UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA CRISTIANE DE OLIVEIRA SANTOS A IMPORTÂNCIA DA VISUALIZAÇÃO NO ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL JUSSARA-GO 2009 2 Cristiane de Oliveira Santos A IMPORTÂNCIA DA VISUALIZAÇÃO NO ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Matemática, da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Jussara, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Matemática, sob orientação da professora Ms. Stela Mares Corrêa. JUSSARA-GO 2009 3 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por ter dado força e coragem para superar as dificuldades encontradas no caminho. A minha família, pelo apoio incondicional em todos os momentos de realização deste trabalho. A todos que me acolheram em suas casas e se esforçaram comigo para conquistar mais uma vitória. 5 A Geometria faz com que possamos adquirir o hábito de raciocinar, e esse hábito pode ser empregado, então, na pesquisa da verdade e ajudar-nos na vida. Jacques Bernoulli 6 RESUMO O referido trabalho constitui uma breve investigação destinada a mostrar a importância da visualização no processo de ensino-aprendizagem da Geometria Plana e Espacial, compreendendo sua importância como conteúdos essenciais da Matemática por suas inúmeras possibilidades de aplicação nas diversas áreas do conhecimento e no cotidiano. Busca-se por meio deste refletir o papel da visualização no desenvolvimento do pensamento geométrico. Embasado nas pesquisas, propõe-se demonstrar que a visualização torna-se uma ferramenta importantíssima para ampliar as capacidades intuitivas de percepção e representação, e contribui para a solução de problemas matemáticos e de outras naturezas. Relata-se no presente trabalho como se dá o desenvolvimento da geometria como ciência do espaço e estrutura lógica. Para discutir seu ensino, necessita-se conhecer como se estrutura no currículo escolar e quais seus objetivos quanto à formação dos alunos. Enfatiza-se as etapas de construção do conhecimento matemático e os processos de formação das capacidades espaciais com enfoques teóricos de Gardner e Piaget, além de retratar a visualização como habilidade a ser desenvolvida e como recurso a ser utilizado. Finalmente, a pesquisa permite conceber a Geometria Plana e Espacial como instrumento de leitura do mundo e a visualização como meio fundamental para a construção do saber geométrico, visando produzir conhecimento real e significativo que colabore para o avanço científico, tecnológico e social da Matemática. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO 1 A GEOMETRIA COMO CIÊNCIA DAS FORMAS E DO ESPAÇO E COMO ESTRUTURA LÓGICA 10 1.1 Um pouco de História 10 1.2 Considerações sobre o ensino da Geometria Plana e Espacial 13 1.3 A construção do espaço e das relações espaciais segundo Piaget 15 1.4 Do concreto ao abstrato 16 CAPÍTULO 2 A VISUALIZAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO GEOMÉTRICO 19 2.1 A construção do pensamento geométrico 19 2.2 Da visualização à representação 21 2.3 O desenvolvimento da inteligência espacial 27 2.4 Educação visual 31 CAPÍTULO 3 O ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL PELA VISUALIZAÇÃO, ATRAVÉS DA EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 33 3.1 Visualizando a Geometria Plana e Espacial nas Criações Humanas e da Natureza 33 3.2 Os recursos visuais no ensino da Geometria Plana e Espacial 35 3.3 A importância da visualização na resolução de problemas 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS 42 BIBLIOGRAFIAS 43 ANEXO 45 8 INTRODUÇÃO O presente trabalho se origina da preocupação com o ensino da Geometria Plana e Espacial. Experiências pessoais e vivências escolares revelam uma desmotivação na aprendizagem da Geometria associada às dificuldades na compreensão de conceitos, demonstrações e aplicações do referido conteúdo. Analisando opiniões de alunos, demonstram que o ensino da Geometria tem se apresentado rigorosamente abstrato, com transmissão de regras e memorização de fórmulas através de intensivos exercícios técnicos. Diante desse cenário, o objetivo deste trabalho é proporcionar uma reflexão sobre a importância de se promover um ensino dinâmico que leve em consideração as necessidades de aprendizagem dos alunos, ajudando-os a compreender o espaço que os cercam e utilizar o conhecimento geométrico e matemático em benefício das demandas cotidianas. Tem-se como propósito e diretriz básica deste, compreender a importância exercida pela visualização na construção do pensamento geométrico e refletir seu papel na formação de sujeitos ativos e críticos, capazes de atuar de forma participativa no processo de ensinoaprendizagem. Há muito tempo se reconhece que a matemática é de imensa importância na vida, porém, pouco se explica sobre quando usá-la e como, em quais situações serão úteis e de que forma essa tem contribuído para o desenvolvimento da humanidade. Por isso faz-se importante conhecer sua história e evolução, os caminhos tomados por ela ao longo dos tempos, de quais necessidades emergiu e quais seus objetivos de ensino. O desenvolvimento do tema “A importância da visualização no ensino da Geometria Plana e Espacial” é apresentado em três capítulos. Utilizamos a pesquisa bibliográfica tendo como referenciais maiores, Fainguelernt (1999), Gardner (1994), PCNs (1997) e Polya (1995). O primeiro capítulo, recorre a história da Geometria para verificar que todo conhecimento parte de uma necessidade e vai se transformando de acordo com as exigências da mesma. Relata-se neste, como a Geometria se organizou com o sistema lógico, partindo da exploração de formas no espaço e direcionando para o domínio de operações mentais, formalização de ideias, fase de rigor matemático na validação de proposições, conhecido como processo de abstração. O referido capítulo aborda questões relacionadas às propostas 9 curriculares do ensino da Geometria Plana e Espacial para os dias atuais. Trata-se ainda de analisar de que maneira a visualização auxilia no desenvolvimento mental dos indivíduos. No capítulo dois, lançamos o olhar para as relações entre visualização e desenvolvimento do pensamento geométrico. Comenta-se sobre o processo em que o aluno, pelo domínio de imagens visuais, torna-se capaz de representar mental e materialmente o espaço que o cerca. Ainda no mesmo, discute-se como se desenvolve a inteligência espacial e reflete-se sobre as informações visuais, acreditando ser necessário educar nossos sentidos perceptivos para se construir as capacidades espaciais. Reconhecendo que uma das grandes dificuldades dos alunos em relação à Geometria está na falta de conexão do seu ensino com a realidade, o terceiro capítulo aborda meios de visualizar a presença da Geometria Plana e espacial no cotidiano. Tem-se como proposta deste, compreender a importância dos recursos visuais no processo de ensino-aprendizagem e nas aplicações geométricas, bem como entender a visualização como instrumento valioso para resolver problemas. Este trabalho permite um mergulho no mundo geométrico e nos processos de visualização que levam o aluno ao conhecimento e representação do espaço. A importância de se discutir a visualização está no fato do grande número de habilidades que esta desenvolve nos indivíduos e os processos cognitivos que ela envolve. Compreender sua utilização na Geometria Plana e Espacial e sua relevância para a aprendizagem e construção de competências espaciais individuais é o que fomenta nossa pesquisa. 10 CAPÍTULO 1 A GEOMETRIA COMO CIÊNCIA DAS FORMAS E DO ESPAÇO E COMO ESTRUTURA LÓGICA Na maior parte das ciências, uma geração põe abaixo o que a outra construiu, e o que a outra estabeleceu a outra desfaz. Somente na Matemática é que cada geração constrói um novo andar sobre a antiga estrutura. Hermann Hankel Ao longo deste trabalho estaremos analisando as questões matemáticas que envolvem a Geometria, que no início de sua história revelava-se como uma ciência puramente experimental, e que a partir da utilização do método dedutivo começa a ser considerada um sistema lógico. Buscaremos perceber como o seu ensino está estruturado em nossos dias atuais e como se constrói as relações espaciais nos alunos. Além disso, retrataremos como acontece a passagem do espaço concreto para o abstrato. São em torno de problemáticas como estas que desenvolveremos nossa discussão em cima do assunto proposto que é o da Geometria em duas temáticas, a Plana e a Espacial. 1.1 Um pouco de História Há dúvidas quanto a origem da geometria, mas sabe-se que esta tem raízes muito antigas. Indícios históricos apontam para o nascimento da Geometria como forma de satisfazer as necessidades humanas e solucionar problemas práticos. De acordo com o Dicionário Enciclopédico (2008), desde 2000 anos a. C os babilônios já utilizavam a Geometria como forma de demarcar territórios. Aproximadamente 1300 anos a. C os egípcios também empregavam a Geometria para medir terrenos e em suas edificações. Na Grécia estava ligada a medir terra, o que explica a origem da palavra criada pelos gregos; Geo significa terra e metria significa medida. Com base no Dicionário Enciclopédico (do site somatematica), observamos que a Geometria utilizada era rudimentar e prática. Ela consistia em utilizar-se de conhecimentos sobre o espaço para solucionar problemas práticos, tais como construir moradias, tecer, confeccionar vasos e potes, além de tecidos e cestas. Segundo Boyer (1996), estas formas de construir objetos demonstrava que já se utilizava a congruência e a simetria. Segundo Boyer (1996), os documentos históricos revelam que os egípcios antigos já calculavam áreas geométricas. Para a comprovação disso ele afirma que há exemplos de triângulos, trapézios retângulos e quadriláteros gerais. De acordo com o mesmo autor, as 11 pessoas calculavam a área de quadriláteros fazendo o produto das medidas aritméticas de seus lados opostos. Baseando em situações geométricas particulares, os indivíduos buscavam soluções gerais que pudessem resolver todos os problemas de origens semelhantes. O procedimento utilizado era o que hoje chamamos de método indutivo. Para alguns historiadores, essa Geometria era considerada um reflexo das observações e experiências feitas pelo homem, consistindo na observação do espaço e de formas e realização de medidas. Embora de grande importância e valor, os conhecimentos geométricos não apresentavam consistência científica. Os fundamentos eram de natureza experimental, sem base em princípios matemáticos. Dessa forma a Geometria se apresentava com noções geométricas construídas intuitivamente e desconexas, sem organização lógica. Pela necessidade de calcular áreas, havia uma busca por uma construção de modelos que expressem a necessidade de