2 rêflj!C:tjl',. nas suas páginas, movllnentaçiio Q<lec,rél:o da autoproclama(.la gestão democrátiça, #:., o segWldo número dá revista. Lugar de discusSão . dar conta do problema númttro ·u m da actualidl:\de depoimentos. Procurou enq",adr$lr ;::-.. analisanào _ " ,._...,,,. Mas fomos mais longe. E porque (} momento é de luta, da trave: no Porto, em Coimbra ou e~fis~a, na Assembleia Pág. EDITORIAL O momento é de unidade e luta 3 Igl MOVI TO ESTUDANTIL Auton das escolas: I,lm conceito, umo o ..... . ... .i'. . .. . . ... . 4 UniversiQade em luta ... . .. ..... . . 6 António Nóbre:Jiçõesdo terror nazi .. 8 IgI dentro ê fora das escolás ....... . 9 AS.Sembléia da República: Ensino SupéÂor êm discussão . . ........ . . 15 ACTU~LIDADE POt..:íl'tCA MUP: u do-morto . . ... 10 Eléiçõ a 8;$ autarquias .. .... , . 11 191 DGCUMENTOS li' P ndevaiaJS? . . . . .... . ... . 12 'tll NtCI()N~L )J,: ~EVISTA MENSAL !X, DA UNIÃO DOS ESTUDANTt:S ~?MUNISTA.S :. . implka' o momento é de unidade e luta segundo número de LG sai para a rua num momento particularmente importante e significativo. Momento que é de unidade. Momento que é de luta. Momento que é de unidade e luta de todos os estudantes, do conjunto da Universidade portuguesa, em defesa das conquistas alcançadas nas escolas, contra uma política que visa colocar o sistema escolar ao serviço de um projecto de recuperação capitalista, reaccionário e antipopular, que - a própria vida o está demonstrando - longe de resolver os problemas, antes os agrava. O OLITICA que, desde o numerus cJausus aos decretos ditos da «degradação pedagógica », culminando no decreto da gestão das escolas superiores, vive para um único objectivo: P destruir, cegamente, sem olhar a meios, os gérmens da democrac:ia e do progresso que, laboriosamente, estudantes e professores lançaram nas escolas do após 25 de Abril, numa luta tantas vezes abnegada contra o facilitismo oportunista e seus coriféus, contra o imobilismo ou a complacência daqueles que agora dizem querer «restaurar a ordem» nas escolas, quando - e a memória dos estudantes não é tão curta como isso - ainda há bem pouco tudo faziam para as sabotar e paralisar. Política que, longe de pretender corrigir eventuais excessos ou erros, abusivamente os generaliza, na ânsia de pôr em causa tudo o que de positivo foi feito nas escolas: o saneamento de gente incompetente e sobejamente comprometida com o fascismo; a contratação de docentes que, por progressistas e competentes, o fascismo havia forçado ao exílio ou ao desemprego ; a liquidação do conteúdo reaccionário das matérias e sua substituição por uma visão progressista do mundo ; a elaboração de planos de estudo visando adequar o ensino à realidade do novo Portugal democrático; a própria participação saqificada e responsável de estudantes e professores nestas e noutras transformações, na gestão das escolas, no esboçar de um projecto democrático para o terreno do ensino. Política que , ao ameaçar todos estes passos positivos que, com o 25 de Abril, foram dados no terreno do ensino, ameaça paralisar a vida escolar, apontando às escolas a perspectiva do seu encerramento e aos estudantes e professores o desemprego como «alternativa ». ONTRA tal política - e , em primeiro lugar contra o decreto auto-intitulado da «gestão democrática » - os plenários realizados nas três academias, a greve nacional de 26 de Novembro , as manifestações de 23 de Novembro e 3 de Dezembro , mostraram a firme disposição de combate do movimento estudantil e da Universidade. Jornadas históricas, que atingiram níveis de mobilização raramente conseguidos de há alguns anos para cá, estes dias de intensa unidade e acção são a demonstração clara de que os estudantes (e com eles, o conjunto do povo trabalhador que paga as escolas) não só não dão o seu aval a medidas de liquidação da democracia nas escolas, como se opõem activamente - apontando alternativas e mostrando caminhos - a uma política que tem o 24 de Abril como perspectiva. C o assumirem as suas responsabilidades históricas (no prosseguimento de tradições democráticas e progressistas que vêm de muito longe e que nem o fascismo conseguiu A esmagar) a Universidade, o movimento estudantil, comprovam que transportam em si a força suficiente para derrotarem projectos de recuperação obscurantista do ensino e se constituirem em motor de uma política educacional que sedimente e aprofunde aquilo que de progressista foi alcançado. Uma política, que , tendo a Constituição como programa e quadro genérico, garanta o direito ao ensino, a sua Qualidade e o acesso a ele dos filhos dps trabalhadores, forme os quadros técnicos e científicos necessários ao desenvolvimento não-capitalista do país, assegurando «saídas » e realização profissional para a grande massa dos estudantes. Uma política que , aos mais diversos níveis - desde a necessária planificação global até à escola ou à turma - estimule e desenvolva a intervenção criadora de estudantes e professores. Por estes objectivos, pela defesa das conquistas alcançadas, o momento é de unidade e luta' 19/movimento estudantil 4 o sistema escolar não escapou imune à enorme batalha de classes que atravessou o conjunto da sociedade portuguesa imediatamente após o 25 de Abril. Afirmá-lo é quase uma redundância. Determinar em que medida tal facto , óbvia e facilmente constatável, se reflectiu nos avanços e recuos, conseguidos e consentidos, transformando estruturas e consolidando conquistas ou, pelo contrário, mantendo intactas aquelas e pondo em causa estas, é já tarefa menos fácil. Sobretudo num momento em que paira sobre toda esta realidade a sombra ameaçadora de um cutelo. Trata-se no entanto de tarefa necessária, se porventura se quiser obter uma clarificação mínima das realidades e perspectivas que hoje se nos oferecem . . Um balanço global das modificações operadas no terreno do ensino após o 25 de Abril conduz-nos forçosamente à conclusão de que estas não acompanhavam , no seu ritmo e alcance, aquelas que se processavam noutros domínios da vida nacional e que se encontram na raiz da nova realidade económica e social do país que a Constituição consagra - a democracia apontada ao socialismo. Embora pontualmente se tenham introduzido modificações no sistema e estruturas do ensino fascista, não é correcto concluir que destas tenha resultado a concretização do objectivo estratégico da democratização do ensino. A RGDE, programa sistematizado de acções e objectivos que dá corpo a tal reivindicação genérica, não foi alcançada, pesem embora os passos dados nesse sentido: desfascização do ensino, gestão democrática, via escolar única, etc ... Diversos factores intervêm nesta situação. Em primeiro lugar, destaque-se a natureza do poder político , alojando em simultâneo forças progressistas e reaccionárias, hesitante, instável, contraditório, incapaz de definir uma política global de democratização do ensino. Depois atente-se na actividade desagregadora desenvolvida pelos grupos reaccionários e esquerdistas , contrariando modificações progressistas erigindo o facilitismo em critério político e a violência em método decisório. Finalmente, leve-se em linha de conta a pesada herança recebida do fascismo e teremos recomposto o quadro mais ou menos exacto em que se processaram os poucos avanços no sentido da concretização da RGDE. Desta complexa situação emerge hoje um ensino que não estando moldado à medida das necessidades dos monopólios, quer sob o ponto de vista da formação da força de trabalho, quer sob o ponto de vista da inculcação ideológica, não corresponde ainda às exigências de uma dinâmica não capitalista de desenvolvimento , assente na defesa ... ou. aceitam .. . o·.Olo(. o govern.o u.,arcÍ !neioS d1~creto$.rn&$ eFtCa.zes A1J..tonotn (card )i<t • autonolllla • das escolas • um conceito um objectivo e aprofundamento das conquistas históricas da revolução portuguesa. Daí as tensões, daí as deficiências, daí a firme convicção de que muito está por fazer. Daí também a necessidade de, numa perspectiva de recuperação capitalista das grandes conquistas da revolução portuguesa, liquidar tudo aquilo que signifique ruptura em relação a um ensino domado aos interesses do grande capital. Donde a actual política do MEIC - sintonizada com a ofensiva de recuperação capitalista que se desenvolve noutras esferas da vida nacional, visando o regresso à escola do 24 de Abril, visando a liquidação das conquistas obtidas no terreno do ensino. A concretização de um tal projecto passa em primeiro lugar pela liquidação da gestão democrática, base fundamental, a partir da qual tomaram corpo tantas outras modificações, como sejam a contratação de professores progressistas técnica e cientificamente competentes, as modificações de curricula e a criação de novos cursos virados para o estudo e a intervenção sobre a nova realidade económica e social criada pela revolução, etc ... Pondo ponto final na participação das escolas na definição dos seus principais fins e objectivos, bem como na definição da política global de ensino, obter-se-ia a necessária base para uma política de «reconstrução» das escolas - dos seus professores, dos seus programas, dos seus métodos e das suas finalidades e, quiçá, dos seus estudan tes! - à medida dos sistemas da recuperação capitalista. Liquidar a autonomia das escolas, acabando com a gestão democrática e prevendo mecanismos de intervenção e tutela ministerial como sejam os Conselhos de Reestruturação ou as Comissões Científicas Inter- Universitárias, eis pois o objectivo central e primeiro de uma política que se sabe antiestudantil e antipopular. Que não ignora que só amordaçando consegue abrir caminho . Não é pois de admirar que a expressão «autonomia universitária » tenha ganho subitamente uma actualidade insuspeita tornando-se em reivindicação central da universidade portuguesa e do movimento estudantil. Presente ou subjacente a todas as moções que as escolas têm aprovado, atacada e ridicularizada por Cardia, saltando para as primeiras páginas dos jornais diários , gerando em seu tomo polémica e discussão , a questão da autonomia é hoje uma das questões centrais da Universidade. COMO COLOCAR A QUESTÃO DA AUTONOMIA? A reivindicação da autonomia nunca surge em abstracto. O modo como a cada momento ela é formulada depende de um conjunto complexo de factores que têm fundamentalmente a ver com a natureza do poder político, dos seus projectos e métodos. Comportando sempre um conteúdo preciso de que se destaca um núcleo de reivíndicações apontadas para a participação da população das escolas na tomada das decisões dos mais variados níveis do sistema escolar, a autonomia aparece sempre associada às reivíndicações mais genéricas e globais do movimento estudantil, como sejam o direito ao ensino, a sua democratização, o acesso a ele dos filhos dos trabalhadores, a garantia de saídas profissionais para aqueles que termínam os seus estudos, etc .. Neste sentido, a reivíndicação da autonomia, se corresponde, em primeira análise, à vontade de estudantes e escolas participarem nas decisões que dizem respeito aos seus interesses mais imediatos, afirma-se igualmente como um meio para a concretização de um projecto de transformações democráticas maís vasto, visando pôr a escola e o ensino ao serviço das classes trabalhadoras. O modo concreto como este leque de questões se manifesta depende entretanto da natureza do poder político. Assim, quando o poder político se encontra ao serviço do grande capital, as relações que se estabelecem entre este e as escolas são relações conflituais, baseadas em dois projectos antagónicos para o sistema escolar, sendo a autonomia das escolas obviamente inaceitável do ponto de vista do poder político. Nestas condições, a autonomia das escolas torna-se então objectivo central da luta unida de estudantes e professores, animando movimentações e determínando acções concretas em defesa da Universid9.de e dos interesses estudantis. Tais lutas, pela sua amplitude, determínam em muitos casos recuos do poder político , que se vê desta maneira forçado a reconhecer a intervenção dos estudantes e das escolas na sua gestão (vide documento anexo) . Quando o poder político é progressista podem-se reunir condições para estabelecer relações de cooperação estreitas entre a Universidade e os órgãos de poder. Isto porque um poder político progressista assenta sempre num forte movimento de massas levando por diante as reivindicações populares, baseando-se na mais ampla democracia para os trabalhadores - esta a razão de ser e a força deste poder. Nesta situação, em que a correlação de forças necessariamente pende para o lado da classe operária e seus aliados, o movimento estudantil é geralmente atraído para o campo da luta popular. Daí a possibilidade (salvo em casos extremos de manipulação contra-revolucionária da Universidade) de se criarem condições para que 5 autonomia signifique um reforço da participação da população da escola na definição das grandes directrizes do ensino, de forma a ultrapassar a crise da Universidade pondo-a em correspondência com as novas relações de produção. Aqui não haveria contradição entre a autonomia da Universidade e a política do poder, antes uma conjugação de esforços entre este e os que melhor conhecem e vivem os problemas do ensino. E, EM PORTUGAL, HOJE? Em Portugal vive-se uma situação complexa em que, por um lado, o poder político não corresponde às transformações económicas e sociais desde o 25 de Abril (com um tipo económico determinante não capitalista, aposta na recuperação capitalista); por outro lado, desfasada das formações económico-sociais existentes, a Universidade debate-se numa crise profunda. Apesar disso os passos dados na democratização da escola não podem ser subestimados. Dai a escola tomar-se um terreno de batalha entre aqueles que, verificando a fraca influência organizada da reacção na Universidade procuram suprimir toda a autonomia, toda a participação da Universidade na política de ensino através da intervenção directa dum Ministério como o de Cardia que satisfaz as suas exigências; e aqueles que defendem a autonomia e a democracia nas escolas. É evidente que não se pode ver estas duas perspectivas no abstracto, desligadas da luta de classes e da grande alternativa que se oferece à sociedade portuguesa: ou a recuperação capitalista que significa necessariamente a liquidação das grandes conquistas da revolução e, para isso a instauração duma nova ditadura ; ou uma dinãmica não capitalista assente nas formações económicas criadas em resultado das transformações revolucionárias, o que significa no plano político o reforço da democracia. Esta grande alternativa em que se centra actualmente a luta de classes significa que a defesa da autonomia na actual situação da Universidade é a resistência à viragem à direita, é a defesa neste sector específico das conquistas estudantis e populares, é a luta por colocar a Universidade ao nível das transformações socio-económicas, ao serviço da dinâmica não capitalista. Dai a importância capital da batalha em tomo do decreto de gestão. anexo: aigestão SOS país~s capitalistas ~ii' O âmbito da participação da pORltlação das olas na , de6/iÇão.,da PQlitj ensino ii varil;nos vários itaIistas da Europa. A Idade de interVenção dos estu tesé hoje reconhecida na maioria desses devido à luta travada, as restriçôese os limites nle na m.uitos . S * etat\ha nenh le~prevê (nelÍ\, prOl'Oe) a pa '. . ão dos estudantes nos órgãos de gestão, ficando ao critério de cada Universidade. Na FiiíJândia, na Noruega, na Suiça e Turquia n. e nenb ão 'sçada Un e foi pm na fixam os principios da .partiçipaçãoestudantes. O direito .cipação ,. estúliantes no ' centrais planificação, consulta e decisão, é contudo, limitado. Apenas nas comissões de estudo da Dinamarca existe uma 'representação entre estudantes i~ie professor . ipda assim! ;•. i;continuam a e ' r de.terminados'!: \ domínios reserVados», donde se exclui a decisão estudantil - tais como o recrutamento e despedimento de professores. A s p e c t o qu e é , a I i á s ; generalizadoaost:estantes paises;',; ;; Os exames .••.1i . . . as ; formas d~;r . avaliação de conhecimentos estão também vedados à participação dos representantes estudantis na RFA,na Finlândia, em França, na Noruega e na Orã-Bretanha. Em ' das ado • 6 universidade em luta Culminando um continuado processo de discussão e mobilização estudantil tendo como eixo fundamental as escolas, recolhendo as centenas e centenas de tomadas de posição, que, em cada escola, iam forjando a unidade dos estudantes na luta contra a política reaccionária do MEIC, a luta estudantil afirmou-se finalmente, por forma bem clara, como um poderoso movimento , unido e organizado, mobilizando na acção dezenas de milhares de estudantes, capaz de defender as conquistas alcançadas nas escolas e apto a transformar-se em motor de uma alternativa democrática à actual política de ensino. No centro da luta o decreto da gestão catedrática do ministro Cardia. Gota que fez transbordar a taça criando um ambiente de indignação generalizada na Universidade, entre estudantes, professores e funcionários, entre todos aqueles que querem o normal e democrático funcionamento das escolas, contra a política de recuperação obscurantista de Cardia, que essa sim, visa lançar o caos nas escolas. Seguindo-se aos numerus clausus, aos cortes orçamentais, aos decretos degradantes, à portaria de suspensão dos cursos e a numerosas outras medidas de cunho reaccionário e antiestudantil, o decreto de gestão, preparado no segredo dos deuses, apontado para a liquidação de uma das mais caras conquistas das escolas, desencadeou imediatamente um amplo movimento de protesto e luta que, se tem como objectivo central a sua revogação, vai mais longe, pois é a denúncia global de uma política que quer reinstaurar o 24 de Abril nas escolas. Os factos aí estão para demonstrar do carácter massivo do movimento de recusa ao decreto da gestão catedrática. Em cerca de 3 dezenas de escolas do Ensino Superior não houve nenhuma que se tivesse pronunciado a favor do decreto ministerial e em apenas 3 ou 4 escolas tal decreto não foi analisado. Em 3 reuniões sucessivas, os CD's e AAEE de todo o país reafirmaram o seu repúdio pelo decreto, pronunciando-se pela sua revogação. Também o Encontro Nacional de Direcções Associativas (EN DA), englobando mais de 80 AAEE, disse não à gestão catedrática do ministro Cardia. Numerosos professores catedráticos e doutorados, nomeadamente no ISE e no ISCSP, recusaram-se a integrar os Conselhos Cientifícos e lá onde estes tentaram reunir, a reacção estudantil não se fez esperar. Globalizando um processo que até então tinha o seu terreno fundamental, nas reuniões de Curso, RGA's e AGE's, os Plenários de Academia realizados a 23, 24 e 25 de Novembro em Lisboa, Porto e Coimbra, confirmaram a disposição de combate do movimento estu,<lantil em lutar pela defesa da democracia nas escolas, contra o DL 79-A 76. Contando com a participação de milhares de estudantes, professores e funcionários, tais plenários históricos constituíram um importante passo em frente na organização da luta, uma vez que para além da aprovação de c adernos reivindicativos específicos, se pronunciavam pela a'dopção de formas de luta a nível nacional. 