Planejamento e gerenciamento de
emergências, desastres e epidemias
Brasília-DF.
Elaboração
Luiz Henrique Horta Hargreaves
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Todos os direitos reservados.
W Educacional Editora e Cursos Ltda.
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CEP 70200-630
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................... 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................. 5
Introdução.......................................................................................................................................... 7
Unidade úNICA
Emergência, desastres, terrorismos e epidemias................................................................................... 9
Capítulo 1
Sistemas de emergência e desastres...................................................................................... 11
Capítulo 2
Emergências químicas, biológicas e radioativas...................................................................... 43
Capítulo 3
Terrorismo........................................................................................................................... 55
Capítulo 4
Epidemias.............................................................................................................................. 65
PARA (NÃO) FINALIZAR.......................................................................................................................... 74
referências....................................................................................................................................... 75
APRESENTAÇÃO
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários
para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica
e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal,
adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a
serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente
e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios
que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua
caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como
instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma
didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão,
entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas,
também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Pensamentos inseridos no Caderno, para provocar a reflexão sobre a prática
da disciplina.
Para refletir
Questões inseridas para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre
sua visão sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar
seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você
reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho.
Textos para leitura complementar
Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e
sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico.
Sintetizando e enriquecendo nossas informações
abc
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
5
Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas
Aprofundamento das discussões.
Praticando
Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de
fortalecer o processo de aprendizagem.
Para (não) finalizar
Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão.
Referências
Bibliografia consultada na elaboração do Caderno.
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Introdução
Estudaremos a organização do atendimento pré-hospitalar. Veremos situações chamadas de especiais,
pois trataremos de condições que requerem atendimento altamente especializado, como nas emergências
biológicas, químicas e radioativas. Nesse contexto, não poderíamos deixar de falar, ainda, sobre terrorismo
e epidemias.
Um bom estudo para todos!
Objetivos
»» Compreender os conceitos de atendimento pré-hospitalar.
»» Compreender
conceitos de terrorismo e emergências químicas, biológicas e
radioativas.
»» Compreender a importância do tema no gerenciamento de crises.
»» Apresentar
conceitos e instrumentos para gerenciamento de emergências e
desastres em saúde pública.
»» Compreender conceitos e respostas em epidemias
7
Unidade
Emergência, desastres,
terrorismos e epidemias
úNICA
Capítulo 1
Sistemas de emergência e desastres
O atendimento pré-hospitalar, ou APH, como é conhecido no Brasil, é uma atividade relativamente
recente, que data da década de 1960, nos Estados Unidos.
Provavelmente poderão ser encontrados muitos autores que datam o atendimento pré-hospitalar
como sendo o correspondente ao das Guerras Napoleônicas, quando o médico militar de
Napoleão, Dominique Jean Larrey, preocupado com a sorte dos soldados feridos abandonados
no campo de batalha, desenvolve um sistema de transporte rápido para o atendimento precoce,
o que seria um protótipo das ambulâncias atuais.
Dr. Dominique Jean Larrey
Fonte: napoleonbonaparte.wordpress.com
11
UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Veículo de transporte (ambulâncias voadoras) de feridos de Dominique Larrey.
Fonte: www.newscientist.com
Esse médico teve, ainda, o mérito de organizar equipes com médicos cirurgiões e ajudantes, que eram
equipados com materiais para prestação de primeiros socorros. Isso no século XVIII, por volta de 1790.
O trabalho do Dr Larey foi importantíssimo; certamente ele revolucionou o atendimento médico nos
campos de batalha e na chamada “medicina de combate”, mas considerar que o atendimento pré-hospitalar
tem início com o Dr. Larey é discutível.
O trabalho do Dr. Larey era restrito à atuação em guerras para atender a soldados feridos. Seus conceitos
naturalmente foram aproveitados para o aperfeiçoamento em guerras futuras, como nos grandes conflitos
mundiais e, posteriormente, na Guerra da Coreia e do Vietnã, mas não podemos afirmar que, a partir
do século XVIII, o APH passou a ser organizado nos grandes centros e a funcionar com objetivo de
atendimento de pacientes de forma precoce até a remoção para o hospital. Esse conceito só vai surgir na
década de 1960, em pleno século XX.
Há muitas ações colocadas em curso, ao longo da história, que inspiraram e contribuíram para diversas
invenções modernas, mas não podemos fazer uma correlação direta dos fatos, pois há um enorme hiato
entre a criação das ambulâncias do Dr. Larey e a organização dos serviços pré-hospitalares. Há quem
considere o Dr Larey como sendo o fundador do Samu francês, o que é, no mínimo, absurdo, pois aquele
serviço foi criado apenas em 1968, mais de 100 anos depois.
Na verdade, podemos situar o início da organização do atendimento pré-hospitalar na década de 1960,
a partir do trabalho do Dr. Frank Pantridge, na Irlanda. Esse cardiologista foi o primeiro a utilizar um
desfibrilador portátil e criou o conceitode Unidade Coronariana Móvel, na cidade de Belfast. Ex-veterano
da Segundo Guerra Mundial, quando, como militar britânico, foi prisioneiro de guerra dos japoneses. Em
1967, publicou o artigo A Mobile Intensive-Care Unit in the Management of Myocardial Infarction, na
conceituada revista Lancet.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Dr. Frank Pantridge
Fonte: http://www.heartsine.com/HeartSine%20story%20images/pantridge.jpg
Unidade Coronariana Móvel do Dr. Pantridge
Fonte: <www.nireland.com/gi4xfr/ambs.htm>
Os americanos, a partir de uma artigo publicado na revista Science, em 1966, demonstraram sua
preocupação com as condições em que os pacientes chegavam aos hospitais, ficando claro que havia
necessidade de um atendimento pré-hospitalar.
Os franceses, utilizando um modelo em que o atendimento é realizado inicialmente por uma central de
regulação e a partir da avaliação do médico regulador, despacha o socorro mais adequado, criam o Samu,
em 1968. No modelo francês, os médicos urgentistas tripulam as ambulâncias e promovem a estabilização
do paciente no local do evento.
Os especialistas em reanimação na França são os anestesiologistas, que também são reanimatologistas.
Na França não há paramédicos.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Samu francês
Fonte: les2secouriste.skyrock.com/
Os americanos, por sua vez, tinham uma realidade diferente dos franceses e dos irlandeses em diversos
aspectos. O primeiro deles diz respeito à extensão territorial. Os Estados Unidos são muito maior do que
esses dois países, e isso tinha implicações na formação de equipes médicas. A população era muito maior
e o salário dos médicos nos Estados Unidosestava entre os maiores do mundo. Como colocar médicos
em ambulâncias?
A partir desses e de outros questionamentos, os Estados Unidos abrem o primeiro programa de residência
em Medicina de Emergência, na Universidade de Cincinnati, em 1970, e estabelece padrões para o
atendimento pré-hospitalar.
Surge, então, a figura dos Técnicos de Emergência Médica (EMT), que são classificados em diferentes
níveis: Básico, Intermediário e Paramédico. A forma e amplitude de atendimento dos EMTs varia de
estado para estado americano. Em alguns, eles podem atuar no suporte avançado de vida com base em
protocolos, em outros, necessitam de supervisão médica on-line. O paramédico, portanto, é o nível mais
avançado do EMT e não existe equivalente em nosso país.
Símbolo dos EMTs americanos
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Para saber mais sobre a história do APH, acesse:
<http://www.nemsmf.org/ (inglês)>
Atualmente, praticamente todas comunidades americanas possuem um serviço de emergência préhospitalar, seja ele básico ou avançado, rural ou urbano. A atuação dos médicos nesses sistemas é voltada
para o treinamento, a supervisão, o controle de qualidade e o gerenciamento de serviços. Os serviços
existem como estruturas governamentais ou pertencentes a empresas privadas. Os profissionais possuem
diferentes níveis de treinamento; muitos atuam também como bombeiros ou policiais e, em sua maioria,
são contratados e recebem salários, mas alguns serviços, sobretudo os rurais, são conduzidos por
voluntários (ARNOLD, 2006).
A ativação do serviço de emergência nos Estados Unidos é realizada pelo cidadão, a partir da ligação
para um número único de emergência (911). A triagem é, então, realizada pelo operador da central de
emergências, que definirá quais recursos serão despachados para o local (bombeiros, polícia, ambulâncias).
Uma vez que o serviço é acionado, um profissional de emergência mantém contato permanente com o
solicitante, por meio de ligação telefônica, de tal forma a orientá-lo até a chegada das equipes ao local.
Frequentemente, policiais e bombeiros são os primeiros a serem despachados e os primeiros a chegarem,
pois, usualmente, se encontram mais próximos, dada a distribuição das unidades de patrulhamentoe
quarteis de bombeiros.
Cartaz de divulgação do número único de emergências nos EUA.
Fonte: www.inewscatcher.com
O atendimento, por sua vez, é realizado de forma a estabilizar o paciente e a removê-lo sem demora até
o centro de referência. Segundo o modelo anglo-saxônico, convencionou-se chamar de “hora de ouro” o
tempo decorrido a partir do momento do trauma até o seu atendimento em uma unidade especializada
e que não deve ser superior a uma hora. Dentro dessa chamada “hora de ouro”, convencionou-se que
o pré-hospitalar não deveria ocupar mais do que 10 minutos, no chamado “10 minutos de platina”
(HARGREAVES, 2000).
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
No modelo chamado franco-germânico, representado comumente pelo sistema adotado pelo SAMU
francês, o médico faz a regulação das chamadas de emergência e é tripulante das unidades de atendimento.
O conceito de estabilização e transporte rápido é substituído pela estabilização cuidadosa e pelo tratamento
no local.
Segundo Dick (2003), as principais diferenças encontradas entre os modelos franco-germânico (FG) e
anglo-saxônico(AA) são as seguintes.
»» No AA, o paciente é trazido até o médico, enquanto que, no FG, o médico é levado
até o paciente.
»» No FG, pacientes em situação de urgência normalmente são avaliados e tratados
por clínicos gerais em seus consultórios ou na residência do paciente, com muito
pouca abordagem no serviço de emergência. A maioria dos pacientes tratados na
emergência de hospitais nos Estados Unidos não vai para o hospital, na Alemanha.
»» Pacientes
em situações de emergência (risco iminente de morte) são tratados
por médicos de emergência no local do evento e durante o transporte, no FG.
Paramédicos frequentemente chegam primeiro ao local do evento e, até a chegada
do médico, ele realiza os procedimentos iniciais de ressuscitação, básico e avançado.
»» Pacientes em situações de emergência podem ter que aguardar até 10 minutos pela
viatura e equipes apropriadas, em 80% das respostas, e até cerca de 15 minutos em
95% dos casos, no FG.
»» No
AA, o despacho é feito por um operador de emergência, que pode enviar
suporte básico ou avançado de vida. No segundo caso, a autoridade técnica maior
da tripulação é o paramédico, que deve conduzir a estabilização e o transporte da
vítima o mais rápido possível até o hospital.
»» O tempo total de atendimento pré-hospitalar no modelo FG é superior ao do AA.
»» A Medicina de Emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto que, no
FG, é considerada como umtreinamento adicional para especialistas de outra áreas.
»» O atendimento de emergência no FG é conduzido não apenas por anestesistas, mas
também por internistas, cirurgiões, pediatras e outros.
»» O sistema baseado em paramédicos, dos Estados Unidos, foi desenvolvido em 1973,
não porque se acreditava ser superior ao FG, mas por razões econômicas e uma
relativa deficiência de médicos disponíveis para a adoção de modelo similar ao
FG. Em contrapartida, o modelo alemão foi desenvolvido em 1938, pelo cirurgião
alemão Martin Kirchner, tendo sido adaptado, posteriormente, na década de 1950,
para o atendimento dos pacientes em situações de emergência, que deveriam receber
o melhor cuidado disponível, o que incluía o atendimento por médico qualificado.
No modelo AA, o paramédico atua como uma extensão do departamento de
emergência (por razões econômicas), enquanto que, no FG, o médico que atua
16
Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
no local do evento faz como extensão da unidade de terapia intensiva. O médico é
capaz de avaliar e fornecer atendimento inicial a diversas situações críticas, tendo o
paramédico como seu auxiliar.
Ainda de acordo com o mesmo autor, no FG, os médicos recebem um bom treinamento, embora o conceito
e a estrutura utilizados sejam diferentes da padronização americana. No FG, a Medicina de Emergência
é parte da grade curricular dos estudantes de Medicina, que devem, ao longo do curso, realizar cursos de
suporte básico e avançado da vida, bem como treinamento específico para o atendimento de emergências.
Além disso, a Medicina de Emergência é parte do exame final obrigatório. Após a conclusão do curso (6
anos), cada médico deve atuar em um sistema semelhante ao internato americano, por 18 meses, em que
são exigidas atividades práticas de emergência.
No AA, a Medicina de Emergência é uma especialidade primária nos Estados Unidos (3 anos).
Na avaliação do estudo apresentado por Dick(2003), chega-se às seguintes conclusões.
1. No FG, o médico é levado até o paciente, enquanto que, no AA, o paciente é levado
até o médico.
2. No FG, médicos de emergência e paramédicos fornecem atendimento de terapia
intensiva aos pacientes, o que permite alta qualidade no atendimento de emergência.
3. No FG, se os paramédicos possuem treinamento especializado podem realizar alguns
procedimentos, não apenas de suporte básico de vida, mas também avançado, sob
supervisão médica.
4. No AA, o paramédico tem mais autonomia no atendimento do que no FG.
5. As taxas de morbidade e mortalidade têm decaído no FG e são semelhantes ao do
AA, para as situações de emergência, compreendidas por aquelas conhecidas como
“hora de ouro” do atendimento.
6. O custo per capita ou por atendimento de emergência, no FG, é similar ou até mesmo
menor do que o do AA, com qualidade semelhante ou superior ao do AA.
7. Medicina de Emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto, no FG, é
uma supraespecialidade, ou seja, um treinamento adicional para especialistas de
outras áreas.
O estudo em questão avalia, portanto, a questão da resposta pré-hospitalar, sem tecer maiores considerações
a respeito do atendimento hospitalar que nos Estados Unidos é realizado por especialistas em emergência
médica,enquanto, no FG, pelo próprio especialista que a patologia requer. O que poderia parecer uma
vantagem, no caso de o atendimento, no FG, ser realizado pelo próprio especialista, recebe muitas críticas,
pelo tempo e custo demandado, pois um paciente com traumatismo craniano leve, enquanto é muito
bem atendido por um médico de emergência nos Estados Unidos, no modelo FG, é frequentemente
avaliado por um especialista em neurologia ou em neurocirurgia, o que contribui para sobrecarregar
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
o atendimento desses especialistas. Nos Estados Unidos, apenas casos referenciados pelos médicos de
emergência são encaminhados aos outros especialistas.
A resposta em desastres no modelo francês é feita por intermédio do médico regulador do Serviço de
Assistência Médicade Urgência (Samu), que despacha equipes médicas para avaliação da situação. É, então,
acionado o chamado PlanoVermelho se a situação se configura como acidente com múltiplas vítimas. O
atendimento no local do evento com o sistema de triagem é bem semelhante ao utilizado nos Estados
Unidos, com a ressalva de que, no modelo FG, a avaliação e o atendimento inicial já são conduzidos por
médicos, enquanto que, nos Estados Unidos, quem desempenha essas funções é o paramédico. O médico,
naquele país, apenas em situações muito específicas e/ou graves, é deslocado para o local do evento, o que
é feito em conjunto com o Corpo de Bombeiros. No modelo FG, uma vez acionado o Plano Vermelho
(simultaneamente é acionado o chamado Plano Branco, destinado a colocar os hospitais em alerta),
as equipes médicas passam a atuar em conjunto com os demais profissionais de socorro (bombeiros,
polícia etc.)
APH no Brasil
O modelo de resposta em emergências e desastres no Brasil possui algumas peculiaridades.
Não há um modelo nacional de Planos de Desastre, tampouco de resposta coordenada. Algumas poucas
cidades possuem planos específicos , mas não há a cultura nem a doutrina do emprego do ICS (Incident
Command System) no gerenciamento de crise, de um modo geral. A maioria dos hospitais sequer sabe o
que é um Sistema de Comando de Incidentes.
Até pouco tempo atrás não existia, no Brasil, um sistema ou modelo predominante de atendimento de
emergência pré-hospitalar e cada estado ou município adotava o que julgava ser melhor para sua região.
Assim, enquanto no Rio de Janeiro predominava o modelo franco-germânico, na maioria das demais
regiões existia um modelo misto, com utilização de socorristas, técnicos de enfermagem e médicos (que
só eram deslocados após avaliação do suporte básico ou mediante protocolos) ou simplesmente não
existia modelo algum e o atendimento era feito por bombeiros ou pela prefeitura (HARGREAVES, 2000).
Em 2003, com a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência Samu, no âmbito do SUS, o
Brasil passou a adotar o modelo franco-germânico, com protocolos e estrutura semelhantes ao Samu
francês. Segundo informações do Ministério da Saúde, disponibilizadas no site do Samu, atualmente há
70 Serviços de Atendimento Móvel de Urgência implantados e em operação no Brasil. Ao todo, 266
municípios são atendidos pelo Samu.
A Portaria no 1.863/GM, de 29 de setembro de 2003, do Ministério da Saúde, que “Institui a Política
Nacional de Atenção às Urgências, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as
competências das três esferas de gestão”, estabelece, no inciso 4 do art. 2o:
Estabelecer que a Política Nacional de Atenção às Urgências, composta pelos sistemas
de atenção às urgências estaduais, regionais e municipais, deve ser organizada de forma
que permita:
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
[...]
4 – fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às necessidades
coletiva sem saúde, de caráter urgente e transitório, decorrentes de situações de perigo
iminente, de calamidades públicas e de acidentes com múltiplas vítimas, a partir da
construção de mapas de risco regionais e locais e da adoção de protocolos de prevenção,
atenção e mitigação dos eventos.
A Portaria no 2.048/GM do Ministério da Saúde, de 5 de novembro de 2002, determina
que:
Os Corpos de Bombeiros Militares (incluídas as corporações de bombeiros
independentes e as vinculadas às Polícias Militares), as Polícias Rodoviárias e outras
organizações da Área de Segurança Pública deverão seguir os critérios e os fluxos
definidos pela regulação médica das urgências do SUS, conforme os termos deste
Regulamento.
A Portaria no 2.072/GM, de 30 de outubro de 2003, institui o Comitê Gestor Nacional de Atenção às
Urgências e determina, em seu art. 3o, que seja elaborado o “Plano de Atenção aos Desastres”.
Assim, o Brasil possui diretrizes nacionais para a resposta de emergência, segue o modelo francogermânico de resposta a emergências e urgências pré-hospitalares, possui órgãos estaduais para conduzir
as operações de gerenciamento de crises e resposta estratégica de emergências, mas não possui um sistema
de comando e controle de fato instituído(salvo em poucas cidades), tampouco um Plano de Atenção aos
Desastres , como modelo nacional, e cada corporação e organização segue suas próprias orientações
operacionais e administrativas, em alguns estados sob coordenação da Defesa Civil, mas sem que haja
uma padronização de respostas para eventos críticos, como parte de uma doutrina ou cultura.
Ambulâncias do Samu no Brasil
http://www.es.gov.br
Não basta um serviço ter ambulâncias para ser considerado como APH. Sendo público ou privado, é
necessário que haja algumas características presentes.
»» Ter equipe treinada em APH e unidades dedicadas a esse tipo de atendimento.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
»» Ser apenas de Suporte Básico de Vida, situação de muitos Corpos de Bombeiros no
país, de Suporte Básico e Avançado de Vida ou, ainda, apenas de Suporte Avançado
de Vida, mais comumente encontrado em serviços privados.
»» Contar com a presença de regulação médica.
»» Possuir
unidades especialmente equipadas para APH, podendo, no entanto,
ser especializadas para um tipo de atendimento (UTI Pediátrica, Coronária, de
Trauma etc.).
»» Ter equipes em condições de atuação em sistema de pronto-emprego.
As unidades de suporte avançado de vida, obrigatoriamente, devem ser tripuladas com médico
e enfermeiro.
Não existe, no Brasil, a atividade de Paramédico, nem de Técnico de Emergência Médica. Existem
Técnicos de Enfermagem com treinamento de emergência, mas que em nada se assemelham, em termos
de formação e função, aos do EMT americano. Os Técnicos de Enfermagem, no Brasil, não podem atuar
sem supervisão de enfermeiro e nenhuma medicação pode ser fornecida sem a devida prescrição médica.
Procedimentos invasivos, como a entubação orotraqueal, são privativos do médico. A desfibrilação externa
automática pode ser realizada por qualquer pessoa que tenha sido treinada, no entanto, a desfibrilação
convencional, apenas por médico. Acesso venoso periférico pode ser realizado por profissionais de
enfermagem, desde que haja prescrição médica, e jamais por socorristas.
A atividade de socorrista é entendida como sendo a prestação de suporte básico de vida por pessoas que
tenham sido treinadas em primeiros socorros. Não é profissão regulamentada em nosso país.
Com relação ao pronto-emprego, é importante que tenhamos em mente que, quanto mais rápido o
atendimento inicial, maiores as chances de sobrevivência do paciente, no entanto, isso não autoriza a
ambulância a se deslocar em alta velocidade. Sua localização deve ser devidamente estudada para que
esteja próxima das ocorrências, quando existirem.
Embora o espaço seja produto da velocidade pelo tempo, o que nos incentivaria
a correr, a energia cinética liberada, é igual ao produto da massa pela velocidade
elevada ao quadrado, dividida por dois, ou seja, não é correndo que conseguiremos
resolver a falta de planejamento ou de recursos materiais.
O tempo de resposta ao atendimento corresponde às seguintes fases.
»» Tempo decorrido do evento até a chamada de socorro.
»» Tempo decorrente do recebimento da chamada até o despacho do socorro.
»» Tempo
do recebimento do despacho do socorro até o início do deslocamento
das unidades.
»» Tempo do deslocamento das unidades até o local do evento.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Não é admissível que, pela falha na resposta nos itens de 1 a 3, o item 4 seja utilizado para compensar o
tempo decorrido.
O item 1 é independente do serviço, mas os itens 2 e 3 são diretamente relacionados à organização e
à disponibilidade de recursos materiais e humanos do serviço de APH. O iten 3 deve ser o mais curto
possível.
Assim, o serviço de APH é fundamental no atendimento a vítimas, decorrente dos mais variados agravos
à saúde, mas há necessidade de organização, coordenação, treinamento e planejamento.
Para saber mais sobre Regulação Médica nas emergências acesse:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Manual%20de%20
Regulacao%20Medica%20das%20Urgencias.pdf>
O SAMU utiliza o termo “urgências” para toda situação crítica, mas, na literatura, encontramos a
diferenciação entre emergência (risco iminente de morte) e a urgência (necessidade imediata de
atendimento, mas sem risco iminente de morte). Seria a diferença do vermelho para o amarelo, na triagem.
Nosso país ainda tem muito no que avançar com relação ao APH. Há milhares de locais onde simplesmente
inexiste um APH organizado, bem como há outros onde, inexplicavelmente, existe uma competição entre
serviços públicos, com bombeiros, Samu e até mesmo polícia, atuando de forma contrária aos interesses
da população. Esses serviços devem atuar de forma integrada, em que cada um responde por sua área
de especialização. Em um incêndio, a autoridade é o bombeiro em uma ocorrência policial, é a polícia e,
na emergência médica, é o médico. Simples assim. Há, também, muitos problemas envolvendo serviços
públicos e privados e equipes de APH com profissionais que atuam apenas em hospitais.
É uma questão cultural, que deve passar por diversas modificações. Começa nos currículos escolares, com
a população desde cedo aprendendo primeiros socorros e a acionar os serviços de emergência apenas
quando necessário. Os profissionais de segurança pública e saúde, ao trabalharem de forma integrada,
otimizam o atendimento de APH. É dessa forma que Seattle, nos Estados Unidos, possui um dos melhores
serviços de APH do mundo.
Há necessidade de protocolos organizados, da utilização do Comando de Sistema de Incidentes (ICS)
para eventos que o exijam, bem como da interação com os serviços hospitalares.
É um caminho que pode ser longo, mas que deve ser percorrido!
Desastre é qualquer evento crítico que excede a capacidade de resposta
da sociedade.
Ciottone
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Seguranças pública
Iniciaremos nosso estudo em Segurança Pública, falando da Prevenção e Resposta em Incidentes Críticos,
como um dos elementos de Gestão de Crises em Defesa Civil.
O conceito de Defesa Civil é discutido, em diferentes países do mundo desde a década de 1920,
objetivando preparar a população civil para ataques militares. Essa preparação foi fundamental ao longo
dos anos, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial. Durante os anos 1950 e 1960 contudo, houve a
organização de serviços de Defesa Civil em diversos países, motivados pela Guerra Fria e o medo de uma
guerra nuclear.
Foi, no entanto, na década de 1970, mais precisamente durante a Conferência Diplomática para
Reafirmação e Desenvolvimento da Lei Humanitária Internacional em Conflitos Armados (1974-1977),
, que o papel da Defesa Civil, como instituição de proteção dos civis em situações de conflitos, foi não
apenas reconhecido como importante, como inserido no Protocolo Adicional I das Convenções de
Genebra.
Este Protocolo define Defesa Civil (Proteção Civil) como “conjunto de ações humanitárias voltadas para
a proteção de populações civis contra perigos oriundos de hostilidades ou desastres, de tal forma a assistilas em suas necessidades imediatas e assegurar as condições necessárias à sua sobrevivência”.
O símbolo internacional da Defesa Civil, também chamada de Proteção Civil em alguns locais, é um
triângulo laranja em fundo azul, mas cada país fez suas adaptações a este símbolo.
O surgimento da Defesa Civil, no Brasil, dá-se a partir de 1942, com a entrada do Brasil na Segunda
Guerra Mundial .
Para conhecer mais sobre a história da Defesa Civil no Brasil, acesse o link abaixo:
<http://www.defesacivil.gov.br/historico/brasil.asp>
Desde então, diversas mudanças foram ocorrendo na estrutura da Defesa Civil, até chegarmos à
configuração atual de Secretaria Nacional de Defesa Civil, órgão do Ministério de Integração Regional.
O Órgão Superior da Organização do Sistema Nacional de Defesa Civil, no Brasil, é o Conselho Nacional
de Defesa Civil (CONDEC), responsável pela formulação e pela deliberação de políticas e diretrizes
do sistema. O CONDEC é composto por representantes de diversos órgãos governamentais do Poder
Executivo.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil é responsável pela articulação, coordenação e supervisão técnica do
sistema, constituindo-se em Órgão Central.
Abaixo do Órgão Central, há os Órgãos Regionais, que, através das Coordenadorias Regionais de
Defesa Civil (CORDECs), são responsáveis pela coordenação e pela articulação do sistema em nível
regional e por esta razão estão presentes nas 5 macrorregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste,
Sudeste e Sul).
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Em nível estadual, essa coordenação está à cargo das Coordenadorias Regionais de Defesa Civil e do
Distrito Federal (CEDECs) e, em nível municipal, das Coordenadorias Municipais (COMDEC) e Núcleos
Comunitários (NUDECs) de Defesa Civil.
O instrumento legal que trata e dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil e o Conselho Nacional
de Defesa Civil é o Decreto no 7.257, de 2010, e a Lei no 12.340, também, de 2010.
»» Legislação sobre Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/
legislacao/index.asp>
»» Organização do Sistema Nacional de Defesa Civil – <http://www.
defesacivil.gov.br/sindec/organizacao.asp>
»» Política Nacional de Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/
sindec/politica.asp>
»» Defesa Civil nos Estados – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/
estados/index.asp>
»» Objetivo da Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/
index.asp>
Logo da Defesa Civil do Brasil
A Constituição Federal brasileira, em seu art. 144, assim dispõe:
Da Segurança Pública
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I – Polícia Federal;
II – Polícia Rodoviária Federal;
III – Polícia Ferroviária Federal;
IV – Polícias civis;
V – Polícias militares e corpos de bombeiros militares.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Ao definir as ações dos corpos de bombeiros diz que: “aos corpos de bombeiros militares, além das
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”.
Esta é uma discussão antiga em diversos meios, pois há muitas pessoas que enxergam nessa afirmação
que a execução das atividades de defesa civil é prerrogativa exclusiva dos corpos de bombeiros. Não é.
Uma vez que as ações de defesa civil são inerentes a vários órgãos e também à sociedade organizada; os
corpos de bombeiros têm o dever constitucional de executarem as atividades de defesa civil (não podem
deixar de fazê-lo), mas não é uma exclusidade. Mesmo porque, se assim fosse, estaríamos relegando o
conceito amplo de defesa civil às atividades específicas de bombeiro. Naturalmente que, entre as ações de
defesa civil, há algumas que são típicas da atividade de bombeiro como a de salvamento e de combate à
incêndios e neste caso devem ser realizadas por bombeiros, sempre que possível. Infelizmente muitos são
os municípios que sequer dispõem de um destacamento de bombeiros, além de temos, em nosso país,
uma tradição forte de bombeiros voluntários, como em outros países, como o Chile. No Brasil, a maior
parte dos bombeiros voluntários está no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Nos Estados Unidos, a Defesa Civil foi transformada em Agência Federal de Manejo de Emergências
(FEMA) e é parte do Departamento de Segurança Interna (Homeland Security Department), surgido
após os atentados de 11 de setembro.
<http://www.dhs.gov/index.shtm> – Departamento de Homeland Security
<http://www.fema.gov> – FEMA
Ao colocar a FEMA no mesmo Departamento em que estão órgãos de combate ao terrorismo, os Estados
Unidos centralizaram as ações de prevenção e resposta às mais diferentes situações críticas em uma única
instituição, visando ao trabalho integrado e seguindo uma única política de ações.
Isso já não ocorre no Brasil. Aqui temos diferentes ógãos, sob a responsabilidade de diferentes ministérios,
muitas vezes tratando de temas comuns. Não é à toa que uma pergunta é sempre feita no Brasil, quando
se trata de resposta a desastres. Quem assume a coordenação?
Embora o Sistema de Comando de Incidentes (ICS), que estudaremos em breve, seja uma excelente
ferramenta, ainda é pouco utilizado no Brasil e não resolve todas situações de crise, estando mais
indicado para resposta a emergências e desastres. Há, no entanto, outras crises a serem resolvidas em
Segurança Pública.
Ao tratarmos de Prevenção e Resposta a eventos críticos e em particular a desastres e incidentes com
múltiplas vítimas, é fundamental que primeiro saibamos definir essas situações.
Diante de incidentes com magnitudes diferentes, independente de sua natureza, há necessidade de
resposta articulada e organizada. Sutingco (Ciottone, 2006, cap. 30) afirma que “muitos incidentes,
independente de tratar-se de um desastre ou incidentes menores, frequentemente requerem resposta
coordenada de uma variedade de agências ao longo de um já estabelecido sistema de comando e controle.
O Incident Command System (ICS) foi criado para ser utilizado na cena de emergências e tem se tornado
um instrumento-modelo de comando, controle e coordenação de uma efetiva resposta de emergência”.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
A maioria dos planos de atendimento de múltiplas vítimas é inadequada e usualmente inferior aos
procedimentos adotados na resposta diária de emergências. Essa constatação ocorre tanto em comunidades
com resposta avançada de emergência médica, quanto aquelas em que há apenas o sistema de resposta
básico (Butman,1982).
Os acidentes com múltiplas vítimas são aqueles em que, independente da natureza do evento, causam
lesão à diversas pessoas simultaneamente. Nestas circunstâncias, é comum a resposta desorganizada por
parte de equipes de emergência, seja no atendimento inicial, seja na definição do hospital de destino.
Um exemplo de acidente com múltiplas vítimas foi o atentado de 11/09 ao World Trade Center em
Nova York (EUA). Nos desastres, a situação é diferente. A capacidade de resposta é inferior à magnitude
do evento e, assim, a maioria das decisões estratégicas é tomada com base na estrutura existente e,
frequentemente, o caos é estabelecido. Há em comum, no entanto, com as duas situações, a necessidade de
resposta organizada, gerenciada com base em conceitos estratégicos, gerenciamento de crise e qualidade
no atendimento.
Os chamados eventos críticos de grande porte, como acidentes com múltiplas vítimas e desastres, além
de causarem comoção popular, requerem atendimento básico e especializado, de forma coordenada e
baseada em planejamento adequado à realidade local, bem como treinamento continuado das equipes de
emergência e da população.
A resposta de emergência deve ser baseada nessas situações de forma integrada, com comando unificado
pelo conceito internacionalmente conhecido como “Incident Command System”, ou seja um sistema de
comando para incidentes, em que as diversas faces da resposta, como operações e logística, são tratadas
de forma objetiva e com planejamento focado nas ações em curto, médio e longo prazo.
Em situações de desastre, como furacões, ou em grandes tempestades onde há isolamento e grande
destruição de cidades, sobretudo no interior do país, frequentemente há um número de vítimas superior
à capacidade de resposta das equipes de atendimento e hospitais da região. O atendimento é usualmente
descoordenado e até mesmo improvisado. Poucas são as cidades preparadas para contingenciamento de
emergências e desastres. Não há diferenças entre desastres e catástrofes. Ambas palavras possuem o mesmo
significado. No entanto, encontramos com maior frequência, em inglês e em espanhol, o equivalente
à desastre (disaster e desastre, respectivamente), enquanto os franceses preferem o equivalente à
catástrofe (catastrophe).
Os nossos problemas começam a partir da definição. Não há um consenso, em nosso país, quanto a esses
termos, apesar de internacionalmente consolidados.
A Defesa Civil brasileira considera desastre “o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados
pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e
consequentes prejuízos econômicos e sociais”. Esta é uma definição ampla demais e se a adotássemos,
praticamente qualquer evento da natureza que provocasse qualquer tipo de dano ou prejuízo seria
considerado um desastre, o que gera um grande problema, pois, assim, quando acionar um Plano de
Desastres? A Defesa Civil (<http://www.defesacivil.gov.br/desastres/recomendacoes/declarar/index.
asp>) adota ainda os termos “Emergência em Desastre” e “Estado de Calamidade em Desastres”, o que
acaba gerando alguma confusão e redundância, pois, por definição internacional, um desastre já é uma
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
situação de emergência e de calamidade pública. Seria muito importante que todos seguissem a mesma
nomenclatura e doutrina, no caso, a internacional.
Uma situação de desastre requer o esgotamento da resposta local, pela superioridade da magnitude do
evento. Assim, adotaremos a definição internacionalmente aceita de desastre, que é aquela definida por
Ciottone, em seu livro Disaster Medicine (2007), “Desastre é qualquer evento que excede a capacidade
organizada de resposta da sociedade”. Ou seja, não basta um evento ser de grande magnitude, nem crítico,
nem que cause muitos danos ou muitas mortes. Para ser um desastre, a capacidade de resposta organizada
deve ser excedida pelo impacto ocorrido. Do contrário, teremos acidentes com múltiplas vítimas ou
mesmo grandes tragédias, que implicam dor e sofrimento, mas não se traduzem por planos específicos.
Os incidentes são definidos pela FEMA, como sendo “uma ocorrência, seja causada pelo homem ou por
um fenômeno da natureza, que requer ações de resposta para prevenir ou minimizar perdas de vida ou
danos à propriedade e/ou ao meio ambiente”. É com esta definição que iremos trabalhar.
A formação de Gabinete de Crise é comumente negligenciada e muitos são os mitos que envolvem
o atendimento de emergências e desastres. O Gabinete de Crise, no entanto, deve providenciar o
gerenciamento de informações e do conhecimento necessário ao gerenciamento completo do evento,
bem como a integração e a coordenação da resposta como um todo.
Os desastres quanto à sua natureza podem ser os seguintes.
»» Naturais: tornados, furacões, terremotos etc.
»» Provocados pelo homem: terrorismo, incêndioss, acidentes aéreos etc.
»» Mistos: parte causada pelo homem e parte decorrente de fenômeno da natureza.
Ex.: Uma pessoa atira um cigarro aceso na mata, que, por estar muito seca e o vento
favorável, produz incêndio florestal.
»» Siderais: Causados por elementos espaciais
Para fins didáticos, podemos dividir os eventos críticos e, particularmente, os encontrados em Emergências
e Desastres.
»» Pré-Impacto
»» Impacto
»» Pós-Impacto
Fase pré-impacto
Fase em que não há situação de desastre declarada. Vai desde a completa ausência de indícios da iminência
de um desastre até a sua ocorrência.
É nesta fase que trabalhamos na prevenção.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Precisamos cultivar a cultura de que a ocorrência de um desastre em nossa comunidade, não é uma
questão de “se”, mas de “quando”. Não há nenhuma comunidade ou região do mundo imune a um desastre.
Em emergência, a ocorrência de desastres no passado pode servir de alerta para o futuro, mas a
ausência de desastres no passado serve apenas para estatística, não servindo como fator preditor para
situações futuras.
A fase de pré-impacto é assim constituída.
»» Análise de Vulnerabilidades, Ameaças e Riscos
»» Planejamento
»» Sistemas de Contingenciamento
»» Treinamento
»» Monitoramento de situações de risco potencial
»» Alerta
»» Alarme
Análise de vulnerabilidades, ameaças e riscos
Este foi o tema de nossa primeira disciplina do curso, propriamente dito, dada a sua importância na
prevenção de crises.
Não há hipótese de se realizar uma prevenção bem feita se não sabemos quais são nossos pontos fracos,
fortes, nossas vulnerabilidades, quem nos ameaça e o risco a que estamos expostos.
Quem deve ser o responsável por este levantamento e análise? Em um nível micro, representado pelo
ambiente de uma empresa, a própria instituição deve realizá-lo, por meio da Comissão de Prevenção de
Acidentes e da Medicina e Engenharia do Trabalho. Mesmo porque além de ser obrigação legal, prevista
na normativa do Ministério do Trabalho, é de total interesse da corporação a prevenção de acidentes e
desastres. Infelizmente, na prática, as CIPAs com frequência se limitam a atender ou verificar os acidentes
depois de ocorridos, algumas nem isso fazem. Poucas empresas possuem brigadas de incêndio e, menos
ainda, análise de risco.
Em nível comunitário, municipal ou estadual, esta competência deve ser dos órgãos de Defesa Civil.
Isso não significa que à própria Defesa Civil tenha que executar o trabalho em si, mas coordenar a
sua elaboração e sua análise, visando à construção de mapas de risco, planos de contingenciamento,
treinamentos e demais elementos desta fase. Aliás, um ponto precisa ser deixado claro: a Defesa Civil, não
é órgão executor, mas de planejamento e coordenação, não faz sentido, portanto, como vemos em alguns
locais do país, viaturas da Defesa Civil prestando atendimento de emergência, remoção de cadáver, entre
outras ações que deveriam ser de responsabilidade de órgãos executores, como o Corpo de Bombeiros,
por exemplo.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
O fato da Defesa Civil não ser órgão executor, não a exime de estar à frente das ações que precisam ser
coordenadas, pois esta é a sua função e mais tarde veremos como isso deve se dar.
A forma mais fácil e prática de realizar mapas de risco nas comunidades é trabalhar em conjunto com os
moradores locais. Os órgãos encarregados de fazerem o estudo de risco da região, para posteriormente
encaminharem à Defesa civil, ao entrarem em contato com os habitantes da região, além de poderem
obter apoio e confiança importante, que é recíproca, poderão conhecer, mais de perto, situações que
não serão reveladas por mapa ou satélite, como pontos de alagamento. É importante, também, que a
população veja nesses profissionais, um apoio e não a desconfiança. Podem achar, por exemplo, que tratase de fiscais do governo ou de pessoas com outros interesses.
Nesse sentido, há muitas comunidades que possuem um Conselho Local de Segurança Comunitária, em
que são discutidas temas relativos à Segurança Pública, com representantes do governo e da comunidade.
Uma vez que os dados são obtidos, devem ser analisados e mapas de risco construídos e encaminhados
à Defesa Civil municipal, no caso do Distrito Federal, a estadual. Infelizmente não é assim que ocorre de
forma rotineira em nosso país e ainda há muitos municípios que não possuem Defesa civil organizada.
Nessas situações, os mapas de risco devem ser construídos e encaminhados à Prefeitura, para serem
consolidados, posteriormente, em um Plano de Contingências.
Planejamento
A fase seguinte ao levantamento das vulnerabilidades e ameaças é a análise dos dados obtidos para a
quantificação de risco e posterior elaboração dos mapas de risco da região.
Concluída essa operação, dá-se início ao Planejamento. O que será planejado? Serão construídos Planos
de Contingenciamento e Planos de Desastre, que não são sinônimos.
Nos Planos de Desastre, são elencadas as condições para decretação de desastre e como se dá o
desencadeamento das ações necessárias à sua resposta. (Na prática, quem faz o que, por que faz, quando
faz, quem liga para quem e como é feito). De uma forma geral e integrada, sem pormenorizar os tipos de
desastre e nem ações específicas.
É importante, no planejamento, que haja representantes, com formação na área, de diferentes órgãos
executores, mas, obrigatoriamente, da Secretaria de Saúde, do Corpo de Bombeiros, da Polícia
Militar, da Secretaria de Segurança, de Viação e Obras, entre outros que sempre precisam trabalhar de
forma integrada.
O Plano de Desastres surgido deverá ser do conhecimento de todos os órgãos do sistema que, de alguma
forma, participam da prevenção e resposta organizada a desastres.
Sistemas de contingenciamento
A partir do Plano de Desastre, são elaborados Planos ou Sistemas de Contingenciamento. O que
isso significa?
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Nos Planos ou Sistemas de Contingenciamento, são elencadas hipóteses para cada tipo de situação
prevista e priorizada, conforme o mapa de riscos. Por exemplo, em um plano destes, podemos ter como
hipótese 1, incêndio na refinaria da região e, a partir dessa hipótese, é elaborado todo o plano de ações a
serem empregadas, de forma detalhada. Todos devem conhecer a fundo o Plano de Contingências? Não.
Os responsáveis pelos órgãos , os planejadores e encarregados de coordenação, sim. Os operadores devem
saber o que é de responsabilidade deles, executar, o que não deve ser confundido com o compartilhamento
de informações, que deve ser do conhecimento de todos.
Esse compartilhamento significa que as informações com relação à evolução do incidente devem ser de
conhecimento de todos os envolvidos na operação, mas não dá direito a eles, a repassá-las ao público, o
que é prerrogativa de responsável pela Comunicação da Crise, o que será posteriormente estudado.
Conhecer a fundo um Plano de Contingências significa ter à mão todas ações a serem desenvolvidas por
cada um dos órgãos do sistema e, portanto, esta é uma função e responsabilidade dos coordenadores do
sistema de comando de incidentes (Incident Comanders), como estudaremos em outra disciplina.
Treinamento
O treinamento é uma das atividades mais importantes, mas frequentemente negligenciada. Muitos
profissionais entendem que, pelo fato de serem graduados em suas profissões, não precisam receber mais
treinamentos, sobretudo de outras áreas.
A equipe médica, por exemplo, deve ser muito bem treinada não apenas em suporte avançado de vida,
mas também em suporte básico de vida, pois, em uma parada cardíaca, as medicações e os procedimentos
avançados são muito importantes. Se o paciente não recebe o suporte básico de forma adequada, não
estará sendo atendido como deveria e as chances de insucesso são muito grandes.
O treinamento das equipes obrigatoriamente deve seguir dois caminhos. O primeiro é a seleção de quem
será treinado e, em seguida, que tipo de treinamento será oferecido e com que frequencia.
No processo de selecionar quem será treinado, deve-se estabelecer uma prioridade. Profissionais da área
de Saúde e de Segurança Pública devem ser os primeiros.
Todo servidor da área de Segurança Pública (incluindo policiais e bombeiros) e profissional de saúde
(incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, odontólogos,
fonoaudiológos) devem ser certificados em suporte básico de vida e revalidados periodicamente. Nenhum
profissional dessas áreas poderia trabalhar sem sua certificação em dia, o que significa não apenas
participar de um curso de suporte básico de vida, mas ser aprovado em questões teóricas e práticas.
Nesse treinamento deve estar incluído o uso do desfibrilador externo automático e suporte de vida
no trauma, o que inclui atendimento com grande número de vítimas e desastres. Não é aceitável que
um profissional de segurança pública ou de saúde não estejam preparados para atendimento de
primeiros socorros.
A segunda fase do treinamento implica aprofundar os conhecimentos específicos e ampliar o básico.
Assim, o suporte básico de vida deve ser extendido a professores, taxistas, motoristas de coletivos e,
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
posteriormente, à população como um todo. Não há explicação lógica do ensino de primeiros socorros
não ser obrigatório no Ensino Fundamental e Médio, ao lado de aulas de cidadania. Como também
o motivo de não se ensinar o suporte básico e o avançado na maioria das faculdades de Medicina. É
absurdo, mas a maioria dos médicos sai da faculdade sem ter recebido treinamento teórico-prático em
suporte avançado de vida.
O treinamento especializado passa a ser direcionado às equipes de socorro propriamente ditas. O
ensinamento deve ser compartilhado. Um curso de Resposta a Desastres deve ser feito por equipes de
bombeiros, policiais, SAMU, equipes de saúde dos hospitais, como também de serviços privados. É
um grave erro acreditar que a rede privada de saúde, o que inclui serviços de emergência móvel, não
contribuem ou não são necessários ao sistema de resposta em emergências e desastres. O que conta não
é quem atendeu o paciente, mas se ele foi atendido dentro dos padrões de tempo-resposta preconizados.
Há muitos serviços privados de alto padrão e, com frequencia, os mesmos médicos que trabalham no
SAMU também são plantonistas em serviços privados. O que falta, no entanto, é uma coordenação desses
serviços na esfera do atendimento, em situações de múltiplas vítimas.Deve estar bem estabelecido, não
apenas no papel, mas por intermédio de simulações e de treinamentos conjuntos, como esta coordenação
se dará.
Planos só irão funcionar se forem testados. Simulados em que tudo “correu bem” devem ser vistos com
desconfiança. Aliás, uma questão frequentemente levantada é : Qual o termo correto, simulacro ou
simulado? O simulacro é algo que é falso, mas é feito para se passar por verdadeiro. Um simulacro de
uma bomba, por exemplo, pode enganar muitos profissionais, que acabam levando o objeto para um
local distante e explodindo-o. Um simulado, por sua vez, é um teste ou uma imitação de condições reais,
para que possam ser avaliados diferentes aspectos. Um simulador de voo, por exemplo, faz com que
as condições encontradas sejam as mais próximas do real, mas o piloto que está sendo treinado tem
consciência de que não se trata de uma situação real.