validar determinadas propriedades. As propriedades geométricas aceitas com base na experiência, de maneira intuitiva, já não eram suficientes para solucionar seus problemas, o que levou o homem a buscar um método que provasse e demonstrasse as propriedades por meio de raciocínios matemáticos lógicos e coerentes. Para Boyer (1996), os primeiros a utilizarem o método dedutivo, foram os gregos Tales de Mileto e Pitágoras de Samos que deram uma nova forma ou maneira de interpretar a Geometria. De acordo com o mesmo autor, se atribui a Tales os teoremas de que, o diâmetro é a bissetriz de um círculo, em um triângulo isósceles os ângulos da base são iguais, na interceptação de duas retas os ângulos opostos formados são iguais e por fim, dois triângulos são congruentes se dois ângulos e o lado comum aos ângulos de ambos são iguais. Á Pitágoras é atribuído o teorema do triângulo retângulo, hoje enunciado, no triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. De acordo com escrituras antigas, os pitagóricos (discípulos de Pitágoras) conheciam alguns dos poliedros regulares; o tetraedro, o cubo e o dodecaedro. Como símbolo da escola pitagórica, o pentagrama ou pentágono estrelado é considerado de grande especialidade. Partindo de um polígono retangular de cinco lados e traçando as cinco diagonais, a interceptação das diagonais formam um outro pentágono proporcional ao primeiro (ver anexo 1). Outro personagem importante na Geometria é Platão. Atribui-se a ele a descoberta dos poliedros regulares, que por tal motivo, também são conhecidos como poliedros de Platão. Embora Tales e Pitágoras sejam considerados os pioneiros do raciocínio dedutivo, a maioria dos historiadores afirmam que foi com o matemático grego Euclides, por volta de 300 anos a. C que se deu a sistematização e ordenação lógica dos conhecimentos geométricos da época, 12 contribuindo para o desenvolvimento da Geometria. Por meio de sua obra “Os elementos” que reunia treze livros dos quais nove são tratados da Geometria Plana e Espacial, conhecemos os postulados e axiomas de Euclides, que faz parte do ensino até os dias atuais. A seguir, apontaremos os cinco postulados e os cinco axiomas de Euclides segundo Boyer (1996). Mas antes, vale lembrar que postulados e axiomas são afirmações aceitas como verdade que não necessitam de prova ou demonstração. Postulados são: 1. Traçar uma reta de qualquer ponto a qualquer ponto; 1. Prolongar uma reta finita continuamente em uma linha reta; 2. Descrever um círculo com qualquer centro e qualquer raio; 3. Que todos os ângulos retos são iguais; 4. Que se uma reta cortando duas retas faz os ângulos interiores de um mesmo lado menores que dois ângulos retos, as retas, se prolongadas indefinidamente, se encontram desse lado em que os ângulos são menores que dois ângulos retos. Axiomas são: 1. Coisas que são iguais a uma mesma coisa, também são iguais entre si; 2. Se iguais são somados a iguais, os totais são iguais; 3. Se iguais são subtraídos de iguais, os restos são iguais; 4. Coisas que coincidem uma com a outra são iguais uma a outra; 5. O todo é maior que a parte (Boyer, 1996, p. 73). De acordo com os matemáticos se atribui a Euclides os teoremas de congruência de retângulos, construções simples com régua e compasso, desigualdades relativas a ângulos e lados de triângulos, propriedades das retas paralelas e teoremas sobre paralelogramos. Segundo Boyer (1996), “Os elementos” de Euclides apresentam proposições da Geometria Espacial. Há definições de sólidos regulares, medidas de figuras, provas do volume de pirâmides, cones, cilindros e esferas. Euclides prova que não pode haver outros poliedros regulares além do tetraedro, octaedro, hexaedro, icosaedro e dodecaedro. A obra referida é considerada como o livro da organização lógica geométrica e seu autor um dos grandes precursores da sistematização dos conhecimentos geométricos e matemáticos tornando seus teoremas válidos até hoje. Portanto, a Geometria parte de estudos da observação de formas e do espaço e se completa como estrutura lógica, com princípios matemáticos norteadores. 13 1.2 Considerações sobre o ensino da Geometria Plana e Espacial A Geometria é conceituada como Ciência que investiga o espaço, as formas que pode conter e as propriedades dessas formas. Como parte da matemática, estuda as propriedades, medidas e relações de pontos, linhas, ângulos, superfícies e sólidos. A Geometria Plana é a área que estuda as representações em superfícies planas, sem espessuras, geralmente formas em duas dimensões, enquanto a Geometria Espacial se encarrega dos sólidos e formas tridimensionais. Caracterizando-se como alguns dos conteúdos essenciais da Matemática, a Geometria Plana e Espacial é vista como naturalmente interessante para os alunos, por ser de fácil visualização sua aplicabilidade nas diversas áreas do conhecimento e no cotidiano. Compreendendo sua importância, faz-se necessário refletir como se estrutura seu ensino e quais os objetivos da matemática nesta área. Sintetizaremos alguns dos conteúdos que são trabalhados pela Geometria Plana e Espacial e em seguida seus respectivos objetivos, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais. 1. Geometria Plana: Semelhanças e diferenças em Polígonos; Representações no Plano; Congruência e representações de figuras; Simetria; Ângulos; Áreas de polígonos. 2. Geometria Espacial: Poliedros; Sólidos redondos; Interseção, paralelismo e perpendicularismo; Inscrição e circunscrição de sólidos. Espera-se que o ensino destes conteúdos leve o aluno a dimensionar espaços, percebendo relações de tamanho e forma; observar e reconhecer formas geométricas em elementos naturais e criações humanas; identificar formas bi e tridimensionais em situações descritivas orais, construções e representações; identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para leitura, compreensão e ação sobre a realidade. 14 Os objetivos descritos revelam que o ensino da Geometria Plana e Espacial tem como um de seus focos auxiliar o aluno a reconhecer, compreender e representar o espaço que o cerca e suas formas. Assim, parte do conhecimento se dá pela percepção do espaço que para Fainguelernt (1999) está na capacidade de reconhecimento, discriminação e interpretação de estímulos no espaço partindo do mesmo. De acordo com os PCNs (1997), o ensino da geometria pode levar o aluno a estabelecer relações entre a Matemática e outras áreas, se partir da exploração de objetos do mundo físico, como obras de artes, pinturas, desenhos, esculturas e artesanato. Desse modo sugere dinamizar e utilizar a criatividade no seu processo de ensino, propondo atividades com dobraduras, modelagem de formas em argila ou massa, construção de maquetes entre outras. Os PCNs ainda destacam a importância de atividades de visualização de formas geométricas na natureza e nas criações humanas. Uma das possibilidades mais fascinantes do ensino da Geometria consiste em levar o aluno a perceber e valorizar sua presença em elementos da natureza e em criações do homem. Isso pode ocorrer por meio de atividades em que ele possa explorar formas como as de flores, elementos marinhos, casa de abelha, teias de aranha, ou formas em obras de arte, esculturas, pinturas, arquitetura, ou ainda em desenhos feitos em tecidos, vasos, papeis decorativos, mosaicos, pisos, etc. (PCNs, 1997, p. 128). O desenvolvimento de tais atividades possibilita ao aluno compreender o significado e a utilidade da Geometria Plana e Espacial, assim como estimula a curiosidade, o domínio da imaginação e favorece a potencialização da criatividade. Para Luckesi (1994), o conhecimento adquirido na escola, só é significativo e real para os alunos, se for assimilado pela compreensão, exercitação e utilização criativa. É provável, que parte das frustrações no aprendizado da Geometria, esteja no fato de que muitas vezes o ensino desta se reduz a meros formalismos com excessivas regras e fórmulas, sem compreensão de conceitos e demonstrações e às vezes sem sintonia com a realidade. Sabendo que um dos objetivos do ensino da Geometria é oferecer condições para que o aluno leia e interprete o mundo, faz-se útil refletir se o ensino da Geometria Plana e Espacial tem possibilitado concretizar tal objetivo. Que condições de leitura e interpretação estão sendo propiciadas e que tipo de leitura tem sido feita? Que tipo de leitores estão sendo formados? Vale ressaltar que uma das metas maiores da educação é formar cidadãos conscientes, críticos e ativos que sejam capazes de atuar sobre a realidade e se preciso, modificá-la. Sendo assim, o que se espera do ensino da Geometria Plana e Espacial é que contribua para essa 15 meta, de modo que, no processo de ensino aprendizagem, o aluno se sinta responsável pelo seu conhecimento, participando ativamente do saber matemático. Cabe ao professor, buscar metodologias que colabore para a potencialização das capacidades criativas de seus alunos, explorando conceitos e propriedades da Geometria Plana e Espacial, bem como exercícios de visualização e percepção do espaço, visando dar significância ao estudo da mesma, promovendo-lhes a oportunidade de compreender sua utilidade no cotidiano, na matemática e em outras ciências. 