7 Com efeito obtida a unificação do processo havia que passar das declarações de princípio ao traçar de caminhos de luta, que forçassem o MEIC ao diálogo até então recusado. A greve nacional de 26 de Novembro, as manifestações de 23 de Novembro e 3 de Dezembro, bem como a realização de um grandioso abaixo-assinado nacional a ser entregue à Assembleia da República mostraram o acerto das decisões tomadas : a luta estudantil havia conquistado a sua primeira grande vitória. Vitória da unidade forjada nas massas, contra as hesitações, contra o divisionismo, contra a chantagem ministerial . Os plenários realizados a 23, 24 e 25 de Novembro em Lisboa, Porto e Coimbra, as manifestações realizadas em Lisboa, a greve nacional de 26 de Novembro são, com efeito, a expressão transparente do repúdio estudantil pela política reaccionária do ministro Cardia e da vontade dos estudantes em lutarem, unidos e organizados, pela defesa das conquistas alcançadas nas escolas, pela gestão democrática, pelo direito ao ensino, por uma política educacional ao serviço das escolas e do país. São o desmentido claro das afirmações propaladas pelo ministro Cardia e retomadas pela Imprensa de direita que pretendem negar o carácter massivo do movimento estudantil e das suas tomadas de posição: mais de 80000 estudantes em greve no dia 26, eis o número real que nada nem ninguém pode desmentir. São igualmente a demonstração de que, unido e organizado o movimento estudantil é uma força poderosa, capaz de, lado a lado com o movimento popular, defender tudo aquilo que de progressista foi alcançado nas escolas, travando a ofensiva de recuperação obscurantista das conquistas obtidas no terreno do ensino. DEPOIS DA DEMISSÃO COLECTIV A: QUE FAZER? Toda a movimentação que, a nível de massas, se gerou em torno do decreto de gestão foi acompanhada de uma intensa actividade por parte das estruturas representativas dos estudantes e das escolas, nomeadamente AAEE e CDs. A realização de três encontros nacionais de CDs e AAEE do Ensino Superior, a revitalização das RIAs do Porto e Lisboa são disso a expressão. Entretanto, pode-se afirmar que nem sempre tal actividade reflectiu e acompanhou as tendências e anseios das massas estudantis. Devido à acção divisionista de certas forças, as propostas aprovadas não tinham em conta, muitas vezes o carácter nacional da luta e a necessidade vital de unir e unir mais, as escolas, as Academias, os professores, os estudantes, etc. Por vezes, empolavam-se situações particulares perdendo-se a perspectiva global da luta. De outras, não se levava em linha de conta a necessidade de prazos e datas realistas, que possibilitassem o real desenvolvimento da movimentação em curso. Traduzindo todas estas dificuldades e deficiências, a discussão em tomo do dilema - demissão colectiva dos CDs ou sua manutenção como estruturas de gestão das escolas, não se processou da forma mais correcta, vindo a desembocar numa proposta pouco clara, aprovada ao cabo de algumas horas de discussão no Encontro realizado a 26 de Novembro, na qual se aponta a perspectiva de demissão colectiva dos Conselhos Directivos de todo o pais. Decisão incorrecta que, em muitos casos, traduz objectivamente uma fuga à luta e uma notória falta de confiança nas massas e nas potencialidades de desenvolvimento e êxito do processo reivindicativo encetado, a demissão colectiva é hoje um facto. Independentemente da opinião que se tenha a respeito de tal decisão, urge agora organizar a luta nas novas condições, salvaguardando sempre, quer a necessidade de assegurar o expediente das escolas, evitando a sua paralisação, quer a objectiva necessidade de manter e reforçar a coordenação nacional da luta. Nesse sentido apontam algumas das decisões tomadas no decorrer do próprio Encontro, e que interessa agora levar à prática. De um lado, a exigência concreta de que os Conselhos Directivos encontrem formas de assegurar a gestão corrente das .escólas. Do outro, a eleição de-estruturas de luta ( Conselhos de Escola, Comissões de Luta, etc) que, face à demissão dos CDs, possam assegurar a sua ,coordenação nacional de modo a manter ,e a aprofundar os traços unitários que até agora têm ,caracterizado a movimentação universitária em "tomo do decreto de ,gestão. O movimento de massas provou, nas jornadas de luta travadas em tomo do decreto da gestão que possui a força suficiente para suster a ofensiva reaccionária desencadeada contra as escolas e suas conquistas. A sua maturidade, a sua combatividade, o alto nível de mobiIização conseguido, mostram que há condições para prosseguir a luta, encarando-a sob novas formas, adaptadas a cada situação concreta, tendo em conta as condições objectivas e subjectivas do movimento estudantil. 19/especial secundário 8 .. A.N.» . Contra os ovos e tomates, abrem-se os guarda-chuvas, punhos contra o ferro e a madeira polida das matracas ... Saldo: muitas contusões, 4 feridos na cabeça, uma jovem com dois dedos deslocados. Este liceu tem uma Comissão de Gestão. A cidade tem um Governo Civil. Cada um de per si e os dois em conjunto revelar-se-ão incompetenteslimpotentes para evitar ou sanar os incidentes e prevenir a ·sua repetição. Á tarde , os nazis promovem impunemente rocambolescas perseguições sob os olhos interessados da policia imóvel. Pela Rua Costa Cabral , barras em punho, cães-policias na trela, há espancamentos indiscriminados e vidros partidos. Os antifascistas refugiam-se na sede do PS e constituem uma comissão de luta. No dia seguinte, há piquetes fascistas à porta do liceu para "pôr na rua os comunas", o que inclui naturalmente todo e qualquer antifascista. O que está em causa não é já apenas a liberdade de expressão: é a própria integridade fisica. lições do terror nazi Hora do almoço no "António Nobre». Algumas dezenas de estudantes conversam, sentados nos bancos laterais do pequeno pátio interior. Quadrado, o pátio serve de sala de convivio e dá acesso à cantina e às salas de aulas. Há quem reveja ainda lições, consultando apressadamente os cadernos escolares. Numa longa parede, ern frente ao grande relógio (parado), há cartazes. O ambiente é calmo. Um sussurro atarefado marca o vai-vem dos que chegam e partem . Se naquele muro de cor suave não brilhassem as letras negras de um alerta - "O FASCISMO ACONTECE NA NOSSA ESCOLA!,. - nada assinalaria que neste liceu e neste pátio, há bem poucos dias ainda, o fascismo revelou mais uma vez, de forma espectacular, os seus métodos e os seus planos para os liceus de Portugal. Talvez por isso, afixada pelas mãos de jovens antifascistas a voz oportuna de Brecht denuncia num cartaz: "O ventre donde isto saiu ainda está fecundo! ... Isto: um retrato de Hitler simboliza na parede, sombrio, o rosto universal do nazismo ... Mas no ..António Nobre», como noutros liceus do Porto, há quem veja em Hitler coisa diferente da besta imunda lapidarmente verberada por Brecht. Há quem o tome por guia, exemplo, chefe, herói. Há menos de um mês nazis afixaram um cartaz onde, letra a letra, se apelava: "Para que o fascismo regresse, adere à juventude hitleriana!,. E a pergunta irrompe: esses nazis, quem são? De conferência de Imprensa em conferência de Imprensa, os jovens discipulos do velho discipulo de Marcelo Caetano juram monotonamente tudo ignorar e fazem questão de repudiar com solenidade qualquer envolvimento. "Nós estávamos lá - declaram por exemplo - e vimos serem colocados folhas com conteúdo grave, de propaganda fascista, constitucionalmente proibida». E têm o cuidado de sublinhar: "Alguns daqueles alunos, que nada têm a ver com a JC, fizeram essa colagem». Eis pois que a JC confessa claramente que não ignora a identidade de propagandistas do fascismo num liceu do Porto. Nada é mais certo. Mas a JC não vai naturalmente ao ponto de revelar quem são. Se o fizesse, a débil máscara democrática que procura ostentar (com a cobertura proporcionada por cordiais entrevistas com Cardia) tombaria de imediato. São, na verdade, conhecidos filiados e dirigentes da Juventude Centrista , na esmagadora malona, os responsáveis pelas actividades fascistas nos liceus do Porto ... Os estudantes que os têm visto actuar não mais poderão deixar-se iludir pelas declarações retóricas de inocência e apego à Constituição que os jovens nazis produzem quando consideram mais oportuno arvorar a sua qualidade de membros da JC. Importa que nunca se apaguem da memória dos estudantes certas imagens do terror e da violência nazis. As do 11 de Novembro no "António Nobre .. , por exemplo . E importa sobretudo que do (generalizado) repúdio da violência e da clara identificação dos que a provocaram resulte o reforço da consciência antifascista e democrática de cada vez maior número de estudantes. Donde a importância real do apuramento dos factos e responsabilidades. Em termos disciplinares esse apuramento tem um nome próprio: chama-se inquérito. OS FACTOS & OS INQUÉRITOS Espaço: um liceu português. Tempo: Novembro de 1976. Decorre um inquérito ... A liberdade de expressão vem de há muito sendo posta em causa por um grupo de jovens perfeitamente identificados, capitaneados pelo dirigente da JC Manuel Serrão. O arranque de cartazes antifascistas e a propaganda nazi têm carácter sistemático. A CG e o MEIC "ignoram" estes factos correntes. No dia 11 de Novembro, tem lugar uma premeditada acção de terror. Com o arranque de um cartaz de informação e solidariedade para com a luta dos estudantes de Bioestatistica, elementos da Juventude Centristas desencadeiam um processo destinado a acelerar a liquidação das liberdades democráticas na escola. Cuidadosamente, trazem matracas, correntes, facas, barras de aço. Um pequeno destacamento percorre as mercearias vizinhas do liceu, em busca de "munições". Na travessa de Álvaro Castelões, um pequeno comerciante recusa-se a vender ovos (30 escudos a dúzia) explicitamente destinados a uma destruição inútil e revoltante. Os nazis encontrá-Ios-ão um pouco mais adiante, menos caros (20 escudos) e sem perguntas. Pelo caminho, recolhem alguns vegetais "de arremesso" ... A violência estala no pequeno pátio interior do Pais reunem -se e procuram organizar-se. A reunião é parcialmente sabotada pela acção dos que no seu interior lutavam pelos mesmos objectivos que os filhos revelavam prosseguir ao furarem, concentrados no e)(terior, pneus a certos carros e cantarem o hino da MP. O jovem nazi Santos Carvalho, entrevistado no local pela RDP, revela a existência de um núcleo "nacional-socialista" no liceu Garcia da Orta. E no final há, claro, vivas ao nazismo. Na segunda-feira a "calma" volta ao liceu ... AS LiÇÕES DO TERROR "Decorre actualmente um inquérito" - confirma-nos um membro da Comissão de Gestão, a dr." M. do Rosário Vasconcelos. A cargo do dr. Justino Vasconcelos. E há um enviado do.MEIC ... Mas: quando estará concluído? Como reflectirá as pressões que já visam abafá-lo? Os estudantes com quem falámos não depositam demasiadas esperanças no rigor da averiguação dos factos e menos ainda no da punição. Mas exigem unanimemente que o inquérito seja levado até ao fim . ·Pedem justiça contra o pequeno punhado de nazis que dinamizam as actividades fascistas no seu liceu. Sofrendo ainda os resultados da última façanha, esses elementos estão "congelados" na sua cobertura centrista e vão-se resignando (enquanto dura o inquérito ... ) a uma temporária "inactividade terrorista" . E agora? É preciso que as lições dos últimos acontecimentos não sejam esquecidas. A unidade é possivel e necessária. Ela não significa porém apenas o (desejável e nem sempre fácil) entendimento e acção comum das forças de esquerda que actuam no liceu . Muitas centenas de estudantes do «António Nobre» têm repudiado sinceramente os incidentes verificados. Muitos (demasiados ainda) não compreenderam bem quem os causou e para quê. Pois bem . É preciso que compreendam! No «António Nobre» como noutros liceus o grande desafio que se coloca aos antifascistas é esclarecer Ei organizar, sem estreitezas nem sectarismos , os mais vastos sectores. Para construir a mais ampla unidade estudantil: a única saída capaz de barrar decisivamente o caminho ao fascismo nos liceus do nosso pais! Para a Estela, Zé Pedro, lIário, Helena e Paul/na; eatudantes do A .N~ aem ftl'-flo partidária (Bem os quais eetll reportagem njo teria sido poBBlv" neates exectos termoe) as Beudaçõea ce/oroBes e unitárias da L.G. O "'sclsmo njo pasBerãl 9 que congresso constitutivo da unep? Ao aprovar prazos irrealistas para a discussão e aprovação do regulamento do Congresso Constitutivo da UNEP (apresentação de propostas até ao passado dia 25 de Novembro, aprovação em ENDA a 19 de Dezembro) o ENDA comprometeu todo o processo de construção da UNEP. Esta decisão corresponde aos objectivos golpistas das direcções-UDP que lutam pela hegemonia numa UNEP à sua imagem e semelhança. A COMORG é hoje uma estrutura desprestigiada. Desprestigiada porque a grande maioria das direcções que a compõem ignoram a necessidade de informação e debate nas escolas em tomo da sua actividade. Desprestigiada porque as forças que a dominam , a paralisam com a sua actuação golpista e a sua cegueira política. É assim que a COMORG recusa uma proposta de Regulamento do Congresso Constitutivo da UNEP provindo da Direcção do Liceu Nacional do Barreiro só porque por motivos técnicos foi entregue fora do prazo, é assim que vota contra uma proposta da direcção do ISCSP que pretendia condicionar a aprovação em ENDA do Regulamento do Congresso à sua discussão prévia em RGAs, é assim que as direcções que se colavam à JS enquanto esta pretendia evitar tomadas de posição contra o MEIC, promovem . a limitação da representação de direcções de influência JS no seu executivo (o que aliás consiste numa lição para a própria JS) . A COMORG é uma estrutura desprestigiada, enfim porque se manteve desligada da luta estudantil em nada contribuindo para o seu desenvolvimento . A COMORG paga o juro de erros a seu tempo denunciados pelas direcções associativas mais consequentes que a integram. Hoje são os que tudo fizeram para bloquear o desenvolvimento da luta estudantil, através de posições conciliadoras com a política do Cardia (vidé cadernos UEC - «sobre a UNEP») que reivindicam os lucros da mobilização conseguida. Na COMORG propõem tomadas de posição públicas de apoio à luta julgando deste modo que ainda é possível apanhar um comboio que já estava em andamento ENDA de 19 Dezembro: os estudante~ não permitirão decisões nas suas costas f p-eguenas notícIas ~ ~ ~ ~~ ~ Eleições em Tomar Na Escola Industrial e Comercial ~ ~ de Tomar realizaram-se, no passado ~ ~ mês de Novembro, eleições para ~ ~ A.E. Duas listas candidatas : uma, ~ ~ umtária, outra afecta à UDP. Do ~ ~ confronto saiu vitoriosa por margem ~ ~ de cerca de uma centena de votos, ~ a lista unitária. ~ ~ ~ Lista A vence as eleições no ~ Liceu dos Anjos ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ Realizaram-se no passado dia 26 de Novembro as eleições para a Comissão de Gestão do Liceu dos AnJOS no respeitante ao sector estudantil. Tendo concorrido duas listas, a lista A que tinha por lema Unir os estudantes na resolução dos problemas da escola» sagrou-se vencedora à segunda volta tendo conseguido obter 56% do total dos sufrágios emitidos. ~ Secundário: repúdio I _ pe o ~ decreto de gestão ~ ~ . . ~ Na grande malOna das escolas do ~ ensino secundário do país, decorrem 'actualmente eleições para delegados regulamento que tenha em conta as condições concretas do ensino secundário onde o MA é hoje praticamente inexistente e onde as forças reaccionárias conseguem através de métodos golpistas impor, em muitos casos, a sua «ordem». As dificuldades são muitas. Em todo este processo não faltará decerto quem pretenda utilizar a questão UNEP como factor de divisão do movimento estudantil. A táctica golpista da UDP aponta nesse sentido. É por isso necessária uma grande vigilância. Acima de tudo há que defender a unidade dos estudantes, factor fundamental do desenvolvimento da luta a caminho da vitória. Combateremos, pois, quem queira introduzir factores de divisão. Combateremos quem queira concretizar a farsa de uma UNEP construída sem participação estudantil, alheada do movimento de massas contra a política de direita do MEIC de Cardia. quando a COMORG recusava condenar a política do ministro Cardia. O projecto de uma UNEP democrática construída pelas massas estudantis em luta pelos objectivos colectivamente defendidos depende inteiramente da preparação que for feita do Congresso, das normas que vierem a regulamentá-lo. Em primeiro lugar, há que fazer respeitar prazos que possibilitem uma discussão alargada dos 5 projectos de regulamento do Congresso apresentados, combater por todos os meios uma sua aprovação em ENDA que não tenha por detrás a força de RGAs. Em segundo lugar, há que lutar por um regulamento adaptado às condições concretas existentes. Isto é, um regulamento que tenha em .conta as alterações da correlação de forças existentes nas escolas - combatendo um demasiado peso à representação de direcções em detrimento de delegados expressamente eleitos para o efeito, um de turmas . Tais eleições, se comprovam uma vez mais a vitalidade de tais estruturas, têm , por outro lado traduzido o repúdio estudantl'1 pe1o d ecreto-lei da auto-intitulada «gestãodemocrática » das escolas do ensino secundário. Nesse s entido vão igualmente muitas e muitas moções que nas turmas e nas escolas têm sido aprovadas, exprimindo todas um concenso unânime: lutar pela defesa da gestão democrática nas escolas do ensino s e c u n d á r i o, lu t ar, defender e consolidar a democracia nos liceus e técmcas de todo o país. Actividades do Movimento Alfa. Começaram a tomar forma os objectivos a que o Movimento Alfa se propõe durante o tempo de aulas, tal como foram definidos no Encontro sobre Alfabetização realizado no passado mês de Outubro. Desta maneira, à medida que vão chegando à sede do Alfa as solicitações para a alfabetização directa ou para a formação de monitores, assim vão sendo des tacados os estudantes-alfabetlzadores para os locaiS e horários que melhor se adaptam à sua vida escolar. ~~~~~~" ~ . Dos trabalhadores da Llsnave, da Construções Joaquim Francisco dos S.an.tos, da J . Pimenta, dOS _hospitais CIVIS, dos varredores. 9a Camara de Lisboa, do sindicato dos electricistas, dos moradores dos Olivais, do Bairro Alto , do LaranJ'eiro , etc ... de numerosas comissões de moradores e trabalhadores, enfim , de todo o lado chega o mesmo apelo: UMA A J U D A M I L IT A NT E NO C O M B A T E A O ANALFABETISMO. Tais factos comprovam o prestígio e confiança depositados pelos trabalhadores e pela população em geral, no Movimento Alfa e traduzem o descrédito crescente que rodeia a política direitista do ministro Cardia. Continuar a responder a tais pedidos é pois, hoje, tarefa central a que os companheiros do Mov. Alfa meteram ombros. Mas não só. Também o reforço da capacidade técnica do Mov. Alfa avulta entre as suas perspectivas de trabalho . A_ssim se explica a partlclpaçao no I Encontro Nacional para a In vest igação ~ Ensino do Português, realizado na ultima semana de Outubro em Lisboa , e num colóquio sobre alfabetização promovido pela revista «O Professor ». Duas oportunidades que não resultaram apenas em si ml?les relatos desta o.u .daquela acçao, foram, na Opllllão dos responsáveis do Alfa, dois encontros de trabalho muito úteis para o enriquecimento técnico dos alfabetizadores do Alfa , para a clarificação de certos erros e pontos positivos da sua prática, para o traçar de novas perspectivas de acção. Outras iniciativas estão em preparação. Não directamente ligadas à alfabetização, mas viradas para formas de intervenção cultural complementares daquele trabalho e necessárias para o seu correcto enquadramento. É o caso de um curso de viola edaconstituiçãodeum grupo de teatro. Finalmente e no sentido de se iniciar rapidamente a publicação de um boletim men sal, virado para uma rápida e mais vasta divulgação das iniciativas e projectos do Mov Alfa, está em preparação um curso de jornalismo, a realizar provavelmente em Jane.iro. . . . Em smtese, pode-se pOiS afumar que o Alfa , longe de estagnar, dive~sifica e aprofunda a sua esfera de Intervenção, na senda da s poderosas iniciativas desenvolvidas durante o passado verão. ~~ l~ ;~ ~,~ :s; :~ , :S; ~ ~ ~~~ >SS ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~~~ 19l actualidade política 10 um nado-morto: o parto & outras histórias Um dos acontecimentos de certo relevo nas últimas semanas foi a realização do congresso dos GDUP's e a constituição do Movimento de Unidade Popular (MUP) . D a candidatura de Otelo ao congresso várias organizações participantes nesse projecto político, como a FSP, o PRP, o MSU, duma forma o u de outra foram-se afastando ; alguns GDUP ' s manifestaram-se contra a forma "antidemocrática" como o congresso terá sido preparado ; o próprio congresso não correu de maneira pacífica, tanto devido ao caso Luís Moita como pela saída abrupta de cerca de uma centena de delegados; após o congresso, muitos participantes considerados independentes manifestaram o seu pessimismo quanto ao futuro do MUP; o único jornal diário apoiante dos GDUP's, o "Página Um" sofre uma crise que culmina com a demissão de 22 trabalhadores. UM CONGRESSO "DE UNIDADE" - ENTRE QUEM? Todos estes factos empurram-nos a procurar ver um ponto mais longe, para além da constatação óbvia de que o Congresso se realizou já num processo de certa fragmentação (pelo menos no que diz respeito às forças políticas apoiantes dos GDUP's) e que em lugar de resultar num reforço da unidade dos seus militantes, antes se alarga a crise a outros sectores. Mas vamos então às questões que parece estarem na base de tal polémica. Por um lado, temos o problema da definição da linha política e estratégica do MUP , do seu carácter e objectivos. Enquanto o PRP apontava para que o MUP fosse um partido de massas com um programa e linha política próprios, o que implicaria a dissolução dos partidos apoiantes, a UDP impôs o seu ponto de vista dum MUP com " frente de massas na defesa dos problemas concretos do