Quando vamos fazer um treinamento com equipes de socorro, na resposta a desastres ou emergências,
estamos diante de um simulado, pois todos têm a percepção de que é um treinamento e não uma situação
real, do contrário estaríamos colocando em sério risco os participantes do simulado. Se um médico
acreditasse que está diante de uma situação real, poderia iniciar um procedimento em um ator, alguém
que está ali apenas para representar uma situação. O fato de ser um simulado, no entanto, (drill em inglês),
não significa que as equipes que estão sendo treinadas não devem agir como se a situação fosse real. Pelo
contrário. As ações devem ser as mais próximas da realidade possível, mas sempre com a limitação de
tratar-se de uma simulação. É um erro muito grave realizar um simulacro de incêndio em um prédio, para
se testar a evacuação. Ou seja, fazer com que as pessoas acreditem que de fato o prédio está pegando fogo,
pois pode gerar consequencias desastrosas, como pânico. Nada impede que um serviço de resgate faça
um simulacro, desde que sejam adotadas medidas rigorosas de segurança e dentro de um cenário isolado,
para que não haja acionamento real de outros serviços e pânico na população.
As comunidades que vivem e/ou trabalham em locais de risco também devem ser treinadas, não apenas
em primeiros socorros, mas na prevenção de acidentes e desastres.
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Cursos de longa duração são aceitáveis quando estamos fazendo uma graduação ou especialização, mas,
para treinamento das equipes, o melhor é trabalhar com módulos de ensino.
Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Equipes de saúde devem receber treinamento de resgate e salvamento? Não o mesmo recebido pelos
bombeiros, que realizarão esses procedimentos, mas devem conhecer o trabalho dos bombeiros para que
atuem em conjunto.
A responsabilidade dos treinamentos é de cada serviço, mas o órgão coordenador de prevenção e resposta
a desastres, a Defesa Civil, deve garantir que os treinamentos estão sendo realizados e, com frequencia,
patrocinar e promover a integração e a execução de simulados.
Simulado de Emergência Aeronáutica
Fonte: www.ms.gov.br
Monitoramento
O monitoramento de qualquer situação com potencial de crise é que permitirá o conhecimento antecipado
de que algo grave está para acontecer.
Em Defesa Civil, este monitoramento se dá sobretudo com relação aos fenômenos da natureza. O Brasil
não está isento nem imune de ocorrências graves como tornados e furacões. O maior pecado a ser
cometido no monitoramento é pensar que um fenômeno não pode ocorrer, simplesmente porque não há
registro de ter ocorrido anteriormente naquela região.
O monitoramento e as consequentes ações de alerta, alarme e resposta ao furacão Catarina foi imperdoável.
Até mesmo após a passagem do furacão, muitos meteorogistas brasileiros continuavam afirmando que se
tratavade um ciclone extratropical, quando seus colegas americanos já haviam feito o alerta de furacão
para região.
Haverá outros furacões que poderão ocorrer em qualquer parte do litoral brasileiro. Isto é fato, dada a
questão do aquecimento global. Houve algum investimento ou ação destinada a promover a evacuação
rápida da população? Podemos com segurança afirmar que não. Se há planos, não foram testados e nem
a população informada. Se não foi testado, o plano não existe.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Nas cidades americanas, mais sujeitas a furacões, há placas de sinalização, mostrando as rotas de evacuação
a serem utilizadas em situações que requeiram a saída rápida da população do local de risco.
Meteorologista monitorando furacão
Fonte: Enciclopédia Britannica
A recente situação, ocorrida em Santa Catarina, mostra bem o que representa um monitoramento
inadequado. Monitorar uma situação não é apenas checar como ela está, mas avaliar quais as chances de
evoluir de forma desfavorável e emitir alertas e alarmes necessários.
Em Segurança Pública, outra forma de monitoramento é realizada por intermédio do emprego de
câmeras de vídeo. Em diversas cidades, como Londres, por exemplo, há câmeras espalhadas por todas
as regiões, o que permite o acompanhamento real e ao vivo de tudo que ocorre nas ruas. Há diversas
cidades brasileiras, como também rodovias, que possuem câmeras. Aqui também é importante que haja
a integração com a resposta rápida e eficiente, do contrário, os policiais apenas assistirão a ocorrência
do crime e, quando muito, poderão, posteriormente, identificar os suspeitos mas o objetivo maior do
monitoramento, é inibir a ação ou interromper a sua realização.
Outra forma de monitorização está no uso de GPS para identificação e localização das unidades móveis
mais próximas da ocorrência, de tal forma a diminuir o tempo-resposta.
Alerta
Um sistema de alerta eficaz e eficiente é aquele que é iniciado em tempo adequado para as ações
de prevenção tardia e resposta. Estamos aqui chamando de prevenção tardia aquela que deveria
já ter sido realizada, não foi, mas ainda é possível de ser feita, não com os mesmos resultados,
mas ainda importante. É o caso, por exemplo, do indivíduo que é avisado do risco de habitar uma
região ribeirinha. Ele não aceita os avisos de abandonar a região e lá permanece. Surge, então,
o aviso de que fortes chuvas na região poderiam provocar um aumento no volume de água do
rio próximo à sua casa e ele acaba saindo antes que possa haver uma enchente devastadora. Ele
agiu preventivamente, ainda que tardiamente. Por que a ação dele não foi uma resposta? Porque
a enchente ainda não havia ocorrido. Estamos ainda na fase de pré-impacto, lembram-se?
Um alerta deve produzir um alarme de forma satisfatória. Infelizmente os sistemas de alerta em
nosso país, são muito ruins, quando existem.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Vejamos a situação da meteorologia. São emitidos alertas meteorológicos que são enviados para
a Secretaria Nacional de Defesa Civil e, eventualmente, para as regionais ou municipais. Quais
ações resultam a partir daí?
Nenhum hospital, aliás, recebe alertas de fortes ventos, de possibilidade de tornados na região
ou qualquer outro tipo de alarme.
Colocar a informação em sites da internet e nos noticiários de televisão, ainda mais quando não
são acompanhados de informações relevantes para resposta, é extremamente ineficiente.
Quais medidas de prevenção tardia ou de resposta precoce foram adotadas na recente enchente
em Santa Catarina?
Falta a cultura da prevenção e das ações voltadas para a construção de cenários, sobretudo em
emergências e desastres.
Nos Estados Unidos, são emitidos boletins meteorológicos várias vezes ao dia e, em casos de
alerta de tempestades severas, são veiculadas informações precisas de como a população deve
agir. As rádios recebem interrupção em sua programação, com informações urgentes sobre a
tempestade que se aproxima. Nada disso ocorre no Brasil, apesar de termos tornados. Não com
a mesma frequencia que nos Estados Unidos, mas nem um sistema de alerta semelhante ocorre
por aqui.
Boletim meteorológico do National Weather Center (USA) com alertas
Fonte: WWW.spc.noaa.gov
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Alarme
Um sistema de alarme adequado é aquele que é facilmente identificado como sinal de
que uma situação crítica está em curso e que todos devem seguir imediatamente um plano
bem estabelecido.
Todos hoteis devem possuir alarmes de incêndio, com planos de evacuação localizados nas
portas de entrada de quartos, luzes e saídas de emergência, de fácil acesso, além de dispositivos
de combate ao incêndio, como sprinklers, extintores, entre outros.
Infelizmente há muitos hoteis em nosso país que não possuem alarmes, os dispositivos de
combate e prevenção estão vencidos, o mesmo ocorrendo com prédios públicos e comerciais.
Em outros locais, o acesso às viaturas de incêndio está comprometido pelo alto fluxo de veículos
na região, entre outros problemas.
Alarmes em Segurança Pública também são utilizados em bancos e locais onde haja necessidade
de aviso imediato da polícia.
Ao falarmos de Defesa Civil, no entanto, preocupa-nos a falta de alarmes nas cidades, para aviso
do impacto de fenômenos naturais de grave potencial de dano. Não há, de uma forma geral,
qualquer tipo de alarme nas cidades, tampouco planos rápidos de evacuação e abrigos para a
população em caso de graves tempestades , tornados e furacões, por exemplo.
Antes do furacão Catarina, havia a “desculpa” de que se acreditava que nosso país era imune a
furacões. No entanto, houve o furacão, com sérios danos e nada de concreto mudou em termos
de alerta e alarme. Em breve, teremos mais furacões, tornados e, infelizmente, mais danos.
A falta de planejamento e prevenção, com frequencia são mais devastadores do que muitos
fenômenos da natureza.
Quando assistimos pela televisão, em 11 de setembro de 2001, os atentados às torres gêmeas
do World Trade Center e vimos, horrorizados, o segundo avião se dirigir-se a uma das torres,
em transmissão ao vivo, estávamos presenciando aos momentos finais da fase de pré-impacto,
quando mais nada poderia ser feito para impedir o impacto. Isto significa que as pessoas que
morreram naquele atentado não poderiam ter sido salvas? Bom, isto já é uma outra história, pois
há diversos trabalhos mostrando que foram cometidas falhas inaceitáveis de resposta, apesar do
heroísmo de todos naquele dia.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Atentado no WTC-11/09/2001
Fonte: http://www.youdecidepolitics.com
Fase impacto
A fase de impacto é o momento em que ocorre o evento crítico propriamente dito. Tanto pode
representar uma situação verdadeira de impacto, como a queda de uma aeronave, quanto pode
ser o momento em que se iniciou um ataque bioterrorista, que será mortal, mas silencioso, em
que levará algum tempo até que todos percebam terem sido vítimas de um atentado.
Se a fase de impacto foi precedida por medidas preventivas adequadas, eficazes e eficientes,
há grandes chances de minimização dos efeitos do impacto. Há situações que poderiam se
transformar em um desastre, mas graças a medidas preventivas, ocorrem danos na região,
possivelmente mortos e feridos, o que seria uma tragédia, mas não um desastre. Por outro lado,
há desastres, que poderiam ter sido totalmente evitados.
Em 1989, na cidade de São Francisco, ocorreu um terremoto de grau 6,9 na escala Richter. Esta
escala foi construída, em 1935, pelos sismólogos Charles Richter e Beno Gutemberg. Inicialmente
esta escala ia de 0 à 9, onde 0 seria o menor terremoto possível e 9, o maior. No entanto, hoje
se sabe que não há um número inferior ou superior que possa ser considerado limite e a escala,
muitas vezes, tem sido chamada de escala aberta de Richter. Em 1960, no Chile, foi registrado o
maior terremoto da História, atingindo 9,5 nesta escala.
Terremotos como o de 1989, em São Francisco, ocorrem em média 100 a 120 por ano, em
todo o mundo. Neste que ficou conhecido como terremoto de Loma Prieta (montanha negra,
em espanhol), devido ao epicentro ter ocorrido perto desse local, deixou 63 mortos e quase
3.800 feridos.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Loma Prieta-1989
Fonte: www.nasa.gov
Em 2006, um terremoto de grau 6,2 na escala Richter matou mais de 6.000 pessoas na ilha de Java, na
Indonésia, deixando cerca de 20.000 feridos.
<Leia mais em: http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/05/29/ult34u155379.
jhtm>
Faça uma análise de por que um terremoto com intensidade inferior ao dos Estados
Unidos foi muito mais devastador.
Durante a fase de impacto, são colocados em prática todos planos de Desastre e de Contingência.
A fase de impacto, é divida didaticamente assim.
»» Alarme
»» Resgate
»» Socorro
»» Busca e Salvamento
Uma vez que o alarme é acionado na fase de pré-impacto, só é desativado após a ocorrência do impacto
e, por esta razão, começamos a fase de impacto com o alarme.
Tão logo o evento crítico tenha sido iniciado, as operações de resgate, de socorro e de busca e salvamento
são disparadas. Tanto o resgate quanto o salvamento são normalmente praticados por bombeiros, mas
há muitas regiões do Brasil, onde não há bombeiros militares. Em algumas cidades do sul do país, por
exemplo, encontramos unidades de bombeiros voluntários muito bem organizadas e treinadas. Em
muitos outros municípios, não há nenhum tipo de socorro organizado, o que complica muito a situação
das vítimas, pois as operações de socorro, resgate e salvamento praticadas por profissionais acaba sendo
realizada de forma tardia. É fundamental que as prefeituras assumam um papel de pró-atividade na
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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elaboração de Planos de Desastre e de Contingência para seus municípios, o que inclui a organização e o
treinamento de equipes de pronto-emprego.
Bombeiros Voluntários do Rio Grande do Sul
O socorro às vítimas obedece a seguinte sequência.
1. Chegada ao local
2. Segurança do local e avaliação do cenário
3. Chamada de socorro adequado (reforço), se necessário
4. Isolamento
5. Contenção (evitar propagação do incidente)
6. Posto de Comando
7. Acesso às vítimas e triagem
8. Socorro às vítimas
9. Transporte das vítimas
10. Chegada ao hospital
Zonas
Em incidentes críticos, utiliza-se o conceito de zonas, da seguinte forma.
Zona Quente – local do incidente, onde há grave risco de lesões e/ou morte.
Zona Morna – local próximo ao incidente, onde há risco moderado para os que ali estão. Neste
local é realizada a triagem e atendimento inicial de feridos.
Zona Fria – local seguro, para onde devem ser levadas as pessoas durante uma evacuação e onde
devem permanecer as equipes de socorro que não estejam diretamente envolvidas nas operações
de resgate das vítimas.
37
UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Zona Quente
Zona Morna
Zona Fria
Triagem
Em incidentes com múltiplas vítimas e desastres, há necessidade de avaliação das vítimas, com
vistas a definir as prioridades de atendimento. Este processo é conhecido por triagem.
Na prática, de acordo com as recomendações internacionais, é estabelecida uma área segura para
a realização da triagem, que deve ser em local próximo o suficiente para que as vítimas possam
ser facilmente transportadas e distante o suficiente para não oferecer riscos aos que ali estão
(Zona Morna).
As vítimas são classificadas conforme a gravidade.
»» Vermelho – risco iminente de morte
»» Amarelo – necessidade de atendimento urgente mas sem risco iminente de morte
»» Verde – necessita atendimento médico mas pode aguardar
»» Preto (mais comum), branco ou preto com branco – vítimas fatais
Uma vez classificadas, as vítimas são transportadas para áreas identificadas com as respectivas cores e as
vítimas passam a portar um cartão que define sua prioridade. Como a triagem é dinâmica, as prioridades
podem mudar ao longo do atendimento.
As vítimas são transportadas de acordo com as prioridades estabelecidas. As vítimas “amarelas”, só podem
ser transportadas após as “vermelhas.”
O método de triagem mais utilizado no pré-hospitalar é conhecido por START e é, assim, esquematizado.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) oferece uma excelente
simulação on-line de desastres, incluindo exercícios de triagem, que pode ser acessada gratuitamente em
http://www.virtual.epm.br/cursos/desastre/index.php.
Baseado nas informações sobre triagem, classifique as seguintes vítimas, de acordo
com as prioridades, no sistema de cores.
Vítima 1
Enchimento capilar = 6 segundos.
A vítima encontra-se caída próxima aos escombros do desabamento.
Confusa.
A vítima respira.
FR = 36 rpm.
Não responde ordem verbal.
É necessário imobilização completa da coluna cervical com colar semirrígido,
coxins laterais e prancha longa.
A equipe de segurança já entrou no local. Não há risco.
Vias aéreas pérvias.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Vítima 2
Enchimento capilar = 1,5 segundos.
Achada escondida sob escombros.
