OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E A EXPERIÊNCIA DA DOCÊNCIA
ENTRE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO IFC SÃO FRANCISCO DO SUL
Shirley Silva VIEIRA, Dayan Orlando de FREITAS, Jéssica SALVADOR, Mateus Vinícius Ferreira LEITE, Gilmar
STAVISKI
(Aluna do Ensino Médio Técnico em Administração do IFC de São Francisco do Sul; Aluno do Ensino Médio Técnico em
Guia de Turismo do IFC de São Francisco do Sul; Aluna do Ensino Médio Técnico em Guia de Turismo do IFC de São
Francisco do Sul; Aluno do Ensino Médio Técnico em Administração do IFC de São Francisco do Sul; Orientador do
Trabalho e Professor de Educação Física do IFC – Campus São Francisco do Sul).
Introdução
A Educação Física ao longo das últimas 3 décadas vive uma tentativa de replanejar e
desenvolver os seus conteúdos embasados nas propostas pedagógicas elaboradas em meados
da década de 80. Algumas destas propostas tinham a intenção, a priori, de denunciar uma
prática estritamente empirista e organizada em torno da prática esportiva - sobretudo, das
modalidades de futebol, voleibol, handebol e basquetebol - e propor uma forma diferente de
pensar e organizar esta disciplina (LEITE, 2010; KUNZ, 1994). Embora estes conteúdos
ainda sejam desenvolvidos em toda a extensão da educação básica, é no ensino médio que o
esporte encontra sua maior incidência e acaba por reduzir os conteúdos da Educação Física,
tornando-se, segundo Bracht (2005) o conteúdo hegemônico desta disciplina, favorecendo
àqueles que apresentam melhores aptidões motoras e afastando aqueles que não desejam pelo
rendimento esportivo. A desmotivação pelas aulas de Educação Física é um assunto bastante
estudado (PEREIRA e MOREIRA, 2005; PEREIRA, 2006; STAVISKI, 2008), e encontra na
hegemonia dos esportes, tematizados em torno do rendimento, uma das suas principais
explicações.
Por sua vez, alguns fatores como as influências culturais e midiáticas são responsáveis
pela hegemonia dos esportes na escola e acabam limitando outras expressões da cultura de
movimento humano que poderiam ser tematizadas enquanto conteúdo nas aulas de Educação
Física. No ensino médio, o esporte também é o conteúdo mais valorizado pelos alunos, além
de ser referência para as atividades extracurriculares da Educação Física (SANTOS e NISTAPICCOLO, 2011), principalmente para o gênero masculino (CAETANO, 2011).
Este binômio, hegemonia dos esportes e desmotivação das aulas, é uma realidade
também presente entre os alunos do ensino médio técnico em Guia de Turismo e Técnico em
Administração do Instituto Federal Catarinense de São Francisco do Sul, fato observado e
constato por meio de entrevista realizada nas primeiras semanas do curso no presente ano.
Diante desta realidade e no sentido de ampliar a compreensão dos alunos sobre a
Educação Física e principalmente sobre os seus conteúdos, é que se organiza e direciona o
objetivo desta pesquisa. Assim, considerando o binômio anteriormente citado, bem como a
sua superação, o presente trabalho tem como principal objetivo investigar possibilidades de
conteúdos para a Educação Física dentro da perspectiva da cultura de movimento humano,
bem como opções para a sua aplicação didático pedagógica.
Material e Métodos
A presente pesquisa tem inspiração no referencial da pesquisa-ação, pois de acordo
com Monteiro (2010), este design de pesquisa procura, de acordo com suas especificidades,
contribuir para a transformação dos contextos que necessitam de alguma forma de
intervenção, permitindo esclarecer e buscar soluções para os problemas ali existentes.
Além disso, a pesquisa-ação necessita da intervenção do pesquisador no contexto
estudado, da participação da população na construção do conhecimento e da importância da
socialização do conhecimento (HAGUETTE, 2001). A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa
participante engajada, onde procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolver o
conhecimento e a compreensão como parte da prática (MONTEIRO, et., 2010).
A pesquisa-ação é indubitavelmente atrativa pelo fato de poder levar a um resultado
específico imediato, no contexto do ensino-aprendizagem. Desta forma, uma vez constatado
que os alunos do ensino médio técnico em administração e guia de turismo apresentavam uma
compreensão limitada dos conteúdos da educação física e que em função disto muitos alunos
optavam por não realizar as aulas, foi elaborada uma estratégia de intervenção, na qual os
alunos tomam ciência das possibilidades de conteúdos dentro da cultura de movimento
humano e a partir daí, escolheriam um tema para apresentarem dentro do tempo da aula do
professor de educação física.