povo" (cabendo a definição da linha, naturalmente, ao PCP(R». N o que diz respeito às bases programáticas à concepção (PRP) dum confronto radical entre a burguesia e o proletariado a breve ou médio prazo para o qual o movimento de massas (constituído por 4 componentes : organizações populares, GDUP 's, militares revolucionários e partidos) se deveria preparar, sobrepôs-se a perspectiva da UDP. Este aponta como saída para a crise a " mobilização revolucion ária das massas em tomo de uma política e de um governo que se proponha solucio nar os principais problemas do povo trabalhador" . No capítulo de natureza e objectivos do MUP foram derrotadas mais uma vez as posições do PRP (que defendia o MUP como via para a construção do partido revolucionário) e da BASE-FUT (que pretendia que o MUP fosse uma organização política autónoma e não uma frente de massas dirigida por um partido) . Por último , nos estatutos , foi rejeit a d a a necessidade do pagamento de quota , e definido como activistas do MUP , " todos os que aceitem o programa e estatu tos" (não sendo, portanto, condição necessária a militância nem organismo) . Todas estas questões têm por detrás de si não só perspectivas diferentes quanto ao conteúdo e futuro do MUP como também o sempre presente problema de quem tem a direcção do movimento, isto é , a hegemonia partidári a. O que re ssa lt a de t odo este congresso é a combinação prév ia nos bastidores entre o MES e a UDP em praticamente todos os pontos (à excepção do s estatutos, 'onde se verifica uma ruptura) , o qu e determina à partida o resultado das votações. Este facto contraria a própria imagem que estas organizações procuram dar do MUP , como movimento unitário que abrangeria um campo muito mais vasto do que os partidos que o integram . Mais, segundo afirmam delegados considerados independentes, esta situação de arranjo de cúpula teria prejudicado a discussão prévia das teses nas bases, atrofiando o debate no próprio congresso. Aqui, para escamotear contradições e divergências reais , para evitar a discussão política sobre questões de fundo, tanto o MES como a UDP recorreram ao ataque sistemático e obviamente desnecessário ao PRP, derrotado à partida. A UDP, contando com uma maioria de delegados , teve um papel determinante na definição das grandes questões do congresso. Utilizando a habitual política de negociação prévia com o MES de forma a evitar rupturas precipitadas e um isolamento político prematuro , a UDP " empalmou ", por assim dizer , o congresso , nomeadamente no que diz respeito à comissão nacional eleita em que existem 24 elementos da UDP , 12 do MES e 14 independentes, o que vem a dar uma clara maioria à UD P com a soma de alguns ditos independentes seus simpatizantes. Ainda quanto a esta comissão nacional, a questão mais quente foi o caso Luís Moita, cabeça de lista e que prestou extensas declarações à PIDE em 1973 . Bem demonstrativo da firmeza de princípios e da integridade revolucionária que proclamam , deixamos sem comentários (porque coerente com a prática habitual da UDP nestas questões) um naco da " autocrítica" de Luís Moita : "Muitas vezes pedi perdão àqueles que por mim sofreram . Não vou fazer a análise do que é a tortura . Foi bom que o camarada tivesse falado e que não houvesse suspeitas sobre esta qu estão . Faço aqui a minha autocrítica revolucionária perante todos os camaradas presentes. Repito que não é a autocrítica dum bufo, dum traidor ; pode ser a de um homem fraco que procura ultrapassar os seus limites através da minha prática, da firmeza das minhas posições". QUE POLITICA? A constituição do MUP não resolve , de facto , as questões de fundo. Os objectivos políticos são difusos, a falta de clareza das bases programáticas manifesta. Para além de apontar o desenvolvimento da luta popular e do enunciar das medidas (sem distinguir as imediatas daquelas a tomar a médio prazo) que um governo deveria tomar, pouco mais resta. Como atingir esse governo, com que força s, na base da Assembleia da República ou não , se não qual a via, quais as condições políticas e militares - são questões que ficam por responder e põem necessariamente em causa a seriedade dessa política, limitando à partida a sua base de credibilidade e apoio. Daqui depreen de-se que o MUP vai prosseguir a política a que os diversos grupos esquerdistas nos habituaram - o fogacho, o reacender de actividade face a aco nt eci men to s de maior repercussão, a quebra e o apagamento face à dureza duma luta diária em que também se constrói, presentemente, o futuro da revolução. Este esbracejar nos períodos quentes pode arrastar na esteira do palavreado revolucionário gente menos avisada e que hon estamen te quer o socialismo. Numa situação de avanço da direita em que se mantêm posições sectárias e a nticomunistas, a incapacidade de condução de lutas concretas à vitória, a sua prática no dia-a-dia , a falta de perspectivas claras e realistas quanto ao futuro do processo revolucionário , são questões que desfazem ilusões e destroem pela base qualquer tentativa de construção duma alternativa - alternativa face ao PCP e não face à direita , o que é mais curioso e demonstrativo dos objectivos. CONCLUSÃO A dificuldade em construir uma co rrente esquerdista única não é de admirar, devido às pró pria s características da pequena burguesia radical , à sua natureza dispersa, em que se vê a luta do grupo e o combate pela hegemonia acima de tudo. De m o mento a fragmentação parece ser irreversível , face às manobras hegem ónicas da UDP em relação aos outros grupos. O s resultados do congresso con trariam gritantemen te a saudação de abertura da CNPUP: " Façamos este congresso não assumindo os interesse ~ de nenhum grup_o--particular, de nenhuma força particular, de nenhum partido em particular". Reduzido ao MES e à UDP e a alguns elementos ditos independentes que criticaram publicamente a forma como decorreu o congresso, mostrando-se pessimistas quanto ao futuro do MUP , é de prever, contudo que a situação intern a estacio ne até 12 de Dezembro, justamente devido aos tais motivos eleitoralistas que costumam afirmar combater tenazmente. Depois das eleições, e face ao domínio da UDP , à absorção por este de militantes do MES , é de esperar a reacção dos independentes e d a própria direcção do MES , sob pena de ver a sua organização tragada. Daí a inevitabilidade dum a desagregação, ou, pelo menos à redução do MUP na sua base de apoio político , ficando restrito à UDP pelo que se completaria o círculo e a história de mais um nado-morto do radicalismo pequeno-burguês. 11 No próximo dia 12 de Dezembro vamos votar para eleger os órgãos de poder local. Assim se completará o ciclo eleitoral iniciado com as eleições para a Assembleia Constituinte, a institucionalização do Estado democrático. A constituição da Frente Eleitoral POVO UNIDO correspondeu à necessidade, a nível local, de unir todos os cidadãos para a defesa dos seus interesses concretos, independentemente dos partidos em que votaram em anteriores eleições. Com efeito, no próximo dia 12 de Dezembro não vamos escolher um programa de política nacional, mas sim os homens e mulheres que vão, nos próximos três anos, estar à frente dos destinos das freguesias e dos concelhos do nosso País. Sabemos que, no passado, era o Ministro do Interior, o mesmo que dirigia a PIDE.'DGS, que nomeava os Presidentes das Câmaras. Para as Juntas, diziam os fascistas que havia «eleições» . Mas, com os cadernos de recenseamento viciados e a ausência de liberdades. Logo após o 25 de Abril, o movimento popular de massas impôs administrações democráticas em numerosos concelhos e freguesias do País. Os 30 meses passados não foram fáceis para as administrações democráticas. A herança de carências do fascismo era muito pesada. O peso da burocracia, a manutenção em vigor do Código Administrativo de Caetano, a insuficiência de meios financeiros, técnicos e humanos e o incompleto saneamento de fascistas em muitos locaís impediram que se fosse mais longe na satisfação das necessidades populares. .. Assim, por exemplo, a Câmara de Setúbal gasta 94% do seu orçamento ·· . ordinário em salários de pessoal, ficando os restantes 6% para lápis, esferográficas e pouco maís. Mesmo assim, a acção conjugada da participação e mobilização popular e das administrações democráticas permitiu resolver muitos problemas e satisfazer muitas carências. Assim, no concelho de O eiras a capacidade escolar aumentou 40% , a capacidade em creches e jardins de infância aumentou 88% , o número de parques infantis aumentou de 8 para 70; a plantação anual de árvores aumentou de 100 para 2000. O programa de habitação social está, neste momento, ao nível das 3500 habitações. Em Torres vedras fizeram-se cinco vezes mais obras de saneamento (esgotos e lavadouros) nestes dois anos do que nos 8 últimos anos antes do 25 de Abril. No concelho de Beja, em 25 de Abril de 1974, dos 14 concelhos só três tinham esgotos; hoje, pode-se dizer que, quando se realizarem as eleições, devem estar lançadas obras de esgotos para todas as freguesias do concelho, com todas as consequências que daí derivam em matéria de bem-estar e defesa da saúde das populações. Muitas obras, foram por vezes realizadas directamente pelas massas populares, com materiaís e apoio técnico fornecidos pelas administrações democráticas. Entretanto, foi aprovada a Constituição da República, que obriga o Governo a dotar os futuros órgãos de poder local com os meios técnicos, financeiros e administrativos necessários, nomeadamente conferindo-lhes o direito de participar nos impostos directos (isto é , os que incidem directamente sobre os rendimentos e não sobre os produtos finaís adquiridos no mercado) . Até hoje, nada se fez nesse sentido. O próprio Decreto-Lei n.o 701- A/7 6 não confere aos órgãos de poder local maís poderes do que aqueles de que dispunham anteriormente. É um aspecto a que é necessário estar atento para que se cumpra a Constituição e se possam progressivamente satisfazer as necessidades das populações. Outro aspecto é ainda de salientar: não há qualquer relação entre o número de eleitores e o número de eleitos para cada órgão. Assim, o concelho de Barcelos, com 55 mil eleitores, vai eleger 90 candidatos para a Assembleia Municipal, enquanto Lisboa com 673 mil eleitores vai · eleger apenas 60 candidatos; o distrito de Braga, com menos 38 mil eleitores do que Setúbal, vai eleger 3007 candidatos para as Assembleias de Freguesia, enquanto Setúbal elegerá apenas 557 candidatos, isto é 5 vezes menos. Como, por outro lado, 75 % das freguesias pertencem aos distritos do Norte e Beiras, é legítimo afirmar que todo o sistema eleitoral está organizado eleições para as autarquias: poder local deve ser do «povo unido»! para que se elejam muito maís candidatos no Norte do que no Sul. Os partidos da reacção, o CDS e o PPD/PSD, vão especular com os candidatos que conseguirem eleger. Mas com tal facto não conseguirão ocultar a derrota que vão sofrer, quanto ao número de votos obtidos à escala nacional. Às dificuldades que o sistema eleitoral apresenta, há ainda outro factor a acrescentar: a direcção do PS, esquecendo o carácter específico destas eleições (em que não está em causa a escolha de um projecto político nacional, mas antes a possibilidade de solução dos problemas concretos e das necessidades maís imediatas das populações) recusou as propostas de apresentação de listas unitárias que lhe foram apresentadas pelas forças democráticas , reafirmando a sua orientação de «não fazer alianças, nem á direita, nem à esquerda» . Este facto , em si, já seria grave, por dispersar forças e não contribuir para unir o povo na luta por uma vida melhor. Mas o maís grave aínda é que o PS, na zona da Reforma Agrária, não está sozinho. O CDS e o PPD que não apresentam listas à maioria dos órgãos dos distritos de Évora, Beja e Setúbal, conseguiram integrar frequentemente os seus homens nas listas do PS. Mas, também, nas umas, o povo do Alentejo defenderá firmemente a Reforma Agrária. Entretanto, a Frente Eleitoral Povo Unido, mantém os seus propósitos de unir o Povo para_ construir a vida melhor a que tem direito. Os homens e mulheres das suas listas são pessoas que, independentemente do partido em que votaram em anteriores eleições, se decidiram unir para lutar pelo progresso dos seus concelhos e freguesias. O facto de o «Povo Unido » ter apresentado listas em todos os concelhos do Norte e Beiras demonstra já que a orientação unitária adoptada pelas forças de m ocráticas corresponde às aspirações e sentimentos das massas populares. Não se pode aínda hoje avaliar bem o papeI que a apresentação das listas , a elaboração de programas com a participação popular poderá desempenhar na conquista para a revolução do campesinato do Norte e Beiras. Será, no entanto, certamente, decisivo. I Não existe dinheiro que permita satisfazer imediatamente todas as carências das freguesias e concelhos no que toca à habitação, à água canalizada, à electrificação, aos esgotos e lixos, às estradas e caminhos, aos serviços de saúde, às escolas, creches, jardins de infância, desporto, recreio, cultura, etc. Mas muito se fará se nos órgãos de poder local estiverem os homens e mulheres, os jovens do «Povo Unido» , capazes de aliar a administração criteriosa dos recursos existentes (lutando pelo seu aumento) à permanente participação popular na determinação de quaís os problemas que devem ser prioritariamente resolvidos, e na sua própria resolução. ...... ...... ..... JS: que política, que princípios ? . . Realizou-se em meados do passado mês o II Congresso da J .S .. Mais de 300 delegados reuniram-se para definir a linha política e eleger a Direcção de uma organização que possui uma relativa influência em certos meios estudantis democráticos, mas ainda com ilusões no reformismo . Daí a importância de se analisar o que no Congresso se passou e se decidiu. Antes, porém, importa situar e enquadrar um Congresso que: - Se realiza numa altura em que o Governo PS tem na sua lista de medidas, uma nítida orientação para a direita no que se refere à política laboral e de ensino ; - Se realiza no meio do ascenso da poderosa movimentação estudantil contra tal orientação arrastando consigo muitos jovens na orla de influência do PS e mesmo militantes que duma ou doutra forma têm assumido posições unitárias e progressistas. Por outro lado eram já de domínio público notícias e acções que denotavam a existência de várias " sensibilidades" como é agora uso chamar-se às correntes de opinião divergentes no PS que no plano da juventude atingiam uma relativa agudização materializada na tomada pública de decisões contraditórias e até mesmo contrárias, entre vários sectores da JS . Não seria portanto de prever um Congresso " pacífico" . A própria decisão de realizar os trabalhos à porta fechada o indicava a priori. UM CONGRESSO: DUAS CORRENTES o Congresso aprovou uma Plataforma Política ; votou inúmeras moções de orientação ; elegeu a Direcção Nacional da JS - só que o fez na esmagadora maioria dos casos profundamente dividida em dois blocos (não isentos de contradições internas a si próprios) . Por 60 votos de diferença fo i aprovada a Plataforma Política da anterior Direcção ; 30 votos separaram a aprovação da política laboral proposta pela mesma em relação a uma outra alternativa; 13 votos de diferença no campo da política do ensino que se baseia no integral apoio ao MEIC, em alternativa a outra proposta ; por fim , a lista de Arons de Carvalho e José Leitão bateu por 5 votos e 5 votos nulos ou brancos uma lista B encabeçada por um dirigente da AAC. Quer isto dizer que realmente sairam decisões do Congresso. Que essas decisões vão no sentido da política geral da direcção do PS. Mas quer dizer fundamentalmente que essas mesmas decisões contam com a discordância de quase metade dos delegados ao Congresso e decerto com a oposição da esmagadora maioria dos jovens estudantes que nas escolas apoiam a JS. Não há na JS a " linha boa" e a " linha má" . Mas uma evidência se toma clara: É que há decerto cada dia que passa mais e mais sectores na JS que de um ou doutro modo são e se tomam sensíveis ao poderoso movimerlto operário e popular orientado contra a política de recuperação capitalista que hoje se pretende estender ao campo da educação. UMA POLITICA SEM PRINCIPIOS A quem tenha lido as notícias que a Imprensa deu deste II Congresso não terão certamente passado desper~ebidas as rotações de 180 graus verificadas em matéria de ensino. Será que tais mudanças indicam uma transformação real da linha da direcção da JS ou pelo contrário, o reajustamento de uma política que se mantém no essencial inalterável quanto à sua natureza de classe? O melhor será dar a palavra aos próprios dirigentes da JS, Arons de Carvalho e José Leitão : " As AGEs (. ..), tiveram deste modo uma actividade decisiva na rotura com a Universidade tradicional, embora durante os dois últimos aaos e..; .... .... .... .... .... ....... .... ~ ...... .... ....... ~ fossem também um impot1lHJte contrapoder perante um aparelbo de Estado semidestruído ou em vias de ser reconstruído ao serviço de um projecto político como o "gonçalvismo" (. . .). Durante o período de confronto entre a legitimidade revolucionária e a legitimidade democrática (. ..), a pala v,.. de ordem "todo o poder às AGEs!" era a única conecta. Tratava-se de impedir um novo Estado autocrático e essa reivindicaçio era a táctica conecta naquele momento". (artigo em " O Jornal " de 12/ 11/76) o que Arons de Carvalho e José Leitão decerto pensaram, mas não disseram é que: - É também por esta razão que a seguir ao 25 de Abril defenderam a generalização das passagens administrativas e hoje as consideram como factor de caos. - É também por esta razão que defenderam que a avaliação de conhecimentos fosse da decisiva responsabilidade dos estudantes e hoje neguem como factor de caos. - É por esta razão que ontem condenavam virulentamente o " numerus c\ausus" e hoje o defendem energicamente. - É por esta razão que se não opuseram no passado à expulsão dos comunistas da Faculdade de Direito de Lisboa. - É por esta razão que " no passado a JS teve por vezes alianças em al~umas escolas com os estudantes afectos ao MRPP" ( ) , grupelho neo-nazi e às forças da direita reaccionária como o CDS, 'pPD e AOC. A lista poderia prosseguir numa espiral sem fim . Mas o que resta claro destes dois anos de actividade da direcção da JS no campo da educação é que a sua linha política não era ditada em função de um claro programa para a democratização do ensino, mas ao contrário, das necessidades do combate aos comunistas e aos revolucionários. Mas não só. Estes dois anos de actividade vêm trazer à luz do dia que para a direcção da JS não há princípios elementares de luta para a democratização do ensino , que a luta pela elevação da qualidade do ensino deve ser posta entre parêntesis caso não seja a "organização-mãe" a estar no Governo e que são lícitas as alianças sem princípios com inimigos desde que sirvam (na aparência) os interesses grupusculares realizados na base de um anticomunismo primário. Tal comportamento que assenta no aparecer perante as massas, com a mesma cara, a defenderem ontem medidas que hoje consideram como fonte de degradação; tal comportamento que assenta em aliarem-se ontem a forças que publicamente confessavam os seus reaccionários objectivos para hoje lhes recuperarem a argumentação do " caos no ensino " remetendo-o para responsabilidades alheias, só deixa duas possibilidades em aberto quanto à natureza de tal política: - Ou estão a atacar as posições que assumiram , de facto , em passado ainda recente , autocriticando-se, o que não parece provável a julgar pelas declarações e "lições" sobre táctica dos seus dirigen tes ; - Ou, pelo contrário, ao longo destes dois anos a natureza política. e de classe das posições dos dirigentes da JS é claramente burgue sa e caracterizada por uma linha de continuidade que assenta num oportunismo a que chamam "táctica", n uma política sem princípios. Inclinamo-nos para onde vai a js? infelizmente, neste sentido. E aqui se pode, neste campo específico de que temos vindo a falar , estabelecer uma primeira diferença entre política burguesa e política revolucionária para a educação : É que na etap, Democrática e Nacional da Revolução, independentemente das curvas que se processam , das fases que existam, há um programa, um conjunto de princípios que se mantêm inalteráveis no plano da luta de massas pela transformação revolucionária da escola. É por isso que, por exemplo, os comunistas lutaram ontem pela elevação da qualidade do ensino como lutam hoje, mesmo - e sobretudo - que o Governo seja do PS, mesmo que