UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC JULIANA DE OLIVEIRA CONSTANTE O PERFIL DE USO DE BENZODIAZEPÍNICO POR USUÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE UMA CIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA. CRICIÚMA, 2008. 1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE FARMÁCIA JULIANA DE OLIVEIRA CONSTANTE O PERFIL DE USO DE BENZODIAZEPÍNICO POR USUÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE UMA CIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA. Projeto de pesquisa, apresentado para o comitê de ética em pesquisa da universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador (a): Prof. Msc. Marcelo Soares Fernandes. CRICIÚMA, 2008. 2 1 INTRODUÇÃO O primeiro benzodiazepínico, o clordiazepóxido, foi sintetizado acidentalmente em 1961, tendo sido o anel incomum de sete átomos produzido em decorrência de uma reação não planejada nos laboratórios de Hoffmam la Roche. Sua atividade farmacológica inesperada foi reconhecida num método de triagem de rotina. Em pouco tempo os benzodiazepínicos tornaram-se as drogas mais amplamente prescritas na farmacoterapia (RANG & DALE, 2003). Todos os derivados benzodiazepínicos possuem propriedades farmacológicas semelhantes. Não existem dados que mostrem superioridade de nenhum deles como ansiolítico (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). Os benzodiazepínicos e a maioria dos fármacos sedativo-hipnóticos mais antigos exercem efeitos calmantes, com redução concominante da ansiedade em doses relativamente baixas. Todavia, na maioria dos casos as ações ansiolíticas dos sedativo-hipnóticos são acompanhadas de algum decremento das funções psicomotoras e cognitivas (KATZUNG, 2006). Os benzodiazepínicos são hipnóticos mais utilizados tendo substituído os barbitúricos como drogas de primeira escolha porque apresentam maior índice terapêutico e menor potencial para dependência física. Além disso, não provocam indução enzimática hepática e produzem um sono mais “fisiológico”. Caracteristicamente os benzodiazepínicos diminuem a latência do sono e a freqüência com que a pessoa acorda durante a noite, aumentando a duração do sono total (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). Os efeitos mais importantes dos benzodiazepínicos são exercidos sobre o sistema nervoso central e consiste em: 1) redução da ansiedade e da agressão; Os benzodiazepínicos demonstram atividade nesse tipo de ensaio e também exercem acentuado efeito de domesticação, permitindo que os animais sejam manipulados com mais facilidade. 2) sedação e indução do sono; Diminuem o tempo levado até adormecer e aumentam a duração total do sono, apesar de este último efeito ocorrer apenas em indivíduos que normalmente dormem menos de seis horas. 3 3) redução do tônus muscular e da coordenação; Reduzem o tônus muscular através de uma ação central que independe de seu efeito sedativo. 4) efeito anticonvulsivante; Todos os benzodiazepínicos exercem atividade anticonvulsivante em testes realizados em animais experimentais (RANG & DALE, 2003). Do ponto de vista farmacocinético, o hipnótico ideal teria rápido inicio de efeito, produziria sono sustentado durante a noite e não produziria sonolência residual na manhã seguinte. Nesse sentido, o triazolam é o que mais se aproxima, e o flurasepam, o menos desejável. No entanto, o uso de compostos de meia-vida curta no tratamento da insônia pode acarretar alguns problemas, pelo que outros benzodiazepínicos podem ser mais adequados. Já um benzodiazepínico, com efeito, mais prolongado, como o diazepam, pode ser útil no paciente que apresenta insônia cedo pela manhã ou necessita de efeito ansiolítico também durante o dia (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). Os efeitos indesejáveis dos benzodiazepínicos podem ser divididos em: 1) efeitos tóxicos, resultantes de superdosagem aguda; os benzodiazepínicos em superdosagem aguda são consideravelmente menos perigosos do que outros agentes ansiolítico/hipnóticos. Os benzodiazepínicos em superdosagem causam sono prolongado, sem depressão grave da respiração ou da função cardiovascular. Entretanto na presença de outros depressores do SNC (Sistema Nervoso Central), particularmente o álcool, os benzodiazepínicos podem causar depressões respiratória grave e até mesmo potencialmente fatal. 2)efeitos indesejáveis que ocorrem durante o uso terapêutico normal; os principais efeitos colaterais dos benzodiazepínicos consistem em sonolência, confusão, amnésia e comprometimento da coordenação, que afeta consideravelmente as habilidades manuais, como o desempenho de um motorista. Com freqüência, observa-se uma interação com o álcool, através da qual uma baixa concentração plasmática de benzodiazepínicos pode potencializar o efeito depressor do álcool de maneira mais do que aditiva. 3) Tolerância e dependência; ocorre tolerância com todos os benzodiazepínicos, bem como dependência, que é a sua principal desvantagem. A tolerância é menos pronunciada do que a observada com os 4 barbitúricos. O efeito de indução do sono exibe tolerância relativamente pequena. Não se sabe ao certo se é significativa a tolerância ao efeito ansiolítico. Apesar das declarações iniciais de que os benzodiazepínicos não podem produzir dependência, esta é na realidade um importante problema. Em indivíduos normais e pacientes, a interrupção do tratamento com benzodiazepínicos depois de varias semanas ou meses provoca aumento nos sintomas de ansiedade juntamente com o tremor e vertigem. Os benzodiazepínicos de ação curta causam efeito de abstinência mais abrupto. Em virtude dos sintomas físicos de abstinência, os pacientes têm dificuldade em abandonar o uso dos benzodiazepínicos, todavia, a dependência psicológica grave, como a que ocorre prontamente com muitas drogas que levam ao abuso, não é um problema significativo (RANG & DALE, 2003). Em