Considerando as duas turmas, esta pesquisa envolveu aproximadamente 70 alunos,
todos regularmente matriculados no primeiro ano do ensino médio. As aulas acontecem uma
vez na semana, com duração de 1h e 40 minutos. As turmas foram divididas em grupos de 3
alunos. Cada grupo escolheu um tema para pesquisar dentre uma relação pré-sugerida pelo
professor/pesquisador com data de apresentação pré-agendada. Antes de cada aula um grupo
tem em torno de 30 minutos para desenvolver a temática com os demais colegas e propor,
quando o tema permite, uma experimentação prática. Inicialmente o primeiro grupo teve três
semanas para planejar a sua apresentação, este intervalo aumenta para os demais conforme
avança o trimestre. Os temas variam desde modalidades esportivas mais tradicionais até
outras menos difundidas como o futebol americano e as artes marciais; até assuntos mais
complexos como doping no esporte, padrões de beleza e os mega eventos realizados no
Brasil: copa do mundo e os jogos olímpicos. Da explanação teórica surge o momento onde os
alunos aproximam-se das informações históricas e culturais, podendo o grupo condutor
utilizar cartazes, notebooks, celulares e caixa de som. Da parte prática surge a oportunidade
de vivenciar corporalmente os elementos trabalhados.
Resultados e Discussão
Desde a implantação em maio deste ano, cada grupo ao apresentar um tema dentre os
vários possíveis no universo da cultura de movimento humano, tem colaborado para
minimizar os dois maiores problema da Educação Física no Ensino Médio: a evasão das aulas
- problema presente no IFC – SFS - e o trabalho centrado na prática dos esportes - um
problema geral da Educação Física. Além disto, a possibilidade de conduzir uma aula permite
ao aluno a tomada de consciência de perceber-se enquanto elemento que contribui
efetivamente para o bom andamento da aula. Entre os alunos que já passaram por esta
experiência, foram observados mais respeito, colaboração e atenção no transcorrer das aulas.
Cada apresentação é uma possibilidade de reforçar que existem outros conteúdos que
não apenas os esportes na educação física, além de permitir a experiência da docência, pois o
aluno ao ocupar temporariamente o papel de professor, também é responsável por toda
condução da aula, desde o desenvolvimento do aprofundamento teórico, aplicação prática e
controle de tempo e espaço, até o uso de matérias e participação dos demais alunos.
Desta forma, os resultados encontrados indicam uma mudança na percepção dos
alunos quanto ao papel da educação física e esta sistematização também colabora para que os
conteúdos sejam trabalhados dentro das dimensões conceituais, atitudinais e procedimentais,
conforme discutido na literatura por DARIDO (2005).
Conclusão
O intuito da pesquisa-ação é mudar uma realidade constatada, desta forma, os alunos
estão manifestando uma evolução quanto a questão da hegemonia dos esportes enquanto
conteúdos da educação física. Esta ação segue seu planejamento até o terceiro trimestre deste
ano e pretende abarcar o maior número de conteúdos, temas e aprofundar na complexidade
das explanações, permitindo aos alunos também sentirem realmente efetivos no processo de
construção da aula.
Referências Bibliográficas
CAETANO, A. O Discurso sobre saúde na mídia: limites e possibilidades de tematização na
Educação Física escolar. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Florianópolis:
PPGEF/UFSC, 2011.
DARIDO, S. C. Os Conteúdos da Educação Física na Escola. In: DARIDO, S. C.; RANGEL,
I. C. A. (org) Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeir:
Guanabara Koogan, 2005.
HAGUETE, T. M. F. Metodologias Qualitativas na sociologia. Petropolis: Editora Vozes,
2001.
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994
LEITE, E. A. O esporte na escola: sua realidade e possibilidade de mudanças. Revista Digial
Buenos
Aires,
Ano
14,
n.
142,
março
de
2010.
Disponível
em:
http://www.efdeportes.com/efd142/o-esporte-na-escola.htm. Acesso: setembro de 2015.
MONTEIRO, C. F. S. et al. Pesquisa-ação: contribuído para a prática investigativa do
enfermeiro. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 31, n.1, p. 167-74, 2010.
PEREIRA, M. G. R. A Motivação nas aulas de educação física: um enfoque no ensino médio.
2006. 108 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física)–Faculdade de Ciências Biológicas e
da Saúde, Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2006.
PEREIRA, R. S.; MOREIRA, E. C. A participação dos alunos do ensino médio em aulas de
Educação Física: algumas considerações. Revista da Educação Física, Maringá, v. 16, n. 2, p.
121-127, 2005.
SANTOS, M. A. G. N; NISTA-PICCOLO, V. L. O esporte e o ensino médio: a visão dos
professores de educação física da rede pública. Rev. Brasileira Ed. Física e Esporte, SP, v. 5,
n, 1, p. 65-78, jan/mar. 2011.
STAVISKI, G.; CRUZ, W. M. Aspectos motivadores e desmotivadores e a atratividade das
aulas de Educação Física na percepção de alunos e alunas. EFDeportes.com, Revista
Digital. Buenos Aires, v.13, n.119, 2008. http://www.efdeportes.com/efd119/aspectosmotivadores-e-desmotivadores-das-aulas-de-educacao-fisica.htm. Acesso em setembro de
2015.
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