PROGRAMA DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS A aprendizagem das competências sociais começa logo no início da vida e continua pela vida fora, acontecendo, em geral, como um processo natural de imitação, sublinhando o papel dos modelos sociais disponíveis no envolvimento do indivíduo (Bandura, 1976). O comportamento social corresponde ao conjunto de acções, atitudes e pensamentos que o indivíduo apresenta em relação à comunidade, aos indivíduos com que interage e a ele próprio. Uma vez que a vida familiar nem sempre oferece a muitas crianças um apoio firme na vida, é para as escolas que as comunidades se voltam em busca de correctivas para as crianças com necessidades educativas especiais na área das competências sociais e emocionais. A escola constitui portanto, um lugar onde podem ser-lhes ministradas lições básicas na arte de viver, visto que, estas assumem o papel que muitas famílias não cumprem na socialização das crianças. A escola torna-se num agente da sociedade com a missão de garantir, que as crianças aprendam não apenas o que consta no seu programa educativo, mas também as lições essenciais para os desafios da vida, procurando ligar a escola, a família e a comunidade, numa teia mais unida. E porque crescer implica entre outros factores aprender a relacionar-se com os outros e com o mundo à sua volta, mediante comportamentos, atitudes e pelas aprendizagens que os marcam no dia-a-dia. Procuramos com este programa de competências sociais, ser uma peça de um puzzle que venha a ser fundamental na construção da personalidade de cada criança. As dificuldades na apredizagem destas competências, diz a Psicóloga Clinia Tânia Gaspar (2006) “actuam como uma bola de neve, dificultando cada vez mais a vida das pessoas e tornando-as menos bem consigo próprias e com os outros…”, sem uma intervenção adequada, podem provocar situações de risco social, nomeadamente consumos excessivos, violência, tendência para o abatimento e a depressão, tendência para o isolamento social, respostas ansionsas às dificuldades, percepção de impotência pessoal e social, entre outras. Os conteúdos e contextos proporcionados ao indivíduo carente em habilidades sociais, variam com a idade, nível de dificuldade e dificuldades particulares mas incluíram segundo Trower, Bryant e Argyle (1978): Competências de observação: atender a pistas/sinais sociais; Competências básicas: contacto visual, expressão facial, gestos, espaço interpessoal, postura, falar e ouvir, tocar; Competências complexas: cumprimentar, manter uma conversa, ir a festas, assertividade; Competências cognitivas: planear, resolução de problemas e dificuldades sociais. Objectivo Geral: Este programa será o de promover as capacidades de relacionamento social, podendo-se derivar (segundo Matos et al., 1990) os seguintes objectivos: Analisar os comportamentos relacionais, nos seus aspectos verbais e nãoverbais, onde se enquadram a postura, a proximidade corporal ou espaço interpessoal, a gesticulação, a expressão facial, o contacto visual, o tom de voz e o tipo de respostas – assertivas, passivas ou agressivas. Reflectir em grupo sobre as vantagens e inconvenientes dos diferentes tipos relacionais, que implica a detecção e discussão de situaçõesproblemas, nas quais se procura uma antecipação das consequências e comportamentos alternativos através da substituição de respostas passivas e agressivas por respostas assertivas. Para tal são utilizadas técnicas de dramatização, técnicas de auto-controlo e reforço vicarizante. Aprender um método de abordar situações-problema, através da sequência: pára e pensa no problema, procura as possíveis alternativas para solucioná-lo, escolhe entre as alternativas a que pensa ser a melhor para a solução do problema e tenta aplicá-la, e finalmente avalia os resultados. Análise e modificação de determinadas cognições, geralmente associadas a sequências de comportamentos abertos, reacções, atitudes e posições verificadas em determinadas situações ou contextos, por exemplo na sala de aula. Manutenção e generalização das aquisições, através da identificação e transferência das situações trabalhadas na sessão, em vários contextos da vida diária, com discussão deste trabalho na sessão seguinte. Conteúdos do Programa O Programa de Promoção de Competências Sociais, apresenta 3 blocos básicos, nomeadamente, a comunicação interpessoal, treino assertivo, e a resolução de problemas, privilegiando uma estratégia de mediatização corporal: - Identificação e utilização das componentes do comportamento aberto na comunicação interpessoal verbal e não-verbal; - Identificação e utilização de comportamentos assertivos em diferentes contextos; - Utilização de estratégias de identificação e solução de problemas e gestão de conflitos. a) Comunicação Interpessoal Refere-se a aspectos do comportamento social relacionados com a comunicação de informação relativa a emoções e sentimentos. Pretende-se desenvolver o conhecimento do corpo e as suas potencialidades e desenvolver competências de comunicação verbal e não-verbal. Relacionados com os comportamentos relacionais não-verbais encontramos: Postura – transmissora de emoções e sentimentos de grande importância quando se tenta comunicar. A posição do corpo, dos membros, a forma como uma pessoa se senta, está de pé, reflecte a sua atitude, os seus sentimentos sobre si e a sua relação com os outros, daí que quando tentamos controlar a nossa ansiedade na expressão facial e voz, esta possa ser detectada através da postura. Nos primeiros contactos é especialmente importante. Espaço Interpessoal – a definição de distância interpessoal depende de cultura para cultura. A cultura ocidental considera 4 zonas: intima, pessoal, social e pública, definidas por distâncias em termos de centímetros e metros, podendo sofrer variações em função do contexto social e cultural. O modo como o indivíduo organiza o seu espaço pessoal é um meio de comunicação não-verbal. Consoante o tipo de interacção social, este espaço pode transmitir sentimentos, como o medo e até atracção física. