Pastagens e Forragens
VOLUME
24/25
24
25
2003/04
S U M Á R I O
Páginas
A Fertilidade do Solo e a Persistência das Pastagens. P. A. Rodrigues, A. S. Costa, S. T.
Coelho, R. M. Oliveira, A. Maria Simões
5-13
A qualidade do Queijo Fabricado com Leite Cru. Efeito dos Principais Factores Tecnológicos.
António Pedro Louro Martins, Maria Manuela Vasconcelos
15-33
Comparative Testing of Bulgarian Alfalfa Varieties in Mixtures with Grasses. Emil
Vassilev
35-43
Influência da Ensilagem no Teor de Saponinas de Luzerna (Medicago sativa L.). M. A.
Oliveira, R. Amaro, J. M. Abreu
45-56
As Lamas Residuais Urbanas como Melhoradoras da Produção de Misturas Pratenses
Semeadas em Solos Marginais do Alentejo. M. G. Serrão, M. L. Fernandes, J. C. Martins,
F. P. Pires, H. Domingues, C. Horta, A. M. Campos, A. Dordio
57-68
As Pastagens e as Forragens em Timor-Leste. Augusto Joaquim de Carvalho Lança, António
Manuel Rocha Parreira
69-84
Avaliação da Tolerância à Salinidade de Espécies Forrageiras. M. A. Carmona, M. M.
Oliveira, J. C. Martins, M. L. Cabral, J. A. Passarinho, M. L. Fernandes, M. J. Neves, A.
P. Vargues, J. Bica, M. A. Bica, D. Crespo
85-96
Estudo Comparativo de Leguminosas Anuais Pratensesi – Biserrula Pelecinus L. e
Ornithopus compressus L. Nuno M. Simões; Manuel M. Tavares de Sousa; Ana Rita
Costa
97-108
pastagens
e
forragens
Efeito do Isolamento Artificial na Regeneração de Amostras de Semente Lolium Perenne 121-130
– Produção de Semente. C. Vicente, T. Carita, F. Ricardo, M. P. Sequeira, V. P. Carnide,
M. Tavares de Sousa
Importância da Densidade e do Espaçamento da Entrelinha no Teor e Produção de Matéria 131-139
Seca de Diferentes Cultivares de Sorgo spp. António Fernandes, Henrique Trindade
ICONFORS – Improving Germplasm Conservation Methods for Perennial European Forage 141-153
Species. M. O. Humphreys
A Região Dão-Lafões e o Desenvolvimento Rural. Vítor Coelho Barros
155-163
XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, 12 a 14 de Maio de 2004. Resumo
165-167
pastagens e forragens
Estudo comparativo de Leguminosas Anuais Pratenses. II – Trifolium cherleri; Trifolium 109-120
glomeratum; Trifolium hirtum; Trifolium lappaceum e Trifolium resupinatum. Nuno M.
Simões, Manuel M. Tavares de Sousa, Ana Rita Costa, Cláudia Vicente
Sociedade Por tuguesa de Pastagens e Forragens
24/25
2003
2004
MONTAGEM CAPA.indd 1
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design sistemas gráficos
grafica europam orçamento:
Esta montagem está a considerar
a lombada com 8 mm
20-05-2006 15:56:56
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Sociedade Portuguesa de Pastagens
e Forragens
produção
referência
edição 24&25
Pastagens de Forragens
750 exemplares +
50 separatas
FORMATO ACABADO
PAPEL
TIRAGEM
ACABAMENTO
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160X240 MM
capa:
cromocard 260 g
miolo:
ior 70 gr.
800 exemplares
750 normal +
50 separatas (por
capítulo) com 2
pontos de arame
miolo colado a
capa mole sem
badanas.
miolo: 10,5 cad
[16 páginas]
1 /1 cor miolo
1 / 1 cor capa
168 pgs.
Pastagens e Forragens
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A Fertilidade do Solo e a Persistência das Pastagens. P. A. Rodrigues, A. S. Costa, S. T.
Coelho, R. M. Oliveira, A. Maria Simões
5-13
A qualidade do Queijo Fabricado com Leite Cru. Efeito dos Principais Factores Tecnológicos.
António Pedro Louro Martins, Maria Manuela Vasconcelos
15-33
Comparative Testing of Bulgarian Alfalfa Varieties in Mixtures with Grasses. Emil
Vassilev
35-43
Influência da Ensilagem no Teor de Saponinas de Luzerna (Medicago sativa L.). M. A.
Oliveira, R. Amaro, J. M. Abreu
45-56
As Lamas Residuais Urbanas como Melhoradoras da Produção de Misturas Pratenses
Semeadas em Solos Marginais do Alentejo. M. G. Serrão, M. L. Fernandes, J. C. Martins,
F. P. Pires, H. Domingues, C. Horta, A. M. Campos, A. Dordio
57-68
As Pastagens e as Forragens em Timor-Leste. Augusto Joaquim de Carvalho Lança, António
Manuel Rocha Parreira
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Avaliação da Tolerância à Salinidade de Espécies Forrageiras. M. A. Carmona, M. M.
Oliveira, J. C. Martins, M. L. Cabral, J. A. Passarinho, M. L. Fernandes, M. J. Neves, A.
P. Vargues, J. Bica, M. A. Bica, D. Crespo
85-96
Estudo Comparativo de Leguminosas Anuais Pratensesi – Biserrula Pelecinus L. e
Ornithopus compressus L. Nuno M. Simões; Manuel M. Tavares de Sousa; Ana Rita
Costa
97-108
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Efeito do Isolamento Artificial na Regeneração de Amostras de Semente Lolium Perenne 121-130
– Produção de Semente. C. Vicente, T. Carita, F. Ricardo, M. P. Sequeira, V. P. Carnide,
M. Tavares de Sousa
Importância da Densidade e do Espaçamento da Entrelinha no Teor e Produção de Matéria 131-139
Seca de Diferentes Cultivares de Sorgo spp. António Fernandes, Henrique Trindade
ICONFORS – Improving Germplasm Conservation Methods for Perennial European Forage 141-153
Species. M. O. Humphreys
A Região Dão-Lafões e o Desenvolvimento Rural. Vítor Coelho Barros
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XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, 12 a 14 de Maio de 2004. Resumo
165-167
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Estudo comparativo de Leguminosas Anuais Pratenses. II – Trifolium cherleri; Trifolium 109-120
glomeratum; Trifolium hirtum; Trifolium lappaceum e Trifolium resupinatum. Nuno M.
Simões, Manuel M. Tavares de Sousa, Ana Rita Costa, Cláudia Vicente
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PASTAGENS E FORRAGENS
Revista da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens
VOLUME 24/25
Este número foi subsidiado pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia
Elvas
2003/04
AVALIADORES EXTERNOS
AO CORPO DE REDACÇÃO E À DIRECÇÃO DA SPPF
Antonieta Queimado
David Gomes Crespo
Francisco Mondragão Rodrigues
João Neves Martins
João Quelhas dos Santos
J. Ramalho Ribeiro
Joaquim Efe Serrano
José Mira Potes
Luís Mira da Silva
Luís Salino
M. Graça Serrão
Mário de Carvalho
Nuno Tavares Moreira
Teodósio Salgueiro
Valdemar Pedrosa Carnide
DIRECTORA
Noémia Farinha
– Instituto Politécnico de Portalegre
CORPO DE REDACÇÃO
M.M.Tavares de Sousa
– Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas
Maria Ermelinda Lourenço
– Universidade de Évora
Noémia Farinha
– Instituto Politécnico de Portalegre
EDIÇÃO, REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens
A/c ENMP
Apartado 6
7350-951 ELVAS
ISSN 0870-6263
Dep. Legal n.º 12 350/86
Tiragem: 725 exemplares
PREÇO DESTE VOLUME
11,25€
As teorias expostas no presente
volume são da inteira responsabilidade dos seus autores.
Esta revista é distribuída gratuitamente aos sócios da SPPF, devendo todos os pedidos de
aquisição ser feitos directamente para o Editor. Igualmente será objecto de permuta com
outras publicações periódicas, nacionais ou estrangeiras, de interesse para esta Sociedade.
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 5–13.
A FERTILIDADE DO SOLO E A PERSISTÊNCIA DAS PASTAGENS*
P. A. Rodrigues, A. S. Costa, S. T. Coelho, R. M. Oliveira, A. Maria Simões
LQARS – Apartado 3228 – 1301-903 LISBOA
E-mail: [email protected]
RESUMO
Numa pastagem semeada em Novembro de 2001, num solo derivado de areia e/ou
arenitos, sob montado de sobro, fertilizada com 110 kg ha-1 de P2O5 e 110 kg ha-1 de K2O
na forma de um adubo binário, verificou-se a existência de numerosas manchas de "pastagem mal estabelecida" (ME). No sentido de avaliar possíveis diferenças de fertilidade
do solo entre as zonas ME e as da "pastagem bem estabelecida" (BE), colheram-se em
2002 amostras de terra para análise às profundidades de 0-5 e 5-10 cm em cinco zonas
correspondentes a cada uma das situações em confronto.
A análise estatística dos dados experimentais revelou a existência de diferenças
significativas (p 0,05) entre as duas situações no tocante aos teores de Al (teores médios
de Al de troca de 0,30 e de 0,91 cmol(+).kg-1 de terra, respectivamente nas zonas BE e
ME). Revelou ainda diferenças significativas na camada superficial nos teores de P e Cu,
88 e 45 mg.kg-1 de P2O5 e 1,36 e 0,54 mg.kg-1 de Cu, respectivamente nas zonas BE e
ME. Os teores de Al, tendo em conta os valores absolutos e em percentagem da capacidade
de troca catiónica do solo (3,34 cmol(+).kg-1 de terra), podem ser considerados como o
principal obstáculo à boa instalação da pastagem.
A má distribuição do adubo poderá ter contribuído para as diferenças nos teores de
P, embora essas diferenças e os teores mais baixos encontrados não justifiquem, por si só,
o mau estabelecimento da pastagem.
PALAVRAS-CHAVES: Pastagem semeada; Fertilização; Alumínio; Fósforo.
SOIL FERTILITY AND PASTURES PERSISTENCE
ABSTRACT
On a 3 year old pasture, sowed on a sandy soil, fertilized with 110 kg ha-1 of P2O5
and 110 kg ha-1 of K2O, was verified the existence of several "bad established" pasture
(BE) spots. These zones are marked by the absence of the sowed species and, in spite of
their small individual size, they represent about 5 to 10% of the field.
* Comunicação apresentada na XXIV Reunião de Primavera da SPPF. Palmela, Abril de
2003.
5
To identify possible soil fertility differences between the BE spots ant the "well
established" pasture (WE) zones, four soil samples were collected in five different zones
corresponding to each situation. Samples were taken at 0-5 and 5-10 cm depth.
Statistical analysis showed that BE spots corresponded to significantly
(p 0.05) higher exchangeable Al level in the soil in relation to WE zones (0.91 and 0.30
cmol(+).kg-1, respectively). It also revealed that the BE spots showed lower levels of
available P (45 mg.kg-1 P2O5) and extractable Cu (0.54 mg.kg-1), significantly (p < 0.05)
different from those in the WE zones. This one presented medium levels of these nutrients (88 mg.kg-1 P2O5 and 1,36 mg.kg-1 Cu). The higher concentration of exchangeable
Al seams to be the major cause for the BE situations, taking into account not only its
absolute value, but also the higher proportion of Al on the very low cation exchange
capacity of this soil (3.34 cmol(+).kg-1).
KEYWORDS: Sowed pasture; Fertilization; Aluminium; Phosphorous.
1 – INTRODUÇÃO
Estima-se que tenham sido semeadas em Portugal, desde a sua introdução
em 1965, cerca de 260.000 ha de pastagens permanentes de sequeiro, das
quais podem persistir, em razoáveis condições de produtividade, um máximo
de 100.000 ha (7). Também em Espanha, por volta de 1963-64, teve início
a introdução deste tipo de pastagens, ocupando as de trevo subterrâneo entre
100 000 e 150 000 ha (14). No decurso de década de 80 assistiu-se, na Península, a uma estagnação/paralisação das sementeiras destes pastos motivada,
entre outras causas, pela falta de persistência (14).
Desde cedo que o problema preocupou a comunidade científica ibérica, especialmente na década de 80, tendo levado à realização de diversos
trabalhos experimentais (6, 8, 12, 13, 14, 17, 18) e tendo, inclusive, suscitado
uma proposta de inquérito às causas do insucesso da sua implantação e
persistência (2).
O insucesso da instalação e persistência deste tipo de pastagens, à base
de gramíneas e leguminosas anuais, tem geralmente que ver com um progressivo, e por vezes rápido, desaparecimento das leguminosas introduzidas.
Na génese do problema de persistência das leguminosas, identificam-se três
factores preponderantes: a) escolha desajustada de espécies e/ou cultivares;
b) deficiências no manejo do pastoreio c) inadequação ou mesmo ausência
de fertilizações de instalação e de manutenção (7, 14, 15, 17).
Muitos daqueles estudos, apontam no sentido de que a persistência das
leguminosas anuais, está dependente da capacidade de produção de sementes
viáveis e, nalgumas espécies, da produção de sementes duras, que garantam
a renovação futura da espécie. Para que isto aconteça, é necessário que o
6
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
solo forneça os nutrientes e água para o seu crescimento e desenvolvimento
adequados, pois só desta forma terão capacidade para concluir, com sucesso,
o ciclo reprodutivo.
Sabendo que as pastagens são geralmente relegadas para solos de aptidão
agrícola marginal, com graves limitações de fertilidade, são frequentes as
situações de desequilíbrio nutricional na flora pratense. As leguminosas são
particularmente afectadas porque são menos agressivas que as gramíneas e
outras herbáceas na competição pela água, pelos nutrientes e pela luz, sendo,
no entanto, mais exigentes do que aquelas em nutrientes, nomeadamente em
N, S, Ca, Mg, B ou Mo e em termos de reacção do solo (10, 16, 19). Mesmo
em condições aparentemente favoráveis, encontram-se diferenças acentuadas ao
nível da fertilidade do solo entre locais de dominância de leguminosas, mais
férteis, e de gramíneas, menos férteis, ocupando a consociação entre as duas
famílias os locais com características intermédias de fertilidade (6). Entende-se, assim, que a capacidade produtiva e reprodutiva das leguminosas e, por
consequência, a sua persistência nas pastagens, é indissociável da existência
de condições adequadas de fertilidade do solo.
Nas pastagens semeadas em solos derivados de areia e arenitos dos
depósitos do Mio-Pliocénico, encontram-se inúmeros casos de insucesso no
tocante à sua persistência. Naquelas pastagens surgem, frequentemente, numerosas manchas ou zonas em que a persistência das leguminosas é muito
baixa, seja por razões de má instalação, seja por problemas de fertilidade do
solo, aliados a problemas de falta de água na Primavera. Aquelas manchas
ou zonas têm tendência para aumentar ao longo dos anos, tanto em número
como em área, ocupando uma percentagem significativa da parcela semeada.
Sendo solos de fraca capacidade de retenção para a água, é provável que
Primaveras secas, período de floração da maior parte das espécies semeadas,
contribuam de forma relevante para aquela situação.
Com o presente trabalho teve-se em vista identificar possíveis parâmetros
da fertilidade do solo, associados às situações de persistência e não persistência
de leguminosas, numa pastagem semeada em solo derivado de areias e ou
arenitos do Mio-Pliocénico, na região de Coruche.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Local do estudo
Pastagem de sequeiro com uma área aproximada de 15 ha, em solo de
charneca com azinheiras e sobreiros, da Herdade de Cinzeiro e Torre – Co-
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
7
ruche, com relevo ondulado, característico da região. A pastagem foi semeada
no Outono de 2001, com uma mistura biodiversa rica em leguminosas anuais,
constituída por 17 cultivares de Trifolium subterraneum, Trifolium resupinatum,
Trifolium incarnatum, Trifolium vesiculosum e Trifolium michaelianum, Ornithopus compressus, Ornithopus sativa, Lolium multiflorum, Dactylis glomerata e
Phalaris aquatica. Todas as leguminosas semeadas tinham sido inoculadas com
estirpes de rizóbio específicas, tendo ainda sido introduzido Mo, no processo
de peletização das sementes. A fertilização de instalação consistiu na aplicação
de um adubo binário 0:21:21, à razão de 450 kg/ha.
2.2 – Tipo de solo
Complexo de solos litólicos não húmicos de arenitos, das famílias Par e Vt (4).
2.3 – Delineamento experimental
Na Primavera de 2002, efectuaram-se colheitas de amostras de terra em
cinco manchas de pastagem mal estabelecida (ME, isto é, sem leguminosas)
e em cinco manchas de pastagem bem estabelecida (BE, com leguminosas).
Em cada mancha foram colhidas quatro amostras compostas, a duas profundidades diferentes, 0-5 cm e 5-10 cm. Colheram-se, igualmente, quatro
amostras compostas de vinte sub-amostras cada, à profundidade de 0-20 cm
para caracterização geral do solo da parcela.
Procedeu-se, ainda, à amostragem de plantas leguminosas no coberto
vegetal nas manchas BE. Não foram colhidas outras espécies nas manchas
ME por falta de referências no tocante aos teores adequados das espécies
presentes (gramíneas e outras). As amostras colhidas recaíram maioritariamente
em plantas da espécie Trifolium subterraneum. O material vegetal recolhido
consistiu em folhas do terço superior, de aproximadamente 50-60 plantas
sãs, em fase fenológica imediatamente anterior ou em início de floração. As
diversas amostras foram acondicionadas em sacos de papel e transportadas em
mala térmica para laboratório.
2.4 – Métodos analíticos
As amostras de terra foram analisadas segundo os métodos em uso no
LQARS, na fracção terra fina. Caracterizaram-se os solos quanto ao teor em
matéria orgânica (método de Tinsley modificado), pH(H2O) (método potenciométrico), P, K e Mg extraíveis (método de Egner-Riehm modificado), teores
em micronutrientes extraíveis Fe, Mn, Zn e Cu (método do acetato de amónio,
ácido acético e EDTA, a pH 4,65) e B extraível (método da água fervente).
8
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
As amostras de plantas foram lavadas com água desmineralizada e em
seguida secas a 65-70 ºC, durante cerca de 48 horas, sendo em seguida finamente moídas e submetidas a análise química para determinação dos teores
em N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Mn, Zn, Cu e B. Os teores de N e S foram
determinados em auto analisador LECO NS 2000 e os restantes elementos
foram determinados por espectrofotometria de emissão de plasma (ICP), numa
solução clorídrica das cinzas do material vegetal, obtidas por incineração a
480-500º C, durante 4 horas.
2.5 – Análise estatística
Análise de variância (ANOVA do tipo I) e aplicação do teste de Duncan
para comparação de médias à posteriori (α = 95%).
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
No quadro 1 figuram as principais característica físico-químicas do solo
da pastagem. No quadro 2, figuram os resultados analíticos das amostras de
terra das manchas de pastagem bem e mal estabelecida.
QUADRO 1 – Características físico -químicas gerais do solo da pastagem (0 -20 cm).
Local
H. Cinzeiro
e Torre
Textura
Arenosa
pH MO P2O5 K2O
(H2O) (%)
5,3
1,0
67
77
Mg
Fe
Mn
Zn
Cu
B
CTC
(cmol(+).kg-1)
0,9
1,0
0,80
3,34
(mg.kg-1)
62
37
51
Tal como era de prever, constata-se estar-se em presença de um solo de
fertilidade limitada, com alguma acidez, pobre em matéria orgânica e de textura
arenosa, que lhe conferem muito baixa capacidade de troca catiónica (3,34
cmol(+).kg-1) e de retenção de água, somadas a uma relativa deficiência em Zn
e Cu. Dadas as adubações efectuadas os teores de P e K são medianos (11).
Numa apreciação global aos resultados expressos nos dois quadros,
verificam-se algumas diferenças que parecem estar sobretudo relacionadas com
a própria natureza da amostragem (área abrangida e profundidade), parecendo,
contudo, coerentes.
A análise estatística dos dados experimentais, revelou a existência de diferenças significativas (p 0,05) nalguns parâmetros químicos, relevantes entre as
manchas de pastagem bem estabelecida (BE) e mal estabelecida (ME). No tocante
ao Al de troca, revelou que os teores médios nas manchas ME são sempre superiores aos ocorridos nas manchas BE (diferenças de 0,50 cmol(+).kg-1 na camada
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
9
superficial e de 0,56 cmol(+).kg-1, na camada subjacente). Revelou ainda diferenças
significativas, na camada superficial, nos teores médios de P e Cu extraíveis.
QUADRO 2 – Valor médio dos parâmetros químicos do solo nas manchas de pastagem bem
e mal estabelecida.
Parâmetro
Pastagem bem
estabelecida (PBE)
Pastagem mal
estabelecida (PME)
0-5 cm
0-5 cm
5–10 cm
sm (±)
5–10 cm
Al (cmol(+).kg-1)
0,30 (b)
0,36 (b)
0,80 (a)
0,91 (a)
0,43
pH (H2O)
5,29
5,15
5,27
5,24
0,77
P2O5 (mg.kg-1)
88 (a)
22 (bc)
45 (b)
18 (c)
8,40
K2O (mg.kg-1)
137 (a)
87 (b)
115 (ab)
89 (b)
14,30
Mg
(mg.kg-1)
75
74
99
97
22,30
Mn
(mg.kg-1)
48,6
43,8
58,0
52,6
11,09
Zn (mg.kg-1)
1,56 (a)
1,16 (ab)
1,15 (ab)
0,89 (b)
0,17
Cu (mg.kg-1)
1,68 (a)
0,53 (b)
0,86 (b)
0,39 (b)
0,66
B (mg.kg-1)
0,78
0,81
0,65
0,64
0,62
Nota: médias seguidas de letras iguais na linha não diferem significativamente entre si (p=0,05).
Os teores de Al podem ser considerados elevados, tendo em conta não
somente os teores absolutos, mas sobretudo a capacidade de troca catiónica
deste solo. Com efeito, verifica-se que nas manchas ME o Al de troca preenche,
em média, cerca de ¼ da capacidade do complexo de troca (24% e 27% na
camada 0-5 e 5-10, respectivamente).
Nas manchas ME os teores médios de Al de troca situam-se bastante
próximo do limite de tolerância considerado por Alves et al. (3), correspondente
ao teor de 1 cmol(+).kg-1 de Al. Valores daquela ordem de grandeza podem
conduzir a fenómenos de toxicidade do Al que, induzindo a carência de P por
precipitação, impedem o bom desenvolvimento radicular das leguminosas (3)
e podem afectar igualmente a simbiose rizóbio-leguminosa.
As diferenças entre os teores de P nas camadas superficiais pode ser
resultante da técnica de aplicação do adubo, a lanço, que, no tipo de terreno
em questão, com relevo acentuado e árvores com distribuição irregular, obrigará
o tractor a mudanças frequentes de direcção, levando a que algumas zonas
recebam quantidades de fertilizante superiores à de outras.
As análises de solo evidenciam, ainda, valores muito baixos de P extraível
na camada 5-10 cm de ambas as manchas em estudo, o que, aliado a frequente
10
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
falta de água na camada superficial, mesmo em plena Primavera, pode conduzir a problemas de nutrição em P, nas plantas que aí vegetam. As análises
de material vegetal (quadro 3) revelam, no entanto, teores satisfatórios de P,
embora não muito afastados do limite inferior de suficiência para as espécies
do género Trifolium, as mais representativas da flora existente (4, 10).
Em diversos ensaios de campo com pastagens semeadas em solos
ácidos do SW de Espanha Mozo et al. ( 14) concluíram que, para a generalidade daqueles solos, o P era a principal limitação ao estabelecimento e
persistência das pastagens à base de trevo subterrâneo. Sendo a absorção do
P essencialmente resultante de fenómenos de difusão, a secura da camada
superficial limitará a absorção daquele elemento, facto que será agravado
pelo fraco desenvolvimento radicular em profundidade, resultante dos elevados teores de Al.
As análises ao material vegetal (quadro 3) apontam ainda para teores de
S claramente abaixo da concentração crítica, que é da ordem de 0,2% para
trevos subterrâneos (10).
QUADRO 3 – Teores médios de nutrientes minerais em leguminosas do género Trifolium.
Parâmetros
Local
H. Cinzeiro e Torre
s (±) erro padrão
n
5
% na MS
mg kg-1 na MS
N
P
K
Ca
Mg
S
Fe
3,53
0,33
2,47
1,01
0,31
0,12 82
0,35
0,05
0,56
0,07
0,05
0,02 16,30
Mn
114
Zn
41
27,17 10,11
Cu
9
2,13
B
23
5,15
Moreira et al. (13) verificaram o efeito positivo do P e do S sobre a
capacidade de ressementeira natural de cultivares de trevo subterrâneo, em solos
de textura ligeira, pobres em matéria orgânica, concluindo pela necessidade
de importantes adubações com superfosfato de cálcio 18% no estabelecimento
de pastagens semeadas com base naqueles trevos.
Foram detectados valores baixos de Cu e B nas leguminosas colhidas
nas manchas BE, denotando insuficiências nutritivas naqueles elementos, pese
embora o facto de o solo se encontrar medianamente provido em B e em
Cu extraível. A produção de sementes, mais até que a produção de biomassa,
é fortemente penalizada em condições de solos ácidos e deficientes em B,
como o confirmaram os resultados de Vale (18), obtidos em ensaios de trevo
subterrâneo, com e sem aplicação de B e/ou de calcário, nos quais a produção
de semente da testemunha foi inferior, em mais de dez vezes, à registada
quando ambos os factores actuavam de forma conjugada.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
11
4 – CONCLUSÕES
A instalação de pastagens em solos derivados de areias e arenitos apresenta
algumas dificuldades, resultantes de um conjunto de factores que, interagindo
entre si, contribuem para o insucesso da sua persistência. Os resultados encontrados sugerem que os teores de Al, tendo em conta os valores absolutos
e em percentagem da capacidade de troca catiónica (8,4% e 21,2%, para BE
e ME, respectivamente, na camada 5-10 cm) podem ser considerados como
obstáculo relevante à boa instalação das pastagens.
A irregularidade do terreno pode ter contribuído para a deficiente distribuição do adubo o que, em parte, explicará as diferenças nos teores de fósforo,
embora essas diferenças e os teores mais baixos, encontrados nas camadas
5-10 cm, não justifiquem, por si só, o mau estabelecimento da pastagem. A
combinação de factores, tais como teores insuficientes de fósforo abaixo de
5 cm de profundidade e de teores elevados de alumínio na mesma camada,
poderão ter papel decisivo na instalação/manutenção da pastagem. Aqueles
factores agravarão, fortemente, os problemas em Primaveras secas, contribuindo
decisivamente para o insucesso na persistência daquelas pastagens.
Desconhece-se, em que medida, nutrientes como o enxofre, o boro e o próprio cobre, poderão afectar a persistência das pastagens neste tipo de solos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao proprietário da Herdade Cinzeiro e Torre, Sr. Fernando Santos,
a gentil cedência da pastagem, bem como a toda a equipa do Projecto AGRO 87 – "Pastagens
biodiversas ricas em leguminosas: uma alternativa sustentável para o uso de terras marginais",
pela colaboração na realização do presente trabalho e amizade dispensadas.
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13
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 15–33.
A QUALIDADE DO QUEIJO FABRICADO COM LEITE CRU. EFEITO
DOS PRINCIPAIS FACTORES TECNOLÓGICOS*
António Pedro Louro Martins, Maria Manuela Vasconcelos
Núcleo de Tecnologia do Leite e Derivados, Departamento de Tecnologia dos Produtos
Agrários – Estação Agronómica Nacional, INIAP – Instituto Superior
de Agronomia (Ed. Principal) – Tapada da Ajuda – 1349-018 LISBOA
RESUMO
Com esta comunicação, pretende-se contribuir para dinamizar a discussão acerca
da importância dos principais factores tecnológicos inerentes ao fabrico de queijo com
leite cru, base comum a todos os queijos tradicionais portugueses com Denominação de
Origem Protegida e considerado como representante da grande maioria dos factores da
respectiva tipicidade, tomando como principal referência o queijo de Azeitão, em cuja área
de produção se integra a organização desta reunião, o qual tem a sua história estreitamente
relacionada com a ovelha de raça Saloia.
Tomando-se a qualidade do leite como factor de maior importância para a qualidade
do queijo, um tema já muito repetido, mas que não deixa de constituir, ainda, uma forte
limitação à obtenção de produtos de qualidade, aborda-se a importância de outras fases do
fabrico, como a coagulação, o dessoramento e a maturação, que se consideram igualmente
limitantes das características do produto final, designadamente numa época em que se
fazem sentir as alterações verificadas a nível da estrutura produtiva, com impacto muitas
vezes decisivos ao nível da qualidade dos produtos.
PALAVRAS-CHAVES: Leite cru de ovelha; Fabrico de queijo; Tecnologia tradicional; Denominação de Origem Protegida (DOP); Queijo de Azeitão.
ABSTRACT
From the case study Azeitão cheese, a PDO cheese from the geographical area where this meeting takes place, this paper tries to discuss the effect of the main technological
factors of raw ewe milk cheesemaking that supports almost all the Portuguese traditional
PDO cheeses. The raw milk is considered to represent the majority of the cheese typicality factors and its traditional poor quality is responsible for the common problems in
cheesemaking. As cheesemaking steps depend also on milk quality and characteristics and
these are influenced by the production technology that is clearly changing as production
structure changes, we also discuss the influence of milk characteristics on different steps
of traditional cheesemaking technology – clotting, draining and ripening.
KEYWORDS: Raw ewe milk; Cheesemaking; Traditional technology; PDO; Azeitão cheese.
* Comunicação apresentada na XXIV Reunião de Primavera da SPPF. Palmela, Abril de
2003.
15
1 – CARACTERÍSTICAS E QUALIDADE DO QUEIJO
O fabrico de queijo é, na sua essência, um processo de conservar os
componentes do leite, um produto alimentar facilmente perecível, por períodos
mais ou menos longos e de forma mais ou menos alterada ou modificada,
fazendo uso do contributo de diferentes meios de conservação, como a desidratação, a acidificação ou a diminuição do pH, aspectos que compõem, no
seu conjunto, aquilo que se designa por tecnologia de fabrico.
A tecnologia de fabrico conduz a um produto que é, antes de mais,
um alimento, com formas de apresentação diversificadas, representando uma
enorme variabilidade de atributos que vão desde um produto de características
muito pouco específicas, mas também muito homogéneo e reprodutível, sempre
igual e apresentado sempre da mesma maneira, adequado a um consumo em
massa e também à produção industrial, até um produto quase único, tornado
de excelência, com uma tipicidade reconhecida mas dificilmente traduzível
em definições, mesmo complexas, tornando-o objecto de procura por parte
de apreciadores ou conhecedores.
Em qualquer dos casos, as características do queijo resultam de um
conjunto de acções físicas, químicas e bioquímicas, que se exercem sobre o
leite e os seus componentes, por via de diversos factores de transformação e
agentes químicos e biológicos, nativos do leite, adquiridos ao longo do ciclo
de transformação, ou ainda adicionados ao longo do processo de fabrico. As
características do queijo constituem um dos aspectos importantes da respectiva
qualidade, podendo, para alguns produtos ser mesmo o aspecto mais importante
da sua qualidade, dependendo da respectiva contribuição para o que se deve
esperar de um determinado tipo de produto.
No caso dos produtos tradicionais, a qualidade está intimamente ligado
à riqueza e diversidade sensorial, difícil de traduzir por palavras mas que um
apreciador consegue "sentir" e "desfrutar", embora, na conjuntura actual, os
aspectos relacionados com a segurança alimentar não possam, também neste
caso, deixar de ser considerados.
A queijaria tradicional mantém como suporte, quer propositadamente
quer por limitações estruturais, diversos factores de variabilidade. Mantémse a utilização do leite cru, predominantemente proveniente de pequenos
ruminantes, em lotes relativamente reduzidos, produção muito marcada
pelos sistemas tradicionais da produção animal. Esta opção tem hoje, como
base, a ideia de que toda a riqueza físico-química e biológica é um factor de qualidade/tipicidade do produto final, sendo considerada como elo
16
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
fundamental de ligação do produto às regiões, garantindo que muitos dos
aspectos físico-químicos e microbiológicos que podem ser determinados
pelas condições específicas de cada região se possam exprimir no produto
final. Incluímos aqui factores como a espécie produtora e, eventualmente,
a raça, bem como os sistemas de produção, factores que alguns estudos
apontam como relevantes a nível do produto, estando ainda por esclarecer
a sua influência a nível dos nossos queijos.
Por outro lado, a tecnologia tradicional de fabrico não obedece a uma
rigidez estrita da sucessão de operações perfeitamente fixas e rotineiras na sua
execução, resultando antes da adaptação à rotina da queijaria, às características da
matéria-prima e ao empirismo da utilização dos factores tecnológicos. Aspectos
tão específicos como o agente coagulante, a temperatura de trabalho, o tipo de
salga ou o grau de dessoramento, são factores tão condicionantes do meio em
que os agentes vão actuar durante a maturação ou cura, que se podem destacar
no plano tecnológico. As condições de cura do queijo, a fase de acabamento,
fundamental para as características do produto final, decorre, normalmente,
sob condições dependentes do clima, isto é, pelo menos até há pouco tempo,
decorria sob condições dificilmente controláveis. A cura é o culminar de todo o
processo e deverá decorrer em condições que permitam as complexas reacções
que ajudam a definir as características finais do queijo, numa extensão correcta
e adequada, dificultando, em simultâneo, a actuação dos agentes perniciosos.
Assim, poder-se-á afirmar que a qualidade do queijo resulta do domínio
de um conjunto amplo e complexo de elos de uma cadeia que vai desde o
rebanho às condições de venda e de consumo do queijo (figura 1), o qual
assegura a possibilidade de se consumir um produto com as características
que lhe são próprias, de forma segura.
Os queijos designados por tradicionais, onde cabem os mais conhecidos
e típicos, alguns deles com Denominação de Origem Protegida, e que, com
raras excepções, são obtidos a partir de leite de pequenos ruminantes, reflectem
mais o efeito da matéria prima, sendo mais vulneráveis aos aspectos que a
condicionam sendo sobre eles que recairá a atenção nesta comunicação. Outros
casos, reflectem mais a tecnologia de fabrico, dada a eliminação de diversos
factores de risco, mas também de tipicidade, sobretudo os ligados à matériaprima, e que são conotados com o modo de produção industrial, laborando
volumes de leite de pequenos ruminantes cada vez mais elevados.
Em resumo, a qualidade pode então ser entendida, genericamente, como
a expressão dos pressupostos inerente à matéria-prima e dos parâmetros que
definem a tecnologia de fabrico. Neste trabalho, pretendemos analisar as fases
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
17
mais determinantes dos processos tradicionais de fabrico de queijo a partir
de leite de pequenos ruminantes, partindo dos factores tecnológicos que podem influenciar as suas características, tomando como principal referência o
queijo de Azeitão, em cuja área de produção se integra a organização desta
reunião, o qual tem a sua história estreitamente relacionada com a ovelha de
raça Saloia.
Cadeia de qualidade do queijo tradicional
Pontos da cadeia
Principais factores influenciando a qualidade
Rebanho
Boa saúde - qualificação sanitária; alimentação; genética; estábulo - ambiente;
condução do rebanho; ordenha
Leite
Rico e equilibrado (composição química); boa qualidade bacteriológica; isento
de substâncias indesejáveis (inibidores, pesticidas, etc.); cuidados nas
manipulações, na conservação (temperatura e duração)
Preparação do leite; diagrama tecnológico e práticas queijeiras ligadas à
tradição – fabrico – cura; auxiliares tecnológicos (coagulante, sal, etc.);
equipamentos para o fabrico; instalações – sala de fabrico, salas de cura,
armazenamento; estabelecimento e controlo dos parâmetros de fabr ico maturação
Transformação
Comercialização
Acondicionamento, embalagem; transporte, adaptação aos circuitos de
distribuição, apresentação do queijo na comercialização
Queijo de qualidade
Respeitar as condições de higiene em todos os pontos da cadeia; satisfazer as
expectativas dos consumidores
FIGURA 1 – A cadeia de qualidade do queijo tradicional (5).
2 – A TECNOLOGIA DE FABRICO
O diagrama de fabrico de queijo de Azeitão é semelhante ao da maioria
dos queijos tradicionais podendo estes agrupar-se segundo alguns factores
específicos, entre os quais podemos citar o tipo de coagulante, o modo de
salga, o modo de trabalho e de esgotamento da coalhada, bem como os procedimentos, as condições e a duração da maturação ou cura.
Partindo-se de leite cru, de apenas uma espécie ou, nalguns casos, de
misturas de leite de diferentes espécies produtoras, o fabrico propriamente dito
prepara o substrato ou o "meio/queijo em fresco", para a actuação dos agentes
da cura e, muito mais do que nos queijos feitos com leite tratado pelo calor,
estes dependem fundamentalmente da matéria-prima. Como nas tecnologias
18
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
tradicionais o leite é coagulado sem que praticamente se verifiquem variações
de acidez ou pH até à cura, o "meio/queijo em fresco" não é selectivo, e
os únicos elementos que, em geral, variam são os teores em humidade, em
intervalos também muito pouco selectivos mas fundamentais para a definição
das características finais do produto. Nestas condições, a evolução do queijo
vai depender fundamentalmente dos agentes de transformação, que são a
proporção residual de coagulante e os microrganismos, e, em sequência, da
evolução do próprio queijo ao longo da cura. Nesta, a acidificação, a diminuição do pH e a neutralização da pasta são, provavelmente, os processos mais
selectivos relativamente ao controlo ou determinação da actividade microbiana
e enzimática.
A estes factores, há ainda que acrescentar as condições ambientais em
que a cura decorre, especialmente a temperatura, factor muito importante
para a actividade microbiana, a velocidade de circulação do ar e a humidade
relativa dentro das câmaras, como agentes condicionantes da indução ou da
limitação do desenvolvimento da flora microbiana de superfície, desejável ou
indesejável consoante o tipo de queijo.
A descrição anterior, embora muito resumida, mostra como as tecnologias tradicionais assentam em equilíbrios muito frágeis entre atributos
da matéria-prima e as condições de fabrico, os quais conferem ao produto
escassas possibilidades de defesa face à presença de agentes prejudiciais
ao produto final. Abordemos então, de forma genérica, aqueles que são, na
nossa óptica, os traços comuns mais determinantes da queijaria tradicional,
tentando avaliar de que forma é que eles se podem traduzir na definição e
na qualidade dos produtos, e dando algum relevo ao que é mais característico
das tecnologias tradicionais e também ao que é mais específico dos leites
de pequenos ruminantes, e tendo ainda em consideração que todas as fases
do fabrico se interrelacionam, tornando-se difícil isolá-las e considerá-las de
forma independente.
2.1 – A matéria-prima
A matéria-prima utilizada no fabrico dos mais afamados queijos tradicionais é o leite de pequenos ruminantes, estreme ou em misturas, sem ter sofrido
qualquer tratamento térmico, isto é, leite cru. Este é o facto, porventura, de
maior relevância para este tipo de produtos, quer como factor da qualidade,
quer como principal fonte de problemas para a tecnologia e para o produto.
Um bom leite para queijaria deve ser rico em componentes úteis para o
fabrico, factores do rendimento, como a gordura e, principalmente, proteína
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
19
(caseína). Para que se possa retirar todo o partido dessa composição, o leite
deve possuir um bom equilíbrio mineral relativamente à proteína (cálcio,
fósforo), não podendo esquecer-se que para a coagulação enzimática é fundamental a presença de cálcio disponível para a agregação de toda a caseína.
Este primeiro conjunto de aspectos pretende assegurar um bom rendimento
queijeiro, factor preponderante da rentabilidade económica.
No entanto, o aspecto quantitativo de composição não é o único factor
de rentabilidade. É necessário que seja também proporcionada segurança
para o consumidor e, assim, o leite deve estar isento de patogénicos e de
substâncias indesejáveis, como inibidores ou outros contaminantes de origem
química, os quais podem afectar a actividade microbiana necessária à evolução
e características do produto e, a prazo mais ou menos longo, ter implicações
na saúde do consumidor.
Finalmente, tratando-se de leite cru, deve conter uma flora microbiana
limitada, predominantemente útil. Trata-se do factor que mais pode contribuir
para o aparecimento de defeitos no produto final, quer por efeito directo, quer
indirectamente afectando toda a evolução da transformação tecnológica. São
agentes prejudiciais todos os microrganismos de contaminação susceptíveis de
causar defeito no queijo, como produtores de gás ou agentes de proteólise
intensa, mas também se podem tornar indesejáveis presenças maciças de
microrganismos úteis, como bactérias lácticas, por exemplo, que provocam
problemas tecnológicos graves, impossibilitando a obtenção de um produto
com as características desejadas.
Diversos factores contribuem para as características do leite e, de entre
eles, as determinantes genéticas, o estado de lactação e a alimentação são os
factores ligados ao animal mais importantes e que têm uma relação mais próxima com os aspectos quantitativos da produção. A selecção e o melhoramento,
em conjugação com a alimentação, são dos aspectos em que a intervenção
humana pode contribuir para uma melhor qualidade da matéria-prima. Deve
referir-se que estes factores mais ligados ao animal (espécie, raça), em conjunto
com as envolventes geográfica e ambiental, e, ainda, a alimentação animal, são
considerados como dos factores mais importantes na definição da tipicidade
e especificidade dos queijos tradicionais, desde que tenham possibilidade de
se expressar no produto final.
Os factores independentes do animal são, provavelmente, os que podem
interferir nessa relação, e todos eles têm ligação com a contaminação do
leite pelos mais diversos microrganismos ou agentes químicos. As condições
sanitárias e higiénicas, quer do animal quer da ambiente, equipamentos de
20
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
ordenha e conservação do leite, e instalações de transformação são os factores
mais importantes, destacando-se os aspectos ligados ao animal, à ordenha e
conservação do leite.
