MÍDIA RADIOFÔNICA E RADIOESCOLA: VETORES DE ESTUDO E PESQUISA, ALÉM DE PROMOTORAS DE CONHECIMENTOS E CRITICIDADE ZENEIDA ALVES DE ASSUMPÇÃO1 RESUMO: O presente trabalho é parte constitutiva do Projeto de Extensão: “Pedagogia da Comunicação mídias e ensino: o uso delas na escola” e tem como escopo desenvolver o senso crítico de alunos do ensino fundamental, médio e integrado (profissionalizante) do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres, localizado no município de Ponta Grossa, no Paraná, através da leitura crítica e produções midiáticas contemplando a educomunicação. Priorizou-se, a mídia radiofônica na primeira fase dessa Proposta, devido aos interesses da comunidade escolar em instalar uma rádio em circuito fechado, transformando-a em mais uma ferramenta de ensino interdisciplinar. Pensa-se, que ao trabalhar com a Radioescola, o educando poderá exercitar a cidadania, a responsabilidade e compreender a realidade, preparando-se assim, para um aprendizado prazeroso e eficaz nas diversas áreas do conhecimento sistematizado. Optou-se, pelo método pesquisa-ação para a construção do conhecimento sobre mídia-rádio, instalação e uso da Radioescola. No decorrer de 2007 (outubro a dezembro) realizaram-se minicursos, palestras, debates, discussões e oficinas com os docentes do referido Colégio. Eles participaram ativamente dos conhecimentos teóricos e práticos sobre radiodifusão sonora, nos estúdios da RADIOWEB-UEPG, da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Os docentes construíram (gravaram e editaram) um programa-piloto e o apresentaram à comunidade escolar no final do ano letivo de 2007. Em 2008 (abril a julho), os alunos receberam o mesmo conteúdo e a mesma prática. Eles dominam a locução e os saberes sobre a linguagem, o discurso e as rotinas produtivas do rádio. Gravaram e editaram debates, notícias, reportagens, dramaturgia, poesias e outros formatos. A produção deles está sendo veiculada pela rádio dessa Universidade. Nessa pesquisa parcial participaram 2,5% dos alunos e 30% dos professores. O Projeto em andamento conta com docentes, alunos, acadêmicos de Jornalismo e operador da RADIOWEB-UEPG. PALAVRA-CHAVE: criticidade; mídia-educação; rádio no espaço escolar. 1 Universidade Estadual de Ponta Grossa (Paraná), docente, jornalista e doutora em Comunicação e Semiótica (PUC/SP). E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO O projeto de extensão “Pedagogia da comunicação, mídias e ensino: o uso delas na escola” surgiu da necessidade demonstrada por alguns acadêmicos de Jornalismo, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG - Paraná), em desenvolver pesquisas monográficas e projetos experimentais de conclusão de curso em comunicação-educação e por educadores da rede pública de ensino do município de Ponta Grossa, localizado a 110 km da capital do Paraná, que também desejam conhecer e trabalhar essa interface na sala de aula. Para operacionalizar essa proposta, visando à concepção do método pesquisaação de Michel Thiollent, decidiu-se pela escolha do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres, Ensino Fundamental, Médio e Integrado (Profissionalizante), por quatro razões. A primeira pelo interesse da escola em trabalhar com a comunicação-educação na sala de aula e aceitar a nossa sugestão de instalar no referido Colégio, uma rádio em circuito fechado, vindo ao encontro de nossa experiência como pesquisadora em mídia-educação. A segunda, a Radioescola poderá ser mais uma das ferramentas de ensino interdisciplinar, dialógica, democrática e promotora de educação, cultura e cidadania. A terceira, por ofertar cursos no Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), Médio e Integrado (Profissionalizante) nos três períodos: matutino, vespertino e noturno. A quarta e última, a localização da escola. Ela situa-se próxima à Universidade Estadual de Ponta Grossa, facilitando o acesso dos participantes: acadêmicos, coordenadora do projeto, operadores de áudio; docentes, gestores e discentes do referido Colégio, na