1.3 A construção do espaço e das relações espaciais segundo Piaget Para compreender como se dá a percepção do espaço e como é organizada as relações espaciais na mente do indivíduo, partimos da teoria de Piaget, visando entender de que forma é construído o conhecimento geométrico. De acordo com sua teoria, a criança descobre e compreende o mundo por meio do contato visual e físico com os objetos. A priori, sua orientação espacial tem apenas seu próprio corpo como referencial. Mais tarde, adquire consciência do espaço e dos movimentos de seu corpo e desenvolve a capacidade de deslocarse mentalmente, tendo as primeiras noções de coordenação espacial. Durante algum tempo, os objetos são percebidos pela criança apenas pelo contato direto com estes, isto significa que, ao serem retirados do campo visual e real da criança, é como se os objetos deixassem de existir. Assim, a percepção do espaço está estritamente ligado ao que a criança pode ver e tocar. Gardner (1994) considera crucial para o desenvolvimento mental, a fase em que, segundo Piaget a criança é capaz de reconhecer a permanência da existência dos objetos, mesmo quando fora do alcance de suas vistas. Uma vez que a criança reconheça a permanência dos objetos ela pode pensar neles e referir-se a eles mesmo em sua ausência. Ela também torna-se capaz de reconhecer as similaridades entre determinados objetos – por exemplo o fato de que todas as xícaras (apesar de diferenças em tamanho e cor) pertencem a mesma classe (GARDNER, 1994, p.101). Partindo da manipulação de objetos do espaço físico, a criança atribui-lhes características que posteriormente lhe possibilitará visualizá-los mentalmente. Após construir imagens mentais, a criança, através de um processo de interiorização de suas ações, pode representar seu espaço, dando significado aos objetos por meio de palavras, gestos e 16 desenhos. Fainguelernt (1999) constata que na teoria de Piaget sobre a concepção do espaço e da Geometria, o desenvolvimento da representação é descrito como a imagem mental do espaço real em que a criança atua. E de acordo com Gardner (1994), Piaget considera como estágio final do desenvolvimento, a fase em que a criança, agora adolescente, consegue raciocinar logicamente sobre suas ações e representações e realizar operações formais, como calcular a veracidade de proposições e resolver problemas, considerando assim que o pensamento lógico-racional produz o conhecimento científico. Nesta fase, é possível substituir os objetos concretos por símbolos e operar através destes. Afirma-se, assim, que a construção do espaço e das relações espaciais ocorre de modo gradual. Num primeiro instante, por meio dos sentidos e movimentos, seguidos da exploração e manipulação de objetos, a descoberta de conceitos e propriedades que permitem classificar as imagens reais e, em sequência, visualizar estas mentalmente, oferecendo condições de representar o espaço e, por fim, pelo raciocínio lógico formal e reflexão das imagens visuais e representações mentais. Há assim, a passagem de um espaço para outro, do espaço perceptivo para o de representação. 1.4 Do concreto ao abstrato Já é possível perceber até aqui, que a Geometria se constitui a partir do mundo físico, de ações sobre objetos e caminha para o domínio de operações mentais. Fora admitida a existência de dois espaços, concreto e abstrato. Por conveniência do estudo usar-se-á as seguintes definições; o concreto refere-se ao que existe materialmente, algo palpável, claramente definido, perceptível pelos sentidos. E o abstrato designa o que se baseia em ideias ou princípios gerais, e não em exemplos ou fatos reais, que existe como uma ideia ou difícil de entender. No ensino da Matemática há uma estreita relação em observar o mundo real e sua representação e fazer ligação destas com os princípios e conceitos matemáticos. Segundo os PCNs (1997), os conceitos e resultados da matemática tem origem no mundo real e permitem aplicações em diversas situações práticas do cotidiano. A abstração aparece ao tratar relações quantitativas e de formas espaciais, e o matemático utiliza apenas raciocínios e cálculos para 17 demonstrar suas afirmações. Pode-se então perguntar, se o ensino da Geometria Plana e Espacial deve iniciar com a exploração de formas e materiais concretos, como aprender a raciocinar abstratamente? Ressaltamos que pensar de forma abstrata faz parte de um processo. Inicialmente, o ambiente geométrico possibilita ao aprendiz desenvolver suas impressões sobre a estrutura matemática, necessitando basear-se em um ambiente real para interagir. Já em um estágio mais avançado, esse ambiente geométrico adquire um significado mais amplo, não precisando de um ambiente real (concreto) que o fundamente. O aprendiz já compreendeu e produziu um significado que, partindo de um número reduzido de axiomas, postulados e definições, pode constituir, por via dedutiva, um conjunto de apropriações geométricas (Fainguelernt, 1999, p. 51). Embora pareça uma capacidade inata do ser humano o desenvolvimento do raciocínio lógico e a passagem de um espaço ao outro, tais competências devem ser potencializadas, permitindo melhor aprendizagem. De acordo com Teixeira (2009), há um abismo entre a matemática intuitiva e a simbólica, resultado do caráter abstrato do ensino. Segundo a mesma, na maioria das vezes a matemática parte do abstrato, e não de situações concretas, o que causa um descompasso, pois esta habilidade (abstração) não será de fácil visualização para aplicá-la na vida diária, que normalmente exigem soluções práticas e imediatas para problemas. É comum, encontrar alunos que não gostem da matemática, porque não entendem suas fórmulas, não sabem quando usá-las e o porquê de seu uso. A abstração utilizada precocemente pode, de certa forma, “assustar” os alunos, dificultando o processo de aprendizagem e interferindo no crescimento intelectual dos mesmos. Polya (1995) sugere que o professor, para o desenvolvimento do pensamento abstrato, faça seus alunos aprenderem a demonstrar, testando, provando, formulando e interpretando. Torna-se necessário incentivar os alunos a fazer suposições e, posteriormente, construir a prova. Na resolução de problemas, aconselha-se a dar ênfase nos aspectos instrutivos da solução, levando o aprendiz a encontrar soluções gerais, a elaborar regras, o que de algum modo requer o domínio de conceitos básicos da Geometria. De acordo com Mori e Onaga (2002) a resolução de problemas auxilia as construções geométricas e exigem no ensino da Geometria o uso de instrumentos como régua, esquadro e compasso, além da habilidade de lidar com operações. Para estas o ensino da Geometria deve se iniciar empiricamente por medidas, experimentos e análises intuitivas até chegar ao trabalho de abstração, fase que pede um maior rigor na formalização de conceitos e o uso do raciocínio lógico dedutivo. 18 Considerando a abstração como a parte da matemática que soluciona problemas baseando-se em princípios gerais e operações mentais sem o auxílio de meios concretos, pode-se dizer que a mesma torna-se um dos mais altos níveis do saber matemático a ser alcançado. Gradativamente, o saber geométrico vai sendo construído. O raciocínio lógico é a principal ferramenta para que o aluno realize a passagem do concreto para o abstrato. Apossemo-nos então das palavras de Kant: “Todo conhecimento humano começa com intuições, passa a conceitos e termina com ideias” (apud. Boyer, 1996, p.). Ressalta-se assim, em concorde com Fainguelernt (1999), que o ensino da Geometria deve partir da percepção e intuição de dados concretos e experimentais, explorando os conceitos, representações e aplicações, desenvolvendo o raciocínio lógico, para chegar ao processo de abstração. 19 CAPÍTULO 2 A VISUALIZAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO GEOMÉTRICO Não a ramo da Matemática por mais abstrato que seja, que não possa um dia vir a ser aplicada aos fenômenos do mundo real. (Lobachevsky) Buscamos neste capítulo compreender como acontece o desenvolvimento do pensar e raciocinar geometricamente, tendo por objetivo demonstrar a importância da visualização nesse processo percebendo seu papel na construção da inteligência espacial. Além de analisar de que forma as atividades de percepção e representação do espaço auxiliam a aprendizagem em Geometria, e a importância de ter a visualização como um escudo para o ensino da mesma. Seria a imagem visual um auxílio ou um empecilho para a construção da geometria no meio educacional? 2.1 A construção do pensamento geométrico Capacidades de pensar e raciocinar geometricamente refere-se a habilidades como orientação espacial, coordenação de diferentes ângulos de observação, comunicação, descrição e representação do espaço e a habilidade de reconhecer a utilização da Geometria na solução de problemas matemáticos e da vida diária. Pode-se compreendê-la como sendo a competência de elaborar ideias e raciocínios ligados à relações espaciais. O desenvolvimento do pensamento geométrico está diretamente relacionado ao modo pelo qual se percebe e se interpreta o mundo, a priori pelo seu aspecto físico e não pelos seus atributos. O pensamento geométrico desenvolve-se inicialmente pela visualização: as crianças conhecem o espaço como algo que existe ao redor delas. As figuras geométricas são reconhecidas por suas formas, por sua aparência física, em sua totalidade, e não por suas partes ou propriedades (PCN: Matemática, 1997, p. 127). A base da construção do pensamento geométrico é a visualização do espaço e de suas formas. Após visualizar o espaço é possível atribuir-lhe características que permitam a criação 20 da imagem mental do mesmo. Por meio dos conceitos, propriedades, intuição, dedução e solução de problemas, faz-se uma reflexão sobre as imagens visuais e mentais que dão condições de analisar, compreender, aceitar ou negar as proposições veiculadas. O pensamento geométrico, segundo os PCNs (1997) vai do pensar no que pode ser percebido para o que se pode ser concebido. O pensamento geométrico tem ligação com o domínio do pensamento lógico matemático e este segundo Gardner (1994) é traço de um confronto com o mundo dos objetos. Considera-se que um dos principais meios para se construir o pensamento geométrico são as atividades geométricas, pois estas estimulam o raciocínio lógico, o desenvolvimento de estratégias para solucionar problemas e proporcionam contextos que desenvolvem as habilidades citadas inicialmente. Pensar geometricamente exige “saber fazer”. Isto significa que o aluno deve colocar em prática os seus conhecimentos geométricos para enfrentar diversas situações. Para tanto, este precisa exercitar a atenção, a visualização, a memória e o pensamento. Faz-se necessário propor atividades que valorizem o raciocínio lógico, a interpretação, a criatividade e a imaginação. Para os PCNs (1997) os conceitos geométricos favorecem o pensamento geométrico pois exigem dos alunos que estabeleçam relações entre definições, características e proposições matemáticas. A respeito dos conceitos, há uma ressalva: Em Matemática, os diferentes tipos de definição que se utilizam descrevem com precisão as características dos objetos aos quais estão referidas; um conceito matemático é caracterizado por seus atributos relevantes e pelas relações existentes entre eles. Porém, se estamos preocupados com a construção dos conceitos pelos aprendizes, a psicologia e a didática garantem que no processo ensino-aprendizagem um conceito ano pode simplesmente ser reduzido à sua definição, e é através da contextualização por meio de diferentes atividades e situações-problemas que ele adquire um significado para o aprendiz (FAINGUELERNT, 1999, p.75). Desse modo, julga-se que é preciso ligar conceitos geométricos a definições matemáticas, partindo de exemplos e contra-exemplos, levando em consideração o contexto nos quais os conceitos estão inseridos. Fainguelernt (1999) cita como exemplo o conceito de triângulo. Sua definição é que um triângulo é uma figura de três lados. Porém, dependendo do contexto, o conceito seria equivocadamente construído, pois três segmentos quaisquer nem sempre constroem um triângulo. Necessita-se assim de dados contextuais que proporcionem a real construção do conceito. Um conceito de triângulo com melhor contextualização poderia partir da definição de que o triângulo é uma figura composta por três lados, três vértices e três 21 ângulos. A intenção aqui, não é aprofundar no estudo de conceitos, mas demonstrar que a formação e compreensão destes contribuem para a construção do pensamento geométrico. Logo, percebe-se que a construção do pensamento geométrico tem suas raízes na visualização, e se desenvolve pela apreensão de conceitos e atividades de exploração do espaço e resoluções de problemas que envolvem neste caso o uso da Geometria Plana e Espacial. A utilização do pensamento geométrico implica na utilização dos conhecimentos matemáticos que por sua vez visam encontrar soluções para problemas de todas as áreas do conhecimento, bem como cooperar para o avanço científico, tecnológico e social da humanidade. 2.2 Da visualização à representação Como considerado anteriormente, a visualização é a base para a construção do pensamento geométrico. Fainguelernt (1999) define visualização como sendo a habilidade de perceber, representar, transformar, descobrir, gerar, comunicar, documentar e refletir sobre as informações visuais. Partindo dessa definição, visualização não é apenas o ato de ver, no sentido de utilizar um órgão sensorial. Está relacionada à capacidade de analisar o que se percebe como parte do mundo real e memorizar aspectos que caracterizem os objetos vistos. Refere-se então a contato visual físico, mas também a contato mental (imaginário) com o espaço. É comum encontrar professores que ao ensinar Geometria, utilizem a expressão popular “comer com os olhos”, designando ações como, observar atentamente, não desviar o olhar, perceber detalhes, investigar, descobrir algo. Considerando tal expressão, de fato, o que se pretende com a visualização é levar o aluno a “comer” o mundo com os olhos. Atentemo-nos para o fato de que, pessoas com deficiência visual percebem o mundo por outros meios, utilizando outros sentidos como o tato e a audição. Assim, referimos aos “olhos” como sendo o meio de exploração do espaço, considerando tanto o sistema visual como o tátil. O indivíduo cego tende a converter as experiências espaciais no número de etapas (ou movimentos de dedos) dados numa determinada direção e no tipo de movimento necessário. O tamanho descoberto através de métodos indiretos, tais com passar a mão ao longo de um objeto: quanto mais 22 movimento no tempo, maior o objeto parece ser. O indivíduo cego pode explorar indícios como retidão, curvatura e saliência de feições para reconhecer figuras mais complexas (sombras de medidas de imagens visuais) (GARDNER, 1994, p. 144). Contudo, esse trabalho limita-se ao estudo da visualização pelo meio visual “comum”, ficando os outros meios como sugestão para pesquisas posteriores. A visualização torna-se uma atividade indispensável na matemática, especialmente na Geometria, área que envolve criatividade e dinamismo no ensino. Fainguelernt (1999) argumenta que a visualização ativa o pensamento espacial e o raciocínio e que o estudo da Geometria necessita recorrer a intuição, a percepção e a representação para interpretar o mundo e compreender a matemática. Segundo a mesma, a visualização é importante porque envolve processos mentais e cognitivos essenciais para a construção do conhecimento matemático. Nas conclusões antecedentes, os objetos são primeiramente percebidos no espaço, observados e analisados, identificadas e descritas suas propriedades, classificados e conceituados e por fim representados visualmente e mentalmente. Em uma análise da teoria de Fischbein (1994), Fainguelernt (1999) constata que o espaço é percebido e construído por meio de elementos visuais. A experiência visual permite construir imagens mentais do espaço percebido e faz-se possível recriar aspectos dessa experiência. Assim, por exemplo, observando uma casa por diversas vezes, é possível mentalizá-la ou memorizá-la tendo em seguida a capacidade de desenhá-la no papel, mantendo suas características essenciais e originais. Gardner (1994) diz que a visualização contribui para o pensamento científico e artístico. Para este, o conhecimento geométrico está no domínio das relações espaciais, das imagens visuais e mentais. Para Fainguelernt (1999) a aprendizagem resulta da interpretação que é dada as sensações dos estímulos do meio ambiente, de experiências passadas, ideias, imagens, expectativas e atitudes. Afirma-se que as imagens visuais claramente definidas, organizam os dados disponíveis em estruturas significativas, estabelecendo possibilidades para solucionar problemas intuitivamente. A visualização contida numa atividade cognitiva adequada é um fator essencial para a compreensão intuitiva. As representações visuais, por um lado contribuem para a organização das informações em representações sinópticas, constituindo um fator importante de globalização. Por outro lado, o aspecto concreto das imagens visuais é um fator essencial para a criação de um sentimento de auto evidência e imediação (FAINGUELERNT, 1999, 23 p.42). Nesse sentido, pode-se dizer que a resolução de problemas com o auxilio de imagens visuais, facilita a compreensão do problema e seduzido pela visualização o aluno se sentirá motivado a resolvê-lo. Vejamos um exemplo de problema proposto por Polya (1995) e sua proposta de solução: Deseja-se calcular a diagonal de um paralelepípedo retângulo do qual são conhecidos o comprimento, a largura e a altura. Para solucioná-lo é sugerido ao professor que concretize o problema para torná-lo interessante. Considerando que a sala de aula seja um paralelepípedo retângulo, podendo medir suas dimensões, propõe-se ao aluno que calcule a diagonal da sala medindo-a. O professor indicará o comprimento, a largura e a altura da sala e com um gesto, mostrará a diagonal da sala. Transpõe-se a figura da sala para o quadro e os alunos realizam diálogos de interpretação do problema. Os alunos compreenderão que, dos dados do problema, tendo o comprimento, a largura e a altura, tem-se o paralelepípedo e determinando-o, encontrar-se-á sua diagonal. Tal exemplo nos permite analisar a importância de visualizar o problema, transformá-lo em uma situação real, concreta, que faça o aluno considerar relevante solucioná-lo. No ensino da Geometria, nota-se maior dificuldade quando se fala de três dimensões. O aluno está acostumado a trabalhar figuras planas, estáticas e sem dinamismo. Assim, quando o professor se refere ao cubo, ao paralelepípedo, o aprendiz só visualiza uma de suas faces, o que significa dizer que este vê uma figura plana e não uma figura tridimensional. A ocorrência desse equívoco pode estar no fato de o professor, ao exemplificar figuras espaciais, por exemplo, comparar o paralelepípedo com o quadro negro. Com esta comparação o aluno criará a imagem mental do paralelepípedo como sendo um retângulo, ou seja, uma figura bidimensional. Desse modo, torna-se essencial trabalhar com as representações de figuras no espaço, para que o aluno perceba que as figuras espaciais podem ser formadas por figuras planas, mas possuem três dimensões: comprimento, largura, profundidade ou volume, o que as diferem das planas, constituídas de comprimento e largura. Visualizar o espaço, portanto, não é tão fácil quanto parece, afinal estamos definindo esse ato não como um simples “olhar para o mundo,” mas numa dinâmica e sentido maior. Cabe esclarecer que a visualização e os processos visuais devem se interagir com o mundo da Geometria, dos conceitos, propriedades, definições matemáticas, pois Fainguelernt (1999) explica que é impossível formar a imagem de conceito ou identificar suas 24 características sem a visualização dos elementos que o compõe. Constata-se que a visualização amplia a visão intuitiva e global e facilita a compreensão em outras áreas da Matemática. As pesquisas feitas relacionando visualização e Geometria apontam para a visualização como um nível da construção do pensamento geométrico e alegam estar interligadas visualização e habilidades espaciais. Admitindo uma hierarquia na aprendizagem da Geometria, ou seja, seu ensino se inicia pela visualização passa a percepção e caminha para a representação, torna-se conveniente refletir a etapa de representação, sendo esta uma importante habilidade matemática. A representação consiste em formar modelos simbólicos do espaço ou ilustrar as imagens mentais. Segundo Pallascio (1992), “o papel principal da representação é a conceituação do real a fim de agir eficientemente.” Para ele , a representação visual, por um lado, tem o significado da organização material de natureza simbólica (por exemplo, desenhos, diagramas, etc.), que se refere a certas realidades ou modela etapas do processo e, por outro lado, se refere à imagem mental (FAINGUELERNT, 1999, p. 57). As imagens visuais se armazenam mentalmente, gerando a imaginação interna do espaço. A representação permite imitar essa imaginação, de forma externa. Tal afirmação nos leva de volta a teoria de Piaget. Na teoria Piagetiana, a Geometria está relacionada com a tomada de consciência do espaço, sua representação e construção de idéias matemáticas. A representação revela-se de certa forma, com a reconstrução das imagens visuais e mentais. Para se chegar a este estágio, as capacidades visuais deverão estar desenvolvidas. Como exemplos de capacidades visuais aguçadas e habilidades em representação, podemos citar os pintores, escultores, artesãos, engenheiros e pedreiros. Conta-se que Leonardo da Vinci ao ver uma cabeça ou uma barba estranhos ou um cabelo de aparência incomum, seguia a pessoa o dia inteiro e assim o decorava, de modo que ao chegar em casa, desenhava-a como se esta estivesse presente. Algumas de suas obras retratam fielmente cenas e objetos, vistos apenas uma vez. Os trabalhos nas áreas de Artes plásticas têm início na observação do mundo cotidiano. Alguns artistas costumam utilizar a expressão de que a ideia tem que surgir de uma imagem. Ainda na área das Artes, considerando alta capacidade de visualizar e representar formas e o espaço, destaca-se Pablo Picasso, especialmente seus trabalhos com a Geometria. Picasso foi um dos principais representantes do Cubismo, movimento artístico surgido no início do século XX, cuja pintura submete objetos à superfície bidimensional da tela, simplificando as formas até reduzi-las ao cone, ao cilindro e a esfera, girando-as no plano, 25 provocando a ilusão tridimensional. Seus quadros apresentam figuras, cuja composição dá a impressão de serem pequenos cubos. A habilidade de Picasso, com a visualização e representação se faz notável. Este retratava formas geométricas presentes nos objetos cotidianos, construções e até em seres humanos. Suas figuras (anexo 2, 3 e 4) falam por si e revelam todo