o ministro pratique uma política direitista ... UMA ORIENTAÇÃO DIREITISTA QUE SE MANTÉM As decisões do II Congresso resumem-se às seguintes palavras : Aos jovens socialistas compete também ser Governo e participar na aplicação destes programas, o que ,~xige um diálogo permanente com o Governo ... (Da plataforma aprovada no Congresso) Pelo que poderia transparecer desta declaração, esperar-se-ia que a JS não mais voltasse às posições que no passado ainda recente defendeu . E que daí deveria resultar um esforço de cooperação em torno de um objectivo comum com as restantes forças democráticas. Enfim, que a luta por um ensino novo, tivesse a um tempo, uma elevada qualidade científica e pedagógica, que formasse os estudantes e os preparasse para a defesa da democracia a caminho do Socialismo, preservando a democracia nas escolas e fosse uma luta unida, de massas e comum a todos os democratas. Só que agora e nesta perspectiva se levanta um segundo problema. A tese , saída do Congresso, da luta por " um ensino planificado" é aparentemente justa. Mas o que se coloca em cima da mesa, como na rua, é que tipo de "ensino planificado " se pretende e ao serviço de que projecto político de classe. Por outras palavras, tal " planificação" não nos diz literalmente nada porque se coloca como " chavão" e solução milagrosa sem conteúdo de classe. Pode haver - presentemente há - a tentativa de planificar o ensino, mas com vista a adaptá-lo ao projecto, às ten tativas, à política de recuperação capitalista que se tem estado a desenvolver na sociedade portuguesa, por via das exigências da direita a que o Governo e a direcção do PS cedem. Ora tal processo de " racionalização" e de " qualidade do ensino" não interessa à democracia portuguesa que só poderá ser defendida no caminho do socialismo . Esse projecto que tem como programa mínimo a reintrodução de uma certa ordem já conhecida a par da algumas " inovações" pedagógico-científicas no plano da " desmarxização" dos conteúdos do ensno , expressa-se fundamentalmente: - Pelo recente decreto de gestão ao colocar a direcção das escolas nas mãos do MEIC e dos professores catedráticos, com a reedição dos antigos Conselhos Escolares. - Pelo decreto sobre " degradação pedagógica" que põe em mãos exclusivas de catedráticos o poder de liquidar escolas e cursos inteiros. Pelo decreto das Comis s õe s ln ter- Universitárias de Catedráticos e sem representantes das escolas. o que agora levantamos dá por sua vez corpo a duas grandes questões: A primeira: é hoje possível democratizar o ensino contra as massas estudantis? A segunda: que dinâmica democrática de massas é capaz de levar por diante, inserida no movimento popular, a transformação da escola? O II Congresso respondeu a estas duas questões através da elaboração das seguintes respostas: - Apoiar a liquidação das AGEs (é curioso notar como a JS não se importa que estas existam desde que nada possam decidir, tal como qualquer meeting). - As RGAs não mais poderão demitir as direcções das AAEE. - A criação do "Parlamento das tendências", forma inteligente de desviar a discussão dos problemas das massas para os representantes das massas. Da imposição de uma dinâmica fundamentalmente eleitoralista e referendatária nas escolas. Três ordens de necessidades justificam tais - Pelo ataque à via única do ensino secundário . propostas: Esta teoria da " Planificação" que se baseia no - As sucessivas derrotas que as assembleias de escamotear da sua natureza de classe por um lado, massas têm votado à política que temos vindo e na afirmação da " elevada qualidade científica a analisar, pelo que se impõe que não possam decidir e pedagógica dos catedráticos, o que é francamente discutível em muitos casos, revela duas concepções sobre nada para não causar problemas ao Governo PS. antimarxistas: - Evitar que caiam as direcções associativas que, A primeira: que se deve dissociar na questão da como a de Direito de Lisboa (JS) ou Medicina do qualidade do ensino o aspecto científico do aspecto Porto (PPD) são cunhas da política ministerial no político. seio dos estudantes através de complexos A segunda : que por isso não há qualquer mecanismos eleitorialistas. problema em colocar tal poder em mãos de um corpo Numa perspectiva de médio prazo, eminentemente conservador e reaccionário em a introdução de mecanismos que burocratizam nome da " eficiência " (clara perspectiva o Movimento Associativo, o isolem das massas tecnocrática) . chamadas a participar uma vez por ano - tal como Ora bem: a direcção da JS defende esta política e tem apoiado incondicionalmente as medidas do dr . se verifica nos sindicatos amarelos por essa "Europa livre" fora ... Cardia. O que é grave para uma organização que se Que por sua vez nos permitem responder às duas diz e se reclama marxista. Ainda aqui subsistem duas questões acima colocadas. A maioria da direcção da opções possíveis: IS pensa solucionar e dar saída à sua "planificação" - Ou a direcção da JS ainda não estudou bem através do estrangulamento daquilo que foi, e é, o assunto e terá sido levada um pouco " na onda" a vida do próprio movimento estudantil; a dinâmica (não encontramos por exemplo qualquer referência decisiva das massas, a democracia directa, ao problema dos professores catedráticos em colocando-a em falsa oposição com a democracia nenhum recente documento da JS sobre as recentes medidas de Cardia) , sendo então necessário arrepiar representativa. Deste modo podemos agora estabelecer a terceira caminho e fazer jus ao nome de quem se reclama. - Ou a direcção da JS está, a exemplo da direcção grande diferença entre política burguesa e política revolucionária para a educação: é que os do PS , conscientemente a montar grandes revolucionários, mesmo que tenham, por vezes, de mistificações ideológicas que visam fazer passar gato remar contra a maré, depositam uma inabalável por lebre e enganar as pessoas que influencia no sentido de obter alguma base de apoio para uma confiança nas massas, porque delas são o destacamento mais consciente e activo. política profundamente direitista. E agora se deve-se estabelecer a segunda E consideram que não há democratização possível do ensino sem as massas. Mais, que a própria batalha diferença essencial entre a política burguesa e política revolucionária para a educação : É que os popular pela democratização é uma batalha de revolucionários defendendo um ensino planificado, massas só possível se assentar em formas dinâmicas um ensino de qualidade, entendem que na actual de participação estudantil. Até porque a alternativa contrária, na actual etapa etapa da Revolução este tem sempre uma marca de c/asse que se não pode escamotear; e que lutam por Democrática e Nacional de Revolução , é a cedência um ensino de qualidade que forme jovens às exigências da direita, no sentido de " planificar", tecnicamente aptos e politicamente conscientes, abatendo a resistência, ou seja, reprimindo. Não há terceira via possível por muito que alguém a possa dispostos e participarem com o seu trabalho na consolidação das conquistas revolucionárias do povo desejar. trabalhador. E daí resulta que essa nova escola não pode, não deve contemporizar com argumentos OPTAR PELA VIA tecnocráticos que em última análise visam repor e controlo ideológico da burguesia reaccionária DA UNIDADE DEMOCRÁTICA sobre as escolas. Criticámos ao longo deste artigo algumas das principais teses saídas do II Congresso . Não DEMOCRATIZAR: o fizemos por quaisquer concepções sectárias em COM OU CONTRA AS MASSAS? relação a uma organização que consideramos antifascista e democrática. Mantivemos ao longo A política do MEIC tem encontrado uma destes dois anos, que a unidade entre os democratas poderosa resistência das massas estudantis. Ouem , constitui uma necessidade vital para no seu seio, tem defendido tal política, tem-se o prosseguimento e a defesa da Revolução iniciada simultaneamente isolado de forma tão evidente que em 25 de Abril. Mantemo-lo, mais do que nunca, se contam pelos dedos das mãos os votos nesse hoje. sentido. E assiste-se a uma situação em que o MEIC Pensamos que a par das conclusões negativas que legisla, só que não consegue aplicar a sua legislação . sairam do Congresso, que o dividiram Daí que seja lícito perguntarmos: Com quem profundamente em dois blocos, há ao mesmo tempo e contra quem quer a actual magra maioria da disposições positivas que realçam de per si, que direcção da IS governar? É que o ministro já socialistas e comunistas se podem , se devem respondeu - quer fazê-lo com " medidas eficazes" ente nder naquilo que os une para além das e contra a população escolar.. . divergências que existam . para onde vai ajs? Essa unidade , convergência de esforços comuns, . . tem sido nas escolas uma realidade que tende a desenvolver-se. Mesmo no campo do ensino, em . . que há profundas diferenças de opinião como temos vindo a verificar, essa convergência tem sido em • mUitos aspectos e em vários locais uma realidade. Até porque a maioria dos estudantes socialistas não tem ' apoiado a linha política que ao longo destas . . páginas temos criticado. Mesmo no plano das direcções de AAEE, apenas uma tem seguido este . . caminho para a direita, suicida a médio prazo para . eles próprios - é a direcção da Faculdade de Direito • de Lisboa. É nossa opinião que se reunem hoje, pela conjunção de factores favoráveis , condições. propícias ao alargar de uma cooperação democrática e antifascista entre os jovens das duas organizações . • A crítica que fizemos a concepções que existem no seio da Juventude Socialista, longe de pretender. dificultar o diálogo necessário obedece a duas ordens de razões. • A primeira : de que o debate entre forças democráticas deve ser aberto, de que a união é um • combate em que as massas têm uma palavra a dizer, que a união da esquerda não pressupõe o abandono de posições de princípio, mas tem pelo contrário dois traços simultâneos: dar mais força ao que nos une ; manter vivo o debate sobre o que'" eventualmente nos separe, orientando-o num sen tido .positivo. ... A segunda: que mesmo em relação a quem tenha as concepções que agora criticamos não há uma . . " munilha da china" impossível de transpor. E, se bem que seja importante uma crítica de classe, é necessário afirmarmos que mesmo com essa magra . . maioria da direcção da JS há pontos comuns em que a unidade de acção é possível. Estamos dispostos. a lutar por ela. A palavra cabe agora a esses dirigentes . Sabendo que a manterem-se em posições. irredutivelmente anticomunistas, mais não fazem do que abrir a porta àqueles que combatendo principalmente os comunistas , os combatem ... também a eles ... e.: ANEXO: Decisões hmdlJmentais do II Congresso . d. JS em m.téri. de polític. de ensino -.: e estudlllltil * Rumo. um. PLANIFICAÇÃO do ensino: • 1. Prioridade ao ensino pré-primário e primário. 2. Qefesa do prosseguimento "em bases sólidas" • do processo de unificação do ensino secundário. 3. Desenvolvimento do Ensino Médio. • 4. "Regular o acesso à Universidade" através: 4.1. - Da defesa do "Numerus Clausus"'generalizado 4.2. - Do fim do actual SCE e por uma . . "prestação de serviços dos jovens à comunidade". 4.3. - Da defesa do "l1li0 vestibular". ... ... 5. "Reformar o Ensino Superior". * Quanto.o hmcionammto das escolas 1. Avaliação de conhecimentos: ... Defesa ''por princípio da avaliação contínua de conbecimmtos, mas como meta a atingir enio . . . como medida de .plicario imedi.t.... 2. Defesa do Decreto de Gestão de Cardia. ... 3. Defesa dos Decretos sobre "Degradação pedagógica" ... * Quanto.o Mo"immto Associ.ti"o 1. Abertura de " um amplo debate sobre'" a organização do MA e os Estatutos" das _ AAEE a ser referendado. ..... 2. Propostas de "alterações orgânicas": 2.1. As RGAs deixam de poder pôr em causa a concretização do programa aprovado. 2.2. As RGAs deixam de poder destituir as Direcções das AAEE, ficando tal a carga de um referendo 2.3. Criação do "Conselho de Tendências" eleito de Hondt. 3. " Por uma maior representatividade estruturas federativas" (1). .. _ ...... _ ".. das . . . 15 assembleia da república: o ensino superior em discussão ~:\~"\~ 'i: .~ W .' -..,;". ~.- \ ;, . . . ~ \ .\ --, . ; ' ,~" l:·:< /.,1 . / ' : , ~~. , t' _ • ._ _ _ __ _ ; - -- - . \_ 1 .1 ti ~~_ .._ .__._ ----- -~~ -r"'~I!I'J] « ••• o repúdio do decreto antidemocrático de gestão e as propostas concretas para a sua alteração - os PONTOS MINIMOS aprovados nos plenários do Porto, Coimbra e Lisboa - repercutiram lortemente no bemiciclo de S. Bento, pela voz do grupo parlamentar comunista. Fazendo baixar o decreto à ratificação da Assembleia; atacando frontalmente tanto os objectivos gerais do decreto como a maioria dos seus projectos na especialidade; votando contra ele quando os grupos parlamentares do PS, PPD/PSD e CDS o fizeram apressadamente votar; lutando actualmente na Comissão de Ensino da AR pela introdução das modificações conformes com a vontade expressa da Universidade Portuguesa - loi o PCP que pôs ao serviço das reiYindicações da Uniyersidade a lorça política do seu grupo parlamentar. ( •••) Os partidos da direita reaccionária- o CDS E O PPD - ao serem lorçados a aceitar a proposta de discussão do decreto na especialidade (depois de o terem aprovado na generalidade) mostram que não quiseram e não puderam aparecer com a habitual lace de delensores incondicionais e calorosos da política de Cardia. Este comportamento parlamentar do CDS e do PPD tem de considerar-se uma consequência da enorme lorça e pressão exercidas pelo extraordinário morimento de massas que se desenyolye na Uniyersidade e traduz uma tentativa por parte destes partidos reaccionários de não se Ibe oporem claramente, pensando até naturalmente em tirar dividendos eleitorais num futuro próximo. O facto de após o debate parlamentar a perspectiva de alterações no decreto de gestão poder vir a ser concretizada, se bem que não de uma forma completa em relação às reivindicações estudantis, é uma ritória parcial mas importante do moyimento de massas que se desenyolveu nas escolas das três Uniyersidades.>J A COMISSÃO CENTRAL DA UNIÃO DOS ESTUDANTES COMUNISTAS 16 afirmações. Mas não! A 1. 8 é do PS, a 2. 8 e 3.8 do PPD, as restantes de Sottomayor Cardia. E o pior é que isto constitui uma reduzidíssima amostra do que se disse. A tudo isto os comunistas contrapuseram a verdadeira situação do ensino: «( •••) A q. .Udade do eII"'o e • co.. petêada dos doce.tes .io er." com certeza caraderístlca lellenJbada d. UalnnhllHle ..te. do 25 de Abril. ( •••) À Ualnnidade laadIta, leclt.d. aol valorel d. inovação, da Iiberd.de crítica, à U.I""nldade dos .... d.rln.tos c.tedr'ticol, Incede • • • • U.hersld.de q.e proc.ro • • co.p •• har • Revolaçio." Deste modo: 1. SERÁ QUE O «25 DE ABRIL A I N DAN à O C H E G O U ÀS ESCOLAS?» Para além da conclusão acima apontada, interessa contudo dar uma imagem da estrutura do debate travado e de quais as concepções, análises e soluções que os vários partidos apontam para o Ensino Superior. Porque o que de facto se travou não foi um combate exclusivo sobre os decretos em causa - com excepção do PCP, nenhum dos outros grupos parlamentares, tentou entrar nesse campo da discussão por evidente falta de argumentos, em particular o próprio ministro - mas sobre o En!iÜlo Saperior DO sen conjoto. Porque se tornaram nítidos dois tipos de «radiografias» , análises e perspectivas sobre o ensino universitário. E é este o aspecto que importa de facto sublinhar. Os dados, para quem os queira, estão à vista: - Não houve da parte do ministro, do PS, PPD ou CDS uma única palavra acerca de passos positivos dados após o 25 de Abril na Universidade! - Quanto à análise da situação, à radiografia do sistema, três grandes ordens de considerações se focavam da parte destes partidos: O terrível <dirigismo intelectual> havido durante os anteriores governos provisórios. O danado clima de supren$ irresponsabilidade e <ostracismo» existente nas escolas superiores. A existência de uma Universidade degradada e desqualificada no seu conjunto . Qualquer desprevenido leitor das actas da Assembleia da República (caso os oradores não tivessem a indicação à frente do partido a que pertencem), ficaria com a perigosa ilusão de que na Assembleia havia dois partidos e um rapaz que dava uma no cravo e outra na ferradura , sabe-se lá porque razão ... Exemplificando: a que partidos pertencem as seguintes afirmações que de comum têm, para além do conteúdo, a capacidade de se não basearem em nada, a não ser num «estado de espírito» há muito formado : «o aparedmellto de.m espírito ainda mais reacdoDúio do qae aqaele qae tí.....os utes do 25 de Abril», o «ostradsmo domina.te de estadaates, f •• cionários ou professores», a "UDivenidade Ill1111demellte depadada» e em particular uma fastidiosa e literária lista de opções nomeadamente «o País qaer on aão qaer a uarqaia aM escolas?», «o País qaer o. aão qner uma Uaivenidade como a qae qnerem os depntados do PCP?», «o País qaer ou .ão qaer que o Governo fiqae em pa.in"os quentes?». Pareceria que poderiam pertencer ao CDS tal conjunto de "Co..o condellar le~ qaallfkações o q.e se lez desde o 25 de Abril n. rellovação dos docelltes das naivenidades? Co.o esqaecer qae 01 prolessores .1.lt.dol o lora III , e .. ler. I, por directo co.pro.etl.e.to com o r"li-e lueUta, por empealt"ellto n. represaio .cad~.k. e estadantil, por ln"" ladlpidade IIIjonl, o. por iDaceitbei inc.pacidade datílka e ~óPc.? «Co.o esqIIecer qae • par desses a1.....atos lor.. Intelr.do. o. rel.t"lndo. dezellas de delltistaa e latelectaals portapeses. (_.) «Do .e'ali0 .odo , co.o conde •• r, selll . q •• llllc.çio, o q.e .e lez DO do.f.lo de tr •• dor ••çõel dOI pl •• ol de e"'do? Co..o esq.ecer qae .alto. dOi plaaOl de esta.o v.ates e.. 25 de Abril estav. . IIItrap. . . .OI, qae ..altOI .aIs velc.I ....... ~. concepçio retr6Ir.d. o. pedestre. ate lascIsta? C_o esqaecer qae OI.OVOl plaaOl de e....o latrodaziraal no.. OI do..faiol do saher, .I.rl.r... e dlvenHk.... o leqae de dlaciplinaa, desludRizaraal cOBteidos de a"'o? «Nio é cen..ate Iponado os erros cOllletidos, as iD..lidê.das aio compàa, o opo~o qae por vezes le verifica, qae .e cOBtribal pan • defesa das COBqaiatas alc_ça'" .este do.fmo desde o 25 de AbrIL M .. aio é, .lIIto .eaos, páo tleII.,.rimeato sl6Ie...tko, pelo 1J.,._tl..,..o feaérit:o, ,,-e se t:orrife o qae ,,-e t:onlflr.» II. E agora uma pequena nota: há sempre quem teime em injuriar e caluniar, em aplicar uma política dúbia, de divisão. Estão neste caso afirmações do deputado da UDP que, embora condenando os decretos não deixou de ir referindo que «Cardia diz algumas verdades», nomeadamente no respeitante ao «Partido cunhalista» e aos anteriores ministérios «ao serviço de interesses estranhos ao nosso Povo»... Qó que «golpes não se combatem com golpes» . Compare-se este pedaço de prosa com outro do MRPP em que afirma «que o Decreto de Gestão do Ensino Superior, tentando pôr fim ao controlo da UEC \PCP nas escolas, é ( .. .) um ataque à democracia» e tirem-se conclusões ... Sobre o Decreto de Gestão e a propósito de democracia: O MiDistro: «A sr. 8 deputada (Zita Seabra) tinha conhecimento de que, aliás, pela razão que aliás evocou, o Governo deveria aprovar até 15 de Outubro, isto é , que estaria em preparação - presume-se que no MEIC - um diploma legal relativo a esta matéria. A sr.8 deputada acusou o Governo de não ter procedido à audição dos interessados, mas eu não estou de acordo consigo. Houve audição na medida em que, porque quem quis dirigir-se, pelos meios que entendeu, ao Ministério da Educação para lhe apresentar propostas e sugestões construtivas ou críticas, no sentido de habilitar o Governo a formular um texto que melhor correspondesse às necessidades do Ensino Superior.» Zita Seabra: "Sr. ministro : em relação à primeira pergunta, faço-lhe uma sugestão no sentido de que faça - e parece que se inclina para aí - o mesmo que fez Veiga Simão. A forma de dialogar de Veiga Simão foi , se bem se lembra, logo que tomou posse, estabelecer uma caixa de correio no Ministério, no qual as pessoas podiam pôr as suas cartas com as respectivas propostas. Dá-me a ideia de que o sr. ministro se inclina para uma sugestão semelhante. Efectivamente para evitar um processo que seria negativo - e que se refere ao facto de os estudantes e as estruturas das escolas como os Conselhos de Gestão, Associações de Estudantes, os professores, etc., se dirigirem ao Ministério e não saberem onde é que podiam fazer as suas propostas - ponha lá a caixa de correio, que já Veiga Simão pôs.» Sobre ·o mesmo assunto, agora incidindo nos Conselhos Científicos: O sr. Costa Andrade (PSD): «( ... ) Não acha que agora são diferentes as condições, tendo como temos um Governo democrático; tendo como temos liberdade de expressão, onde é possível denunciar todos os vícios. ( ... ) «Não acha que é manifestamente desmedido o receio contra o espantalho do excesso de poder que se concentra sobre o Conselho Científico, se atendermos em primeiro lugar que o carácter do seu poder se resume a fazer propostas que terão naturalmente de ser decididas por um Governo legitima~o democraticamente?» Zita Seabra: «Sr. deputado: começo por lhe pôr uma questão, na lógica da sua pergunta faço-lhe outra: para que serve então a gestão democrática? Se temos todas essas garantias, todas essas confianças, porque é que o Governo não volta a nomear um director, ' que até pode ser um catedrático, e ele resolve os problemas?!» 