Orientada e muito gemente.
A vítima será certamente avaliada posteriormente.
Consegue falar.
FR = 28 rpm.
Obedece ordem simples.
A vítima será encaminhada sozinha.
Os bombeiros já retiraram todos os escombros que encobriam a vítima.
Via aérea pérvia.
Vítima 3
Enchimento capilar ausente.
Escondida sob muitos escombros, apresentando intenso sangramento na cabeça.
Inconsciente.
A vítima será avaliada posteriormente.
Após o posicionamento das vias aéreas, a vítima continua em apneia.
Respiração ausente.
Não responde ordem verbal simples.
A vítima está imóvel.
A equipe de segurança já retirou os escombros próximos à vítima.
Não respira.
Socorro às vítimas
No atendimento às vítimas, não há diferença no Suporte Básico e Avançado de Vida a ser prestado,
quando comparado àquele realizado rotineiramente pelos serviços de emergência.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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Uma vez definidas as prioridades, as vítimas devem ser atendidas de acordo com os protocolos
internacionais.
Todos os profissionais de segurança pública, têm a obrigação de saber prestar o suporte básico de vida e
todos os médicos e os enfermeiros devem estar aptos a prestar o suporte avançado de vida, dentro de suas
competências profissionais.
Há diversos sites com informações sobre suporte básico de vida.
<http://www.bombeiros.go.gov.br/downloads/pdf/Resgate-Protocolo%20
Basico.pdf>
As novas recomendações internacionais para suporte básico e avançado de vida
podem ser encontradas, em português, no site da Associação Americana do
Coração (American Heart Association):
<http://www.americanheart.org/downloadable/heart/1141072864029CurrentsPo
rtugueseWinter2005-2006.pdf>
Fase pós-impacto (pós-crise)
Didaticamente podemos afirmar que o pós-crise tem início após a ocorrência do impacto e o fim das
operações de socorro, resgate e busca e salvamento.
Divide-se em dois momentos.
»» Recovery
»» Reconstrução
Há ainda alguma controvérsia neste tema, pois muitos colocam o pós-crise em uma única fase de
reconstrução.
Não há uma única palavra em português que possa, com exatidão, traduzir recovery, que significa voltar
ao estado original, ou seja, voltar como era antes do impacto.
É importante que esta ação seja lembrada, pois há necessidade da população voltar aos afazeres normais,
como parte de sua recuperação. Se imaginarmos que apenas depois da reconstrução, isto irá ocorrer,
poderemos estar falando de vários meses ou anos.
No recovery, especial atenção é dada aos aspectos psicológicos, sociais e econômicos e não apenas à
questão material, comum, na reconstrução.
41
UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
1. Sua cidade possui um Plano de Desastres e de Contingências?
2. Você já recebeu treinamento para saber agir nessas situações,
como cidadão?
3. Os hospitais de sua cidade estão preparados para resposta a incidentes
com múltiplas vítimas?
4. Os hospitais possuem Plano de Desastres? E se essas instalações
sofrerem um incêndio como o do Hospital das Clínicas de São Paulo,
que em poucos meses sofreu dois incêndios?
5. Há uma integração entre os serviços de pré-hospitalar em sua região?
6. Há Defesa Civil em sua cidade? Como é a atuação dela?
42
Capítulo 2
Emergências químicas, biológicas e radioativas
Em situações de emergência, podemos nos deparar com eventos bem distintos daqueles que são
encontrados rotineiramente – são as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas.
Emergências químicas
Há diversas possibilidades e situações que podem ser consideradas como emergências químicas. Podemos
defini-las como todos eventos críticos em que haja a presença de substância química exposta, colocando
em risco iminente de morte ou de grave problema de saúde a comunidade.
As situações, a seguir, são exemplos de emergência química.
»» Vazamentos de produtos químicos (Ex.: vazamento de gás de amônia em indústrias).
»» Acidentes (Ex.: derramamento de produtos em laboratórios químicos).
»» HAZMAT – (sigla americana para Hazardous Materials ou produtos perigosos).
Uma das ocorrências mais comuns com produtos químicos; envolve acidentes com
veículos que transportam essas substâncias.
»» Terrorismo químico.
Em 1984, na cidade de Bophal, na Índia, houve um grave vazamento de pesticida (isocianato de metila),
produzida pela empresa Union Carbide. A quantidade de substância química vazada foi próxima de
40 toneladas. O número de mortos chegou a 5.000, com 500.000 pessoas expostas. A estimativa foi de
que cerca de 20.000 pessoas tenham morrido ao longo dos anos. Mais de 120.000 pessoas podem ter
apresentado doenças decorrentes desse vazamento. Este evento é considerado o maior desastre industrial.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Capa da Revista Time de 17/12/1984
Maiores informações podem ser encontradas em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Bhopal_disaster>
<http://www.bhopal.com/pdfs/browning.pdf>
<http://www.dnsy.se/_upload/lfm/2006/bhopal%20gas%20disaster.pdf>
<http://www.ehjournal.net/content/4/1/6>
<http://webdrive.service.emory.edu/users/vdhara/www.BhopalPublications/
Health%20Effects%20&%20Epidemiology/Health%20Effects%20Review%20
articles/Health%20Effects%20Review%20AEH.pdf>
<http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI433281-EI294,00.html>
Vídeos on-line da BBC:
<http://search.bbc.co.uk/search?scope=all&tab=av&recipe=all&q=bhopal+fac
es+risk+of+’poisoning’&x=0&y=0/>
Os pesticidas são extremamente tóxicos ao ser humano de uma forma geral. Segundo matéria publicada
em diversos jornais estrangeiros, entre os quais o conceituado canal de TV RTP de Portugal, o Brasil
foi o maior consumidor de pesticidas do mundo em, 2008 (<http://tv.rtp.pt/noticias/?t=Brasil-maiorconsumidor-de-pesticidas-do-mundo-em-2008---Estudo.rtp&article=214378&visual=3&layout=10&
tm=6>). Com o uso cada vez menor de organoclorados, a maior parte dos pesticidas é de organofosforados,
altamente tóxico para os seres humanos.
Intoxicações com organofosforados são muito comuns, sobretudo entre agricultores. Mas, e se houver
uma intoxicação em massa por essas substâncias? Como em um ataque terrorista, por exemplo, no que
os americanos chamariam de agroterrorismo (quando empregado contra a agricultura de determinado
44
Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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local) ou com uso de armas químicas, como os chamados nerve gas, que nada mais são que potentes
compostos organofosforados, como o soman, Vx, sarin e tabun.
Mais à frente falaremos de agroterrorismo e de terrorismo químico.
Com relação ao uso de armas químicas, não podemos nos esquecer da utilização de nerve gas e gás
mostarda pelo siraquianos contra os curdos, em 1988, na chamada Operação Anfal. Foi, talvez, a primeira
vez na História que um país utilizou armas químicas contra seu próprio povo. Durante toda a campanha
iraquiana contra os curdos, estima-se que entre 50.000 e 100.000 pessoas daquela etnia tenham sido
mortas. Cerca de 250 cidades e vilarejos foram expostos a armas químicas. Na cidade de Kalbja, mais
de 5.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram vítimas de armas químicas, sob o comando de
Sadam Hussein.
Saiba mais sobre armas químicas e biológicas em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1221_mff_bio/page8.shtml>
<http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/saude/aarmas.htm>
<http://emergency.cdc.gov/>
Saiba mais sobre a Operação Anfal em:
<http://www.hrw.org/legacy/reports/1993/iraqanfal/#Table%20of>
<http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/08/21/
AR2006082100959.html>
Um estudo clássico da utilização de armas químicas contra civis obrigatoriamente nos leva ao atentado
terrorista deTókio, em 1995, com uso do gás sarin.
Um novo termo passou a ser conhecido pelos estudiosos em Homeland Security. Trata-se da
Farmacologia Tática.
Esse termo surgiu, em 2002, no Teatro de Moscou. Um grupo de 50 terroristas tchetchenos fez 700
reféns. Durante as operações de resgate de reféns, o governo russo utilizou um produto químico, cuja
composição até hoje desconhecemos acomposição, resultando em 168 mortos, dos quais 118 reféns.
Por se tratar de uma situação completamente atípica, em que foi utilizada uma substância química com
finalidade específica de atingir os criminosos (a ideia era realmente matar ou imobilizar?), passou-se a
falar em farmacologia tática. Naturalmente que, sob esse aspecto, poderíamos considerar que a utilização
dos gases CS, principalmente com efeito lacrimogêneo, em distúrbios civis, também se encaixaria nessa
definição; contudo, foi o evento de Moscou que trouxe à tona a discussão desse conceito.
Para saber mais acesse o site a seguir.
<http://www.bma.org.uk/images/DrugsasWeapons_tcm41-144496.pdf>
45
UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Com relação a acidentes com transporte de produtos perigosos, sabemos que o assunto é vasto e que
muito se pode escrever sobre ele.
Na teoria, apenas veículos especialmente destinados a esse fim, conduzidos por motoristas com curso
específico para transporte de cargas perigosas, podem realizar essa atividade, em nosso país. Na prática,
sabemos que muitas vezes são transportados produtos perigosos em caminhões sem qualquer tipo de
sinalização, em condições precárias e com motoristas sem a menor noção sobre o tema.
Nos sites abaixo, poderão ser encontradas, diversas informações
sobre legislação, sinalização e treinamento na área.
<http://www.produtosperigosos.com.br/>
<http://www.antt.gov.br/faq/produtos_perigosos.asp>
<http://www.abiquim.org.br/>
<http://www.cepis.ops-oms.org/tutorial1/p/clasiden/index.html>
Emergências biológicas
Há diversas possibilidades de encontrarmos emergências biológicas.
»» Epidemias e pandemias
»» Intoxicações alimentares
»» Contaminações acidentais
»» Bioataque
»» Bioterrorismo
Emergências radioativas
Podem ser decorrentes das seguintes situações.
»» Vazamento radioativo
»» Contaminação radioativa acidental
»» Bomba-suja e terrorismo
»» Explosões atômicas
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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Em 1986, o mundo assistiu, atônito, ao pior vazamento radioativo da História, em Chernobyl, na antiga
União Soviética. Foram evacuadas 200.000 pessoas, com 56 mortos na fase inicial e estimativa de cerca
de 4.000 mortes ao longo dos anos.
Para saber mais:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil>
<http://ngm.nationalgeographic.com/2006/04/inside-chernobyl/stone-text>
<http://world-nuclear.org/info/chernobyl/inf07.html>
Acidente de Chernobyl
Fonte: http://www.atomicarchive.com/History/coldwar/p21_image.shtml
No ano seguinte, nova emergência radioativa ocorre. Desta vez, no Brasil, na cidade de Goiânia, e
envolveu o Césio 137, presente em um equipamento médico abandonado e que foi aberto por pessoas não
autorizadas. Houve 4 mortes inicialmente e uma resposta ao incidente extremamente ineficiente e que
mostrava claramente a ausência de planos de emergência (vocês acham que se fosse hoje seria diferente?
Não precisam responder, apenas reflitam). Segundo estimativas do Greenpeace, houve, posteriormente,
cerca de 60 mortes (ao longo dos anos, em decorrência da radiação), com 628 vítimas contaminadas. A
Associação de Vítimas do Césio estima que 6.000 pessoas foram expostas.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Para saber mais:
Filme: Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia de Roberto Pires – 1990
Youtube: <http://www.youtube.com/watch?v=kdC70RKqQWk>
Sites:
<http://www.unificado.com.br/calendario/09/cesio.htm>
<http://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/Pub815_web.pdf>
Acidente com Césio em Goiânia
Fonte: www.clicabrasilia.com.br
Acidentes em usinas nucleares e envolvendo produtos radioativos são extremamente graves. Infelizmente,
muitos serviços de emergência, por não acreditarem na possibilidade de que possam ocorrer, não
elaboram planos de contingência.
Um outro exemplo a ser dado foi o vazamento de radiação ocorrido, em 1979, em Three Miles Island,
no estado americano da Pennsylvania. Houve grande medo na população que, poucos dias antes, havia
assistido ao lançamento de um filme(Síndrome da China), que tratava de um vazamento em uma usina
nuclear. As informações prestadas à população foram muito ruins, o que agravou a situação. Não houve
mortos nem feridos.
Para saber mais:
<http://www.nrc.gov/reading-rm/doc-collections/fact-sheets/3mileisle.html>
<http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/tmi.html>
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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Three Miles Island
Fonte: www.ohiocitizen.org
Planejamento
É fundamental, em todas as áreas de Emergência, o planejamento de ações e o inventário de riscos.
Perguntas devem ser feitas e respondidas.
»» Quantas empresas e indústrias ou locais de armazenamento de substâncias químicas
existem na região? Os Planos de Gestão de Crises e Contingenciamento de Desastres
são conhecidos?
»» Qual o fluxo de veículos transportando produtos perigosos na região? De onde vêm?
Para onde vão? Que produtos são esses? É possível o monitoramento?
»» Qual o tempo resposta para acidentes químicos, biológicos e radioativos?
»» Quais são os recursos materiais e humanos disponíveis?
»» Quais são os locais que trabalham com material radioativo na região?
Resposta
»» Que tipo de emergência está acontecendo? Primeira pergunta a ser feita.
»» Há presença de gases ou fumaças? Pensar em emergência química.
»» Há presença de pó? Pensar em emergências biológicas.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
»» Há explosão? Pensar em emergências químicas e radioativas.
»» Há
várias pessoas com os mesmos sinais e sintomas? Pensar em emergências
biológicas.
Esteja, no entanto, atento, pois todos esses elementos podem estar presentes em uma única situação.
Diante da possibilidade de uma emergência NBQ (Nuclear, Biológica e Química) ou RBQ (Radioativa,
Biológica e Química), há necessidade de que sejam adotadas as seguintes medidas, pela primeira
autoridade presente no local, entendendo-se, por autoridade, todos com poder e treinamento para assim
procederem (polícia, bombeiros, samu etc.).
»» Isolamento e proteção
»» Contenção
»» Diagnóstico/identificação dos produtos
»» Abordagem e descontaminação
O Sistema de Comando de Incidentes (ICS) deve ser imediatamente adotado. Aqui podemos ter uma
ideia da estrutura do ICS, criado para, entre outras coisas, facilitar a coordenação de eventos críticos.
O C3I, abaixo citado, é uma abreviação das medidas que devem ser realizadas em todos os eventos com
potencial de crise, e compreende: Comunicação (C), Controle (C), Comando (C) e Inteligência (I).
ICS e C3I
Incident
Comamder
Oficial de
Informações Públicas
Oficial de
Ligação
Oficial de Segurança
de Evento
Seção de
Operações
Unidades
Operações
Aéreas
e Terrestres
Seção de
Planejamento
Seção
Logística
Unidades de
Recursos
Unidade de
Unidades de
Desmobilização Recursos
Unidade de
Situação
Unidade de
Documentação
Unidade de
Suporte
Unidade de
Comunic.
Unidade de
Materiais
Time de
Respostas
Unidade
Médica
Unidade de
Equipamentos
Busca e
Salvamento
Unidade de
Alimentos
Unidade de
Suporte Terr.
Decisões
Grupos
Seção de
Adm. Finc.
Unidades de
Tempo
Unidade de
Ressarcimento
Unidade de
Contabilidade
Unidade de
Custos
Emergência
Médica
Luis Henrique Hargraeaves
Em uma situação com perspectiva NBQ, as ações de isolamento, contenção, descontaminação
devem seguir os seguintes, princípios.
50
Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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Zona quente
Local onde está o produto causador do evento, bem como as áreas de risco imediatamente adjacentes.