seu talento visual e espacial. Outro artista de notáveis habilidades foi o holandês Maurits Corneles Escher, considerando como o gênio criador de gravuras. Suas obras são marcadas pelos efeitos visuais que levam o observador a olhar diversas vezes para perceber suas composições. Escher utilizava a isometria no plano, figuras de poliedros, linhas, círculos. Suas representações dão a imagem de movimento às figuras. Suas composições revelam sua preocupação em criar padrões geométricos e o preenchimento de superfícies. As figuras (anexo 5, 6 e 7) mostram um pouco do trabalho de Escher. Na figura 5 por exemplo, as linhas circulares brancas se interceptam dividindo-se em fragmentos, que por sua vez tem sempre o comprimento de um peixe e as linhas indicam os trajetos em que se movem fileiras de peixes. A figura 6 retrata pássaros que se deslocam de forma simétrica. Na construção da figura 7, o círculo se divide em seis setores que apresentam anjos sobre um fundo preto e demônios sobre um fundo branco. Segundo Fainguelernt (1999), Escher utilizava-se da Matemática para ampliar sua percepção e exploração, isto enriquecia seu trabalho gráfico, que se baseava em visualizações e representações. Nesta forma de trabalho, ou melhor, verdadeiras obras artísticas não poderíamos deixar de mencionar o trabalho dos pedreiros e engenheiros ou arquitetos. Isso porque eles possuem a habilidade de projetar construções, mesmo sem tê-las visto. Forma-se uma imagem mental, ou seja, idealiza-se a construção, de maneiras que podem ser materializadas. A importância de reconhecer a presença da visualização e representação nas diversas áreas, algumas profissionais, mostram que o conhecimento geométrico e matemático tem aplicabilidade na vida e em diversas ciências. O que se deseja e se propõe é que a escola e o professor de Matemática desenvolvam atividades que permitam os alunos explorarem o espaço físico, visualizando-o e o representando. A proposta não é um “curso intensivo” em visualização e representação e não se espera formar necessariamente um Picasso ou um Escher. O objetivo aqui, é que o aluno seja capaz de construir conhecimento significativo para que possa satisfazer suas necessidades e solucionar problemas, além de compreender a Geometria Plana e Espacial como parte da 26 realidade. Assim, sugere-se que sejam realizadas sempre que possível, atividades de visualização e representação em trabalhos com construções de figuras geométricas bi e tridimensionais, com a utilização de mosaicos e Tangram, quadros artísticos, criações de escultura com argila e o uso do computador e softwares matemáticas com foco em Geometria. Porém, a utilização dos recursos visuais, bem como as atividades de visualização e representação com seus respectivos objetivos, serão abordados com mais esclarecimentos e detalhes no decorrer do trabalho. Ressalta-se por fim, que a visualização e representação, favorece o desenvolvimento das capacidades espaciais e contribuem para a construção do pensamento geométrico, conferindo a Geometria Plana e Espacial dinamismo, criatividade e significado real permitindo uma melhoria na aprendizagem dos referidos conteúdos. 2.3 O desenvolvimento da inteligência espacial Em virtude da reflexão proposta sobre a visualização e a representação, nota-se que o pensamento geométrico tem estrita relação com habilidades espaciais, envolvendo o domínio de uma inteligência particular que desperta novos questionamentos, tais como, o que se entende por inteligência espacial? Como a inteligência espacial se desenvolve? Todos nós somos capazes de possuí-la ou esta é uma inteligência somente para pessoas super dotadas? Em busca de respostas para estas indagações, torna-se indispensável discutir a teoria de Howard Gardner (1994), um dos principais estudiosos dos potenciais humanos. Ele pressupõe a existência de sete tipos de inteligências, entre elas a inteligência espacial, parte do nosso objeto de estudo. De acordo com Gardner (1994, p. 135), “centrais à inteligência espacial estão as capacidades de perceber precisamente o mundo visual, transformar e modificar sua percepção inicial e ser capaz de reproduzir aspectos da experiência visual, mesmo sem a presença de estímulos físicos significativos.” Trata-se portanto, da habilidade de perceber o espaço e representá-lo ainda que em situações não concretas, ou seja, inicia-se manipulando formas em várias dimensões e termina-se representando imagens mentais. Considera-se a inteligência espacial relacionada à capacidades como a de identificar exemplos de um elemento e reconhecer sua transformação em outro elemento, a evocação de formas mentais e a produção de representações gráficas do espaço. De acordo com Gardner 27 (1994), as capacidades espaciais têm diversas importâncias e aplicações. Elas são importantes para a nossa orientação em várias localidades, desde aposentos até oceanos. Elas são invocadas para o reconhecimento de objetos e cenas, tanto quanto estes são encontrados em seus ambientes originais como quando algumas circunstâncias da apresentação original foram alteradas. E eles também são utilizados quando trabalhamos com representações gráficas utilizados quando trabalhamos com representações gráficas – versões bidimensionais ou tridimensionais de cenas do mundo real – bem como outros símbolos como mapas, diagramas ou formas geométricas (GARDNER, 1994, p.137). A teoria da inteligência espacial admite sua origem na ação sobre os objetos. O domínio de operações concretas possibilita a manipulação ativa das imagens e dos objetos no conhecimento do espaço. Através de operações mentais, é possível reconhecer como seria um objeto girado no espaço ou como se apresentaria visto por outro ângulo, como as pessoas em espaços diferentes analisam uma mesma cena. Assim como um filme assistido por diversas pessoas provocam sensações e interpretações distintas do mesmo, uma cena ou um objeto do espaço, observados em vários ângulos despertam visões e percepções diferentes em cada indivíduo, no observador. Pelas diversas interpretações que os objetos e cenas no espaço real e mental proporcionam, sugere-se que o desenvolvimento espacial tenha ligação com o domínio da imaginação, que nessa abordagem não está relacionada à fantasia ou ilusão, mas à capacidade de criar imagens e memórias visuais. Não consiste necessariamente em decorar objetos e imagens, mas em estabelecer vínculos entre relações espaciais e proposições. A inteligência espacial é para Gardner (1994) o entendimento do meio espacial. De acordo com ele, os primeiros indícios de inteligência espacial se encontram na infância. Crianças, por volta de três anos são capazes de refazer rotas, mas não ainda de descrevê-la. Aos poucos ela desenvolve sua capacidade de orientação e estabelece relações de vizinhança. Considera-se fase importante para o desenvolvimento da inteligência espacial, quando a criança é capaz de determinar mentalmente marcos de um trajeto que o permita reconhecelo. Essa capacidade permite a formação da imagem mental do trajeto, o que leva a criança a visualizá-lo mesmo sem tê-lo percorrido. Um exemplo da capacidade descrita acima é a habilidade de chegar a um determinado local sem a utilização de um mapa ou desenho do trajeto. Apenas com informações a respeito do caminho é possível visualizar este e encontrar o lugar que se procura. De certa forma, se conhece o caminho pela sua descrição. Em contrapartida, não conhecer o espaço e não ter sua descrição torna-se um problema. Se alguém entra em uma floresta desconhecida por um 28 determinado local, suas chances de retornar ao ponto de origem são poucas, a menos que marque de alguma forma o percurso feito. Vale esclarecer que a inteligência espacial envolve a abstração, pois requer operações mentais para visualizar o espaço físico, não envolvendo meios concretos. Dessa forma, utilizar mapas ou marcas para encontrar o caminho de volta da floresta não caracteriza uma capacidade de inteligência espacial, mas apenas astúcia. Caso de inteligência espacial seria entrar em uma floresta desconhecida tendo o mapa desta “na cabeça” e não nas mãos e encontrar o caminho de volta. Fundamental para o desenvolvimento da inteligência espacial é o conhecimento do espaço, primeiro materializado e depois idealizado. Gardner sugere algumas atividades para testar se o indivíduo possui inteligência espacial desenvolvida (ver anexo 8) e alguns problemas que exigem a necessidade da criação de imagens mentais. Primeiramente, imagine um cavalo. Que ponto é mais elevado, o zênite da cauda do cavalo ou a parte mais inferior da cabeça do cavalo? Imagine um elefante e um rato. Agora imagine os cílios de cada criatura. Qual leva mais tempo para focalizar com maior nitidez? Imagine a pia e a sua cozinha. Que torneira controla a água quente? Ou, para concluir esta série, imagine um campus ou uma praça com a qual você esteja familiarizado. Marque seu tempo enquanto você examina cuidadosamente, em série, cada edifício e agora compare o tempo que passou quando você examinou de um lado do campus (ou praça) até o outro (GARDNER, 1994, p.134). As propostas de exercícios citadas permitem que o aluno possa evocar figuras em sua ausência e ter noções do espaço tridimensional, desenvolvendo seu raciocínio mental e abstrato. Exemplos da inteligência espacial aguçada se encontram na pintura e escultura, artes que exigem a sensibilidade para o mundo visual e espacial. Os artistas demonstram preocupações com suas percepções espaciais e em como reproduzi-las em suas obras. Gardner (1994) expõe algumas dessas preocupações, como as de Van Gogh em conhecer leis de proporção, de luz, sombra e perspectivas para desenhar bem, sem as quais ele nada podia produzir. O trabalho com escultura revela a capacidade do homem de recriar o mundo visual e espacial através da modelagem. Nas mais diferentes culturas é possível perceber a utilização da inteligência espacial, seja em jogos ou atividades cotidianas. O povo do Shongo no Congo possui um jogo no qual alinhamentos complexos são desenhados na areia e o jogador deve copiar um alinhamento num caminho único sem levantar um dedo da terra ou retraçar qualquer segmento de linha. (…), os esquimós desenvolveram um elevado grau de 29 capacidade espacial, possivelmente devido à dificuldade de orientar-se em seu meio. Eles devem ser capazes de detectar pequenas rachaduras no gelo (…). também para encontrar o caminho de volta a algumas poucas casas na Tundra, o caçador deve prestar atenção no ângulo e à forma de pequenos montículos de neve (Gardner, 1994, p. 156). Outros povos utilizam-se as estrelas como pontos referenciais para navegar. Memorizam-se os pontos ou direções onde nascem e se põem determinadas estrelas, dessa forma, o caminho é