A nível da matéria-prima, as alterações mais importantes com impacto
tecnológico são as que se relacionam com o teor e as características da caseína, as quais, inclusivamente, vêm sendo cada vez mais estudadas na relação
das determinantes genéticas com a qualidade da coalhada, a produtividade
e o rendimento de fabrico, e as que decorrem da componente microbiana e
estado sanitário do animal.
O estado micelar da caseína e o equilíbrio salino-proteico, na sua relação com a acidificação por via da actividade microbiana, bem como o efeito
directo da acidificação no fabrico, e ainda a susceptibilidade da matéria gorda
a alterações com importância organoléptica, são aspectos relevantes a ter em
conta. O aumento da presença de microrganismos, quer por contaminação inicial
elevada, quer por deficiente conservação, são os aspectos mais comuns a nível
do sector da produção de leite de pequenos ruminantes, podendo dizer-se que
a qualidade microbiológica do leite é genericamente, senão muito má, pelo
menos fortemente limitativa da obtenção de queijo de qualidade.
Aqui vale a pena referir alguns aspectos novos, induzidos sobretudo
pelas novas relações de produção, e suas repercussões a nível do queijo,
novos no sector queijeiro tradicional mas, evidentemente, já antigos na sua
aplicação ao sector leiteiro, os quais julgamos terem significado progresso
mas também, simultaneamente, retrocesso. Referimo-nos à concentração da
produção de queijo, e consequentemente à laboração de maiores volumes de
leite e à refrigeração, as quais caminham necessariamente a par na procura
de soluções para a qualidade e para a rentabilidade.
Se são conhecidas as vantagens da concentração da produção, como factor
de rentabilidade e do uso da refrigeração para garantia da conservação eficaz
do leite, significando progresso tecnológico e passos importantes na evolução
da actividade queijeira, também se sabe que existem requisitos e limitações
que devem ser observadas na sua utilização, sobretudo a nível da utilização
do leite cru, vertente que nos parece ter sido muito esquecida. Sob este ponto
de vista, julgamos que os reflexos sobre a qualidade do queijo têm sido, em
muitos casos, negativos, a avaliar pelos problemas e acidentes de fabrico que
temos acompanhado.
Resumidamente, é sabido que a utilização da refrigeração em condições
deficientes pode tornar-se uma fonte potencial de problemas para o fabrico
do queijo, pois é susceptível de alterar completamente o equilíbrio da flora
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
21
microbiana do leite, favorecendo o desenvolvimento dos psicrotróficos,
agentes de graves problemas na evolução e na qualidade do queijo, os
quais apenas têm sido evidentes nos últimos anos, sendo inesperados e até
desconhecidos para a grande maioria dos agentes transformadores. Também a
refrigeração prolongada é problemática sob o ponto de vista físico-químico
e tecnológico, embora com menor incidência no caso do leite de ovelha,
como é referido por alguns autores. A concentração numa unidade de
transformação de leites de diferentes proveniências, potencia os problemas
de índole microbiana, comuns no sector do leite de pequenos ruminantes,
inclusivamente pela introdução do tempo de recolha sem refrigeração.
Os reflexos mais frequentes das deficiências da matéria-prima são,
em geral, detectados a nível da evolução do produto, normalmente durante
o processo de cura, ou no final da mesma, mas podem ser identificados
logo durante o fabrico, embora a maioria dos produtores seja pouco sensível a esses sinais. Coagulações lentas, coalhadas difíceis de trabalhar,
com problemas a nível do dessoramento e retenção de soro no queijo em
fresco, perda de rendimento por via de coagulação incompleta da caseína
ou por perda de finos de coalhada, são exemplos de problemas a nível
tecnológico com origem no leite, que, em muitos casos, prolongam o seu
efeito ao longo de todo o ciclo da produção do queijo, pela modificação
das condições determinantes das importantes transformações que se irão
verificar na maturação.
Os reflexos da deficiente qualidade do leite no produto são, assim,
inúmeros, podendo referir-se os riscos para a saúde pública pela presença de
patogénicos, as dificuldades em cumprir os requisitos para o produto, mesmo
os mais simples, como os teores em matéria gorda (referido ao resíduo seco)
e em humidade (referido ao produto isento de matéria gorda) ou o grau de
maturação, as dificuldades na maturação do queijo, com o difícil controlo da
cura e o aumento da necessidade de intervenção da mão-de-obra, a instabilidade
do produto na conservação e na comercialização e os inúmeros defeitos do
queijo, defeitos exteriores (colorações estranhas, crosta rugosa, deformações,
etc.), de pasta e textura (olhos, centros duros, pasta líquida, pasta não ligada,
textura não homogénea, etc.), de sabor e de aroma (insípido, amargo, azedo,
acre, pútrido, etc.).
Compreende-se assim que, nos queijos fabricados a partir de leite cru, a
qualidade da matéria-prima seja considerada o factor mais importante, exercendo
influência, directa ou indirectamente, em todas as fases de fabrico, desde o
fabrico à conservação e comercialização.
22
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
2.2 – A coagulação
A coagulação da caseína é o fenómeno central do fabrico de queijo,
dependendo dela muito do que virá a ser o queijo. A tradição queijeira
nacional utiliza a coagulação enzimática. Os coagulantes normalmente utilizados são, portanto, complexos enzimáticos, de origem animal, o comum
"coalho", termo muito abrangente mas nem sempre correctamente utilizado ou
de origem vegetal, o conhecido "cardo", muito ligado ao queijo de leite de
ovelha, considerado um dos factores responsáveis pela tipicidade de alguns
queijos tradicionais.
Embora de características específicas diferentes, as enzimas que constituem os complexos enzimáticos coagulantes são classificadas como proteases
aspárticas, que têm como acção primária a desestabilização da estrutura coloidal
da caseína, explorando a fragilidade particular de uma ligação peptídica da
caseína k, quantitativamente pouco importante mas com grande responsabilidade
na estabilidade do complexo caseínico do leite.
O processo de coagulação enzimática é complexo, envolvendo uma
sucessão de fenómenos que determinam essencialmente quatro fases (figura
2), algumas delas mal conhecidas, as quais se vão sucedendo com uma certa
sobreposição. Resumidamente, na primeira fase após a adição do coagulante,
designada por fase de reacção primária, tem lugar a acção específica da
protease sobre a cadeia da caseína k. É uma fase puramente enzimática, ao
longo da qual não se notam modificações macroscópicas no leite, até que seja
atingida uma proporção significativa da caseína k (85-90%), implicando uma
desestabilização micelar tal que permite que as restantes caseínas, sensíveis
ao cálcio, iniciem um processo de agregação micelar captando o cálcio iónico
disponível na solução, indispensável, portanto, para que se verifique a coagulação. Esta nova fase, designada por fase de agregação micelar, é uma fase
não enzimática, na qual intervêm processos físicos induzindo um aumento de
viscosidade gradual devido à formação de uma estrutura de gel, constituída
por uma malha de caseína, cada vez mais resistente, a qual aprisiona os
componentes do leite, quer solúveis, quer insolúveis, como a matéria gorda.
Em simultâneo, o complexo enzimático vai actuando sobre as caseínas, mais
ou menos intensamente, em função das características das proteases presentes
e das próprias caseínas, constituindo uma terceira fase designada por fase de
proteólise generalizada, a qual influencia a agregação proteica e a interacção
com outros componentes do leite, influenciando o rendimento da transformação pela perda de componentes que pode originar. É nesta fase que se pode
fazer sentir o efeito das enzimas excessivamente proteolíticas, podendo afectar
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
23
a estrutura da coalhada e originar perda de componentes azotados no soro,
influenciando o rendimento.
FIGURA 2 – Evolução das diferentes reacções que têm lugar na coagulação enzimática do
leite e representação esquemática da relação entre o número de micelas de
caseína (C) por molécula de enzima (E) e do estado de agregação (12).
CMP – produção de caseinomacropéptido; VIS – aumento de viscosidade; GEL
– firmeza do gel. Tempos característicos: AT – início da agregação; CT – tempo
de coagulação; GT – início da gelificação; RT – tempo ao fim do
qual a consistência é suficiente para iniciar o corte.
Finalmente, a última fase, a sinérese, corresponde à expulsão espontânea de
soro, acompanhando o aumento de rigidez do gel, o qual, a partir de certo momento,
tem condições para sofrer intervenções físicas externas, como o corte, de modo a
acelerar a saída do soro, completando-se posteriormente o ciclo de fabrico.
A coagulação é, assim, um processo complexo, cujas diferentes fases,
após o início da fase enzimática, ocorrem em simultâneo, conduzindo a uma
sucessão de estados físicos que têm como reflexo tecnológico um conjunto
de tempos característicos (figura 2) utilizados na descrição da acção dos coagulantes, e que deveriam ser considerados no fabrico de queijo, ao contrário
do que é, muitas vezes, usual.
Dadas as considerações sobre as diversas fases de coagulação, o fabrico
de queijo ganhava muito em considerar o tempo de coagulação como o início
da floculação ou da agregação micelar, reconhecida pelo aumento de viscosidade ou pela fase de "prender", individualizando as duas fases iniciais, pois
o modo como são influenciadas pelos parâmetros de coagulação (temperatura,
pH, acidez, etc.) e os seus efeitos a nível das características da coalhada e
do queijo, são diferenciadamente importantes.
24
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Conhecida a sequência de fases que constituem a coagulação, particularmente as duas primeiras, podemos agora referir alguns factores que a influenciam, sendo certo que essa influência e o modo como os factores podem ser
utilizados irá condicionar as características da coalhada, ajudando a definir as
características do queijo. E, evidentemente, um dos factores mais importantes
é o tipo de leite, com o teor caseínico e em cálcio em destaque, para além
das próprias características das caseínas, a serem responsáveis pelo rendimento,
isto é, pela eficácia da transformação, mas também pelas características da
coalhada e do futuro queijo. É a este nível, a nível dos teores e das características específicas das caseínas, que se pode situar a grande diferença entre os
queijos de vaca, de ovelha e de cabra, a nível da influência nas propriedades
do queijo mas também no que se refere ao comportamento do leite durante
a coagulação e às características do gel, que podem condicionar o tipo de
trabalho que a coalhada pode sofrer.
O comportamento do leite das três espécies na coagulação é bastante
diferente (figura 3), o que tem fortes implicações, quer tecnológicas, quer
a nível do produto em fresco ou final. Estes aspectos tornam-se primordiais
nas nossas tecnologias, sobretudo as tradicionais, uma vez que, em geral, se
extrapolam as noções referentes ao leite de vaca, de facto o mais estudado,
para as outras espécies. Essa transposição não é simples nem directa, podendo
justificar alguns factos, na prática diária das queijarias, de certo modo incompreensíveis para os agentes de transformação.
FIGURA 3 – Curvas de evolução da firmeza do gel obtido a partir de leites de vaca,
cabra e de ovelha (6).
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
25
Para além disso, a evolução da lactação imprime diferenças acentuadas a
nível das características do leite, que importará considerar, sobretudo tratandose de lotes de leite que não representam grandes misturas de rebanhos e de
origens. Pelo efeito no comportamento do leite face à coagulação, recentemente
tem vindo, até, a ser considerado o tipo de variantes genéticas das caseínas,
o que dá uma ideia do pormenor que pode ser considerado no que se refere
ao tipo, composição e características do leite, e das novas perspectivas que
se abrem a nível do melhoramento e selecção animal. A própria utilização
de raças diferentes de ovelhas, por exemplo, se reflecte em comportamentos
à coagulação tão diferentes que certamente influenciam as características da
coalhada e do queijo, se o queijeiro não tiver sensibilidade para as detectar.
Um outro factor importante é, evidentemente, o tipo de coagulante. A sua
acção, como se referiu, não se resume à fase enzimática da coagulação, mas
exerce-se até ao final da coagulação e, posteriormente, a nível da maturação
do queijo, por intermédio da fracção residual que permanece no produto. Não
é indiferente o tipo de coagulante que se utiliza, tendo grande relevância a
relação C/P (actividade específica de coagulação/actividade proteolítica não
específica) que o caracteriza.
Há ainda que considerar que algumas enzimas e suas relações com a
qualidade do produto não estão muito estudadas, como é o caso do coagulante
proveniente do cardo Cynara cardunculus e do seu papel e efeito na coagulação
e maturação do queijo, nomeadamente de ovelha, como acontece na maioria dos
queijos portugueses com DOP. Sobretudo nestes casos, mas para a generalidade
dos coagulantes, deverá ter-se em consideração os factores que influenciam a
coagulação, os quais, ao contrário do que normalmente se considera, não têm
a mesma importância ou influência para as diferentes fases.
Na primeira fase, a fase enzimática específica, intervêm, para além dos
factores relacionados com o leite, sobretudo os factores essencialmente ligados
à actividade enzimática, a concentração em enzima, o pH e a temperatura. Já a
segunda fase, de agregação micelar, não é afectada pela quantidade de enzima
mas é extremamente sensível à concentração de cálcio iónico e à temperatura, sendo pouco influenciada pelo pH. Estes aspectos são muito importantes
e explicam, juntamente com o tipo de caseínas e o estado micelar, muito
do comportamento diferenciado dos diferentes tipos de leite na coagulação
e, também, a necessidade de se controlar o tempo de floculação e a fase
de agregação micelar em função das condições de fabrico que a tecnologia
exige, ambas determinantes para as características finais da coalhada e, por
consequência, também do queijo.
26
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Portanto, os problemas mais comuns e específicos da coagulação advém da
falta do controlo dos factores que mais a influenciam, a qual é tão frequente
nas tecnologias tradicionais, em primeiro lugar das alterações das características do leite, do coagulante ou do seu uso, das condições de fabrico, como a
temperatura, os tempos característicos ou as características do gel ao corte.
Na sequência do exposto, o reflexo do pouco cuidado que esta fase muitas
vezes merece do agente transformador pode traduzir-se em inúmeras deficiências
a nível da coalhada, como dificuldades na coagulação e no dessoramento, as
quais, mais tarde se traduzirão em perda de rendimento, modificação do meio
em que decorrem as transformações durante a maturação (queijo em fresco) e
dificuldades na condução da cura, aumentando o risco de acidentes de fabrico,
do aparecimento de deformações e defeitos de textura ou de sabor, como o
amargo, por exemplo, e heterogeneidade do produto final, isto é, em depreciação
mais ou menos acentuada da qualidade do produto ou, pelo menos, grande
dificuldade em obter um produto com as características desejadas.
Como se pode observar, existe alguma sobreposição entre o reflexo das
fases de coagulação mal conduzidas ou pouco controladas e as deficiências
decorrentes dos problemas relacionados com a matéria-prima, o que prova a
interdependência das diferentes fases do ciclo tecnológico, a qual se observará
ainda nas fases subsequentes.
2.3 – O dessoramento
Embora isolada nesta exposição, esta fase de fabrico pode considerar-se
ainda como fazendo parte da coagulação, como, aliás, foi referido, e, portanto,
os factores que condicionam o dessoramento são os mesmos que foram referidos como influenciando a fase de coagulação. Voltamos, assim, a considerar
as características do leite, sobretudo ligadas ao complexo salino-proteico, a
temperatura, o pH, a acidez, etc. No entanto, o dessoramento pressupõe a
aceleração, embora controlada, da expulsão da água (e substâncias dissolvidas,
o soro) de forma a conseguir-se um produto moldável mas que mantenha a
forma que se pretende e que apresente condições mínimas de conservação,
permitindo a evolução controlada e controlável durante a maturação. A sinérese,
espontânea, última fase da coagulação considerada anteriormente, não conseguiria, de forma rápida, cumprir esta função e, portanto, para o dessoramento,
usam-se diversos processos, sobretudo meios mecânicos e agentes físicos, que
facilitam a saída do soro, como o corte, divisão controlada do gel de modo
a aumentar a superfície de expulsão do soro, a temperatura, a agitação da
coalhada e a prensagem.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
27
Como se vê, é um conjunto grande de acções que se multiplicam nos seus
efeitos se considerarmos que cada uma delas pode ser realizada de diversas
maneiras, com diferentes intensidades e durante um maior ou menor tempo.
Aqui, devemos considerar mais um ponto importante, referindo que esta fase é,
também, essencial na definição ou no contributo para a definição das características do queijo e, portanto, perante tantas alternativas, o maior problema está
em escolher a maneira mais adequada de se conseguir obter as características do
queijo em fresco que permitam a obtenção de um determinado produto, o que
as tecnologias tradicionais conseguem resolver muito bem, ainda que com meios
rudimentares. A investigação e a técnica vão conseguindo estudar e conhecer o
efeito das diferentes práticas utilizadas, encontrando modos mais controláveis de
conseguir os mesmos fins e, sobretudo, conseguir definir as características do
queijo em fresco mais adequadas à obtenção do produto final.
Nestas condições, teremos que acrescentar como factor importante a adequada
utilização das práticas que se utilizam no dessoramento e, sobretudo, a utilização
adequada dos equipamentos que permitem a monitorização dos processos, de
forma a não se alterar as características do queijo que vai curar. Justamente, os
problemas mais comuns na queijaria ligada ao leite de pequenos ruminantes são,
quanto a nós, a falta de controlo desta fase do fabrico, as dificuldades derivadas
das características do leite e da coagulação, as dificuldades de reproduzir as
características do queijo em fresco com novos equipamentos e diferentes métodos
de trabalho, muitas vezes decorrentes do aumento dos volumes de laboração.
O reflexo destes problemas são alguns dos já repetidos anteriormente, como
a perda de rendimento, alterações no meio em que decorrem as transformações
durante a maturação e que se podem traduzir em dificuldades na condução da
cura, a multiplicação de acidentes de fabrico, deformações e outros defeitos
exteriores e de textura, e que, de alguma forma são muito evidentes em queijos
de pasta amanteigada, como o queijo de Azeitão, com excessiva acidificação,
pasta quase líquida, centros duros ou pasta não homogénea, acompanhada de
defeitos acentuados de sabor.
2.4 – A maturação
A maturação representa o culminar do ciclo tecnológico de fabrico e, pela
complexidade das transformações que ocorrem, dos seus agentes e da dependência da multiplicidade de factores anteriores, é talvez a fase mais complexa do
fabrico de queijo. Depende da presença dos agentes de transformação correctos
e no equilíbrio desejado entre eles, reflexo das fases anteriores, depende das
características (pH, acidez, aw, etc.) do queijo em fresco, como meio complexo
28
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
onde se reflectem todos os aspectos anteriores, e depende ainda das condições
de ambiente em que decorre, sendo as mais frequentemente consideradas a
temperatura, a humidade relativa, a velocidade de circulação de ar, para além
de outras que, pontualmente, se podem tornar importantes, como a composição
do ar presente nas chamadas câmaras de cura (figura 4). As características relacionadas com o queijo em fresco e com o ambiente em que este é colocado
são todas condicionantes da actividade microbiana e enzimática, que são, de
facto, os agentes das reacções complexas que se processam durante a cura e
que imprimem alterações profundas nos componentes lácteos e nas características sensoriais dos produtos. Como tal, a duração da cura é mais um factor a
considerar, sendo, por um lado, função dos factores ambientais mas, por outro
lado, função do tipo e nível de presença dos agentes presentes e da intensidade
das transformações desejadas.
Caseína mineralizada
Matéria gorda
Fracção de elementos solúveis (lactose, ...)
Água
Queijo em fresco
Agentes de maturação
Do leite crú
Veiculados por:
coagulante
fermentos (bactérias lácticas)
flora de contaminação
flora secundária
Modificações
Enzimas
Composição
Estrutura
Textura
Aspecto
Sabor
Aroma
Etc.
Fermentações
Microrganismos
A actividade dos agentes da cura é regulada por:
Temperatura, humidade relativa, composição da atmosfera
Queijo curado
Caseína mais ou menos degradada
Matéria gorda mais ou menos modificada
Fracção de elementos solúveis (lactose, ...)
Lactose e lactatos, mais ou menos consumidos, e seus metabolitos
FIGURA 4 – Esquema representando o conjunto dos elementos intervenientes
na maturação do queijo (5).
Daqui se pode concluir, mais uma vez, que muito do que se vai passar
depende fortemente de todo o historial do que se passou anteriormente, desde
a obtenção e processamento do leite até ao queijo em fresco. Não é, por isso,
estranho que os problemas mais comuns da maturação derivem da falta de controlo
e de adequação das condições de maturação e das características muitas vezes
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
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deficientes do queijo em fresco, havendo que acrescentar, ainda, a contaminação,
por vezes intensa, das câmaras de cura e o deficiente tratamento do queijo em
cura, sobretudo no caso dos queijos tradicionais, muito exigentes em mão-de-obra
durante a condução da maturação, com cuidados necessários que, por via dos
crescentes volumes de laboração, se tornam quase inviáveis ou incompatíveis
em termos de custos.
As principais consequências dos problemas relacionados com a fase de
cura, são as mesmas que nos casos anteriores, apenas com a diferença que
aquilo que se afirmou que poderia acontecer vai manifestar-se durante esta fase.
Os defeitos do queijo, de facto, manifestam-se durante a maturação e, por isso,
muitas vezes erradamente, são as condições de maturação que pagam a factura,
quando os problemas podem ter origem em fases muito mais precoces do ciclo
de laboração. Os defeitos do aspecto exterior, de textura ou de aroma e sabor
tornam-se evidentes e acentuam-se durante esta importante fase de fabrico.
3 – AS NOVAS CONDICIONANTES:
ESTRUTURA PRODUTIVA E O FACTOR HUMANO
Após resumirmos os aspectos tecnológicos que consideramos de maior
peso nas características do produto, vejamos qual a contribuição da evolução
da situação verificada nos últimos anos.
Desde sempre que a maior limitação deste modo de produção foi a utilização do leite cru, pela dependência muito estreita da qualidade microbiológica
do leite de pequenos ruminantes, tradicionalmente má ou, pelo menos, limitadora
da tipicidade e qualidade do produto final, por razões ligadas a fragilidades
crónicas deste sector produtivo – dispersão da produção, baixo nível técnico
e tecnológico e de formação, às quais não foi estranho o pouco interesse das
autoridades pelo sector. O panorama alterou-se nos últimos 10-15 anos, ao longo
dos quais se atingiram bons níveis de qualidade do leite, ainda que de forma
pontual. Estranhamente, ou talvez não, a introdução de alguma modernização
no sector da transformação não trouxe só alguns benefícios mas multiplicou as
dificuldades relativamente à qualidade do queijo, chegando-se, nalguns casos, a
situações de autêntico descontrolo ou desnorte. Até a já conseguida melhoria
da qualidade do leite registou um retrocesso assinalável.
Genericamente, introduziu-se a refrigeração e a recolha, substitui-se a
madeira e o barro pelo aço inoxidável, mais facilmente higienizável, substitui-se
a lareira por gás e banhos de água, modificações que permitiram criar melhores
condições de produção, não afectando necessariamente as características do
30
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
produto. Mais problemática revelou-se o aumento da capacidade de laboração,
com lotes de leite sucessivamente maiores, que levaram à adopção de práticas
que apenas permitiram o trabalho e dessoramento de maiores quantidades de
coalhada, bem como da sua prensagem, sem se ter em conta os reflexos nas
características do queijo. A adopção de expedientes diversos, ou de práticas
típicas da indústria, não contribuíram, genericamente, para a melhoria da
qualidade do queijo e, em muitas circunstâncias, avolumaram dificuldades ao
nível da cura. Temos a convicção que grande parte dos problemas surgidos das
novas práticas tecnológicas têm origem no facto do produto em fresco resultante
não ter as características necessárias. Na verdade, isso não é impossível de
conseguir mas exige estudo, experimentação e, sobretudo, precaução e bom
senso, na adaptação das diferentes fases de fabrico a novas práticas.
Nesta fase do fabrico, mais do que em todos os outros pontos do ciclo
da produção queijeira tradicional, sentimos que tem faltado um factor, quanto
a nós, decisivo. Trata-se do factor humano, pilar da transformação queijeira
tradicional, representado pela figura do queijeiro, detentor do saber prático,
da experiência e da capacidade de conduzir o fabrico de modo a garantir
um produto adequado à maturação, e conhecedor dos problemas que a não
observância de algumas regras podem trazer à qualidade desse mesmo produto,
ainda que sem noção perfeita das razões subjacentes. A esta falha soma-se
a chegada ao sector de pessoas sem essa experiência, com dificuldade em
entender o cerne das tecnologias tradicionais ou sem formação complementar
adequada de forma a poderem assegurar o êxito da evolução tecnológica.
Apenas agora mencionamos este factor mas é importante referir que a
formação é essencial, numa época exigente, em que tudo corre demasiadamente
depressa, tornando impossível a formação na queijaria, como foi sempre a
prática da aprendizagem da arte de fazer o queijo.
Finalmente, o encadeado de problemas reflecte-se na cura, fase em que
as características do queijo se desenvolvem e apuram. Fruto das condições
tradicionais de fabrico, a maturação é uma fase delicada, em maior ou menor
grau conforme o tipo de queijo, dada a instabilidade do produto em fresco.
Quando este apresenta algumas deficiências, o trabalho em cura complica-se,
ele que já de si é muito exigente em mão-de-obra, entre a necessidade das
viragens diárias, a colocação e renovação de cintas, as lavagens intermédias
e de acabamento do queijo, originando um agravamento da situação quando
se torna necessário tratar de grandes quantidades de queijo.
Evidentemente que o final da cadeia, a comercialização e o consumo, se
ressente de todas as situações que contribuem para a deficiente qualidade do
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
31
produto, embora, muitas vezes, sejam os próprios agentes da distribuição e
comercialização a contribuir para algumas das deficiências que se encontram.
Na realidade é de estranhar que estas situações se mantenham ainda hoje,
após mais de uma década de uma expansão muito apreciável do mercado do
queijo tradicional.
4 – CONCLUSÃO
Previamente a quaisquer conclusões desta exposição, queremos dizer que
a maior parte das afirmações referem-se a conceitos genéricos do fabrico de
queijo que quisemos, de alguma maneira, adaptar ao tema proposto que era
essencialmente referente à actividade queijeira assente no sector do leite de
pequenos ruminantes, e em particular dos queijos tradicionais e perfeitamente
aplicáveis ao caso do queijo de Azeitão.
Em conclusão, pode afirmar-se, repetindo um lugar comum mas que nunca
é de mais relembrar, que a qualidade do leite, nos seus múltiplos aspectos, é
o factor que mais pode influenciar as características e a qualidade do queijo
de leite cru, quer directa, quer indirectamente. Os efeitos da componente
físico-química são igualmente decisivos e podem ser devidos à composição
natural do leite ou à acção dos microrganismos, devendo ser tomadas em
consideração aspectos importantes como, por exemplo, a influência de factores
de produção animal, como a raça e a fase de lactação.
No entanto, a tecnologia de fabrico e a boa condução dos processos
que ela envolve são também decisivos. O domínio das diferentes fases de
fabrico e dos factores que as condicionam são cruciais para a definição das
características do queijo, dada a interligação entre elas. Destaca-se a condução
da coagulação, do dessoramento e da cura.
No que se refere à influência dos diferentes factores tecnológicos, o fabrico de queijo de leite de pequenos ruminantes vive muito dos conhecimentos
referentes à utilização do leite de vaca, o que nem sempre é adequado. Nas
suas diversas vertentes, a problemática do leite de pequenos ruminantes merece
um tratamento semelhante ao que é dado ao leite de vaca.
Em resumo, só resolvendo as limitações tecnológicas e melhorando a
qualidade da matéria-prima será possível que os factores de tipicidade mais
ligados à origem e à tradição se exprimam no produto final, ou seja, que a
qualidade do produto seja, como deve, função da especificidade e tipicidade
que toda a envolvente da produção determina. A formação torna-se, assim,
essencial, para a adaptação às novas realidades da produção, como meio de
32
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
se ultrapassarem as limitações cada vez mais evidentes no sector da queijaria
tradicional, pelo menos em função das opções que têm sido tomadas como
decisivas para a sobrevivência do sector.
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Protegidas de Queijos Portugueses. O Mercado, o Crescimento Sectorial e as Limitações
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
33
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 35–43.
COMPARATIVE TESTING OF BULGARIAN ALFALFA VARIETIES
IN MIXTURES WITH GRASSES*
Emil Vassilev
Institute of Forage Crops – 5800 Pleven – BULGÁRIA
E-mail: [email protected]
ABSTRACT
A field trial was carried out in the North Central of Bulgaria to establish the highest
forage productive of some Bulgarian lucerne (Medicago sativa L.) varieties in pure stand
and in double component mixtures with grasses – cocksfoot (Dactylis glomerata L.) and
tall fescue (Festuca arundinacea L.) in proportion 1:1. Obnova 10, Pleven 1 and Victoria
alfalfa varieties were used.
It was found that the weight participation of alfalfa variety Victoria in the sward
was higher than these of the other two varieties in all stands. It was valid especially for
the second and third cuts. Grass weight participation was significant in the first cut when
the plants formed reproductive stems and lower in the following.
Victoria was the most productively alfalfa variety in all tested stands. The average
annual dry mass yield in the pure stand was 15,673 kg ha-1 and in the mixture with cocksfoot 16,809 kg ha-1, respectively. There were not significant differences between the yields
of the varieties in the mixture with tall fescue.
KEYWORDS: Alfalfa; Cocksfoot; Tall fescue; Mixture.
RESUMO
Com o objectivo de avaliar o comportamento de diferentes cultivares de luzerna
(Medicago sativa L.) quando consociadas com dactilo (Dactylis glomerata L.) e festuca
(Festuca arundinacea L.), comparativamente com luzerna extreme, instalou-se em Pleven,
Bulgária (região Centro-Norte) um ensaio. As cultivares de luzerna ensaiadas foram: Obnova 10, Pleven 1 e Victoria. As misturas foram efectuadas na proporção de 1:1 (luzerna
e gramínea).
O maior valor de produção de matéria seca obteve-se na mistura com dactilo, enquanto que na mistura com festuca se obteve um valor similar à da modalidade só com
luzerna.
* Comunicação apresentada na XXIII Reunião de Primavera da SPPF. S Torcato, Guimarães,
Maio de 2002.
35
A variedade "Victoria" foi a que nos três tipos de tratamento (extreme e em mistura)
obteve maior produção: 16040 kg ha-1 na média dos três tratamentos, excedendo a produção das outras duas variedades em 7,5% no tratamento extreme e em 71% na mistura
com dactilo.
PALAVRAS-CHAVES: Luzerna; Dactilo; Festuca; Mistura.
1 – INTRODUCTION
The alfalfa is the highest yielding of the temperate forage legumes and
is the most widely in warm temperate areas (4). It combines valuable biological and farming characteristics which make it the main protein forage crop
in Bulgaria (13).
Cocksfoot and tall fescue are forage crops with universally utilization
– cutting and grazing (6). They behave well on different climate conditions.
These species are suitable components for legume-grass perennial mixture and
could be used as artificial swards in plane and upland regions (5, 9).
Such an approach using alfalfa and perennial grasses has been successful
in the plane climatic regions of Bulgaria (14). In agronomic terms, compatibility in alfalfa-grass mixtures should result in higher dry matter productivity
(2), due to the more effectively utilized abiotic factors by complementation
of seasonal growth pattern of species and live persistence (6, 11). Depending
on the conditions of cropping they have some advantages compared to pure
stands of alfalfa – a decrease of the number and quantity of pest population
and weed infestation after the year of establishment (3, 12). The last developed
Bulgarian alfalfa varieties have better biological and farming characteristics
than the previous ones they have not been tested in mixture with perennial
grasses.
The aim of this study was to test two approved Bulgarian alfalfa varieties
Obnova 10 and Victoria in mixture with perennial grasses in order to establish
the most suitable of them as well as the high yielding mixture where alfalfa
shows its valuable crop characteristics in a high extent.
2 – MATERIAL AND METHODS
During the period 1994–1997 a field experimental trial was carried out
on a sandy loam typical chernozem soil (8) near Pleven in the Central North
Bulgaria. The alfalfa varieties Obnova 10, Pleven 1 and Victoria were used
at 25 kg ha-1 sowing rate. At this time Obnova 10 was adopted as a control
36
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
for forage productivity by the SVC (State Variety Commission of Bulgaria).
Pleven 1 was the first Bulgarian synthetic variety and occupied a big part
of the alfalfa areas in Bulgaria, and Victoria was the first Bulgarian variety
with a resistance to drought.
The perennial grasses cocksfoot (cv Dabrava) and tall fescue (cv Albena)
were used at sowing rate 25 kg ha-1.
Factorial treatments were two kinds of alfalfa stand (pure and mixture
with perennial grasses) with spring sowing. The trials consisted of 9 treatments.
The first three were pure alfalfa stands of the above mentioned varieties in
the same order. The treatments from 4 to 6 were mixtures of the same alfalfa
varieties with cocksfoot, and the treatments from 7 to 9 with tall fescue. The
ratio between legume and grasses components was 1:1.
Before the main ploughing, 400 kg P ha-1 as NH4H2PO4; 250 kg K ha-1
as KCl and 80 kg N ha-1 as NH4NO3 before sowing were broadcast.. The
fertilization was used as a background according to the available N, P and K
that should stimulate more alfalfa than grass components in the mixtures.
During the first year the stands were irrigated to soil moisture of 75%
of the Maximum Water Holding Capacity (MWHC), and during the next three
years the stands were grown under non irrigated conditions.
The swards were cut at early flowering stage (closely to 10%) of the
alfalfa (10).
Analysis of variance was conducted to determine significant treatment
effects. Comparison of the total dry matter (DM) average for the period of
the study among the different alfalfa varieties and stand types was made using of the software package Tools of Microsoft Excel – ANOVA, Two-Factor
Without Replication and LSD at P=0.05.
Many characteristics were observed but here we regard attention to some
forage structural elements of the stands and dry matter productivity.
3 – RESULT AND DISCUSSION
The emergence and the plant development passed very well which contributed for normal formed stands. The weather during the period of study
characterized with low rainfalls through the vegetation period and was not so
favourable for forage production (figura 1). The drought period at the third year
was stronger. There was insignificant quantity of rains and high temperatures
but at the end the bigger quantity of rains contributed to obtain another cut.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
37
The spring sowing of alfalfa is very popular in Bulgarian forage practice.
The following number of cuts was obtained: 3 cuts during the first, second
and fourth years, and 4 in the third year. Attention has focused on temporal
dynamics of the weights of the swards components rather than spatial dynamics
(1). The development of the young alfalfa plants has different behavior and
evolution than those of the two or three years old crops. It is due to the root
system not formed yet and the plants production potential also.
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FIGURE 1 – Meteorological condition for the period
The grass components could not contributed so significantly to the total
forage production in the mixtures at the first year because of their biological
characteristic not to form generative stems by spring sowing. This was the
reason to express some structure yield components separately – only for the
first year and other – average for the next second, third and fourth years.
The following number of cuts was obtained: 3 cuts during the first, second and fourth years, and 4 in the third year. The data of figure 2 show that
during the first year the number of alfalfa stems and their weight increased
from the first to the third cut for the pure stands and the mixture with tall
fescue but there was a significant decrease in the number of stems in the last
38
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
cut in the mixture with cocksfoot. Regardless of the stem number variation
according to the stand type their weights had similar variation. The values
increased from the first to the second cut and a significant reduction was
recorded in the third cut. The values of this characteristic obtained from the
mixtures were different as compared to those of pure stands.
Noteworthy, that the alfalfa weights of the first two cuts of the pure
stands and in the mixture with cocksfoot were similar, but the values were
lower at the last cut in the mixture. In the tall fescue mixture the weights
of the first two cuts were almost similar, but in the third cut weight values
were close to these of the pure stands.
!" Alfalfa weight
%rass weight
&umber of alfalfa stems
FIGURE 2 – Structure yield elements of the stands during the year of establishment
'
'
'
!" Aal eight
%rass weight
&umber of alfalfa stems
FIGURE 3 – Structure yield elements of the stand average for the last three years
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
39
The alfalfa stem weights of variety Victoria had higher values than others
in almost all cuts of the pure stands and mixture with cocksfoot. This was not
valid for the mixture with tall fescue, where the weights were almost equal
except for the last cut with some advantage for Victoria variety.
The distribution of the average yield components during next three years
was different as compared to those of the first year (figure 3). In all pure
stands the number of alfalfa stems decreased from the first cut to the last in
all tested varieties except for the variety Pleven 1 the highest stem number of
which was recorded in the second cut. The values of this characteristic were
similar between the last two cuts with slight advantage for the fourth cut.
In all mixture stands the alfalfa stem number variation was almost
equal – an increase from the first to the second cut and a decrease to the
last cut. Again an exception was found in the stem distribution in variety
Pleven 1 which is probably specific variety characteristic. An increase of the
stem number was recorded at the fourth cut in the mixture with cocksfoot
as well as very closely number between the third and the fourth cuts in the
tall fescue mixture.
The alfalfa stem weights had higher values in the first cut and with the
advance of the cut number they decreased in all stands. It was found that
the weights of alfalfa variety Victoria were a little higher than these of the
other two varieties in all stands. It was valued especially for the second and
third cuts.
As a whole all cuts obtained from the pure stands had the highest weight
of alfalfa following of those of tall fescue mixture. The alfalfa weights were
the lowest in the mixture with cocksfoot.
The grass weight participation was not so significant for the stands of
the both mixtures but that in cocksfoot mixture was higher. Grass weight distribution according to the cut sequent was in conformity with their biological
specificity. The highest values were obtained in the first cut when the plants
formed reproductive stems, and meteorological conditions were favourable for
their growing. The next two cuts were characterized with slightly weights
due to the regrowth with vegetative stems and leaves and unfavourable meteorological conditions (high temperatures, long periods without rains and low
air humidity). In the last cut especially in the mixture with cocksfoot there
was an increase of the grass matter due to the change of the meteorological
conditions to a little more favourable ones (lower temperature and higher air
humidity).
40
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
In conformity with the data in table 1 there was observed an influence
of the factors variety and type of the stand, as well as an interaction between
them.
TABLE 1 – Results of ANOVA for the impact of the factors variety and stand type
Extends of freedom
Mean Square
F
trial
F
critic
Varieties
2
26 442.2
34.4051
3.3541
Stand
2
45 828.7
59.6298
3.3541
Interaction
4
2 371.3
3.0854
2.7278
Sources of variation
The dry matter productivity depends on the alfalfa variety as well as on
the type of the stand – pure or mixture (table 2). There were no differences
between the yields of the control variety Obnova 10 and Pleven 1 in all
type of stands. The highest yields were recorded for variety Victoria which
exceeding was significant according to the rest of varieties in the pure stand
and the mixture with cocksfoot. In the mixture with tall fescue there were
no significant differences due to the utilized variety.
The variation in the obtained yields of the tested varieties in the pure
stand and in the mixture with cocksfoot was similar, but those in the mixture with tall fescue were different. This result may be due to the specific
relationships between both components, which reflected on the alfalfa variety
productivity.
The values of the obtained yields on average for each variety calculated
from the whole stands corresponded to those from the pure stand and the
mixture with cocksfoot. The average yield for Victoria variety exceeded by
6.9 and 6.4% the control and Pleven 1, respectively.
TABLE 2 – Dry matter yield average for the period (kg ha-1)
Variety
Pure stand
Mixture with cocksfoot Mixture with tall fescue Average for the variety
kg ha-1 Signif.
kg ha-1
Obnova 10 – C
14 546
C
Pleven 1
14 702
ns
Victoria
15 673
+
16 809
LSDP=5%
Average for
the stand type
Signif.
kg ha-1
15 695
C
15 331
C
15 191
C
16 037
ns
15 070
ns
15 270
ns
+
15 639
ns
16 040
773
14 974
C
853
16 181
LSDP=5%
+
Signif.
kg ha-1
457
15 346
Signif.
+
639
ns
849
C – control; ns – non significant différence relatively to C; + – significant différence relatively to C
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
41
The average dry mater yields from the mixtures are higher then this one
obtained from the pure stand but only the difference with cocksfoot mixture is
significantly. This result gives reason to say that the mixture between alfalfa
and cocksfoot is more productively. The components behave and grow well
together and can contribute to obtain higher dry matter from the stand.
4 – CONCLUSIONS
Alfalfa variety Victoria showed the best adaptation in The North Central
Bulgaria and it produced the highest yields in all tested type of stands. The
yield in pure stand exceeded the others varieties by 6.6 and 7.7% for Pleven
1 and Obnova 10, respectively.
The alfalfa mixture with cocksfoot was more productive than the pure
stands under favorable technology due to flexibility of the included species.
This mixture yielded 16181 kg ha-1 dry mass and exceeded by 8.1 % the
pure alfalfa stand.
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
43
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 45–56.
INFLUÊNCIA DA ENSILAGEM NO TEOR DE SAPONINAS
DE LUZERNA (MEDICAGO SATIVA L.)*
M. A. Oliveira, R. Amaro, J. M. Abreu♦
Escola Superior Agrária de Coimbra – Departamento de Ciências Zootécnicas
– Bencanta – 3040-316 COIMBRA
♦Instituto
Superior de Agronomia, Departamento de Produção Animal
– Tapada da Ajuda – 1349-017 LISBOA
RESUMO
A luzerna (Medicago sativa L.) é uma forragem muito utilizada em alimentação
animal, quer em verde, quer após conservação. A luzerna fresca é difícil de ensilar devido
ao seu baixo teor em hidratos de carbono solúveis e elevado poder tampão. Não se recomenda, por isso, a sua ensilagem directa.
Embora as áreas de cultivo desta forragem, em Portugal, sejam relativamente reduzidas, o seu potencial com os novos regadios pode ser acrescido, à semelhança do que se
passa em Espanha e Itália.
Embora apresentando elevada produtividade, bom valor nutritivo e versatilidade de
utilização, esta forragem não está isenta de riscos para a saúde animal. Com efeito, a luzerna apresenta factores antinutricionais que, a partir de certos níveis, podem exercer efeitos
nefastos sobre os animais. As saponinas serão, muito provavelmente, os principais factores
antinutricionais da luzerna e este trabalho é mais uma contribuição para o seu estudo.
Procurou-se avaliar os efeitos do processo de ensilagem no teor de saponinas. Para
tal, a luzerna pré-fenada foi ensilada sem aditivos ou com bactérias lácticas ou ácido
fórmico. As análises químicas indicam que as silagens obtidas se encontravam bem conservadas e que o processo fermentativo resultou numa diminuição do teor de saponinas. A
degradação dos glucósidos de ácido medicagénico e de sapogenol está relacionada com a
actividade de bactérias coliformes e, eventualmente, com a de bactérias lácticas heterofermentativas. Por outro lado, a degradação dos glucósidos de ácido zânico está relacionada
com a actividade dos clostrídios e eventualmente com a hidrólise ácida.
PALAVRAS-CHAVES: Saponinas; Ensilagem; Aditivos; Luzerna.
ABSTRACT
Alfalfa is well known as forage for animal feeding and can be used fresh or after
conservation. Fresh alfalfa is difficult to ensile due to low level of soluble carbohydrates
and high buffer capacity. Thus, it is not recommended for direct ensilage.
Although cultivated alfalfa areas in Portugal are relatively small, the potential of
this forage with the new irrigated fields can be upgraded, as in Spain and Italy.
* Comunicação apresentada na XXIII Reunião de Primavera da SPPF. Guimarães, Maio de
2002.
45
However, despite of being highly productive, with a good nutritive value and a
number of possibilities of use, this forage is not free of risks. Alfalfa has antinutritional
factors, which, above certain levels, can be armful to animals. Saponins are, probably, the
main antinutritional factors in alfalfa and this work is a contribution to its study.
The main objective was to value the effect of ensilage fermentation process on saponin level. For that, pre-wilted alfalfa was ensiled with no additive and with lactic acid
bacteria or formic acid. The chemical analyses indicate that silage was well preserved and
that fermentation process resulted in a decrease of saponin levels. Medicagenic acid and
sapogenol glycosides degradation is related with coliform bacteria activity and, eventually,
with heterofermentative lactic acid bacteria. On the other hand, zahnic acid glycosides
degradation is related with clostridia activity and with acidic conditions that enhanced its
further degradation by hydrolysis.
KEYWORDS: Saponins; Ensilage; Additives; Alfalfa.
1 – INTRODUÇÃO
A luzerna (Medicago sativa L.) é, como se sabe, uma forragem muito
utilizada em alimentação animal, quer em verde, quer após conservação. Para
ruminantes, os processos de conservação mais comuns são a fenação e a
ensilagem, esta última normalmente com pré-secagem e aplicação de aditivos.
A luzerna fresca é difícil de ensilar devido ao seu baixo teor em hidratos de
carbono solúveis em água e ao seu elevado poder tampão. Não se recomenda,
por isso, a sua ensilagem directa.
Embora as áreas de cultivo desta forragem, em Portugal, sejam relativamente
reduzidas, o seu potencial com os novos regadios pode ser acrescido, à semelhança do que se passa em países com condições edafo-climáticas idênticas às
nossas, nomeadamente Espanha e Itália. No entanto, apesar de muito produtiva,
do bom valor nutritivo e da versatilidade de utilização, esta forragem não está
isenta de riscos para a saúde animal. Tal como muitas outras plantas, também a
luzerna apresenta factores antinutricionais que, a partir de certos níveis, podem
exercer efeitos nefastos sobre os animais. As saponinas serão, muito provavelmente, os principais factores antinutricionais da luzerna (10, 18).
As saponinas da luzerna (Medicago sativa L.) são glucósidos triterpenóides
que, quando consumidos pelos animais, apresentam actividades biológicas muito
diversas, tanto favoráveis como desfavoráveis (2, 3, 7, 9, 12, 21, 24). No primeiro
caso, as moléculas envolvidas poderão ser potencialmente aproveitadas, não só por
animais, monogástricos ou ruminantes, como também por humanos. No segundo
caso, porém, haverá que desenvolver estratégias de atenuação ou de defesa dos
seus efeitos.
Com este trabalho pretende-se conhecer os vários tipos de saponinas presentes, bem como, determinar o efeito do processo de conservação por ensilagem
na quantidade e qualidade desses constituintes.
46
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
2 – MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Ensilagem
Tendo em vista o estudo do efeito do processo de ensilagem no teor de
saponinas uma luzerna pré-fenada (Lpf) foi ensilada em três modalidades:
– sem aditivos (S);
– com bactérias lácticas (SL) (Lactobacillus plantarum e Streptococcus
faecium; 2 litros de solução/tonelada);
– e com ácido fórmico (SF) (ácido fórmico a 80%; 4 litros/tonelada).
Para efeitos da ensilagem, a luzerna pré-fenada (Lpf) foi recortada em
troços de 1 a 1,5 cm de comprimento.
Após a adição do respectivo aditivo (no caso das silagens SL e SF)
a forragem foi ensilada, em triplicado, em barricas de plástico de 10 Kg.
Ao fim de 33 dias de fermentação, procedeu-se à abertura dos silos. Foram
depois recolhidas amostras em duplicado de cada deles, obtendo-se, assim, 6
réplicas por tratamento.
2.2 – Análises químicas
De forma a caracterizar o processo de ensilagem foram efectuadas, sobre o
material ensilado, as seguintes determinações: matéria seca (MS) (1), ácido láctico
(Lact), ácido acético (Acet), ácido butírico (But), ácido propiónico (Prop), ácido
isovalérico (Isoval), açúcares solúveis em água (WSC) (5, 23), azoto amoniacal
(NH3-N) (14) e pH (determinado com um potenciómetro de contacto).
2.3 – Identificação e quantificação da fracção saponinas
As amostras de luzerna (Medicago sativa L. variedade Artal) foram
liofilizadas e finamente moídas, num moinho com crivo de 1 mm, antes de
se proceder à extracção das saponinas.
A extracção e purifi cação das saponinas foram efectuadas segundo
Oleszek et al. (19) e Nowacka e Oleszek (17). As saponinas foram derivatizadas de acordoc com Oleszek et al. (19) e Nowacka e Oleszek (17). Para a
determinação do ácido zânico foi utilizado um procedimento modificado por
Nowacka e Oleszek (17) a partir do descrito por Nowacka e Oleszek (16).
As saponinas foram identificadas comparando os seus tempos de retenção
com os dos respectivos padrões. A quantificação baseou-se na padronização
externa empregando curvas de calibração num intervalo de 0,25 a 2 mg/ml
dos compostos de referência (19, 20). Foram efectuadas quatro determinações
paralelas em todas as situações.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
47
2.4 – Análise estatística
Efectuou-se uma análise de variância, para comparação entre grupos, antes
e após a prática da ensilagem, pelos diferentes processos. Para identificação
das variáveis que mais influenciam a taxa de degradação de cada uma das
saponinas, recorreu-se à regressão múltipla. Aqui, a escolha de variáveis para
as equações foi realizada pela sua introdução e eliminação progressiva nos
respectivos modelos.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Qualidade das silagens
Aquando da abertura dos silos, procedeu-se a uma primeira apreciação da
qualidade das silagens. De uma forma geral, apresentaram cheiro agradável e
ligeiramente ácido, mais marcado no caso dos silos com ácido fórmico. Não se
observaram bolores nem efluentes. O material ensilado apresentava cor amarelada
característica e era possível distinguir as diferentes partes das plantas.
No quadro 1 apresentam-se valores que, de algum modo, reflectem a
actividade fermentativa dos processos de ensilagem (S, S L , S F ). Apresentam-se, em conjunto, para cada uma das determinações, os valores médios
afectados de índices (letras) correspondentes às diferenças encontradas,
bem como os valores de p * e os coeficientes de variação das médias.
Refira-se ainda que a percentagem de degradação dos açúcares solúveis
(TxDegWSC) foi obtida por diferença e expressa em percentagem do
material original.
Relativamente à MS, os valores situam-se todos acima de 32%,
em consequência da pré-secagem praticada. Teores de MS desta ordem
certamente terão tido implicações relevantes nos processos fermentativos
subsequentes. Com efeito, segundo vários autores ( 6, 11, 13 ), valores acima
dos 30% de MS inibem fortemente a actividade bacteriana, em particular
a dos clostrídios, em virtude da sua susceptibilidade a pressões osmóticas
elevadas. Os valores observados para os ácidos orgânicos tipicamente
associados às fermentações por clostrídios (But, Prop e Isoval) e para o
NH 3 -N confirmam, de algum modo, essa possibilidade.
Nos teores de But, os valores encontrados variam entre 104 e 116
mg/100g de MS nas três silagens estando, quando comparados com os referidos
* Valores de p para os quais o teste F é significativo
48
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
por Correia (4), dentro dos limites indicados para se obter uma boa silagem
(100-200 mg/100 g de MS); são ainda muito inferiores aos apresentados por
McDonald et al. (11) para uma silagem de luzerna mal conservada. No que
se refere aos ácidos Prop e Isoval poderemos tecer comentário análogo.
QUADRO 1 – Médias dos quadrados mínimos do teor de matéria seca (MS,%), pH, percentagem
de degradação dos açúcares solúveis (TxDegWSC,%), azoto amoniacal (NH3N,% do N total), ácido láctico (Lact,% da MS), ácido acético, ácido butírico,
ácido propiónico e ácido isovalérico (Acet, But, Prop e Isoval, mg/100g de MS)
em amostras de silagens de luzerna pré-fenada, sem aditivo (S) e com bactérias
lácticas (SL) ou com ácido fórmico (SF).
S
SL
SF
n=12
n=12
n=12
MS
36,55 a
35,05 b
pH
4,27 a
4,04 ab
Média
CV (%)
32,60 c
34,96
2,41
p > 0,0001
3,83 b
4,05
8,89
p > 0,02
61,85 a
55,56 a
9,73 b
42,38
87,53
p > 0,003
NH3-N
4,55 a
5,15 a
4,91 a
4,87
27,88
p > 0,6
Lact
8,74
9,81
9,50
0,35
12,52
p > 0,08
Acet
403,42 b
599,96 a
197,26 c
400,22
21,51
p > 0,0001
But
115,91
103,77
109,44
b
109,71
5,61
p > 0,0001
Prop
148,92 a
139,06 b
154,04 a
147,34
6,04
p > 0,0009
Isoval
91,49
86,12
90,26
89,29
6,38
p > 0,07
TxDegWSC
b
a
a
a
c
b
ab
ab
(Letras diferentes assinalam valores significativamente diferentes para p<0,05)
A limitada actividade proteolítica dos clostrídios está reflectida nos reduzidos teores de NH3-N de qualquer dos tratamentos (sem diferenças significativas
entre si) com valores entre 4,55 e 5,15% do N total. Por exemplo, Pardo (14)
refere valores inferiores a 8% do N total como excelentes em silagens de
luzerna e McDonald et al. (11) referem ter encontrado valores da ordem dos
29% do N total em silagens de luzerna mal preservadas. No entanto, o azoto
amoniacal pode também ser devido à hidrólise azotada decorrente da actividade
proteolítica das enzimas das próprias plantas durante a pré-secagem e a fase
aeróbia inicial da ensilagem (22), enquanto o pH é favorável, ou seja, até pH
4,3, como nos é indicado por Correia (4).
O mais baixo teor de ácido acético nas silagens com adição de ácido
fórmico é, provavelmente, consequência da redução inicial do pH da forragem
que terá inibido, em grande parte, a actividade de bactérias coliformes (6, 13)
comparativamente ao que terá sucedido nas outras duas ensilagens (S e SL).
De referir ainda que, os valores de Acet, todos inferior a 2%, são indicadores
de silagens bem conservadas (14).
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
49
A utilização de bactérias lácticas predominantemente homofermentativas
(Lactobacillus plantarum e Streptococcus faecium) contribuiu para a observação
de teores mais elevados de ácido láctico nas silagens (13). Terá sido, muito
provavelmente, a formação de Lact a contribuir para um abaixamento do
pH equivalente ao encontrado com as silagens com ácido fórmico. De facto,
sabe-se que, ao contrário das bactérias do inoculante (homofermentativas), as
bactérias indígenas são, normalmente, constituídas por espécies homo e heterofermentativas. Estas últimas, além de produzirem ácido láctico, produzem
também ácido acético, mais fraco que o láctico (13), o que pode explicar os
valores de pH mais elevados encontrados nas silagens S.
3.2 – Teores das saponinas identificadas no material vegetal
Pelos tempos de retenção e por comparação com compostos padrão foram
identificados 3 glucósidos de saponinas nas amostras analisadas (quadro 2):
– ácido medicagénico (AcMed);
– sapogenol B do tipo soja (saponina I do tipo Soja) (Sapoge);
– ácido zânico (AcZan).
Não foi identificado, em nenhuma das amostras, qualquer tipo de glucósidos de hederagenina.
QUADRO 2 – Médias dos quadrados mínimos dos glucósidos de ácido medicagéncio (AcMed),
de sapogenol I do tipo soja (Sapoge) e de ácido zânico (AcZan) identificados em
amostras de luzerna pré-fenada (Lpf) e de silagem de luzerna pré-fenada, sem
aditivos (S) e com bactérias lácticas (SL) ou com ácido fórmico (SF).
Lpf
S
SL
SF
n=12
n=12
n=12
n=12
AcMed (% da MS)
0,29 a
0,13 c
0,12 c
0,16 b
0,15
7,25
p > 0,0001
Sapoge (% da MS)
0,17
0,02
0,01
0,06
b
0,04
58,56
p > 0,0001
AcZan (% da MS)
0,16 a
0,02 c
0,05
35,63
p > 0,0001
a
c
0,04 b
c
0,06 b
Média CV (%)
(Letras diferentes assinalam valores significativamente diferentes para p<0,05)
Em termos globais, verificou-se que os processos fermentativos levaram a uma
redução significativa das saponinas identificadas na luzerna pré-fenada (Lpf).
Verificou-se ainda que os diferentes processos de ensilagem não influenciaram da mesma forma cada uma das saponinas. Assim, a silagem SF
conduziu a teores significativamente mais elevados de AcMed e Sapoge e,
de forma oposta, a teores significativamente mais baixos de AcZan, do que
as silagens S e SL.
50
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
3.3 – Degradação das saponinas nas silagens
Esta variável pode ser apreciada pelas percentagens de degradação
(TxDeg) médias de cada uma delas, relativamente à sua concentração na
forragem inicial (Lpf).
A observação dos valores referidos no quadro 3 confirma a já referida
resposta diferenciada das saponinas individuais aos distintos processos de
ensilagem.
QUADRO 3 – Médias dos quadrados mínimos das percentagens de degradação dos glucósidos de
ácido medicagéncio (TxDegAcMed), de sapogenol I do tipo soja (TxDegSapoge)
e de ácido zânico (TxDegAcZan), em silagem de luzerna pré-fenada, sem aditivo
(S) e com bactérias lácticas (SL) ou com ácido fórmico (SF).
S
SL
SF
n=12
n=12
n=12
TxDegAcMed (% da MS)
55,37 a
57,57 a
44,23 b
52,39
6,54
p > 0,0001
TxDegSapoge (% da MS)
90,88
94,04
62,84
b
82,58
17,26
p > 0,0001
TxDegAcZan (% da MS)
72,77 b
84,63 a
74,10
15,37
p > 0,0007
a
a
64,89 b
Média
CV (%)
(Letras diferentes assinalam valores significativamente diferentes para p<0,05)
A utilização de bactérias lácticas não ampliou a percentagem de degradação das saponinas, relativamente aos valores observados com a silagem de
referência (sem aditivo). Pelo contrário, a adição de ácido fórmico implicou
reduções significativas nas TxDegAcMed e TxDegSapoge, quer em relação à
silagem S, quer em relação à silagem SL.
Pode-se dizer que, de facto, o AcMed foi a saponina que apresentou a
maior resistência à degradação em qualquer dos tratamentos (% de degradação
entre 44,2 e 57,6), como se pode observar no quadro 3.
Os resultados obtidos (quadro 3) mostram que qualquer um dos três
tratamentos reduziu, de forma significativa, o nível de saponinas identificadas
no material original (quadros 2 e 3).
Embora com algumas divergências, é possível encontrar alguns pontos em comum entre os nossos resultados e os obtidos por Kalac et al.
( 8 ). Apenas o glucósido de AcMed identificado nas nossas amostras se
comportou de forma bastante distinta à observada pelos referidos autores.
Uma explicação possível pode estar relacionada com o "efeito variedade".
Relativamente ao glucósido Sapoge quando utilizamos como referência o
trabalho de Kalac et al. ( 8 ) o "efeito variedade" parece ser, uma vez mais,
a razão justificativa.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
51
Em relação ao glucósido de AcZan, como os resultados demonstram, a
situação é algo inversa, uma vez que a adição de ácido fórmico conduziu a
uma maior TxDeg desta saponina, comparativamente ao observado nas outras
duas silagens. Em relação a este glucósido não é possível comparar os nossos
resultados com os de outros autores por falta de informação disponível. No
entanto, é provável que a TxDegAcZan seja influenciada, não só pelo processo de ensilagem, como também pelo "efeito variedade", à semelhança dos
glucósidos de AcMed e de Sapoge.
Em relação ao "efeito variedade" na TxDeg dos glucósidos de saponinas pensa-se que ele resulte de diferenças na orientação tridimensional das
moléculas. Estes compostos apresentam uma estrutura muito complexa e os
microrganismos apenas conseguem degradar as cadeias de açúcares que as
compõem; alterações na orientação tridimensional dos glucósidos de saponinas
poderão dificultar ainda mais essa tarefa.
3.4 – Identificação das variáveis que melhor explicam a degradação
das saponinas nas silagens
As técnicas de regressão múltipla permitiram-nos identificar quais as
variáveis associadas ao processo fermentativo da luzerna pré-fenada que
melhor explicam a variação das percentagens de degradação de cada um dos
glucósidos identificados neste trabalho (AcMed, Sapoge e AcZan) (quadro 4,
5 e 6, respectivamente).
QUADRO 4 – Identificação das variáveis relacionadas com o processo fermentativo da
ensilagem (TxDegWSC, em%; Acet, em mg por 100 g de MS) que melhor
explicam a variação da percentagem de degradação do ácido medicagénico
(TxDegAcMed).
Equação
R2
QME
TxDegAcMed = 40,204 + 0,031 Acet
0,70
14,31
TxDegAcMed = 39,572 + 0,025 Acet + 0,067 TxDegWSC
0,86
6,98
Parece evidente que as bactérias lácticas homofermentativas não estarão
envolvidas na degradação de qualquer um dos glucósidos, pelo menos de
uma forma significativa, uma vez que a sua adição à forragem a ensilar não
contribuiu para um aumento das TxDeg comparativamente à ensilagem S
nem o teor de Lact surge como variável explicativa da variação da TxDeg
de qualquer um dos glucósidos de saponinas.
Relativamente ao glucósido de AcMed, as variáveis seleccionadas parecem indicar que a variação da TxDeg deste glucósido estará principalmente
52
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
relacionada com a fermentação por coliformes ou, eventualmente, também por
bactérias lácticas heterofermentativas. Esta relação é coerente com as diferenças
encontradas entre tratamentos. De facto, quando se ensilou com ácido fórmico
reduziu-se a TxDegAcMed, o que está de acordo com a já referida inibição
da actividade microbiana e, em concreto, com a inibição dos coliformes.
O mesmo se poderá dizer em relação à degradação do Sapoge (quadro 5).
Há, no entanto, que referir a, aqui não mostrada, correlação positiva (p<0,05)
com o NH3-N. O NH3-N poderá ter várias origens, ou seja, pode resultar,
quer da actividade de microrganismos, como os clostrídios e os coliformes,
quer da actividade proteolítica das enzimas das plantas (13). Durante a fase
inicial da ensilagem ocorrem alterações químicas que resultam da actividade
das enzimas presentes nos tecidos vegetais e dos processos de respiração (11)
e que podem levar à quebra de ligações nas cadeias de açúcares das moléculas
de saponinas, como indica Kalac et al. (8). O recorte da forragem a ensilar
terá também, segundo Muck e Bolsen (13), contribuído para a libertação das
referidas enzimas vegetais. Seria de esperar, no entanto, que a degradação das
saponinas gerasse sapogeninas. Surpreendentemente, elas não foram detectadas.
O mesmo observaram Kalac et al. (8).
QUADRO 5 – Identificação das variáveis relacionadas com o processo fermentativo da
ensilagem (TxDegWSC, em%; Acet, em mg por 100 g de MS) que melhor
explicam a variação da percentagem de degradação da saponina I do tipo soja
(TxDegSapoge).
Equação
R2
QME
TxDegSapoge = 65,906 + 0,394 TxDegWSC
0,73
110,13
TxDegSapoge = 54,962 + 0,343 TxDegWSC + 0,033 Acet
0,81
79,03
A referida actividade enzimática cessa praticamente a partir de pH
inferior a 4,2 (13), condição que foi melhor atingida com a adição de ácido
fórmico, e que pode explicar, em parte, a menor degradação das saponinas
com este tratamento. Este último aspecto foi também sugerido no trabalho
de Kalac et al. (8).
De realçar, no entanto, que seja qual for o mecanismo envolvido, a sua
capacidade para degradar o Sapoge foi bastante elevada, o mesmo já não se
passando com o glucósido anterior, o AcMed, que apresenta alguma resistência
à degradação durante a ensilagem.
Finalmente, a variação da TxDegAcZan parece estar, de algum modo, relacionada com a produção de Prop (quadro 6). Isto poderá ser consequência das
fermentações por clostrídios. No entanto, não é muito provável que nas silagens
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
53
com ácido fórmico os clostrídios apresentem um grande desenvolvimento, ainda
mais porque os teores de MS são elevados (13). Contudo, esta relação com
o Prop não deixa de ser interessante. Sabe-se que os clostrídios são capazes
de degradar compostos como as purinas e pirimidinas (ambos compostos com
estruturas cíclicas) (4) o que pode levar a sugerir que, provavelmente, estes
microrganismos também terão capacidade de degradar glucósidos como o AcZan.
Estes aspectos necessitam de análise futura mais aprofundada.
QUADRO 6 – Identificação das variáveis relacionadas com o processo fermentativo da
ensilagem (TxDegWSC, em%; Prop, em mg por 100 g de MS;NH3-N, em%
do N total) que melhor explicam a variação da percentagem de degradação do
ácido zânico (TxDegAcZan).
Equação
R2
QME
TxDegAcZan = –52,636 + 0,860 Prop
0,45
108,33
TxDegAcZan = –35,962 + 0,792 Prop – 0,155 TxDegWSC
0,68
65,17
TxDegAcZan = –37,978 + 0,725 Prop – 0,225 TxDegWSC + 3,032 NH3 – N
0,86
6,98
Outro aspecto que poderá ter contribuído para a degradação do AcZan
poderá ter sido a adição de ácido fórmico, ao provocar a hidrólise destes
compostos (20). A anteriormente referida relação com o Prop poderá também
estar relacionada com o seu efeito hidrolítico.
5 – CONCLUSÕES
Nas modalidades ensaiadas, a ensilagem reduziu, de forma significativa,
as saponinas identificadas no material original, embora os diferentes glucósidos
apresentem, perante o mesmo processo de ensilagem, percentagens de degradação
distintas. Assim, a utilização de ácido fórmico reduziu a degradação dos glucósido
de ácido medicagénico e de sapogenol B do tipo soja e aumentou a do glucósido
de ácido zânico. Porém, a utilização de bactérias lácticas não contribuiu para
um aumento significativo da degradação dos glucósidos de saponinas.
A TxDegAcMed e TxDegSapoge devem estar relacionadas com a fermentação por bactérias coliformes e, eventualmente, também, por bactérias
lácticas heterofermentativas; no caso do Sapoge é provável que a actividade
proteolítica das enzimas das plantas, no início da ensilagem, tenha também
tido um papel importante na sua degradação. A TxDegAcZan deve, por seu
lado, estar relacionada com a fermentação por clostrídios. Quer ácido fórmico
adicionado, quer o Prop resultante podem também ter contribuído para um
aumento da TxDeg deste glucósido por hidrólise ácida.
54
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
A ensilagem teve um efeito redutor do teor de saponinas da luzerna
(Medicago sativa L.), logo, benéfico do ponto de vista do processo de conservação contribuir para uma redução dos efeitos negativos daquelas substâncias
sobre os animais.
Os trabalhos com extractos brutos de saponinas são insuficientes. São,
por isso, necessários mais trabalhos nesta área, com glucósidos de saponinas
individuais, com diferentes variedades de luzerna e diferentes condições de
ensilagem de forma a melhor esclarecer o efeito de processos fermentativos
na degradação deste tipo de substâncias.
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the Science of Food and Agriculture", vol. 12, 1961, p. 152-160.
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
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production of lactating dairy cows. "Journal of Dairy Science", vol. 69, 1986,
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56
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 57–68.
AS LAMAS RESIDUAIS URBANAS
COMO MELHORADORAS DA PRODUÇÃO DE MISTURAS
PRATENSES SEMEADAS EM SOLOS MARGINAIS DO ALENTEJO*
M. G. Serrão, M. L. Fernandes♦, J. C. Martins, F. P. Pires, H. Domingues, C.
Horta♣, A. M. Campos♣, A. Dordio♠
Dep. de Ciência do Solo,
♦Dep.
Estatística Experimental, Economia e Sociologia Agrárias – Estação Agronómica
Nacional – Quinta do Marquês – Av. da República – 2784-505 OEIRAS
♣DRAAL
– Quinta da Malagueira – Apartado 83 – 7001 ÉVORA
♠Consultor
científico
RESUMO
Examinaram-se as produções de matéria seca de uma mistura de espécies pratenses
semeada, para cortes sucessivos, o escoamento de água superficial, a perda de solo e alguns indicadores da fertilidade química do solo, em dois anos consecutivos de um ensaio
de aplicação de lama residual urbana (LRU) a um solo de Mértola.
As modalidades do ensaio foram três níveis (L0 = 0, L1 = 12 e L2 = 24 t/ha) da
LRU de tratamento secundário da ETAR de Évora. A mistura semeada incluiu azevém
anual, panasco, cinco espécies de trevo, biserrula e serradela. A produção de cada ciclo
cultural (2001/2002 e 2002/2003) foi avaliada em duas épocas. O escoamento superficial
e respectiva quantidade de sedimentos foram medidos no período outono-invernal, após
a ocorrência de precipitação.
A produção total de biomassa aumentou significativamente com a aplicação de
LRU, em ambos os ciclos culturais (P 0,05). Para o nível L1, os acréscimos foram semelhantes, (≈ 1300 kg/ha), enquanto, com L2, os aumentos de produção foram de cerca
de 3150 e 1750 kg/ha, respectivamente em 2002 e 2003. A melhoria de produção pode
atribuir-se, ao menos em parte, ao aumento do teor de fósforo "assimilável" na camada
superficial do solo. Os maiores valores do coeficiente de escoamento (9%) e perda de solo
acumulada (493 kg/ha) ocorreram em L0. A aplicação de LRU revelou-se promissora na
preservação da qualidade do solo e no aumento de produção de biomassa vegetal.
PALAVRAS-CHAVES: Erosão do solo; Lama residual urbana; Pastagem; Produção.
ABSTRACT
We evaluated dry matter yields of a sown pasture mixture, surface runoff, soil
loss, and some soil chemical fertility indicators, in two successive years of a field ex* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
Trabalho financiado pelo Projecto n.º 141/01 do PIDDAC (2001/2003)
57
periment established in a soil of the Mértola region, to which urban sewage sludge (SS)
was applied.
The experiment had three application rates (L0 = 0, L1 = 12, and L2 = 24 t/ha) of the
biologically treated SS from Évora as treatments. The sown mixture consisted of italian
ryegrass, cocksfoot, five clover species, biserrula, and bird’s foot. In each cropping cycle
(2001/2002 and 2002/2003), dry matter yield was evaluated in two sampling dates. Water
run-off and the respective soil loss were measured in the autumn-winter period, after
precipitation occurrence.
For both cropping cycles, the SS application significantly increased total dry matter
yield (P 0.05). At the L1 rate, the increases were similar, of approximately 1300 kg/ha,
whereas at the L2 rate the increases were close to 3150 and 1750 kg/ha, respectively in
2002 and 2003. The improvement in biomass production may be imputed, at least in part,
to the increase of topsoil available phosphorus. The highest runoff coefficient (9%) and
total soil loss (493 kg/ha) values occurred in L0. The SS application revealed to be promising in preserving soil quality and in increasing biomass production.
KEYWORDS: Soil erosion; Pasture; Production; Sewage sludge .
1 – INTRODUÇÃO
No Alentejo interior, existem vastas zonas com clima sub-húmido a semiárido, com baixa pluviosidade média anual face à evapotranspiração potencial,
em que os solos apresentam reduzida fertilidade e, com frequência, riscos de
erosão médios a altos, devido às suas características intrínsecas, à morfologia
do terreno, à ocorrência de pluviosidade num escasso número de meses e, por
vezes, concentrada em dias consecutivos, e às técnicas de mobilização utilizadas.
As pastagens naturais existentes nestes solos apresentam, geralmente, fraca produção e uma composição florística desequilibrada, pelo que o efectivo pecuário
que permitem alimentar, por unidade de superfície (ovinos e caprinos), é muito
baixo. A aplicação de lamas residuais urbanas (LRU) aos solos destinados a
pastagens de longa duração, tão comum em alguns países europeus (17) e, ainda,
não utilizada no País, contribui, com frequência, para melhorar a fertilidade
destes, através da matéria orgânica (MO) e nutrientes que as LRU veiculam e
para diminuir o risco de erosão, pelo aumento da cobertura vegetal. É, assim,
natural, prever que esta técnica possa vir a ser utilizada nos solos da região
sudeste alentejana, com baixa fertilidade e destinados para pastagens.
Por outro lado, a contínua e volumosa produção de águas residuais
urbanas no Alentejo para a qual o INE (7) indica, em 2001, um caudal com
tratamento secundário de 12330 × 103 m3 (para uma população servida de
cerca de 70% da população total alentejana residente), torna imperioso gerir
tão avultados quantitativos de lamas de ETAR, procurando dar um destino
útil a este tipo de resíduo. Grande parte das ETAR têm, ainda, dificuldades
58
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
na eliminação destes resíduos, dado o desconhecimento de elevado número de
agricultores sobre os benefícios da sua utilização, em confronto com o dos
fertilizantes minerais, nomeadamente o baixo custo.
Vários têm sido os estudos que desde a década de 80 se têm efectuado
no País, para examinar experimentalmente os efeitos da aplicação das LRU
aos solos na produção de espécies forrageiras e/ou pratenses, assim como em
parâmetros indicadores de fertilidade e/ou poluição do solo por metais pesados
e compostos orgânicos (2, 3, 5, 11, 12, 13, 14,15, 16). Também Domingues et
al. (6) sintetizaram a experimentação realizada entre 1998 e 2000 no Dep.
de Ciência do Solo da Estação Agronómica Nacional e, mais recentemente,
Dias (4) elaborou uma monografia sobre o a utilização das lamas de ETAR
e de ETA em agricultura.
Neste trabalho, apreciaram-se, em detalhe, as produções de matéria seca
da biomassa obtida em dois ciclos culturais consecutivos de uma mistura de
espécies pratenses semeada, para cortes sucessivos, num ensaio de níveis de
aplicação da LRU de tratamento secundário da ETAR de Évora a um solo
da região de Mértola. Examinaram-se, também, para o mesmo período, o
escoamento de água superficial provocado pela precipitação e o poder erosivo
desta, ou seja, a perda de solo por erosão. Agregaram-se, ainda, os principais
resultados da evolução de alguns indicadores de fertilidade da camada superficial do solo, que integraram um trabalho anterior (16).
2 – MATERIAL E MÉTODOS
Na zona onde o ensaio foi instalado, com um declive aproximado de
15%, o solo classifica-se como Luvissolo Háplico (Lvha), de acordo com a
classificação do ISSS-ISRIC-FAO (8). Apresenta uma textura franco-arenosa
na camada superficial, com elevada pedregosidade.
O ensaio, instalado no Outono de 2001, teve um delineamento experimental de blocos casualizados, com três modalidades de fertilização e duas
repetições. As modalidades de fertilização foram três níveis (L0 = 0, L1 = 12
e L2 = 24 t/ha) da LRU da ETAR de Évora. As dimensões de cada talhão
foram 12 m × 4 m (48 m2).
O resíduo foi incorporado na camada superficial do solo (até cerca de
20 cm), uma única vez, à data de instalação do ensaio. Os detalhes da preparação do resíduo, antes da aplicação ao solo, a composição botânica e a
densidade de sementeira da mistura de espécies foram indicados em Serrão
et al. (14). A mistura integrou azevém anual (Lollium multiflorum), panasco
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
59
(Dactylis glomerata), cinco espécies de trevo (Trifolium subterraneum, Trifolium michelianum, Trifolium resupinatum, Trifolium vesiculosum e Trifolium
incarnatum), biserrula (Biserrula pelecinus) e serradela (Ornithopus sativa).
As sementes utilizadas foram previamente inoculadas com Rhizobium spp. e
peletizadas.
Em cada ciclo cultural, a produção de matéria seca corrigida foi
avaliada em duas épocas (Fevereiro e Junho de 2002 e Março e Maio
de 2003). Cada talhão foi dividido em quatro subtalhões, efectuando-se 4
amostragens de material vegetal por subtalhão (área de 0,125 m2/amostra), a que se seguiu um corte mecânico da vegetação remanescente.
As amostras de material vegetal, após pesagem, foram secas em estufa de
ventilação forçada a 65 ºC, durante 24 horas e moídas (<0,5 mm), efectuando-se
a determinação da humidade, no material moído, a 100-105 ºC. Os valores das
produções de matéria seca corrigida, referentes a cada data de amostragem e
à totalidade da biomassa obtida nos ciclos culturais, foram sujeitos a análise
de variância e ao teste da "diferença mínima significativa", para comparação
de médias (P 0,05).
Para o estudo da evolução de alguns indicadores da fertilidade do solo,
colheram-se, em cada talhão, oito subamostras de terra, a duas profundidades
(0-10 e 10-20 cm), antes da aplicação do resíduo e após o 1.º e 2.º ciclos
culturais da consociação pratense (Outubro de 2002 e 2003). As amostras
(<2 mm) foram analisadas quanto aos teores de MO total, azoto (N) total,
fósforo (P) e potássio (K) extraíveis pelo método de Egnér-Riehm e cálcio
(Ca), magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na) de troca, que foram comparados estatisticamente (16).
Os métodos utilizados nas determinações analíticas necessárias à caracterização físico-química do solo, em cada época de amostragem, e numa amostra
compósita de LRU, colhida para o cálculo dos níveis a usar no ensaio e para
caracterização físico-química, que incluiu as concentrações dos metais pesados
cádmio (Cd), crómio (Cr), cobre (Cu), níquel (Ni), chumbo (Pb) e zinco (Zn)
extraíveis por água-régia e de 11 compostos bifenilospoliclorados (PCBs),
13 pesticidas organoclorados e 16 hidrocarbonetos aromáticos polinucleares
(PAHs), estão indicados em Serrão et al. (14).
Antes da instalação do ensaio, a camada superfi cial do solo tinha
reacção (pH em água 5,8) pouco ácida (5,5 < pH < 6,6) e apresentava teores baixos de MO (<20 g kg-1) e de P Egnér-Riehm (<11 mg kg-1), face
às necessidades nutricionais de várias culturas como os cereais de Inverno e as pastagens. O teor de Mg de troca (1,8 cmol(c).kg-1) era "Alto"
60
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
(> 1 cmol(c).kg-1) para várias culturas, de acordo com Bolton (1). O teor de Cu
extraível por água régia (11 mg kg-1) era muito inferior ao valor – limite (100
mg kg-1) admitido nos solos agrícolas com pH (H2O) entre 5,5 e 7,0, pela legislação portuguesa que regula a aplicação das LRU aos solos agrícolas (10).
O resíduo tinha uma humidade baixa (14%), um pH próximo de 6,0 e um
teor de MO 196 g kg-1. Entre os seis metais pesados analisados, apenas o Cu
ocorreu com um teor (2042 mg kg-1) superior ao valor limite (1000 mg kg-1)
estabelecido na mesma Portaria. As concentrações totais dos PCBs (5175 μg kg-1),
pesticidas organoclorados (≈ 3744 μg kg-1) e PAHs (≈ 130 μg kg-1) na LRU, estavam incluídas nos intervalos de concentrações que podem ocorrer nestes resíduos,
respectivamente de 1000-20000 μg kg-1, "poucos mg kg-1" e 1-10 mg kg-1 (17).
No decurso dos dois anos hidrológicos (2001/2002 e 2002/2003) a que
se referem os ciclos culturais da mistura pratense semeada, pesquisaram-se,
através da Internet, os valores das precipitações mensais que ocorreram no local
do ensaio (quadro 1), disponibilizados pelo Serviço Nacional de Informação
de Recursos Hídricos do Instituto Nacional da Água, em relação à Estação
Meteorológica do Álamo.
De Outubro de 2001 a Maio de 2003, procedeu-se à avaliação do escoamento superficial e da perda de solo por erosão, que foram quantificados
através de pequenos talhões de erosão de 4 m×1 m, com a maior dimensão
no sentido do declive e sobrepostos nos 6 talhões do ensaio. Efectuaram-se 11
medições logo após a ocorrência de precipitação em vários dias consecutivos. A
precipitação acumulada (Pa) que ocorreu em cada período de dias consecutivos
foi medida a partir das leituras efectuadas num udómetro.
QUADRO 1 – Precipitação média mensal (mm)
Ano
Mês
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
2001
2002
2003
61,9
68,4
18,6
64,0
55,0
9,8
76,8
60,7
6,7
0,9
0,0
0,0
90,2
107,0
70,0
84,5
35,3
44,3
28,1
97,5
8,0
0,0
0,8
0,0
-
Precipitação total – 2001/2002: 423 mm; 2002/2003: 566 mm.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
61
As observações/medições de escoamento superficial e de sedimentos foram
realizadas nas seguintes datas:
– 11/01/2002, para Pa=105 mm e o período de 28/11/2001 a 11/01/2002;
– 20/03/2002, para Pa=95 mm e o período de 25/01/2002 a 20/03/2002;
– 17/04/2002, para Pa=72,5 mm e o período de 21/03/2002 a 17/04/2002;
– 3/10/2002, para Pa=140,2 mm e o período de 9/09/2002 a 3/10/2002;
– 17/10/2002, para Pa=51,5 mm e o período de 3 a 17 de Outubro
de 2002;
– 28/11/2002, para Pa=71 mm e o período de 12 a 28 de Novembro
de 2002;
– 30/12/2002, para Pa=95 mm e o período de 29/11/2002 a 30/12/2002;
– 28/01/2003, para Pa=17,2 mm e o período de 17 a 28 de Janeiro
de 2003;
– 28/02/2003, para Pa=47,9 mm e o período de 11 a 28 de Fevereiro
de 2003;
– 21/04/2003, para Pa=73,9 mm e o período de 29/02/03 a 21 de Abril
de 2003;
– 6/05/2003, para Pa=57,7 mm e o período de 22/04/03 a 6 de Maio
de 2003.
Em cada observação, efectuou-se a medição do volume de água escoado,
isto é, que excedeu a infiltrabilidade do solo, e a quantificação de sedimentos
contidos naquele volume, em cada talhão de erosão.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas quatro amostragens da biomassa vegetal, a produção de matéria seca
aumentou significativamente com a aplicação do resíduo (quadro 2), sendo o
acréscimo mais relevante (2400 kg/ha) registado na 1.ª época de 2002, com
o maior nível de LRU.
Na 1.ª época de amostragem dos dois ciclos culturais, o efeito da aplicação
do resíduo foi crescente com o aumento do nível utilizado, com acréscimos de
cerca de 800 kg com L1, em ambos os ciclos culturais, e de 2400 kg e 1450
kg com L2, respectivamente nos 1.º e 2.º ciclos. Já na 2.ª época de avaliação
da biomassa produzida, somente o nível L1 da LRU conduziu a acréscimos
significativos em ambos os ciclos culturais, não se registando, em 2002/2003,
62
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
diferença significativa entre as produções obtidas com as doses L0 e L2.
A maior precipitação que ocorreu no período de Outono/Inverno no 2º ciclo
cultural (2002/2003), face à do 1º ciclo (quadro 1), pode explicar, ao menos
em parte, o menor aumento da produção obtido com L0 e L1 na 1.ª época de
amostragem de 2002 (Fevereiro), em relação à 1.ª época em 2003 (Março).
QUADRO 2 – Produções médias de biomassa (kg/ha) em cada ciclo cultural
Ciclo cultural
Época de amostragem
2001/2002
2002/2003
Nível de LRU (t/ha)
0
12
24
1.ª
800d
1586c
3202a
2.ª
1913c
2486b
2684b
1.ª
1607c
2387b
3047a
2.ª
1182d
1662c
1487cd
Em cada ciclo cultural, valores na mesma linha ou coluna, seguidos de igual letra, não são significativamente
diferentes a P 0,05.
Também a produção total de matéria seca (figura 1) cresceu significativamente com a aplicação dos níveis L1 e L2 de LRU, sendo o maior valor
(≈ 5900 kg/ha) alcançado em 2002, com a dose L2 do resíduo. Para o nível
L1, os acréscimos foram semelhantes (≈ 1300 kg/ha), nos dois ciclos culturais,
enquanto, com L2, os aumentos de produção foram de cerca de 3150 kg/ha e
1750 kg/ha, respectivamente em 2002 e 2003. Neste ano, as produções obtidas
com L1 e L2 não diferiram. A precipitação total acumulada do 1º ciclo cultural
(423 mm) foi inferior em cerca de 140 mm à registada no 2º ciclo (566 mm)
(quadro 1), o que parece não ter influenciado a produção total de biomassa.