RADIOWEB-UEPG, onde o Projeto está sendo desenvolvido. Assim, os participantes utilizam-se dessa rádio para produzir atividades. A leitura crítica da comunicação permeia as linguagens e os discursos midiáticos contextualizando-os com a mídia radiofônica. Eles trocam, também, saberes sobre a instalação do estúdio e técnica da Radioescola. Aprendem e apreendem as teorias e práticas sobre a mídia radiofônica por meio de mini-cursos, palestras, seminários, discussões, debates e oficinas. Nesses encontros de estudo teóricos e práticos compreendem, também, como funcionam as rotinas produtivas, o fazer jornalístico e o agir comunicativo radiofônico. Cabe lembrar aqui, que essa proposta está em andamento e iniciou-se em outubro de 2007. Até julho desse ano (2008) participou 30% dos educadores e 2,5% do alunado do referido Colégio, em forma de rodízio. Nesse segundo semestre letivo (2008) estão sendo realizados novos encontros de estudo e produção radiofônica. Para essa pesquisa computou-se apenas os alunos-participantes dos meses de abril a julho do corrente ano. DESENVOLVIMENTO A rádio como veículo de comunicação social, desde os seus primórdios, vem contribuindo incondicionalmente com a divulgação e difusão da cultura e da educação. Historicamente, já promoveu diversos programas de ensino a distância com qualidade. Pode-se considerá-lo como a segunda mídia que atuou nessa área, após as cartas de Platão e as epístolas do apóstolo Paulo. O ensino a distância, educação e cultura sempre se valeram da mídia radiofônica para marcarem presença nos cenários nacional e internacional. No cenário nacional, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro fundada pelo professor e antropólogo Edgard Roquette Pinto, em abril de 1923, teve como missão primeira disseminar educação e cultura. Nas décadas de 20 e 30 colaborou bastante com a difusão da ciência, programas educativos e culturais e com o ensino a distância. Hoje (2008) continua veiculando programação dessa natureza e com excelência, através da Rádio MEC, no Rio de Janeiro. Além da Rádio MEC existem no Brasil, dezenas de emissoras universitárias que também transmitem esses formatos. Nas décadas de 40 a 70 aconteceram diversas experiências brasileiras, envolvendo a difusão do ensino a distância. As Escolas Radiofônicas do Movimento de Educação de Base (MEB) e o Projeto Minerva foram marcantes, dentre outras iniciativas de grande relevância nesse universo educacional-radiofônico. Essas iniciativas não foram privilégio apenas do Brasil. Elas ocorreram também em outros países. Cabe lembrar e ilustrar nessa perspectiva, a Rádio Escolar, na Tailândia (1958), com programas sobre conteúdos instrucionais direcionados aos alunos que freqüentavam aulas nas primeiras a décimas séries escolares. Essa iniciativa estendeu-se, segundo Robert Morgan (1977, p. 130), para outros países, como o Quênia – que chegou a registrar em relatórios que 8% das crianças que cursavam as últimas séries do ensino primário se beneficiaram da rádio, especialmente nas aulas de ciências. Na Itália (1972), 68% das escolas primárias e 36% das escolas secundárias valiam-se da rádio como complementação da sala de aula. O mesmo ocorrendo no México, com a criação da Rádio Primária, também em 1972. Essa emissora atendeu após três anos de funcionamento, mais de 2.800 alunos, destaca esse autor. Na Alemanha aconteceram duas ações educativo-radiofônicas relevantes em 1966: Radiofonia Escolar (‘Schulfunk’) e Colégio Radiofônico (‘Funkkolleg’. De acordo, com Walter Zeipp. Foi a ‘Schulfunk’ a primeira prática a ser sistematicamente desenvolvida, sob a orientação dos planos de ensinos das escolas públicas primárias e secundárias, priorizando basicamente os programas de enriquecimento para praticamente todas as disciplinas [...]