relação à prescrição de benzodiazepínicos como hipnóticos, algumas recomendações gerais podem ser feitas: a dose inicial pode ser pequena, com aumentos posteriores, se necessário; o paciente deve estar ciente de que a prescrição objetiva restaurar o sono e não torná-lo dependente do fármaco, portanto deve suspender a terapia após uma a duas noites de sono adequado. A duração do tratamento com benzodiazepínicos deve limitarse ao menor período possível, ou seja, 1 a 2 semanas em ansiedade relacionada a crises agudas especificas ou 3 a 4 semanas em pacientes com ansiedade generalizadas que requerem terapia por tempo mais prolongado, quando então se opta por outros medicamentos ou terapia não-farmacológico. Embora não esteja conclusivamente implicada na indução de malformações congênitas, é mais prudente evitar qualquer medicação psicotrópica nos primeiros três meses de gravidez. Benzodiazepínicos são eliminados no leite materno, e efeitos adversos já foram observados em lactentes. O emprego de benzodiazepínicos no paciente idoso deve ser cuidadoso, em função de eventual diminuição do metabolismo hepático ou aumento do volume de distribuição, com conseqüente aumento de t1/2 e maior acumulo do fármaco após uso repetido.Os benzodiazepínicos são bem absorvidos por via oral, embora com velocidades diferentes, em função de sua lipossolubilidade. A ingestão concomitante de alimento tende diminuir a velocidade de absorção. A eliminação dos benzodiazepínicos é grandemente influenciada pelas diferenças estruturais entre as três classes: 2-ceto, 3-hidróxi e triazolo. Os compostos 25 ceto, como o diazepam, são metabolizados por lenta oxidação no fígado e geralmente produzem metabólitos ativos (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). O potencial gerador de dependência desses medicamentos está bem documentado – sintomas de abstinência podem ocorrer mesmo com o uso de doses terapêuticas por períodos prolongados. Além do risco de dependência, estudos demonstram que há um aumento das taxas de acidentes, quedas e fraturas entre usuários de benzodiazepínicos, e há evidencias de que doses terapêuticas podem prejudicar as funções cognitivas em idosos, mesmo após a interrupção do medicamento. Os principais tratados de farmacologia não trazem recomendações explicitas sobre o tempo de duração do tratamento com benzodiazepínicos (HUF, LOPES & ROZENFELD, 2000) Estima-se que o consumo de benzodiazepínicos dobra a cada cinco anos. A diminuição progressiva da existência da humanidade para tolerar tanto estresse, a introdução profunda de novas drogas e a pressão propagandística crescente por parte da indústria farmacêutica ou, ainda, hábitos de prescrição inadequada por parte dos médicos podem ter contribuído para o aumento da procura pelos benzodiazepínicos. A orientação médica relacionada a o uso dos benzodiazepínicos é um fator muito importante para minimizar a incidência dos efeitos colaterais. Os pacientes que utilizam medicação benzodiazepínica devem ser orientados sobre a ocorrência da diminuição da atenção que, consequentemente, pode aumentar o risco de acidentes com automóveis e outras atividades psicomotoras. O efeito da dependência deve ser amplamente prevenido pelo médico através do uso de dosagens mínimas e por períodos de tratamento o mais curto possível e pela seleção cuidadosa do paciente, e evitando prescrever este tipo de medicamento a pacientes com história ou propensos à drogadição. A prescrição racional de benzodiazepínico deve ser encorajada e feita em condições apropriadas, com monitoramento cuidadoso, sempre objetivando estabelecer um bom vínculo com o paciente. Com esse tipo de abordagem, é possível minimizar os efeitos colaterais e evitar o desenvolvimento de dependência (AUCHEWSKI et al, 2004). A prevalência do consumo destes fármacos é elevada no Brasil. Segundo o Conselho Regional de medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) um em cada dez adultos recebe prescrição de benzodiazepínico, 6 quase sempre feita por clinico geral. O seu uso continuado em doses excessivas poderia levar, ainda, a degeneração de células cerebrais, incorrendo em lesões irreversíveis (ANDRADE, ANDRADE & SANTOS, 2004). O uso dos benzodiazepínicos também está envolvido pelas pessoas que circunvizinham o consumidor (familiares, amigos, vizinhos e terapeutas), repetindo ou criando novas maneiras de solucionarem questões relativas à saúde e a doença de acordo com o universo do qual fazem parte, (re) produzindo conhecimentos médicos, através do uso da metáfora, uma forma rica de expressão de sua vida, da criatividade e da sensibilidade do doente e daqueles que o rodeiam, revelando o cotidiano, o senso comum, os significados das doenças e as práticas utilizadas pra alcançar as curas (MENDONÇA & CARVALHO, 2005). Segundo o estudo de programa de iniciação científica sobre o perfil dos usuários de psícotrópicos do posto de atendimento médico (PAM) do município de Criciúma, observou-se que os usuários apresentam-se em predominância pelo sexo feminino com faixa etária entre 41 e 50 anos de idade. Pôde-se evidenciar também o uso significativo do benzodiazepínico Diazepan, em relação aos outros medicamentos dispensados na farmácia central do PAM de Criciúma/SC. Ao mesmo tempo, chamou a atenção o fato de que o tempo de uso deste medicamento, bem como dos outros medicamentos dispensados para a população analisada, mostrou-se surpreendentemente significativa, ou seja, a maioria dos pacientes utiliza o medicamento a mais de 11 anos. Esse fato caracteriza a dependência por parte dos usuários em relação a estes medicamentos, pois se sabe dos medicamentos psícotropicos, como os benzodiazepínicos, possuem tempo de uso restrito de apenas quatro semanas. Tomando-se por base as patologias relatadas pelos pacientes entrevistados, ou a causa do uso do medicamento, demonstra que, em sua maioria, essas patologias não são crônicas, não justificando, portanto, o uso prolongado desses medicamentos (WIGGERS, PINTO & COSTA). 