2002
2003
M. S. (kg/ha)
8000
6000
4000
2000
0
0
12
24
Dose de LRU (t/ha)
FIGURA 1 – Produção total de matéria seca em dois anos de ensaio.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
63
Estes resultados confirmam o incremento significativo de produção de
biomassa verificado em três anos culturais num ensaio de modalidades de fertilização que incluiu a LRU da ETAR de Évora, também com consociação pratense
semeada, instalado numa área adjacente à ocupada pelo presente ensaio (11).
Da análise estatística dos valores dos oito indicadores da fertilidade do
solo referidos, verificou-se que apenas para os teores de P Egnér-Riehm e de
Mg de troca ocorreram acréscimos significativos entre a data de aplicação do
resíduo e as datas de amostragem do solo posteriores, considerando uma camada
média de 20 cm (16). Antes da aplicação da LRU, esta camada do solo era
claramente deficitária em P "assimilável". Pelo contrário, quanto ao teor de
Mg de troca, era bem provida para a nutrição vegetal. Assim, o incremento
de produção induzido pelo resíduo foi atribuído ao acréscimo de P veiculado
ao solo pela LRU (68 e 136 kg/ha de P, respectivamente com L1 e L2).
A comparação dos custos de aplicação da LRU com a de um adubo,
para o mesmo nível de P adicionado ao solo, torna-se difícil, dada a variedade
apreciável de adubos com P que são comercializados no País. Todavia, pode
referir-se que o fornecimento das lamas de ETAR aos utilizadores é actualmente gratuito, pelo que o custo da aplicação da LRU ao solo apenas inclui
o do transporte do resíduo a partir da ETAR e o da distribuição do mesmo
(equivalente ao de um estrume).
A figura 2 mostra a precipitação e o escoamento acumulados nas
diferentes datas de observação dos dois anos hidrológicos em apreciação
(2001/2002 e 2002/2003).
150
Pa
L0
125
L1
L2
mm
100
75
50
25
0
11/1
20/3
17/4
3/10 17/10 28/11 30/12
28/1
28/2
21/4
6/5
Datas de obse rvação
FIGURA 2 – Precipitação acumulada (Pa) e escoamento superficial nas três modalidades
do ensaio, observadas de 11/01/2002 a 30/12/2002 e de 28/01/2003 a 6/05/2003.
64
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Os maiores valores de escoamento verificaram-se em 11/01/2002,
03/10/2002, 17/10/2002, 30/12/2002 e 06/05/2003. Embora a precipitação
observada em 17/10/2002 corresponda, apenas, a 51,5 mm, o escoamento
resultante foi de 13,5 mm (coeficiente de escoamento de 26%), pelo facto de
o solo estar bastante humedecido em consequência da precipitação que ocorreu
no período anterior (140 mm em 03/10/2002).
Na figura 3, representa-se o coeficiente de escoamento médio correspondente aos dois anos hidrológicos e relativamente a cada modalidade do
ensaio (L0, L1 e L2).
10
Coef. escoamento (%)
8
6
4
2
0
L0
L1
L2
M odalidades
FIGURA 3 – Coeficiente de escoamento superficial médio (Janeiro de 2002 a Maio de 2003).
Esse coeficiente, que corresponde à percentagem de escoamento acumulado
total em relação à precipitação acumulada total nos dois ciclos hidrológicos,
atingiu cerca de 9%, quer em L0, quer em L2 e cerca de 5% em L1, valores
que se podem considerar baixos. Embora em L1 o valor seja inferior, a diferença para L0 e L2 é irrelevante em termos médios, o que vem confirmar os
valores relativamente baixos de escoamento superficial obtidos ao longo do
tempo (figura 2), que nunca ultrapassaram 14 mm.
Os maiores valores da quantidade média de sedimentos recolhidos nas
mesmas datas em que se mediu o escoamento (figura 4) referem-se às primeiras chuvas de Outono/Inverno do primeiro ciclo cultural, (observação de
11/01/2002), devido ao estado de perturbação do solo quando da instalação
do ensaio. Contudo, a quantidade de sedimentos recolhidos nessa data, na
modalidade L0 (373 kg/ha), excedeu muito as das modalidades L1 e L2, respectivamente 158 e 146 kg/ha.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
65
400
L0
350
L1
L2
300
kg ha
-1
250
200
150
100
50
0
11/1
20/3
17/4
3/10 17/10 28/11 30/12 28/1
28/2
21/4
6/5
Datas de observação
FIGURA 4 – Perda de solo em cada medição (Janeiro de 2002 a Maio de 2003) observada de
11/01/2002 a 30/12/2002 e de 28/01/2003 a 5/2003.
Nos dois primeiros anos do ensaio (figura 5), a perda de solo total
atingiu 493, 252 e 262 kg/ha em L0, L1 e L2, respectivamente. Em síntese,
verificou-se em L1 e em L2 cerca de 50% da perda de solo registada em L0,
devido, muito provavelmente, a uma menor cobertura vegetal nos talhões do
ensaio correspondentes a esta última modalidade.
600
500
kg ha-1
400
300
200
100
0
L0
L1
L2
Modalidades
FIGURA 5 – Perda de solo acumulada (Janeiro de 2002 a Maio de 2003).
Num trabalho anterior (9), em que foram comparadas, em área adjacente
à deste ensaio, três modalidades de fertilização numa mistura pratense semeada
(sem fertilização, adubação e adubação complementada com LRU), durante três
ciclos culturais sucessivos, também foi a modalidade sem fertilização, onde
o coberto vegetal foi muito mais reduzido, que induziu maiores escoamento
superficial e perda de solo.
66
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
4 – CONCLUSÕES
Da síntese dos resultados obtidos, concluiu-se que a aplicação da lama de
ETAR induziu maior produção de biomassa da mistura de espécies pratenses
semeadas, melhoria do nível de fertilidade do solo e menor erosão.
Infere-se, assim, que a utilização deste tipo de resíduo se revelou promissora na preservação da qualidade do solo e no aumento de produção de
biomassa pratense.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Técnica Profissional Maria de Lurdes Cravo Oliveira a determinação
da humidade e a moenda das amostras vegetais, bem como ao Técnico Profissional Carlos Plácido
Rodrigues a avaliação laboratorial da perda de solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – BOLTON, J. – Effects of potassium, magnesium, and sodium fertilizers and lime on the
yield and composition of crops in a ten-year experiment at Rothamsted. "Report Rothamsted Experimental Station", part 2, 1972, p. 102-110.
2 – BRITO, J. M. C. – As Lamas Pretas como Fertilizante (Contribuição para o seu Estudo). Dissertação para Obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Agronómica. Lisboa,
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 1986.
3 – COSTA et al. – Avaliação agronómica das lamas da estação de tratamento de águas da
Asseiceira. "Revista Indústria da Água", vol. 33, 1999, p 30-38.
4 – DIAS, J. C. S. – Guia de Boas Práticas – Aplicação de Lamas na Agricultura. Lisboa,
Reciclamas – Multigestão Ambiental, S.A., 2004.
5 – DOMINGUES, H. – Comportamento de Metais Pesados (Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn) em
Solos tratados com Lamas Residuais Urbanas. Dissertação para obtenção do grau de
Doutor em Engenharia do Ambiente, Sistemas Naturais e Suas Tensões. Lisboa, Faculdade
de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, 1999.
6 – DOMINGUES, H. et al. – Aplicação de Lamas Residuais Urbanas em Solos Agrícolas.
Síntese dos Estudos Desenvolvidos no Departamento de Ciência de Solo, da Estação Agronómica Nacional(INIA). "Revista de Ciências Agrárias", 25 (3 e 4), 2001, p. 341-352.
7 – INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA – Tema Território e Ambiente, 2001. www.
ine.pt/prodserv/quadros/mostra_quadro.asp
8 – ISSS-ISRIC-FAO – World Reference Base for Soil Resources. Rome, FAO, 1998. (World
Soil Resources, Report 84).
9 – MARTINS, J. C. et al. – Escoamento de Água Superficial e Perda de Solo numa Pastagem Semeada Sujeita a Diferentes Níveis de Fertilização, na Região do Baixo Alentejo.
"Pastagens e Forragens", vol. 22, 2001, p. 81-89.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
67
10 – PORTARIA n.º 176/96. "Diário da República II Série". 230, (1996-10-3), p.13789-13790.
11 – SERRÃO, M.G. et al. – Utilização de uma Lama de ETAR para Aumento de Produção
de Pastagens em Solos Marginais do Baixo Alentejo. In: "Conselleria de Agricultura,
Gandería e Política Agroalimentaria, Xunta de Galicia – III Reunião Ibérica de Pastagens
e Forragens". Mabegondo, Centro de Investigacións Agrarias, 2000, p. 269-274.
12 – SERRÃO, M. G.; NEVES, M. J.; FERNANDES, M. L. – Efeito Residual da Aplicação de
Lamas de Etar na Disponibilidade do Fósforo num Litossolo Derivado de Xistos e num
Solo Litólico não Húmido de Granitos Cultivados com Pastagens. "Revista de Ciências
Agrárias", 24 (3 e 4), 2001, p. 193-201.
13 – SERRÃO, M. G. et al. – Evolução da Fertilidade de um Solo Mediterrâneo Pardo de
Materiais Não Calcários de Grauvaques sob pastagem, por Efeito da Adubação e da
Fertilização com uma Lama de ETAR. "Revista de Ciências Agrárias", 25 (3 e 4), 2002,
p. 382-393.
14 – SERRÃO, M. G. et al. – Será a Presença de Alguns Compostos Orgânicos Poluentes,
na Lama da ETAR de Évora, um Factor Limitativo para Aplicação em Solos Agrícolas?.
"Revista de Ciências Agrárias", 2003. (Em publicação).
15 – SERRÃO, M. G. et al. – Contribution to the rehabilitation of pastures in degraded
soils of the Southeast of Portugal. "Cahiers Options méditerranéennes", vol. 62, 2004,
p. 425-428.
16 – SERRÃO, M. G. et al. – Contributo para a Melhoria de Solos Marginais Destinados a
Pastagens pela Aplicação de Lama Residual Urbana, sem Riscos Ambientais. "Revista
de Ciências Agrárias", 2004. (Em publicação).
17 – SMITH, S. R. – Agricultural recycling of sewage sludge and the environment. Wallingford,
UK, CAB International, 1996.
68
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 69–84.
AS PASTAGENS E AS FORRAGENS EM TIMOR-LESTE*
Augusto Joaquim de Carvalho Lança**, António Manuel Rocha Parreira
Escola Superior Agrária de Beja – Apartado 6198 – Rua Pedro Soares
– 7800-908 BEJA
RESUMO
Este trabalho teve como objectivo identificar e caracterizar plantas forrageiras que
podem ser usadas na alimentação animal em Timor-Leste, com especial destaque para
as espécies arbóreas: Leucena leucocephala, Gliricidia sepium, Sesbania grandiflora,
Calliandra calothirsus, Moringa oleifera, Tamarindus indica e Paraserianthes falcataria. Deu-se especial destaque à utilização destas plantas em sistemas agro-florestais que
melhorem a alimentação dos ruminantes durante a estação seca, promovam a recuperação
dos solos e contribuam para a segurança alimentar das populações.
PALAVRAS-CHAVES: Timor-Leste; Erosão; Sistemas agro-florestais; Ruminantes; Calliandra
calothirsus; Gliricidia sepium; Leucena leucocephala; Moringa oleifera;
Paraserianthes falcataria; Sesbania grandiflora; Tamarindus indica.
ABSTRACT
The aim of this work was to identify and characterize fodder plants available in
Timor-Lester, particularly forage trees like Leucena leucocephala, Gliricidia sepium,
Sesbania grandiflora, Calliandra calothirsus, Moringa oleifera, Tamarindus indica e
Paraserianthes falcataria. It was analyzed its importance in agroforestry systems which
promote ruminant nutrition during dry season, detain soil erosion and improve people’s
food security.
KEYWORDS: Timor-Lester; Erosion; Agroforestry systems; Ruminants; Calliandra calothirsus;
Gliricidia sepium; Leucena leucocephala; Moringa oleifera; Paraserianthes falcataria; Sesbania grandiflora; Tamarindus indica.
1 – INTRODUÇÃO
Timor-Leste situa-se na zona intertropical e a esmagadora maioria da sua
população depende economicamente do sector agro-pecuário. Pratica-se uma
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
** Docente da FUP na Universidade Nacional de Timor Lorosa'e no 4.º Trimestre de 2003
69
agricultura de subsistência e o café, produzido de modo quase espontâneo, é
a principal produção para exportação.
Compreende-se, assim, que o primeiro governo deste país lusófono tenha
assumido o desenvolvimento agrícola como a pedra basilar do seu crescimento
económico. Contudo, e tal como na maioria dos países em vias de desenvolvimento, o território de Timor-Leste tem que enfrentar condicionantes da
exploração agrícola que limitam este sector. Tal é o caso de um meio ambiente
adverso à agro-pecuária e factores de ordem política e social que impediram o
desenvolvimento deste sector. Nestes últimos inclui-se um passado colonial em
que prevaleceu o abandono, com uma metrópole situada a 14.000 km, sempre
carente de meios humanos e materiais (7). Mais recentemente, a colonização
javanesa primou pela brutalidade da actuação, levando a cabo uma política de
genocídio sistemático. No sector agrícola, uma imagem eloquente deste passado
recente, encontramo-lo na destruição sumária do gado, principalmente no pósinvasão (anos 70 e 80) e no período que se seguiu ao referendo libertador
de 1999. Presentemente, o novo país necessita da colaboração internacional,
tanto em meios técnicos como materiais, para recuperar o sector agrícola e
garantir assim, não só a erradicação da fome e da subnutrição, como também
a independência económica.
O presente texto resultou da nossa presença naquele território durante
quase 3 meses, na docência da cadeira de Zootecnia na Universidade Nacional
de Timor-Leste, e das deslocações feitas um pouco por todo o território. Muitas
delas foram conduzidas pelos Engs. Pedro Passos e Nuno Moreira, técnicos
da Missão Agrícola Portuguesa em Timor, a quem manifestamos os nossos
agradecimentos e admiração pelo trabalho desenvolvido.
2 – O MEIO AMBIENTE
O território Leste timorense é dominado por uma cordilheira montanhosa
central em todo o seu comprimento, subindo até aos 2960 m do Monte Ramelau, circundada por pequenas planícies costeiras e de cotas muito baixas.
Estas predominam na costa sul avançando aqui para o interior algumas dezenas
de quilómetros. É a zona de melhores solos, com terrenos do tipo aluvionar
e que contrastam com os restantes solos do interior, muito frágeis e muitas
vezes esqueléticos. Na costa norte as planícies costeiras são raras e de dimensões pouco significativas. A ilha de Timor tem um relevo predominantemente
montanhoso, com enrugamentos recentes e de origem tectónica provocados
pelo choque da placa australiana com a euro-asiática.
70
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
O clima tropical que predomina é do tipo Aw (classificação de Koopen),
clima tropical de savana, com uma estação de chuvas e outra estação seca.
Regista-se ainda clima Am (de monção) e Cw (tropical de altitude ou temperado de Inverno seco) nas zonas mais altas do país e Bs (árido) em faixas
estreitas da costa norte (23).
Comparativamente às zonas temperadas, as regiões de clima tropical
apresentam geralmente condições menos favoráveis para a agricultura e criação de gado. Os valores mais elevados das temperaturas e das precipitações
degradam rapidamente a matéria orgânica e facilitam a erosão do solo. Os
acidentes climáticos são aqui mais frequentes, com o seu cortejo de cheias,
secas e outras catástrofes naturais (22). Tudo isto se agrava nas zonas mais
acidentadas, como aquela que aqui analisamos, onde a acção destes elementos se
conjuga com a acção do homem na destruição do solo das encostas. Gonçalves
e Min (8) estimam que mais de 43% da área de Timor-Leste tenha declives
superiores a 20%, limitando-se as zonas planálticas e aluviões interiores e
litorais a apenas 12% da área total.
Desarborizadas pelos machados dos agricultores itinerantes e dos exploradores de sândalo (Santalum album) – estamos no centro de origem desta
espécie arbórea – os solos de Timor-Leste foram sendo lentamente destruídos ao longo dos últimos séculos. As densas matas originais deram lugar a
encostas e cabeços pelados, onde o gado agora pasta uma magra erva, por
entre ravinas escavadas pelas águas torrenciais. As campanhas promotoras da
cafeicultura dos governadores dos séculos XIX e XX, agravaram ainda mais
esta situação em muitos pontos do território, como é o caso das serras de
Ossu e Mundo Perdido. Aqui as etapas erosivas sucedem-se inexoravelmente:
redução dos colóides orgânicos e minerais, degradação da estrutura e finalmente
o arrastamento do solo mesmo em declives pouco pronunciados, substituindo-se
na paisagem o verde exuberante da vegetação pela aridez, acompanhada de
ravinas (8). Este último aspecto é particularmente impressionante nas encostas
que rodeiam Maubisse. Nestas zonas em que florestas primárias ou secundárias
são inexistentes devido à acção humana, instala-se uma fraca vegetação com
predomínio de gramíneas de muito baixo valor alimentar.
Os solos predominantes em Timor-Leste reflectem assim o relevo e a
acção humana. Gonçalves e Min (8) propõem a seguinte classificação:
– Solos Calcários Acinzentados (do complexo argiloso) ocupando larga
área, de textura muito argilosa. Erosionam facilmente em ravinas e,
estando sujeitos a escorregamentos, são designados localmente, quando
tais características são mais acentuadas, por "terras podres";
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
71
– Solos Calcários Cinzentos (de Calcários pseudolíticos): muito delgados,
já bastante erosionados e ocupando relevo bastante dobrado;
– Solos Pardos de Materiais não Calcários (de grés micáceo): pouco
espessos e com deficiente drenagem interna, parecem ter nítida susceptibilidade à erosão;
– Solos Pardos de Materiais não Calcários, de xistos argiloso associados
a grés micáceo, de textura acentuadamente argilosa e com sintomas de
deficiente drenagem interna;
– Solos derivados de xistos metamórficos ocupando larga área junto de
Díli, que pela possível impermeabilidade das camadas inferiores e relevo
muito acentuado, são grandemente susceptíveis à erosão.
No que respeita à pecuária, o clima tropical favorece a lenhificação das
pastagens e estas dependem da estação das chuvas para se desenvolverem.
Por outro lado, a rápida acumulação de lenhina nas células vegetais imobiliza
proteína e minerais, originando uma dieta pobre em energia, azoto fermentescível e minerais (19).
As gramíneas tropicais são predominantemente do tipo C4, o que significa
que produzem mais biomassa por unidade de nutrientes absorvidos. Porém, esta
biomassa possui menor concentração em nutrientes e digestibilidade do que
as gramíneas temperadas C3 e são mais ricas em fibras. Consequentemente,
as gramíneas que predominam nas pastagens das zonas tropicais dificilmente
chegam para, só por si, suprir as necessidades de manutenção dos animais.
Este problema é agravado pela dificuldade com que as leguminosas das pastagens tropicais competem com as gramíneas pela luz e nutrientes, resultando
num rápido abafamento daquelas e num abaixamento do valor nutritivo dos
pastos (1).
O aspecto sazonal da produção de biomassa das pastagens tropicais
é igualmente determinante nestes sistemas de produção animal em clima de
savana (Aw) ou monção (Am). Quando maior for o número de meses secos
pior é a situação. No caso de Timor-Leste a melhor zona de ervagens situase na costa Sul e ponta Leste, onde o número de meses secos é menor,
mercê da ocorrência de duas estações de monções. Nestas regiões planas, das
poucas que se registam no país, o solo permanece sempre húmido e ocorre
frequentemente o pastoreio no subcoberto de coqueiral. Nas restantes regiões,
os animais são levados a pastorear nas encostas, não fazendo mais do que
agravar a erosão dos terrenos.
72
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
A expansão da pecuária é refém da longa estação seca. A pior situação
verifica-se no final desta estação, em que animais e pessoas sofrem, muito
frequentemente, de carência generalizada de alimentos.
3 – OS ANIMAIS DE TIMOR-LESTE
Para fazer face a este meio hostil o agricultor timorense dispõe todavia
de efectivos animais de grande rusticidade, bem adaptados ao clima, ao relevo
acidentado e aos alimentos grosseiros. Destacam-se, pela sua omnipresença, os
pequenos bovinos balineses (Bos javanicus), explorados em toda a Indonésia e
também na ilha de Timor, com a principal função de produção de carne. São
animais bastantes rústicos, encontrando-se no estado selvagem em algumas ilhas
do vasto arquipélago indonésio. Em Timor são frequentes nos restolhos do arroz
ou nas pequenas hortas, presos a uma corda. Já foram exportados em grande
quantidade para a Austrália durante o período português do último século,
tendo o seu número sido bastante reduzido com a invasão indonésia.
O búfalo dos pântanos (Bubalus carabanensis) está ligado à cultura do
arroz e encontra--se em maior quantidade na costa sul. É um animal bastante
rústico, de porte inferior ao do búfalo dos rios (Bubalus bubalus), bastante
utilizado nos trabalhos de preparação dos canteiros de arroz mediante a lavoura
por pisoteio. Regista-se igualmente a omnipresença dos caprinos, de modo
particular no interior acidentado do território, consumindo os resíduos das
culturas das hortas e a vegetação espontânea. O seu livre pastoreio conduz,
todavia, a graves problemas de destruição do coberto arbóreo e arbustivo,
que tenta vingar nas encostas erodidas. Constitui por isso, presentemente,
sério obstáculo a todos os empreendimentos de reflorestação, devendo neste
caso serem realizados esforços para que a sua criação passe a ser realizada
em confinamento.
Nas zonas mais secas da costa norte encontram-se numerosos rebanhos
de ovelhas. Este ruminante está adaptado ao ambiente seco da costa norte,
pastoreando a vegetação espontânea das zonas litorais e dos restolhos de arroz.
A sua criação destina-se à obtenção de crias para venda.
De registar ainda o pequeno cavalo timorense (2), um útil animal de
transporte de cargas e pessoas, por todo o interior acidentado do território; os
galináceos timorenses, também criados para alimentar o desporto nacional, a
luta de galos; o porco asiático, criado em regime livre, voraz consumidor de
todo o género de resíduos e verdadeiro flagelo das zonas urbanas.
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4 – ENTRAVES DE ORDEM SOCIOECONÓMICA
E CULTURAL À PRODUÇÃO ANIMAL
Como já foi referido, a maior parte do território, tem vocação claramente florestal. Gomes (7) diz que "Timor é um problema florestal". Esta
característica de Timor-Leste poderá ser, em parte, responsável pelo estado
de subnutrição em que vive a maioria da população timorense. A conjugação
de solos esqueléticos, um relevo jovem e por isso muito acidentado e uma
estação seca mais ou menos prolongada conjugam-se para tornar insuficiente a
produção agrícola das várzeas das ribeiras e das planícies litorais e dificultar
consideravelmente uma intensificação da produção animal.
Espanta, por vezes, o visitante que, dispondo de considerável biodiversidade pecuária, tenha o timorense uma dieta com tanta escassez de
proteínas. Julgamos que este deficit está ligado às dificuldades enfrentadas
pelos agricultores na criação de gado e que anteriormente se referiram. Dificuldades que têm expressão na cultura e nas tradições, numa zona que, é
bom não esquecer, também recebeu importante contribuição das civilizações
asiáticas do arroz.
A carne é, sobretudo, consumida por altura das festas, sendo os ruminantes, principalmente o búfalo, o componente tradicional do barlaque ou dote
pago à família da noiva. Como um pouco por todo o mundo tropical, o gado
representa igualmente uma forma de acumulação do capital, por ausência de
uma economia de mercado suficientemente desenvolvida, e tem um papel de
conferir estatuto social ao proprietário.
O consumo de leite, e seus derivados, não é prática comum, mesmo
o da espécie caprina. A subnutrição infantil, até em zonas de abundância de
fêmeas ruminantes é, por isso, muito vulgar, situação que poderia ser resolvida através de campanhas de informação e sensibilização das populações. A
divulgação de processos caseiros de transformação de leite de cabra, de ovelha
e de búfala, em queijo, manteiga e outros produtos, afigura-se de grande importância, e está já a ser levada a cabo por instituições de promoção social.
As epizootias, por sua vez, retiram parte importante dos animais a
este sistema produtivo já de si débil, e onde as campanhas de prevenção e
vacinação se deparam com falta de verbas necessárias à sua prossecução.
A fértil e plana costa sul encontra ainda o seu desenvolvimento agrícola
bloqueado pelos difíceis acessos às regiões mais povoadas da costa Norte e
ao porto de Díli. De resto, a manutenção das principais vias em condições de
transitabilidade afigura-se em Timor-Leste tarefa difícil, pois o relevo vigoroso
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
e o tipo de clima favorecem as avalanches e as águas torrenciais na estação
húmida, com destruição de estradas e pontes. A este fenómeno também não
deverão ser alheias as práticas agrícolas que não favorecem a infiltração das
águas nas encostas e planaltos das terras altas do interior.
5 – RECURSOS PRATENSES E FORRAGEIROS
No contexto actual de desenvolvimento da jovem nação, e quando a
população dá sinais de crescimento, governo, particulares e organizações, dão
passos no sentido do desenvolvimento agro-pecuário e florestal acelerados.
Simultaneamente atravessa-se uma fase de recuperação do tecido económico,
na sequência da devastação generalizada do pós-referendo de 1999.
Como linhas directoras deste processo, encontra-se a melhoria da produtividade das culturas de subsistência, principalmente o milho e o arroz,
a florestação das principais bacias hidrográficas com espécies autóctones de
grande procura internacional como o sândalo, teca e o pau-rosa. Na vertente
pecuária assiste-se a um esforço de melhorar o estado sanitário dos efectivos e
a sua alimentação, bem como de criar infra-estruturas de abate e distribuição.
No sector do café, o país dá prioridade ao nicho do café biológico, como
estratégia para aumentar os rendimentos provenientes desta cultura, numa fase
em que os preços mundiais desta matéria-prima sofrem forte declínio.
Os sistemas de agricultura de Timor são predominantemente constituídos
pelas hortas circundando as habitações, culturas de agricultura itinerante, em
regime de abate e queimada, a agricultura de pequena plantação com cafezeiros, a orizicultura em canteiros e a criação de ruminantes no subcoberto
de coqueiros. Enquanto a agricultura itinerante é o sistema de aproveitamento
do solo mais difundido, a produção de café limita-se às zonas montanhosas
da região oeste. A produção de arroz em canteiros concentra-se nas várzeas
interiores e litorais, aparecendo por vezes sob a bela forma de socalcos (região de Ossu). As plantações de coqueiros podem ser encontradas por todo o
território, mas predominam nos terrenos planos da costa sul.
Integrando-se em menor ou maior grau nestes sistemas, a pecuária assenta
na exploração das pastagens naturais, nos arbustos, como os bambus, nas folhas
e frutos de árvores, bem como no aproveitamento dos resíduos das hortas, das
culturas arvenses e das árvores de fruto. Também o consumo das herbáceas do
subcoberto das plantações de café e coqueiros, entre outras, constitui importante
fonte alimentar para o gado. A instalação de pastagens ainda tem uma expressão
muito reduzida. Todavia, o incremento desta actividade pode constituir uma
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
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importante oportunidade para substituir as queimadas como fonte de elementos
fertilizantes para as culturas, fomentar a fixação de azoto no solo, impedir
a erosão, incrementar a produção de carne e leite e melhorar as condições
de vida das populações, através de uma melhor nutrição, sobretudo das suas
camadas mais jovens. Permitiria ainda recuperar a actividade de exportação
de gado, em que Timor-Leste já ocupou lugar de destaque naquela zona da
Ásia (7), promovendo a entrada de divisas no país.
5.1 – As pastagens herbáceas
Nos terrenos descobertos pelo corte da floresta e pelas queimadas dos
agricultores itinerantes, a um ano ou dois de culturas, segue-se um pousio herbáceo
com forte predominância das gramíneas. Nas zonas mais elevadas e chuvosas, o
pastoreio contínuo e o fogo, impediram a reconstituição da mata e o uso agrícola
do solo, passando este a ser coberto por pastagem natural permanente. Muitas das
gramíneas destas pastagens têm bom valor alimentar, como assinalaram Gomes
(7) e Soares (24). Destacam-se de entre elas: Brachyaria spp, Chloris gayana
Kunth, Cynodon dactylon L., Digitaria sanguinalis L., Echinocloa colonum L.,
Eleusine indica Gearten, Panicum repens L., Paspalum spp, Setaria glauca L.
Verdadeiro flagelo nestas pastagens espontâneas, as gramíneas Imperata
cylindrica e Sacharum espontaneum, que com o seu comportamento invasivo,
diminuem bastante o valor alimentar destes prados. Imperata cylindrica é de
resto, referida para toda a zona tropical, como uma das infestantes das culturas
de combate mais problemático (22). Na costa sul também populações invasivas
de Lantana câmara, de muito difícil combate, comprometem a utilização das
gramíneas naturais sobre solos de grande potencial. Nesta região plana, são
frequentes as plantações de coqueiros associadas a pastagens com predomínio de
Digitaria spp., consumida por bovinos e búfalos. Trata-se de um sistema bastante
sustentável e que tem tido sucesso na zona tropical das Américas e da Ásia.
No restante território, a implantação de pastagens herbáceas deve ser
encarada com bastante precaução, dado o acidentado do terreno e o perigo
de erosão associado. Constituem aqui zonas favoráveis, embora de expressão
reduzida, os terrenos planos do fundo dos vales e os planaltos, bem como os
solos armados em terraços.
5.2 – As forragens arbóreas.
À excepção das zonas mais frias dos cumes montanhosos abundam
em Timor-Leste árvores forrageiras de grande interesse pecuário. Destacam-se
as espécies: Leucaena leucocephala, Gliricidia sepium, Sesbania grandiflora,
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Calliandra calothirsus, Moringa oleifera e Tamarindus indica. Segundo alguns
autores (9), também a Paraserianthes falcataria, a principal sombreadora do
café ou madre de cacau, produz forragem de razoável valor alimentar.
Vários trabalhos destacam particularmente as primeiras três destas
espécies como fornecedoras de proteína e fibra altamente digestíveis, proteína by pass, glúcidos solúveis e sais minerais, tornando-as o suplemento
alimentar mais conveniente para a estação seca, quando o alimento de base
é altamente fibroso, particularmente gramíneas secas e palhas de arroz ou
milho. A vantagem de usar mesmo que pequenas quantidades da folhagem
daquelas árvores, na suplementação do gado, reside na sua riqueza em proteína
(25 a 30% da matéria seca), parte da qual escapa à degradação ruminal. De
acordo com Preston e Leng (19) a farinha de folhas de leucena deu resultados
equivalentes aos de uma infusão abomasal de caseína, na estimulação da
ingestão voluntária de feno de baixa qualidade, em bovinos.
A concentração em energia metabolizável das folhas destas espécies
arbóreas é da ordem de 7,52 MJ/Kg MS (1).
O cultivo destas espécies sob a forma de banco de proteína permite
alimentar o gado, controlar a erosão, enriquecer o solo em azoto e produzir
mais estrume para as hortas (15), aumentando assim a produtividade global
do sistema. Para atingir este objectivo é importante recorrer ao mulching
com os ramos destas espécies e incorporar no solo a urina e os dejectos do
gado (17).
Nos anos mais secos, o final da estação seca e o princípio da estação
húmida (Novembro/Janeiro) tornam mesmo imprescindível o recurso a estas
pastagens aéreas, como alimento de emergência, à semelhança do que ocorre
com os arvoredos das zonas mediterrânicas durante os períodos de seca que
igualmente caracterizam este clima.
É frequente nestas alturas de grande carência alimentar nos animais
e também nas pessoas, observar-se por todo o território, mulheres e crianças
a colher ramagens para alimentar o gado.
5.2.1 – Leucaena leucocephala
A leucena, denominada em tétum ai-café, é das árvores leguminosas
forrageiras mais utilizadas em Timor-Leste, onde se encontra em povoamentos
espontâneos ou como espécie cultivada, mesmo nas encostas mais inférteis
e inclinadas. As suas vagens são também utilizadas na alimentação humana,
depois de torradas. Aproveita-se a sua lenha e nos cafezais pode utilizar-se
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
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como árvore sombreadora. Tem um importante papel como planta recuperadora
de solos e as flores são procuradas pelas abelhas (5). Pode crescer até aos 10
m, sendo mantida como arbusto, quando utilizada para fins forrageiros. É uma
espécie fixadora de azoto e possui raízes muito profundas, o que lhe permite
sobreviver à estação seca. Adapta-se bem a solos pobres mas bem drenados e
que recebam um mínimo de 750 mm anuais de chuva. A planta é originária
da América Central e expandiu-se por toda a zona intertropical.
A leucena produz um aminoácido não proteico, a mimosina, que é
degradado no rúmen em dihidroxipiridina (DHP), uma substância bociogénica.
Em algumas regiões do Mundo esta substância não constitui obstáculo ao
consumo da leucena, pois a flora ruminal contém a bactéria Synergistes jonesii,
que metaboliza a DHP. Tal é o caso da Indonésia (16) e, presumivelmente,
de Timor-Leste.
No Norte da Austrália O’Gara (13) conseguiu ganhos médios diários
em bovinos alimentados com leucena superiores a 1,0 kg/dia e estimou uma
digestibilidade da matéria seca de 75% e um teor em proteína bruta de 2025%, para as folhas desta leguminosa. Segundo Peackoc (14) as folhas frescas
possuem 30,7% de matéria seca (MS) e 24,2% de proteína bruta, enquanto nas
vagens estes valores são de 91% e 35,8%, respectivamente. A concentração
energética dos ramos e folhas é de 2,13 Mcal/kg MS (16) sendo por isso
semelhante à da cana-de-açúcar ou do milho em verde.
Podemos dizer que o principal problema que esta forrageira apresenta
em Timor é a sua sensibilidade a determinadas pragas, nomeadamente psilideos
(Heteropsylla cubana), que nos anos 80 dizimaram as leucenas da ilha, com
grandes prejuízos para os criadores de gado (1). O seu cultivo deve pois ser
fomentado, mas em associação com outras forrageiras perenes ou herbáceas,
de preferência num sistema de banco de proteína ou plantada nas hortas que
envolvem as habitações. De acordo com Bayer e Waters-Bayers (1) nas ilhas
vizinhas de Timor, um agricultor pode alimentar anualmente por ano dois a
três bovinos balineses a partir de 1 a 1,3 ha de leucenas densamente cultivadas e numa dieta consistindo quase inteiramente nesta forragem. Pimentel
e Wightman (17) preconizam o sistema intercultural leucena/palha de milho,
salientando o importante contributo da primeira para a nutrição animal e para
a produtividade do cereal.
5.2.2 – Sesbania grandiflora
A sesbania, ai-turis em tétum, é uma árvore leguminosa de crescimento
rápido e bem adaptada às condições edafoclimáticas de Timor. É uma planta
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
que se pode encontrar mesmo nos solos mais pobres, até aos 1000 m de
altitude e com precipitações mínimas de 800 mm (14). Atinge 8 a 10 m de
altura e cultiva-se normalmente nas hortas dado o seu grande poder fixador
de azoto e baixa densidade da copa. Surge também nas ruas e nos jardins
das principais localidades de Timor-Leste. As suas grandes flores, vermelhas
ou brancas, possuem grande valor ornamental. Presume-se que seja autóctone
do arquipélago indonésio, apesar de se distribuir presentemente por todas as
regiões tropicais. Consome-se sobretudo as suas grandes flores, em variados
pratos da cozinha timorense, assim como as suas vagens ainda verdes e as
folhas. Em Timor-Leste não é uma espécie vulgarmente destinada à alimentação animal, apesar do bom valor nutritivo da sua folhagem. Na Indonésia
a sua utilização como forragem está bastante difundida, chegando a constituir
70% da dieta dos ruminantes durante a estação seca. Evans (6) estimou em
25 a 30% o teor em proteína bruta da folhagem e digestibilidade semelhante
à da leucena.
5.2.3 – Calliandra calothirsus
Podemos observar algumas plantações recentes de caliandra em TimorLeste, destinadas à alimentação do gado. A espécie exige uma precipitação
mínima de 1000 mm e desenvolve-se muito rapidamente. É razoavelmente
tolerante à secura, suportando até 6 meses secos, resiste bem ao encharcamento do solo mas é sensível às baixas temperaturas, não se desenvolvendo
para lá dos 1900 metros (14). Largamente utilizada na Indonésia e outras
ilhas do Pacífico para enriquecer o solo, alimentar o gado e produzir lenha, a
caliandra cresce rapidamente, produzindo rebentos, folhas e flores com 20-25%
de proteína bruta. A digestibilidade das folhas, rondando 30/60%, é inferior
à da leucena em virtude do maior teor em taninos, sendo, em contrapartida,
resistente às pragas que atacam aquela. Ao compasso de plantação de 2 x 0,5
m podem-se obter 3 a 8 t/ha de matéria seca anualmente (18).
5.2.4 – Paraserianthes falcataria
A albizia das Molucas, conhecida em Timor-Leste como ai-samtuco, é
uma leguminosa autóctone do sudoeste asiático. P. falcataria ou Albizia falcataria é a madre de cacau de Timor-Leste, sendo pois como sombreadora dos
cafezais que se expandiu por todas as plantações desta cultura. Encontra-se hoje
em dia sujeita a grande mortalidade devido ao ataque pelo fungo Uromycladium tepperianum (3). É uma espécie muito pouco usada na alimentação do
gado em Timor-Leste, à excepção dos cavalos que são alimentados com as
suas folhas e vagens. Ibrahim et al (9), em testes com borregos, registaram,
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
79
todavia, ganhos de peso de 57g/dia em animais suplementados com a folhagem
de P.falcataria, superiores aos de outros suplementados com leucena (15g),
caliandra (33g) e gliricidia (34g).
Raharjo e Cheeke (20) estudaram a sua palatabilidade em coelhos,
tendo encontrado valores semelhantes aos da leucena. As suas folhas também
são utilizadas na alimentação de ruminantes e das aves domésticas no sudeste
asiático (12). Estes dados indicam que poderá vir a ser incrementado o seu
uso em Timor-Leste na alimentação animal, tanto mais que se trata de uma
espécie de muito rápido crescimento e recuperadora de solos. Plantada com
um compasso de 4 m, produz 2-3 t/ha/ano de folhas secas, muito usadas na
Indonésia para a fertilização dos canteiros de arroz.
5.2.5 – Tamarindus indica
O tamarindo ou ai-sucair, em língua tétum, é omnipresente em Timor-Leste, à excepção das zonas acima dos 1500 m, desenvolvendo-se igualmente
bem nas áreas semi-áridas da costa Norte. Na ponta Leste, como em Totuala,
forma vastas manchas florestais naturais. É uma árvore leguminosa que não
fixa azoto, de crescimento lento, mas de grande longevidade e muito rústica,
pois vegeta bem numa vasta gama de solos. As suas vagens e sementes são
ricas em lípidos, amido e proteínas e são largamente utilizadas na alimentação humana nas zonas tropicais. Em Timor-Leste a população usa as suas
vagens sobretudo para a confecção de vários pratos e na medicina tradicional.
Plantado no compasso de 15 × 15 m o tamarindo pode produzir até 35 t/ha
de vagens. Devendra (4) estimou o teor em matéria seca e proteína bruta
das folhas em, respectivamente, 28% e 14%. A sua principal limitação como
forragem é o lento crescimento e a demorada rebentação que exibe. Porém,
as suas vagens e folhas secas podem ser consumidas no solo pelos animais,
num aproveitamento do tipo silvopastoril.
5.2.6 – Gliricidia sepium
Com origem na América Central, a gliricidia é uma árvore pouco frequente
em Timor-Leste, encontrando-se alguns exemplares nas praças e jardins. Na
estação seca perde as folhas e a sua profusa floração rosada possui grande
valor ornamental. Em todo o mundo tropical é uma das árvores mais utilizadas pelos agricultores, em virtude da sua grande rusticidade e variedade
de utilizações. Fornece lenha, forragem e adubo verde. Planta-se como sebe
viva e nos solos destruídos pela erosão, como espécie pioneira. Nos cafezais
é plantada como espécie sombreadora. Pode ser cultivada até aos 1200 m e
80
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
com uma pluviosidade variando entre os 600 e 3500 mm, mesmo que a estação seca se prolongue por 9 meses. Tolera todos os solos excepto os muito
ácidos, de pH inferior a 4,5. Regenera-se com facilidade após uma queimada
e o seu nome em língua indonésia, gamal, significa literalmente "destruidora
de Imperata" (11), o que atesta a facilidade com que faz o controlo biológico
desta agressiva gramínea infestante.
A gliricidia é das árvores forrageiras que melhor responde ao corte dos
seus ramos, produzindo abundante rebentação de bom valor alimentar. O seu teor
em proteína bruta varia entre 15 e 30%, consoante se trate de raminhos e folhas
jovens ou tecidos mais lenhificados e o teor em matéria seca ronda 25% (4).
Apresenta contudo valores de energia e proteína inferiores aos da
leucena e os animais levam algum tempo a habituar-se ao seu consumo. A
produção de biomassa pode ascender a 5 t MS/ha (1).