. O desenvolvimento de tais formas de programas que se estabeleceu sob o nome de Colégio Radiofônico, remonta ao ano de 1966. O que esta evolução apresenta de novo reside, sobretudo, no fato de que a radiodifusão começava ultrapassar a sua fronteira tradicional, já não mais se limitando à mera emissão de sinais. Trata-se do início de uma associação entre programas cientificamente orientados e sistematicamente projetados e a possibilidade, por parte do ouvinte, de ter comprovado a sua participação com êxito. Posteriormente veio acrescentar-se o uso adequado de material impresso complementar. A estrutura monologada própria do meio radiofônico adquiriu, portanto, uma complementação mediante a um sistema de reacoplamento, garantindo o refluxo da informação, por exemplo, com o uso de exercícios a serem corrigidos e de provas e exames com direito a certificação. Além dessas experiências muitas outras foram incentivadas (ZEIPP, 1977, p. 164). Essas experiências comprovam que a mídia radiofônica também pode contribuir com a educação não sistematizada e com a inclusão à educação e à cultura para aquelas pessoas, que por alguma razão, não puderam continuar seus estudos. Embora se reconheça a importante responsabilidade social dessa mídia, o projeto de extensão em tela, não pretende utilizá-la para atividades relacionadas ao ensino a distância e/ou remeter-se ao formato instrucional, que faz parte do gênero radiofônico educativo-cultural. Mas, fazer com que os participantes (em especial, educandos e docentes) conheçam a tecnologia radiofônica, a linguagem, o discurso, o agir comunicativo e as rotinas produtivas que a norteiam, compartilhando esses saberes com a implantação (nas dependências do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres) da Radioescola, a qual poderá ser utilizada como mais uma tecnologia educacional em prol das diversas áreas do conhecimento sistematizado. Nesse sentido, várias tarefas educativo-culturais construídas por alunos do ensino fundamental, médio e integrado (participantes do Projeto em tela) vêm sendo realizadas e divulgadas pela RADIOWEB-UEPG, desde outubro de 2007. Procurou-se, desde então, envolver os participantes na construção de debates e outros produtos radiofônicos, visando sempre os princípios da pesquisa-ação. Busca-se assim, fazer com que os comprometidos com o Projeto compreendam o fazer jornalístico das mídias e o agir comunicativo radiofônico, através da análise crítica, estudos comparativos (das mídias radiofônicas) contextualizados com as linguagens e discursos midiáticos, tendo como pano de fundo: o conteúdo, o semântico e o estético. Assim, os extensionistas poderão compreender que o fazer jornalístico desenvolve-se em dois planos. No primeiro [...] procura narrar as notícias do dia. Cumpre a sua função referencial ou, para utilizar uma expressão corrente, a sua função informativa. Simultaneamente, porém, e num segundo plano, gera sistemas de valores [...] que configuram a narrativa produzida. [...] Se no primeiro plano, o plano do récit, prevalece o saber sobre ‘aquilo de que se fala’, no segundo, o plano do discurso, prevalece o saber sobre ‘de que modo é que se fala’ e ‘por que é que se fala’ (grifo do autor) [...] (REBELO, 2000, p. 41). Nesse contexto, está implícito o discurso midiático, desenhado pelos meios de comunicação social. As mídias fazem parte do cotidiano das pessoas e direcionam subliminarmente suas falas e opiniões. Um exemplo dessa realidade foi o “Caso Isabela Nardoni”, ocorrido recentemente em São Paulo. Esse episódio mexeu com a “cabeça” de todos os brasileiros que acompanharam o ”fazer da justiça” e “o fazer jornalístico”, mediante os veículos midiáticos. As mídias foram nesse caso, tão poderosas e eficientes que chegaram movimentar dezenas de curiosos ao local do crime e alterar a rotina deles por vários dias. Cumprindo, assim, o que se denomina, agenda setting - “uma das formas possíveis de incidência da mídia sobre o público. [...] hipótese segundo a qual a mídia, pela disposição e incidência de suas notícias, vem determinar os temas sobre os quais o púbico falará e discutirá” (BARROS FILHO, 1999, p. 11). Diante dessa realidade, encontra-se a responsabilidade dos professores conhecerem e trabalhar a leitura crítica das linguagens e dos artefatos midiáticos na sala de aula, uma das propostas da educomunicação. Termo este utilizado pela primeira vez, pelo educador e radialista argentino, Mário Kaplún, na década de 70. De lá para cá, inúmeras discussões e debates sobre a interface comunicação-educação não cessaram e continuam fazendo parte de pesquisas de mestrados e doutorados, projetos de extensão e outros. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Nº 9.394/96 e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) compartilham com a educomunicação ao determinarem às escolas brasileiras “discutir sobre o que veiculam jornais, revistas, livros, fotos, propaganda ou programas de rádio e TV trará à tona suas mensagens implícitas ou explícitas – sobre valores e papéis sociais” (PCNs, 1998, p. 38), orientando o docente trabalhar a leitura crítica dos meios midiáticos na sala de aula, a partir da educação fundamental. Nessa perspectiva, reside a consideração desse Projeto de Extensão. Cabe mencionar, que a mídia radiofônica (trabalhada na primeira etapa desse Projeto) “alcança 96% do território nacional e tem a maior cobertura entre todos os meios de comunicação, com público aproximado de 90 milhões de ouvintes” (JUNG, 2004, p. 13), o que já foi referendado por MANASSÉS, desde 1980, quando mencionava: “em se tratando de recepção, encontramos na rádio o veículo de massa de maior penetração existente entre os meios de comunicação [...] um dos mais populares” (p. 33). Assim, a rádio está à disposição de todas as camadas sociais e de todos os cidadãos escolarizados ou não, ricos ou pobres, embora não mantenha interação com eles. A ausência de interatividade na mídia radiofônica foi sempre uma das grandes reclamações do dramaturgo, poeta e teórico alemão Bertold Brecht. Para ele, o rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação imaginável na vida pública, um fantástico sistema de canalização. Isto é, seria se não fosse capaz de emitir, como também de receber; portanto, se conseguisse não apenas se fazer escutar pelo ouvinte, mas também, pôr-se em comunicação com ele [...] (BRECHT apud MEDITSCH, 2005, p. 42). ORTRIWANO destaca que os sonhos desse dramaturgo, até hoje não foram realizados, mesmo com a utilização da internet. [...] até hoje, a interatividade continua controlada: a participação do ouvinte é limitada a pequenas intervenções, seja por telefone, seja ao vivo. Se o gênero é o jornalismo, predominam as reclamações quanto aos serviços em geral, o testemunho sobre algum acontecimento, via telefone, fax, cartas, ou enquete/povo-fala conduzido por um repórter; emitir opiniões, a partir e somente respondendo as perguntas específicas, com respostas curtas e, pretensamente, objetivas. Se nos programas chamados comunicadores, a participação inclui responder a perguntas, geralmente envolvendo prêmios, pedidos e oferecimentos de músicas – os célebres a pedido – depoimentos sobre as mazelas do dia-a-dia, explorando ao máximo a emocionalidade de cada situação como as dramatizações de cartas, de casos, de programas policiais, etc. Com a introdução das tecnologias baseadas na informática, novas possibilidades de interação surgiram como o correio eletrônico o email. Da mesma forma, o controle é sempre do emissor: nunca do receptor (site: http:///www.bocc.ubi.pt/pag/ortriwano-gisela-radio-intertividade.html acesso, em 10 de setembro de 2001). Mas, numa Radioescola em circuito fechado, localizada na escola, os educandos poderão atuar como sujeitos ativos da construção de conhecimentos das diversas áreas de ensino, saberes radiofônicos e culturais, produzindo a sua própria programação. Assim, compreenderão que a linguagem radiofônica, como as demais linguagens midiáticas são construídas, por um sistema semiótico e devem ser debatidas e questionadas no fazer pedagógico, conforme orienta Maria Inês Ghillardi. Uma das tarefas do ensino é estudar a mídia para não ser ‘engolido’ por ela, sua importância depende da função e dos usos que lhe são atribuídos no contexto social. Fazer do discurso das mídias um ponto de partida para a reflexão