7 2 JUSTIFICATIVA Diante destes estudos citados acima, observa-se o uso inadequado de benzodiazepínicos, que não envolve apenas o sistema de controle da dispensação, mas uma série de outros fatores. Em virtude disso buscamos nesse trabalho obter mais informações que esclareçam os fatores envolvidos no uso indevido de benzodiazepínicos pela população. 8 3 OBJETIVO 3.1 Objetivo geral: Avaliar o modo de uso do benzodiazepínico (diazepam) por usuários de uma unidade de Estratégia de saúde da Família (ESF) do Município de Forquilhinha-SC 3.2 Objetivos específicos: • Verificar o uso inadequado do benzodiazepínico (diazepam) pelos usuários entrevistados • Identificar os motivos que levam as pessoas a utilizarem esses medicamentos. • Verificar o tempo de uso dos usuários de benzodiazepínicos. • Verificar como é o acompanhamento médico na opinião dos usuários de diazepam entrevistados. • Descrever os possíveis efeitos adversos relatados pelos usuários dos Benzodiazepínicos. • Verificar as dificuldades dos entrevistados em “parar” de usar o benzodiazepínico (diazepam). 9 4 METODOLOGIA O estudo desenvolvido nesta pesquisa será o descritivo com o emprego do método qualitativo. O estudo será realizado em uma unidade de estratégia da família –ESF no Município de Forquilhinha-SC. A amostra estudada será do tipo intencional com a participação de usuários que serão previamente selecionados e contatados pelo pesquisador. Aqueles que aceitarem a participar, será exposto os objetivos do estudo. O sigilo e o anonimato serão garantidos, mediante a apresentação de um termo de consentimento (ANEXO I). A coleta de dados ocorrerá através da técnica da entrevista semiestruturada. As entrevistas serão registradas com um gravador no período de abril a maio de 2009. Para a obtenção dos dados, será aplicada à técnica do Discurso do Sujeito Coletivo, segundo metodologia proposta por Simoni e cols. em Lefèvre e Lefèvre (2005), prevalecendo neste contexto a Idéia Central (IC), as Expressões-Chave (EC) e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). 4.6 Sujeitos do Estudo O estudo será realizado com usuários de diazepam que residem na área de abrangência da Equipe Saúde da Família (ESF), do município de Forquilhinha-SC. A escolha dos participantes destes estudos será realizada em conjunto com a farmacêutica responsável pela Farmácia Básica Municipal de Forquilhinha, responsável pela dispensação, mediante prescrição médica, de benzodiazepínico (diazepam) para população de Forquilhinha atendida pelo SUS. Serão considerados como critérios de inclusão, indivíduos de ambos os sexos, acima de 18 anos de idade, que recebam diazepam pelo serviço da Farmácia básica Municipal desde a implantação do serviço (2001/2002) até os 10 dias atuais (04/2009), que aceitem participar da pesquisa e apresentem boas condições cognitivas para responder ao estudo. A “pré-seleção” será realizada pela farmacêutica responsável pelas fichas cadastrais dos usuários. Os indivíduos pré-selecionados serão consultados por agentes de saúde, que informarão o usuário do teor da pesquisa e pedirão a assinatura do consentimento para a realização da mesma. Apenas os usuários que aceitarem participar da pesquisa é que serão visitados e entrevistados. 11 5 CRONOGRAMA Primeiro mês Segundo Terceiro mês mês Revisão Bibliográfica X X X Coleta de dados X X X X X Análise dos resultados Conclusão X 12 6 ORÇAMENTO Material Quantidade Alimentação Folhas Valor 100,00 100 10,00 Transporte 90,00 Total 200,00 13 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRADE, Márcia de Freitas; ANDRADE, Regina Célia Garcia de; SANTOS, Vânia dos. Prescrição de psicotrópicos: avaliação das informações contidas em receitas e notificações. Rev. Brás. Cienc. Farm. São Paulo, v. 40, n. 4, out./dez/2004. AUCHEWSKI, Luciana; ANDREATINI, Roberto; GALDURÓZ, Jose Carlos F, LACERDA, Roseli Boerngen de.Avaliação da orientação médica sobre os efeitos colaterais de benzodiazepínicos. Rev bras psiquiatr, 26(1): p. 24-31, 2004. FUCHS, Flávio Danni; WANNMACHER, Lenita; FERREIRA, Maria Beatriz C. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 1074 p. MENDONÇA, Reginaldo Teixeira; CARVALHO, Antonio Carlos Duarte de. O papel de mulheres idosas consumidoras de calmantes alopáticos na popularização do uso destes medicamentos. Rev Latino-am Enfermagem, n° 5, p. 1207-1212, nov./dez/2005. KATZUNG, Bertram G. Farmacologia: básica & clínica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 991 p. RANG, H. P; DALE, M. Maureen. Farmacologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 829 p. WIGGERS, Daiana Martins; PINTO, Daniela de Bona; COSTA, Simony Benedet de. Perfil dos usuários de psicotrópicos do posto de atendimento médico do município de Criciúma. Criciúma, SC, UNESC, 2004. 34 p. 14 ANEXOS 15 ANEXO A: TERMO DE CONSENTIMENTO A pesquisa intitulada “O PERFIL DE USO DE BENZODIAZEPÍNICO POR USUÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIADE UMA CIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA.” apresenta por principal objetivo verificar o modo de uso de benzodiazepínicos (diazepam) por pessoas que fazem uso desse medicamento. A coleta de dados será realizada através da aplicação de uma entrevista pelo pesquisador aos usuários desse medicamento que fazem parte da unidade Estratégia de Saúde da Família –ESF- Vila Franca do Município de Forquilhinha-SC.. O nome do entrevistado será mantido em sigilo a fim de evitar qualquer constrangimento ao mesmo. Os resultados obtidos dessa pesquisa poderão ser divulgados posteriormente (Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), revistas especializadas, etc, garantindo o anonimato do entrevistado. Durante ou após a realização da pesquisa, caso o entrevistado apresentar alguma duvida ou desejar ter acesso aos resultados poderá entrar em contato com a pesquisadora Juliana de Oliveira Constante, graduanda do curso de Farmácia da UNESC-7a FASE, pelos fones: 48-3539-9141 ou 488826-8660 ou 48-8835-2296. Eu, ........................................................................................................ Declaro ter recebido as informações contidas no termo e concordo em participar da pesquisa de acordo com o parecer apresentado. 