visualizado e assim conhece-se o seu destino. Com base na teoria de Gardner, pode-se afirmar que a inteligência espacial tem quase o mesmo significado que a inteligência visual, pois tem como exigência o domínio da visualização e percepção do espaço físico e sua idealização. Considera-se que todos os indivíduos podem desenvolver inteligência espacial, embora haverá sempre aqueles que se sobressaiam em determinadas habilidades, pois quaisquer que seja as inteligências, estas se desenvolvem de modos diferentes em cada indivíduo. O que não se deve acontecer é a escola garantir oportunidades de desenvolvimento dessa inteligência somente para alguns, os quais consideram aptos ou bem dotados para possuí-la. É preciso então, reconhecer a importância da democratização do ensino, oferecendo condições iguais de aprendizagem para todos, visando a formação plena dos aprendizes permitindo seu crescimento pessoal e intelectual. O ensino da Matemática, especialmente da Geometria Plana e Espacial, assume-se como um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência espacial nos alunos, cabendo a ele a tarefa de ensino eficaz, criativo e prazeroso. Admitindo que o desenvolvimento da inteligência espacial depende da visualização e representação, torna-se de suma importância, ensinar a Geometria Plana e Espacial partindo de atividades que explorem tais habilidades. Propõem-se atividades que estimulem o aluno a pensar em termos de relações espaciais, perceber espaços, movimentos, transformações e representações do espaço. Como exemplos, estão os trabalhos que envolvem rotação e translação de figuras no plano. Tais como, os mosaicos que de acordo com Madsen Barbosa (apud Fainguelernt, 1999, p. 76), “a construção de mosaicos ainda que não seja difícil do ponto de vista artesanal, em certos casos reflete em seus padrões uma interseção curiosa e atraente com a imaginação geométrica.” Outro exemplo de trabalho ou para o trabalho é a utilização do computador que permite realizar simulações e construir procedimentos, dando dinamismo ao ensino da Geometria. Entre os recursos computacionais, encontra-se o LOGO que oferece condições de 30 visualização e representação do espaço. Os PCNs (1997), sugerem atividades de construção de itinerários, relatos orais do trajeto de casa até a escola, desenhos do trajeto, além de trabalhos com malhas, diagramas, tabelas e mapas. Uma outra atividade proposta é a construção de plantas e maquetes e a descrição de suas representações. Os PCNs afirmam que esta pode “dar ao professor uma visão do domínio geométrico de seus alunos” (1997, p. 128). Assim sendo, o espaço e sua exploração é o principal meio para o desenvolvimento da inteligência espacial. O aluno deve ser incentivado, por exemplo, a identificar posições relativas dos objetos, a reconhecer no seu entorno e nos objetos que nele se encontram formas distintas, tridimensionais e bidimensionais, planas e não planas, a fazer construções, modelos ou desenhos do espaço de diferentes pontos de vista) e descrevê-los (PCNs: matemática, 1997, p.128). Ainda como exemplo de exercícios que desenvolvem as capacidades espaciais, tem-se o jogo de xadrez. Segundo Gardner (1994, p.149), “a capacidade de antecipar jogadas e suas consequências parece intimamente ligada à forte imaginação.” Cabe aqui explicitar a importância dos jogos no ensino para o desenvolvimento do aluno e da aprendizagem. De acordo com os PCN's, os jogos desenvolvem o raciocínio, estimula o pensamento, leva o aluno a criar estratégias, além de proporcionar o prazer em aprender. No jogo do xadrez, são exigidas do aluno capacidades como concentração, criatividade e imaginação. É preciso visualizar antecipadamente as jogadas e imaginar as jogadas do adversário. Para Gardner (1994), o jogo do xadrez desenvolve as capacidades espaciais porque não se trata de memorizar peças nem o tabuleiro, mas consiste na codificação de planos e ideias. A habilidade espacial está no fato de relacionar padrões, codificá-lo e reconstruí-lo. A inteligência espacial pode dessa forma estar ligada aos planos mentalmente traçados para a vitória no jogo. O jogo do xadrez pode assim, favorecer o domínio da imaginação e estimular a criatividade, competências importantíssimas para a aprendizagem na área da Geometria. No desenvolvimento das capacidades espaciais que para Tartre (apud Fainguelernt, 1999, p.55), “são as capacidades mentais relacionadas com a compreensão, manipulação, reconhecimento ou interpretação de relações visualmente,” compreende-se a realização de atividades que explorem o espaço geométrico, por meio de imagens visuais. Dentre essas capacidades espaciais, considerá-se a competência de visualizar formas geométricas no dia-adia, nas construções, na natureza nos objetos, nas embalagens, etc. 31 Os PCN's (1997), sugerem atividades de composição e decomposição de figuras geométricas. Este trabalho segundo Ribeiro e Soares (2006), desenvolve no aluno a capacidade de identificar e representar as figuras e objetos por todos os seus lados sejam elas bidimensionais ou tridimensionais. Temos como uma habilidade espacial, o fato de o aluno, por exemplo, conseguir planificar cubos, paralelepípedos, pirâmides, cones e cilindros. Para efeito de visualização, ver as planificações de algumas figuras (anexo 9). Atividades do tipo, a realizada com os olhos vendados podem desenvolver no aluno suas noções de espaço e orientação, que de acordo com Gardner (1994), são fundamentais para a inteligência espacial. Entretanto, existe inúmeras outras atividades que podem auxiliar no desenvolvimento de tal inteligência. Assim, fica a critério do professor, de e se utilizar de tais didáticas ou metodologias para levar o aluno a desenvolver sua inteligência espacial. Vale lembrar que a criatividade por parte do professor é o principal “tempero” que dão às aulas de matemática um “sabor” especial, chamado e visto como a aprendizagem e satisfação dos discentes. 2.4 Educação visual O centro do raciocínio geométrico, até o presente momento é a visualização. Compreende-se que a imaginação é o processo de construção de imagens mentais a partir de imagens visuais. Como as imagens visuais representam, ou melhor, refletem nossas observações feitas do mundo, surge à dúvida de que se a imagem visual estiver distorcida, as imagens mentais também estarão? A percepção e representação do espaço estarão comprometidas? Da mesma forma que em nossa sociedade atual se aconselha refletir sobre as imagens que a televisão transmite, o mesmo acontece com as imagens as quais estão sendo referidas neste estudo. Ocorre que, às vezes, “os olhos podem se enganar.” De acordo com Kaufman (1999), a visualização pode ser afetada pela percepção. Esta última sofre influências dos diversos pensamentos, atitudes e desejos pessoais em um determinado momento. Desse modo, pode haver a distorção da imagem visual, pois o que se vê nem sempre é a imagem real, podendo se tratar de uma ilusão de ótica, ou até fantasia. Por vias óbvias, faz-se necessário uma educação visual para que as sensações provenientes do estímulo do meio ambiente não prejudiquem a formação de imagens visuais 32 reais e não comprometa todo um processo. A imagem está presente nos mais variados ambientes do mundo visual e encontra grande espaço e aceitação pelo forte poder de sedução que exerce. Por esse motivo, torna-se relevante discutir de que maneira as imagens visuais tem influenciado as mentais e como educar-se visualmente. As imagens mentais segundo Garcez (2005) são resultantes do repertório de experiências visuais que por sua vez apresenta-se diferenciadamente em cada indivíduo. Cada um pode recriar no imaginário aquilo que é observado. Para a mesma, é essencial fazer leitura das imagens, desenvolvendo habilidades quanto à observação, à atenção, à memória, à associação, à análise, à orientação espacial, ao sentido de dimensão, ao pensamento lógico e ao pensamento criativo. É de suma importância fazer uma análise crítica das informações visuais, considerando seus conceitos e definições. Além disso, precisamos também associar tudo o que observamos com outras informações e conceito provenientes dos conhecimentos acumulados por nós e pela cultura humana através dos tempos. É um jogo em que, às vezes, mergulhamos na emoção e, as vezes, tentamos fazer uma análise crítica por meio do raciocínio, da razão. Enfim, nunca nos podemos entregar passivamente sem uma participação ativa. Uma atitude de atenção e crítica é essencial (S.E.D., 2005, p.107). A construção das imagens visuais e mentais, devem passar, portanto, por um processo de análise e crítica, revendo conceitos, propriedades e raciocínio lógico. Não dissociando a formação de imagens visuais dos conceitos e definições que a caracterizam. Assim, a educação visual é também uma questão de aprendizagem de conceitos e principalmente o domínio das relações espaciais. 33 CAPÍTULO 3 O ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL PELA VISUALIZAÇÃO, ATRAVÉS DA EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS É das hipóteses mais simples que mais devemos desconfiar, porque são aquelas que têm mais possibilidade de passar despercebidas. Poincaré Neste capítulo, analisamos a presença da geometria nas construções do homem e da natureza e a importância dos recursos visuais para a dinamização do ensino da geometria Plana e espacial além, de buscar compreender como a visualização auxilia na resolução de problemas matemáticos. 