e a crítica sobre os fatos do mundo é fazer da sua leitura uma atividade criativa e crítica (GHILLARDI, 1999, p. 111). Em consonância com o fazer pedagógico, a Radioescola poderá ser relevante para o educando, dentro e fora dos muros escolares. Professores e alunos precisam conhecer a linguagem, as rotinas produtivas e o agir comunicativo da mídia radiofônica e compactuá-los, reciprocamente, na sala de aula. Isso será possível se essa rádio contemplar formatos construídos pelos alunos, orientados pelo professor. Por exemplo: Quadros que possibilitem às crianças descobrir e conhecer a sua escola e comunidade. Resgate da memória e da cultura da comunidade; ecologia; esportes; lazer; campanhas educativas; dramatização de trechos relacionados da literatura infantil; entrevistas gravadas ou ao vivo com profissionais especializados nas áreas de Saúde, Esportes, Educação, Artes e outras; crônicas; radioteatro. (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 93). Nesse aspecto, a opinião de Patrícia Greenfield é valiosa, quando diz: “em virtude de que a produção envolve sempre mais conhecimentos do que a mera recepção parece provável que, uma vez que as crianças tenham tido experiência como produtoras, elas serão consideradas consumidoras mais exigentes [...]” (GREENFIELD, 1988, p. 144). ASSUMPÇÃO concorda com GREENFIELD e destaca que o professor ao trabalhar com as diversas áreas do conhecimento ou na sua disciplina específica oriente o seu aluno produzir reportagens e dramatizações sobre os temas estudados. Segundo a autora, [...] a reportagem abrange um trabalho de pesquisa sobre um assunto específico. Pode-se, por exemplo, escolher o tema folclore por ocasião das festas juninas. Um grupo de alunos vai pesquisá-lo e coletar depoimentos na comunidade. [...] Outra maneira de abordar o mesmo tema é a dramatização por meio da integração das disciplinas do ensino fundamental [...] uma historinha sobre folclore. A professora poderá utilizar-se dessa dramatização para trabalhar ou aprofundar os conhecimentos de várias disciplinas, simultaneamente, propondo aos alunos a produção e escrita de histórias em quadrinhos, desenhos, linguagem verbal, gramática, resolução de problemas, além de explorar o espaço-tempo de cada cena, inter-relacionando-os com situações de Geografia e História [...] (ASSUMPÇÃO, 1999, p. 91-92). É nesse contexto que perpassa a instalação e o uso da Radioescola na educação escolar, como um objeto de ensino interdisciplinar, que permitirá o exercício da cidadania, a democratização da informação e a análise crítica das mídias. Essa análise poderá ser realizada, mediante “[...] a construção de comentário e noticiário acompanhados pelo professor desde a elaboração da pauta, pesquisa, entrevista, redação, edição e veiculação. Em seguida, educadores deverão debater com os alunos todo o processo radiofônicos AM e FM [...]” (ASSUMPÇÃO, 1999, P. 92-93) Acredita-se, a partir do contexto esboçado, que o método pesquisa-ação contribui com essa proposta de extensão, por algumas razões. Primeiramente, porque procura a interação entre o grupo. Segundo, possibilita a construção de conhecimentos sobre o fazer jornalístico, o agir comunicativo da rádio e as rotinas produtivas dos meios de comunicação social, permutando saberes. Nenhum saber e/ou modelo é imposto nesse projeto aos participantes. Mas, partilhado e compartilhado entre todos. Cumprindo assim, a filosofia do método, expresso em Metodologia da Pesquisa-Ação, obra de Michel Thiollent, a qual nos ensina: “[...] os participantes não são reduzidos a cobaias e desempenham um papel ativo” (THIOLLENT, 1988, p. 21). O ensinamento do autor é respeitado nesse projeto. Docentes, gestores, estudantes do ensino Fundamental, Médio e Integrado (Profissionalizante), do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres; acadêmicos do Curso de Jornalismo, operadores de áudio e coordenadora do projeto, da Universidade Estadual de Ponta Grossa atuam dialética e democraticamente na edificação de saberes teóricos e práticos das