16 ANEXO B: PERGUNTA 1) Há quanto tempo você faz uso de benzodiazepínicos (Diazepam)? 2) Fale um pouco sobre os motivos que levaram você a utilizar este medicamento (Diazepam)? 3) Fale um pouco sobre como você usa este medicamento (Diazepam) no seu dia à dia. 4) Você já passou mal tomando esse medicamento (Diazepam)? fale um pouco sobre isso. 5) Você já tentou parar de tomar esse medicamento (Diazepam)? Fale um pouco sobre isso. 6) Durante todo esse tempo que faz uso do diazepam como foi o acompanhamento médico? Fale sobre isso. 17 !&" '( )"$ # $ % ."*,& ,+ - & ( $% " - ,. ' &/ " ' + (1'8 23. -4 +- /8- ' 08 ' , +6 5 4 4 ( , 70 " & + ' - " 8 93( * : ' ; & 8 8 ))', 8? 9 * 9 97 9 6 ;9 $=98 9@69 8 9 9 959 9; 9$;% >5 , & < 4$6%=4 8- & 98 9<, 893 A9<# 94 8969 9< 8'539 989 989 9 %9, 9# 9 9 ,698 9 9 &(" 1 2A %$ 6BA 2%E & .@ F + 5 . 7 $ % ", C - 2 " 8 ;* ;,CD&- ) + 38 8 8 ; $ 8 8 J #G H 47<4$ % ,&<464 8 8 8 $% 8 $ I MINISTÉRIO DA SAÚDE ),, 88 ?9 9 9 96 9 " 97 9 8 96 9& 9 9 9 9 9 9 9 (,9 " 9& 9 9&9 9 9 9 9 09 9 9 9, 49 A<9 9 699<9 '9 9 9 9 9 9 ,9 9 9 9,6 9 9 Conselho Nacional de Saúde ('" ( $ 6B5 28% < 3 7 <4 $ % ", C - 2 *, C D - ), + 18824 8 9; 9$ 89 9 8 + 5 9 < 9499 9 9 , &9 <9 49 6 94 9 9 8 9.( 9 879 <9939 9 9 9 9 9 9 9 9 9" 89@98: 9 9& 9 = Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP ) ? 99 9 9 6 - 6 9 9 9 9 9 9 9 2 2 # " 8 E ; ' , 0 < ' 6 / )6 ' ) ' ,% FR - 252551 FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS Projeto de Pesquisa O PERFIL DE USO DE BENZODIAZEPÍNICO POR USUÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE UMA CIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA. Área de Conhecimento Grupo Nível 4.00 - Ciências da Saúde - 4.03 - Farmácia - Terap. Grupo III Terapêutico Área(s) Temática(s) Especial(s) Fase Não se Aplica Unitermos Benzodiazepínico, Diazepam; Estratégia Saúde da Família; ESF Sujeitos na Pesquisa Nº de Sujeitos no Centro Total Brasil Nº de Sujeitos Total Grupos Especiais 12 12 12 Medicamentos Placebo Wash-out Sem Tratamento Específico Banco de Materiais Biológicos HIV / AIDS NAO NÃO NÃO NÃO NÃO 18 PERFIL DO USO CRÔNICO DE DIAZEPAM POR USUARIOS DE UMA UNIDADE ESTRATEGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA A PROFILE OF THE CHRONICLE UTILIZATION OF DIAZEPAM FOR USERS FROM A STRATEGIC UNITY OF FAMILY HEALTH Juliana de Oliveira Constante, Marcelo Soares Fernandes*. Universidade do Extremo Sul Catarinense. Criciúma, SC, Brasil. *Correspondência para / Correspondence to: Marcelo Soares Fernandes Departamento de farmácia Universidade do Extremo Sul Catarinense Av. Universitária, 1105 – Bairro Universitário – C.P. 3167 - CEP: 88806 - 000 – Criciúma - SC E-mail: [email protected] 19 ** Contribuição igual para ambos os autores. INTRODUÇÃO Os benzodiazepínicos (BZDs) são drogas com atividade ansiolítica que começaram a ser utilizadas nas décadas de 60. O clordiazepóxido foi o primeiro benzodiazepínico lançado no mercado em 1960.13 Os benzodiazepínicos e a maioria dos fármacos sedativo-hipnóticos mais antigos promovem efeitos calmantes, com redução concominante da ansiedade em doses relativamente baixas. Na maioria dos casos as ações ansiolíticas dos sedativo-hipnóticos são acompanhadas de algum decremento das funções psicomotoras e cognitivas.8 Os efeitos mais importantes dos benzodiazepínicos são exercidos sobre o sistema nervoso central e consiste em: 1) redução da ansiedade e da agressão: Os benzodiazepínicos exercem atividade nesse tipo de ensaio. 2) sedação e indução do sono: Diminuem o tempo até adormecer e aumentam a duração total do sono. 20 3) redução do tônus muscular e da coordenação: Promove a redução do tônus muscular através de uma ação central independente de seu efeito sedativo. 4) efeito anticonvulsivante: Efeito exercido por todos os benzodiazepínicos.18 Com relação à prescrição médica de benzodiazepínicos como hipnóticos, algumas recomendações podem ser feitas: a dose inicial deve ser pequena, com aumentos posteriores, se necessário; o paciente deve estar ciente de que o medicamento prescrito objetiva restaurar o sono e não torná-lo dependente deste, portanto deve-se suspender o tratamento após uma a duas noites de sono adequado.5 No entanto, o atual panorama mostra uma utilização irracional deste medicamento, a pressão propagandista crescente por parte da indústria farmacêutica ou, ainda, hábitos de prescrição inadequada por parte de médicos podem ter contribuído para o aumento da procura pelos benzodiazepínicos.20 O uso dos benzodiazepínicos também está envolvido pelas pessoas que circunvizinham o consumidor (familiares, amigos, vizinhos e terapeutas), repetindo ou criando novas maneiras de solucionarem questões relativas à saúde e a doença de acordo com o universo do qual fazem parte, (re) produzindo conhecimentos médicos, através do uso da metáfora, uma forma rica de expressão de sua vida.11 O uso de BZDs em idosos deve ser cauteloso, uma vez que há relatos de aumento do risco de mortalidade com o uso crônico. Desse modo, concluise que BZDs devem ser prescritos por curto prazo de tempo na insônia e requer melhor entendimento do padrão e razões de uso, dos efeitos do uso crônico e das estratégias utilizadas pelos clínicos e usuários para cessar seu uso 17 . Alguns problemas como perda cognitiva mesmo depois de interrupção, o desenvolvimento da tolerância, a síndrome de abstinência e a dependência tem sido associados com o consumo