5.2.7 – Moringa oleifera
Originária da Índia, M. oleifera, marungi em lingua tétum, é outra árvore
difundida em Timor- Leste. A população consome sobretudo os seus frutos
ainda novos, semelhantes ao feijão-verde, mas também as suas folhas e flores,
geralmente em sopas. À semelhança da gliricidia é uma árvore multifunções
de grande rusticidade, proporcionando forragem de grande qualidade para os
animais, incluindo os suínos. É ainda utilizada na medicina tradicional em
todo o Sudeste asiático. As suas sementes contêm 40% de óleo que é usado
na confecção de alimentos, sabonetes, produtos cosméticos e na iluminação.
A farinha das sementes possui propriedades purificantes da água. O bagaço,
obtido após a extracção do óleo, constitui um bom suplemento proteico para
os animais (25). Nas zonas tropicais cultiva-se sobretudo nos solos frescos,
especialmente nas hortas que circundam as habitações e como planta pioneira,
nos solos degradados em fase de recuperação. Vai até aos 750 m de altitude
e nas zonas com 750 a 2500 mm de precipitação anual, resiste bem a uma
estação seca prolongada mas não suporta o encharcamento (10).
6 – CONCLUSÃO
Os solos, o relevo e o clima tornam Timor-Leste particularmente
vocacionado para sistemas agro-florestais e silvopastoris. Urge sobretudo
proceder à recuperação dos solos degradados pela desflorestação sistemática a
que o território foi sujeito ao longo dos séculos, sendo condição indispensável
terminar com o sistema de queimadas, que de ano para ano continua a destruir
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
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agro-ecossistemas já de si muito frágeis. A fertilização dos solos efectuada
pela cinza da queimada deverá dar lugar à matéria orgânica proveniente do
cultivo de leguminosas e da criação de gado.
Neste contexto, o aumento do cultivo de pastagens e forragens, nos
terrenos planos, é um objectivo desejável, mas a área disponível para este
fim é escassa e destina-se sobretudo aos cultivos de primeira necessidade.
É possível, todavia, fora destas áreas incrementar a produção animal e a
de elementos fertilizantes, através das culturas arbóreo-arbustivas forrageiras
anteriormente referidas. A biodiversidade deste sistema agro-florestal pode
ser ainda potenciada pela associação de árvores forrageiras à cultura do
cafezeiro, como sombreadoras, ou ao cultivo de espécies florestais, como o
sândalo, o mogno, o pau-rosa ou a teca. Por outro lado, torna-se sustentável
o incremento da produção de leite e carne, o que contribuirá para aliviar o
problema da subnutrição crónica das populações e o da carência de alimentos
que regularmente se faz sentir nas zonas rurais.
A criação de viveiros escolares e de viveiros comunitários, ao nível
de cada suco ou aldeia, poderão ser estratégias a prosseguir.
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AVALIAÇÃO DA TOLERÂNCIA À SALINIDADE
DE ESPÉCIES FORRAGEIRAS*
M. A. Carmona, M. M. Oliveira, J. C. Martins, M. L. Cabral, J. A. Passarinho,
M. L. Fernandes, M. J. Neves, A. P. Vargues, J. Bica, M. A. Bica, D. Crespo
Estação Agronómica Nacional – Quinta do Marquês – 2784-505 OEIRAS
RESUMO
Estima-se que pelo menos 100 000 ha de solos agrícolas do país se encontram
salinizados ou em processo de salinização como, por exemplo, algumas áreas dos vales
dos principais rios que são utilizadas como pastagens. No vale do Tejo, nomeadamente
na Lezíria Grande, situam-se algumas das pastagens da região. Nos anos de seca e principalmente na época de Verão, a salinidade dessas áreas, é susceptível de atingir valores
superiores a 4 dS m-1 que podem ser impeditivos para muitas espécies. As áreas mais próximas do sapal apresentam valores superiores, para além de sofrerem de encharcamento
e/ou alagamento, devido a má drenagem natural. Assim, a proposta de estudo de espécies
que são resistentes a essas condições permitirá utilizar as áreas consideradas marginais
nos vales dos rios Tejo, Sado e Mondego e ainda algumas áreas dos perímetros de rega do
Alentejo, que se vão tornando improdutivas por salinização secundária.
Para avaliar a tolerância à salinidade estão em estudo 16 espécies de leguminosas
e gramíneas, anuais e vivazes, sendo a avaliação efectuada com as plantas a crescer em
condições de estufa com controlo de nutrientes (NFT) e de campo com aplicação de quatro
concentrações de água salina. As espécies são seriadas tendo em conta a sobrevivência e
a perda de matéria seca, assim como outros indicadores fisiológicos.
Os resultados obtidos em condições controladas indicam que algumas leguminosas
apresentam reduções de matéria seca, de cerca de 50%, com as salinidades mais baixas
(4 e 8 dS m-1), enquanto que nas gramíneas, tal redução só se verificou com a salinidade
mais elevada (16 dS m-1).
Realizaram-se no laboratório ensaios de germinação, tendo-se verificado que a
salinidade atrasou cerca de 4 dias a germinação e reduziu a sua percentagem, sobretudo
nas leguminosas.
Num ensaio em condições naturais, instalado em 2002, está a ser feita a avaliação
da resposta à rega com diferentes concentrações de cloreto de sódio, de modo a atingiremse condutividades de 4, 8 e 16 dS m-1 para além do controlo (± 1 dS m-1), procedendo-se
a cortes sucessivos da matéria verde e à avaliação da capacidade de recuperação após o
corte. Fez-se ainda a monitorização da salinidade da solução do solo em talhões semeados
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
Este trabalho foi efectuado no âmbito do projecto PIDDAC 109/02 da EAN/INIAP.
85
com uma gramínea e uma leguminosa. Nas plantas, fizeram-se pesagens de uma amostra
de cada espécie em fresco e após secagem em estufa, e recolheram-se amostras para determinação da composição orgânica e mineral.
PALAVRAS-CHAVES: Forragens; Gramíneas; Leguminosas; Tolerância à salinidade; Solos salinizados.
ABSTRACT
We estimate that in Portugal at least 100 000 ha of cultivated soils are salt-affected
or are becoming salinized. This is the case of some of the main rivers valleys used as pasture lands. In the river Tejo, namely Lezíria Grande are located some of pasture lands of
this region; on dry years and hot season, salinity on these areas can reach more than 4 dS
m-1 that can be detrimental for some species. In addition, areas near the salt marsh present
higher values and also excess water or water logging due to poor natural drainage.
The objective of the present studies is to evaluate salt resistance of forage species
for utilization in pastures, in order to use marginal and/or degraded land without possible
use for traditional crops, like the coastal marshes or the river valleys (Tagus, Sado, and
Mondego) and also the areas of secondary salt affected agricultural land. The screening of
forage species was done in pots with nutrient control (NFT) and in the field with salt water
irrigation (several salt concentrations). The evaluation of salt stress was done in successive
cuttings by biomass measurements and other determinations after growth in saline conditions. To evaluate salinity tolerance, 16 species of grasses and legumes, perennial and
annual, are being studied. The results in the pots experiment indicate that some legumes
present a reduction in dry matter of about 50% with the lowest salinities (4 and 8 dS m-1),
while the grasses only show this reduction with the highest salinity (16 dS m1).
In laboratory conditions the results of seed germination showed that salinity reduced its percentage and delayed it especially in legume species.
A trial to study the adaptation of the 16 species to field conditions irrigated with
different salinity levels was initiated in 2002. The response to irrigation with 4, 8 and
16 dS m-1 water and control (about 1 dS m-1) was studied by successive cuttings and the
evaluation of recovery after cutting. The monitoring of soil characteristics was also done
after irrigation with saline water. The plant samples fresh and dried were weighted and the
organic and mineral composition was determined.
KEYWORDS: Forage species; Grasses; Legumes; Salinity tolerance; Salinized soils.
1 – INTRODUÇÃO
Na região mediterrânica da Europa, as áreas afectadas por salinização
abrangem principalmente a Península Ibérica, uma pequena extensão do Sul de
França, Itália, Sicília, Sardenha e Córsega e uma parte costeira da Península
Balcânica.
Em resultado de mudanças climáticas e da acumulação de CO2 na atmosfera, para além de outras causas, prevê-se que a temperatura média anual
aumentará cerca de 1 ºC nos próximos 50 a 70 anos. Consequentemente, o
86
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
índice de aridez irá crescer, o que proporcionará uma salinização progressiva
de áreas onde aquele fenómeno ainda não existe. Szabolcs (8) prevê que a área
total de solos com salinidade potencial será de 5,6 Mha, o que corresponde
a cerca de 6,3% da área total (900 000 km2).
A classificação dos solos quanto à salinidade e sodicidade baseia-se,
fundamentalmente, no teor do solo em sais solúveis ou condutividade eléctrica
do extracto de saturação do solo (ECe) e na proporção de sódio no complexo
de troca ou percentagem de sódio de troca (ESP), mas também no pH do
solo saturado. Uma classificação bastante generalizada (quadro 1) é a adoptada
pelo USDA – United States Department of Agriculture (4):
QUADRO 1 – Classificação de solos, segundo os critérios da condutividade eléctrica do
extracto de saturação (ECe), da percentagem de sódio de troca (ESP) e da
reacção do solo (pH)
Tipo de solo
ECe (dS m-1)
ESP (%)
pH
Salino
>4
<15
<8,5
Sódico
<4
>15
>8,5
Salino – sódico
>4
>15
>8,5
Numa outra classificação (quadro 2), podem distinguir-se vários graus
ou classes de salinidade que restringem sucessivamente a gama possível de
culturas.
QUADRO 2 – Classes de salinidade do solo, de acordo com os critérios da ECe, do teor de
sais do solo.
Classe de salinidade
ECe (dS m-1)
Teor em sais (g 100g-1 terra seca)
Não salino
0–2
0,05 – 0,1
Ligeiramente salino
2–4
0,1 – 0,2
Moderadamente salino
4–8
0,2 – 0,4
Fortemente salino
Muito fortemente salino
8 – 16
> 16
0,4 – 0,8
> 0,8
Estima-se que pelo menos 100 000 ha de solos agrícolas do Portugal se
encontrem salinizados ou em processo de salinização, nomeadamente algumas
áreas dos vales dos principais rios que são utilizadas como pastagens, pelo
que a salinidade é um constrangimento para o cultivo das espécies forrageiras
tradicionais.
A acumulação de sais na zona da raiz, geralmente com predomínio do
NaCl, causa um aumento do potencial osmótico do solo, dificultando a absorção,
pela planta, da água com os nutrientes de que necessita. Mesmo quando o
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
87
conseguem, a entrada de iões, alguns em excesso, pode provocar toxicidade.
As espécies, e mesmo as cultivares de uma dada espécie, conseguem enfrentar
estas situações de forma distinta, tendo diferentes tolerâncias à salinidade. A
maior parte das leguminosas são classificadas por Noble e Rogers (3) como
sensíveis ou moderadamente sensíveis à salinidade, enquanto que as gramíneas
são consideradas mais tolerantes.
Pretendeu-se avaliar a possibilidade de utilização para pastagens e forragens de espécies cultivadas ou espontâneas resistentes à salinidade, para
adaptação a áreas marginais e/ou degradadas sem possibilidade de utilização
pelas culturas tradicionais como, por exemplo, zonas costeiras ou margens de
rios (Tejo, Sado, Mondego, etc.) e algumas áreas degradadas de regadio que
têm sido afectadas por salinidade secundária. Neste sentido, pensa-se poder
contribuir para a melhoria dos solos através do aumento do teor e qualidade
da matéria orgânica, do controlo dos níveis de salinidade e da protecção contra
a erosão e do aproveitamento de nutrientes fundamentais para a alimentação
animal (vitaminas, sais minerais, ácidos gordos) que são produzidos em maior
quantidade quando as plantas crescem em condições de salinidade.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas, quanto à resistência à salinidade, as seguintes 16 espécies
de leguminosas e gramíneas anuais e vivazes (quadro 3).
QUADRO 3 – Espécies de leguminosas e gramíneas anuais e vivazes estudadas.*
As espécies vivazes estão assinaladas a negrito.
LEGUMINOSAS
GRAMÍNEAS
1
Trifolium resupinatum cv. Maral
10
Lolium multiflorum cv. Pollanum
2
Trifolium resupinatum cv. Kyambro
11
Festuca arundinacea cv. Demeter
3
Trifolium micheliannum cv. Bolta
12
Phalaris aquatica cv. Holdfast
4
Trifolium subterraneum cv. Gosse
13
Cynodon dactylon
5
Medicago sphaerocarpus cv. Orion
14
Elytrigia elongata
6
Trifolium fragiferum cv. Palestine
15
Puccinellia ciliata
7
Lotus corniculatus cv. San Gabriel
16
Agropyron elongatum cv. Dundas
8
Lotus pedunculatus cv. Maku
9
Medicago sativa cv. Hunter River
* Todos os números apresentados, ao longo do texto, entre parêntesis rectos referem-se às
espécies mencionadas neste quadro.
88
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
2.1 – Ensaios de germinação
Os ensaios de germinação das sementes efectuados no laboratório com
0 (controlo), 75 e 150 mM de NaCl (equivalente a aproximadamente 8 e
15 mS cm-1 respectivamente), durante 10 dias a 25 °C e na ausência de luz,
permitiram avaliar a tolerância à salinidade das 16 espécies estudadas nesta
fase de desenvolvimento.
2.2 – Ensaio em condições controladas
Efectuou-se um ensaio em estufa, em vasos, com 4 salinidades, A – controlo sem NaCl, B – 4, C – 8 e D – 16 dS m-1 de condutividade eléctrica,
utilizando uma técnica mista com filme de solução nutritiva (NFT). Este ensaio
permitiu a avaliação da resposta das espécies em condições parcialmente controladas (controlo de condutividade e pH da solução nutritiva). Procedeu-se a
cortes sucessivos (em número variável conforme a espécie) da matéria verde e
à avaliação da capacidade de recuperação após o corte. Realizaram-se pesagens
de uma amostra de cada espécie em fresco e após secagem em estufa a 80 °C.
Efectuaram-se medições da altura da planta, após os cortes.
2.3 – Ensaio em condições naturais
O ensaio de adaptação das espécies de gramíneas e leguminosas sujeitas a
salinidade, em condições naturais, foi instalado em Novembro 2002, no Posto
de Culturas Regadas D. Manuel Castello Branco, em Alvalade/Sado (Alentejo),
em talhões de 2 m2, com duas repetições. Procedeu-se à avaliação da resposta
à rega com diferentes concentrações de cloreto de sódio, de modo a serem
atingidos 3 níveis de salinidade correspondentes às condutividades de B – 4,
C – 8 e D – 16 dS m-1 , para além do controlo A – ±1 dS m-1.
Para avaliação do peso da matéria verde, procedeu-se da mesma forma
descrita para as condições controladas, fazendo, em cada colheita, uma amostragem que correspondeu a duas vezes um quadrado de 0,0625 m2.
O ensaio em condições naturais foi efectuado num Aluviossolo Moderno Não Calcário de textura mediana (A) ou Fluvissolo Êutrico (FLeu). A
monitorização da salinidade da solução do solo foi efectuada, de Junho de
2003 a Março de 2004, nos dois grupos de 4 talhões com as espécies 6 e
11, submetidos às 4 águas de rega de qualidade diferente, ou seja, A, B, C
e D. A solução do solo foi obtida através de cápsulas porosas ou lisímetros
de sucção instalados às profundidades de 15 e 30 cm.
A salinidade e a sodicidade do solo foram avaliadas através da condutividade eléctrica do extracto de saturação do solo e do ESP ou percentagem
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
89
de sódio de troca, respectivamente, em amostras de terra colhidas no início do
ensaio (Outubro de 2002) e em cada talhão dos dois grupos com as espécies
6 e 11, colhidas a três profundidades (0-10, 10-20 e 20-40 cm) em Outubro
de 2003, após o ciclo de rega.
A condutividade eléctrica da solução do solo e do extracto de saturação
do solo com água foi determinada segundo o método descrito em Silva et
al. (7); os teores de catiões solúveis foram obtidos por espectrofotometria
de absorção atómica; os catiões extraíveis pelo método de trietanolamina e
cloreto de bário (TEA +BaCl2) a pH 8,2; a capacidade de troca catiónica
pelo método de Bascomb, descritos por Mesquita e Alvim (2). Os catiões de
troca foram avaliados através da diferença entre os catiões extraíveis e os
catiões solúveis e a percentagem de sódio de troca (ESP) foi calculada, quer
para as amostras do solo inicial, quer para as amostras das colunas de solo
submetidas à aplicação das soluções salinas, através da razão entre o teor de
sódio de troca e a capacidade de troca catiónica.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1– Ensaio de germinação
Verificou-se grande amplitude de resposta nas diferentes espécies, embora
os maiores decréscimos na percentagem de germinação se tenham observado
nas leguminosas (quadro 4). A salinidade conduziu a um atraso da germinação
de cerca de 4 dias, e reduziu a sua percentagem, sobretudo nas leguminosas
(quase 100% em alguns casos).
QUADRO 4 – Germinação (% do controlo) ao fim de dez dias em
laboratório, a 25 °C, com salinidades de 8 e de 15 dS m-1
(75 e 150 mM Na Cl, respectivamente)
Variedades
1
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
16
90
75 mM
92,0
15,1
42,9
29,0
55,6
68,3
88,6
88,9
89,4
100,0
96,2
101,5
100,0
150 mM
46,7
9,4
25,0
11,6
14,8
26,8
18,2
59,7
56,1
61,4
86,8
70,1
59,7
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
As sementes das leguminosas T. resupinatum [1] e M. sativa [9] foram
as que mostraram menor redução de germinação com a salinidade. Os valores
obtidos para a luzerna (cerca de 40% na concentração mais elevada) estão em
conformidade com os obtidos por outros autores como, por exemplo, Rumbaugh
e Pendry (5) que, ao avaliarem 761 populações de luzerna, verificaram haver
uma redução de 50% na germinação ao fim de 7 dias, em 175 mM NaCl (-0,58
MPa de potencial osmótico). As sementes de T. resupinatum [2] e de Puccinellia
ciliata [15] apresentaram uma germinação de apenas 3%, tanto em condições de
controlo como com salinidade e, portanto, não foi possível verificar a grande
tolerância apresentada por esta última espécie encontrada por Shen (6). Contudo
a germinação destas espécies foi superior em condições naturais.
3.2 – Ensaio em condições controladas
Os resultados preliminares indicam que o crescimento em solução nutritiva
com 4 dS m-1 levou as plantas de Trifolium fragiferum e Agropyron elongatum
a sofrer uma quebra de mais de 50% de peso seco enquanto que a solução
com 8 dS m-1 provocou igual quebra nos Lotus corniculatus e pedunculatus,
assim como na gramínea vivaz Agropyron elongatum. A salinidade de 16 dS m-1
conduziu a perda de peso seco igual ou superior a 50% em todas as espécies,
excepto na Cynodon dactylon e na Medicago sativa (figura 1).
%
150
B
C
D
100
50
0
1
2
3
4
6
Leguminosas
7
8
9
Variedades
10
11
12
13
14
16
Gramíneas
FIGURA 1 – Variação de peso seco com a salinidade B, C e D, expressa em % do controlo
A luzerna (Medicago sativa) é uma espécie muito difundida em zonas
sujeitas a salinidade, nomeadamente na Austrália, sobretudo pelo seu impacto
na fixação de azoto e na fertilidade do solo, mas outras espécies perenes
são também muito utilizadas, como sejam a Phalaris aquatica e a Festuca
arundinacea, tal como é referido por Cocks (1).
Verificou-se uma redução de altura da planta com o aumento da salinidade,
quer em leguminosas, quer em gramíneas e tanto maior quanto mais alto o
valor da condutividade da solução nutritiva (figura 2).
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
91
A lt ur a da s
pla nt a s 5 0
( c m)
4 0
3 0
2 0
1 0
0
1 0
1 1
1 2
1 3
Variedades
1 4
1 6
B A
D C
salinidade
FIGURA 2 – Redução da altura das gramíneas com diferentes concentrações
de sal, (A – 0, B – 4, C – 8 e D – 16 dS m-1).
3.3 – Ensaio em condições naturais
Em condições naturais, as plantas das várias espécies estudadas, que
pertencem a grupos muito distintos e têm ciclos de vida com metabolismos e
respostas fisiológicas à salinidade muito diferentes, responderam às variações
ambientais ao longo do ano, o que permitiu, para além da avaliação efectuada
pelas variações de peso seco, obter uma melhor avaliação por observação.
Como se pode ver na figura 3, algumas das espécies que reduziram muito o
seu peso seco em condições controladas (ensaio em estufa), apresentaram, em
condições naturais, uma melhor resposta à salinidade, como, por exemplo, os
Lotus [7 e 8] e o Trifolium fragiferum [6] .
PS (T ha -1 )
10
8
A
B
C
D
6
4
2
0
6
7
8
9
FIGURA 3 – Produção média do peso seco por corte de Trifolium fragiferum [6],
de Lotus [7 e 8] e de Medicago sativa [9] sujeitas a diferentes salinidades
(A 1 dS m-1, B 4 dS m-1, C 8 dS m-1 e D 16 dS m-1) no campo experimental.
Estas espécies mostraram uma boa sobrevivência e uma pequena redução
de peso seco em relação ao controlo (figura 4). Os resultados das espécies
vivazes abrangem a época de crescimento vegetativo, prolongada pelos sucessivos cortes, até Outubro.
92
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
30
3
3
A
25
Produção PS
(T ha -1)
4
20
B
C
D
3
4
3
15
2
2
2
10
1
5
0
6
7
8
9
10
11
12
13
14
16
variedades
FIGURA 4 – Produção em peso seco de algumas espécies forrageiras no campo
experimental sujeitas às diferentes salinidades (A, B, C e D) em 2003.
No interior do gráfico assinala-se o n.º de cortes.
3.4 – Monitorização de parâmetros do solo
A variação de salinidade da solução do solo, avaliada pela condutividade
eléctrica, de Junho de 2003 a Abril de 2004 é apresentada na figura 5, relativamente à camada superficial do solo dos talhões monitorizados [6 e 11] .
-1
CE (dS m )
16
12
6A
6B
6C
6D
8
4
0
-1
CE (dS m )
12
11A
8
11B
11C
11D
4
04
-3
25
04
-2
25
04
-1
25
03
2-
25
-1
03
03
1-1
25
0-
25
-1
03
-9
25
03
-8
25
03
-7
25
25
-6
-
03
0
FIGURA 5 – Condutividade eléctrica da solução de solo (0-15 cm) nos períodos de rega
e de Outouno/Inverno, para os 4 níveis de salinidade (A, B, C e D),
dos talhões com Trifolium fragiferum [6] e com Festuca arundinacea [11].
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
93
Da monitorização da salinidade da solução do solo, verificou-se que a
evolução desta característica, depois de cessar as regas com NaCl (Outubro),
se deu no sentido de se atingirem os valores iniciais de condutividade eléctrica (CE) da solução do solo (cerca de 2 dS m-1), em todos os talhões, com
os diferentes níveis de salinidade, devido à lavagem de sais do solo pela
precipitação ocorrida no Outono/Inverno.
Durante o ciclo de rega, a CE da solução do solo aumentou, nos meses
de Verão, para valores entre 8 e 16 dS m-1 nos talhões regados com as águas
C e D e com Trifolium fragiferum [6]; a CE atingiu valores entre 6 e 10 dS m-1
nos talhões com Festuca arundinacea [11] e níveis de salinidade mais elevados
(C e D). A partir de fins de Outubro de 2003, a camada superficial do solo
apresentava valores baixos (2 dS m-1).
Após o ciclo de rega, avaliou-se o estado do solo quanto à salinidade e
sodicidade, através da condutividade eléctrica do extracto de saturação (CE) e
da percentagem de sódio de troca (ESP), respectivamente. A figura 6 mostra a
variação daqueles parâmetros até à profundidade de 40 cm, nos talhões com
as espécies 6 e 11 e para as quatro modalidades de rega.
-1
CE (dS m
ESP (%)
)
0
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
5
10
15
20
0
Prof (cm)
Prof (cm)
0
20
20
40
40
inicial
0.0
6A
0.5
1.0
6B
1.5
6C
2.0
2.5
inicial
6D
6A
6B
6C
6D
3.0
0
0
5
10
15
20
20
Prof (cm)
Prof (cm)
0
20
40
40
inicial
11A
11B
11C
11D
inicial
11A
11B
11C
11D
FIGURA 6 – Condutividade eléctrica (CE) e percentagem de sódio de troca (ESP), em
Outubro 2003, em função da profundidade, nas 4 modalidades (A, B, C e D)
em relação aos mesmos parâmetros do solo inicial nos talhões com Trifolium
fragiferum [6] e com Festuca arundinacea [11].
Verifica-se que o solo até à profundidade de 40 cm apresentava valores
relativamente baixos de salinidade, não ultrapassando 2,5 dS m-1 na camada
superficial (solo pouco salino), o que significa que o solo tem sofrido lavagem
até esta profundidade.
94
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Quanto à sodicidade do solo, constata-se que a ESP aumentou para
valores entre 5 a 17%. No entanto, valores superiores a 15%, que indiciam
a sodicização ou alcalização do solo, só ocorreram na camada superficial do
talhão 6 D. É de notar que nos talhões 6 B, 6 C e também nos talhões 11C
e 11D, os valores de ESP oscilaram entre 10 e 15%, já muito próximos do
limite acima do qual os solos se classificam como salinos, isto é, em que
pode ocorrer a consequente degradação de estrutura do solo e redução da
infiltração e permeabilidade do solo.
4 – CONCLUSÕES
Os primeiros resultados da avaliação da resposta à salinidade das espécies
estudadas, indicam que a produção de peso seco foi afectada pela solução
nutritiva com salinidade mais elevada (16 dS m-1), em condições controladas,
quer nas leguminosas anuais quer nas gramíneas, à excepção da M. sativa e da
C. dactylon. As salinidades mais baixas reduziram em 50% os valores daquele
parâmetro em L. corniculatus, L. pedunculatus e T. fragiferum. No entanto,
estas mesmas espécies mostraram, em condições naturais, boa capacidade de
sobrevivência e recuperação após os cortes, quando sujeitas a salinidades
idênticas, conforme revelou a monitorização da solução do solo que indicou
níveis de salinidade elevados (6 a 16 dS m-1), durante os meses de Julho a
Setembro, nos talhões com aplicação de água de rega salina. Após o ciclo de
rega, a solução do solo apresentava, em todas as modalidades, valores baixos
e da mesma ordem de grandeza, razão pela qual foi possível a recuperação
do crescimento das plantas.
Quanto ao estado do solo, verificou-se que, em Outubro, a salinidade nos
talhões regados com águas de 8 e 16 dS m-1 apresentava valores relativamente
baixos, entre 1,5 e 3,0 dS m-1 tendo em atenção que a lavagem com água
das chuvas só teve início em Outubro e que iria decorrer até à Primavera do
ano seguinte. Os mesmos talhões conduziram a valores relativamente altos da
percentagem de sódio de troca rondando os 15%, os quais podem provocar
problemas de instabilidade da estrutura do solo.
Os resultados apresentados carecem de confirmação nos anos subsequentes
do projecto.
AGRADECIMENTOS
Agradece-se à Fertiprado o fornecimento das sementes, a Mário Santos e Maria Emília
Santos a colaboração nos ensaios de laboratório e a Amaral dos Santos, Joaquim Romão, Cidália
Candeias, João Borges e Mª de Lourdes Marques o apoio nos ensaios de campo.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – COCKS, P. S. – Ecology of herbaceous perennial legumes: a review of characteristics
that may provide management options for the control of salinity and waterlogging in
dryland cropping systems. In: "The University of Western Australia Report". Perth, Plant
Sciences, Faculty of Agriculture, 2000.
2 – MESQUITA, M. E.; ALVIM, A. – Testagem de um Método de Determinação da Capacidade de Troca Catiónica em Solos Salinos. "Pedologia", 16 (1) 1981, p.165-176.
3 – RICHARDS, L. A. – Diagnosis and improvement of sa1ine and a1ka1i soi1s. Washington,
US Dep. Agric., 1954. (Handbook n.º 60).
4 – NOBLE, C. L.; ROGERS, M. J. E. – Response of temperate forage legumes to waterlogging and salinity. In: "PESSARAKLI, Mohammad (ed.). – Handbook of Plant and Crop
Stress", 1994, p. 473-496.
5 – RUMBAUGH, M. D.; DRY, B. M. – Germination salt resistance of alfalfa (Medicago
sativa L.) germplasm in relation to subspecies and centres of diversity. "Plant and Soil",
vol. 124, 1990, p. 47-51.
6 – SHEN, Y.; LI, Y.; YAN, S. G. – Effects of salinity on germination of six salt-tolerant forage
species and their recovery from saline conditions. "New Zealand Journal of Agricultural
Research", vol. 46, 2003, p. 263-269.
7 – SILVA, A. A.; ALVIM, A. S.; SANTOS, M. J. – Métodos de Análise de Solos, Plantas
e Águas. "Pedologia", 10 (3) 1975.
8 – SZABOLCS, I. – An overview on soil salinity and alkalinity in Europe. In: "MISOPOLINOS, N.; SZABOLCS, I. (ed) – Soil salinization and alkalization in Europe". Special
Publication. Thessaloniki, European Society for Soil Conservation, 1996, p. 1-12.
96
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 97–108.
ESTUDO COMPARATIVO DE LEGUMINOSAS ANUAIS PRATENSES
I – BISERRULA PELECINUS L. E ORNITHOPUS COMPRESSUS L.*
Nuno M. Simões; Manuel M. Tavares de Sousa; Ana Rita Costa
Departamento de Forragens, Pastagens e Outras Culturas da Estação Nacional de
Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7351-951 ELVAS
RESUMO
Há já alguns anos que o Departamento de Forragens, Pastagens e Outras Culturas
se dedica ao estudo de leguminosas anuais de ressementeira natural que possam servir de
pioneiras em solos degradados devido à própria natureza dos mesmos e a anos de práticas
agrícolas desajustadas.
Deste modo procederam-se a duas colheitas de germoplasma de modo a obter uma
colecção de ecótipos de Norte a Sul de Portugal e de algumas zonas de Espanha.
Os melhores ecótipos resultantes de cada recolha foram caracterizados em conjunto
nos campos da ENMP. Esta caracterização baseou-se numa série de medições e observações realizadas durante o ano agrícola de 2002/2003, nomeadamente: produção de matéria
seca e de semente, diâmetro da planta, comprimento do ramo maior, vigor invernal e
primaveril, altura do coberto vegetal, porte e datas de floração.
Foram encontrados alguns ecótipos que possuíam um bom conjunto de características, nomeadamente boa produção de matéria seca e semente e uma duração do ciclo
relativamente curta. Esta última característica é de grande importância, uma vez que o
objectivo final deste trabalho será o de obter ecótipos bem adaptados às condições de
sequeiro em solos com baixa capacidade de retenção de água.
PALAVRAS-CHAVES: Leguminosas anuais; Produção de matéria seca; Produção de semente
ABSTRACT
For several years the Department of Forages, Pastures and Other Cultures have
been dedicated to the study of annual pasture legumes of natural re-sowing that may serve
as pioneer for degradated soils due to their own nature and years of wrong agriculture
practices.
Therefore two collects of Germplasm were done in order to obtain a collection of
ecotypes from North to South of Portugal and from some locations of Spain.
The best ecotypes issued from each collect were jointly characterized in the experimental fields of ENMP. This characterization was based in a series of measures and
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera. Viseu, Maio de 2004.
Trabalho realizado no âmbito do Projecto PARIPIPI E – Promoção da Gestão Integrada e Sustentabilidade de Montados.
97
observations performed during 2002/2003, namely: dry matter and seed production, plants
diameter, length of the major branch, winter and spring vigour, height of plants, growth
habit, flowering date.
Some ecotypes presented a good range of characteristics, namely a good dry matter
production and seed yield and duration of the cycle relatively short. This last characteristic
is very important since the final aim of this work is to obtain ecotypes well adapted to dry
conditions in soils with low capacity of water retention.
KEYWORDS: Annual legumes; Dry matter and seed production
1 – INTRODUÇÃO
O género Biserrula consiste numa só espécie, Biserrula pelecinus (3, 4).
O nome é derivado do Latim bis (duas vezes) e de serrulatus (serra) em
referência à forma da vagem. Esta muito distribuída na Bacia Mediterrânea,
nas Ilhas Canárias e nas terras altas do Quénia, Etiópia e Eritréia (3, 4). É
uma planta com grande resistência à seca. Esta resistência, deve-se em parte
ao seu sistema radicular muito profundo, mais inclusivamente que Ornithopus, o que faz com que se mantenha verde durante mais tempo que outras
leguminosas (1, 5). Possui uma maior adaptação a solos ácidos que se deve
em grande parte a uma maior resistência do Rhizobium específico a estos
solos (3, 5). Produz uma grande quantidade de semente; segundo Loi et al.
(4) o peso de 1000 sementes varia entre 0,9 e 1,6 g, sendo que quase 90% se
mantêm duras depois de passarem dois anos à superfície do solo. Este valor
tem ainda maior importância quando se compara com outras leguminosas tais
como Trifolium subterraneum L., com apenas 10% de sementes duras nas
mesmas condições (4, 5).
Ornithopus compressus tal como a Biserrula adapta-se a qualquer tipo
de solo mas especialmente aos arenosos profundos inclusivamente com acidez
excessiva, uma vez que possui raízes profundas, (2, 5). É moderadamente
tolerante à secura, requer uma precipitação anual de pelo menos 325 mm.
Os ecótipos de ciclo mais longo requerem mais chuva que os de ciclo mais
curto, durante o Outono e Primavera, de modo a encorajar a produção de
semente (2).
2 – MATERIAL E MÉTODOS
O material vegetal utilizado resultou de duas recolhas de germoplasma
feitas em Portugal e Espanha nos anos de 1998 e 2001, realizadas em conjunto
por membros do SIAEX de Espanha, Instituto CLIMA da Austrália, Instituto
98
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Vavilov (Rússia) e da ENMP (Portugal). Como este material foi anteriormente
caracterizado seleccionaram-se aqueles que apresentaram melhores valores de
produção de matéria seca e de semente. No quadro 1 pode-se observar a
proveniência do material utilizado neste ensaio.
QUADRO 1 – Locais de proveniência do material vegetal utilizado neste estudo
Nº campo
Nº recolha
Espécie
Local
1
158 A/01
B. pelecinus
Mirandela – Vila Flor (km 26,7)
2
165 A/01
B. pelecinus
Mirandela – Vila Flor (km 35,5)
3
241 A/01
B. pelecinus
Trancoso – Guarda (km 3,2)
4
321 A/01
B. pelecinus
Vaiamonte
5
38 A/01
B. pelecinus
Benfica do Ribatejo – Almeirim (km 5,6)
6
300 A/01
B. pelecinus
Castelo Branco – Portalegre (km 11,2)
7
L8 (60)
B. pelecinus
Monsaraz
8
L26 (55)
B. pelecinus
S. Aleixo da Restauração
10
L55 (57)
B. pelecinus
El Pintado (Espanha)
11
L60 (59)
B. pelecinus
Constantina (Espanha)
12
141 A/01
O. compressus
Mouços – Perafita (km 17,4)
13
230 A/01
O. compressus
Vila Nova de Foz Côa – Guarda (km 23,8)
14
236 A/01
O. compressus
Vila Nova de Foz Côa – Guarda (km 46,2)
15
240 A/01
O. compressus
Vila Nova de Foz Côa – Guarda (km 49,7)
16
264 A/01
O. compressus
Castelo Branco – Monfortinho (km 1,1)
17
277 A/01
O. compressus
Castelo Branco – Monfortinho (km 28,5)
18
280 A/01
O. compressus
Castelo Branco – Monfortinho (km 32,3)
19
392 A/01
O. compressus
Comporta – Santiago do Cacém (km 9,7)
20
30 A/01
O. compressus
Salvaterra de Magos – Benfica do Ribatejo (km 3)
21
36 A/01
O. compressus
Benfica do Ribatejo – Almeirim (km 5,6)
22
367 A/01
O. compressus
S. Susana
23
L4 (254)
O. compressus
Reguengos de Monsaraz
24
L6 (251)
O. compressus
Reguengos de Monsaraz
25
L41 (272)
O. compressus
Cortegana (Espanha)
O ensaio foi semeado em Outubro de 2002 numa estufa da ENMP, em tabuleiros contendo terra vegetal, de modo a obter 60 plantas viáveis por ecótipo.
No início de Janeiro as plantas foram transplantadas para a folha 5 da ENMP.
O ensaio foi delineado com 4 repetições com 15 plantas por ecótipo dispostas
em linha à distância de 25 cm entre plantas e 2 m entre linhas. Em Julho de
2003 procedeu-se à colheita das plantas, após a maturação da semente.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
99
Realizaram-se diversas medições e observações relativas à morfologia e
ciclo das plantas:
– Produção de matéria seca (Pms) – produção de matéria seca por
planta;
– Produção de semente (Psem) – Produção de semente por planta (em
O. Compressus mediu-se o peso das vagens por planta);
– Comprimento do ramo maior (CRM) – Desde a extremidade do ramo
maior até ao centro da planta, medido na plena floração;
– Diâmetro da planta (D) – Desde a extremidade do ramo maior até
à extremidade do ramo em frente, passando pelo centro da planta,
medido na plena floração;
– Vigor Invernal (Vi) – Numa escala de 1 a 5, do menos vigoroso para
o mais vigoroso, comparou-se o vigor das plantas da mesma espécie,
no final do Inverno;
– Vigor primaveril (Vp) – Numa escala de 1 a 5, do menos vigoroso
para o mais vigoroso, comparou-se o vigor das plantas da mesma
espécie na plena floração;
– Hábito de crescimento ou Porte (P) – Numa escala de 1 a 5, respectivamente, de prostrado a erecto, medida na plena floração;
– Altura do coberto vegetal (A) – Medido no centro da linha, na plena
floração;
– Plena floração (PF) – Número de dias desde a emergência até 50%
das plantas apresentarem flores;
– Duração da floração (DF) – Número de dias desde o início até ao
final da floração.
Os dados foram tratados estatisticamente recorrendo ao programa
STAT-ITCF, para a análise dos componentes principais, e SGPLUS versão
7.0 para a análise de variância e teste de separação de medias. Os gráficos
correspondentes a análise dos componentes principais recorrendo ao programa
NTSYSpc versão 2.01b.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para cada uma das espécies em estudo realizou-se a análise de variância
e o teste de comparação de medias pelo método de LSD (Least Significative
differences) entre os ecótipos. Realizou-se também a análise dos componentes
principais de modo a verificar, no conjunto, quais eram as características que
100
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
mais influência tiveram na produção de matéria seca (Pms) e de semente
(Psem), bem como saber quais eram os ecótipos que apresentavam um melhor
conjunto de características.
3.1 – Biserrula pelecinus
Observando o quadro 2 verifica-se terem existido diferenças muito significativas (p 0,01) entre os ecótipos no que se refere à produção de matéria
seca por planta (Pms) e à produção de semente (Psem), sendo de destacar o
bom comportamento dos ecótipos 7 e 11 (quadro 3).
QUADRO 2 – Quadrados médios e nível de significância para os parâmetros em estudo em
Biserrula pelecinus
Quadrados médios
Causas de variação
Pms
Psem
Vi
Vp
D
Ecótipo
531,5
**
94,6
**
1,8
***
1,3
***
Repetição
335,6
ns
78,1
*
0,7
ns
1,1
*
1561,7
**
575,0
*
Quadrados médios
Causas de variação
Ecótipo
Repetição
CRM
A
P
PF
DF
474,9
***
7,1
ns
0,03
ns
103,5
**
105,4
***
70,4
ns
29,8
**
0,03
ns
18,2
ns
44,1
ns
ns – não significativo; * – significativo; ** – muito significativo; *** – altamente significativo
No que se refere ao vigor invernal (Vi) e vigor primaveril (Vp), bem
como ao diâmetro (D) e comprimento do ramo maior (CRM), observaramse diferenças altamente significativas (p 0,001) entre os ecótipos, sendo o
ecótipo 7 superior, para estas características, a todos os restantes ecótipos. É
de destacar ainda o facto do ecótipo 7 ser aquele que apresenta um menor
número de dias até à plena floração e também uma maior duração da mesma
(quadro 3).
Uma vez estudados os ecótipos para cada característica, individualmente
recorreu-se à análise dos componentes principais para assim se determinar
quais as características que estão mais associadas à produção de matéria seca
e produção de semente e quais os ecótipos que mais contribuíram para essas
características.
Da observação do quadro 4 referente à análise dos componentes principais para os ecótipos de B. pelecinus observa-se a percentagem de variação
explicada pelos eixos 1, 2 e 3, e a soma dos eixos 1 e 2. Na representação
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
101
gráfica optou-se por utilizar os eixos 1 e 2 por ser aqueles que explicam a
maior percentagem de variação. O eixo 1 é responsável por 63,8% da variação
total e o eixo 2 por 16,0% da mesma, pelo que a soma de estes dos eixos
explica 79,8% da variação total.
QUADRO 3 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para B.
pelecinus.