mídias, em especial, a radiofônica, nos estúdios da RADIOWEB-UEPG. Além da produção desses saberes, os participantes aprendem sobre equipamentos de rádio, a função deles e, como instalar uma rádio em circuito interno, nos espaços escolares. A primeira etapa desse projeto direcionou-se à instalação de uma Radioescola e à pedagogia da mídia radiofônica, conforme já foi destacado. Para a realização dessa pesquisa (parcial) optou-se pelo universo da população do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres, Ensino Fundamental, Médio e Integrado (Profissionalizante). De outubro a dezembro de 2007, fase inicial dessa proposta privilegiou-se apenas os professores. Participaram 15 dos 48 docentes, perfazendo um índice de 30% deles. Os docentes atuaram em oficinas e atividades radiofônicas nos estúdios da RADIOWEB-UEPG, às quintas-feiras (horário de permanência escolar). Além de dois acadêmicos de Jornalismo e um técnico em áudio, da mesma universidade. Em 2008 (abril a julho) participaram 25 dos 850 estudantes, compreendendo 2,5% da comunidade estudantil de todas as séries, idades e cursos. Esse público-alvo foi selecionado pela direção do Colégio. Os discentes participaram e executaram atividades radiofônicas (em horários contra turno) nos estúdios da referida rádio, às sextas-feiras (períodos: manhã e tarde). Diante do exposto e atendendo a carga horária de apenas duas horas semanais, o Projeto de Extensão procurou envolver os participantes em todas as atividades, inclusive nas oficinas radiofônicas. Discutiram-se teorias e práticas, instalação técnica do estúdio, equipamentos e montagem da Radioescola em circuito fechado, nas dependências do referido Colégio. Os conhecimentos teóricos e práticos sobre locução, utilização adequada da voz ao microfone, leitura crítica das mídias, linguagens e rotinas produtivas fizeram parte, também, dessa proposta e foram realizadas, também, na RADIOWEB-UEPG. Reconhece-se que duas horas de duração para essas atividades são insuficientes, perante a gama de conhecimentos teóricos e práticos, que requer a mídia radiofônica. Porém, esse foi o único tempo disponível (horário de permanência escolar) dos professores e demais participantes. Mesmo assim, mostraram-se acessíveis à aquisição dos saberes sobre rádio e participaram ativamente das oficinas. A interação dos participantes com o projeto foi significativa. Os docentes do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres sugeriram à equipe do Projeto, a construção de um produto radiofônico-piloto para apresentarem aos alunos e colegas que não puderam participar do Projeto nesse primeiro momento. A equipe acatou a solicitação e os orientou sobre a produção, gravação e edição. Com a construção do programa-piloto, os docentes aprenderam como fazer uma edição radiofônica e como utilizar, adequadamente, a locução e sonoplastia. O produto foi gravado e editado pelos participantes e apresentado à comunidade escolar no último dia letivo de 2007. Além das atividades, eles participaram também do diagnóstico e análise dos equipamentos (mesa de áudio, alguns microfones, computador, gravadores) que a escola já possui para a montagem da rádio interna. Percebeu-se, o empenho da comunidade escolar com o Projeto. Desde o início, estão entusiasmados com a implantação dessa rádio. O espaço físico já está reservado. Julga-se, que a pesquisa-ação nesse caso, é pertinente. Ela coloca pesquisadores e pesquisados (participantes) como atores do processo, num mesmo patamar de atividades, levando-os à construção dos conhecimentos sobre as linguagens das mídias e a construção de artefatos midiáticos. Utilizando-se de uma rádio em circuito fechado, professores e alunos poderão ter a oportunidade de contextualizar o fazer jornalístico, o agir comunicativo das mídias e as rotinas produtivas radiofônicas. Nesse sentido, os ensinamentos de Michel Thiollent são legítimos, especialmente, quando destaca: “Consideramos que a pesquisa-ação não é constituída apenas pela ação ou pela participação. Com ela é necessário produzir