crônico de benzodiazepínicos. O problema fica pior entre os idosos devido a problemas relacionados com idade como comorbidades freqüentes, de utilização de vários medicamentos e alterações farmacodinâmicas e farmacocinéticas.19 Vários estudos apontam o uso inadequado de benzodiazepínicos1,10,14,16 e, desta forma, buscou-se nesse trabalho obter mais informações que 21 esclareçam os fatores envolvidos no uso indevido de benzodiazepínicos pela população de uma unidade básica de saúde. METODOLOGIA O método empregado foi quali-quantitativo a partir de um estudo descritivo. O estudo foi realizado em uma unidade de estratégia da família (ESF) no Município de Forquilhinha do estado de Santa Catarina (SC), Brasil. A amostra estudada foi do tipo intencional com a participação de usuários previamente selecionados e contatados pelo pesquisador. A população integrante foi composta por usuários de diazepam que residiam na área de abrangência de uma Unidade Estratégia de Saúde da Família (ESF), do município. O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo seres humanos, e está registrado no sistema Nacional de informações sobre ética em pesquisa envolvendo seres humanos (SISNEP), sobre o numero FR 252551. A escolha dos participantes destes estudos foi realizada em conjunto com a farmacêutica responsável pela Farmácia Básica Municipal de Forquilhinha, responsável pela dispensação, mediante prescrição médica, de benzodiazepínico (Diazepam) para população de Forquilhinha atendida pelo SUS. Foram considerados como critérios de inclusão, indivíduos de ambos os sexos, acima de 18 anos de idade, que receberam diazepam pelo serviço da Farmácia básica Municipal desde a implantação do serviço (2001/2002) até o mês 04 de 2009, que aceitaram participar da pesquisa e apresentaram boas condições cognitivas para responder a entrevista semi-estruturada. Para a coleta dos dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada, sendo que primeiramente a enfermeira responsável pela farmácia básica e as agentes comunitárias pediram a autorização aos sujeitos a serem entrevistados, para realização da pesquisa. Logo as entrevistas foram agendadas por contato telefônico ou pessoalmente com os sujeitos, conforme a sua disponibilidade e, desenvolvidas em suas próprias residências, mediante um termo de consentimento, inicialmente foram explicados os objetivos e a importância da pesquisa, a garantia do sigilo e, procurou-se estabelecer um ambiente de relacionamento agradável. As entrevistas foram aplicadas pelo próprio 22 pesquisador, no período de abril a maio de 2009, os discursos foram registrados em um gravador. Para o tratamento dos dados empregou-se a técnica de análise do discurso do sujeito coletivo prevalecendo neste contexto a Idéia Central (IC), as Expressões-Chave (EC) e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).9 Esses procedimentos envolvem, basicamente, as seguintes operações sobre os discursos coletados: • Seleção das expressões-chave de cada discurso particular, por exemplo, de cada resposta a uma questão. As expressões-chave são segmentos contínuos ou descontínuos de discurso que revelam o principal do conteúdo discursivo; são uma espécie de "prova discursivo-empírica" da "verdade" das idéias centrais. •Identificação da idéia central de cada uma dessas expressões-chave e que é a síntese do conteúdo dessas expressões, ou seja, o que elas querem efetivamente dizer. •Identificação das idéias centrais semelhantes ou complementares. • Reunião das expressões-chave referentes às idéias centrais semelhantes ou complementares, em um discurso síntese que é o discurso do sujeito coletivo (DSC). Portanto, o Discurso do Sujeito Coletivo é um recurso, metodológico que tem como objetivo tornar mais claras as representações sociais, nesse caso a de usuários de diazepam, podendo ser vistos como o emissor de discursos comuns compartilhados entre seus membros. Com o sujeito coletivo, se reconstrói, com partes de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos se julgue necessário para expressar uma dada "figura", um dado pensar ou uma representação social.22 RESULTADOS O total de indivíduos que residiam na área de abrangência da Equipe Saúde da Unidade Estratégia da Família (ESF), do município de ForquilhinhaSC e que faziam uso de diazepam desde a implantação do sistema de dispensação pela farmácia central desde 2001, era de 12 indivíduos, sendo 09 23 mulheres e 03 homens. Desse total, 02 homens não aceitaram participar da pesquisa e 01 homem não possuía boas condições cognitivas para responder ao estudo, entrando no critério de exclusão. Portanto, foram 09 mulheres que participaram do estudo com a idade variando entre 43 a 73 anos e a idade média foi de 52 anos. Em relação ao tempo de uso do diazepam pelos entrevistados variou de 07 a 61 anos e a média de tempo foi de 16 anos. Dos 09 usuários apenas 02 faziam uso desde a implantação da farmácia central há 7 anos,os demais entrevistados já faziam uso há mais tempo: 10 anos (3 usuários), 12 anos (1 usuário), 13 anos (1 usuário), 14 anos (1 usuário) e 61 anos (1 usuário). Durante as entrevistas, cinco perguntas abertas foram aplicadas aos sujeitos em estudo. As respostas foram transcritas e analisadas, obtendo-se as idéias centrais e os discursos coletivos. O resultado dessa análise está nas Tabelas 1 a 5. DISCUSSÃO No presente estudo os 09 entrevistados foram todos mulheres com idades entre 43 e 73 anos. Dados da literatura mostram que os benzodiazepínicos estão entre os medicamentos mais prescritos a idosos, e as mulheres utilizam benzodiazepínicos em uma proporção duas vezes maior que os homens.8 Segundo alguns estudos as hipóteses para explicar o uso de benzodiazepínicos por mulheres, está relacionada ao uso do serviço de saúde. Nesse sentido, a mulher tem maior facilidade de acesso ao serviço de saúde em função de programas