Acesso permitido apenas aos profissionais treinados em situações com produtos perigosos, emergências
biológicas e radioativas e devidamente equipados para a resposta adequada. Se há vítimas, essa equipe de
resposta procederá o resgate e otransporte até a zona morna.
Zona morna
Local onde será feita a descontaminação e em seguida o atendimento inicial que se faça necessário. Nesse
local não háradiação, fumaça ou riscos biológicos e/ou químicos.
Zona fria
Local onde será feito o isolamento da cena. Aqui não há presença de radiação, fumaça ou riscos,
devidamente avaliados.
As ambulâncias devem estar aqui localizadas. Eventualmente, ambulâncias adaptadas para transporte de
pacientes contaminados podem estar presentes na área amarela.
Diante de uma emergência definida, como, por exemplo, um acidente com um produto perigoso em
uma rodovia, a partir da sinalização localizada no caminhão de transporte, as equipes de bombeiros e da
Defesa Civil podem identificar qual produto está colocando em risco a vida das pessoas, como combater
incêndio, se for o caso, e os primeiros socorros a serem adotados.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Essa identificação segue um padrão, com cores e símbolos.
O Manual para Atendimento de Emergência com produtos perigosos (figura a seguir) possui todas
informações sobre o atendimento a produtos químicos e foi elaborado pela ABIQUIM (Associação
Brasileira da Indústria Química).
A publicação informa o número ONU e a classificação de risco de aproximadamente 2 mil produtos
químicos, por ordem alfabética e numérica da ONU, e um guia com informações sobre os principais
riscos, como combustão espontânea, emissão de gases tóxicos ou contaminação do meio ambiente,
fornecendo orientações sobre as primeiras ações a serem tomadas em situações de emergência (<http://
www.abiquim.org.br/conteudo.asp?princ=pro&pag=manu>).
O gerente de crises nessas situações, deve, entre outras atividades, agir assim.
1. Acionar as equipes especializadas.
2. Garantir adequado isolamento, contenção, descontaminação e atendimento e
evacuação de feridos.
3. Definir as zonas quente, amarela e vermelha, em conjunto com os especialistas.
4. Montar posto de comando.
5. Atuar como Incident Commander.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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O gerente de crises não participa diretamente do atendimento. Lembrem-se dos princípios de
gerenciamento de crise sem situação com reféns.
Nessas situações, em que se sabe exatamente qual produto está causando o problema, as equipes de resposta
podem utilizar os equipamentos mais adequados e o atendimento às vítimas será mais direcionado. No
entanto, quando desconhecemos a natureza do evento, devemos assumir que as três possibilidades podem
estar presentes: química, biológica e radiológica.
Os equipamentos de proteção individual devem ser definidos conforme o risco a que estão expostos. Na
dúvida, o uso do equipamento encapsulado deve ser utilizado.
A primeira autoridade a tomar conhecimento do fato deve (se há explosão, gases, fumaça com coloração
diferente,várias pessoas apresentando sinais e ou sintomas semelhantes, pó desconhecido) realizar as
seguintes ações.
1. Isolar a área (perímetros maiores para risco desconhecido, com o mínimo de
100 metros).
2. Acionar socorro especializado.
3. Em casos de risco evidente, como gases e fumaças, proceder a imediata evacuação
do prédio para área ao ar livre. As pessoas que podem ter sido, de alguma forma,
contaminadas não devem ser mandadas embora, mas devem aguardar em uma
determinada área isolada até a chegada da equipe de descontaminação.
Havendo necessidade de descontaminação rápida (demora na chegada da equipe especializada, número
excessivo de vítimas, certeza de fonte radioativa, gases tóxicos), as vítimas devem receber jatos de água
de mangueira, para a descontaminação inicial. Sempre que possível, as vítimas devem remover as roupas
contaminadas. Cuidados, no entanto, devem ser tomados para não expor as vítimas à curiosidade alheia,
ao frio intenso etc.
A equipe de resposta, ao chegar ao local, deve portar aparelho para detecção de radiação (Geiger) e
verificar se há radiação presente. Não havendo, determinar a ampliação ou não do isolamento e iniciar
processo de aproximação (manter detector de radiação ligado).
Ao aproximar-se do local, a equipe deve utilizar detector de gases múltiplos e explosímetro. Infelizmente
esses equipamentos raramente são encontrados nos Corpos de Bombeiros e a presença de um não substitui
a do outro. São equipamentos caros para serem adquiridos de forma individual, mas fundamentais para
a instituição que se propõe a atender esses tipos de emergência.
As pessoas expostas à substância devem ser descontaminadas (zona amarela e, sempre que possível, de
forma padrão, com uso de piscinas portáteis). Quem for proceder a esse tipo de descontaminação deve
estar atento para o fato de que a água que escorre da vítima também está contaminada e deve ser recolhida
para descarte posterior, em local adequado.
Muito cuidado deve ser tomado com o risco de contaminação de rios, córregos, entre outros.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Descontaminação padrão
Fonte: www.orrsafety.com
Em se tratando de objetos que não podem ser verificados, como malas, o esquadrão antibombas também
deve ser acionado.
Diante da presença de pó ou substância sólida suspeita (não identificada), essa deve ser colocada em
saco plástico duplo, resistente, transparente (após ter sido descartada a possibilidade de ser radioativa
ou explosiva), completamente selado e transportado para laboratório de referência (a ser designado pela
Secretaria de Saúde), para ser submetido à triagem, que inclui coloração para Gram e análise bacteriológica
preliminar. Havendo necessidade de exames complementares o material deve ser imediatamente
transportado para laboratório com nível de proteção maior. Até a conclusão dos exames, o que deve
ser feito preferencialmente nas primeiras 24-48h, sobretudo para descartar a possibilidade de antrax,
as pessoas contaminadas devem ser examinadas e acompanhadas por equipe médica de referência que,
segundo os protocolos internacionais, indicará medidas quimioprofiláticas.
Apenas após o descarte da presença de micro-organismos patogênicos, o material pode ser analisado pela
perícia criminal.
54
Capítulo 3
Terrorismo
Não há um consenso sobre a melhor definição de terrorismo. O Brasil, por exemplo, é signatário de
diversos acordos e tratados internacionais contra o terrorismo, mas não possui legislação sobre o tema e
sequer uma definição oficial.
The United States Department of Defense define terrorismo como “uso calculado de violência ilegal e
ilegítima ou ameaça de violência para provocar medo, com intenção de coagir ou intimidar governos ou
sociedades visando a alcançar resultados, geralmente, no campo político, religioso ou ideológico”.
Elementos presentes no ato do terrorismo.
»» Intimidação
»» Medo
»» Violência
Objetivo: produzir terror.
O FBI, por sua vez, assim o define: “terrorismo é o uso ilegal e ilegítimo da força e da violência contra
pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, a população civil, ou qualquer outro
segmento, com objetivos sociais ou políticos”.
As Nações Unidas, em 1992, definiram terrorismo da seguinte forma: “An anxiety-inspiring method of
repeated violentaction, employed by (semi-) clandestine individual, group or state actors, for idiosyncratic,
criminal or political reasons,whereby – in contrast to assassination – the direct targets of violence are not
the main targets.” (Um método que inspira ansiedade (medo) com uso de violência repetida, empregada
por atores representados por grupos, estados e pessoas (semi) clandestinos, para idiossincrasia, razões
políticas ou criminais e em contraste com o assassinato, as vítimas diretas da violência não são o
alvo principal”.
Podemos encontrar situações que são atos terroristas, mas não se encaixariam nas definições supracitadas,
como o cyberterrorismo (uso do computador para a prática de ações terroristas. Já imaginaram a parada
de funcionamentodo sistema de controle de voo?) e o agroterrorismo (uso de toxinas ou elementos
biológicos para provocar terrorismo, por meio da contaminação de pecuária, plantações e outros meios
produtivos da agricultura, podendo causar graves prejuízos econômicos)?
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Em seu livro Guerras justas e injustas, Michael Watzer coloca a aleatoriedade na escolha das vítimas e o
assassinato de pessoas, como condições para a definição de terrorismo, o que é bastante questionável. A
ameaça não é suficiente para causar medo na população e paralizar um sistema?
Em 30 de abril de 1997, por exemplo, ameaças de bomba do Exército Republicano Irlandês (IRA)
paralisaram estradas britânicas e os dois principais aeroportos do país, causando o caos no tráfico apenas
24 horas antes de um processo eleitoral. Milhares de usuários que se dirigiam para Londres foram
surpreendidos pelos alertas e houve o medo generalizado de atentados. Isso não é terrorismo?
Com relação à aleatoriedade, vejamos o caso que ficou conhecido como “Resgate em Entebe (Uganda)”,
ocorrido em 1976.
Naquela ocasião, um voo da Air France, que ia de Tel Aviv a Paris, com escala em Atenas, com 246
passageiros, além da tripulação, foi sequestrado por elementos do grupo terrorista de esquerda alemã
Baader-Meinhoff e da Frente de Libertação da Palestina. Dos passageiros capturados, 101 foram retidos
por serem judeus ou israelenses, o que já mostra que a escolha não foi aleatória.
O ato terrorista foi apoiado pelo ditador de Uganda, Idi Amin Dada e pode ser visto no cinema em grandes
filmes do cinema.
Resgate em Entebbe
Título no Brasil: Resgate em Entebbe
Título Original: Raid on Entebbe
País de Origem: EUA
Gênero: Ação
Tempo de Duração: 150 minutos
Ano de Lançamento: 1977
Direção: Irvin Kershner
A Operação de Resgate, denominada inicialmente de Thunderballfoi rebatizada
como “Operação Yonatan”, em homenagem ao único militar israelense morto, o
coronel e comandante da operação,Yonatan Netanyahu, irmão do ex-primeiro
ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Para saber mais sobre essa operação veja:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Entebbe>.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
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O Último Rei da Escócia
Título Original: The Last King of Scotland
Tempo de Duração: 121 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2006
Site Oficial: www2.foxsearchlight.com/thelastkingofscotland
Estúdio: Fox Searchlight Pictures/UK Film Council/Slate Films/
Tatfilms/Scottish Screen/DNA Films/FilmFour/Cowboy Films
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation
Direção: Kevin Macdonald
Da mesma forma, ainda falando de aleatoriedade, analisemos o atentado de Oklahoma City, em 1995.
O alvo de Timothy Mcveigh eram os escritórios federais da ATF, FBI e DEA, que funcionavam no Edifício
Federal Alfred Murrah. Não os escritórios em si, mas o que representavam. No atentado, houve 168
mortos, dos quais 19 crianças, e um total de 500 feridos. Esse atentado serviu, também, para derrubar
outros mitos:
»» Não houve envolvimento de grupos terroristas, mas apenas de uma pessoa que tinha
motivação e sabia a forma de levar à frente seu plano.
»» Não houve necessidade de armas sofisticadas para um atentado terrorista. Nesse caso,
o terrorista utilizou-se de grande quantidade de fertilizante e detonador (ANFO).
»» Não houve envolvimento ou motivação fundamentalista religiosa.
»» Não havia um projeto de tomada de poder, nem motivação separatista, mas um
descontentamento do terrorista com o governo, particularmente pela forma
com que os agentes federais conduziram o cerco à fazenda de David Koresh, no
episódio conhecido como “Waco Siege”, em 1993. Tratava-se de uma dissidência
dos Adventistas do Sétimo Dia, localizada na região, que previa que a segunda
vinda de Cristo à Terra era iminente e todos deveriam aguardá-la juntos. Houve
denúncias de cárcere privado, inclusive de menores, de posse ilegal de armas, entre
outras. Na operação em que se pretendia libertar todos que lá estavam e prender o
líder, houve grande reação por parte dos membros da seita e o resultado foi que, em
uma primeira tentativa, morreram 4 agentes e 6 seguidores da seita. Após 51 dias de
negociação, malsucedida, o desfecho foi de 76 mortos, incluindo mais de 2 crianças
e duas gestantes.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Para saber mais acesse:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Waco_Siege>
Atentado de Oklahoma City
Fonte: http://www.defenselink.mil/multimedia/
Desta forma, não houve a morte aleatória de pessoas, mas uma cuidadosa escolha dos alvos a serem
atingidos.
Se não há consenso, podemos e devemos, então, trabalhar em cima das características do terrorismo, para
atuarmos na prevenção e na resposta. Assim, podemos dizer que as ações terroristas são as seguintas.
»» Não são objeto-fim da ação. O objetivo final da ação é outro.
»» Possuem motivação ideológica (religião, política, mas também convicções pessoais).
»» São frequentemente de grande repercussão.
»» Podem
envolver violência, ameaça ou graves danos (ciberterrorismo, blecautes,
outros).
»» Não estão relacionados necessariamente a grupos terroristas.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
»» Não requerem participação de estrangeiros.
»» Podem ter motivação econômica (agroterrorismo, narcoterrorismo).
»» Causam medo generalizado na população, que não se sente protegida pelo Estado
(situação permanente de terror).
Com tantas possibilidades, poderíamos pensar que qualquer ato é terrorista?
Não. Há necessidade da existência de, ao menos, a relação: motivação (o ato não é o objetivo final),
medo generalizado na população (mais até que o medo, a percepção de insegurança diante de um
Estado inoperante).
Entre as situações que podem causar danos psicológicos graves, certamente, o terrorismo é uma delas.
Nos atentados de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center, mais de 400 policiais e bombeiros foram
mortos. No total, houve mais de 3 mil mortos. Um dos problemas encontrados entre os sobreviventes foi
o chamado The Survivor Victim, que poderia ser resumido em uma frase: “Por que eu sobrevivi?”
Na prestação dos Primeiros Socorros Psicológicos, é fundamental que haja uma sequência de abordagens,
assim resumida.
»» Avaliação de necessidades (Quem apresenta maior risco de necessitar de Primeiros
Socorros Psicológicos?).
»» Estabilização (Como diminuir uma escalada de processos em espiral que possa
agravar ou produzir novas necessidades de socorro psicológico?).
»» Reavaliação e Triagem (Distress
– o chamado stress ruim –, Fadiga/sono/fome,
“O dia seguinte”).
»» Comunicação (Estabelecer confiança, presença, comunicação com as vítimas. As
autoridades devem visitar os sobreviventes, participar de cerimônias dedicadas
às vítimas).
»» Integração com Sistema (Acompanhamento e seguimento).
No chamado “Primeiros Socorros Psicológicos no Terrorismo”, temos o seguinte.
»» Conheça você mesmo.
»» Conheça seu inimigo tão bem quanto você se conhece.
»» Tenha um plano bem estruturado para gerenciamento de crises.
»» Estabeleça suporte psicológico com equipes especializadas.
»» Estabeleça grupos de apoio e ajuda, faça debriefing.
59
UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
»» Realize os primeiros socorros psicológicos e esteja atento ao colega mais próximo.
»» Reestabeleça a rotina o mais rápido possível.
»» Utilize símbolos, cerimônias e ritos como forma de reestabelecer a unidade.
»» Prepare-se para “um novo começo”, para a “reconstrução”.
»» Acredite que “o que não me destrói, me fortalece”.
»» Tenha auxílio religioso, quando adequado.
Atentados terroristas ocorrem no mundo inteiro há séculos. O termo, no entanto, vem sendo empregado
desde o chamado regime de Terror da Revolução Francesa, que durou cerca de 1 ano, de 1793 a 1794,
quando o governo revolucionário passou a perseguir (inicialmente apenas os girondinos) todos inimigos
ou que eram contrários ao governo, a prendê-los e a executá-los.
No período que se segue à Segunda Guerra Mundial, o terrorismo separatista mostra sua face mais cruel
por meio dos atentados do IRA, no Reino Unido e do ETA, na Espanha (iniciado na década de 1960).