Ecótipo
Pms
Psem
Vp
Vi
D
CRM
A
P
PF
1
27,71 cd
12,06 bcd 2,88 bc
1,50 c
2
43,00 abc
13,06 bc
2,38 b
99,50 b 58,00 b
3
36,43 bcd
10,98 bcd 3,00 bc
1,63 bc
99,75 b 54,75 bc 6,25 1,00 167 ab 34 bc
4
37,06 bcd
1,25 c
88,00 cb 54,00 bc 5,00 1,00 170 a
9,86 cd
3,13 bc
3,00 bc
101,75 b 54,75 bc 7,25 1,00 161 b
DF
33 c
8,00 1,00 166 ab 31 c
32 c
5
23,04 d
5,74 d
2,38 c
1,63 bc
75,00 c
40,00 d
6,75 1,00 166 ab 46 a
6
31,08 cd
7,14 cd
2,50 c
1,25 c
72,50 c
41,00 d
6,00 1,00 171 a
7
59,67 a
17,49 ab
4,50 a
3,50 a
142,50 a
78,50 a
9,25 1,00 154 c
8
27,60 cd
7,78 cd
3,13 bc
1,75 bc
10
38,38 bcd
11,97bcd
3,13 bc
2,00 bc 105,25 b 56,50 b
8,75 1,00 168 ab 35 bc
11
52,61 ab
21,79 a
3,38 b
2,00 bc 104,00 b 56,75 b
8,25 1,00 163 b
85,75 cb 45,50 cd 7,75 1,00 161 b
34 c
44 a
40 ab
37bc
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
Mínimo
23,04
5,74
2,38
1,25
72,50
40,00
5,00 1,00 153,75 30,75
Máximo
59,67
21,79
4,50
3,50
142,50
78,50
9,25 1,25 171,00 46,00
Media
37,66
11,79
3,10
3,10
97,40
53,98
7,33 1,03 164,60 36,48
ICM
13,20
4,75
0,54
0,55
13,87
6,72
2,33 0,16
4,91 4,44
dp
12,86
4,63
0,52
0,54
13,52
6,55
2,28 0,16
4,79 4,33
cv
30,61
41,26
18,60
35,24
20,29
20,19
18,13 7,71
3,09 14,07
dms
18,67
6,72
0,76
0,78
19,62
9,51
3,30 0,23
6,95 6,28
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
Fazendo a representação gráfica (figura 1) com base nos valores de r2 do
quadro 4 e os valores de coordenadas do quadro 5, observa-se a concentração de várias características, tais como, vigor invernal (Vi), vigor primaveril
(Vp), diâmetro (D), comprimento do ramo maior (CRM) e altura (A), junto
à produção de matéria seca (Pms) e à produção de semente (Psem), pelo que
se constata que essas características foram as que mais contribuíram para a
sua formação.
102
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
QUADRO 4 – Correlação entre as variáveis e os eixos principais para B. pelecinus. Qualidade
da representação no plano 1-2.
Variáveis
Eixo 1
Eixo 2
r
Eixo 3
r2
r
r2
Σr2
(Eje 1+2)
0,0430
0,8959
r
r2
Principais
Vp
0,9461
0,8951
0,0275
0,0008
0,2073
Vi
0,9527
0,9076
-0,0314
0,0010
-0,0393
0,0015
0,9086
D
0,9504
0,9033
0,1686
0,0284
0,1923
0,0370
0,9317
CRM
0,9012
0,8122
0,1993
0,0397
0,3413
0,1165
0,8519
A
0,8240
0,6790
0,1781
0,0317
-0,3882
0,1507
0,7107
P
0,0931
0,0087
0,8161
0,6660
-0,5450
0,2970
0,6747
PF
-0,8662
0,7503
0,3739
0,1398
0,0410
0,0017
0,8901
DF
0,3809
0,1451
-0,6137
0,3766
-0,6374
0,4063
0,5217
0,7851
0,6930
0,6164
0,4802
0,1789
0,1809
0,0320
0,0327
0,3184
0,2832
0,1014
0,0802
0,6484
0,5130
Suplementares
Pms
Psem
Valores próprios
Contribuição
Variação total (%)
5,11
63,8
1,28
16,0
1,05
13,2
79,8
r – Coeficiente de correlação entre as variáveis e os eixos principais.
FIGURA 1 – Correlação entre as características e o plano 1-2 e representação gráfica das
coordenadas dos ecótipos de Biserrula pelecinus.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
103
QUADRO 5 – Estudo dos ecótipos de B. pelecinus nos eixos 1 e 2. Qualidade da representação
no plano 1-2.
Ecótipo
1
2
3
4
5
6
7
8
10
11
Eixo 1
Eixo 2
Coordenada
r2
-0,1637
0,4389
-0,7797
-1,9841
-1,7339
-2,9545
5,7666
-0,1628
0,6302
0,9430
0,0156
0,0741
0,3736
0,5691
0,3193
0,9795
0,9716
0,0113
0,0362
0,6962
Coordenada
r2
Σr2
(Eixo 1+2)
-0,0821
0,6245
0,1320
0,2863
-1,7118
-0,0538
-0,7845
-1,0377
2,7743
-0,1471
0,0039
0,1500
0,0107
0,1190
0,3112
0,0003
0,0180
0,4604
0,7015
0,0169
0,0195
0,2241
0,3843
0,6881
0,6305
0,9798
0,9896
0,4717
0,7377
0,7131
r – Coeficiente de correlação entre as variáveis e os eixos principais.
A observação da figura 1 permite-nos verificar que a plena floração e a
duração da mesma encontram-se em quadrantes opostos, pelo que se constata que
as plantas que atingiram mais tarde a plena floração aceleraram o seu ciclo.
Os ecótipos que se encontram no mesmo quadrante juntamente com as características produção de matéria seca e produção de semente seriam aqueles que,
à partida, apresentariam melhor potencial produtivo, no entanto o ecótipo 7 não se
encontra neste quadrante embora seja um dos ecótipos que apresentaram melhor
resultado nestas características. Isto provavelmente deveu-se a que a posição deste
ecótipo foi muito influenciada pelo facto de ter uma maior duração da floração
encontrando-se, por isso, no mesmo quadrante desta característica. Por outro lado
também terá sido influenciado por apresentar um reduzido número de dias até à
plena floração encontrando-se por isso no quadrante oposto desta característica.
3.2 – Ornithopus compressus
Existiram diferenças muito significativas (p 0,01) entre os ecótipos de
Ornithopus compressus na produção de matéria seca (quadro 6), sendo o
ecótipo 15 (66,22 g planta-1) o que apresentou melhor valor para esta característica (quadro 7). Na produção de semente não se verificou qualquer diferença
estatística entre os ecótipos, destacando-se, no entanto, o ecótipo 15 (25,44 g
planta-1) como o que apresentou o melhor valor. No que se refere às outras
características, verificou-se existirem diferenças altamente significativas (p 0,001)
no vigor invernal, vigor primaveril, diâmetro, comprimento do ramo maior e
número de dias até à plena floração. Para as restantes características não se
verificaram diferenças estatísticas entre os ecótipos.
104
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
QUADRO 6 – Quadrados médios e nível de significância para os parâmetros em estudo em
O. compressus
Quadrados médios
Causas de variação
Pms
Psem
Vi
Vp
D
Ecótipo
596,31
**
82,35
ns
1,66
***
1,45
***
868,44 **
Repetição
362,17
ns
112,95
ns
0,47
ns
1,57
**
2351,76 ***
Quadrados médios
Causas de variação
CRM
A
P
PF
Ecótipo
302,75
***
5,37
ns
0,03
ns
262,10
Repetição
517,26
***
26,99
***
0,02
ns
10,98
DF
***
43,34 ns
*
43,92 ns
ns – não significativo; * – significativo; ** – muito significativo; *** – altamente significativo
QUADRO 7 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para
O. compressus.
Ecótipo
Pms
Psem*
Vp
Vi
D
CRM
A
P
PF
DF
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
54,48 abc
35,84 cde
41,88 bcd
66,22 a
44,49 bcd
56,05 ab
45,58 bcd
28,28 de
35,71 de
37,72 bcde
17,65
8,20
18,40
25,44
16,76
20,50
14,60
12,84
14,21
16,55
3,88 ab
3,38 bc
3,50 ab
4,25 a
3,50 ab
3,63 ab
3,38 bc
2,33 d
3,13 bcd
3,13 bcd
2,63 abc
2,75 ab
3,00 a
3,13 a
3,00 a
2,75 ab
2,88 ab
1,50 efg
2,50 abcd
1,88 defg
133,25 bcd
119,25 de
132,50 bcd
142,25 abcd
142,50 abcd
149,00 abc
161,25 a
124,33 cde
148,75 abc
130,50 bcde
69,50 cde
64,75 de
65,00 de
75,50 abcd
76,00 abcd
82,50 ab
87,25 a
66,33 de
81,25 abc
66,25 de
7,75
9,50
7,25
7,50
6,00
5,75
6,00
6,00
6,75
5,75
1,3
1,3
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
182 b
176 cd
178 c
174 d
191 a
190 a
176 cd
176 cd
177 c
174 d
37
45
46
47
44
45
44
43
46
46
22
23
24
25
31,50 de
20,73 e
30,00 de
44,23 bcd
14,81
8,64
11,84
17,61
2,50 d
2,63 cd
2,38 d
2,50 d
2,00 cdef
1,38 fg
1,25 g
2,17 bcde
129,00 bcde
142,00 abcd
105,75 e
153,67 ab
74,67 bcd
76,25 abcd
57,50 e
84,00 ab
5,33
5,25
6,00
7,00
1,0
1,0
1,0
1,0
164 e
178 c
176 cd
173 d
50
45
51
48
5,25
9,50
6,56
1,82
1,80
1,00 164,33 37,00
1,25 190,75 50,75
1,04 177,43 45,37
0,19 1,63 7,09
0,19 1,60 7,00
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
* – Peso das vagens.
dp
20,73
66,22
40,91
13,96
13,80
8,20
25,44
15,57
6,80
6,71
2,33
4,25
3,15
0,58
0,57
1,25
3,13
2,34
0,52
0,52
cv
33,73
43,10
18,10
22,22
13,25
11,97
dms
19,74
9,61
0,82
0,74
25,92
12,56
Mínimo
Máximo
Media (M)
ICM
105,75
161,25
136,71
18,33
18,11
57,50
87,25
73,34
8,88
8,78
27,44 18,27
2,57
0,27
0,90 15,43
2,30 10,02
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
105
O eixo 1 (39,7%) e o eixo 2 (30,3%) são aqueles que melhor explicam
a variação existente, resultando a sua soma em 70,0% da variação total
(quadro 8).
As características que mais contribuíram para a formação do eixo 1
foram o vigor invernal (r2 = 0,7526) e o vigor primaveril (r2 = 0,7795). Para
a formação do eixo 2 as características que mais contribuíram foram o diâmetro (r2 = 0,6805), o comprimento do ramo maior (r2 = 0,7161) e o porte
(r2 = 0,5544).
A análise dos dados indica-nos que a qualidade de representação das
variáveis suplementares produção de matéria seca (Pms) e semente (Psem)
não é muito alta. Variam na mesma direcção e sentido das características
vigor invernal (Vi), diâmetro (D), comprimento do ramo maior (CRM) e plena
floração (PF), como se pode ver na figura 2. Deste modo, parecem ser estas
as características que mais influência tiveram na obtenção de valores elevados
de matéria seca e de semente.
FIGURA 2 – Correlação entre as características e o plano 1-2 e representação gráfica das
coordenadas dos ecótipos de Ornithopus compressus.
106
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
QUADRO 8 – Correlação entre as variáveis e os eixos principais para O. compressus. Qualidade
da representação no plano 1-2.
Variáveis
Eixo 1
Eixo 2
Eixo 3
r
r2
r
r2
Σr2
(Eje 1+2)
r
r2
Principais
Vp
0,8829
0,7795
-0,0375
0,0014
-0,1055
0,0111
0,7809
Vi
0,8675
0,7526
0,1288
0,0166
-0,3301
0,1090
0,7691
D
0,4809
0,2313
0,8249
0,6805
-0,0994
0,0099
0,9117
CRM
0,3523
0,1241
0,8462
0,7161
-0,1596
0,0255
0,8402
A
0,5515
0,3042
-0,6369
0,4056
-0,4372
0,1911
0,7098
P
0,4915
0,2416
-0,7446
0,5544
-0,0032
0,0000
0,7960
PF
0,5652
0,3195
0,1168
0,0136
0,6602
0,4359
0,3331
DF
-0,6493
0,4216
0,1882
0,0354
-0,5439
0,2958
0,4570
0,7375
0,4267
0,5439
0,1821
0,1479
0,3323
0,0219
0,1104
-0,2059
-0,1904
0,0424
0,0363
0,5658
0,2925
Suplementares
Pms
Psem
Valores próprios
Contribuição
Variação total (%)
3,17
2,42
39,7
30,3
1,08
13,5
70,0
r – Coeficiente de correlação entre as variáveis e os eixos principais.
Vendo a representação gráfica (figura 2) com base nos valores de r2 do
quadro 8 e os valores de coordenadas do quadro 9, os ecótipos que parecem
reunir simultaneamente boas características associadas à produção são os
números 15, 16, 17, 18 e 20, apesar dos dois primeiros apresentarem má
qualidade de representação no plano 1-2 (Σr2 < 50%).
QUADRO 9 – Estudo dos ecótipos de O. compressus nos eixos 1 e 2. Qualidade da
representação no plano 1-2.
Ecótipo
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Eixo 1
Coordenada
2,8892
1,4011
0,6188
1,5169
1,5032
1,4702
1,2247
-1,7864
0,3983
-1,1924
-2,5655
-1,3975
-3,4356
-0,6450
r2
0,5004
0,1215
0,1227
0,3382
0,3452
0,2872
0,2060
0,4932
0,0838
0,5803
0,6940
0,3813
0,7137
0,0702
Eixo 2
Coordenada
-2,2413
-3,4373
-0,6741
0,2808
0,9738
1,7203
2,2108
-0,7135
1,1037
-0,2956
0,4485
0,9249
-1,7073
1,4061
r2
0,3011
0,7313
0,1457
0,0116
0,1449
0,3932
0,6714
0,0787
0,6434
0,0357
0,0212
0,1670
0,1762
0,3335
Σr2
(Eixo 1+2)
0,8015
0,8528
0,2684
0,3498
0,4901
0,6804
0,8774
0,5719
0,7272
0,6160
0,7152
0,5483
0,8899
0,4037
r – Coeficiente de correlação entre as variáveis e os eixos principais.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
107
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tentou-se obter alguns ecótipos que apresentassem um bom índice de
produção de matéria seca e de semente e que possuam um ciclo produtivo
relativamente curto. Uma vez que os solos aos quais se destinam tem pH ácido,
pouca espessura e baixa fertilidade e teores reduzidos de matéria orgânica,
o que leva a possuírem baixa capacidade de retenção de água é fundamental
que os ecótipos que possuam um ciclo curto já que a pouca disponibilidade
de água, no fim do ciclo, pode por em causa a produção de semente e a sua
persistência.
Verificou-se que alguns ecótipos em estudo apresentaram um conjunto
de características próximo daquilo que se procurava.
É de realçar o bom comportamento do ecótipo 7 de Biserrula pelecinus
uma vez que apresentou uma superioridade em relação aos restantes ecótipos
em grande parte das características em estudo, melhor produção de matéria
seca e segunda melhor produção de semente, tendo também uma maior precocidade na floração..
Em relação aos ecótipos de Ornithopus compressus, o ecótipo 15 mostrou
os melhores valores de produção de matéria seca e de semente (vagens), vigor
invernal e apresentou também um número de dias até à plena floração abaixo
da média dos ecótipos desta espécie.
BIBLIOGRAFIA
1 – CARR, S. et al. – Attributes of Biserrula pelecinus L. (Biserrula) a new pasture legume
for sustainable farming on acid sandy soils in Mediterranean environments. In: "IX Meeting FAO-CIHEAM sub-network on Mediterranean pasture and fodder crops". Badajoz,
Spain, 26-29 November, 1997, p. 87-90.
2 – FRAME, J. – Ornithopus compressus L.. Página oficial de la FAO, 1988. http://www.fao.org.
3 – HOWIESON, J. G.; LOI, A.; CARR, S. J. – Biserrula pelecinus L. – A legume pasture
species with potential for acid, duplex soils which is nodulated by unique root-nodule
bacteria. "Aust. J. Agric. Res.", 1995, p. 997-1009.
4 – LOI, A. et al. – Morphological characterization of Mediterranean populations of Biserrula
pelecinus L.. "Plant Breeding", 1997, p. 171-176.
5 – LOI, A. et al. – Hardseededness and the pattern of softening in Biserrula pelecinus L.
and Ornithopus compressus L., and Trifolium subterraneum L. seeds. "Aust. J. Agric.
Res.", 1999, p. 1073-1081.
6 – MUSLERA PARDO, E.; RATERA GARCÍA, C. – Praderas y Forrajes – produccion y
aprovechamiento. Madrid, Mundi-Prensa, 1991.
108
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 109–120.
ESTUDO COMPARATIVO DE LEGUMINOSAS ANUAIS PRATENSES
II – TRIFOLIUM CHERLERI; TRIFOLIUM GLOMERATUM; TRIFOLIUM
HIRTUM; TRIFOLIUM LAPPACEUM E TRIFOLIUM RESUPINATUM *
Nuno M. Simões, Manuel M. Tavares de Sousa, Ana Rita Costa, Cláudia Vicente
Departamento de Forragens, Pastagens e Outras Culturas da Estação Nacional de
Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7351-951 ELVAS
RESUMO
Em alguns solos tem-se tornado difícil a instalação de pastagens verificando-se,
em muitos casos, o desaparecimento das leguminosas ao fim de alguns anos. Este facto
deve-se em parte à fraca capacidade de algumas variedades em produzir sementes duras
em quantidades que garantam a sua persistência, bem como a outros factores tais como
um mau maneio da pastagem. Desde há já alguns anos que no Departamento de Forragens,
Pastagens e Outras Culturas da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, se iniciou
um programa de selecção de ecótipos de várias espécies de trevos anuais com o intuito de
procurar plantas que se adaptem a condições edafoclimáticas particularmente difíceis.
Com base em duas recolhas de germoplasma realizadas em 1998 e 2001, foram seleccionados 26 ecótipos, previamente caracterizados morfológica e agronomicamente pertencentes a 5 espécies de trevo (Trifolium cherleri, Trifolium glomeratum, Trifolium hirtum,
Trifolium lappaceum e Trifolium resupinatum) para um estudo comparativo, nomeadamente
no que se refere à produção de matéria seca e semente, vigor invernal e primaveril, diâmetro e comprimento do ramo maior, porte e altura do coberto vegetal, número de dias da
germinação à plena floração e duração da mesma. Foram encontrados alguns ecótipos com
um bom conjunto de características, nomeadamente de Trifolium resupinatum. Será agora
importante verificar o modo como esses ecótipos se irão adaptar a solos problema, mais
especificamente a solos de granito, com possível toxicidade provocada por baixa relação
Magnésio/Manganês (estudo que se encontra a decorrer neste momento).
PALAVRAS-CHAVES: Trevos; Produção matéria seca; Produção de semente.
ABSTRACT
In some soils it has been difficult the establishment of pastures since legumes began to disappear after a few years. This fact is due to the low capacity of some varieties
to produce hard seeds in quantities that guarantee their persistence, and due to other aspects namely bad management of pastures. For several years the Department of Forages,
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
Trabalho realizado no âmbito do Projecto PARIPIPI E – Promoção da Gestão Integrada
e Sustentabilidade de Montados.
109
Pastures and Other Cultures of National Plant Breeding Station have been dedicated to a
selection programme of ecotypes of numerous species of annual clover with the objective
of searching plants that are adapted to soil and climatic conditions particularly severe.
Based on two missions of germplasm recollection conducted in 1998 and 2001, 26
ecotypes were selected, belonging to 5 species of clover (Trifolium cherleri, Trifolium
glomeratum, Trifolium hirtum, Trifolium lappaceum and Trifolium resupinatum) and which were previously characterized, for a comparative study, namely dry matter yield and
seed, winter and spring vigour, diameter and length of the biggest branch, growth habit
and height of vegetable covered, number of days since germination till complete flowering
and its duration. It was identified some ecotypes with a good group of characteristics, in
particular Trifolium resupinatum. It is now important to verify the way how these ecotypes
will adapt to problem soils, specifically granite soils and with the possibility of toxicity by
a low relation Magnesium/ Manganese, study that is being developed at this moment.
KEYWORDS: Clovers; Dry matter yield; Production of seed.
1 – INTRODUÇÃO
O objectivo final deste trabalho será o de obter plantas com boa produção
de matéria seca e semente (com elevada dureza) e que se adaptem a solos
degradados, servindo como pioneiras em zonas onde o trevo subterrâneo e as
luzernas anuais têm dificuldade em persistir.
Segundo Muñoz Rodríguez (5) o Trifolium cherleri é uma espécie com
grande distribuição na Zona Mediterránea e Região Macaronésica (Madeira,
Açores e Canárias). Tem boa adaptação a diversos tipos de solos mas prefere os
de textura arenosa e ácidos. Não tolera o encharcamento (2, 6). Produz grande
quantidade de semente, com um alto grau de dureza, que perde lentamente,
pelo que no Outono pode existir 60 a 70% de sementes duras (2). Não possui
estrogéneos e é um alimento de grande palatabilidade, especialmente quando
seco. O fruto pode conter, no final do verão, um conteúdo de até 13% de
proteína (2, 6). O Trifolium glomeratum encontra-se muito frequentemente em
áreas de baixa pluviosidade (<400 mm) e em condições nas quais grande parte
das leguminosas não persistem. Segundo Bennett (1) esta planta adapta-se a
uma grande diversidade de ambientes pelo que é uma planta a ter em conta.
Trifolium hirtum adapta-se a grande gama de solos, desde arenosos a argilosos
e desde muito ácidos a neutros ou ligeiramente alcalinos. No entanto é extremamente exigente quanto à drenagem (2, 6). Tem grande resistência à seca
na Primavera. Quando atinge a maturação da semente 90 a 95% são duras,
mas no final do Verão essa percentagem pode baixar até aos 30 a 40% (2).
Devido ao seu porte convém reservar do pastoreio a pastagem no primeiro
ano (6). Devido às suas menores exigências nutritivas pode-se usar em solos
mais pobres como pioneira do trevo subterrâneo ou mais correctamente asso-
110
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
ciado com este (2, 6). O Trifolium lappaceum encontra-se distribuído por toda
a Península Ibérica exceptuando a Cordilheira Cantábrica. Também se pode
encontrar no Sudoeste da Ásia, Norte de África e Região Macaronésica (7, 9).
Encontra-se frequentemente em pastagens naturais, tolerando o encharcamento
e alguma salinidade. Trifolium resupinatum é cultivada em muitos países temperados incluindo os Estados Unidos (4). É uma planta de grande importância
na produção de feno no Afeganistão e áreas adjacentes da Ásia de invernos
frios (8). É frequente ser semeada de sequeiro em muitos países, incluindo
Portugal. Tolera a salinidade (3, 8) e o encharcamento (6, 8). Distribui-se por
uma grande gama de solos desde pH < 5,5 até solos alcalinos (8).
2 – MATERIAL E MÉTODOS
Nos anos de 1998 e 2001, o Departamento de Forragens, Pastagens e
Outras Culturas da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP)
realizou recolhas de germoplasma em conjunto com membros do SIAEX de
Espanha, Instituto CLIMA da Austrália, Instituto Vavilov da Rússia. Em 2002
os ecótipos que em ensaios realizados anteriormente apresentaram melhores
valores de produção de matéria seca e de semente; foram semeados numa
estufa da ENMP e posteriormente transplantado para um terreno dessa mesma
instituição. No quadro 1 pode-se observar a proveniência desse material.
O ensaio foi delineado num esquema de blocos casualizados com 4 repetições. Em cada repetição foram colocadas 15 plantas por ecótipo dispostas em
linha, com uma distância de 25 cm entre plantas e 2 m entre linhas. Em Julho
de 2003 procedeu-se à colheita das plantas, após a maturação da semente.
Realizaram-se diversas medições e observações relativas à morfologia e
ciclo das plantas:
– Produção de matéria seca (Pms) – produção de matéria seca por
planta;
– Produção de semente (Psem) – Produção de semente por planta;
– Comprimento do ramo maior (CRM) – Desde a extremidade do ramo
maior até ao centro da planta, medido na plena floração;
– Diâmetro da planta (D) – Desde a extremidade do ramo maior até
à extremidade do ramo em frente, passando pelo centro da planta,
medido na plena floração;
– Vigor Invernal (Vi) – Numa escala de 1 a 5, do menos vigoroso para
o mais vigoroso, comparou-se o vigor das plantas da mesma espécie,
no final do Inverno;
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
111
– Vigor primaveril (Vp) – – Numa escala de 1 a 5, do menos vigoroso
para o mais vigoroso, comparou-se o vigor das plantas da mesma
espécie na plena floração;
– Hábito de crescimento ou Porte (P) – Numa escala de 1 a 5, respectivamente, de prostrado a erecto, medida na plena floração;
– Altura do coberto vegetal (A) – Medido no centro da linha, na plena
floração;
– Plena floração (PF) – Número de dias desde a emergência até 50%
das plantas apresentarem flores;
– Duração da floração (DF) – Número de dias desde o início até ao
final da floração.
QUADRO 1 – Locais de proveniência do material vegetal utilizado neste estudo
N.º campo
N.º recolha
34
310 A/01
35
112
Espécie
Local
295 A/01
T. cherleri
T. cherleri
Portalegre – Elvas (km 31,8)
Castelo Branco
Estremoz – Arraiolos (km 38)
36
346 A/01
T. cherleri
37
L4 (426)
T. cherleri
Reguengos de Monsaraz
38
L5 (428)
T. cherleri
Reguengos de Monsaraz
39
L8 (398)
T. cherleri
Monsaraz
40
442 A/01
T. glomeratum
Zambujeira do Mar – V. N. Mil Fontes (km 16,9)
Reguengos de Monsaraz
41
L4 (324)
T. glomeratum
42
L6 (326)
T. glomeratum
Reguengos de Monsaraz
43
L8 (327)
T. glomeratum
Monsaraz
45
309 A/01
T. hirtum
Veiros – Sousel (km 2)
46
178 A/01
T. hirtum
Peredo
47
186 A/01
T. hirtum
Mogadouro (km 9,4)
48
198 A/01
T. hirtum
Vale de Porco – Torre de Moncorvo (km 2,4)
49
93 A/01
T. lappaceum
Tomar
50
363 A/01
T. lappaceum
S. Susana
51
L6 (366)
T. lappaceum
Reguengos de Monsaraz
52
L7 (368)
T. lappaceum
Reguengos de Monsaraz
53
L6 (367)
T. lappaceum
Reguengos de Monsaraz
54
305 A/01
T. resupinatum
Castelo Branco – Portalegre (km 52,3)
55
318 A/01
T. resupinatum
Vaiamonte
56
4 A/01
T. resupinatum
Estação Vitivinicola Nacional (Dois Portos)
57
56 A/01
T. resupinatum
Vale de Cavalos
58
338 A/01
T. resupinatum
Estremoz
59
60
L28 (139)
L59 (140)
T. resupinatum
T. resupinatum
Moura
Constantina
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Os dados foram tratados estatisticamente recorrendo ao programa SGPLUS
versão 7.0 para a análise de variância e teste de separação de médias.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Embora o objectivo do trabalho não seja a comparação entre diferentes
espécies mas sim a caracterização e comparação entre ecótipos da mesma
espécie, pensámos ser interessante iniciar o trabalho com a apresentação das
médias por espécie (média dos vários ecótipos) de diversos parâmetros.
Observando a figura 1 podemos verificar que a maior produção média de
matéria seca por planta correspondeu a Trifolium hirtum, seguido de Trifolium
lappaceum e de Trifolium resupinatum, os ecótipos correspondentes a Trifolium
cherleri e Trifolium glomeratum apresentaram valores de produção de matéria
seca relativamente baixos. No que se refere à produção de semente em gramas
por planta o maior valor pertenceu também a T. hirtum, embora em número
de sementes (rectângulos com fundo branco no gráfico) seja T. resupinatum
que apresenta o valor mais elevado.
FIGURA 1 – Valores médios de produção de matéria seca, produção de semente e número
de sementes por planta.
O maior diâmetro e o maior comprimento do ramo maior pertenceram
aos ecótipos de T. resupinatum, enquanto que T. hirtum, como seria de esperar,
foi aquele que teve uma maior altura das plantas (figura 2).
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
113
FIGURA 2 – Valores médios de diâmetro, comprimento do ramo maior
e altura média das plantas
Os melhores valores de vigor invernal, característica de estrema importância na selecção de ecótipos para a constituição de pastagens, por ser o Inverno
uma altura em que a disponibilidade de alimento para o gado escasseia, bem
como de vigor primaveril, pertenceram aos ecótipos de T. hirtum, embora
T. lappaceum e T. resupinatum também tenham apresentado valores bastante
próximos (figura 3).
FIGURA 3 – Vigor invernal e vigor primaveril (1-5)
Não se verificaram diferenças muito acentuadas entre as várias espécies
no que se refere ao número de dias desde a sementeira até à plena floração
e na duração da floração, apenas se verificando que os ecótipos de T. lappaceum foram ligeiramente mais tardios e apresentaram uma menor duração da
floração (figura 4).
114
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
FIGURA 4 – Valores médios de número de dias da sementeira à plena floração
e duração da floração.
Para cada espécie realizou-se a análise de variância e o teste de comparação de médias pelo método de LSD (Least Significative differences) entre os
ecótipos para verificar se existiam diferenças entre os ecótipos para os vários
parâmetros em estudo (quadro 2).
QUADRO 2 – Quadrados médios e nível de significância para os parâmetros em estudo
Quadrados Médios
Causas
de variação
Pms
Psem
Vi
Vp
D
CRM
177,0 *
52,3 *
A
P
PF
DF
Ecótipo
96,4 ns
7,8 ns
0,49 ** 1,57 **
Repetição
56,7 ns
5,0 ns
0,17 ns 0,74 ns
Ecótipo
71,6 *
2,0 ns
0,88 ns 0,35 ns 1203,4 *** 341,6 *** 10,17 ns 0,50 * 113,4 ns 63,4ns
Repetição
47,2 ns
3,6 ns
0,54 ns 0,47 ns
Ecótipo
407,0 ns 29,1 ns
0,29 ns 0,02 ns
Repetição
508,6 ns 15,1 ns
0,17 ns 0,31 ns
247,2 ** 73,7 ** 76,08 *
742,7 ** 22,9 ns
0,52 *
277,7 *
T. cherleri
18,7 ns 16,9 ns
2,97 ns 0,03 ns 37,2 *
52,9 ns
7,17 ** 0,03 ns 43,6 *
23,6 ns
T. glomeratum
289,6 * 117,1 *
13,67 ns 0,17 ns 47,9 ns
2,1 ns
T. hirtum
5,7 ns
3,6 ns 78,42 *
0,08 ns 77,6 **
2,6 ns
0,08 ns 36,1 *
8,6 ns
T. lappaceum
Ecótipo
Repetição
14,7 ns
0,30 *
2,0 ns
0,15 ns 0,05 ns
94,1 **
5,83 ns 0,02 ns 56,1 ns
204,3 ns 150,0 ** 11,45 *
7,2 ns
0,02 ns 41,0 ns 49,0 ns
T. resupinatum
Ecótipo
532,1 *
7,4 ns
0,43 ns 2,05 *** 2678,2 ** 868,6 *** 35,58 ** 0,04 ns 57,6 *** 45,8 *
Repetição
138,5 ns
9,7 ns
0,41 ns 0,55 ns
655,9 ns 148,9 ns 25,81 *
0,04 ns 53,0 *** 49,3 *
ns – não significativa ; * – significativa ; ** – muito significativa ; *** – altamente significativa
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
115
3.1 – Trifolium cherleri
Da observação do quadro 2 verificou-se não terem existido diferenças
significativas entre os ecótipos no que se refere às características de produção,
bem como para a altura, porte e duração da floração. No entanto pode-se dar
destaque ao ecótipo 35 como sendo aquele que melhores valores de produção,
tanto de matéria seca como de semente, apresentou (quadro 3). A produção
média de matéria seca por planta variou entre 9,63 e 21,68 gramas, enquanto
que a produção de semente variou entre 1,43 e 4,96 gramas.
No que se refere às restantes características em estudo, observaram-se
diferenças muito significativas entre os ecótipos para os vigores invernal e
primaveril e significativas para o diâmetro, comprimento do ramo maior e
número de dias até à plena floração.
QUADRO 3 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para
T. cherleri.
Ecótipo
Pms
Psem
Vp
Vi
D
CRM
A
34
35
16,65
21,68
3,77
4,96
3,25 a
3,13 a
2,50 a 56,50 ab
2,25 ab 60,50 a
36
17,97
3,93
2,75 a
37
10,42
1,80
2,50 ab 1,67 c
28,00 abc
32,25 a
4,75
4,00
1,00 143 ab
1,00 147 a
26
27
2,25 ab 47,50 bcd 27,00 abc
3,75
1,00 146 ab
26
4,00
1,00 144 ab
38
39
9,63
11,07
1,43
2,56
1,88 b
1,75 b
28
2,75
5,25
1,00 138 c
1,00 142 bc
36
26
54,00 abc 31,00 ab
2,00 bc 43,75 d
1,63 c 45,75 cd
22,75 c
24,75 bc
P
PF
DF
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
Mínimo
9,63
1,43
1,75
1,63
43,75
22,75
2,75
1,00 138,00
26,25
Máximo
21,68
4,96
3,25
2,50
60,50
32,25
5,25
1,00 146,50
35,50
Média (M)
28,21
14,57
3,07
2,54
2,05
51,33
27,63
4,08
1,00 143,21
ICM
6,80
2,26
0,58
0,32
6,67
4,45
1,27
0,00
3,10
dp
6,38
2,11
0,54
0,30
6,25
4,17
1,20
0,00
2,91
4,78
cv
33,69
44,49
24,62
17,09
12,96
13,09
21,09
0,00
2,13
12,90
9,61
3,19
0,82
0,45
9,43
6,29
1,80
0,00
4,39
7,20
dms
5,09
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
3.2 – Trifolium glomeratum
Existiram diferenças altamente significativas entre os ecótipos para o
diâmetro e comprimento do ramo maior e significativas para a produção
de matéria seca e porte. Para as restantes características não se verificaram
quaisquer diferenças (quadro 2).
De um modo geral não se pode destacar nenhum ecótipo em particular
no conjunto de características (quadro 4).
116
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
QUADRO 4 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para
T. glomeratum
Ecótipo
40
41
42
43
Pms
Psem
Vp
Vi
D
CRM
11,83 ab 2,46
13,12 ab 1,52
2,38
2,63
2,38
1,63
64,75 b
35,00 c
96,50 a
54,50 a
8,25 1,75 a 153
4,75 1,25 ab 146
21
28
7,72 b
17,99 a
2,38
3,00
1,25
1,75
73,50 b
95,75 a
42,25 b
53,00 a
5,00 1,00 b
6,00 1,00 b
141
28
151
21
0,80
2,01
A
P
PF
DF
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
Mínimo
7,72
0,80
2,38
1,25
64,75
35,00
4,75
1,00
141
21
Máximo
17,99
2,46
3,00
2,38
96,50
54,50
8,25
1,75
153
28
Média (M)
12,67
1,70
2,59
1,75
82,63
46,19
6,00
1,25
148
24
ICM
4,58
1,29
0,72
0,73
7,53
5,13
3,21
0,37
7,35
7,17
dp
4,05
1,13
0,64
0,65
6,66
4,53
2,84
0,33
6,50
6,34
cv
33,41
42,05
11,39
26,73
19,36
20,01
6,48
1,82
1,02
1,03
10,65
7,25
dms
26,57 28,28
4,54
0,53
3,60 16,29
10,40 10,14
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
3.3 – Trifolium hirtum
Da análise de variância que se fez para T. hirtum (quadro 2), apenas
se encontraram diferenças significativas entre ecótipos para a altura (p 0,05)
e para a plena floração (p 0,01). No quadro 5 podem-se observar os valores
médios dos parâmetros em estudo para os 4 ecótipos.
QUADRO 5 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para
T. hirtum.
Ecótipo
Pms
Psem
Vp
Vi
D
CRM
A
P
PF
45
46
77,97
77,77
14,94
14,35
4,13
4,13
3,38
3,63
95,50
96,25
49,75
50,25
34,25 a
31,75 ab
4,75
5,00
147 a
142 b
32
34
47
48
60,02
60,79
10,05
9,92
4,25
4,13
3,50
3,00
94,50
93,50
51,25
49,00
37,50 a
27,00 b
5,00
4,75
138 b
137 b
33
33
4,75
5,00
137
147
32
34
141
33
DF
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
Mínimo
Máximo
60,02 9,92
77,97 14,94
4,13
4,25
3,00
3,63
93,50
96,25
49,00
51,25
27,00
37,50
Média (M)
69,14 12,31
4,16
3,38
94,94
50,06
32,63
4,88
ICM
15,62
4,49
0,52
0,35
6,06
3,13
4,10
0,42
3,28
3,04
dp
13,81
3,97
0,46
0,31
5,35
2,77
3,62
0,37
2,90
2,69
cv
dms
14,59 21,91
22,09 6,35
1,50
0,73
8,00
0,50
1,26
8,57
1,89
4,43
13,57
5,80
2,96
0,60
3,13
4,64
2,44
4,30
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
117
3.4 – Trifolium lappaceum
Para T. lappaceum a análise de variância (quadro 2) permite constatar
que existiram diferenças muito significativas para a produção de matéria seca
destacando-se para esta característica os ecótipos 51 (67,87 g planta-1) e 53
(69,41 g planta-1), com uma superioridade significativa em relação aos outros
ecótipos (quadro 6). Verificou-se também existirem diferenças altamente significativas para o comprimento do ramo maior e diferenças significativas para
o vigor invernal, vigor primaveril e diâmetro.
QUADRO 6 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para
T. lappaceum.
Ecótipo
Pms
Psem
Vp
Vi
49
38,68 b
5,78
3,75 b
2,63 b
50
52,67 b
4,92
4,00 b
2,88 b
51
67,87 a
7,43
4,50 a
3,50 a
111,50 a
52
45,10 b
4,54
4,00 b
3,00 ab
53
69,41 a 10,36
4,13 ab 2,63 b
D
CRM
A
P
PF
DF
94,50 bc 48,75 b
5,00
1,00
161
17
105,50 ab 58,00 a
6,25
1,00
163
16
57,50 a
7,75
1,00
161
14
98,00 bc 51,00 b
5,50
1,00
155
16
91,00 c
7,50
1,00
155
14
47,75 b
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
Mínimo
38,68
4,54
3,75
2,63
91,00
47,75
5,00
1,00
155
14
Máximo
69,41
10,36
4,50
3,50
111,50
58,00
7,75
1,00
163
17
159
15
Média (M)
54,75
6,60
4,08
2,93
100,10
52,60
6,40
1,00
ICM
10,65
3,37
0,28
0,40
8,70
4,50
1,58
0,00
6,63 8,49
dp
9,78
3,10
0,26
0,37
7,99
4,13
1,45
0,00
6,08 7,79
cv
24,89
35,98
6,72
12,31
8,32
9,22
18,86
0,00
2,36 8,74
dms
15,06
4,77
0,40
0,57
12,31
6,36
2,23
0,00
9,38 12,01
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
3.5 –Trifolium resupinatum
Do estudo dos ecótipos pertencentes a T. resupinatum e recorrendo à
análise de variância (quadro 2), verificou-se existirem diferenças significativas
entre ecótipos (p 0,05) para a produção de matéria seca. Para a produção de
semente não se verificaram diferenças entre os ecótipos. Na análise realizada
para o vigor primaveril encontraram-se diferenças altamente significativas entre
os ecótipos, com destaque para os ecótipos 55 e 57 que foram significativamente superiores aos restantes (quadro 7) o que se reflectiu numa maior
produção de matéria seca.
118
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
QUADRO 7 – Médias e respectiva comparação pelo método do LSD (ao nível de 5%) para T.
resupinatum.
Ecótipo
Pms
Psem
Vp
Vi
D
54
35,36 b
5,28
3,38 b
2,63
55
63,04 a
6,96
5,00 a
3,63
56
41,65 b
6,25
3,50 b
57
65,20 a
8,05
4,75 a
58
46,68 ab 9,27
59
43,53 b
60
40,63 b
CRM
A
P
PF
DF
135,25 bc
74,50 b
3,25 c
189,00 a
103,00 a
2,88
103,75 c
56,00 c
3,13
142,00 b
80,50 b
3,38 b
2,88
144,25 b
78,75 b
8,29
3,75 b
3,00
124,50 bc
64,50 bc
4,50 c
1,00
143 b
29 cd
6,73
3,25 b
2,75
135,25 bc
72,50 b
3,50 c
1,00
144 b
37 ab
1,00
153 a
27 d
8,50 ab 1,00
145 b
31 bcd
5,50 bc 1,00
142 b
38 a
1,25
142 b
34 abc
5,25 bc 1,00
143 b
34 abc
11,50 a
Valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente entre si.
Mínimo
35,36
5,28
3,25
2,63
103,75
56,00
3,25
1,00
142
27
Máximo
65,20
9,27
5,00
3,63
189,00
103,00
11,50
1,25
153
38
144
33
Media (M)
48,01
7,26
3,86
2,98
139,14
75,68
6,00
1,04
ICM
13,24
1,92
0,46
0,52
24,28
11,58
2,79
0,20
2,19 4,44
dp
12,61
1,82
0,44
0,50
23,11
11,02
2,66
0,19
2,08 4,23
18,60
19,47
49,71
9,12
2,63 12,46
34,34
16,38
3,95
0,28
3,10 6,28
cv
24,02
dms
18,73
18,67 18,56
2,71
0,65
10,94
0,74
dp – desvio padrão; ICM – intervalo de confiança da média; cv – coeficiente de variação; dms – diferença mínima
significativa.