3.1 Visualizando a Geometria Plana e Espacial nas Criações Humanas e da Natureza. Não se pode discutir o fato de que vivemos num mundo cercado por formas. Elas estão presentes em toda parte, basta que se perceba. Há formas para todos os gostos e é raro quem não possa admirá-las. Elas não existem somente para fins estéticos, para dar beleza ao mundo, mas também para a utilização em problemas do cotidiano e para satisfazer as necessidades humanas. A melhor maneira de compreender a Geometria Plana e Espacial como parte da vida, é partindo da observação e exploração do espaço em que vivemos. Assim, é possível associar elementos geométricos a objetos e situações concretas presentes no dia-a-dia. Comecemos por elementos básicos que estão em nosso meio e acessível para todos, para termos a ideia de um ponto é só olharmos para uma estrela no céu. De uma reta, é um raio de luz, e de um plano é o espelho d’água de um lago. Se observarmos de forma atenta, a Geometria presente em nosso meio perceberemos que ela aborda os aspectos do tipo, formas na natureza, no cotidiano, na arquitetura, na arte e na decoração. Contudo, é possível admirar as formas das flores e das borboletas. As disposições da estrutura da flor e das asas da borboleta apresentam simetria. De acordo com Zampirollo (2004) o homem se aproveitou de formas da natureza para construir formas que lhe fossem 34 úteis. Como exemplos podemos citar o coco, que através da observação o ser humano pode criar às vasilhas, pedaços retilíneos de galhos de árvores inspiraram ferramentas e utensílios como cabos de vassoura ou panela, observando os pássaros e as formas o homem conseguiu voar, criaram-se o remo e os “pés-de-pato” pela analise da funcionalidade das patas de algumas aves, enfim, para ela o que a natureza inspira, o homem cria, combina, aperfeiçoa o que observa. Uma curiosa aplicação geométrica está na colmeia das abelhas. Seus alvéolos têm forma hexagonal para armazenar um maior volume de mel. Outro fascinante exemplo são as teias de aranha. Ambos os casos revelam a sabedoria da natureza ao lidar com formas. Observa-se a presença da Geometria nos objetos cotidianos, tais como caixas de sapatos ou fósforo representam paralelepípedos, latas são cilindros, casquinhas de sorvetes representam forma de cone. No relógio as horas exatas formam ângulos retos e barras de chocolate podem representar prismas. Os prismas ainda podem ajudar na publicidade. Segundo Imenes (1992) os outdoors que valem por três, ou seja, veiculam três propagandas no mesmo espaço, em tempos diferentes, tem a forma geométrica de um prisma triangular. Os prismas encontram-se enfileirados e a propaganda é colada nas faces retangulares destes. Em intervalos de tempos adequados todos os prismas são girados ao mesmo tempo em torno de um eixo que passa pelo centro de suas bases, ou melhor, dos triângulos até a face seguinte ficar de frente para o público. Desse modo a publicidade economiza, afinal, coloca três anúncios em um único espaço. As formas na arquitetura, arte e decoração revelam a presença da Geometria nas belas construções humanas. Na arquitetura percebe-se facilmente a Geometria em construções como a Pirâmide de Quéops construída por volta de 2.500 anos a.C no Egito e considerada uma das grandes maravilhas do mundo. De simetria impressionante é o palácio Taj-Mahal na Índia, símbolo do amor do príncipe persa Sha Jahan por Arjumand Begum. A forma dos Prédios que compõem o congresso nacional lembra paralelepípedos e podem-se contemplar arcos em algumas construções. Um dos arcos mais famosos é o Arco do Triunfo localizado em Paris. Entre um dos maiores arquitetos dos últimos tempos, está Oscar Niemeyer. Seus projetos estão cheios de formas e o mesmo tem uma forte atração pelas curvas. Um exemplo de seu trabalho com curvas é a Igreja de São Francisco de Assis em Belo Horizonte. Podemos ainda observar a Geometria mais de perto. No formato de casa, paredes, telhados, prédios, ginásios esportivos e entre diversas outras construções, desse modo curvas, retas, ângulos e figuras geométricas se unem para beneficiar o homem. Nas artes e 35 decorações, a visualização da Geometria Plana e Espacial é de fácil percepção, os pisos e os trabalhos com mosaicos são bons exemplos de obras de artes que possuem um belo revestimento com figuras poligonais. Além desses, a Geometria se encontra também na arte milenar de decorar vasos. Portanto, onde quer que se esteja a Geometria se faz presente. O ensino então deve ir além do espaço escolar. Na natureza, nas diversas artes, das mais simples as mais luxuosas construções, dos tempos mais remotos até os dias de hoje, a Geometria, acompanha o homem e com suas formas bidimensionais ou tridimensionais conferem ao mundo beleza e grandiosidade. 3.2 Os recursos visuais no ensino da Geometria Plana e Espacial. Neta parte de nosso trabalho citamos alguns recursos visuais que podem ser utilizados no ensino da Geometria Plana e Espacial, mas antes de discorrer sobre alguns deles, faz-se necessário compreender o papel destes na educação. Considera-se que a utilização de recursos visuais consista em tomar materiais com apelo visual para fins didáticos. Acredita-se que é possível alcançar uma aprendizagem satisfatória, se o aluno é estimulado sensorialmente, ou seja, por seus sentidos. Desse modo estudam-se os recursos visuais como ferramentas de auxilio á aprendizagem. Portanto, faz-se preciso desenvolver nos alunos habilidades como visualização, percepção e representação, consideradas essenciais para fazer leitura do mundo e solucionar problemas. Os recursos visuais se apresentam como candidatos a alcançar esses objetivos. Entre os materiais didáticos visuais que servem de apoio para o ensino da Geometria Plana e Espacial destacam-se, o Tangram, o mosaico, as dobraduras e o computador. Vejamos então, como os PCN’s (1997) trata deste assunto em relação às possibilidades didáticas e os objetivos de tais materiais didáticos no ensino da Geometria. De acordo com os mesmos, o computador tem sido indispensável como recurso didático devido estar carregado de um conhecimento por simulação. O uso de tal recurso permite várias possibilidades em sala de aula. O computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino (banco de dados, elementos visuais), mas também como fonte de aprendizagem e como ferramenta para o desenvolvimento de habilidades. O trabalho com o computador pode ensinar o aluno a aprender com seus erros e a aprender 36 junto com seus colegas, trocando suas produções e comparando-as (PCNs: Matemática, 1997, p.48). Partimos da análise feita pelos PCNs para argumentar que hoje, em nosso início de século XXI, a inclusão do computador em sala de aula é uma forma de estarmos inserindo no meio escolar, os recursos do meio social. Isso trará para a escola mais fontes de aprendizagens que podem proporcionar uma melhor compreensão do aluno em relação ao conteúdo ensinado. Porém, para que ocorra essa aprendizagem (relacionado com o computador e suas fontes de ensino) é preciso que os professores estejam aptos ao domínio do mesmo e reconheçam sua proposta pedagógica, caso contrário, este recurso acaba por atrapalhar no ensino. No que tange á Geometria, o computador lhe atribui um ensino dinâmico, o aluno pode com o auxílio do computador, visualizar os movimentos no plano com os softwares e com os programas, construir figuras que normalmente são difíceis de construir manualmente só com instrumento simples como régua e compasso, como são, por exemplo, as figuras tridimensionais. O computador é um recurso visual importante porque permite ao aluno contato com imagens visuais. Por meio deste o aluno desenvolve atitudes como elaborar estratégias para construção de figuras planas e espaciais. Um programa bastante conhecido e pouco utilizado, mas que tem grande potencialidade é o LOGO. Este é uma linguagem de programação que permite desenhar figuras na tela do computador. No LOGO, uma tartaruga virtual executa ordens, comandos dados, fazendo os desenhos na tela. Os comandos exigem noções de orientação espacial e ângulos. Como exemplos de comando têm-se: PF→ A tartaruga anda para frente PD → A tartaruga vira para a direita PT →A tartaruga anda para trás PE →A tartaruga vira para a esquerda Com a elaboração de comandos, o aluno pode construir diversas figuras como casas, automóveis, objetos e figuras geométricas convencionais. Cabe ressaltar que para o desenho de figuras, o aluno deve ensinar a tartaruga criando procedimentos, instruindo a máquina. O aluno sente-se então capaz de comandar o computador, desenvolvendo suas capacidades intelectuais e assumindo-se como responsável pela sua aprendizagem. O objetivo desse trabalho não é aprofundar neste assunto, mas demonstrar que o computador pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem e como recurso visual 37 favorece o desenvolvimento de habilidades como visualização, percepção, construção e representação do espaço. A respeito do Tangram, é relevante conhecer um pouco sobre história para perceber qual o objetivo de seu ensino. Segundo uma lenda, um mensageiro devia levar uma pedra de jade de formato quadrado ao imperador. Distraído, o mensageiro deixou a pedra cair e esta partiu-se em sete pedaços. Com o objetivo de reconstruir o quadrado o homem reuniu suas sete peças e nas diversas tentativas de remontar o quadrado, acabou por formar centenas de formas até conseguir montá-lo. Não se conhece muito bem sua origem. E há especulações que tenha sido criado na china. Sabe-se que ele é um jogo muito antigo formado por sete peças. É uma espécie de quebra-cabeça (ver anexo 10). Sendo recurso, apresenta inúmeras possibilidades de trabalho em sala em diversas aplicações da Geometria Plana, tais como áreas, identificação e descrição de figuras, resoluções de problemas. Manuseando suas peças, é possível formar e visualizar diversas figuras como animais, objetos e pessoas (ver anexo 11). Outros recursos visuais que podem contribuir no ensino da geometria Plana e Espacial, são os mosaicos e as dobraduras, suas construções exigem o domínio de conhecimentos geométricos e habilidades como raciocínio, destreza, paciência, criatividade e imaginação. O mosaico é uma composição de figuras geométricas que formam determinado desenho, obedecendo a um padrão de harmonia. Na matemática utiliza-se o mosaico para estudar preenchimentos de um plano com figuras geométricas, trabalhando conceitos de ângulos, áreas entre outros. Vejamos uma aplicação interessante adaptada de uma historinha sobre mosaicos de Lellis (1992), onde o professor, de uma menina chamada Maíra, propôs um trabalho com composições geométricas, sem inspiração, Maíra desistiu do trabalho e foi com seus pais visitar alguns amigos. A menina se divertiu bastante, conversou muito e até brincou com o cachorro. O que ela não sabia era que desta brincadeira encontraria a solução para seu problema de Matemática. Quando brincava de “cachorrinho”, Maíra observou o piso da casa, primeiro ela viu figuras que pareciam cubos e depois, viu estrelas. Então, Maíra teve a ideia para seu trabalho. De volta em casa, ela recortou seis losangos idênticos para encaixá-los e formar uma estrela. Porém, algo de errado aconteceu, a estrela não se formava. Maíra então se pôs a raciocinar: A formação da estrela de seis pontas deveria completar 360°. Logo cada losango deveria possuir um ângulo de 60°. Maíra recortou novos losangos e dessa vez conseguiu realizar o encaixe. Seu trabalho foi concluído com sucesso. 