Saiba mais sobre o assunto em:
<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/2004/03/17/001.htm>
<http://en.wikipedia.org/wiki/Irish_Republican_Army>
No final da década de 1960 e durante a de 1970, os grupos terroristas, basicamente, eram de orientação de
esquerda, ou seja, com ideologia comunista ou marxista.
Saiba mais sobre a história do terrorismo em:
<http://www.bbc.co.uk/history/recent/sept_11/changing_faces_01.shtml>
Com o fim da Guerra Fria, ainda, persistem grupos terroristas separatistas, mas foi por meio do
fundamentalismo religioso e dos atentados terroristas do Hezbollah, da Al-Qaeda, do Hamas, que
passamos a conhecer o que se denomina Terrorismo Internacional contemporâneo. Não há países imunes
a esse tipo de terrorismo.
O Japão sofreu um atentado por terrorismo químico, sem precedentes no mundo contemporâneo, apesar
do terrorismo de Estado de Sadam Hussein ao utilizar, na década de 1980, armas químicas contra os
curdos no norte do país. O que tornou único esse atentado foi a facilidade com que foi praticado e, embora
o número de mortos tenha sido relativamente baixo, (7), por tratar-se de uso de arma de destruição em
massa, o pânico e o medo que se instalaram naquele país, foram impressionantes.
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
Saiba mais sobre este atentado em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Sarin_gas_attack_on_the_Tokyo_subway>
Desde então, temos nos defrontado com atentados cometidos por fundamentalistas religiosos em diversas
partes do mundo, como: Indonésia, Turquia, Israel, Líbano, Espanha, Inglaterra, Escócia, entre outros,
com destaque para os atentados de 11 de setembro de 2001, considerado o pior atentado terrorista da
História da humanidade.
Saiba mais sobre esses atentados em:
<http://www.emergency.com/cntrterr.htm>
<http://www.fas.org/irp/threat/terror.htm>
<http://www.fas.org/irp/threat/nctc2008.pdf>
Ao longo da História, a maior parte dos atentados terroristas teve como causa o uso de bombas (mais de
65% dos ataques no mundo e mais de 88% dos ataques nos Estados Unidos).
A escolha dos alvos terrorista, leva em consideração:
»» o valor simbólico;
»» o potencial em causar danos físicos e materiais;
»» a acessibilidade geográfica;
»» as atividades operacionais;
»» o valor econômico;
»» a vulnerabilidade.
As bombas podem ser:
»» utilizadas em malas e maletas a serem deixadas em determinado local;
»» enviadas pelos Correios;
»» utilizadas em carros por homens-bomba (suicidas);
»» instalados em carros e outros locais com acionamento remoto ou pela própria vítima;
»» em larga escala, como arma de destruição em massa;
»» disparadas por armas como lança-foguetes.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
Outras formas de terrorismo incluem:
»» raptos e sequestros;
»» dispositivos incendiários;
»» armas e dispositivos químicos, biológicos e radioativos ou nucleares;
»» ocupação armada com reféns;
»» ataque cibernético;
»» agroterrorismo.
É fundamental que as organizações e corporações públicas e privadas, assim como os orgãos de segurança
e de saúde pública, possuam planos para resposta a ameaças com bombas.
Esses planos devem ser baseados nos seguintes elementos.
»» Nível de ameaça.
»» Natureza da estrutura da organização e atividades desenvolvidas.
»» Atividades críticas.
»» Recursos disponíveis.
»» Recursos de comunicação.
»» Segurança das pessoas envolvidas.
»» Legislação vigente.
Não entraremos em detalhes referentes ao planejamento em si, mas na postura que se espera do gerente
de crises nessas situações (ameaças ou suspeitas de atos terroristas iminentes ou em curso).
»» Ao ser informado, comunicar imediatamente a autoridade superior da instituição
(no caso, por exemplo, de corporações).
»» Acionar equipes especializadas.
»» Proceder com isolamento e contenção dos locais suspeitos, afastando curiosos.
»» Promover a retirada segura das pessoas ocupantes dos locais suspeitos.
»» Providenciar local para estacionamento das viaturas de polícia, resgate e socorro
médico, conforme protocolo.
»» Instalar Posto de Comando e Gabinete de Crise, conforme o caso (sempre em
área segura).
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
No caso de atentados.
»» Verificar uma área segura para briefing de segurança inicial.
»» Verificar se todos utilizam equipamentos de proteção individual.
»» Verificar a segurança das pessoas que lá se encontram e voluntários.
»» Estar atento para dispositivos secundários.
»» Estar atento para a possibilidade de múltiplos agentes envolvidos (radiação, químico,
biológico, bombas sujas).
Com relação à triagem.
»» Pode haver lesões múltiplas, únicas ou ocultas.
»» A
morte geralmente é consequência do resultado da combinação de
múltiplos fatores.
»» Até 75% das vítimas comumente vão sozinhas para os hospitais.
»» Os pacientes requerem descontaminação.
Terrorismo químico
Características:
»» Rápida ação.
»» Chamados a polícia, bombeiros, ambulâncias.
»» Área delimitada.
»» Descontaminação.
»» Uso de antídotos químicos, quando disponíveis.
»» Isolamento apenas até a descontaminação.
»» Sem transmissão.
Terrorismo biológico
Características:
»» Reconhecimento geral é tardio.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
»» Alerta dado por médicos, enfermeiros.
»» Necessidade de vacinas, antibióticos e medicações específicas.
»» Isolamentos podem ser necessários, incluindo a quarentena.
»» Risco de transmissão, dependendo do agente utilizado.
»» Existência de casos secundários e comorbidades.
Para saber mais sobre terrorismo químico e biológico, acesse:
<www.cdc.gov >(inglês e espanhol)
Sinais de alerta para terrorismo biológico:
»» Grupo de indivíduos torna-se doente ao mesmo tempo.
»» Súbito aumento de sintomas em indivíduos previamente saudáveis.
»» Aumento súbito de sintomas e sinais inespecíficos.
»» Ocorrência de rápida transmissão de doença ou sintomas entre pessoas, animais,
incluindo pássaros.
»» Surgimento de sinais e sintomas em pessoas que estiveram juntas em determinado
local, evento ou socorro.
“…é esquecido que a mortal bactéria criada pelo homem ao flutuar no ar não
irá reconhecer nacionalidades, diferenciar amigos de inimigos, tampouco irá voltar
para o tubo de ensaio sob as ordens de seu criador.”
Natarajan (1965)
64
Capítulo 4
Epidemias
O texto do ícone para refletir deverá ser alinhado a esquerda, sendo justificado a
direita. “Nós não pedimos para ser eternos, mas apenas para não ver os atos e as
coisas perderem subitamente o seu sentido. O vazio que nos rodeia faz-se então
sentir...”
Antoine de Saint-Exupéry.
Em 2006, a pesquisadora Laurie Garret publicou no México, o artigo “¿ La Próxima Pandemia?”.
A autora, bióloga por formação e aclamada escritora na área de Ciências, nos Estados Unidos, é vencedora
de diversos importantes prêmios do Jornalismo, inclusive o Pullitzer. É também autora de diversos livros
sobre epidemias e pandemias, inclusive o best-seller: The Coming Plague: Newly Emerging Diseases in a
World Out of Balance.
Este artigo foi publicado, em 2006, e aborda a questão do surgimento de pandemias, mas, em particular,
,trata da preocupação da autora, com a possibilidade da iminência de uma grande pandemia, possivelmente
pelo vírus da Influenza H5N1, também conhecida por Gripe Aviária.
O artigo é iniciado com a informação que os cientistas têm previsto o surgimento de uma nova pandemia
de Influenza, que seria capaz de infectar cerca de 40% da população humana, com a morte de um número
inimaginável de pessoas. Complementa, dizendo que o vírus H5N1 mostrava todos os sinais de que
poderia ser este vírus mortal.
A preocupação da autora é fundamentada na epidemia de Gripe Espanhola, ocorrida entre 1918-1919,
que matou cerca de 50 milhões de pessoas em 18 meses. A gripe aviária, entretanto, seria muito mais
perigosa, na medida em que matou 100% dos frangos domésticos que foram infectados e apresentou uma
taxa de letalidade nos humanos de 49,5% dos 109 pacientes contaminados. A autora faz a ressalva que
esta taxa pode estar comprometida pelo fato da estatística não contemplar os casos de menor intensidade
de sintomas.
Desde a primeira aparição do vírus na China, em 1997, já foram detectadas mutações, tormando-o mais
agressivo e letal.
A autora faz questão de ressalvar também que, embora os sinais sejam de grande preocupação, o futuro é
incerto. Pode ser que resulte em uma grande pandemia, como pode não ocorrer nada, pois a capacidade
de mutação do vírus da Influenza é uma das mais importantes que se conhece.
65
UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos é uma das maiores referências mundiais
no assunto. Segundo o artigo, o CDC informa que, em uma temporada de gripe normal (sem pandemia),
que é sazonal e ocorre todos os anos, cerca de 200.000 americanos são contaminados, havendo
aproximadamente 38.000 mortes decorrentes da enfermidade, o que daria uma taxa de mortalidade
de 0,008%.
Em termos econômicos, a pandemia teria também um efeito devastador, já que o CDC teria predito que
uma epidemia de nível médio poderia chegar facilmente a custos de cerca de 166 milhões de dólares,
sem levar em conta os decorrentes de vacinações. O número de mortos em uma situação como esta foi
estimado em cerca de 207.000, mas podendo chegar a quase 800.000.
Com relação à repercussão de uma pandemia de tal monta, as consequências para os demais países
poderiam ser extremamente graves. Quarentenas poderiam ser estabelecidas, fechamento de aeroportos e
outras tantas medidas restritivas e que poderiam levar a conflitos. A situação dos países subdesenvolvidos
e em desenvolvimento seria ainda mais devastadora. Na avaliação da autora, o mundo conheceria uma
situação similar a de zonas infestadas pelo HIV, onde há milhões de pessoas comprometidas com seu
sistema imunológico. O efeito sobre o comércio e a economia seria devastador e haveria um forte impacto
sobre a grande maioria dos países, já que poucos teriam a capacidade científica de buscar uma solução
real para o problema.
A reflexão seguinte se dá com a pandemia pela chamada Gripe Espanhola de 1918 que, na verdade, não
teria surgido na Espanha e teria origem incerta, mas quando a segunda cepa atacou os Estados Unidos,
houve grande número de mortes. Essa pandemia matou cerca de 0,6% da população americana, cerca de
675.000 pessoas. A expectativa de vida que era de 55 anos em 1917, caiu para 37 anos, em 1918.
Houve, em 1957-1958 e em 1968-1969, novas pandemias por Influenza, causando 70.000 e 34.000 mortes
respectivamente, naquele país.Assim, quando surgiram, em 1976, os primeiros casos de gripe suína
em Forte Dix, os epidemiologistas acreditaram que seria um novo ciclo de uma pandemia que seria
devastadora. Grande investimento foi realizado e o próprio Presidente da República, em rede nacional,
anunciou sua preocupação com o que estava por vir. Foi solicitado ao Congresso uma liberação suplementar
de verbas, no valor de 135 milhões de dólares, e aprovada uma lei que transferia a responsabilidade civil
de complicações da vacina, para o governo, uma reivindicação das empresas que foram solicitadas a
produzir em tempo hábil, uma vacina que pudesse ser inoculada em todos americanos, inclusive, crianças.
Como consequência, houve uma série de complicações com a vacina, incluindo o surgimento de
uma doença neurológica grave (síndrome de Guillain Barré) e ao final, o governo acabou tendo que
desembolsar cerca de 90 milhões de dólares de indenização.
A pandemia por gripe suína, no entanto, acabou não acontecendo àquela época e foi grande a pressão
pela demissão das autoridades sanitárias. O governo e os cientistas saíram desmoralizados.
A autora faz, uma pergunta em busca de uma reflexão. Ela afirma que, sem dúvida, as consequências de
uma pandemia pelo H5N1 seriam desastrosas, mas qual seria a probabilidade de ela ocorrer?
O artigo, então, passa a explicar a natureza do vírus H5N1 e faz diversas considerações sobre microbiologia,
cadeias de transmissão, patogenicidade e mostra o quanto agressivo e mortal se tornou, após sucessivas
66
Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
mutações. Em 2004, teria ainda surgido uma mutação que passou a ser conhecida como Z +. Este vírus
mostrou-se não apenas mortífero, mas com grande dificuldade para ser neutralizado.Para uma rápida
comparação, em 1997, quando surgiu o vírus H5N1, em Hong Kong, a taxa de letalidade foi de 35%,
enquanto que a decorrente do vírus Z+, em torno de 68%.
O tratamento para o H5N1, com um dos principais medicamentos antivirais, o oseltamivir (comercializado
sob o nome de Tamiflu), não se mostrou eficaz para este vírus, no entanto, não houve um estudo conclusivo
a este respeito e pela falta de melhores opções foi solicitado pela OMS, que todos países que pudessem,
que estocassem esta medicação.
Com relação à produção de uma vacina, o prognóstico não é dos melhores, segundo a autora. O número
de empresas com desejo de produção de vacinas tem diminuído por diversas razões, entre elas, pelo risco
financeiro deste investimento. A vacina que é produzida para um ano, visando ao combate a uma gripe
sazonal, já não vale para o ano seguinte. Em 2003, o mercado de vacinas teve um aumento de apenas
2% do mercado farmacêutico global. Há, ainda, um alto risco de contaminação das vacinas durante o
processo de produção e há muitos opositores à ideia da vacinação, sob a alegação de que poderiam causar
doenças degenerativas graves.
A autora faz um alerta desconcertante ao dizer que ainda que existisse a vacina, milhões de pessoas,
sobretudo as residentes em países subdesenvolvidos, jamais teriam acesso a ela, como também ao Tamiflu
e, como consequência, morreriam.
Em casos de graves pandemias, é duvidoso, segundo o artigo, confiar que os países ricos sairiam em
socorro aos demais, cedendo parte de suas vacinas, ao invés de proteger a totalidade de seus nacionais.
A crença baseada no estudo das epidemias sazonais, de que crianças pequenas e idosos são os mais
atingidos em uma pandemia, teria levado as autoridades sanitárias a concentrar seus esforços, em 1918,
ao público-alvo equivocado, já que a maior parte dos mortos encontrava-se entre os adultos jovens.
O mesmo conceito prevalece ainda nos dias de hoje e, assim, os Planos de Contingenciamento e de
Vacinação levam em conta idosos e crianças pequenas como o público-alvo para receber as vacinas, o que
poderia ser trágico diante de uma pandemia por H5N1. Se apenas esta população é atingida, o esquema
de vacinação dos Estados Unidos, voltado para 185 milhões de pessoas, teria sucesso. No entanto, se toda
a população americana está em risco, haveria necessidade de cerca de 300 milhões de doses, quantidade
que é produzida anualmente para todo o mundo.
Surge uma questão ética e social bastante interessante e importante. Com a limitação de doses de
vacinação, quem seriam os escolhidos para serem imunizados? Os Chefes de Estado? Suas famílias? Uma
vez que o movimento de tropas militares foi o grande responsável pela disseminação da Gripe Espanhola,
em 1918, chegando a matar cerca de 22% dos membros índios do exército britânico, então os soldados
americanos no Iraque e no Afeganistão deveriam também receber a vacina prioritariamente?A questão
seria a mesma nos demais países.
Haveria, sem dúvida, de acordo com o texto, uma mudança radical nas relações internacionais, com
fechamento de fronteiras e restrições aos direitos de ir e vir das pessoas, além de graves consequências
econômicas e comerciais.