2. 3. AFINAL, PARA Qut A GESTÃO DEMOCRÁTICA? RUMO AO «ESTADO DE NECESSIDADE» & DE «smo» Mas, aparte os longos discursos, os decretos também se discutiram. Foram postas a claro duas ideias centrais: Um certo conceito de democracia e gestão democrática. O desconhecimento profundo dos decretos a começar pelo seu «autOf» , o próprio MINISTRO! Atente-se nestes pedaços do debate sobre as Comissões de Reestruturação: O Ministro: «Eu pergunto a V. Ex. 8 por que motivo é que as associações de estudantes hão-de ter uma intervenção nas Comissões de reestruturação?» Mannel Gusmão: «Quanto a nós reivindicarmos a participação da Associação de Estudantes, eu creio que a maneira como o sr. ministro formulou a pergunta acabou por responder. O sr. ministro disse que a Associação de Estudantes propôs uma lista. Se a Associação de Estudantes tem o grau de responsabilidade possível para propor uma lista não ve jo porque é que não poderá participar na reestruturação.» Entretanto os debates, vieram trazer à luz perigosas tendências que se começam insistentemente a apontar para «solucionar o caos». Esse um importante aspecto a que a recente aprovação genérica dos três decretos pela A .R. vem dar mais força como aliás o dr. Cardia não deixou de se referir e «congratular» . O «largo consenso maioritário» colocou o Governo numa situação de «im perativamente mandatado para seguir uma política» . Deste modo o dr. Cardia declarou solenemente que : «O medo acabou na Universidade». «Será desmantelado o sistema de terror ainda vil!e.te». "Pôr-se-á tenao ao diripsmo iatelecta"» para «ressalvar na Escola portupesa o phualislllo ideol6p:o». Para que este novo «25 de Abril chegue às escolas» acabaram -se os «paninhos quentes » (porventura dos «totalitários» ministérios anteriores .. .) e prometem-se «medidas eficazes" ... Onde não teremos nós já ouvido tal tipo de ameaças?! 17 A luta pela gestão democrática continua! No passado dia 5 de Dezembro realizou-se uma reunião plenária da Comissão Central da UEC. Na ordem de trabalhos a análise da situação política e do trabalho para as autarquias, o Congresso da UEC e a análise da situação actual do movimento estudantil, tanto no tocante ao Ensino Secundário, como sobretudo no que diz respeito ao Ensino Superior. O trabalho associativo a nível federativo e nacional foi igualmente objecto da atenção da reunião da Comissão Central. A CC debateu ainda de forma aprofundada as restantes questões constantes da ordem do dia da sua reunião, tendo ainda aprovado um apelo aos estudantes para uma votação massiva nas listas da FEPU. Realizada num espírito de grande combatividade, a reunião da Comissão Central procedeu a um completo balanço da luta da universidade em tomo do decreto da gestão, traçando simultaneamente as perspectivas de acção no sentido do prosseguimento da luta em defesa de tão importante conquista das escolas. Tais conclusões constam de um comunicado da CC, de que transcrevemos em seguida um extracto. REFORÇAR A UNIDADE DAS MASSAS, MANTER OS OBJECTIVOS ESSENCIAIS DA LUTA PELA GESTÃO DEMOCRÁTICA Entretanto, para que esta perspectiva possa tornar-se realidade é essencial definir rapidamente para a continuidade da luta pela gestão democrática uma Justa orientação, que responda à nova situação criada. Toda a Universidade Portuguesa e o seu movimento de massas compreenderão que a luta entra agora num novo ciclo caracterizado, por um lado, pela demissão dos CCOO da maioria das Faculdades e pela nomeação em sua substituição de Conselhos Directivos Provisórios e, por outro lado, pelo fim do debate na AR e a aproximação do momento da votação do diploma com aHerações, por ora pouco significativas. Para prosseguir com êxito a luta pela gestão democrática, além da firmeza na defesa dos objectivos Imediatos fundamentais - os PONTOS MINIMOS aprovados nos plenários elas três Academias - é essencial manter a multo larga e dln~mlca unidade das massas estudantis e destas com os professores e outros trabalhadores da Universidade. Para prosseguir com êxHo a luta pela gestão democrática é necessário manter sempre presente que a gestão democrática é Inseparável e ao mesmo tempo garante do funcionamento normal e qualificado das escolas. Isto Impõe a recusa e o combate firme a acções «legais» que visem paralisar e encerrar faculdades (como os decretos da «degradação pedagógica» e das «comissões clentfflcas inter-unlversltárlas») e exige ainda a recusa e o combate por parte das massas estudantis a atitudes provocatórias, de direita ou com selo esquerdista, que procurem conduzir a grande mobilização existente a becos sem salda, como sejam a utilização de formas de luta que passem por sistemáticas, sucessivas e Indeterminadas paralisações e greves ou por quaisquer tentações e Ilusões autogestlonárlas por parte das escolas. Para prosseguir com êxito a luta pela gestão democrática é essencial que, embora mantendo contactos e formas de coordenação a nível nacional e de Academia, se reforce rapidamente a organização associativa em cada escola e ao nível dos cursos. Para prosseguir com êxito a luta pela gestão democrática é essencial manter o carácter amplo democrático e masslvo das decisões capitais para a defesa da gestão democrática. No Imediato, há que realizar o maior número posslvel de Assembleias Gerais de Escola que definam os caminhos para enfrentar a nova situação criada pelo despacho reaccionário e antidemocrático do MEIC nomeando Conselhos Directivos Provisórios não eleitos e sem participação estudantil para substituir os CCOO que se demitiram na sequência do IV ENCCDD e AAEE. Com o erro demlsslonlsta cometido por estes CC DO no IV Encontro, o movimento de massas paga através deste despacho reaccionário um preço elevado. Com uma justa orientação, mantendo-se unidos e organizados, os estudantes professores e trabalhadores das universidades portuguesas vencerão a batalha da gestão democrática. Os estudantes comunistas continuarão na primeira fila deste combate. Pela defesa da gestão democrática! Pela aplicação dos PONTOS MINIMOS! Unidade das massas estudantis e destas com os professores e trabalhadores da Universidade! 5 de Dezembro de 1976 A Comissão Central da União dos Estudantes Comunistas Há 12 anos, os sedores mi6tares brasileiros mais reaccionários liderados pelo nuu:ecbaI C .... elo Branco, em cump6cidade c6recta com o imperialismo americano, perpetravam um criminoso golpe de Estado que derrubou o governo presicldo po< Joio Goal. .. Uma .... mais bestiais c6taduras fascistas abateu-se então sobre o povo brasileiro. Ao longo de todo este tempo somam milhares os filbos deste povo que foram assassinados, que " desapar«eram" ou sofreram os vexames mais desapiedados nas ma.morras da c6tadura. Ao mesmo tempo, a fome, a miséria, o desemprego, as doenças e o analfabetismo abatem-se sobre as massas populares. Se o Brasil é boje em dia um dos exemplos mais acabados do modelo de desenvolvimento de país dependente, as razões que decic6ram o golpe de Estado de 1 de Abril de 1964, correspondiam, evidentemente, a uma estratégia específka do imperialismo Dorte-ameriClmo, com ale. .ce mais vasto em drecção ao conjunto da América do Sul. Com efeito, o golpe é desencadeado numa altura em que a Revolução Cubana mostra outros caminbos para a 6bertação nacional em que as agressões directas do imperialismo yllDkee fracassam e se inicia o cerco a Cuba, ao mesmo tempo que a Aliança para o Progresso _ r a a sua inoperâbcia. O golpe fascista de 64 é pois um golpe de Estado que ao mesmo tempo que procura deter o desenvolvimento do governo reformista de João Goalart visa mais longe. O seu grande objectivo é fazer com que o imperialismo possa contar com um aliado incondicional, um gendarme que actue contra as forças revolucionárias ou progressistas da área. Porque é escolhido o Brasil? Porque o Brasil é um país que tem fronteiras com quase todos os Estados sul-americanos, dispondo de enormes reservas minerais, muitas delas estratégicas, potendal hidroeléctrico, ecOOOllllCO, industrial e agrícola, mão-de-obra barata e desníveis astronómicos entre as diferentes zonas em que o país se divide: o sul industrializado e próspero, o nordeste depauperado e faminto; uma poderosa oijgarquia j á 6gada aos monopólios e todo um "onjunto de fadores que ao imperialismo serviram. A partir daqui os imperialistas trat.aram de erigir a ditadura brasilei~a em modelo de desenvolvimento para os demais países do continente, inventando o famoso "milagre económico brasileiro". Com este fim propagandearam-se altos índices de crescimen1t» industrial, de iIKremeoto na capacidade de exportação e de expansão da indústria. A verdade é, no entanto, outra: se bem que um grande fluxo de investimentos estrangeiros tivesse feito crescer a produção industrial em 16% em 1973, são por demais conbecidas as consequências de tal política: o roubo e a exploração mais desenfreada, à base dos baixos salários, dos trabalbadores brasileiros, e um1l total dependência económica do imperialismo. Alguns dados b ....am para desmistificar a falácia de tal "milagre" • No 6nal do ano de 1974 eram propriedade do capital estrangeiro, princ:ipalmente norte-americlmo, 70,2% da indústria, 58 0/0 do comércio, 67,8% dos transportes, 62% .... COlDlllÚCaçÕes, e 90% .... empresas de publicidade. A dívida externa ascendeu no final de 1973 a mais de 13 mil milhões de dólares, atiopndo em 1975 cerca de 22 mil milbões de dólares. A taxa de _rtaliclade infantil em 1973 foi de 105 mil em todo o país, e cerca de 200 mil no nordeste e outras regiões. Isto é , por cada 100 pessoas falecidas, 47 eram crianças menores de 4 anos. Dezenas de milbar de brasileiros pade<:em de tuberculose, doenças p ...asitárias, meningites, gastroenterites e muitas outras doenças clII'áveis. A educ:ação apresenta problemas similares. O Brasil conta com 30 milhões-de analfabetos e em "ada mil "rianças em idade esc:ollll, apenas menos de metade vai à esc:ola, abandonando a grande maioria delas os estudos por necessidades imperiosas. As dificuldades e a discriminação económic:a prosseguem na Universidade. Toda esta situação não deixa obviamente indiferentes os estudantes. O ano de 1916 foi um ano muito importante na bistória do movimento estudantil. Apoiando-se nomeadamente na bistória do movimento estudantil. Apoiando-se nomeadamente na luta "ontra as propinas ~e ins<:rição, por mais créditos para as escolas, os estudantes desenvolveram uma vasta cam..... ba pelas 6berdades democ:râticas contra a intervenção ylIDkee no ensino, contra a política da ditadura no terreno do ensino e contra o governo f"""ista e antinacional. Milhares de estudantes participaram nas manifestações. Estas rnovimmtações inserem-oe na Iut. lIIIIÍs geral que o povo brasileiro tem mantido ao longo destes últimos anos contra o regime fascista de Ernesto Geisel. L_do po< melhores salários e conclições de trabalbo, a classe operária aumenta as suas manifestações e greves, os camponeses av..,çam na sua organização; os intelectuais ~utam pelo fim da censura; sectores da igreja manifestam cada vez com mais firmeza a sua oposição às arbitrariedades do regime. Toda esta torrente de lutas populares tem feito recuar o Governo e acentua a crise em que se debate. As últimas " eleições" municipais demonstraram a força e a vitalidade do movimento de oposição. A lua c....destina continua, apesar dos rudes golpes que o Partido Comunista Brasileiro tem sofrido. É nele que os fascistas conc:entram a sua sanha, no sentido da eliminação física dos seus quadros c6rigentes. Nove Membros do C.C., que nos dois últimos anos Unham sido sequestrados foram presumivelmente assassinados. As di6c:uldades a levar de vencida são ainda grandes, mas o povo brasileiro saberá denotar o f~ismo que ensanguenta 8 sua pátria. 19 Quando se fala de Espanha há sempre a tentação fácil de a comparar com Portugal e regra geral apontar as semelhanças que existem entre os dois países. E, apesar de terem de facto existido, essas semelhanças foram-se diluindo cada vez mais à medida que factores diversos, com destaque para o problema colonial, iam pesando nos destinos de cada um dos dois países. A queda do fascismo em Portugal - concretamente, a forma como se deu - e o processo lento mas inexorável da queda do fascismo em Espanha marcam de uma maneira clara as diferenças existentes desde há muito. A situação política em Espanha é, hoje, marcada no fundamental por uma grande incerteza, incerteza essa resultante de o movimento popular, apesar do seu crescendo enorme desde há um ano, ainda não ter força para impor uma situação democrática em toda a sua plenitude. ,.,., «Mundo Obrero» (1) que a repressão se exerce com maior vigor. E é pois à volta da questão da legalização do Partido Comunista e de outros agrupamentos políticos de esquerda , das nacionalidades e regiões, que a oposição tende a dividir-se. Para Garcia Trevijano, líder do «Grupo de Demócratas Independientes», formação política integrante da Coordenação Democrática (organismo unitário da oposição espanhola), a legalização do PCE e outros agrupamentos políticos é um caso a ver «a posteriori» e não é uma necessidade absoluta para a existência de um regime democrático. Os sectores «moderados» da oposição conseguiram fazer desaparecer dos objectivos centrais da oposição a exigência da constituição de um Governo ' Provisório, amplamente representativo, como ponto de partida para um real processo de democratização. ,.,., manana espana onde começa e acaba a oposição ... o semanário basco «Berriok», ao fazer o balanço de «um ano de sem-franquismo» , caracterizava-o como sendo «de confusão e arbitrariedade» e argumentava: «manifestações convocadas por partidos que pedem a amnistia e liberdade, etc, são autorizadas nuns sítios e noutros lugares são proíbidas, com resultados lamentáveis; autorizam-se conferências e reuniões a uns, e a outros negam-se-lhes e são multados; detêm-se membros de grupos políticos de esquerda, e outros, também da oposição, ficam indemnes; enquanto algumas actividades políticas são permitidas na Catalunha, no País Basco são severamente reprimidas ... O mesmo sucede com o sequestro de diários e revistas : uns aparecem sem dificuldades; outros de cariz e intencionalidade políticos semelhantes, são sequestrados conforme o lugar onde se publiquem». Dir-se-ia que o Governo de Suarez, apesar dos seus «propósitos reformistas» , está ainda hesitante no caminho a seguir. No entanto, a verdade é bem outra e as aparentes hesitações e contradições do Governo e seus apêndices (governadores civis, etc.) têm um objectivo claro e determinado: ganhar tempo, dividir a oposição, aliviando assim a pressão de massas , e impor um projecto de reforma do franquismo que em nada altere a estrutura económica e social. Como dizia o anterior chefe de Governo espanhol Aries Navarro: «só reformamos o que queremos preservar» . A OPOSIÇÃO E A «OPOSIÇÃO» extraído da revista «Triunfo » Deste modo o Governo acena com a legalização preferencial aos partidos que prescindirem daquela «irritante» exigência da legalização de todos os partidos sem excepção. Assim o Governo tem feito incidir a repressão sobre os sectores de esquerda da oposição. Foi sintomática a proibição (agora já levantada) da realização do Congresso do PSOE, depois de uma fase de intensas negociações entre Suarez e Filipe Gonzalez. Isto porque os socialistas espanhóis recusaram-se a aceitar o quadro institucional franquista , legalizando-se através da lei das associações políticas que coloca os partidos na dependência do Movimento (espécie de UN / ANP de Espanha). Apesar de os militantes e partidos de esquerda serem pontualmente reprimidos, «é sobre os comunistas e os grupos à sua esquerda», no dizer de (1) De1S al1 de No .... bro, D.· 40 DO XLVI Certas correntes :desta oposição encaravam ainda não há muito tempo a possibilidade de só depois de haver eleições o Partido Comunista ser legalizado . O DIREITO À PALAVRA No fundamental pode-se dizer que a oposição se debate com grandes dificuldades, e isto porque apesar das crescentes manifestações de força da classe operária, como a greve de 12 de Novembro último, sectores políticos outrora ligados ao franquismo (mais propriamente ao fascismo) adquiriram o «direito à palavra» através de verbais juramentos de fidelidade aos ideais democráticos. P ara isto muito contribuiu a política de «reconcialiação nacional», que pretende tomar aos olhos das massas populares os antigos dirigentes fascistas como homens que evoluiram e que hoje são honestos democratas. Este «fenómeno» de fé «democrática» ultrapassa tudo o que possamos imaginar. Há uns meses líamos na revista espanhola «Cambio 16»: «por um lamentável erro, no n .o 239 de "Cambio 16 » confundiu-se Don Julio Garcia Ibané é conselheiro nacional do Movimiento, nem procurador às Cortes, nem actua na gestão política do Movimiento, nem no seu pensamento político, num o seu modo de ser e a sua atitude são coincidentes, antes pelo contrário, com os do bunker» . «Lamentamos sinceramente este erro», acabava a revista. Esta preocupação de demarcação de largos sectores da classe dominante em relação aos franquistas "puros e duros » se, por um lado facilita a luta pela democracia , por outro lado cria obviamente ilusões. É aproveitando-se desta situação que o Governo de Suarez avança na via da «reforma» que fez aprovar em 18 de' Novembro último pelas cortes franquistas, dep~ois de negociações com os continuistas franquistas da Alianza Popular encabeçada pelo antigo ministro de Franco, Fraga lribarne, e que vai ser submetida a referendo. O objectivo do Governo é claro : reformar o fasci smo franquista sem que isso signifique qualquer mudança estrutural. Não parece estar sequer na mente do Governo a «alternância democrática» fórmula tão querida dos «pluralistas» da nossa praça e não só ••. ia 20 infblfnâlivo' êIferis'ioDal BÉLGICA o sistema eleitoral adoptado na reforma Suarez, beneficiando as circunscrições rurais, beneficia obviamente a direita, que desde há muito tem montado o seu sistema de enquadramento politico das populações nessas zonas. Este parece poder vir a ser um dos factores que contribuirão para unir a oposição, desde os «liberais» aos comunistas, passando por esquerdistas, democratas-cristãos, sociais-democratas, socialistas, etc. AS BASES DAS NEGOCIAÇÕES COM O GOVERNO Grande parte de oposição propriamente dita, encontra-se reunida na «Coordenação Democrática», a nível de todo o Estado espanhol, existindo depois vários organismos unitários de oposição ao nível das nacionalidades e regiões. Em 5 de Novembro, em Las Palmas, nas Canárias, a .Plataforma dos Organismos Democráticos» (POD) que engloba a .Coordinácion Democrática», a .Coordenadora de Fuerzas Democráticas de Canarias», e «Tau la de Forces Politiques i Sindicais dei Pais Valenciá», «Assembleie de Catalunya», «Assembleie de les IIIes» (Baleares) e a «Taboa Democrática de Galicia», reuniraIQ.