38 Nota-se que para solucionar o problema Maíra teve de usar seus conhecimentos sobre ângulos. Atividades de modelos semelhantes podem ser propostas aos alunos visando explorar conceitos como ângulos e áreas de figuras geométricas. Poderia ser proposto que os alunos por exemplo, calculassem quantos cubos caberia numa determinada área retangular dada ou que os mesmos completassem mosaicos já iniciados. Quanto às dobraduras, estas oferecem atividades riquíssimas, além de construir figuras bidimensionais, como quadrados, triângulos, círculos, estas também podem construir figuras tridimensionais. Talvez esta última capacidade, seja o que causa mais admiração: A partir de um papel plano, obtém-se um objeto de três dimensões. Partindo de um retângulo, ou seja, de um papel retangular, é possível obter um quadrado de forma que a linha de dobra seja a diagonal do quadrado e a bissetriz do ângulo reto. O trabalho com dobraduras permitem aos alunos construírem diversas figuras como aviões, barcos, pequenas caixas, e outras figuras como poliedros e polígonos. Com o ensino da Geometria por meio de dobraduras o aluno aprende e se diverte ao mesmo tempo. Por fim, aprender geometria exige o domínio de técnicas geométricas como fazer desenhos, preencher espaços, mas é mais do que isso, julga-se importante reconhecer a Geometria Plana e Espacial como ferramenta para atribuir significado ao mundo e aos problemas, compreendendo seu papel na construção do conhecimento matemático e suas possibilidades para o desenvolvimento intelectual dos alunos. Pelas diversas importâncias da visualização no ensino da Geometria Plana e Espacial já citada, pode-se compreender o imenso valor dos recursos visuais no processo de ensinoaprendizagem bem como a necessidade de o professor saber explorar estes recursos, oferecendo dinamização a um sistema que até então parece estático, onde não se ensina e nem se aprende. A transformação desse ensino é responsabilidade de todos e todas que pensam na educação como meio de crescer como pessoa, cidadão e profissional competente. 39 3.3 A importância da visualização na resolução de problemas “Se a matemática não serve pra vida então não serve pra nada”, diz um apaixonado pela Matemática cujo nome não se encontra nos livros nem em outras formas de registro. Provavelmente alguém que vê a Matemática como uma “fonte inesgotável” de aplicações. Não cabe a nós a tarefa de julgar tal afirmação. Deixemos essa responsabilidade a encargo dos especialistas na área da Matemática. O que se sabe, e os PCNs (1997) confirmam, é que qualquer conhecimento adquirido deve levar o aluno a compreender o meio em que vive e a solucionar problemas que os diferentes contextos impõem. É certo que a Matemática, especialmente a Geometria, tem inúmeras aplicações no dia-a-dia e garantem ao aluno a oportunidade de utilizar-se do conhecimento geométrico em diversas situações práticas. A pergunta é se todos os conteúdos permitem essa aplicabilidade. Espera-se que o aluno desenvolva estratégias que o proporcione a capacidade de raciocinar matematicamente, analisando e interpretando situações diversas, refletindo sobre o problema e buscando método de solução que garantam a eficiência das respostas. Muito se tem visto que resolver problemas seja uma atividade mecânica, que exige o domínio de técnicas operatórias sem análise das soluções. Erros são atualmente prova de que o aluno não domina tais técnicas e não está apto a aprender matemática. Com base nesta situação, faz-se necessário refletir qual a importância da resolução de problemas no ensino da Geometria Plana e Espacial, quais os tipos de problemas se propõem solucionar e como a visualização contribui para a solução destes. De acordo com Polya (1995), quando o professor apresenta algum problema para os alunos, deve ter como objetivo auxiliá-los para que possam desenvolver a capacidade de sozinhos solucioná-los no futuro. No caso da Geometria Plana e Espacial, estamos considerando os problemas práticos e os problemas matemáticos. Polya (1995) difere esses dois tipos de problemas pela natureza do conhecimento que se é exigido. Os problemas práticos requerem, segundo ele, mais experiência. Estes, para o mesmo, às vezes nos obriga a partir de ideias e suposições que nem sempre se caracterizam como verdade e as soluções na maioria das vezes, são de forma imprecisa, por aproximações. Os problemas práticos exigem simplicidade e não precisão, afinal constitui-se em dar respostas imediatas ao problema. Já os problemas matemáticos, para Polya (1995), partem de conceitos claros. Uma gama destes permitem, solucionar o problema com precisão. Verificam-se todos os passos 40 seguidos, analisam-se os resultados obtidos, para só assim, confirmar a solução. Faz-se preciso reconhecer quando o problema é prático ou matemático, para conhecer que método é melhor para solucioná-lo. Um exemplo de problema prático é a construção de uma casa. O arquiteto ou pedreiro deve levar em consideração, às condições do terreno, suas dimensões, a forma da construção, os materiais necessários, entre outros fatores. Pouco se utiliza os cálculos, a matemática é aplicada intuitivamente e às vezes inconscientemente. A experiência profissional é que garante a qualidade da obra. Se o mesmo problema fosse proposto em sala de aula, provavelmente se levaria em conta saber calcular área de figuras geométricas, aplicar o teorema de Pitágoras. Nos dois tipos de problemas, a visualização é de grande importância para a solução dos mesmos. Polya (1995), afirma que a visualização do problema permite compreendê-lo e é um dos primeiros passos que instiga o aluno a resolvê-lo. Um dos principais recursos de visualização de problemas da Geometria Plana e Espacial consiste em recorrer a figuras que o representem. Polya (1995) define figuras como sendo objeto dos problemas geométricos e como auxilio importante para problemas de todos os tipos. A utilização desse recurso permite visualizar a proposta do problema e facilitar sua resolução, necessitando reconhecer quando invocar uma figura mentalmente ou quando construí-la materialmente. Se o nosso for um problema geométrico, teremos de considerar uma figura, que pode estar em nossa imaginação ou ser desenhado no papel. Em certas ocasiões, será melhor imaginar a figura sem desenhá-la. Mas se tivermos de examinar vários detalhes, um após o outro, será desejável traçar uma figura. Se os detalhes forem numerosos, não poderemos imaginá-los todos simultaneamente, mas eles estarão todos juntos sobre o papel. Um detalhe visualizado em nossa imaginação pode ser esquecido, mas o mesmo detalhe desenhado no papel aí permanece, de tal maneira que quando a ele voltamos, relembramos as observações anteriores, com isto nos poupando tempo e trabalho (POLYA, 1995, p.82). Percebe-se assim, que dificilmente solucionaremos um problema da Geometria Plana e Espacial, sem que seja necessário o esboço de uma figura no papel. Compreende-se desse modo a real importância dos desenhos geométricos, fazendo-se útil destacar aspectos relevantes em suas construções. Embora Polya (1995) constate a importância de se construir figuras com exatidão a partir de instrumentos como régua e compasso pela possibilidade destas de sugerirem teoremas geométricos, deixa-se subtendido que para as situações problemas em sala de aula a construção de figuras à mão livre sejam mais apropriadas por pouparem tempo e raciocínio. O 41 fato de serem construídas à mão livre não dispensam o cuidado e a relação lógica com o enunciado do problema. No trabalho com a Geometria Espacial, Polya (1995) retrata a dificuldade em construir figuras tridimensionais expressivas, mas não descarta sua possibilidade de elaboração. O trabalho com manipulação de figuras, segundo ele, exige paciência e permite reduzir qualquer tipo de problema a um problema geométrico, pois percebe-se que todas as ciências se utilizam de representações geométricas na resolução de problemas, tais como gráficos e diagramas de todas as espécies. Finalmente, podemos constatar que a visualização tem grande aplicabilidade na resolução de problemas geométricos. Visualizar o problema torna-se, o início de sua solução. As figuras desenhadas mentalmente ou no papel constituem-se numa rica atividade para a construção de habilidades e técnicas que levam o aluno a compreender e buscar respostas para diversos problemas práticos e matemáticos. “Só se aprende resolver problemas, resolvendoos” (Polya, 1995, p. 83). Cabe ao professor estimular seus alunos a se interessarem por problemas, oferecendo-lhes oportunidades de resolvê-los pela imitação e pela prática. 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS Entre seus aspectos mais notáveis, a Geometria Plana e Espacial se apresentam como conteúdos essenciais na Matemática. Desde os tempos mais remotos, o homem se utiliza desse conhecimento para compreender o espaço que o cerca e suas formas, com o intuito de solucionar problemas das mais diversas origens. Ensinar Geometria é uma tarefa que exige competência, criatividade e dinamismo. Seu ensino deve levar o aluno a desenvolver hábitos de leitura do mundo, que o permita perceber, descrever e representar o espaço. Não se deve, portanto, minimizar o ensino da Geometria Plana e Espacial à memorização de definições e fórmulas, é necessário promover aprendizagem real e significativa que desenvolva no aluno suas capacidades criativas. Inúmeras são as possibilidades do professor em sala de aula, quando se tem como auxílio à visualização, que é um passo no desenvolvimento da inteligência espacial e esta por sua vez, só é alcançada pela exploração das capacidades visuais e espaciais dos alunos, colaborando com seu crescimento intelectual. Espera-se que este trabalho, possa ter contribuído para esclarecimentos acerca da visualização e também para a compreensão da importância desta no ensino da Geometria Plana e Espacial. Para que assim, desperte o interesse de muitos para que novas contribuições surjam nesta área e o ensino da Geometria não pare no tempo, mas acompanhe o avanço das ciências e da humanidade reproduzindo e produzindo verdadeiro conhecimento. 43 BIBLIOGRAFIAS AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Delta, 1980. 5v. BOYER, Carl. B. Historia da Matemática. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda., 1996. BRASIL. Secretaria de Educação à Distância. Integração das tecnologias na educação. Brasília: Ministério da Educação, 2005. ________. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997. FAINGUELERNT, Estela Kaufman. Educação Matemática: representação e construção em geometria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. A leitura da imagem. Brasília: Seed, 2005. GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. 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Anexo 1; Pentagrama Anexo 2; "A fábrica" de Pablo Picasso 46 anexo 3; "O violino" de Pablo Picasso Anexo 4; "A mulher" de Pablo Picasso 47 Anexo 5; "Limite Circular I" de Escher Anexo 6; "Limite Circular III" de Escher Anexo 7; "Limite Circular IV" de Escher 48 Anexo 8; "Teste de Inteligência Espacial" de Gardner Anexo 8; "Teste de Inteligência Espacial" de Gardner 49 Anexo 9 Planificações de sólidos geométricos Anexo 10; Tangram Anexo 11; Figuras do Tangram