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UNIDADE única | Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
A autora conclui com a constatação de que a ameaça de uma pandemia surge em um momento em que
há grande decadência dos sistemas de saúde agravada por uma grande sobrecarga de impostos. Este seria
um fenômeno que atinge países ricos e pobres.
A rede de saúde pública americana foi fortalecida após o bioterrorismo por anthrax, naquele país, em
2001, e a constatação de que o sistema não estava preparado para uma demanda daquela natureza. Em
2003, o governo americano aumentou em 242%, os recursos para o CDC, voltados para o combate à
Influenza.
Por fim, a autora reforça a necessidade de se manter vigilância constante para o controle das epidemias e
a detecção precoce de situações que podem levar a uma pandemia, acrescentando que este é um esforço
que deve ser global e multidisciplinar, dado à gravidade de uma doença que pode ser responsável por
mortandade sem precedentes.
A autora escreve o texto com um viés bem atual e realça pontos realmente importantes e preocupantes.
O vírus H5N1, em 2006, ano em que o artigo foi traduzido para o espanhol (o original é em inglês
e foi escrito no ano anterior), apresentava-se como ameaça iminente para uma pandemia, tendo em
vista as informações internacionais. No entanto, felizmente, ainda não houve mutação que permitisse
a transmissão de pessoa a pessoa, o que não significa que estamos seguros ou tranquilos quanto a esta
possibilidade.
Em 2010, o mundo se viu diante da Pandemia pelo vírus AH1N1, conhecido por gripe suína(mesmo
tipo que o da gripe espanhola, mas com mutações, o que o faz diferente daquele). Como vimos no texto,
a gripe suína já havia acontecido em 1976, nos Estados Unidos, mas acabou não se apresentando como
uma pandemia, o que aconteceu em 2010 e causando grande preocupação entre os profissionais de saúde.
A existência simultânea de pessoas contaminadas pelo AH1N1 pandêmico com outros pela gripe aviária
(H5N1) poderia desencadear mutações que acabariam criando um vírus ainda mais letal.
Com frequência a autora afirma que o futuro é incerto ou que não é possível prever o curso de uma
epidemia. Ela está completamente certa e é fundamental que tenhamos em mente que a preparação se
faz com base nas informações disponíveis e planejamentos realizados. Se há dados que nos indiquem
a iminência de uma pandemia severa, ainda que não venha a se concretizar, já justifica os devidos
investimentos para sua prevenção, sua detecção precoce e seu tratamento.
Por ocasião da Pandemia por Gripe Suína em 2010, em uma Audiência Pública na Comissão de Seguridade
Social da Câmara dos Deputados, o representante do Ministério da Saúde afirmou que o Brasil estava
em fase de produção de vacinas para a gripe suína, mas que a intenção era a de vacinar apenas 25% da
população. Entramos aqui na discussão levantada pela autora. Quem serão os escolhidos? O critério será
transparente? É legítimo ao Estado decidir quem deve ou não ser protegido por uma vacina paga com os
“cofres públicos”? Ou seja, se os recursos da saúde são oriundos da contribuição dos brasileiros, é lícito
que lhes seja negada a oportunidade de serem imunizados? A única fábrica de vacinas da América Latina
é brasileira. É legítimo que antes de vacinar toda a população brasileira, sejam vendidas vacinas para
outros países?
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Emergência, desastres, terrorismos e epidemias
| UNIDADE única
A autora relata a questão de 1976, com relação à gripe suína nos Estados Unidos, quando o governo
americano investiu pesadamente em medidas de prevenção. Na pandemia de 2010, o governo brasileiro
adotou, como Política de Combate à Pandemia, a centralização de todos antivirais, determinando
à empresa produtora deste medicamento, que dirigisse toda sua produção do antiviral oseltamivir
(Tamiflu), para o Ministério da Saúde, de tal forma que nenhum brasileiro poderia adquirir a medicação,
sem seguir protocolos daquele órgão, que são extremamente questionáveis sob o ponto de vista médico.A
política utilizada pelo Reino Unido foi totalmente oposta a do Brasil, com a população tendo livre acesso
à medicação nas farmácias, mediante documento de órgão de saúde pública daquele país, de forma
totalmente descentralizada.
Outro ponto relevante que a autora comenta é a da mudança de paradigmas e de visão ocorrida após
os atentados bioterroristas ocorridos em 2001. A mesma mudança de atitude e também de legislação
ocorreu por ocasião dos atentados de 11 de setembro. Ao mudar, o Estado americano reconheceu
sua incapacidade de lidar com a questão e tem se empenhado em não apenas orientar e capacitar os
profissionais de saúde e segurança pública nesta questão, como também de outros países. Um dos temas
mais comuns em palestras nessas áreas naquele país, invariavelmente recebe o título de Thinking in
unthinkable. Pensando no impensável. Por quê? Porque os atentados eram impensáveis, mas ocorreram.
Como a própria autora afirma, os furacões são precocemente detectados e monitorados. As epidemias
também devem ser. Os americanos souberam extrair lições do ocorrido. Por que não aproveitamos para
aprender com a experiência e as situações que eles vivenciaram? Precisaremos ter que passar por situações
críticas para aprendermos que Planos de Contingência são fundamentais na preparação e resposta
às epidemias?
Nossos sistemas e cultura de prevenção e mitigação são sofríveis. A autora, ao tratar da próxima pandemia,
falou da Influenza pelo H5N1 e sua possibilidade de causar danos imensuráveis. O que foi dito, no entanto,
serve para qualquer pandemia severa, incluindo a pelo H1N1.
A segunda fase será tão mortal, como foi a ocorrida em agosto de 1918? Não sabemos. E se for, estamos
preparados? Certamente, não.
Por diferentes momentos no texto, a autora se refere à subnotificação de casos. Esta é uma situação
que está sendo verificada no momento pela Organização Mundial de Saúde, com relação à pandemia
pelo H1N1. O baixo número de mortes na África, na China e em outros países deve-se a algum tipo de
imunidade ou a uma subnotificação. Tradicionalmente, os países com regime fechado, como a antiga
URSS, Cuba, a Coreia do Norte, China, sempre diante de pandemias e epidemias resistem até o último
momento em reconhecer casos de transmissão e mortes pela doença. Os motivos são políticos. O governo
chinês reconheceu, no entanto, ter mais de 25.000 casos e prevê a morte de milhões com a chegada do
inverno. Os países mais pobres, por sua vez, subnotificam pela incapacidade técnica de atendimento.
Falta assistência. Como bem coloca a autora, independente da existência de vacinas e medicamentos,
milhões de pessoas nunca terão acesso a estas facilidades.
O texto é muito didático, informativo e a autora nos leva à reflexão de diversos pontos fundamentais a
serem levantados e discutidos o quanto antes. Para esta e para outras pandemias que virão.
As autoridades sanitárias brasileiras, por sua vez, precisam ser mais técnicas na elaboração de planos
de contingência e acreditarem, como diz a autora, que as pandemias devem ser resultado de um esforço
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global e multidisciplinar. Em um mundo com grandes facilidades de deslocamento pelos mais variados
sistemas de transporte, a capacidade de transmissão de micro-organismos é imensa e, se nos preocupamos
com nossas fronteiras, os vírus não fazem tal distinção.
A prevenção e a mitigação são providências urgentes a serem tomadas em qualquer pandemia para que,
diante de situações críticas, nossas autoridades não precisem recorrer à afirmação de que os desastres
acontecem pela vontade divina. Esta é uma bela desculpa para a ineficiência e ineficácia do Estado que,
ao invés de agir, prefere rezar para que nada de ruim aconteça.
A autora mostra também a preocupação com o estado de falência e sucateamento dos sistemas de saúde
nos mais diferentes países, diante de uma situação como a de uma pandemia.
O Brasil, antes da pandemia pelo H1N1 acontecer, já estava com a grande maioria dos hospitais lotados.
Como atender uma nova demanda de pacientes que se multiplica de forma contínua?
Em Brasília, capital de nosso país, o tempo de espera para atendimento no Hospital de Referência, para
a pandemia, chegava a 8 horas. Os pacientes contaminados aguardavam sua vez de serem examinados
por médicos, em filas intermináveis e ao lado de doentes por outras patologias, inclusive de gestantes,
reconhecido grupo de risco.
A gripe espanhola, citada pela autora, chegou ao Brasil tardiamente, já no final de 1918, em pleno
verão brasileiro. Ainda assim matou cerca de 300.000 pessoas, inclusive nosso Presidente da República,
Rodrigues Alves, que havia sido eleito para um segundo mandato.
Os Estados Unidos atualmente estão instalando barracas, para triagem de pacientes contaminados, em
frente aos grandes hospitais, à espera de um número elevado de pessoas, por ocasião da chegada do
inverno no Hemisfério Norte e da chamada segunda fase.
É hora de também nos prepararmos, pois, certamente, não assistiremos uma pandemia agressiva, sem
sermos também atingidos por ela.
“Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão: Estende a tua vara, e fere o pó da terra, para que se torne
em piolhos por toda a terra do Egito.
E fizeram assim; e Arão estendeu a sua mão com a sua vara, e feriu o pó da terra, e havia muitos piolhos
nos homens e no gado; todo o pó da terra se tornou em piolhos em toda a terra do Egito.” (Livro de
Êxodo 4, 16-17)
Uma das epidemias mais conhecidas na História, foi a chamada “Peste Negra”, ocorrida na Idade Média
(1347-1350). A peste bubônica foi a doença responsável por 75 milhões de mortos (1/3 da população
mundial). A transmissão se deu pelas pulgas dos ratos pretos que muito provavelmente foram levadas
para a Europa, levadas pelo exército Mongol de Genghis Kan.
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Omne Bonum, James Palmer, 1360
A gravura, retrata a situação à época, mostrando membros do clero, contaminados pela doença, com
marcas bem visívies nos rostos, sendo abençoadas por uma autoridade eclesiástica. Na Idade Média, era
muito forte a influência da Igreja e o apelo ao sobrenatural. Com a epidemia se alastrando e até os membros
do clero sendo acometidos, houve uma inquietação muito grande, com uma culpa coletiva surgindo,
em que as pessoas imaginavam estarem sendo castigadas por vontade divina. Em busca de culpados,
os portadores de hanseníase foram expulsos das cidades, como também os judeus foram perseguidos.
A doença encontrava nos locais mais sujos e pouco asseados um ambiente propício para se alastrar. Na
Idade Média, ainda era comum que a Igreja Católica culpasse os judeus pela crucificação de Jesus e, então,
surgiu o boato de que judeus haviam envenenado os poços. Muitos judeus foram assassinados e com base
nos escritos bíblicos que, com frequência, utilizam o número 40 para falar de tempo (Jesus passou 40
dias no deserto), as pessoas contaminadas ou suspeitas de contaminação tinham que ficar 40 dias longe
das cidades, no que passou a se chamar de quarentena. Esta é, portanto, a origem desta palavra. Bom
lembrarmos que o Brasil não possui legislação para quarentena compulsória.
Os médicos da época, com medo da contaminação, passaram a utilizar os trajes a seguir:
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Podemos observar na imagem, que eram utilizadas roupas com mangas longas e trajes compridos, bem
como proteção para o rosto e a cabeça. Na estranha máscara, havia um bico, onde era possível inserir
panos umidecidos com soluções como cânfora, para diminuir o cheiro dos mortos em decomposição.
A longa vareta mostrada na mão do médico, possuía uma lanceta na ponta, com o objetivo de furar os
tumores (bulbos) enegrecidos (daí o nome peste negra) que acometiam os feridos, sobretudo na virilha
e nas axilas.
A História mostrou através desta e de outras epidemias e pandemias, que há necessidade de planejamento,
o que inclui medidas de contingenciamento, como também as comuns ao gerenciamento de crises.
Assim, ao tratar com epidemias, os seguintes princípios devem ser adotados.
Pré-epidemia
»» Manter vigilância epidemiológica ativa e em condições para detecção precoce de
riscos , bem como para avaliar possíveis vulnerabilidades.
»» Propor e implementar medidas de imunização e/ou preventivas para a população.
»» Elaborar Planos de Contingência (específicos) e de Emergência (gerais). Ex.: Você
deve ter um plano geral, sobre o que fazer no caso de uma epidemia, independente
do agente causal. Já o Plano de Contingência é voltado para uma determinada
epidemia.
»» Monitorar agentes e casos com risco em potencial para epidemias.
»» Treinar e capacitar os profissionais de saúde.
»» Implementar sistemas de alerta e alarme.
Durante a epidemia
»» Isolar os casos confirmados e suspeitos.
»» Conter estes casos. Isto é, não basta isolar. Os pacientes não devem ficar sendo
transferidos para outras áreas, exceto em casos muito específicos e nessas situações
todas medidas de contenção devem ser adotadas.
»» Acionar os Planos de Emergência e Contingência.
»» Estabelecer Gabinete de Crise.
»» Manter a população devidamente informada, bem como as autoridades envolvidas.
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Alguns endereços interessantes:
Centro de Controle de Doenças (CDC) : www.cdc.gov
Vigilância Epidemiológica: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.
cfm?id_area=1498>
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PARA (NÃO) FINALIZAR
As emergências e desastres requerem respostas imediata. Daí a importância do Atendimento PréHospitalar (APH).
Procuramos, neste Caderno, mostrar, de forma abrangente, como são organizados e gerenciados os
sistemas de emergência no mundo e no Brasil. Abordamos os eventos que ocorrem em situações
emergenciais, como as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas, mostrando os tipos de materiais
empregados, as possibilidades de ocorrência e as causas que vêm atingindo um número bastante elevado
da população mundial, tendo como consequência a morte e os traumas decorrentes.
Os desastres ocorridos, se não levam à morte, provocam o medo na população e trazem problemas
psicológicos sérios,principalmente nos casos de terrorismo de qualquer natureza.
Discutimos, também, a questão das epidemias e a importância do planejamento.
Deixamos, aqui, muitas opções para você aprofundar seus conheciemnto. Acesse os sites sugeridos,
consulte mais e veja como o problema é sério e exige muito despreendimento e esforço para o sucesso em
situações de emergências e desastres, já que, infelizmente, não temos o poder de dissipar as ocorrências
provocadas intencionalmente no mundo.
É fundamental que vocês aprofundem os conhecimentos e não fiquem restritos a este Caderno de Estudo
e Pesquisa.
Sugestão de filmes:
»» Epidemia (Outbreak), 1995, direção de Wolfgan Petersen
»» Contágio (Contagion), 2011, direção de Steven Soderbergh
»» Twister, 1996, direção de
Jan De Bont
»» 9/11, 2002, dirigido por Jules e Gedeon Naudet
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referências
ALEXANDER, David. Principles of emergency planing and management. Oxford ,UK: Oxford
University, 2007.
CASTRO, Antônio Luis Coimbra. Manual de desastres humanos – I, II e III partes. Brasilia: Secretaria
Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 2004.
CASTRO, Antônio Luis Coimbra de. Manual de desastres. V. I – Desastres Naturais.
Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 1999.
CASTRO, Antônio Luis Coimbra; CALHEIROS, Lelio. Manual de Medicina de Desastres.
Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 2007.
CIOTTONE et al. Disaster medicine. Philadelphia, USA: Elsevier, 2006.
HOGAN, David; BURSTEIN, Jonathan.Disaster medicine.Philadelpia, USA: Lippincot Willians &
Wilkins, 2007.
KOBYAMA, Masato et al. Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos. Organica Trading. 2006.
Disponível em: <http://www.areatb.com.br/cursohidrologia/prevencao_de_desastre_naturais.pdf>.
Acesso em 15/3/2008.
SILVIA, Ricardo. As diversas faces do terrorismo. São Paulo: Harbra, 2002.
WHITTAKER, David. Terrorismo. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2005.
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