de saúde relacionado à mulher, bem como, há uma maior interação médico paciente. Além disso, uma maior expectativa de vida em relação ao homem torna a mulher mais susceptível a transtornos psicológicos do que o homem. Ainda, a mulher expressa com mais facilidade seus problemas ao médico quando comparado com o homem, e demonstra mais facilidade de aceitar o uso de medicamentos.1 Com relação ao tempo de uso, cabe ressaltar que apenas dois usuários usavam diazepam desde a implantação da farmácia central. Os demais entrevistados faziam uso há mais tempo, sendo 61 anos o tempo de uso mais prolongado. A literatura recomenda o uso de benzodiazepínicos por um período máximo de 4 há 6 semanas, acima disso caracteriza uso crônico. Os 24 problemas do uso crônico do benzodiazepínicos são relacionados à perda de memória, tolerância, dependência e na tentativa de interrupção pode ocorrer síndrome de abstinência. Além disso, não são recomendados para idosos devido à presença de comorbidades, polimedicação e alterações fisiológicas que podem aumentar o efeito do benzodiazepínicos e risco de quedas.19 Para conhecer melhor o perfil de uso crônico por parte dos entrevistados, no presente estudo, a partir das entrevistas, destes usuários de diazepam, desenvolveu-se a análise das idéias centrais e dos discursos do sujeito coletivo (DSC). Diante da pergunta “Fale um pouco sobre os motivos que levaram você a utilizar este medicamento (Diazepam)?” Pode-se observar a partir da IC 1A, “Desgaste físico” (Tabela 1), e no DSC 1A, que há a utilização do medicamento por desgaste no trabalho e esgotamento físico por encomodações familiares. Os benzodiazepínicos estão entre as drogas mais prescritas no mundo. São utilizados principalmente como ansiolíticos e hipnóticos, além de possuir ação miorrelaxante e anticonvulsivante.3 Além disso, a maioria das prescrições de benzodiazepínicos é dirigida a mulheres e idosos com insônia ou queixas físicas crônicas.8 No entanto, a idéia central sinaliza um uso diferente da indicação do diazepam. Assim, o DSC evidência um uso indevido do diazepam. Nesse sentido, em um estudo sobre o uso indevido de benzodiazepínicos, psicólogas relataram que muitos usuários faziam o uso para evitar dificuldades cotidianas ou traumas.13 A IC 1B, “Eu não dormia mais de noite” (tabela 1) é um dos sintomas mais relatado entre os entrevistados. É bem conhecido na literatura que a prevalência e a intensidade dos transtornos do sono aumentam com a idade. Os fatores causais principais são fisiológicos, doenças médicas e psiquiátricas, farmacológicos e sociais.21 Os benzodiazepínicos são hipnóticos mais utilizados. Caracteristicamente os benzodiazepínicos diminuem a latência do sono e a freqüência com que a pessoa acorda durante a noite, aumentando a duração do sono total.5 Apesar dos benzodiazepínicos serem os medicamentos mais prescritos para insônia não é recomendado o seu uso por mais de 4 á 6 semanas devido ao risco de tolerância, abstinência e dependência.6 Estudos com diferentes BZDs em doses terapêuticas mostram que o uso prolongado (> 6 meses) leva a perda de eficácia na insônia, redução do sono de ondas lentas, entre outras alterações no eletrencefalograma (EEG) durante o sono. Desse 25 modo, conclui-se que BZDs devem ser prescritos por curto prazo de tempo na insônia e que o desenvolvimento de protocolos para assistir pacientes a retirar BZDs é necessário.17 No presente estudo os entrevistados faziam uso no mínimo há 07 anos e tinham idade entre 43 e 73 anos o que caracteriza uso crônico e indevido para fins hipnóticos. Além de uso inapropriado, o perfil de uso pode ser um forte indicativo de dependência por diazepam por esses usuários. A IC 1C, é “depressão” (tabela 1), a depressão é considerada uma das dez principais causas de incapacitação no mundo, limitando o funcionamento físico, pessoal e social. Entretanto, pequena parte das pessoas atingidas recebe tratamento apropriado, e sobre elas, o estigma pesa de forma significativa.15 DSC neste caso, caracteriza de forma clara a depressão (tabela 1) e, desta forma, parece inapropriado o uso de diazepam. No entanto, diversos estudos sugerem que a insônia pode ocorrer nos primeiros estágios do transtorno depressivo, bem como pode antecipá-lo ou ser um sintoma residual da depressão.4 Assim, apesar dos benzodiazepínicos não terem indicação direta para a depressão podem ser usados para sintomas secundários, como a insônia. De fato, alguns estudos tem mostrado que muitos médicos não psiquiatras, de forma equivocada, tem tratado pacientes que relatam depressão, apenas com benzodiazepínicos para reduzirem ansiedade e insônia.19 Já na IC 1D “crise” (tabela 1), apesar de não deixar claro o significado de crise, podemos inferir o uso para uma crise convulsiva. Se foi causada por alimentação (intoxicação) deveria ser uma crise aguda e o uso do diazepam justifica-se apenas em curto período. De fato o diazepam é o medicamento de escolha em uma crise convulsiva administrado de forma endovenosa. No entanto, se a crise caracteriza quadros epilépticos a crônicicidade pode ser explicada. A literatura aponta a epilepsia como uma doença neurológica comum na população em geral. No entanto, atualmente para o tratamento de crises epilépticas há opções mais adequadas do que o uso do diazepam para este fim, portanto, neste caso, o motivo do uso permanece obscuro12. Quanto a pergunta “Fale um pouco sobre como você usa esse medicamento (Diazepam) no seu dia a dia?”, podemos identificar a IC 2A, “só uso a noite” (tabela 2), o DSC evidência que, usa a noite porque “relaxa e aí 26 dorme bem” isso está relacionado a insônia, porque se o paciente não tomar o benzodiazepínico a noite não dorme, então usa para dormir. Diversos ensaios clínicos estabeleceram a efetividade dos benzodiazepínicos no tratamento em curto prazo da ansiedade aguda e insônia. Recentemente, uma