conhecimentos, adquirir experiência, contribuir para a discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas” (THIOLLENT, 1988, p. 22). Para que isso ocorra, a escola deve priorizar a leitura crítica, a contextualização e a produção de conhecimentos. Agindo assim, ela poderá fazer da Radioescola uma aliada eficaz da educação escolar. A opinião do radialista e pesquisador José Manuel Moran é bem-vinda nesse contexto, quando afirma: A escola, ao rejeitar os meios, está reconhecendo a sua incapacidade de entender o homem de hoje, o seu saudosismo de outras épocas, quando o mundo permanecia relativamente estável. O ponto de partida da educação é reconhecer que os espaços e instituições formais de ensino somente preenchem uma parte do processo educacional. Os meios de comunicação são espaços altamente significativos de educação, porque estão próximos da sensibilidade do homem de hoje e porque são voluntários. Então, reconhecemos que os meios educam, não só sobre conteúdos e valores, mas também educam para a sensibilidade (para sentir uma determinada forma concreta e não abstrata) e educam para expressar-se plasticamente, com imagens, com rapidez, de forma sintética A escola tem que educar-se para os meios e não tentar domesticá-los, incorporá-los como complemento do seu projeto pedagógico. A escola precisa mais dos meios do que estes da escola (MORAN, 1993, p. 182). Parece que alunos e docentes do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres também concordam com o pesquisador. Mostram-se entusiasmados com a implementação da Radioescola e oficinas realizadas na RADIOWEB-UEPG. O interesse deles vem sendo demonstrado desde os primeiros contatos com o Colégio, encontros de estudos e realização de dez oficinas sobre a mídia radiofônica. Além das visitas freqüentes da equipe do Projeto àquela Instituição de Ensino. De abril (segunda quinzena) a julho de 2008 foram selecionados (através de rodízio), inicialmente, 25 alunos de todas as séries, faixas etárias e cursos: Fundamental, Médio e Integrado. O atraso da participação dos estudantes no Projeto justifica-se com a reforma e pintura do Colégio, transcorrida no início do ano letivo (2008). A reforma foi benéfica ao destinar espaço físico para abrigar as instalações da Radioescola. Dos 25 alunos com idades entre 11 a 22 anos que fazem parte dessa Proposta, nove possuem idades entre 11 e 12 anos. Eles freqüentam aulas nas sextas e sétimas séries no período vespertino e participam do Projeto (contra turno) às sextas-feiras, das 08 às 10 horas na Rádio Laboratório. Os demais participam também (contra turno) às sextas-feiras, das 15h30 às 17h30. Freqüentam os cursos: Fundamental, Médio e Integrado (Profissionalizante) e estão com idades entre 13 a 22 anos. Três deles com idades entre 20 a 22 anos, cursando o Profissionalizante (matutino) desistiram do Projeto porque se transferiram para o noturno. Da mesma forma, a duração dos encontros com os alunos também são de duas horas semanais nos estúdios da rádio da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ao trabalhar com os escolares na construção do conhecimento sobre a mídia radiofônica, através de oficinas, a equipe do Projeto procurou desenvolver diversos conteúdos teóricos e práticos sobre essa mídia. Discutiram-se, saberes sobre a técnica e estúdio de rádio, já que os discentes desconheciam o funcionamento de uma emissora radiofônica e poderão atuar na Radioescola. Em seguida, os estudantes aprenderam locução - uso adequado da voz ao microfone -, leitura crítica dos meios de comunicação social, linguagem, rotinas produtivas da mídia radiofônica, edição e sonoplastia. Diante da compreensão desses ensinamentos teóricos e práticos construíram notícias e reportagens sobre “obesidade”, “doenças sexualmente transmissíveis” (DST); “dengue” e dois debates. O primeiro debate foi mediado por um casal de estudantes entre 14 e 15 anos. Contou com o apoio de portadores de necessidades especiais auditivas (surdos) e uma especialista em libras. As questões dirigidas aos surdos