Nas características diâmetro e comprimento do ramo maior, a análise de
variância mostrou existirem diferenças muito significativas (p 0,01) e altamente
significativas (p 0,001), respectivamente, entre os ecótipos. O ecótipo 55 foi
significativamente superior aos restantes com um diâmetro de 189,00 cm e um
comprimento do ramo maior de 103,00 cm (quadro 7). Para a altura da planta
verificaram-se diferenças muito significativas entre os ecótipos. O ecótipo 54 foi
mais tardio que os restantes ecótipos atingindo a plena floração ao fim de 153
dias. Este ecótipo foi também aquele que apresentou uma duração de floração
mais curta (27 dias) e a análise de variância realizada para esta característica
mostrou haver diferenças significativas entre os ecótipos (quadro 2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procurou-se identificar ecótipos que apresentassem simultaneamente bons
índices produtivos e uma duração de ciclo média/curta. Uma vez que os solos
para que se destinam se caracterizam por pH baixo, baixa espessura e baixos
teores de matéria orgânica, o que levará a uma baixa capacidade de retenção
de água, é fundamental que os ecótipos que serão pioneiros apresentem um
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
119
ciclo curto uma vez que a pouca disponibilidade de água poderá pôr em causa
a produção de semente e consequentemente a sua persistência.
São de destacar os valores relativamente elevados de potencial de produção de matéria seca e semente de Trifolium hirtum, Trifolium lappaceum e
Trifolium resupinatum para as condições do ensaio, embora não apresentem
uma duração do ciclo tão curta como seria desejável.
Verificou-se um mau comportamento dos ecótipos de Trifolium cherleri e
Trifolium glomeratum, embora para condições edáficas mais adversas possam
ser plantas com algum interesse devido à sua rusticidade.
Por fim destaca-se a necessidade de se continuar a realizar recolhas
de germoplasma com o intuito de encontrar plantas com maior capacidade
produtiva e boa capacidade de persistência em solos difíceis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – BENNETT, S. J. – Genetic variation between and within two populations of Trifolium
glomeratum (cluster clover) in Western Australia. "Aust. J. Agric. Res.", vol. 48. 1997.
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2 – CRESPO D. G. – Curso de Gestão das Pastagens. Elvas, 2002.
3 – HALL, E. J.; EVANS, P. M. – The performance of a range of annual pasture legumes
on acid saline soils in Tasmania. In: "Proceeding of the 10th Australian Agronomy Conference". Hobart, 2001.
4 – MAXTED, N.; BENNETT, S. J. – Plant genetic resources of legume in the Mediterranean.
London, Kluwes Academic, 2001.
5 – MUÑOZ-RODRÍGUEZ, A. F. – Revisión del género Trifolium sect. Trifolium en la Península Ibérica e Islas Baleares. "Acta Botánica Malacitana", vol. 17, 1992, p. 79-118.
6 – MUSLERA PARDO, E.; RATERA GARCÍA, C. – Praderas y forrajes – producción y
aprovechamiento. Madrid, Mundi-Prensa, 1991.
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Minister of Agriculture, forestry and fisheries on a germplasm collecting mission to the
Azores. Department of Agriculture, Government of Western Australia, 2005.
8 – SUTTIE J. M. – Trifolium resupinatum L. Página oficial de la FAO, 1999. http//www.fao.org.
9 – ZOHARI, M; HELLER, D. – The Genus Trifolium. Jerusalem, The Israeli Academy of
Sciences and Humanities. 1984.
120
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 121–130.
EFEITO DO ISOLAMENTO ARTIFICIAL NA REGENERAÇÃO
DE AMOSTRAS DE SEMENTE LOLIUM PERENNE
– PRODUÇÃO DE SEMENTE*
C. VICENTE, T. CARITA, F. RICARDO, M. P. SEQUEIRA, V. P. CARNIDE♦,
M. TAVARES DE SOUSA
Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP) – Estrada Gil Vaz
– Apartado 6 – 7351 ELVAS
♦Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
– Apartado 1013 – 5001-911 VILA REAL
RESUMO
Com o objectivo de estudar o efeito do isolamento artificial na regeneração de
amostras de semente de Lolium perenn** foi realizado um ensaio no qual 10 populações
desta espécie pratense, provenientes de 5 países europeus (duas populações de cada país)
foram submetidas a dois tratamentos diferentes (Tratamento Isolado – TI; Tratamento Não
Isolado – TNI). Em cada uma das duas repetições, foram instaladas 10 populações completamente casualizadas por tratamento, servindo a cultura da aveia como barreira entre
cada parcela (TI + TNI) da experimentação. Após observação do início da floração e antes
da antese, procedeu-se ao isolamento artificial (câmara temporária de isolamento com tecido de algodão) do tratamento TI. A existência de barreiras (cultura de aveia e isolamento
artificial) contribuiu para minimizar o fluxo de pólen das diferentes populações presentes
neste ensaio. Constatou-se que a produtividade no Tratamento Isolado foi significativamente menor comparando com o Tratamento Não Isolado. Para o facto contribuíram as
diferentes condições a que as populações isoladas estiveram sujeitas, nomeadamente temperatura e humidade mais elevadas, exposição à luz solar mais reduzida, e outros factores
incontroláveis que se reflectiram na respectiva produção.
PALAVRAS-CHAVES: Lolium perenne; Isolamento; Produtividade; Conservação de germoplasma.
ABSTRACT
The aim of this trial was to study the effect of artificial isolation on the regeneration
of Lolium perenne using 10 populations of this perennial specie from five European countries (two population from each country) and submitting them to two different treatments
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
** Trabalho enquadrado no projecto internacional ICONFORS, "Improving germ-plasm conservation methods for perennial European forage species", para a optimização dos actuais
protocolos de multiplicação de sementes de colecções de germoplasma.
121
(Isolated treatment – IT; Non Isolated treatment – NIT). In each of he two repetitions, the
10 populations were randomly established on each treatment. An oat culture was used as
barrier between each plot (IT+NIT). The artificial isolation of IT treatment (temporary
isolation chambers with cotton fabric) was raised after observation of the beginning of
flowering, just before antesis. The existence of barriers different populations present in
this trial. The productivity on the Isolation treatment was significantly less comparing
with the Non-Isolated treatment. For this fact had contributed the different conditions
that the isolated populations were submitted, namely higher temperatures and moisture,
less exposure to light, and other incontrollable factors that had reflected on the respective
production.
KEYWORDS: Lolium perenne; Isolation; Productivity; Germplasm conservation.
1 – INTRODUÇÃO
O principal objectivo dos bancos de Germoplasma consiste em assegurar
a preservação de toda a variabilidade genética disponível numa população. Para
tal, a conservação dos recursos genéticos é facilmente alcançada recorrendo
a um número mínimo de ciclos de regeneração sob um ambiente o mais
semelhante possível ao habitat nativo da população (5). Da mesma forma, é
favorável minimizar o custo efectivo de cada regeneração, significando com
isto: maximizar a qualidade e optimizar a quantidade de semente produzida,
mantendo se possível a integridade genética da população; ao mesmo tempo
pretende-se minimizar os custos, através do uso eficiente de equipamento e
recursos disponíveis sem sacrificar a qualidade da semente (3).
A principal causa de perda de integridade genética durante a regeneração
é a derivação genética como resultado de efeitos aleatórios, selecção preferencial de genótipos e contaminação por pólen ou semente não oriundo da
população em causa. A contaminação por pólen estranho tem como principais
origens: parcelas de regeneração adjacentes ao ensaio, culturas ou populações
selvagens próximas. Nestas circunstâncias, vários são os protocolos a seguir,
entre os quais a utilização de câmaras de isolamento temporário ou permanente
construídas em redor das parcelas e erguidas, pelo menos, durante o período
de antese (3).
O presente estudo constitui a segunda fase de trabalhos do projecto
Europeu ICONFOR*, o qual foi realizado nos países parceiros – Reino Unido,
Dinamarca, República Checa, Noruega e Portugal – no entanto com algumas
alterações quanto às metodologias empregues. Em Portugal, o principal objectivo consistiu em analisar o efeito do isolamento artificial, como método
* http://www.igergru.bbsrc.ac.uk/iconfors/index.htm
122
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
de baixo custo para prevenção da contaminação, na variação de produção de
semente. Foram utilizadas populações de azevém perene oriundas do PGRU,
Plant Genetic Resources Unit, do Institute of Grassland and Environmental
Research (IGER)*, o qual reúne todos os esforços para a recolha e caracterização de gramíneas forrageiras com vista a estudos de genética de populações,
citogenética e fisiologia das plantas e em adição, fornecer populações elite
para produção de variedades. Esta unidade apresenta, ainda, a responsabilidade
particular sobre as bases de dados Europeias das espécies de L. perenne, L.
multiflorum e T. repens e constitui um papel relevante no estabelecimento da
colecção central de L. perenne (1).
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
No presente trabalho foram utilizadas 10 populações de azevém perene,
duas entradas de cada país. Na figura 1 estão representadas geograficamente
as 10 populações regeneradas (uma das duas populações proveniente de um
local com condições ambientais e geográficas semelhantes ao local de experimentação).
Ba13670
Ba13669
Ba13279
Ba13672
Ba13671
Ba13227
Ba11894
Ba11865
Ba13105
Ba13151
FIGURA 1 – Localização geográficas das populações regeneradas.
* Institute of Grassland and Environmental Research. Plas Gogerddab, Aberystwyth, Ceredigion SY23 3 EB, UK
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
123
O ensaio, iniciado em Setembro de 2001, foi instalado no campo experimental da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, em Elvas, em
dois blocos, contendo cada um 10 parcelas completamente casualizadas (cada
parcela com 2 tratamentos, como ilustrado na figura 2). Numa primeira fase,
sementes de cada população de azevém perene foram germinadas de modo
a obter 49 plantas (genótipos) em cada uma das 10 entradas. Estas plantas
permaneceram na estufa até apresentarem um estado de desenvolvimento mais
ou menos idêntico entre todas. A terra foi preparada e para minimizar fluxo
de pólen entre parcelas adjacentes foi semeada aveia, variedade Sta. Eulália
caracterizada por atingir uma altura superior a 1,5 metros.
FIGURA 2 – Esquema representativo do Bloco 1 no ensaio: Tratamento Isolado
(TI – parcelas a negro) versus Tratamento não Isolado (TNI).
Nos finais de Janeiro princípios de Fevereiro de 2002, foram transplantadas para o campo, nas duas repetições, as populações: Ba13670 (Noruega);
Ba13672 e Ba13671 (Dinamarca); Ba13279 e Ba13227 (Reino Unido), Ba11894
e Ba11865 (República Checa); e Ba13105 (Portugal). As populações Ba13151
(Portugal) e Ba13669 (Noruega) foram transferidas, respectivamente, a 28 de
Fevereiro (repetição 1) e 26 de Março de 2002 (repetição 2). O ensaio foi
fertilizado com 30 unidades de N por hectare (27 de Fevereiro de 2002),
aplicando-se posteriormente fertilizante foliar numa proporção de 17,5 ml por
cada 10 litros de água. Para evitar o aparecimento de ferrugem foi aplicado
fungicida Tilt (0,5 l/ha, 250 g/l propiconazol) a 24 de Abril e 31 de Maio
de 2002.
124
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Foram efectuadas observações regulares do ensaio (três vezes por semana)
para registo do desenvolvimento de cada população, e naturalmente de cada
genótipo constituinte. Previamente à antese e após início de floração (verificado
pelo aparecimento da terceira espiga), foi instalado o isolamento artificial. Em
cada bloco, uma população de cada parcela (TI + TNI) foi isolada do exterior
com a construção de câmaras temporárias de isolamento com estruturas em
ferro cobertas com tecido de algodão (figura 3).
FIGURA 3 – Isolamento Artificial das populações.
As estruturas foram mantidas até à colheita, realizada em Julho e Agosto
de 2002. Após observação do estado de maturação de cada planta, foi realizada a colheita a segurando a planta acima do local de corte para evitar
danificação das panículas. As panículas de cada genótipo foram acondicionadas
individualmente em sacos de papel e estes colocados na estufa para redução
do teor de humidade até 15-20%, ideal para o processamento da semente.
Posteriormente efectuou-se a debulha e limpeza em pequenas máquinas de
laboratório. Antes da pesagem, as amostras foram submetidas à secagem de
modo a reduzir o teor de humidade para 5%. Todo o material foi pesado e
armazenado na câmara frigorífica para conservação.
A análise estatística foi realizada no programa SGPLUS, versão 7.0.
Foram apenas considerados os genótipos que apresentaram floração com ou
sem produção de sementes.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ensaio decorreu no ano agrícola de 2001/2002, o qual se caracterizou
por possuir temperaturas máximas moderadas, que não excederam os 35 ºC
nos meses de Verão, e temperaturas mínimas abaixo dos 5 ºC nos meses de
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
125
Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Registaram-se também três picos de precipitação
superiores a 90 mm (média mensal) nos meses de Outubro, Janeiro e Março.
As temperaturas baixas no início do ano favoreceram o período de vernalização
das populações que, como referido anteriormente, foram mantidas na estufa até
finais de Janeiro. Segundo Heide (4) a maioria das gramíneas perenes, típicas
de climas temperados, apresentam necessidade dupla para indução à floração,
isto é, temperaturas baixas durante a vernalização irão, independentemente ou
por interacção, provocar a primeira indução e temperaturas mais elevadas são
necessárias para a floração e antese.
Como referido anteriormente, a maioria das populações foram transferidas para o campo em finais de Janeiro à excepção das populações Ba13151
e Ba13669 que registaram um atraso correspondente à perda de plantas e
consequente reposição das mesmas. Para o ensaio foi previsto um total de
1960 plantas (2 repetições × 2 tratamentos × 10 populações × 49 genótipos),
no entanto apenas 1297 foram consideradas para análise (genótipos que
apresentaram floração com ou sem produção de semente). O seguinte gráfico
expõe os resultados referentes às produções médias de semente em cada um
dos tratamentos e nas respectivas populações testadas.
Produção média de sementes
(gramas)
12
10
8
6
4
2
0
Ba
Ba
Ba
Ba
Ba
Ba
Ba
Ba
Ba
Ba
13279 13227 13670 13669 11865 11894 13671 13672 13151 13105
Populações
Tratamento Isolado
Tratamento não Isolado
GRÁFICO 1 – Produção média de semente de azevém perene por genótipo
(Tratamento Isolado versus Tratamento não Isolado).
No Tratamento Isolado, as populações portuguesas Ba13151 e Ba13105
apresentaram os melhores resultados, respectivamente 6,6751g e 3,3884g. A
população Ba13151 (espécie híbrida de azevém de ciclo anual) apresentou a
126
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
melhor produção mesmo registando um atraso na transplantação. A população
norueguesa, Ba13669, foi um caso particular neste ensaio uma vez que foi a
última a ser transferida para o campo. Não se registou produção no Tratamento
Isolado ao contrário do Tratamento Não Isolado (3,5754g de semente), no qual
as populações foram transplantadas na mesma altura que as outras. O tempo
necessário para adaptação foi mais limitado em comparação com as restantes
populações, não vindo a apresentar o mesmo estado de desenvolvimento que
as restantes. Igualmente sendo uma população proveniente de um país nórdico
não conseguiu sobreviver às condições do Tratamento Isolado (como exemplo,
temperaturas elevadas).
De um modo geral, o número de genótipos (N) sobreviventes no tratamento TI foi inferior ao tratamento TNI. No Tratamento não Isolado, as
populações portuguesas apresentaram, igualmente, as melhores produções por
genótipo (Ba13151 = 10,436g e Ba13105 = 5,1547g). Em comparação com
o Tratamento TI, o Tratamento TNI apresentou melhores resultados a nível
de produtividade e sobrevivência dos genótipos. O efeito do isolamento artificial resultou na diminuição de produção, possivelmente devido às condições
verificadas no interior da parcela isolada: temperatura e humidade relativa
elevada e menor exposição à luz solar (na ordem dos 77% de redução de
luminosidade ao meio dia). Nestas circunstâncias, observou-se o crescimento
rápido dos genótipos em altura direccionado portanto para a procura de luz do
exterior. Num período de 4 semanas, as variáveis temperatura (ºC) e humidade
(mm) foram registadas no exterior e interior da câmara de isolamento temporário através de um termohigrómetro. Constatou-se que as diferenças entre
tratamentos aumentaram a partir das 8h até perto das 18 horas, isto é, neste
intervalo de tempo as temperaturas no interior da câmara foram superiores às
do exterior, em média 2,41 ºC. As temperaturas elevadas podem ter contribuído
para a diminuição da produção de semente, uma vez que estas danificam os
estigmas e causam a dissecação do pólen (2), tornando os genótipos estéreis
e incapazes de fecundação.
Para analisar as interacções genótipo × tratamento dentro e entre cada
população, que quantifica o efeito da aplicação do isolamento artificial na
variação de produção de semente, realizou-se uma análise de variância com os
factores e interacções em estudo que possivelmente influenciaram a adaptação
e consequente a produtividade de cada população. A análise de variância pressupõe a existência de homogeneidade no interior das parcelas, não verificada
neste ensaio, como se pode observar nos gráficos 2 e 3, que apresentam a
dispersão dos genótipos em cada população e em ambos os tratamentos.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
127
Produção média de sementes
(gramas por genótipo)
CZE
Populações
Produção média de sementes
(gramas por genótipo)
GRÁFICO 2 – Distribuição de cada população testada no Tratamento Isolado
(N= número de genótipos).
Populações
CZE
GRÁFICO 3 – Distribuição das populações regeneradas no Tratamento não Isolado
(N = número de genótipos).
Ambos os tratamentos e quase todas as populações apresentam uma
distribuição não equilibrada dos genótipos e também valores aberrantes* que
supostamente não deveriam fazer parte. Uma dispersão dos valores considerável
e distribuição não equilibrada, confirma a heterogeneidade de cada população.
Esta situação pôs em causa os resultados obtidos na análise de variância
apresentada no quadro 1.
* Os números apresentados nos gráficos correspondem à identificação dos valores anormais
na tabela original de dados. Não têm importância na interpretação dos resultados.
128
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
QUADRO 1 – Efeito dos factores em estudo na produção de semente de Lolium perenne
Fonte de Variação
GL
SQ
QM
1
508,610
508,610
2
997,810
498,905
País (C)
4
3 765,400
941,350
7,992***
A×C
4
619,080
154,770
1,314
5
2 885,840
577,168
4,900**
Variação entre blocos
Tratamento (A)
F
1,019
Bloco (B)
A×B
Variação entre parcelas dentro dos blocos
População (D)
C×D
A×C×D
A×B×C×D
5
81,250
16,250
18
2 120,120
117,784
1257
18 910,920
15,044
1296
29 889,030
0,138
Variação dentro da parcela
Residual
Total
GL – Graus de Liberdade;SQ – Soma dos Quadrados Médios; QM – Quadrados Médios
* Significante ao nível de 5%; ** significante ao nível de 1%; *** significante ao nível de 0,1%
Verifica-se que apenas o factor País e interacção População × País (que
especifica a população) tiveram efeito na variação de produção de semente a
um nível de significância, respectivamente 0,1 e 1%. Este resultado confirma
que a origem do material (País e População) tem grande influência na performance do mesmo, sendo as populações com melhor adaptação as provenientes
de locais com condições ambientais e geográficas aproximadas ao local de
ensaio. O efeito do tratamento não é significativo. Este facto deve-se ao
elevado erro experimental (representado pela interacção Tratamento × Bloco),
influenciado pela heterogeneidade das populações e que, consequentemente,
diminuiu o efeito do tratamento.
4 – CONCLUSÕES
A escolha de um protocolo de multiplicação deverá ser baseada no propósito da mesma. Sendo assim, caso a opção seja a multiplicação da espécie
para obtenção de semente, e portanto a quantidade seja a finalidade, este tipo
de isolamento artificial não será o mais adequado. O tratamento isolado será
uma possível escolha para a regeneração de entradas de espécies alogâmicas
conservadas em bancos de germoplasma, onde se pretende que prevaleça a
pureza e integridade genética da espécie.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS
1 – CHORLTON, K. L. – Regeneration of Seed Crops and their Wild Relatives. In: "ENGELS, J. M. M.; RAO, R. Ramanatha (ed.) – Proceedings of a Consultation Meeting",
4-7 December 1995 (ICRISAT). Hyderabad, India, IPGRI, p. 47.
2 – ELGERMA, A.; NIEBOER, I. G.; KEIZER, L. C. P. – The Effect of Temperature on
Seed set and Seed Development in Detached Spikelets of Perennial Ryegrass (Lolium
perenne L.). "Annals of Botanny", vol. 72, 1993, p. 337.
3 – HAMILTON, N. R SACKVILLE; CHORLTON, K. H. – Regeneration of Accessions in
Seed Collections: A Decision Guide. Rome, SGRP, FAO, IPGRI, 1997. (Handbook for
Genebank, n.º 5) p. 9, 29-31.
4 – HEIDE, O.M. – Control of Flowering and Reproduction in Temperate Grasses. "New
Phytologist", vol. 128, p. 347-362.
5 – TE-TZUCHANA – Manual on Genetic Conservation of Rice Germplasm for Evaluation
and Utilization. The International Rice Research Institute, 1976, p. 9.
130
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 131–139.
IMPORTÂNCIA DA DENSIDADE E DO ESPAÇAMENTO
DA ENTRELINHA NO TEOR E PRODUÇÃO DE MATÉRIA SECA
DE DIFERENTES CULTIVARES DE SORGO SPP*
António Fernandes, Henrique Trindade♦
Direcção Regional Agricultura Entre Douro Minho
– Qta. S. José – S. Pedro Merelim – 4700-859 BRAGA
E-mail: [email protected]
♦CECEA
– Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
– Apartado 1013 – 5000-911 VILA REAL
E-mail: [email protected]
RESUMO
A densidade de sementeira de uma cultura, tem como objectivo estabelecer um povoamento vegetal óptimo, permitindo a utilização completa das capacidades de produção do solo
em determinadas condições de cultivo e para uma determinada finalidade de produção.
No presente trabalho apresentam-se resultados de um estudo conduzido durante
dois anos num solo do tipo Litólico (mvn) de textura franco-arenosa, com duas variedades de sorgo, Speed Feed (híbrido de sorgo × erva do Sudão) e Vercors (erva do Sudão).
Estas variedades foram ensaiadas segundo três modalidades de densidade (70, 100 e 130
2
plantas/m ) e dois espaçamentos de entrelinha (0,20 e 0,40 m).
Os resultados obtidos demonstraram que as produções médias de matéria seca
foram significativamente mais elevadas no primeiro ano (14,9 t/ha) em relação à média
do segundo ano (12,4 t/ha), tendo a variedade Speed Feed sido significativamente a mais
produtiva, nos dois anos de ensaio. Ambas as variedades apresentaram uma resposta idêntica aos factores em estudo. O efeito espaçamento da entrelinha apenas foi significativo
no primeiro ano e mostrou depender da densidade de povoamento, tendo as maiores produções de MS (16,3 t/ha) sido obtidas com a densidade de povoamento de 100 plantas/m2
e com a entrelinha de 0,20 m. A densidade de povoamento não apresentou um efeito
significativo sobre a produção anual total. Contudo, em ambos os anos, verificou-se uma
interacção importante deste factor com a quantidade de forragem produzida por corte, com
as maiores densidades a permitirem o aumento da produção do primeiro corte
Em relação aos teores em matéria seca, estes foram significativamente mais elevados
no primeiro ano (15,0% MS) do que no segundo (12,4% MS), não tendo havido diferenças
significativas devidas ao espaçamento da entrelinha ou à densidade de povoamento.
PALAVRAS-CHAVES: Sorgo; Densidade de sementeira; Espaçamento da entrelinha; Percentagem
MS; Produção MS.
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
131
ABSTRACT
Crop sowing density has as main objective to establish an optimum value of plant
population density in particular cropping conditions maximizing natural resources use
efficiency for a specific production purpose.
This work reports the results of a study conducted over two years on a sandy loam
soil with two sorghum varieties, Speed Feed (hybrid of Sorghum bicolor × S. sudanense)
and Vercors (S. sudanense). The two varieties were cropped under three plant densities
(70, 100 and 130 plants/m2) and two row spacing treatments (0.20 and 0.40 m) in a factorial design with three replications.
Results obtained showed that average dry matter (DM) yield was significantly
higher in the first year (14.9 t/ha) than on the second (12.4 t/ha), with variety Speed Feed
being the most productive in both years. Both varieties revealed a similar response to
the factors under study. The effect of row spacing treatments only was significant on the
first year and showed to be dependent from the plant population density factor. Highest
value of DM yield (16.3 t/ha) was reached with the population density of 100 plants/m2
and 0.20 m of row spacing. Plant density did not evidence a significant effect over total
annual DM yield. However, an important interaction was found between this factor and
the amount of forage DM yield per cut. Higher plant population densities increased the
production at the first cut.
Forage DM content was higher on the first year (15.0 % MS) than on the second
year (12.4 % MS). No significant effects were found on forage DM content due to row
spacing or plant population density treatments.
Keywords: Sorghum; Plant population density; Row spacing; DM yield; Forage DM content.
1 – INTRODUÇÃO
Com a densidade de sementeira de uma cultura pretende-se a obtenção
de um óptimo povoamento relativamente às condições do sistema solo-climaplanta e de acordo com a finalidade produtiva pretendida. Nas gramíneas
com capacidade de afilhamento e nas leguminosas que se multiplicam por via
vegetativa, a estabilização final da produção de biomassa dá-se através de alterações da arquitectura da vegetação e do aumento da mortalidade, como forma
de responder à densidade (1, 6). As plantas que morrem são as mais fracas e
dominadas. Quando se aumentam os recursos disponíveis, como fertilizantes e
água, aumentam as probabilidades de morte das plantas por acção da competição entre indivíduos (densidade de sementeira). A disponibilidade de radiação
luminosa apresenta um efeito inverso, pois quanto maior for a disponibilidade
de luz menor mortalidade de indivíduos se verifica (1). A conjugação destes
factores, traduz-se no estabelecimento natural de uma densidade ou povoamento
em comunidade obtida pela senescência de caules e/ou de plantas, diminuição do
afilhamento, quando a densidade inicial é demasiado elevada, ou pelo aumento
do afilhamento, se as condições de solo e ambiente o permitirem nas densidades
132
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
baixas (6). Nas gramíneas o afilhamento está inversamente relacionado com a
densidade de sementeira (7). Com o alongamento dos caules o ensombramento
basal tem tendência a aumentar, sendo o afilhamento progressivamente diminuído até se anular (10) e podendo ocorrer a senescência de folhas e dos caules
mais novos (5, 2). Nos povoamentos mais elevados a redução do peso médio
das plantas por acção da densidade é feita pela diminuição de partes da planta
(menor número de caules, folhas, frutos e sementes), alterando a distribuição dos
assimilados pelas diferentes estruturas da planta, como é o caso da formação de
caules mais finos, embora mais suculentos (2). De acordo com o observado em
vários estudos compilados por Petrini et al. (8), verifica-se que a densidade de
sementeira e o espaçamento da entrelinha devem ser definidos tendo em conta
dois aspectos fundamentais: a) maximização dos factores disponíveis para a
planta (luz e nutrientes); b) técnicas culturais.
Nas gramíneas anuais, caso do sorgo (e híbridos), a escolha de densidades
apropriadas deve ser vista não somente em relação à produção de matéria seca,
mas também ao seu valor nutritivo, na medida em que a maior proporção de
folhas em relação aos caules eleva a qualidade da forragem, pois é nestas que
reside o maior teor de proteínas e minerais (2). Nas densidades de sementeira
mais elevadas verifica-se que, após a estabilização do povoamento, que nas
plantas anuais ocorre após o afilhamento, além de não produzirem significativamente mais que as densidades mais baixas, produzem uma forragem de
menor qualidade nutritiva (9).
A cultura do sorgo pode ser semeada em linhas espaçadas de 25-30 cm,
com a densidade de 300-400 mil sementes/ha, o que significa, em geral, 20-30 kg
de semente por hectare (4). Também Lourenço et al. (3) referem uma população
ideal de 400 mil plantas/ha para um espaçamento de 25 cm nas condições edafo-climáticas do Alentejo. No entanto, a capacidade de afilhamento é um factor
varietal que influencia de forma acentuada o valor de povoamento óptimo.
No presente trabalho, que decorreu durante dois anos, teve-se como
objectivo avaliar a importância da densidade e do espaçamento da entrelinha
no teor e produção de matéria seca de duas cultivares de sorgo forrageiro nas
condições edafo-climáticas entre Douro e Minho.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi instalado manualmente em 4 e 8 de Junho, respectivamente
nos anos de 1993 e 1994, na exploração experimental da DRAEDM em S.
Pedro de Merelim, Braga (41º 31' lat. Norte, 8º 25' W de longitude e altitude
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
133
de 90 m). Os valores da precipitação e temperatura observados nos anos de
ensaio estão apresentados na figura 1.
A cultura foi regada por aspersão duas vezes por mês, aplicando em média
40 mm/ha por rega. Assim, em 1993 e 1994 as dotações totais de rega foram
de 160 mm/ha e 200 mm/ha respectivamente. Em 1993 as dotações aplicadas
no ensaio foram em média de 30 mm/ha devido à maior pluviosidade ocorrida
durante os meses de Agosto e Setembro (figura 1).
300
35
200
30
150
100
25
Temp. (ºC)
Prec.(mm)
250
50
0
20
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Meses
Prec.1993
Prec.1994
Temp.1993
Temp.1994
FIGURA 1 – Valores de precipitação e temperatura média mensais nos anos de ensaio
No primeiro ano de ensaio a adubação de fundo consistiu em 120 unidades
de P2O5 e de K2 O. No segundo ano não se aplicou fósforo e potássio devido
aos resultados da análise de solo terem revelado níveis elevados, acima dos
100 ppm. Em ambos os anos aplicaram-se 60 unidades de azoto em fundo e
após cada corte, na forma nitro-amoniacal.
2.1 – Delineamento experimental e análise estatística
O delineamento experimental utilizado foi um factorial em blocos casualizados completos, com três repetições, combinando três modalidades de
densidade de povoamento (70, 100 e 130 plantas/m2), com duas modalidades
de espaçamento da entrelinha (0,20 e 0,40 m) e duas cultivares de sorgo,
Speed Feed (híbrido de sorgo × erva do Sudão) e Vercors (erva do Sudão),
num total de 12 modalidades por repetição. Cada talhão tinha uma área total
de 12,0 m2 (5,0 × 2,4 m) e área útil de corte de 8,0 m2.
Em ambos os anos de ensaio, a produção foi amostrada através de três
cortes efectuados quando as plantas atingiram 60-70 cm de altura. Para determinação da matéria seca, recolheram-se amostras de 5,0 kg por talhão, as
quais foram secas em estufa a 65 ºC, até peso constante.
Os resultados foram analisados estatisticamente através de análises de
variância com o objectivo de determinar possíveis diferenças na produção obtida
nos dois anos de estudo, originadas pelo efeito da densidade e espaçamento da
entre linhas. Quando se observaram diferenças significativas entre tratamentos
realizou-se o teste de comparação múltipla das médias segundo o método das
médias dos mínimos quadrados (LSD) (11).
3 – RESULTADOS
3.1 – Produção de matéria seca (MS)
A análise de variância mostrou terem existido diferenças significativas
(P<0,001) na produção anual de matéria seca, quer entre anos quer entre as
variedades, sendo as produções mais elevadas no primeiro ano (14,9 t/ha) do
que no segundo (12,4 t/ha). A variedade Speed Feed originou produções significativamente (P<0,05) mais elevadas (14,2 t MS/ha/ano) do que a variedade
Vercors (13,0 t MS/ha/ano). Foram também registados efeitos significativos
(P < 0,05) das interacções "densidade × corte" (figura 2) e "variedade × corte"
(figura 3), em ambos os anos, e "densidade × espaçamento da entrelinha" (figura 4), no primeiro ano de ensaios.
Em relação à interacção "densidade × corte", observou-se que no primeiro
corte as densidades 100 e 130 pl/m2, com produções de MS respectivamente
de 4,4 e 4,7 t/ha, foram significativamente (P<0,05) mais produtivas do que
a densidade de 70 pl/m2, que atingiu apenas a produção de 4,0 t MS/ha. Não
foram observadas diferenças significativas (P>0,05) no segundo e no terceiro
corte.
6,0
5,0
t MS/ha
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
1º Corte
70 pl./m2
2° Corte
100 pl./m2
3° Corte
130 pl./m2
FIGURA 2 – Efeito da interacção "densidade × corte" sobre a produção de MS
135
Relativamente à interacção "variedades × cortes" (figura 3), verificou-se
que no primeiro corte a variedade Speed Feed foi significativamente (P<0,001)
mais produtiva, no segundo corte essa posição foi ocupada pela variedade
Vercors, não tendo sido observadas diferenças significativas (P>0,05) entre
variedades, no terceiro corte.
6,0
5,0
t MS/ha
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
1º Corte
2° Corte
Speed feed
3° Corte
Vercorss
FIGURA 3 – Efeito da interacção "variedade × corte" sobre a produção de MS
t MS/ha
A interacção "densidade × espaçamento da entrelinha" (figura 4), observada
no primeiro ano de ensaio, revelou que o tratamento de espaçamento da entrelinha de 0,20 m permitiu obter produções mais elevadas nas duas densidades de
povoamento mais baixas, em especial na densidade de 100 plantas/m2 em que
originou um incremento na produção superior a 2,0 t MS/ha, comparativamente
à entrelinha de 0,40 m. Estes resultados poderão estar relacionados com a
ocorrência de menor competição entre os indivíduos e melhor aproveitamento
do espaço disponível nos tratamentos de valores de entrelinha e densidade de
povoamento mais reduzidos.
20,0
18,0
16,0
14,0
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
70 pl/m2
100 pl/m2
0,20 m
130 pl/m2
0,40 m
FIGURA 4 – Efeito da interacção "densidade × espaçamento entrelinha" sobre a produção
anual de MS no primeiro ano de ensaios
3.2 – Teor de matéria seca
Os valores relativos aos teores de MS foram significativamente (P<0,001)
mais elevados no primeiro ano (15,0% MS) do que no segundo (12,4% MS),
tendo a variedade Speed Feed registado valores médios (13,4% MS) ligeiramente inferiores aos da Vercorss (14,0% MS). Também, em ambos os anos
as percentagens de matéria seca foram maiores no terceiro corte, o que está
de acordo com a maturação da cultura ao longo do ciclo vegetativo.
Observou-se também que houve uma interacção significativa (P<0,001)
"variedade × corte" que se ilustra na figura 5. No segundo corte, a variedade
Vercors originou forragem com um teor de MS significativamente (P<0,05)
superior ao da variedade Speed Feed.
16,0
%MS
14,0
12,0
10,0
1º Corte
2° Corte
Speed feed
3° Corte
Vercors
FIGURA 5 – Efeito da interacção "variedade × corte" sobre o teor de MS da forragem
4 – CONCLUSÕES
Os resultados obtidos sugerem as conclusões gerais seguintes:
– A distribuição da produção de MS nos primeiros dois cortes foi diferente entre as variedades, com a Speed feed a originar as maiores
produções no primeiro corte e a Vercors a produzir mais no segundo
corte. No conjunto dos três cortes a variedade Speed Feed foi a mais
produtiva;
– A produção de MS por corte revelou-se afectada pela densidade de
povoamento. Os valores mais elevados de povoamento inicial (100 e
130 plantas/m2) possibilitaram maiores produções no primeiro corte;
137
– No primeiro ano de ensaios, as maiores produções totais foram obtidas
quando se utilizaram os valores mais baixos de densidade de povoamento e o espaçamento da entrelinha mais reduzido (0,20 m);
– A utilização das densidades de povoamento mais elevadas, dado o
incremento do custo de semente, apenas se justificam caso se pretenda
concentrar a produção no início do período de aproveitamento da cultura,
já que a produção total anual não foi afectada por este factor;
– A variedade Vercors originou forragem com %MS mais elevada em
especial no segundo corte;
– As densidades de povoamento de 70, 100 e 130 pl./m2 correspondem na
variedade Speed Feed a cerca de 29,5, 42,5 e 55 kg semente/ha e na
variedade Vercors a 11, 16 e 20,5 kg semente/ha, respectivamente, o que
permite concluir que com a segunda variedade pode poupar-se no custo
de semente, embora com uma redução de 1,2 t MS/ha na produção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(ed.) – The grass crop. The physiological basis of production". London, New York, Chapman and Hall, 1988, p.85-127.
3 – LOURENÇO, M. et al. – O Sorgo Forrageiro no Alentejo. Influência da Modalidade de
Corte. I – Produção de Matéria Seca. "Pastagens e Forragens", 11 (1) 1990, p. 51-55.
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Trás-os-Montes e Alto Douro. 2002, p. 85-86.
5 – MUSLERA PARDO, E.; RATERA GARCIA, C. – Praderas y forrajes. Producción y
aprovechamiento. Madrid, Mundi-Prensa, 1984.
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"JONES, Michael B.; LAZENBY, Alec (ed.) – The grass crop. The physiological basis of
production". London, New York, Chapman and Hall, 1988, p. 129-177.
7 – PARSONS, J.; WILLIAMS, E. – Herbage production: grasses and legumes. In: "HOLMES, W.
– Grass. Its production and utilization". British Grassland Society, 1989, 6-88.
8 – PETRINI, C. et al. – Tecniche Colturali e Miglioramento Genetico del Sorgo Zuccherino
per Uso Industriale non Alimentare. "L`Informatore Agrário", n.º 19, 1993, p. 45-49.
9 – PIRES, J. – Forragens Anuais à Base de Aveia, Centeio e Azevém – Efeito dos Regimes de
Utilização, das Datas de Sementeira e das Condições Ambientais. Tese de doutoramento.
Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1997, p. 18-20.
10 – ROBSON, J.; RYLE, A.; WOLEDGE, J. – The grass plant – its form and function. In :
"JONES, Michael B.; LAZENBY, Alec (ed.) – The grass crop. The physiological basis
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11 – SAS – SAS/STAT User´s Guide. Cary, NC, SAS Inst., vol. 2, 1989.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
139
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 141–153.
ICONFORS – IMPROVING GERMPLASM CONSERVATION METHODS
FOR PERENNIAL EUROPEAN FORAGE SPECIES*
M. O. Humphreys
Institute of Grassland and Environmental Research – Plas Gogerddan
– Aberystwyth – SY23 3EB – UK
E-mail: [email protected]
ABSTRACT
Member States of the EC have a special obligation to protect their native species.
Reducing the backlog of seed in need of rejuvenation in genebanks is a recognized priority action within the Leipzig Declaration, but there is a lack of knowledge on optimal
procedures and loss of genetic integrity. The EC funded ICONFORS project (QLK5-CT2000-00621) involved research groups from the UK, Portugal, Czech Republic, Norway,
Denmark and Holland and aimed to optimise multiplication protocols for genetic resources by:
• Estimating the effects of multiplication site on costs of multiplication; the magnitude of variation in seed production among genotypes; and interactions with
species and origins of the accessions.
• Estimating the effects of management (e.g. isolation chambers vs. field plots, pot
size and planting date) on the costs of multiplication; the magnitude of variation
in seed production among genotypes; and interactions with species and origins
of the accessions.
• Estimating the broad sense heritability of genotype variation in seed production
and of genotype x year interactions.
• Developing and using paternity analysis to analyse patterns of pollination over
short distances.
• Estimating the effects of species and multiplication site on pollen contamination
in field regeneration plots.
ICONFORS has provided specific information for improved conservation of perennial forage species but has also provided knowledge of generic value for conserving
germplasm of all plant species. The ECP/GR Forages Working Group is a forum that
can convey results and recommendations to forage genebank curators in Europe. IPGRI
can provide advice on economic aspects of regeneration and is in a position to combine
ICONFORS results with those obtained from other (tropical) forage species to formulate
global conclusions and recommendations.
* Conferência apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
141
ICONFORS – MELHORAR OS MÉTODOS
DE CONSERVAÇÃO DE GERMOPLASMA DAS ESPÉCIES
FORRAGEIRAS PERENES EUROPEIAS
RESUMO
Os estados membros da UE têm o especial dever de proteger as suas espécies autóctones. Reduzir a acumulação de sementes com necessidade de rejuvenescimento, nos
bancos de germoplasma, é reconhecido como uma acção prioritária no âmbito da Declaração de Leipzig, mas há falta de conhecimento sobre o procedimento mais adequado e
sobre a perda da integridade genética.
A UE financiou o projecto ICONFORS (QLK5-CT-2000-00621) envolvendo grupos
de investigação do Reino Unido, Portugal, República Checa, Noruega, Dinamarca e
Holanda, com o objectivo de optimizar os protocolos para a multiplicação dos
recursos genéticos por:
• Estimar o efeito do local nos custos da multiplicação; a magnitude da variação
entre genótipos quanto à produção de semente; e as interacções com as espécies
e as origens dos acessos;
• Estimar o efeito do maneio (ex.: câmaras de isolamento vs. parcelas de campo,
tamanho dos vasos e data de sementeira) nos custos da multiplicação; a magnitude
da variação entre genótipos quanto à produção de semente; as interacções com as
espécies e as origens dos acessos;
• Estimar a heritabilidade em sentido lato da variação genotípica na produção de
semente e das interacções genótipo × ambiente;
• Desenvolver e usar análises de paternidade para analisar os padrões de polinização a curtas distâncias;
• Estimar o efeito da espécie e do local de multiplicação na contaminação do pólen
das parcelas de regeneração no campo;
O projecto ICONFORS forneceu informação específica para melhorar a conservação de espécies forrageiras perenes mas forneceu também conhecimento genérico
para a conservação de germoplasma da generalidade das espécies. O Grupo de Trabalho
em Forragens ECP/GR é um fórum que pode fornecer resultados e recomendações aos
curadores dos bancos de germoplasma de forragens da Europa. O IPGRI pode fazer
aconselhamento sobre os aspectos económicos da regeneração e está em condições de
conjugar os resultados obtidos no ICONFORS com os obtidos a partir de outras espécies
forrageiras (tropicais) para formular conclusões e recomendações globais.
