sados ao atendimento respeitoso e de qualidade
à classe. Eles são o “S” da antiga sigla (GLS), os
simpatizantes da causa. (SILVA, 2009; NASCIMEN‑
TO; SANCHES, 2009).
42 | MEMÓRIA LGBT
Hagá Galvão
É uma tendência que ganhou força após a visibili‑
dade causada pelos avanços dos direitos dos homos‑
sexuais na sociedade, após a segunda metade XX e
está em grande expansão (NASCIMENTO; SANCHES,
2009). A consciência do trade turístico não vem
apenas pela solidariedade ou pela consciência dos
direitos das minorias, ele vem associado a grandes
movimentações financeiras que interessam ao mer‑
cado. Segundo pesquisa divulgada pelo World Tra‑
vel Market, os gastos do segmento LGBT em 2014
superarão os USD$ 200 bilhões de dólares.
Os empolgantes números internacionais do Pink
Money2 (NASCIMENTO; SANCHES, 2009) – como é
chamado os lucros proveniente do segmento – cha‑
ma atenção dos investidores e empresários brasilei‑
$
$ $
ros que hoje configuram o segundo
maior mercado mundial para o turis‑
mo LGBT (WORLD TRAVEL MARKET, 2013). Já se
encontra no mercado brasileiro destinos que empu‑
nham a bandeira LGBT no turismo, com articulações
governamentais e associação de empresários, como
em Recife, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janei‑
ro, Minas Gerais, Bahia e Paraná. Na cidade de São
Paulo a Parada da Diversidade é o segundo evento
que mais arrecada, estando apenas atrás da Formu‑
la 1. Outro fato relevante é que 83% dos turistas
homossexuais estão nas classes socioeconômicas A
e B (AZEVEDO et al., 2012), apresentando portan‑
to alto poder aquisitivo, característica de um públi‑
co exigente, que requer tratamento especializado.
(AZEVEDO et al., 2012).
Existem equipamentos que ostentam o selo de
Gay­‑Friendly através de associações de classe,
como o Recife Convention and Visitors Bureau, agên‑
cia não governamental que promove e atrai eventos
e movimenta o setor turístico na capital pernambu‑
cana. Essa entidade tem uma lista dos equipamentos
que estão aptos ao atendimento do público LGBT e
fazem parte de um guia especializado para a classe.
Estes equipamentos também recebem um selo metá‑
lico que fica exposto ao público para que seja divul‑
gada a proposta da empresa.
É um mercado em franca expansão que gera lucros
para empresário e pode garantir um atendimento
livre de discriminação. A maior barreira para a ex‑
pansão da tendência é o preconceito e a falta de es‑
pecialização. Esse ainda é o maior problema desse ni‑
cho de mercado, a falta de especialização (AZEVEDO
et al., 2012; WORLD TRAVEL MARKET, 2013). Falta
entendimento dos dirigentes de empresas entende‑
rem que ingressar no mercado com Gay­‑Friendly não
transforma seu equipamento em gueto homossexual.
$
$
$
$
É ‘apenas’ atestar que o equipa‑
mento está disposto e apto a rece‑
ber o público homossexual sem agredi­‑los.
A visibilidade e a transformação do mercado, como
já dito, vem junto com o avanço nas conquis‑
tas dos direitos da classe LGBT, que traz
os benefícios humanitários do respeito,
e como posto, benefícios à economia.
Amigável com os Gays
Dinheiro Rosa
(Tradução Livre)
1
2
Referencias
AZEVEDO, Maurício Sanitá et al. Segmentação no setor Turístico: O
turista LGBT de são paulo. Revista de Aministração da UFSM, Santa
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em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs­‑2.2.2/index.php/reaufsm/
article/view/3852>. Acesso em: 17 fev. 2014.
NASCIMENTO, Márcio Alessandro Neman do; SANCHES, Thiago
Cardassi. Existem consumidores de turismo LGBT na região norte
do Paraná? Quem são e o que consomem? Revista de Psico‑
logia da UNESP, São José do Rio Preto, v. 2, n. 8, p.76­‑87,
2009. Disponível em: <http://www2.assis.unesp.br/revpsi‑
co/index.php/revista/ article/viewFile/136/166>. Acesso
em: 15 fev. 2014.
SILVA, Flavio Bezerra da. Turismo e Sexualidade na Metrópo‑
le: O Caso de São Paulo. In: SEMINÁRIO DE PÓS­‑GRADUAÇÃO
EM GEOGRAFIA DA UNESP RIO CLARO, 9, 2009. Rio Claro:
Flamarion Dutra Alves, 2009. p. 704 – 716. Disponível em:
< https://sites.google.com/site/ seminarioposgeo/anais
>. Acesso em: 16 fev. 2014.
WORLD TRAVEL MARKET (London). LGBT Tourism Breaks
Through USD$200 Billion in Annual Spending. 2013.
Disponível em: <http://www.WORLD TRAVEL MARKET .com /
page.cfm/Action=press/libID=1/libEntryID=2343>. Acesso em: 11
fev. 2014.
Herivaldo Galvão é turismólogos pela Universidade Federal de
Pernambuco, especialista em turismo cultural e planejamen‑
to. Dedica­‑se desde 2009 a pesquisa em museus. – gal‑
[email protected]
$
MEMÓRIA LGBT | 43
$
A próxima edição da
Terá como tema:
Dia Internacional de Combate a Homofobia
(17 de Maio)
+
Dia Internacional dos Museus
(18 de maio)
=
Combate a homofobia, lesbofobia e transfobia
em museus e espaços de memória
Foi descriminad@ em um Museu ou espaço de memória?
#envieseurelato
Visitou alguma exposição que abordasse a memória LGBT?
#enviesuacontribuição
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