revisão dos ensaios clínicos com benzodiazepínicos para o tratamento da insônia constatou não existirem estudos que contemplem a efetividade do tratamento a longo prazo.6 Contudo, como esses entrevistados já fazem o uso prolongado do diazepam, então há possibilidade de este já não fazer mais efeito e de que o paciente apenas utiliza por “achar” fazer efeito ou por dependência, já que estudos têm demonstrado que o uso contínuo pode aumentar o risco de dependência.17 Na IC 2B, “tomo de manhã e de noite” (tabela 2) mostra que o DSC toma duas dose por dia do benzodiazepínico. O DSC dá a entender que faz automedicação, pois faz novamente uso do benzodiazepínico quando “acorda agitada”. O que não se sabe é se o usuário toma essa nova dose com recomendação médica ou por conta própria. Além disso, a “agitação” pode estar relacionada a sintomas de abstinência. A IC 3A, “nunca passei mal” (tabela 3) em resposta a pergunta “Você já passou mal tomando este medicamento (Diazepam)? Fale um pouco sobre isso.” aponta um DSC de que não fez mal, e que irá passar mal se deixar de tomar o benzodiazepínico. A convicção coletiva é de que não se pode parar de tomar e, se parar, é que irá passar mal. Esse discurso pode ser um indicativo de dependência pela medicação. Talvez os entrevistados não relataram ter sentido algum efeito colateral, mesmo que este tenha ocorrido, por “necessidade de uso” ou dependência da medicação e, por esse motivo, negam qualquer tipo de efeito colateral. De fato, um estudo sobre o uso indevido de benzodiazepínicos por usuários crônicos mostrou que os pacientes relatavam que o uso da medicação era benéfico e estava sobre controle. No mesmo estudo os profissionais da saúde relatavam que os pacientes negavam qualquer efeito colateral para manter o uso do medicamento.13 Outros estudos mostram que a possibilidade de não relatarem os efeitos adversos, é por ter tido uma má orientação do médico e, portanto, desconhecer quais são esses efeitos.3 27 Na IC 3B, “sinto dores de cabeça” (tabela 3) o DSC aponta que sente dores de cabeça, podendo este ser um efeito colateral, mas indaga que “não sabe se é do benzodiazepínico e que precisaria de uma avaliação médica para confirmar ser do medicamento”. Entre os efeitos colaterais normalmente observados encontram-se boca-seca, visão embaçada, constipação, retenção urinaria, vertigem, ganho de peso, sonolência e pode ocorrer cefaléia.6 No entanto, cabe ressaltar que é possível que ele tenha tido outras reações e não esteja relacionando ao diazepam por falta de conhecimento dos seus efeitos colaterais como indicam alguns estudos.3 A IC 4A, “já tentei” (tabela 4) que responde a pergunta ”Você já tentou parar de tomar este medicamento (Diazepam)? Fale um pouco sobre isso.” mostra que o DSC tenta ficar sem o benzodiazepínico, mas seu esforço é inútil, pois não consegue, relata ter insônia, tem agitação, aumento da freqüência de batimentos cardíacos. Esse discurso deixa bem claro a idéia de que o uso crônico de diazepam por este sujeito coletivo pode ter causado dependência ao medicamento. Como alguns estudos citam, o uso prolongado de BDZs, ultrapassando o período de 4 a 6 semanas pode levar ao desenvolvimento de tolerância, abstinência e dependência.13 A dependência a alguns BZDs pode desenvolver-se em dias ou em semanas. Os principais sintomas de descontinuação do uso são geralmente opostos ao efeito terapêutico esperado da droga ou são uma intensificação da recorrência dos sintomas originais. Rebote é o retorno do sintoma original, só que mais intenso, sendo transitório.17 Entre os sintomas relacionados à descontinuação abrupta do uso crônico estão: insônia e/ou ansiedade rebote, aumento da freqüência cardíaca, aumento da pressão arterial, sudorese, náusea e/ou vômitos, tremor, agitação, diarréia, insônia, crises convulsivas e sintomas psiquiátricos e/ou neurológicos. Alguns mecanismos relacionados referem-se à perda aguda da inibição gabaérgica e aumento agudo da excitação do Sistema Nervoso Central.17 A dificuldade em distinguir os sintomas da abstinência do reaparecimento dos sintomas da ansiedade pode ser responsável pelo insucesso da interrupção. Alem disso estudos mostram que há pouca orientação médica para a interrupção do uso de benzodiazepínicos.3 A IC 5A, “consulto com o médico do posto pra pegar a receita” (tabela 5) em resposta a pergunta ”Durante todo esse tempo que faz uso do diazepam 28 como foi o acompanhamento médico?” destaca um DSC que indica ir ao posto pelo interesse ao medicamento do que pela consulta. Apesar de que esse dado pode ser interpretado de forma positiva pelo fato do paciente ter maior contato com o médico algumas considerações devem ser feitas. Dados da literatura mostram que muitos pacientes vão ao consultório somente para obter nova prescrição, fonte primária de suprimento da medicação pelas pessoas que usam abusivamente.3 De fato, um estudo sobre o uso indevido de medicamentos mostrou as diferentes estratégias de aquisição do medicamento pelo usuário. Nesse estudo os médicos relataram a simulação pelo paciente de doenças e queixas para aquisição do medicamento. Alguns estudos mostram que os usuários de benzodiazepínicos costumam consultar diferentes médicos para aquisição dos medicamentos.13 Com relação ao acompanhamento médico, dados na literatura tem mostrado que vários médicos não psiquiatras não acreditam no risco do uso contínuo de benzodiazepínicos e muitos são pessimistas quanto a descontinuação do medicamento em usuários crônicos.23 A irracionalidade no uso de BZDs vem sendo uma pratica muito comum por parte dos médicos que, muitas vezes, não apresentam conhecimentos suficientes de psicofarmacologia, o que torna a prescrição um ato acrítico e desbalanceado. Seria necessária a adoção de medidas urgentes que estimulem o uso racional destes medicamentos.3 Na IC 5B, “passo pelo