-se e elaboraram uma Plataforma comum de negociação com o Governo de Suarez. Segundo esta Plataforma, a oposição aceitaria o referendo proposto por Suarez desde que a pergunta fosse «se deseja ou não a convocatória de eleições para Cortes Constituintes» e fosse preenchido uma série de condições prévias indispensáveis para a convocação do dito referendo como sejam: «a) Legalização de todos os partidos políticos e organizações sindicais, sem exlusões; b) Amnistia total para os presos politicos e livre retorno dos exilados; c) Reconhecimento efectivo do pleno exercício das liberdades de expressão, reunião, associação e manifestação; d) Derrogação do decreto-lei sobre terrorismo e demais medidas repressivas e supressão do Tribunal de Ordem Pública; e) Igualdade de oportunidades para todos os partidos e organizações sindicais no acesso à rádio e Televisão estatais; f) Supressão do aparelho político - administrativo do Movimiento para impedir o seu emprego como meio de pressão; g) Participação dos partidos políticos democráticos no controlo da consulta popular» . Sem isso a oposição pugnará pela abstenção massiva. UM PAIS EM RÁPIDA TRANSFORMAÇÃO A Espanha de hoje já não é a Espanha de há um ano, aquando da morte de Franco. Depois disso , milhares, se não mesmo milhões de espanhóis, vieram para as ruas, manifestaram-se pela amnistia, a liberdade e a democracia, celebraram congressos, reuniram e discutiram as mais variadas coisas, foram presos, julgados e libertados; os dirigentes políticos da oposição dão conferências de Imprensa umas atrás das outras, recebem inclusive a protecção da policia contra os «ultras » dos «Guerrilheiros do Cristo-Rei» do Procurador às Cortes Blas Pmar, mas os militantes dos seus partidos podem ter sido mortos pela polícia quando faziam uma pichagem. É esta realidade multifacetada que faz com que aconteça que Gregório Lopez Raimundo , secretário-geral do PSUC (partido dos comunistas catalães) seja preso, depois de anos e anos de clandestinidade, por não ter a sua situação legalizada, recebe novos documentos, seja libertado e preso poucos dias depois por uma qualquer rídicula acusação. É esta situação sumamente fluida e indefinida resultante de um grande equílibrio na correlação de forças, é essa aparente falta de radicalidade nos processos que nos deve pôr em guarda para comparações extemporâneas. Porque em Espanha a democracia vai! O quê, demora! ANEXO SIMON SANCHEZ MONTERO, membro do Comité executivo do Comité Central do PCE. OBJECTIVO: A DEMOCRACIA «Para o Partido Comunista de Espanha o objectivo político neste momento poderia resumir-se a uma só palavra : democracia. Conseguir o estabelecimento de maneira pacífica de um regime democrático sem adjectivos, sem exclusões. Para isso consideramos indispensável a unidade das forças de oposição, a negociação com o Governo e os poderes, para chegar à instauração das liberdades politicas para todos os partidos e organizações. E a abertura de um processo que conduza a eleições realmente livres, realmente constituintes, em que umas Cortes, autenticamente eleitas pelo povo, elaborem uma Constituição do Estado. Esse é o objectivo essencial. Esse é, falando sinteticamente, o objectivo actual do nosso Partido. Para presidir a esse período eleitoral constituinte seria necessária a formação de um Governo de amplo consenso democrático em que estivessem representadas as forças da oposição e do governo e a cuja formação se deveria chegar de forma negociada». • Foi sob o signo da austeridade que se iniciou o ano lectivo nas univ'e rsidades belgas. Como era de esperar, as consequências da lei-programa (lei de estrangulamento financeiro do ensino universitário) , faz-se sentir duramente . Consequência da política anti-social do ' governo de direita Perin-De Clercq-Tindemans, a situação financeira das universidades é. no início do ano, bastante precária. !'\s autoridades académicas submeteram-se docilmente ao plano governamental. Para se justificarem apelam ao espírito de disciplina e sacrifício comum . Todos os sectores progressistas da Universidade deploram estas medidas, lançando formas de luta unitárias com a participação de estudantes, pessoal t écn ico e operário, assistentes e professores, no sentido de um programa reivindicativo comum . • Ao ' nível dos liceus e escolas técnicas, os estudantes belgas travam, I do mesmo modo, lutas contra as medidas arbitrárias tomadas pelo governo reduzindo o acesso dos jovens às escolas, condicionando o emprego a professores e diminuindo a qualidade de ensino . Variadas greves tiveram já lugar e prevêem-se outras acções estudantis. FRANÇA • Os estudantes franceses enfrentam neste momento fortes intentos por parte do governo no sentido de lhes cercear direitos obtidos, em particular no campo social (residências), assi m co mo na tentativa de impor a diferenciação das universidades e dos títulos que elas outorgam. Ao mesmo tempo, a sitúação vem-se agravando com o surgimento de grupos fascistas que pretendem impor o caos e o terror nas universidades e liceus franceses . Factos demonstrativos disto ocorreram em Ceusier, onde um desses grupos atacou com «cocktails Molotov » um centro estudantil ferindo vários estudantes. A UNEF (União Nacional dos Estudantes Franceses). reafirma a decisão de lutar não só contra as medidas antidemocráticas do governo, mas também contra o ressurgimento dos grupos fascistas nas escolas. • Nos dias 6 e 7 de Novembro teve lugar uma importante Conferência Nacional da UNEF onde foram traçadas importantes vias de orientação. Correspondendo aos progressos registados pela UNEF aquando das luta s da última Primavera, esta Conferência vem permitir que a unidade dos estudantes franceses se cimente mais na luta contra as medidas que no campo do ensino o governo francês vem tomando pela melhoria das condições sociais dos estudantes, pela melhoria das condições de ensino e pela concretização de saídas profisssionais para os estudantes. , textos sublinhados Lénine combateu energicamente todas as tentativas de reduzir a relação entre o homem e a mulher à mera satisfação de uma necessidade física (a chamada «teoria do copo de água») ou de apresentar essas relações como uma simples questão individual, pessoal. Não se tratava (nem se trata), para os comunistas de exaltar o ascetismo e menos ainda de pregar a «mortificação da carne». Não poderia tratar-se, por ontro lado, de preconizar uma «libertação» das relações entre os sexos que significasse «o esvaziamento de todo o seu conteúdo humano» - falsa acusação incessantemente dirigida aos comunistas pelos defensores das concepções e da moral burgnesas. O processo de transformação das relações humanas existentes sob o capitalismo é, naturalmente, complexo e longo e se passa pela desmontagem dos mecanismos de opressão da velha Sociedade, rasga-se também nom gigantesco esforço de discussão das formas de construção da sociedade nova: em todos os pl/UJos. Na vasta polémica travada em tomo destas questões, quer antes quer depois da Grande Revolução Socialista de Outubro, V.I. Lénine desempenhou um notável papel. Incidindo sobre um tema que tanto viria a dar que falar - o chamado «amor livre» - os dois textos que a seguir se apresentam ilustram bem o rigor da critica leniaista, ao mesmo tempo que revelam, transparentemente, argumento a argumento, análise a análise, os critérios científicos em que esta assenta, qualquer que seja o tema que aborde. 21 sobre alguns aspectos da questão feminina duas cartas de Lénine a Inês Armand Querida amiga, Aconselho-a vivamente a escrever mais detalhadamente o plano do seu folheto (*) . De contrário, muitas coisas ficariam confusas. Quero, antes de mais, exprimir a seguinte opinião : Aconselho-a a suprimir completamente o § 3, referente à «reivindicação do amor livre (para as mulheres)>>. Trata-se na verdade de uma reivindicação burguesa e não proletária. Que entende realmente por esta reivindicação? O que é que se pode entender por uma tal reivindicação? 1. que a mulher se liberte de quaisquer considerações de carácter material (financeiro) em questões de amor? 2. que se veja também livre das preocupações materiais? 3. dos preconceitos religiosos? 4. das proibições do papá, etc.? 5. dos preconceitos da «sociedade »? 6. do ambiente mesquinho do meio em que vive (cam ponê s ou pequeno-burguês ou intelectual-burguês)? 7. dos entraves da lei, dos tribunais e da polícia? 8. da seriedade no amor? 9. da procriação? 10. Liberdade de praticar o adultério? etc . Enumerei muitos dos sentidos possíveis (não todos, evidentemente). Naturalmente, você não dá à reivindicação em questão o sentido apontado nos números 8-10, mas sim o apontado nos números 1- 7 ou qualquer coisa como a dos números 1- 7. Mas para os números 1-7, há que encontrar outra denominação, porque amor livre não exprime essa ideia com exactidão. E o público em geral, os leitores do folheto entenderão inevitavelmente por «amor livre », em regra geral, qualquer coisa parecida com o que se refere nos números 8-10, embora você tivesse querido afirmar coisa diferente. Precisamente porque na soc iedade contemporânea as classes mais loquazes, ruidosas e «com melhor posição » entendem por «amor livre » os números 8-10, precisamente por isso essa reivindicação não é proletária, mas buruguesa. Para o proletariado o mais importante são os números 1-2 e logo a seguir os números 1-7; mas, no Inês Arm/UJd (1875-1920): aderiu ao partido bo/cbe"ique em 1904. Tomou parte aeli"a na re"oluçio de 1905-1907. Várias "ezes presa e exilada. Em 1907, emigrou para estrangeiro, regreSSlllldo em 1917, ao mesmo tempo que LénÍBe. Após a re"olufão de Outubro, foi presidente do So"iete da economia popular de Moscof'O e, desde 1918, encarregada do departamento femÍBÍBo do CC do partido. ° fundo, isso nada tem a ver com o «amor livre ». O que importa verdadeiramente não é o entendimento que você quer dar subjectivamente a esse conceito . O que importa, isso sim, é a lógica objectiva das relações de classe nas questões do amor. Um aperto de mão do amigo V .1. Escrito em 17/ 1/1915, em Berna. (Obras Completas, ed. francesa, 1964, "01.35, p. 176.) (*) - Trata-se de um folheto que Inês Armand tencionava escrever para as operárias, mas que acabou por não concretizar. II Querida amiga, Peço-lhe desculpa por ter demorado tanto a responder. Queria fazê-lo ontem, mas estive tão atarefado que não consegui dispor de tempo para lhe escrever. Quanto ao plano do seu folheto , disse-lhe já que achava que a «reivindicação do amor livre » carecia de rigor e que , queira você ou não queira (sublinhei isto dizend o : a questão reside nas relações objectivas, nas classes e não nos seus desejos subjectivos) , surgirá no actual clima social como uma reivindicação burguesa e não proletária. 22 Você não está de acordo. Pois bem . Examinemos de novo a questão. Para tomar claro o que não o está, enumerei aproximadamente uma dezena de diferentes interpretações possíveis (e inevitáveis nas condições da luta de classes) , assinalando que , na minha opinião, as interpretações 1- 7 seriam típicas ou características das mulheres proletárias, enquanto as interpretações 8-10 seriam próprias das burguesas. Para refutar isto, é preciso demonstrar (1) que estas interpretações são inexactas (e então há que substituí-las por outras ou assinalar quais são as inexactas) ou (2) que são incompletas (e então acrescentar o que faltar) , ou (3) que não se dividem assim em proletárias e burguesas. Você não faz nenhuma destas três coisas. Não faz qualquer referência aos pontos 1- 7. Quer dizer, reconhece (em geral) que são correctos? (O que você escreve sobre a prostituição das proletárias e a sua situação de sujeição - «a impossibilidade de dizer não » - cabe plenamente nos pontos 1- 7. Em relação a isto não temos qualquer divergência). Também não contesta que se trate de um a interpretação proletária. Restam os pontos 8- 10. Você «não os compreende de forma nenhuma » e «tem objecções a fazer»: «não compreende como se pode (escreveu você textualmente!) identificar ('! ??) o amor livre com » o ponto iO .. . Quer então dizer que eu é que «identifico » e que você se prepara para me demolir e destruir? Porquê? A que propósito? As burguesas entendem por amor livre os pontos 8-10, eis a minha tese . Você rejeita-a? Nesse caso, diga-me, o que é que as damas burguesas entendem por amor livre? Você não o diz: Mas não é ~erdade que a literatura e a vida actual demonstram que é isso precisamente que as burguesas entendem por amor livre? Demonstram-no plenamente ! E você admite-o tacitamente. Sendo assim , a questão reside na posição de classe dessas damas ; e nã.f) é de forma alguma possível (seria mesmo ingénuo) desmenti-las. O que importa é operar uma nítida demarcação em relação a essas posições, opor-lhes o ponto de vista do proletariado. É preciso ter em conta este facto objectivo: se se proceder de forma diferente da apontada , as burguesas retirarão do respectivo contexto determinadas passagens do seu folheto e interpretá-las-ão a seu modo , e o seu folheto levará a água ao moinho delas ; distorcerão as suas ideias junto dos operários, «perturbarão » os operários (semeando neles o receio de que você pretenda inculcar-lhes ideias que lhes são estranhas). Para isso elas contam , ó se contam , com grande número de jornais, etc .. E você , pois bem , esquece completamente o ponto de vista objectivo de classe e «ataca-me » a mim , que , na sua opinião, identifico o «amor livre» com os pontos 8- 10.. É estranho, é na verdade muito estranho ... «Mesmo uma paixão e uma ligação passageiras» são «mais poéticas e puras » do que os «beijos sem amor » dos (míseros e lamentáveis) esposos vulgares. Escreve você. E é o que tenciona escrever no folheto. Perfeito. Tem alguma lógica, a contraposição que faz? Os beijos sem amor dos esposos vulgares são pouco honestos. De acordo . A isso há que opor.. . o quê? .. . A resposta pareceria ser: beijos com amor. Mas você opõe-lhes uma paixão (pGr que não amor?) «passageira» (porquê passageira?)' Daqui se pode concluir que os beijos sem amor (passageiros) se opõem aos beijos sem amor, conjugais ... Estranho. Não seria melhor, num folheto de divulgação popular, contrapor o amoral e pouco honesto casamento sem amor pequeno-burguês, intelectual ou camponês (a que se refere o meu ponto 5 ou 6) ao casamento civil proletário com amor (e acrescentar, se acha absolutamente impossóvel prescindir disso, que uma ligação-paixão passageira pode - também ela - ser desonesta ou pura)? Do seu plano resulta não a contraposição de típicas posições de classe, mas qualquer coisa como «um caso particular», que é evidentemente possível. Mas esses casos particulares deverão porventura ser tratados? Um caso particular, um caso individual de beijos pouco honestos num casamento e puros numa ligação passageira estaria muito bem para um romance (pois nesse caso o essencial seria a situação individual, a análise dos caracteres e da psicologia de determinados personagens). Mas num folheto'! Compreendeu perfeitamente a minha observação sobre o facto de a citação de Helen Key (**) não ser apropriada, uma vez que me diz que é «absurdo » fazer o papel de professores do amor. Justamente. Mas, e o papel de professor de paixões passageiras, etc.? Verdade seja dita, não tenho vontade nenhuma de entrar em polémicas. De bom grado interromperia esta carta e deixaria este assunto para uma conversa pessoal consigo. Mas quero que o folheto seja bom e que ninguém possa extrair dele frases que se virem contra si (por vezes basta uma frase para estragar tudo ... ) e distorcer as suas ideias. Estou certo de que você escreveu isto um pouco «sem querer» e mando esta carta apenas porque talvez assim a leve a examinar o plano do seu folheto com mais atenção do que o faria em resultado de uma conversa, porque um plano é uma coisa muito importante . Não terá entre as suas amigas uma socialista francesa? Traduza-lhe (como se fosse do inglês) os meus pontos 1-10 e as suas observações sobre paixões passageiras, etc.; e observe-a, escute-a muito atentamente: essa pequena experiência permitir-lhe-á apreciar o que poderão dizer as pessoas que vêem as coisas de fora , as impressões que têm e o que esperam do folheto . Aperto-lhe a mão, desejando-lhe que tenha menos dores de cabeça e se restabeleça rapidamente. V.U. 24 /1/1915 - Berna (O.c., 00. Ir., tlol. 35, p. 178) (**) - Helen Key (1849-1926) - escritora burguesa sueca, autora de numerosas obras consagradas ao movimento feminista e à educação das crianças. A JUVENTUDE FRENTE ELEITORAL POVQJNIDO Ig/temas & problemas 23 «porn ografia : tudo o que faça ou leve a f azer di nheiro com o sexo .. . » o tema das cenas eventualmente chocantes , expressão mais publicitária do que classificativa de filmes de carácter pornográfico, já entrou no vocabulário quotidiano deste país. Contudo, da «grande manobra» que despontou nos écrans dos cinemas, dos seus aspectos económicos e de diversão ideológica e dos discursos falsamente indignados e hipócritas que sobre o assunto se têm produzido, de tudo isto, pouco se diz. Basta abrir um qualquer jornal e procurar na secção respectiva o anúncio, a mais das vezes profusamente ilustrado, ou observar na televisão convites similares , apanhando o espectador potencial , convidando-o para uma sessão cheia de ::sensações fortes». A pornografia ou sucedâneos, está pois aí, pela mão das distribuidoras cinematográficas, cuja estrutura, igual à do 24 de Abril, canalizando por sua mão os produtos dos empórios euro-americanos, com toda a sorte de imagens em fotogramas , com todos os requ i ntes efec t ivamente - ·'chocantes». Mas se a constatação é fácil e óbvia, o que se esconde detrás da ilusão diáfana do celulóide, leva a questionar alguns aspectos sistematicamente, apesar das excepções, obscurecidos e distorcidos. É acima de tudo patente uma tremenda hipocrisia e cinismo , atrás dos quais se escondem os benefícios de toda a confusão produzida, na opinião pública, por esta onda de choque. UM NEGÓCIO CHORUDO Segundo dados recentes , num per íodo compreendido entre Maio de 1974 e Junho de 1976, a percentagem de filmes distribuídos entre nós - percentagem que engloba os filmes de índole pornográfica - respeitante à categoria de não aconselhável a maiores de 18 anos, ascendia a 36,2 por cento; e na categoria de interditos a maiores de 18 anos essa percentagem era de 19,3 por cento. A frieza dos números não fornece por si só o índice de consumo global, mas basta lembrar que se contam como um dos maiores êxitos de bilheteira deste período, um filme como «Emmanuelle» (considerado o maior êxito comercial de sempre) e outros de igual ::categoria». Como se disse, a distribuição de filmes assenta ainda na mesma máquina que vigorava antes da Revolução, isto é, o móbil de tais empresas foi e continua a ser o sucesso comercial , ou seja, o máximo lucro. Naturalmente, que o espectador tende a ,::engolir» aquilo que as campanhas publicitárias apontam como estando na moda, desprezando-se (por não ser ::rentável ») tudo aquilo que possa ser socialmente pedagógico e ideologicamente formativo . Po r i sso , encontram-se na prateleira filmes de inegável interesse, enquanto se continua a inundar as salas de projecção de subprodutos, cujo tema é a sexualidade , na óptica dos mixordeiros euro-americanos. Esses subprodutos, «eventualmente chocantes», constituem aquilo que se designa por cinema pornográfico . Este negócio está , hoje , inclusivamente, sustentado e ampliado por lei , já que os decretos 653 76 e 654 76 (promulgados ao tempo do VI Governo) prevêem um agravamento de t axas para filmes considerados pornográficos, e cujos escalões levarão ao acréscimo de quase 100 por centei no custo unitário do bilhete de sessão. E se a primeira vaga de filmes nestas condições, provou , ou seja, rendeu os créditos julgados satisfatórios, preparam-se activamente os coriféus da sexualidade filmada, para a segunda vaga (regulamentada, também, pelos decretos atrás referidos) , tendo já sido anunciados filmes de tal classificação (hard-core) . O QUE É A PORNOGRAFIA, QUAL A SUA LINGUAGEM Para delimitar este termo, no que diz respeito a filmes , a Comissão Etária de classificação de filmes elaborou três condições básicas : 1 - representação do acto sexual pontual e não elíptica; 2 - estrutura narrativa não pretendendo senão o encadeamento verosímil das situações; e, 3 - tratamento formal dirigido ao empolamento do efeito previsto (isto é, técnicas de filmagem apropriadas) ou da sua referência (banda sonora) . No entanto, esta classificação não foi considerada pelo ministério de então, n:io tendo este, por seu lado, adiantado nenhuma norma de ordem prática. Não fica, contudo, esgotada a definição, nem do termo nem do âmbito. E assim, numa primeira abordagem, díriamos que pornografia é tudo o que faça ou leve a fazer, dinheiro com o sexo. A pornografia começa a partir do momento em que o prazer se torna mercadoria. Ao mesmo tempo, a ideologia burguesa, usa-a como derivativo e desenvolve-a como forma prevertida, seja em relação às aspirações de compreensão da vida sexual, seja como escape às tensões que a época de cr i se geral do cap i talismo p r ovoca , necessariamente. Em boa verdade, estas questões não são simples nem lineares e prendem-se com factores objectivos e subjectivos, afectivos, etc. Mas se nos referirmos ao cinema - através do qual este fenómeno atinge grandes massas a pornografia funciona sobre o registo da ·::necessidade» e não sobre o do «desejo», encerrando-se dentro dos seus próprios limites, actuando , analogicamente, da mesma forma qualquer droga e dos efeitos que ela provoca no «consumidor» depois do uso do produto. Pode dizer-se que a pornografia