foram decodificadas pela especialista. O segundo debate foi sobre o tema DST, comandado também por um casal de alunos entre 18 e 15 anos de idade. Um dos debatedores cursando o último ano do Ensino Médio e a outra estudante da oitava série do Ensino Fundamental. As questões foram dirigidas a uma enfermeira (especialista em Saúde Coletiva). A convidada respondeu todas as questões e dúvidas dos alunos-debatedores. Notou-se que os alunos anseiam por assuntos voltados à saúde pública e temas que dizem respeito à faixa etária deles. Os mesmos temas “obesidade e DST” foram pesquisados e produzidos nos formatos de notícia, reportagem, debates e dramaturgia e veiculados pela RADUIWEB-UEPG. Além desses temas, alguns discentes preferiram construir e declamar poesias e poemas. A questão cultural chama também a atenção deles. As práticas de locução, uso adequado da voz ao microfone, respiração e organização de texto radiofônico foram trabalhados reiteradamente em 12 encontros (oficinas) no primeiro semestre letivo (2008). As oficinas e construção de programas radiofônicos-pilotos fazem parte do Projeto e continuarão no decorrer desse ano, com a previsão de novos participantes (docentes e alunos). CONCLUSÃO Como já foi citado, o resultado dessa investigação é parcial. O projeto está ainda em andamento e contempla apenas uma parte dele: a mídia radiofônica, o fazer comunicativo radiofônico e a estruturação de uma Radioescola, em circuito interno, nas dependências do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres, Ensino Fundamental, Médio e Integrado (Profissionalizante). A instalação da rádio interna já está sendo providenciada pela direção do Colégio, acompanhada e orientada pela equipe do Projeto. Enquanto, se espera sua efetivação, professores e estudantes são preparados nos estúdios da RADIOWEB-UEPG. Aproximadamente, 30% dos docentes já participaram do projeto e 2,5% dos estudantes continuam participando. Nesse segundo semestre letivo (2008), o Projeto acolheu a chegada de novos participantes. Durante a realização das oficinas percebeu-se a dedicação dos docentes pela locução, leitura crítica, linguagem e discurso das mídias, bem como, as rotinas produtivas radiofônicas. No final das oficinas, os professores elaboraram e editaram um programa radiofônico-piloto. O piloto foi ouvido pela comunidade escolar, ao final do ano letivo (2007). Da mesma forma, ocorreu com os estudantes. Após conhecerem o funcionamento da técnica e do estúdio de rádio, dominar o microfone, a locução, a linguagem do rádio, edição de programas e sonoplastia (seleção de efeitos sonoros e criação de vinhetas) manifestaram grande apreço por essa mídia. Durante os encontros (oficinas) sugeriram temas (especialmente em saúde pública) e edificaram notícias, reportagens e debates. Embora o grupo seja bastante heterogêneo (séries de ensino, faixa etária e cursos), os escolares anseiam na continuidade da produção de debates nos estúdios da RADIOWEB-UEPG. Eles já organizaram dois nessa primeira fase. Discutiram “DST” com especialista em Saúde Coletiva (enfermeira), e surdez, com tradutora em libras. Outros estudantes preferem a produção cultural. Produziram e declamaram poesias e poemas, com perfeição invejável, após terem sido orientados por um acadêmico de Jornalismo, com premiação nessa área. REFERÊNCIAS ASSUMPÇÃO, Zeneida A. de. Radioescola: uma proposta para o ensino de primeiro grau. São Paulo: Annablume, 1999. _________________________ Pedagogia da Comunicação, mídias e ensino: o uso delas na escola. Projeto de Extensão. Ponta Grossa (PROEX) UEPG; aprovado, 2007. . BARROS FILHO, Clóvis. “Mundos possíveis e mundos agendados: um estudo do uso da mídia na sala de aula”. In: BARZOTTO, Valdir (org.). Mídia, Educação e Leitura. São Paulo: Associação de Leitura do Brasil. 1999. BRASIL, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEEF, 1998. GHILLARDI, Maria Inês. Mídia, poder, educação e leitura. In: BARZOTTO, Valdir. (org.) Mídia, Educação e Leitura. 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