psiquiatra” (tabela 5) destaca um sujeito coletivo, que vai ao psiquiatra de ano em ano, talvez por apresentar dificuldades aquisitivas, não podendo manter um acompanhamento mais freqüente que seria o ideal. O retorno do paciente ao médico periodicamente é um fator de importância para o monitoramento da dose, avaliação dos efeitos colaterais e da resposta terapêutica. A prescrição de benzodiazepínicos deve ser feita em condições apropriadas, com monitoramento cuidadoso, sempre objetivando estabelecer um bom vinculo com o paciente. Com esse tipo de abordagem, é possível minimizar os efeitos colaterais e evitar o desenvolvimento da dependência.3 Medicamentos de classe hipnóticos devem ser prescritos por médicos especialistas como os psiquiatras, para que os pacientes possam ter as informações corretas sobre uso e efeito adversos do medicamento. Mas estudos já apresentados mostram que os hipnóticos são prescritos mais por médicos não especialistas.21 29 CONCLUSÃO No presente estudo, o discurso do sujeito coletivo indicou um perfil de uso crônico indevido do diazepam. O estudo sugere que fatores relacionados a alteração do sono, em especial a dificuldade de dormir, foram os motivadores principais do uso do diazepam. O uso contínuo do diazepam por mais de 07 anos, a dificuldade de interromper o uso associado à síndrome de abstinência sugerem a dependência de diazepam por estes usuários. A metodologia do DSC mostrou-se eficaz para uma melhor elucidação do uso indevido de benzodiazepínicos pela população estudada. Diante disso, sugere-se a necessidade de profissionais especializados nas unidades de Estratégia de saúde da família e medidas educativas para orientar essa população quanto aos riscos do uso crônico do diazepam e, principalmente para a realização de medidas de interrupção e acompanhamento da interrupção gradativa do uso crônico de diazepam por esses usuários. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Secretaria Municipal de Forquilhinha-SC, pelo apoio logístico no desenvolvimento do presente estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. Alvarenga JM, Filho AIDL, Firmo JOA, Lima-Costa MF, Uchoa E. Prevalence and sociodemographic characteristics associated with benzodiazepines use among community dwelling older adults: The Bambúi Health and Aging Sudy (BHAS). Rev Bras Psiquiatr. 2008; 30(1): 7-11. 2. Andrade MDF, Andrade RCGD, Santos VD. Prescrição de psicotrópicos: avaliação das informações contidas em receitas e notificações. Rev Bras Cienc Farm. 2004; 40 (4) 471-479. 30 3. Auchewski L, Andreatini R, Galduróz JCF, Lacerda RBD. Avaliação da orientação médica sobre os efeitos colaterais de benzodiazepínicos. Rev Bras Psiquiatr. 2004; 26(1): 24-31. 4. Chellappa SL, Araújo JF. Transtornos do sono e, pacientes ambulatoriais com depressão. Rev psiquiatr clín. 2006; 33(5): 233238. 5. Fuchs FD, Wannmcher L, Ferreira MBC. Farmacologia Clinica: fundamentos da terapêutica racional. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004; p.1074. 6. Goodman LS, Gilman A, Brumton L. As bases farmacologicas terapêutica. 11 ed. Rio de Janeiro: McGrw-hill. 2006; p.1821. 7. Huf G, Lopes CDS, Rozenfeld S. O uso prolongado de benzodiazepínicos em mulheres de um centro de convivência para idosos. Cad saúde publica. 2000; 16(2): 351-362. 8. Katzung BG. Farmacologia: básica & clínica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2006; p.991. 9. Lefèvre F, Lefèvre AMC. Discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). 2 ed. – Caxias do Sul, RS: Educs. 2005; p256. 10.Licata SC, Rowleet JK. Abuse and dependence liability of benzodiazepinetype drugs: GABAA receptor modulation and beyond. Pharmacology, Biochemistry and Behavior. 2008; 90: 74-89. 11. Mendonça RT, Carvalho ACDD. O papel de mulheres idosas consumidoras de calmantes alopáticos na popularização do uso destes medicamentos. Rev Latino-Am Enfermagem. 2005; 13(spe2): 1207-1212. 31 12. Oliveira JD, Gouveia O. Transtornos psiquiátricos associados à epilepsia. Rev psiquiatr clín. 2003; 30(5): 160-164. 13. Orlandi P, Noto AR. Uso indevido de benzodiazepínicos: um estudo com informantes-chave no município de São Paulo. Rev Latino-am Enfermagem. 2005; 13(spe): 896-902. !4. Paredes NP, benzodiazepines Miasso without AI, Tirapelli prescription CR. among Consumption first-year of nursing students at the university of quayquil, school og nursing, Ecuador. Rev.Latino-Am. Enfermagem. 2008; 16(spe):634-639. 15- Peluso EDTP, Blay SL. Percepção da depressão pela população da cidade de São Paulo. Rev saúde publica. 2008; 42(1): 41-48. 16.Poyares D, Guilleminault C, Ohayon MM, Tufik S. Chronic benzodiazepine usage and withdrawal in insomnia patients. Journal of psychiatric research. 2004; 38: 327-334. 17. Poyares D, Pinto Jr LR, Tavares S, Vieira SB. Hipnoindutores e insônia. Rev Bras Psiquiatr. 2005; 27: 2-7. 18. Rang HP, Dale MM. Farmacologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2007; p 538-539 19. Ribeiro CS, Azevedo RCS, Silva VFD, Botega NJ. Chronic use of diazepam in primary healthcare centers: user profile and usage pattern. Sao Paulo Med J. 2007; 125(5): 270 - 274. 20. Silva R, Oliveira LJ, Soares AQ, Almeida AC, Aguiar C, Leão D, et al. Dispensação de benzodiazepínicos em quatro drogarias no setor central do município de Goânia – GO. Revista Eletrônica de Farmácia. 2005; 2 (2): 187189. 21. Souza JC, Magna LA, Paula THD. Sonolência excessiva diurna e uso de hipnóticos em idosos. Rev psiquiatr clín. 2003; 30(3): 80-85. 32 22. Teixeira JJV, Lefèvre F. A prescrição medicamentosa sob a ótica do paciente idoso. Rev saúde publica. 2001; 35(2): 207-213. 23. Uchida H, Suzuki T, Mamo DC, Mulsant BH, Kikuchi T, Takeuchi H, et al. Benzodiazepine and antidepressant use in elderly patients with anxiety disorders: A survey of 796 outpatients in japan. Journal of Anxiety Disorders. 2009; 23: 477-481. 33 34 35 36