não ensina sobre nada. Nem sobre o prazer, nem sobre o amor, nem sobre a sexualidade. É o curso das imagens de actos mecanicamente repetidos que não produzem nenhum «efeito de conhecimento real». Por isso mesmo, ou por isso mesmo, o grande ausente da pornografia é o amor, e a mulher é reduzida ao papel de objecto consumido. Há quem fale da função pedagógica do filme pornográfico. Dir- se-ia que tais afirmações, com todas as proporções salvaguardadas, querem fazer crer que o crime possui implicitamente uma função moral, na medida em que ele faz prova do seu carácter mortífero. Há, ainda, quem pretenda conceder que este tipo de filme ou actividade de âmbito pornográfico , permitirá ao espectador 24 projectar os seus fantasmas e de os «realizar» na imaginação. Tal afirmação, é, contudo, e no minimo uma pura «ingenuidade». É confundir a imagem do espelho com a realidade colocada defronte dele, ou confundir Louis de Funés com Charlie Chaplin, uma vez que a própria mediocridade do «espectáculo» pornográfico assassina esses fantasmas. Não podemos esquecer que a pornografia, com todas as suas formas, pretende dar .'resposta» a algo . Qual é essa procura e qual a sua significação? «CRISE DE CIVILIZAÇÃO» E DIVERSÃO IDEOLóGICA V i vemos numa época de pro f undas transformações históricas, económicas e sociais. A passagem do capitalismo ao socialismo e a revolução cientifica e técnica marcam profundamente estes anos. As relações sociais e as inst itu ições que as sustentam alteram-se e apresentam fissuras profundas. Do mesmo modo o cimento ideológico que assegura a sua coesão estilhaça-se. E se isso é bem verdade em muitos paises, aqui, entre nós, é um facto indesmentível . A evolução do estatuto da mulhe r, a transformação elas relações interpessoais na família, a educação, tudo evolui. A este quadro bem real , os ideol6g0s burgueses, lá fora ou entre nós, chamam pudicamente :<cri se de civilização» e «crise dos costumes». Necessariamente, as grandes mudanças sociais, a intensificação da luta pelo futuro, comporta um grau maior ou menor de fricção e desajustamento, que se reflecte a todos os niveis, das massas e da personalidade dos individuos e nas suas relações com outrem. Não é pois de admirar que as «terapêuticas» misticas, ou «reajustamentos psiquicos» conheçam larga divulgação. Isso é próprio da ideologia dominante - procurar que se estabeleça uma ::solução pessoal», separando, atomizando. Neste aspecto a sexualidade, tem , sem sombra de dúvida, um lugar de destaque. Herdado do principio liberal «que a razão do mais forte é a melhor», procura-se dar à <<doença individual », soluções individuais. E dentro da panóplia dos meios à disposição da ideologia burguesa, a pornografia faz papel de estrela. É a «procura» que institui o mercado: e a «resposta» não pode ser outra coisa senão a pornografia. No cinema - pois é a este nivel que os problemas se mostram em toda a sua dimensão - as condições psicológicas da ·:<sala escurecida» favorecem essa espécie de fascinação hipnótica, que nos filmes pornográficos assumem aspectos duplamente hipnóticos, necessária aos fins dessa ideologia. A pornografia, pela sua própria natureza, tende a desenvolver uma confusão calculada entre «vida privada» e «vida pública» e longe de serem «pedagógicos», os «espectáculos» pornográficos, veiculam as formas mais rudimentares dos modelos tradicionais e retrógrados, e são portadores, simultaneamente, duma ideologia de conteúdo racista. Incidindo sobre a sexualidade, transmitem um discurso sobre a sexualidade que anula a existência e a personalidade do espectador, podendo contribuir para manifestações de agressividade cega. O «espectáculo» pornográfico funciona como um modo de «condicionamento» ,psicológico. burguesa retrógrada e historicamente condenaoa, que faz uso de todas as formas que impeçam que a personalidade do individuo e das massas analise e procure as soluções globais de transformação da sociedade, de que resunará a transformação do homem e das suas complexas relações com o meio e os outros. Exemplos desta actuação hipócrita não faltam . Apenas reflectem o método único de proceder desses advogados quando o seu privilegiado reino se encontra em perigo. Ainda recentemente na Assembleia da República foram produzidos dois discursos (?) sobre este tema. Por parte, de agremiados do PPD e do CDS. E ao fazerem profissão de fé, estes «advogados> completam o círculo com que a burguesia hipócrita se mascara. A direita, neste como noutros campos, actua como aquele pirómano, que telefona anon imamente para denunciar um incendio provocado em fazendas alheias ... CABAZ ra A HIPROCRISIA DADIREIT A É frequente ouvirmos aa boca de certos sectores que , cand idamente condenam a droga , a pornografia , a prostitu ição , palavras de reprovação moral, piedosa ou inquisitória. Mas se atentarmos nesses advogados dos «bons costumes» apenas vemos uma moeda. Melhor: a outra face da mesma moeda - a ideologia à venda nos Centros de Trabalho da UEC Aceitam-se encomendas. Pedidos à UEC - Secção de Informação e Propaganda, R. Sousa Martins, n.o 8, 2.° LISBOA 2S beatles realidade , . negocIo mitologia & E de súbito voltamos a ouvir, insistentemente, aquele som. Na rádio. A televisão e a imprensa colaboram . É o assomar de uma sábia campanha revivalista dos ídolos da década de 60. A revitalização do som e da mitologia dos Beatles , condecorada (-honni soit qui mal y pense,,!) pela rainha ela-própria e benzida por um incessante caudal de libras, liras, marcos e dólares ... Mas que pode significar o ressurgimento desta música-datada? - (<<clássica , perfeitamente clássica!,,) no fim dos anos 70, divididos que são há muito os quatro de Liverpool, a seis anos de distância da sua última produção como grupo? ... o ROCK E A MUDANÇA Os primeiros Beatles, desde Liverpool passando pela estadia em Hamburgo, assemelhavam-se a qualquer outro grupo «rock ", dos muitos que proliferavam numa cadeia além-Atlântico, desde a América do Norte à velha Albion . Gritado à Elvis, com batida marcada e forte, com o seu cortejo de blusões negros, violência gratuita representada em cena, ia conhecendo a margem que o declínio próximo anunciava. Por essa altura, princípios da década de 60, aparecia do outro lado do Atlãntico, uma nova geração de músicos que colhiam do «folk " e dos «blues" a sua (nova) expressão musical. Ainda se sentiam os murmúrios da «geração batida" (intelectuais ou outros, olhando a sociedade americana, sem descortinar soluções) , e as feridas do «macarthismo" , da guerra (perdida) da Coreia, a guerra fria .. . E que representam os Beatles deste lado de cá, na Inglaterra «das instituições", e das crises económicas tipo montanha de feira, que ora subiam ora desciam? Evoluindo desse «rock" (quase em vias de estar esgotado) e pressentindo que outra coisa estaria para vir , publicam discos, é certo, mas vão descobrindo .. . Já no LP «Help» , se pOderiam encontrar as raízes da transição. Ainda se ouve o grito dos «rockers" (<<Dlzzy Mlss Lizzy») , estranhamente ou não, acompanhado do tom de balada (<<Vesterday») . Nesta pouco definida sonoridade , um objecto chamado Hammond, constrói melodias. . Será, no entanto, em "Rubber Soul", que a mudança virá anunciada. Há quem o considere o melhor LP do grupo, porque conserva o que de melhor tinham e anuncia o que será desenvolvido. É o disco charneira. E vai reflectir-se na evolução do " rock" inglês. Títulos como "Drive My Car" ou "GlrI" são disso exemplos. A mudança musical estava em marcha. E aqui cabe dizer, que a este facto não é alheio o mundo do negócio, subjacente. Para lá dos factores que possam ter interferido a nível subjectivo, por via do reflexo que o mundo circundante ia produzindo, como consequência das mudanças sociais que ocorriam nessas sociedades, foi também a previsão do que se poderia apostar e ganhar (financeiramente) que "empurrou" a mudança. Como se nota hoje, essa previsão ainda rende, nem que seja necessário insuflar o mito periodicamente. 26 '~D ..a ChanSbnl$ du fIIm uHELP!H Sargeant Pepper's: marcou toda a música rock A ASCENSÃO E A QUEDA Rubber Sou!: o início da viragem A nova sonoridade começa a impor-se. O album «Revolver» desenvolve-a. Esta obra resume quase o que os Beatles são (na época) musicalmente. desde ccEleanor Rugby», a «For no one» ou ainda a «Tomorrow Never Knows», o disco é atravessado por algo que anuncia (ou continua a anunciar) um novo LP que marcará decisivamente esta época, influenciando as gerações de grupos posteriores . E não só os grupos, mas a totalidade musical que seria produzida. Falamos do Sgt. Peppers» . Nele, a complexidade no tratamento musical e temático foi conseguida a um nivel impar e então pouco previsivel. A introdução de suportes sinfónicos , novos instrumentos, os textos , conduzem a dizer que a múltipla audição das faixas leva a descobrir sempre novas coisas . Porque o seu grau de elaboração é excelente, porque o trabalho necessário à construção do disco foi moroso e aturado. «Magicai Mystery Tour» e depois o Album Branco , assinalam o ponto mais alto da criação musical do grupo . Entretanto, os jovens americanos (ao mesmo tempo que a guerra do Vietname começa a movimentar largos sectores no repúdio pela intervenção imperialista) conhecem um movimento , que - desde a «pureza» do seu inicio , em S. Francisco da Califórnia, até ao seu fim dois anos mais tarde - levanta alguma celeuma e dá origem a um gigantesco negócio: referimo-nos, é óbvio , àquilo que ficou conhecido como o movimento «hippy» . Paralelamente, assiste-se a um surto musical (<<west coast» e não só) , onde .... a marca, pelo menos inicial , se reconnece provir do Beatles. O grupo,a par destes acontecimentos continu a produzir élldivinhando-se já o desfecho a separação dos quatro de Liverpool. "Vellal Submarine» e «Abbey Road» duas nova produções, reflectem de algum modo que a époc a que tinham dado, de certa maneira, origem o começa a ultrapassar na diversidade e nos novo caminhos musicais encetados por outro agrupamentos. E é com «Let II be» título quas' simbólico de um fim de época que o círculo ~ fecha. O MITO CONTINUA A RENDER Em Dezembro de 1970, a série de peripécias qlJ culminam um desentendimento crescente acab por marcar o fim real do grupo. E se o mito já vinh de trás, apesar deste acabar, continua a SE jud iciosamente cultivado . Os quatro Beatle separam-se , mas o negócio das casas editora reproduz-se e continua. Assim , alguns anos ma tarde (há pouco tempo) novas colectâneas sã lançadas no mercado. E um revivalismo que d inocente não tem nada, continua a encher os bolso aos «businessmen » E se é inegável a importância da música do Beatles, como pedra do universo da chamad música popular anglo-americana, não podemo deixar de lev'a ntar a sobrancelha para est calculado jogo em que a «nostalgia» é ponta d lança que os consórcios discográficos alimentar nos potenciais compradores. Não podemo esquecer que por detrás desta música, existe ur sórdido pântano de interesses que só o capitalism é capaz de produzir. Ouçamos, pois, os Beatlei sem deixar que a mitologia - e tudo o que el comporta - nos ofusque. 27 josé gomes ferreira: romance e alegoria dos tempos amargos "Velho operário de palavras e prisões» como a si próprio se define, José Gomes Ferreira acaba de ver publicada a sua mais recente produção - "O Sabor das Trevas - Romance-Alegoria dos Tempos Amargos». A caracterização da obra é-nos dada pelo próprio Gomes Ferreira no prefácio do livro quando afirma tratar-se de "um livro quase idêntico aos meus outros anteriores, apenas com a novidade tão antiga, aliás, do conflito se passar na ambiguidade de vários planos: no da caricatura do real e no do sonho, sobretudo neste». E acrescenta: "e pena foi que não o tivesse acabado antes de 25 de Abril, para que ressaltasse também outra dimensão agora histórica: a da resistência aos 50 anos de tirania ...». Romance-Alegoria dos Tempos Amargos, "O Sabor das Trevas» combina e interpenetra dois tipos diferenciados de escrita, para nos·'dar um fresco cortante do fascismo, da sua tirania quotidiana, mas também, e fundamentalmente, da resistência subterrânea que se lhe opõe, da sua gesta libertadora, dos homens e das mulheres que a constroem, com os seus sonhos, as suas histórias, o seu passado e o seu futuro. De um lado, a caricatura do real. Incisiva. Na denúncia do tédio. Na denúncia da hipocrisia. Do outro, o o fantástico, invadindo tudo, dimensionando a epopeia heróica da resistência, os seus labirintos, as suas trevas, obrigando o leitor a um intenso esforço de decifração. * "Sabor das Trevas» é pois um livro importante e urgente. Para ser lido e relido. Por isso, dele publicamos seguidamente um extracto. Atravessava-se a quadra do Carnaval e, de repente, lembrou-se daquele baile no passado da outra realidade morta, quando ainda não se tinha entregue por inteiro à missão colérica de transformar o mundo (talvez para pior - pensava às vezes com angústia de sonho em cinzas) . Convidado pelo irmão para um assalto carnavalesco, em estilo quase telegráfico ('<gente rica», «boa ceia», «às dez horas», «espero-te ao pé do primeiro candeeiro da Rua do Martírio») , correu a esconder-se de si mesmo atrás de um smoking emprestado e, à hora fixa, lá se encontrava perto da residência assediada por vários mascarados, alguns sexualmente inquietantes (a inquietação provinha sobretudo do cheiro dos dominós femininos) . Por felicidade não conhecia ninguém. Aliás o gozo consistia precisamente em dcsconhecermo-nos. Bastava-nos a ligação deste ideal comum: o anseio de uma festa letal num jazigo qualquer de sentimentos mortos cheios' de convidados-não-convidados aos encontrões a desconhecidos-conhecidos-sem-se-conhecerem. Aconchegou-se ao grupo e, para se disfarçar de toda a gente, repetiu alguns disparates parvos, desses que fazem rir e bocejar ao mesmo tempo. E, às dez e meia, iniciou-se o ataque benevolente para a conquista do terceiro andar. Os cavalheiros de mascarilhas e vozes aflautadas iam na vanguarda. Atrás trepavam as donas que velavam pelas donzelas, seguidas muito de perto pelos rapazes de mãos famintas. (O Hermínio era o último, envergonhado de haver bailes) . Subiram vários lances a matacavalos e, por fim, pararam indecisos diante da porta do terceiro andar, de aparência inacessível e fechada por cem trancas. E quando o Hermínio supunha que aquele povo de mascarados enfurecidos não tardaria a despedaçar as mil fechaduras e penetrar desvairado na misteriosa fortaleza defendida pelo arremesso fantasma de panelas de azeite a ferver, a porta abriu-se com mansidão subtil e apareceu na soleira uma quarentona despida, ou quase, da cintura para cima, com a careta de tédio de quem já estava maçada de aguardar pela invasão, há mais de meia hora «oh! que agradável surpresa! Entrem, entrem!». E os dominós e os pierrôs, pautadamente disciplinados, obedeceram à ordem de limpar os sapatos nos capachos, a sorrirem vénias de desculpa por trazerem lama, lá de fora, da noite chuvosa ... Em seguida, pingantes de tristeza solitária de ilhas desertas, espalharam-se pelas salas e corredores, vagamente paralisados pela angústia de náufragos num mar de cadeiras alinhadas para mamãs vigilantes, tapetes enrolados e o gira-discos pronto a vomitar requebros de danças freneticamente ordeiras. A gordura de veludo da dona da casa parecia intimar os hóspedes a divertirem-se. E então, sem entorpecimentos ou inibições, praticaram todas as loucuras débeis do entrudo manso. Atiraram sacos de tremoços aos olhos uns dos outros, enfiaram papelinhos nas bocas das damas esfaimadas de outras violências, ao som da música sem música das mixórdias dançantes, enquanto as horas iam tombando nos relógios inflexíveis, gotas de bocejos de uma torneira mal vedada. Bruscamente, escancarou-se a porta e surgiu um rapaz de bigodinho ruivo que, com voz de musgo ardente, lacrimejou uma cantiga sentimental sobre o amor que ninguém sentiu até hoje, enquanto a dona da casa agitava os braços como dois colos de cisne - fenómeno de bicos esfarrapados em dedos de samba. Às três horas, quando todos se encontravam sonâmbulos, suados e arrependidos de haver vida, quase em transe de atravessar a ponte para o sono, a Castelã fez sinal a dois guitarristas para que entrassem no salão em bicos de pés. E às três e meia iniciou-se o período gargarejante do fado, para reforçar o estado de síncope dos não-convidados a fixarem com avidez lívida a porta da Ceia. Mas só às quatro horas, quanto as lágrimas de sons escorregadios se extinguiram nos dedos fumacentos dos guitarristas, o Arcanjo do Lar Invadido, depois de envolver na mortalha dum olhar sereno aqueles cadáveres ainda movediços, com perucas, trapos, aventais vermelhos, amontoados numa jangada feita de restos de naufrágios, resolveu ordenar que se franqueasse a porta de vidro do comedouro onde os hóspedes se precipitaram em desvairo de encontrões devoradores. E dali , verificados alguns casos de antropofagia branda (constou, pelo menos, que uma senhora de idade ficou com os dedos roídos e outra, mais jovem, sem uma nádega) regressaram à sala para dançar a digestão satisfeita das últimas reviravoltas alegres. E todos já se preparavam para abandonar aquela casa que não conheciam, situada numa rua que não sabiam onde ficava, pertencente a uma família cujo nome ignoravam, apinhada de pessoas que não tinham o prazer de conhecer, quando principiou a transmissão de boca em boca destas palavras de esperança inesperada: «Há chocolate! Há chocolate! ». E então, resignadamente, aqueles pobres não- co n v id ados- a - v iv erem-à-força- no-planeta , voltaram a encostar-se às paredes, de olheiras à espera , serpentinas enroladas no pescoço, a espreitarem a luz baça do amanhecer que desenhava caveiras nos vidros das janelas orvalhadas. Mas foi à saída, já eram tantas da manhã , que sucedeu o sortilégio mais prodigioso do baile. 19/1eu & (OU) viu 28 CINEMA Spartacus realizador: Stanley Kubrick EUA 1961 (reposição) . Pesem embora alguns dos defeitos característicos das «super-produções históricas » americanas, este filme de Stanley Kubrick contém algo que não é habitual nos filmes do género: a clara demarcação dos campos de agudização da luta de classes que abala a sociedade esclavagista do fim da República Romana (século I a.c.) e que opõe os escravos chefiados por Spartacus e o patriciado dominante chefiado por Crassus. Os objectivos do exército escravo (a extinção do e sclavagismo ), a sua ori gem e organização e as etapas da sua luta e conscencialização, por um lado, e as querelas dentro do Senado motivadas pela luta pelo poder dos diversos partidos patrícios e que termina com a instauração da ditadura de Crassus aliado a Júlio César e Pompeu, por outro lado, são os painéis deste fresco monumental que o anacronismo de certas interpretação não chega a deslustrar. CICLO MIZOGUCHI Decorreu nas instalações da Fundação Gulbenkian, a primeira fase do ciclo Mizoguchi, realizador japonês , justamente considerado o ponto mais alto da cinematografia japonesa de meados do século, e um dos maiores realizadores da história do cinema. Ao morrer em 1956, tinha deixado mais de 90 filmes, dos quais se destacam «Os contos da Lua Vaga-, «A elegia de Naniwa- ou «O Fio Branco da Cascata- oNo final dos anos 20 e durante os anos que antecederam a Segunda Guerra Império dos Sentidos realizador: Nagisa Oshima Japão, 1975 Tomando como tema um «caso verídico » por que nutre o confessado interesse (o do amor fatal entre Sada e Kichi) , atendendo à época em que se desenrolou (1936) e à machadada no mito de Samurai que diz ter representado, Nagisa Oshima realiza um filme de indiscutível beleza e audácia formais cujos pontos de referência se situam quase exclusivamente dentro do quadro lógico-narrativo apresentado, como se toda a explicação possível dos símbolos, «fetiches », analogias, figuras, mitos, tabus e transgressões residisse apenas no espaço compreendido entre as quatro paredes em que se passa a maioria das cenas ou do que elas representam, do que resulta um filme com o aspecto de uma argola formal fechada sobre si mesma e na s suas referências simbólicas, que o comercialismo tem aproveitado com evidentes lucros. Mundial , o Japão começa a mergulhar no regime militarista e reaccionário que o conduziu à aliànça com os nazi-fascistas alemães . Mizoguchi demarca-se, contudo, do regime e aproxima-se d o espírito da Frente Cultural Proletária. Apesar de nunca se ter considerado marxista foi fortemente influenciado pelo movimento. Datam dessa altura os primeiros filmes em que começa a abordar as contrad i ções e injustiças da sociedade nipónica, filmes que lhe provocam dissabores com a censura. A mostra que agora passa entre nós, e que continua em Dezembro , é das mais completas vistas na Europa. Por isso, é de não perder esta oportun idade . Não ver Mizoguchi é imperdoável. O ÚLTIMO DOS DUROS de Dlck Rlchards T alvez o melho r ( dentro do panorama actual) filme policial que por estas bandas se mostrou . Ambiência (reconstituída) dos anos 30, com agradável embalagem estética. Se não se tiver mais nada que fazer, é de ver. TEATRO De 23 de Novembro a 6 de Dezembro com a projecção de sete dos seus mais conhecidos filmes , realizou-se em Lisboa um «Festival Greta Garbo- . Oportunidade rara para rever uma «star- que marcou toda uma época e toda uma maneira de fazer (e ver) cinema, este «Festival- comprovou, que 37 anos decorridos após a sua . última interpretação Greta Garbo e a sua lenda mitologia ainda fascinam . Os cinéfilos e não só. O MONSTRO realizador: Walerian Borowcsyk França, 1975 Melodrama folhetinesco em que a pornografia «bem embalada » e o onirismo pseudo-psicanalítico servem para tentar esconder a mais profunda incapacidade criativa deste polaco «parisófono ». Neste «Monstro» tudo é velho, gratuito e de má qualidade , desde a pretensa fábula da Bela e do Monstro, aos diálogos, cenários e personagens, ao pseudo-surrealismo e à tão esgotada i deia da obra-de-arte-produto do inconsciente. A não ver. «Histórias de Fidalgotes••• », de «A BaJTllca" M on tagem de t e xt os de Gil Vicente e Ruzante, este espectáculo do Grupo de Acção Teatral «A B a rraca », é um e spectáculo exemplar. Estreado no I Festival de Teatro da Guarda, tem percorrido, entretanto, essas estradas e lugares, onde a inda chega pouco teatro. Como nota, para quem quiser (e é de não perder) , referimos que este mês, estará no dia 9 no Barreiro, a 10 em Póvoa de St.' Iria, dia 11 naFIL, a 12 em Alhos Vedros, a 14 no Seixal e em 15 e 16 na Cova da Piedade. As «Histórias» demonstram que o teatro tem um papel cultural destacado. E ao mostrar as coisas, a peça diz e mostra que, «façam o que fizerem , esses ricaços nada serão sem nós : porque se nós não fôssemos criados eles nunca poderiam ser patrões». 