1 – INTRODUCTION
Within Europe nearly 100,000 forage accessions are conserved in gene
banks for a range of possible uses such as plant breeding, reconstituting
native pastures, and facilitating research in areas such as functional genomics and conservation genetics (24). Seed cannot be stored indefinitely and it
is estimated that over 20,000 accessions are in urgent need of rejuvenation
142
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
through a cycle of seed multiplication and therefore "timely regeneration must
be a priority of all genebanks" (5). ICONFORS aims to acquire the genetic
and economic knowledge needed to improve seed multiplication methodologies
for genebanks maintaining ex situ seed collections.
Effective regeneration programmes are essential to maintain the viability
and genetic integrity of ex situ seed collections of germplasm. The majority
of the world’s genebanks are experiencing a large backlog and continuing
difficulties with regenerating their collections (5) and poor conservation of
plant germplasm collections has been highlighted as a global problem (6).
Establishing a standardised Europe–wide protocol for regeneration would be
desirable (13, 23), however, it is not possible in practice to establish a single
optimal protocol, and therefore genebank-specific and even accession-specific
decisions have to be made to establish optimal protocols. Attempts have
been hindered by insufficient information on the genetics and economics of
regeneration (16).
The total diversity conserved within germplasm collections depends
upon how many accessions are conserved, how representative they are
of the original population and how well the genetic integrity of each is
maintained during conservation and regeneration. Genes that are generally
rare in populations may be of the greatest interest to breeders ( 21 ) but
there is a risk of loss of these rare genes with each regeneration cycle.
The severity of the loss of genetic integrity depends upon where an accession is multiplied in relation to its original site of adaptation, and how
it is multiplied. Most characters of agronomic interest show high G × E
interactions, therefore the potential value of germplasm must be evaluated
under a wide range of environmental conditions ( 15 ). Ellis and Jackson ( 2 )
suggest that there is a general belief that an accession should be regenerated
in the environment from which it was collected; however, such individual
attention to the requirements of each accession is not feasible in many
large genebanks.
Most perennial forage grasses and legumes are obligate outbreeders, and
so display high genetic variance within populations and high potential for
genetic changes by drift and selection which makes the perennial temperate
forages a greater challenge for regeneration compared to many other crops
( 13). Many accessions are "exotics" and may be poorly adapted to the biotic
and abiotic environment where they are maintained (14), leading to adverse
impacts on seed yield, genetic integrity and quality of seed (3, 25, 26), and
the scope of natural selection greatly increased (4, 8, 9, 27).
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
143
In perennial or wild species, variation in seed maturity can be affected
by variation within seeds, within inflorescences, between inflorescences,
and/or between individual plants in the same population, as well as the
effects of climatic conditions such as temperature and photoperiod on peak
flowering ( 17 ). For many populations, most of the seed produced is derived
from a small proportion of the plants in the population, while most plants
contribute little or nothing ( 23 ). Sackville Hamilton ( 13 ) estimated that in
a typical regeneration plot, 40% of the plants in the parental generation
can give rise to 95% of the seed in the progeny generation. Consequently,
factors that influence plant survival, and the proportion of plants contributing to the overall seed yield will influence genetic integrity. The extent of
this change will depend upon the sensitivity of the genotypes within the
population to the environment. Information on the effect of environment
on flowering and seed yield and the magnitude of any likely change due
to regeneration in different environments are therefore essential. The aim
of all genebanks is to regenerate accessions as infrequently as possible
by maximising seed yield, as insufficient seed availability can result in
many multiplication cycles which may have serious implications for the
genetic composition of the original accession. Seed regeneration is also
costly in terms of resources and time, therefore the most cost effective
way of minimising the loss of genetic integrity is to keep the frequency
of regeneration to a minimum, producing as many seeds as possible for
use in active collections and long-term storage in genebanks; regenerating
fewer seeds than this raises costs by necessitating more frequent regeneration ( 14 ). However, when too many seeds are produced, additional marginal
costs and resources for storage of an accession will be incurred. Sackville
Hamilton and Chorlton ( 14 ) suggested that cost efficiency of regeneration
is maximised when seed quantity is just sufficient to provide enough for
use before viability drops below threshold. However there is little published
information on the economics of regeneration or comparisons of regeneration
costs in different environments.
Therefore the objectives of the EC funded ICONFORS project
(QLK5-CT-2000-00621) included ( 1 ) providing further information on the
genetics and economics of regeneration in forage species by quantifying
the effect of differences in the site of multiplication on the magnitude of
variation in seed production between genotypes within populations and ( 2 )
estimating the effect of site of multiplication on the cost of multiplication,
identifying and quantifying the fixed and variable costs of all stages of
the process.
144
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
2 – APPROACHES
Perennial ryegrass (Lolium perenne L.) is the major fodder crop species in cultivated grasslands in temperate climate zones (18). It has its
primary centre of diversity in the European-Siberian region of diversity
(28). However, during the last few decades, optimisation of fodder production has strongly reduced the biodiversity present in temperate grasslands.
Therefore, germplasm collections were developed by genebanks in order to
conserve genetic resources for present and future utilisation. Because of
loss of germinability through ageing and depletion of stocks through distribution, genetic resources conserved as seed populations require periodic
rejuvenation through a cycle of seed multiplication. One of the objectives
of genebanks is to maintain the genetic composition of accessions as much
as possible. However, each time a heterogeneous accession is rejuvenated
the genetic integrity of the accession may be compromised by genetic drift,
selection, and gene flow from other germplasm. The potential for genetic
change is particularly relevant to species that have highly heterogeneous
populations, such as the wind-pollinated, outbreeding perennial ryegrass
( 7, 12). Genetic integrity of accessions may be lost due to variation in seed
production between plants (13). Single-plant harvesting and the composition
of balanced bulks can be used to avoid loss of genetic integrity through
variation in seed production (19, 20). However, this procedure does not
compensate for loss of genetic integrity through differential pollination rates
between plants. Equalising paternal contributions to the seed population
would require manual cross-pollination of plants in specific combinations,
but these procedures are laborious with small-seeded species like perennial
ryegrass. Other factors during rejuvenation that may influence the genetic
integrity of accessions include mutation, contamination by gene flow from
plants that do not belong to the rejuvenated accession and genetic drift due
to small numbers of parental plants used. Of the factors that may affect the
genetic integrity of accessions during rejuvenation, variation in pollination
rates within populations is the least understood. Spatial proximity, temporal
overlap in flowering periods and pollen production may be considered the
three primary components affecting pollination rates between plants. Pollination studies in perennial ryegrass have mainly focused on pollen deposition
rates in relation to distance in rather experimental designs, which generally
show a leptokurtotic distribution of dispersal (1, 10, 11). However, additional
data on variation in pollination rates and on the relative importance of the
population characteristics underlying this variation is required.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
145
2.1 – Loss of genetic integrity by differential seed production
Differences in seed production between plants of a single population can
be very large in the species being studied. In a typical regeneration plot, 40%
of the plants in the parental generation can give rise to 95% of the seed in the
progeny generation (13). Thus the potential genetic change between successive
generations is exceptionally large. However, it is not clear how much of
the variation is random drift and how much represents a systematic shift
towards a particular genotype. The magnitude of variation or the identity of
the most productive genotypes may be controlled by manipulating the location
or growing conditions used for multiplication. Prior knowledge of species and
population adaptation is required to optimise the choice of location and growing
conditions. It may be possible to eliminate this component of genetic change
by harvesting each plant separately, and forming the next generation by taking and mixing an equal number of progeny seed from each mother plant (a
"balanced bulk"). However, this does not eliminate change due to differential
pollination. It also involves significantly larger costs per accession, which must
be met by reducing the number of accessions multiplied each year and/or the
number of parents used to multiply each accession. Therefore it is important
to know whether the overall effect of taking balanced bulks improves either
the genetic integrity of individual accessions or the total diversity conserved
in a collection.
2.2 – Loss of genetic integrity by differential pollination within populations
Differential pollination within a population is the component of genetic
change that is least understood. The reason is that it is labour-intensive and
expensive to measure. Previous studies have been based on use of genetically
marked model populations, which provide only partial data and are not suitable
for quantifying the influence of the spatio-temporal distribution of pollen release
on pollination rates. Novel molecular technologies for DNA fingerprinting
can be used for paternity analysis of large numbers of plants, without using
specific, genetically marked model populations. In particular microsatellites
(SSRs) are a very appropriate technology for paternity analysis in plants.
Several examples have been published of paternity analysis by microsatellites
in plants, particularly in trees (22), from which we know approximately how
many Simple Sequence Repeat (SSR) primer sequences will be required. New
SSR primer sequences are developing for temperate forage species however
it has to be established which and how many primers will be needed for
146
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
unambiguous paternity identification. It is possible to eliminate this component
of change by artificially cross-pollinating parents in pre-defined combinations.
This labour intensive approach has been successfully used for crops such as
maize that have large seeds, that are easy to pollinate by hand, and of which
genebanks do not need large numbers of seed per population. However, in
small-seeded forage species manual pollination is more time-consuming and
much larger numbers of seed are needed to establish even small plots. To
date, all forage gene banks have ruled out artificial cross-pollination on the
grounds that it is perceived that the improved quality of multiplication of each
accession will be more than offset by the associated reduction in number of
accessions multiplied. This decision must have a sound genetic as well as
economic basis.
2.3 – Loss of genetic integrity by pollen contamination between populations
Pollen contamination, or pollen flow from plants of other populations
outside a regeneration plot, has been relatively well studied, for a number of
reasons, including its relevance to the debate on GM crops. The importance of
a range of factors that influence pollen contamination has been well established.
These factors include pollen characteristics, wind direction, insect pollinator
preferences and flight path characteristics in relation to the distribution of
preferred flowers, and the influence of intervening vegetation. Mathematical
equations to describe pollen flow and the associated gene flow (in terms of
bulk flow of air, turbulent flow of air, diffusion, deposition and viability) are
well established. Also well known are the optimal experimental designs needed
to optimise efficiency of parameter estimation given the reduction in pollen
density and viability with increasing distance from the pollen source. However,
it is necessary to know to what extent results depend on location, and whether
there is a need for location-specific protocols, e.g. in the distance
between plots; which is a critical gap in knowledge in the context
of developing European-wide plans for seed multiplication. In addition,
circumstantial evidence suggests that there may be a systematic difference
between wind- and insect-pollinated species in the relative transmissions of
pollen between and within plots. Practical implications are that there may be
circumstances, particularly in insect-pollinated species, in which the majority
of cross-contamination is confined to the outer row of a plot. It may then
be genetically and economically effective to surround each plot with a barrier row of plants that belong to the same population but that will not be
harvested. There is a need to compare wind- and insect-pollinated species in
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
147
an experimental design that permits quantitative assessment of the efficacy
of this option. Pollen contamination can be completely eliminated by the
use of pollen-proof isolation chambers. The initial capital cost of isolation
chambers is high, leading many genebanks to multiply using field plots where
contamination is a hazard. However, running costs of field plots are highly
variable between locations, depending on factors such as labour costs and
accessibility to fields adequately isolated from wild and feral plant populations that present additional contamination risks. There is a need for rigorous
site-specific economic comparison of field and isolation chambers, as well
as a need to explore the efficacy of alternatives such as temporary isolation
chambers around field plots.
Issues of genetic contamination by cross pollination are relevant to the
debate on growing GM crops. The crop species studied in ICONFORS are
"natural" species. They hybridise freely with their con-specific wild relatives
and occupy similar habitats. Thus there are no genetic barriers and often no
geographical barriers to introgression of transgenes into naturally occurring
wild populations, resulting in potentially high risks of gene transfer associated
with any release of GM varieties of these crops and a corresponding need
for risk assessment. There is already substantial information on the extent
of geneflow and its dependence on wind and pollinating insects ((10, 11),
but little on regional variation. By assessing pollen contamination from the
same genotypes in a range of European environments, ICONFORS contributes
qualitatively new information relevant to the GM debate.
3 – CONCLUSIONS
3.1 – Variation in seed production between plants within populations
due to differences in site of multiplication
• Adopting a European wide standard protocol for regeneration of accessions of forage grasses and legumes, which takes account of all of
the factors influencing seed production, is unrealistic.
• Seed yield and costs of regeneration of L. perenne and T. repens vary
widely among sites across Europe.
• Optimising the balance between good seed yield and economic regeneration costs is important in determining the most appropriate site for
regeneration.
148
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
3.2 – Variation in seed production between plants within populations
due to differences in management.
• Standardisation of a regeneration protocol for all genebanks is not realistic because accessions, even when originating from the same country,
are differentially sensitive to the conditions of multiplication.
• It is feasible to establish a genebank-specific protocol for regeneration,
making use of the available equipment and resources, to improve current management systems adopted by European genebanks.
• The most efficient system for optimising seed yield provides the most
cost-effective management system for regeneration.
• Genebanks should be encouraged to adopt a new management system
that provides for better establishment of plant material, improved seed
production, and a more balanced contribution to overall seed yield from
genotypes within each population.
3.3 – Consistency of variation in seed production across generations
and years.
• The heritability of seed yield is low and therefore the effect of harvesting each plant individually may be low. A significant relationship
is found only in a few populations and the overall parent – offspring
regression is not greater than 0.3.
• It appears to be more important to grow many plants from each population and harvest them in a bulk than grow fewer plants and harvest
them individually to make a balanced bulk.
• Comparisons of seed yield of the same plants over two years indicates
varying responses to the year of regeneration. The correlation between
years is significant for less than 50% of the populations studied and
the overall correlation for all populations is only 0.26.
3.4 – Variation in pollination between plants within populations.
• Mating within a population is non-random with 61.9% of the identified pollen donors being located within 1 m distance from the maternal plant.
• Observed pollination rates are very well described by an inverse
quadratic function of inter-plant distance between potential mating
pairs. Incorporation of the recorded flowering data in the calculation of
expected pollination rates improves the goodness of fit with observed
values by only 0.77%.
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
149
• Although inter-plant distance is found to be an accurate predictor of
pollination rates, analysis of individual progenies suggests that incompatibility for specific parental combinations is an additional factor
influencing pollination rates. Also differences in actual pollen production
between plants can be influenced by variation in number of flowers
per inflorescence, in the fraction of opened flowers per inflorescence
and in number of pollen grains per flower.
• Contamination is considered more threatening to the genetic integrity
of perennial ryegrass germplasm than variation in pollination rates
between plants, and indicates the need for improved measures to avoid
gene flow from other germplasm.
3.5 – Contamination with alien pollen
• Careful site selection and an assessment of feral populations is advisable to regenerate insect pollinated forage species.
• There appears to be a difference between wind and insect-pollinated species in the relative transmission of pollen between and within plots.
• With insect-pollinated species the majority of cross-contamination is
confined to the outer row of the plot and it may be genetically and
economically effective to surround each plot with a barrier row of
plants that will not be harvested.
• In wind pollinated forage grasses this effect is not so evident – at
least not at longer isolation distances. In this case it is not genetically advisable and economically effective to surround each plot with
a barrier row.
• Rye appears to be the best barrier crop because of its tall height.
• To get less than 1% out-crossing and with seed plots organized in a
single row a 15m distance is required between plots with a tall barrier
crop like rye and 30m between plots with a short barrier crop like
wheat or barley.
• If there are many seed plots organized in a row and column pattern
larger isolation distances are necessary. At least 30 m are needed with
a tall barrier crop to get less than 1% out crossing.
• With short isolation distances there appears to be tendency that more
out crossing occurs in the outer ring of plants than in the middle and
centre plants.
150
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
ACKNOWLEDGEMENTS
ICONFORS* was part-funded by the European Commission under the thematic programme
Quality of Life and Management of Living Resources of the Fifth Framework Programme, Key
Action 5: "Sustainable Agriculture, Fisheries and Forestry", 5.1.1 "Sustainable Management of
Resources in Agriculture" (Contract No. QLK5-CT-2000-00621)
Project partners were:
• Institute of Grassland and Environmental Research (IGER), Plas Gogerddan, Aberystwyth,
Ceredigion SY23 3EB, United Kingdom.
• The Norwegian Crop Research Institute (NCRI), Løken Research Station, Norway.
• Oseva PRO Ltd., Grassland Research Station Rožnov – Zubří, 756 54 Zubří 698, Czech
Republic.
• Centre for Genetic Resources, The Netherlands, Plant Research International B.V. (PRI),
Wageningen University and Research Centre, P.O. Box 16, 6700 AA Wageningen, The
Netherlands.
• Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP), Elvas, Portugal.
• DLF-Trifolium A/s, Research Division, Højerupvej 31, 4660. Store Heddinge, Denmark.
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PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
153
"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 155–163.
A REGIÃO DÃO-LAFÕES E O DESENVOLVIMENTO RURAL*
Vítor Coelho Barros
INIAP – Estação Agronómica Nacional – Av. da República – 2784-505 OEIRAS
RESUMO
Na região Dão-Lafões predomina uma agricultura assente em explorações de policultura-pecuária, a tempo parcial, com baixas produtividades sectoriais e de reduzidas
dimensões físicas. Esta pequena agricultura é responsável pela existência de um cabaz de
produtos de qualidade com designações protegidas.
O facto da região não contar com um significativo núcleo de médias e grandes empresas agrícolas, é geralmente visto como um obstáculo ao seu desenvolvimento.
Apesar das dificuldades que uma situação deste tipo encerra, defender-se-á a possibilidade do desenvolvimento agro-rural de Dão-Lafões.
PALAVRAS-CHAVES: Agricultura sustentável; Amenidades rurais; Desenvolvimento rural; Diversidade económica; Multifuncionalidade e qualidade.
ABSTRACT
In Dão-Lafões area, North-Central Portugal, a traditional mixed farming system
based on multi-crop and livestock, part-time farming, low productivities and small farmers
is prevailing. This farming system is responsible for the existence of various products with
protected origin designations.
The fact that this area has not a significant group of medium and large-scale agriculture enterprises is generally seen as a constraint to its development.
No matter the difficulties these conditions involve, the agro-rural development of
the area Dão-Lafões will be supported.
KEYWORDS: Sustainable agriculture; Rural amenities; Rural development; Rconomic diversity;
Multifunctionality and quality.
1 – O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO RURAL
Não existe uma definição precisa e generalizadamente aceite do conceito
de desenvolvimento rural, sobretudo num espaço desenvolvido como é a União
Europeia, onde nos inserimos. Aliás, coexistem diversas concepções (15): desde
* Comunicação apresentada na XXV Reunião de Primavera da SPPF. Viseu, Maio de 2004.
155
um simples conjunto de medidas de acompanhamento da política sectorial
da agricultura; passando por uma segunda concepção centrada mais sobre
o desenvolvimento local; uma política rural concebida como um aspecto do
desenvolvimento regional e fundada no reforço da hierarquia urbana; até ao
que poderíamos considerar como um desenvolvimento sustentável, procurando
a conciliação entre usos produtivos, recreativos, residenciais e de preservação
dos recursos naturais.
Esta diversidade de concepções sugere que o desenvolvimento rural
é um processo complexo, que exige para o seu sucesso uma agricultura
sustentável, a gestão de recursos naturais, uma floresta activamente gerida,
funções recreativas das zonas rurais revitalizadas, infra-estruturas, diversificação
económica, protecção do ambiente, produtos regionais, políticas apropriadas
e "governança" local.
1.1 – Génese do desenvolvimento rural
O surgimento das preocupações com o desenvolvimento rural e, consequentemente, com a concepção de Políticas Públicas neste domínio é muito
recente e é influenciado de forma diversa. Por um lado, no âmbito agrícola,
a crise da pequena agricultura, incapaz de se modernizar, e os problemas
das zonas desfavorecidas, onde a actividade agrícola é de difícil exercício e
baixa produtividade levaram a um êxodo rural muito acentuado. Por outro
lado, os desequilíbrios regionais, bem patentes na dicotomia espacial entre o
congestionamento urbano e industrial e o abandono de amplas áreas rurais,
o aparecimento e aprofundamento da preocupação com a salvaguarda do ambiente e do património natural e o ganho de importância da manutenção do
equilíbrio da população entre as zonas urbanas e as rurais fazem com que se
procurem outros modelos alternativos de desenvolvimento. Está-se em pleno
período urbano-industrial em que ao rural competia a missão de disponibilizar
mão-de-obra e alimentação a baixo custo.
As primeiras políticas e medidas para o desenvolvimento rural (2) surgem,
assim, na década de oitenta do século passado e derivam de excedentes de
produção, excedentes de força de trabalho e subemprego, de excedentes de
terra e de territórios "excedentários". A modernização agrícola, favorecida pela
PAC, tinha levado a aumentos de produção nas melhores terras, em menos
área e com menos pessoas.
A União Europeia, maioritariamente urbanizada, e sobrealimentada não tem
necessidade dos seus pequenos agricultores e das suas zonas agrícolas desfavorecidas; as boas zonas, onde trabalham os grandes agricultores, bastam para
156
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
a aprovisionar do ponto de vista alimentar. Põe-se então a questão: que fazer
das outras pessoas, das outras terras, dos outros territórios. Dispensá-los?
Surgem, deste modo, os problemas rurais, os quais, infelizmente, não
ficaram por aqui, porquanto se produziu demais, descontroladamente, poluíram-se os aquíferos e o ar e degradaram-se os alimentos. A PAC fica debaixo
de fortes críticas, legítimas. Há notoriamente um défice de políticas públicas
nestes domínios.
Numa tentativa de resolução destes problemas surgem medidas de desenvolvimento rural. Estamos a falar de tempos recentes – estas políticas têm no
máximo uma quinzena de anos. Verificam-se na sequência de uma reflexão que
teve lugar em termos comunitários entre 1988-1997 e que continua, reflexão
que concluiu pela necessidade da UE ter um espaço rural vivo e revitalizado,
preservar a sua diversidade rural e possuir uma agricultura competitiva(9).
Trata-se, aliás, de uma questão decisiva para a construção europeia em que
estamos empenhados, na medida em que importa dar corpo a um modelo
europeu de agricultura e espaço rural baseado nos seguintes traços: garantir
um certo grau de auto-abastecimento, assegurar o desenvolvimento do meio
rural, preservar a vida silvestre e a paisagem rural e fazer com que persistam
as explorações nas zonas mais isoladas e de maior altitude (4).
1.2 – Um espaço rural com novas funções
A sociedade entretanto evoluiu. Urbanizou-se crescentemente, a economia
globalizou-se e terciarizou-se. Cada vez há mais pessoas a moverem-se na base
de um novo sistema de valores pós-modernos, em que se dá a revalorização
do passado e das origens, a revalorização da identidade e o interesse pelo
diferente, em que acontece um desenvolvimento da consciência ecológica com
a valorização do natural e do tradicional e uma eclosão de preocupações com
a qualidade de vida (11).
Esta evolução permite que o cidadão passe a ter uma nova representação do rural. Há como que um reconhecimento de que os espaços rurais
desempenham funções vitais para além da função alimentar. Funções como: o
sumidouro de carbono, o abastecimento de água de qualidade e a disponibilidade de amenidades rurais, muito apetecíveis e procuradas pelos urbanos na
sua fuga ao stress quotidiano e à rotina dos mecanismos repetitivos da vida,
na feliz expressão dos franceses "boulot, metro, dodo".
O conjunto de factos assinalados, em emergência é certo, abre a possibilidade ao agro-rural de se desenvolver de um outro modo. Pode-se pensar,
inclusive, num novo modelo de desenvolvimento. O Espaço Rural passou a ser
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
157
visto como um cenário de desenvolvimento. É evidente que para chegarmos à
sua concretização temos pela frente um longo caminho, onde iremos precisar
de nos reciclar tecnicamente, em que necessitaremos de novos conhecimentos
científicos e de novas metodologias de trabalho.
2 – UMA INTERVENÇÃO PERSISTENTE E DE QUALIDADE
Dedicaremos esta última parte do trabalho ao caminho que há que
percorrer na região de Dão-Lafões, por forma a se atingir um estádio de
desenvolvimento agro-rural capaz de proporcionar boas condições de vida aos
seus residentes e atrair visitantes.
Impõe-se, de início, uma breve caracterização da região. Inserida na
designada Ribeira Subatlântica, Dão-Lafões constitui uma das regiões mais
frágeis do nosso país, quer do ponto de vista rural quer quanto à competitividade agrícola (10). Entretanto, a região é fértil em belas paisagens, onde
o verde dos campos e dos pinhais contrasta com o cinzento do granito e
com as cores vivas da giesta, da urze, da mimosa e do loendro. Polvilhada
de aldeias antigas, a região é pródiga em recursos hídricos (rios e termas)
e possui uma gastronomia rica e diversificada, para além de artesanato e
património construído.
Do ponto de vista agrícola trata-se de uma região onde predomina a
pequena exploração de policultura-pecuária, a tempo parcial, a qual é responsável pela existência de um cabaz de produtos regionais de qualidade, onde
sobressaem o vinho do Dão, a vitela de Lafões, o cabrito da Gralheira e a
maçã da Beira Alta.
Feita esta caracterização sucinta, importa agora discutir as possibilidades
de desenvolvimento agro-rural que se colocam à região, as quais, em nosso
entender, passam pelo reforço da atractividade das zonas rurais, por preservar e desenvolver as actividades agrícola e silvícola e pela diversificação da
economia rural.
Quanto ao primeiro vector apontado, a descaracterização sofrida pelo
mundo rural obriga a um esforço suplementar em termos da recuperação e
valorização do património rural e dos núcleos populacionais, melhorando as
condições de vida e do bem-estar da população, procedendo à requalificação
de espaços públicos e espaços agro-florestais, recuperando construções rurais de
traça tradicional e criando ou dinamizando espaços museológicos de temática
rural. Este conjunto de objectivos é actualmente elegível na medida AGRIS
(acção 7) dos Programas Operacionais Regionais do QCA III (16).
158
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Quanto ao futuro da actividade agrícola regional propriamente dita colocam-se, no essencial, três cenários (13): um primeiro tem que ver com o
mercado, onde a concorrência se coloca em termos de preço; um segundo é o
da qualidade, com destaque para a produção de alimentos com proveniências
conhecidas, mas também agricultura biológica e modos de produção e protecção integrada; por último um terceiro cenário tem a ver com a prestação
de serviços à sociedade por parte dos agricultores, na medida em que estes
desempenham mais funções que a mera produção de alimentos, sobretudo
funções ecológicas, as quais deverão ser remuneradas.
Não enjeitando toda e qualquer possibilidade que surja ao nível do
primeiro cenário – estar no mercado de forma competitiva, julgamos, no entanto, que o futuro agrícola da região passará mais pelos restantes cenários
apontados. Assim sendo, e numa perspectiva de favorecer o desenvolvimento
agrícola e silvícola da região defendemos o apoio aos sistemas agro-florestais
dominantes na região.
A dinamização da actividade agrícola em espaços de minifúndio, como
é o caso, beneficiou fortemente do facto de recentemente se ter dado o reconhecimento da importância destes sistemas agrícolas. Com efeito, a medida
AGRIS (acção 1) (17) introduz pela primeira vez entre nós apoios específicos
aos pequenos agricultores, definidos como aqueles que têm uma dimensão
económica igual ou inferior a 6 UDE/ano. Com estas ajudas visam-se os
seguintes objectivos centrais:
a) melhoria dos rendimentos agrícolas e das condições de vida, de trabalho
e de produção;
b) manutenção e reforço do tecido económico e social das zonas rurais;
c) promoção do desenvolvimento de actividades e práticas potenciadoras
do aproveitamento das condições edafo-climáticas regionais;
d) diversificação das actividades em pequenas explorações agro-florestais,
tendo em vista viabilizar e desenvolver modelos de agricultura baseados
na pluriactividade e no plurirrendimento familiar;
e) promoção de ocupações múltiplas e rendimentos alternativos para
famílias agricultoras, na medida em que contribuem para a manutenção
do ambiente e do tecido social das zonas rurais. (17)
Estas explorações deverão cumprir as normas comunitárias no que respeita
ao ambiente, higiene e bem-estar animal, contribuindo, deste modo, para a
redução das externalidades negativas provocadas pelo sector (nitratos nos
aquíferos, resíduos de pesticidas, etc.). Simultaneamente espera-se que possam
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
159
concorrer para a preservação de paisagens características, para a conservação
e melhoria de espaços cultivados de grande valor natural e para a protecção
da diversidade genética, quer animal quer vegetal.
Evidentemente que os apoios ao investimento e a remuneração já existente,
se bem que pouco ambiciosa, de serviços ecológicos, sendo importantes, não
são suficientes. Outros aspectos surgem como essenciais numa região como esta
e no quadro prospectivo traçado. Referimo-nos, concretamente, à organização
comercial, ao uso de marcas territoriais, à identificação de novas amenidades
e à forma da sua valorização.
Abre-se, deste modo, uma nova janela de oportunidade ao sistema de
investigação e desenvolvimento experimental (IED). Até há pouco quase exclusivamente vocacionado para a procura da produtividade, o sistema IED terá que
inverter a sua lógica, quer em termos dos conteúdos técnicos, quer das redes
dos actores (1). O exemplo das sementes ilustrará esta nossa afirmação.
As sementes e plantas disponíveis no mercado foram seleccionadas para
responder aos objectivos de produtividade, potenciando os factores de produção (fertilizantes, pesticidas, regadio, etc.) sem os quais não podem passar e,
simultaneamente, fornecer à transformação industrial e à grande distribuição
quantitativos importantes e homogéneos de matérias-primas estáveis de um
número limitado de variedades de cada espécie (12).
Os sistemas dominantes na região, de pequena exploração a tempo parcial, registam uma utilização parcimoniosa de factores de origem industrial e
trabalham numa diversidade de solos e de condições ambientais tais que os
agricultores dispõem, de modo geral, de um conjunto de variedades facilmente
adaptáveis a essa mesma diversidade. Por outro lado, os objectivos de produção
destes sistemas agrícolas situam-se mais ao nível da qualidade intrínseca e
não tanto da qualidade comercial (normalização).
Estas variedades rústicas, seleccionadas empiricamente pelos agricultores,
se tomadas de forma isolada parecem manifestar pouco interesse, porém o
mesmo já não sucede quando perspectivadas em termos de desenvolvimento
sustentável e de contributo para a saúde do consumidor.*
* A este propósito ver artigo de Maria Fernanda Mesquita (14), onde aquela Professora
Catedrática do Instituto Superior de Ciências da Saúde refere que a variedade de trigo
Barbela, cultivada há cerca de 130 anos pelos agricultores e não reconhecida pelas entidades responsáveis, quando estudada manifestou resultados favoráveis à sua utilização como
alimento funcional para a prevenção e tratamento de patologias como a arterosclerose e o
cancro do colon.
Agostinho de Carvalho (3) para além do trigo Barbela, refere o caso de alguns feijões
cultivados no Alto Minho, cujo estudo aponta para posssíveis propriedades funcionais.
160
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
Na região a floresta ocupa uma parte considerável do território – segundo o Inventário Florestal Nacional cerca de 45% (8), sendo na sua maioria
pertença de proprietários singulares. A propriedade é de pequena dimensão
e muitos dos proprietários não residem na região, factos que colocam problemas à gestão deste recurso. A criação de um quadro mais favorável ao
investimento florestal passa, assim, pela resolução destes estrangulamentos.
A acção 3 – Gestão sustentável e estabilidade ecológica das florestas (18)
da medida AGRIS foi pensada exactamente como instrumento de superação
daqueles constrangimentos, ao apoiar a instalação de organizações de produtores
florestais, a constituição e instalação de prestadores de serviços florestais e a
própria prestação de serviços.
O surgimento de novas dinâmicas de organização dos produtores e proprietários florestais, assim como a constituição e lançamento de microempresas
que se dedicam à prestação de serviços florestais, pela criação e reforço de
capacidade técnica que induzem sobre as regiões, são factores determinantes
para o aumento do aproveitamento das áreas florestais e a racionalização da
sua gestão. A emergência da organização dos produtores e proprietários permitiu
ainda a contractualização de equipas de sapadores florestais (6) facto que,
conjuntamente com a concepção da acção 3.4 – Prevenção de riscos provocados
por agentes bióticos e abióticos (19) da medida AGRIS, veio incrementar os
mecanismos de prevenção contra o fogo.
Por fim, abordaremos a questão da diversificação económica das zonas
rurais. Manter um certo nível de população no espaço rural requer que esta
obtenha os rendimentos suficientes para viver. Uma vez que dificilmente estes
possam provir em grande extensão da agricultura, torna-se necessário explorar
outras possibilidades.
A criação de dinâmicas regionais tem estado, em muitas regiões, ligada
à promoção de eventos nos espaços rurais, como forma de atrair turistas.
Esta estratégia tem estado a cargo de autarquias locais, de organizações de
agricultores, de associações de desenvolvimento local, de associações empresariais, etc. Actualmente há casos exemplares de concelhos situados em regiões
desfavorecidas, onde têm lugar eventos periódicos ao longo do ano, os quais
têm tido forte impacto na economia concelhia.
Um exemplo é Montalegre. A partir de um forte capital social local,
protagonizado pela autarquia e por organizações agrícolas (cooperativa, caixa
de crédito e matadouro), no concelho têm lugar os seguintes eventos: Feira
do Fumeiro em Janeiro, Feira do Cabrito pela Páscoa e Feira da Vitela dos
Lameiros do Barroso no Verão. Complementarmente há ainda um outro conjunto
PASTAGENS E FORRAGENS 24/25
161
de eventos desportivos e de exercício físico. Os impactos destas realizações
são hoje bem patentes: restauração, hotelaria, produtos agrícolas de qualidade
referenciada, comércio local,...
3 – CONCLUSÃO
A equidade territorial (7), entendida como a garantia de igualdade de
oportunidades dos residentes nos territórios rurais face aos residentes nas
áreas urbanas, nomeadamente no acesso às condições de vida e aos bens
públicos estruturantes do desenvolvimento e da afirmação das capacidades
das pessoas, deve constituir a finalidade principal das políticas rurais de
desenvolvimento.
Hoje sabe-se que aconteceram grandes avanços entre nós nos últimos anos
ao nível do considerado "Desenvolvimento Humano e Social" (5). Ou seja:
Portugal entrou no século XXI mais coeso em indicadores como a educação,
a esperança de vida e o conforto.
Já o mesmo não sucede no desempenho económico. A este nível muito
há ainda a fazer, quer no combate às assimetrias, quer no reforço da coesão
económica e social, por forma a termos um desenvolvimento mais equilibrado
do nosso país. Por que é nas zonas rurais que esta questão mais se coloca, o
desenvolvimento deste tipo de espaços ganha uma forte centralidade, tornando-se um verdadeiro imperativo nacional.
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3 – CARVALHO, Agostinho de – Agricultura Renovada ao Serviço da Saúde e Bem-estar dos
Cidadãos. "Expresso". Dossier Especial AGRIUS, 3 de Abril de 2004, p. 8.
4 – COMISSÃO EUROPEIA – Conclusões da 2ª. Conferência Europeia sobre Desenvolvimento
Rural. Salzburgo, Novembro de 2003.
5 – CÓNIM, Custódio; MATIAS, Sérgio – População e Desenvolvimento Humano. Uma
Perspectiva de Quantificação 1970-1999. Ministério do Planeamento, Departamento de
Prospectiva e Planeamento, Abril de 2002.
162
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6 – DECRETO-LEI n.º 179/99. "Diário da República I-A Série". N.º 118/99 (1999-5-21).
7 – DIRECÇÃO GERAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL – Desenvolvimento Rural. Novas
Realidades e Perspectivas. Lisboa, Novembro de 1997, p. 67.
8 – DIRECÇÃO-GERAL DAS FLORESTAS – Inventário Florestal Nacional. Portugal Continental, 3.ª Revisão 1995-1998. Lisboa, 2001, p. 143.
9 – EUROPEAN COMMISSION – The Cork Declaration – A Living Countryside. In: "The
European Conference on Rural Development". Cork, Irland, 1996.
10 – GABINETE DE PLANEAMENTO E POLÍTICA AGROALIMENTAR; OBSERVATORIO
DO QCA III – Desenvolvimento e Ruralidade em Portugal. Uma Análise Empírica. GPPA,
Maio de 2004.
11 – GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, Manuel – Sociología y Ruralidades: la Construcción Social
del Desarrollo Rural en el Valle de Liébana. Madrid, MAPA, 2001, p. 92.
12 – KASTLER, Guy – L'exemple des Semences. "Les systèmes de Recherche et Développement
et l'Innovation". Paris, INRA, 2003. (Dossier de l'Environnement n.º 24) p.153-155.
13 – LACOMBE, Philippe – L'Agriculture à la Recherche de Ses Futurs. "Bibliothèque des
Territoires". L'aube/Datar, 2002, p. 61-133.
14 – MESQUITA, Maria Fernanda – Agricultura e Saúde. Trigo Barbela – Um projecto Nacional. "Revista LOA", n.º 21, Julho-Agosto de 2004, p. 13.
15 – PERRIN, Daniel – Les Politiques de Développement Rural. Conseil National de
l'Évaluation, Commissariat Général du Plan. Paris, La Documentation Française, 2003,
p. 268-269.
16 – PORTARIA n.º 48/2001. "Diário da República I-B Série". 22 (2001-01-26).
17 – PORTARIA n.º 1109-E/2000, "Diário da República I-B Série". 274 (2005-11-27)
2.º suplemento.
18 – PORTARIAS n.º 1109-C/2000, 1109-G/2000 e 1109-H/2000. "Diário da República I-B
Série". 274 (2000-11-27) 2.º Suplemento.
19 – PORTARIA n.º 52/2001. "Diário da República I-B Série". 24 (2001-01-29).
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"Pastagens e Forragens", vol. 24/25, 2003/04, p. 165–167.
XXV REUNIÃO DE PRIMAVERA DA SPPF
VISEU, 12 A 14 DE MAIO DE 2004
RESUMO
Na sessão de encerramento da XXV Reunião de Primavera da Sociedade
Portuguesa de Pastagens e Forragens (SPPF), que se realizou de 12 a 14 de
Maio de 2004 em Viseu, foi efectuada pelo Presidente da Direcção da SPPF
uma intervenção em que resumiu os aspectos mais relevantes ocorridos durante
os três dias que constituíram o evento.
A cerimónia foi presidida por Sua Excelência o Senhor Secretário de
Estado do Desenvolvimento Rural, Prof. Bianchi de Aguiar, a quem foi dirigido
o trabalho que a seguir se reproduz.
A primeira sessão iniciou-se com uma conferência proferida pelo Eng.
David Gomes Crespo que defendeu, como o vem fazendo com o êxito por
todos reconhecido há mais de 25 anos, o papel das pastagens e forragens na
agricultura portuguesa.
Prosseguiu a sessão com quatro comunicações que no seu conjunto caracterizaram muito bem a região do Dão-Lafões, os seus lameiros e sistemas
de produção animal diversificados e integrados.
Foram apresentadas duas comunicações sobre o melhoramento de pastagens mediterrânicas de sequeiro com o objectivo comum de recuperação de
solos marginais.
A sessão que se seguiu começou pela apresentação de duas comunicações
sobre a utilização de chorumes e lamas das ETAR nos sistemas de produção
pratense e forrageira, referindo-se aos problemas ambientais envolvidos.
Houve uma comunicação sobre a aplicação da biologia molecular ao
melhoramento de plantas onde se evidenciou que a aplicação das biotecnologias
permite um aumento de eficiência nesta área da investigação agrária.
Uma comunicação tratou do efeito das forragens conservadas num sistema
de produção caprina regional.
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Ainda nesta sessão foi apresentada mais uma comunicação sobre melhoramento de pratenses anuais de ressementeira natural para as condições do
extensivo mediterrânico.
A última sessão foi composta por três excelentes conferências, sendo que
a primeira foi efectuada pelo Dr. Humphreys que se deslocou do País de Gales
(G.B.) para falar sobre recursos genéticos e em que salientou a participação
portuguesa no projecto INCONFORS de que é o responsável. A segunda
foi da autoria do Dr. Nutt da Austrália e versou sobre a multiplicação de
sementes de leguminosas anuais e a sua integração nos sistemas de produção
agro-pecuários australianos. Por fim a última, mas não menos interessante,
tratou de aspectos relacionados com o desenvolvimento rural e foi da autoria
do Eng. Vítor Barros.
Neste conjunto de apresentações orais destacamos a participação de
jovens investigadores na maioria das comunicações, assim como a qualidade
das mesmas.
Por outro lado nas discussões sobre todos os trabalhos apresentados à reunião, que incluem umas dezenas de poster, também eles submetidos à discussão
através da apreciação breve de comentadores, foi registada a participação de
instituições como o INIAP, com investigadores de diversas Unidades Operativas que o constituem, como é o caso da EAN, EZN, ENMP e LQARS; da
Universidade, nomeadamente U. Évora e UTAD; do Politécnico, representado
por Escolas Superiores Agrárias, como foi o caso de Beja, Coimbra e Viseu
e também de diversos técnicos de Direcções Regionais de Agricultura, como
aliás é costume nas reuniões da SPPF.
As visitas de campo efectuadas enquadraram-se nos temas propostos para
a reunião e representam os sistemas de produção animal regionais, baseados
na utilização de pastagens e forragens:
• Exploração de ovinos dedicados à produção de queijo da serra;
• Exploração de bovinos leiteiros;
• Exploração de caprinos de aptidão mista carne e leite.
No aspecto social os participantes puderam comprovar a simpatia das
gentes beirãs e a alta qualidade dos produtos regionais, dos quais poderemos
sem dúvida destacar o queijo e o vinho.
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Em conclusão a SPPF demonstrou nesta Reunião de Primavera em que
comemorou o seu 25.º aniversário, tratar-se de uma sociedade que está viva,
continua jovem e que muito pode contribuir para o desenvolvimento agrário
em Portugal.
Para terminar uma palavra de agradecimento e reconhecimento à Comissão
Organizadora da XXV Reunião de Primavera da SPPF e a todas as Instituições
que participaram ou comparticiparam na sua concretização.
José Mira Potes
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