29 DISCOS «AdelaDte PortDlal», de Carlos Puebhl palavras cruzadas • "CRY TOUCH» DE NllS lOFGREN Estávamos a ver que o ano de 1976 não nos ia trazer nenhuma grande novidade no lado da música rock. Os bons discos continuavam a ser publicados, mas os conjuntos, ou músicos,. eram os mesmos de sempre (Stones, Santana, lou Reed) . Até que, num belo dia de 1976, apareceu a novidade! Chegou Nils lofgren, o guitarrista fisicamente mais pequeno de toda a música pop mas tecnicamente um verdadeiro gigante. Todas as subtilezas, sons, ruldos que podem ser extrai dos de uma guitarra eléctrica estão neste disco, agora à venda em Portugal. Vários estilos ritmicos aparecem no disco, desde o blues até ao bom velho rock .. . HORIZONTAIS: 1 "- Estrutura de coordenação do MA a nlve! de academia; 4 - Uma frente de homens e mulheres democratas para defesa dos interesses populares ao nive! das autarquias; 7 - - Combater o ananabetismo. defender a democracia- - é o lema do Movimento ...• ;; 9 - Quintal; 10- AqUi; 12 - Os eleitoralistas não pensam noutra coisa; 15-AIerta; 17-Jovens; 20 - Exactidão ; 21 - Medld. de extendo equivalente a 12 polegadas; 23 - Macia; 24 - Titulo honorifico -que precade o nome de rei e homem fidalgo-; (em espanhol) ; 25 - Forma arcaica de em ; 26 - Sinai convencional da radiotelegrafia intemacional que anuncia perigo grave e pede socorro imediato; 27 - A economia que" sa estuda não agrada ao Cardia: não é a da recuperação capitalista!; 28 - Ficando privado de; 32 - Segundo o venerável dicionário de Morais, trata-se de uma - falta de odor- ou de " - mau cheiro - (letras invertidas) ; 33 - Cloreto de sódio . Mais que um disco. esta obra de Carlos Puebla, acompanhado pelos Los Tradicionales, é um acto de cultura militante . Inteiramente gravado entre nós , aquando da estadia de Puebla no nosso país, «Adelante Portugal » fala, afinal, de como outros povos - nesta caso o heróico povo cubano - seguem a Revolução portuguesa. Com dois títulos dedicados ao povo português - o que dá o nome ao LP e «Obrigado » - este excelente trabalho de um consagrado nome da música revolucionária internacional, para além desse testemunho fraternal , é uma obra a não perder. Pelo menos, aqueles que o possam comprar. VERTICAIS: 1 - Simbolo qulmico do "dlo; 2 - Incólume; 3 - . Soprar- (dez tostões a quem .. linha geral» ... BlACK AND BlUE .. DOS ROlLlNG STONES Outro grande disco neste fim de ano. O último até hoje dos velhos «profetas» e renovadores (com os Beatles) da música rock modema, que transformaram à maneira deles o blues e o rock and rolldos anos 50. Todas as músicas são perfeitamente executadas, e ao longo do disco temos uma grande diferença de ritmos, desde uma canção influenciada pelo «raeggae», Sr/GERE 9t/~ OFEnçA 5EU7 A05 AMjGO~ OPERÁRIOS DO NATAL - Femmdo Tordo, Cario,! Mendes, Paulo de Carvalho . .. . .212$00 Defesa Escandinava ritmo da Jamaica, passando por um jazz admiravelmente interpretado . A obra-prima do disco é sem dúvida a canção «Melody», onde podemos saborear a qualidade dos músicos, do cantor Mick Jagger e um certo humor nas palavras. O disco é sem dúvida outra boa prenda de Nata!!!! portug ...., campo....). PRODUZIDO PELA COOPERATIVA FAMiLiA~1 M. TAL - W.R.CHANOlER Merseysjde, 1974 adivinhar esta!) ; 4 - Cordel; 5 - Lugares paradislacos; 6 - Tomou - posição conveniente para sa deixar fotografar- ; 8 - Sigla que designa a estrutura de basa (e a mais provada) do MA português; 9 - Sigla latina que indica data anterior à era cristã; 10 - Tristemente conhecido pela sua vertiginosa evolução ideológica . procura actualmente impor uma politica de recuperação obscurantista (e o mais que ainda está para sa ver) ... ; 11 - O mesmo que -aviamento-; 13-0e tal forma se comportam certos ministros-PS. que ao abrirem os olhos pela manhã devem exclamar. inchados: .governo com poder aupremol. ; 14 - Utilizes; 16 - Relativa ao fogo ; 18 - Recipientes que sarvem para conter (nomeadamenle) nores; 19 - Germe resultante da conjugação de um gameta masculino (muito mais simples do que parece!); 22 - Estrutura de coordenação do trabalho do MA a nlve! nacional; 28 - O sr. Mário Soares é - o de momenlo; 29 - afixo que sa junta a nomes próprios de terras para formar os adjectivos pátriOS e a nomes apelativos para significar procedência ou longa habitação (p. ex. 1. P4R,P40 ; 2. P x P, Ox P;3. C3BO , 010 ; 4. P40,C3BR; 5. B4BO, P3R ; 6. C3B , B5C ; 7. O-O, C020 ; 8. 02R , B x C; 9. p x B, O-O; 10. B5CR , T1R ; 11 . C5R, C1 B; 12. P4B , P4B ; 13. P01D , 030 ; 14. P5B! , C40 ; 15. C x PB!! , R x C; 16. P XP+ des., R1C ; 17. P7R, C3R (17 .. ., C3C ; 18. P x P! como na partida) ;18. P XP!, Ox P+ ; 19. R1T, C x PB ; As Brancas jogam e ganham rapidamente . Solução: 20. T80!!, B20 ; 21. 05R !!, Ox O (Se 21.. ., Ox B; 22. Ox C + !, Ox O; 23 . T8B + , T x T; 24. p x T (O) mate) 22 . T8B +! , as Pretas abandonam. 30 LIVROS ATENÇÃO A UMA COLECÇÃO (SEM DÚVIDA) INDISPENSÁ VEL JÁ LESTE A REVOLUÇÃO DE 1383? Autor: António Borges Coelho Seara Nova, 2.a ed. temas da Canstituifàoj Qual a ideia que preside a esta iniciativa da editora Diabril? Respondem os autores do primeiro volume publicado (<<A Constituição e o processo penal», Rui Pinheiro e Artur Mauricio) : «o exame crítico de uma Constituição sem paralelo na história do constitucionalismo lIO nosso país , na maioria dos seus preceitos verdadeiramente revolucionária e cuja defesa - que se julga imperativa - passa também pela revelação dos seus erros e con tradições, aferidos por um critério que tenha sempre presente os grandes objectivos de um Estado democrático a caminho do socialismo. Defesa que - acentue-se - não quer traduzir a falsa ideia de que a Constituição é a única ou sequer a primeira arma da democracia ». A série agora encetada promete tomar-se, sem margem para dúvidas, num fecundo intrumento de trabalho e luta , quer pela diversidade (e pertinência) dos temas que se propõe abordar (dos conceitos constitucionais fundamentais , às relações entre a Constituição e o direito do trabalho, o direito agrário, as organizações populares de base , a condição da mulher, os tribunais, a organização económica do Estado , o direito da família , o direito fiscal, o poder local, as associações sindicais , as Forças Armadas ... ) , quer pelos autores que assinarão cada uma das 20 monografias sobre a Constituição da República Portuguesa (entre outros Luso Soares, Vital Moreira, José C arlos de Vasconcelos , Pereira Coelho, Macaísta Malheiros , Villaverde Cabral, Orlando de Carvalho, Luís Catarino ... ) Os preços rondam os 40 / 50 escudos por cada volume de mais de 100 páginas, formato de bolso. O que por certo irá faci li tar o seu (necessário) estudo e divulgação ... A Revolução de 1383 Segundo edição desta obra crise social que opôs, nos campos, os fundamental para o estudo do senhores aos «jornaleiros» e, nas periodo imediatamente anterior ao cidades, a grande burguesia mercant.il surto expansionista. Nela, António aos «mesteirais», o seu desenvolvIBorges Coelho analisa detalhada mento e desembocar na revolução de e documentadamente os factores da Lisboa de 6 de Dezembro de 1383, COMPREENDER AS GRANDES QUESTÕES DO MOVIMENTO SINDICAL Oportunamente editado num momento em que o conjunto dos trabalhadores portugueses preparam activamente o Congresso de Todos os Sindicatos, este pequeno livro , ao mesmo tempo que fornece uma ideia global sob o modo como evoluiu a questão sindical ao longo de dOIS anos de revolução, responde às questões chave da actualidade sindical portuguesa. Particular destaque é conferido ao longo de todo o volume, ao desm.ascaramento dos inimigos e sabotadores do movimento sindical unitário e da unidade de todos os trabalhadores, à denúncia do divisionismo, que ontem , sob uma forma , hoje, sob outra, prossegue uma acção de intriga e calúnia sistemática, virada contra os interesses vitais das mais amplas massas trabalhadoras. a partir da qual dois movimentos (um de carateristicas burguesas, outro de características populares) confluirão no essencial, ou seja, na eleição de um rei português - o Mestre - e na derrota e expulsão da nobreza senhorial traidora aliada ao rei de Castela , não tardando porém, a quando da reconstituição dos quadros senhoriais, a divergirem na realização das aspirações mais profundas, saldando-se o conflito por uma vitória burguesa, a vários níveis (privilégios comerciais e lugares fundamentais no aparelho de Estado) . Borges Coelho, professor ·n o Departamento de História na Faculdade de Letras de Lisboa, não deixa de aprofundar, por um lado, o carácter internacional da crise que está na origem da Revolução e por outro lado, o carácter profundamente original da Revolução Portuguesa, inédito na Europa no modo de aliar a revolta popular e burguesa à luta pela independência nacional. Enriquecem esta reedição uma introdução circunstanciada, sobre a problemática da Revolução de 1383 com uma chamada à situação actual do país, e o alargamento de vários capítulos. Trata-se, pois, de uma obra de consulta imprescíndivel para os alunos do ciclo complemen'tar dos liceus e das universidades. MAIS CINEMA ... Um Dia de Cão realizador: Sidney Lumet EUA Partindo de um «caso verídico» suficientemente impressionante e significativo para certos sectores da opinião pública, sensíveis aos abusos da luta contra a criminalidade e ao reforço da repressão que pode estar por detrás dela , Sidney .Lu~et penetra jornalisticamente no mtenor e exterior da situação e descreve-a (ao nível de quase coincidir. te?lPo verosímil com o tempo fllmlco) , apresentando-nos uma reportagem exaustiva dos acontecimentos (em resumo: a «caça», levada a cabo pela polícia americana, de dois assaltantes de uma secção de bairro de um banco) através da qual perpassam alguns dos ingredientes conh~cldos da sociedade americana que arnscam a tornar-se a «nova imagem» made in USA (o marginalismo,. 'l repressão policial sofisticadissima, a rep.ressão alienatória dos mass-medla , os «fetiches » da fama e da celebridade, etc.) mas da qual estão ausentes, pelo menos na lógica fundamental do filme, as principais contradições da sociedade americana de hoje. EASY RIDER, de Dannl. Hooper Em reposição , agora com o chamariz da versão integral. Na o auge de um itinerário linha de certo cinema norte-americano, que pretende mostrar a outra face dum império corroído pelas contradições do capitalismo, no seu último estádio . Tanto a propósito deste, como de outros filmes, se poderia dizer que a jovem geração marginal , a da chamada «contra-cultura», para além do possível interesse sociológico que suscitará, constitui (ain da ) um rico negócio para o «establishment» que dizia recusar. Nos limites das soluções idealistas, para o combate à vio .l ência e à desumanidade dessa sociedade, se encerra o filme, que pelo menos m ostra que as corridas fáceis e solitárias não conduzem a solução nenhuma. 31 a flauta mágica Em torno de A FLAUTA MÁGICA de Bergman/Mozart Aquilo que terá sido evitado pela maior parte das pessoas que se debruçaram sobre a obra, foi o tentar responder à questão: porque é que Bergman , depois de todos os filmes que fez, especialmente os últimos, foi desencantar (e de que maneira!) uma das mais complexas composições operáticas de W. A. Mozart? Para quem saiba que a ópera de Mozart é uma ópera maçónica (Mozart tinha aderido em Dezembro de 1784 à maçonaria e o seu libretista - Schickaneder -, que foi também o criador de Papageno , era um importante «maçon .. ) a resposta estará na revelação de Bergman como um aderente ou simpatizante da Maçonaria ... A ilação não nos parece de modo algum evidente e além disso afigura-se-nos irrelevante para a questão fundamental que pretendemos põr: a importância polftica, aqui e agora, do filme considerado . É certo que havia na ópera original a preocupação de tomar conhecidos do público vienense dos finais do século XVIII os ritos de iniciação maçónica e nio só; há todo um esforço de construção do texto (poético e musical) como resultante e em função da propagação de uma filosofia muito mais ampla que a ideologia maçónica e de que a maçonaria era, à época , a portadora politica e organizativa (sendo as camadas antiaristocráticas o seu suporte de classe) : uma filosofia iluminista, que acredita n o poder mágico universal da Natureza (no seu panteísmo deificador da Natureza mas não menos anticatólico); que acredita na possibilidade de o homem, pelo amor e pela sabedoria, poder elevar-se à categoria de Deus e realizar na Terra o reino dos deuses ; que acredita na capacidade de o homem pelo seu esforço ("por meios humanos»). ascender ao conhecimento de todos os segredos da vida e tornar-se senhor do seu destino;que acredita num modelo de sociedade baseado na fórmula Li- berdade-Igualdade-Fraternidade (e noutras inúmeras correlativas como Amor-Beleza-Harmonia) e feito à semelhança da seita maçónica, em que «as decisões são tomadas colectiva e democraticamente entre os que reconhecidamente mais provas deram do seu saber e dedicação» e o governante escolhido entre estes; que acredita «certo potencial revolucionário» (e deste modo se poderá cumprir a prática materialista: no acto e na fonna como se põe e no que se põe): a obra é-nos «desmontada» formal e ideologicamente através do revelar (não verosimilista mas realista, ainda que de um universo mágico se trate) das interconexões dialéticas dos diversos elementos afirma o universalismo e a permanência do melhor desses valores em toda a humanidade (na «abertura», são utilizados os ritmos musicais para percorrer com a câmara o público que «assiste» à ópera: todas as etnias e todas as idades). O que está ausente na obra de Bergman - e que quanto a nós será significantes do texto (o mágico, os mitos, as figuras, os diversos tipos de valores, as ideias condutoras da lógica narrativa, etc.) e destes com o significante fílmico em si, através de processos riquíssimos que vão desde o sublinhar distanciador dos enunciados ideológicos separáveis, às constantes referências ao mundo plástico e estético dos finais de setecentos. O filme, por estranho que à primeira vista possa parecer, dada a beleza e harmonia irradiantes, apresenta-se como uma espécie de acusação: através da desmontagem ideológica de valores que já foram da (transportados pela) burguesia, o filme confronta-se com a realidade de hoje tomando clara a ausência e a perda desses valores pela burguesia, ao mesmo tempo que talvez o único aspecto em que a sua prática cinematográfica não poderá ser qualificada de integralmente materialista - será a análise de classe da permanência superada de alguns desses valores e os seus novos portadores: os explorados e oprimidos de todo o mundo e os povos que conquistaram já a sua libertação. Sem esta análise a obra de Bergman poderá ficar perigosamente exposta ao olhar retrospectivo e nostálgico de um paraíso áureo perdido. ~':.';.," . ..• !;i\..!" " na vitória da Luz e da Sabedoria sobre as Trevas e o Obscurantismo - uma filosofia, um projecto de vida e de luta adequados à época em que a burguesia, aliada a todas as camadas antiaristocráticas, lançava a ofensiva revolucionária da sua história contra as velhas monarquias absolutas. Julgamos que é no abandono por parte da burguesia de valores que assumiu nos seus tempos áureos de classe revolucionária e que ainda manteve durante algum tempo do seu domínio, que está uma das «chaves» para a compreensão da realização deste filme por Bergman . O texto filmico não se limita a uma encenação e à filmagem da ópera mas sim a um põr (quase materialisticamente) em cinema uma obra que ain~a hoje conserva um Garantir um grande leque de assinantes para LG , contribuindo para a estabilização financeira da revista, eis uma tarefa de primordial importância. Para nós e para ti. Para ti, que passas a receber, sem mais complicações, regularmente , no início de cada mês, a tua revista . Que gastas menos dinheiro, recebendo exactamente o mesmo que o não assinante . E que te habilitas ainda a umas surpresas ... que oportunamente divulgaremos. Quem tiver ficado com interesse em adquirir a versão original da ópera, poderá procurar nas discotecas as versões dirigidas por Karl Bõhm , H. von Karajan ou O . Klemperer. vamos • aSSInar o FICHA DE ASSINANTE Nome Escola - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - idade Morada desejo tomar-me assinante • por 1 ano (100$00) O • por 1 ano / assinatura de apoio (200$00) O - enviar para : Linha Geral, Rua Sousa Martins, 8, 2.° - LISBOA gera • As Zebras - (1939-1960), tapeçaria em lã Bladan (1959), acryl sobre tela Pronuncia-se o nome: Victor Vasarely. Para alguns, a associação é imediata: ..op'art». O imenso prazer visual do espectáculo óptico. .Cyõzõ» Vésárhelyi. Nascido em Pécs, Hungria meridional, frequenta a escola de Sandor Bortnyik, que procurava seguir, em Budapeste, os caminhos abertos pelos pioneiros da a_h.... Parte, como outros, ..à conquista de Paris». Toma-se célebre no mundo inteiro. Vasarely, 1976: .Aproxima-se o fim duma arte pessoal destinada a uma élite refinada; caminhamos direitos a uma civilização glObal regida pelas ciências e técnicas. Vai ser necessário integrar a sensibilidade pléstica num mundo concreto». Coerente com o seu projecto, às fundações de arte que criara em Gordes e Aix':en-Provence acaba de acrescentar uma terceira, na sua cidade natal, enriquecida doravante com mais de 50 quadros e tapeçarias, 57 serigrafias e 11 múltiplo. do artista. • Trata-se de provocar ao nivel da retina agressões ou impressões que suscitarão através do sistema nervoso uma repercussão sobre todo o ser. Os efeitos estimulantes e harmonizadores começarão por tocar o nosso terreno emotivo sensivel para atingirem finalmente o intelecto». Nas suas obras espelha-se uma rigorosa programação. É preciso que, a partir do registo dos elementos integrantes e dos dados técnicos, seja possivel .. re-criar». Nisso reside .a duração e autencidade da obra actual ... Se ..a forma pura e a cor pura podem significar o próprio mundo», esta arte propõe-se também ombrear com os grandes espaços arquitectónicos para ..transformar a desoladora monotonia quotidiana dos deserdados num ambiente de beleza e de alegria ...• Para Vasarely, materialista, a criação pléstica é a busca das estruturas mais profundas do universo ... E, no crepúsculo de .. uma arte pessoal destinada a uma élite refinada .. , vem travando uma luta multiforme para que os seus trabalhos possam cumprir, entre as malhas duma sociedade assente no lucro e na exploração, a finalidade para que foram criados: dar o méximo prazer estético ao maior número possivel de homens e mulheres de todo o mundo.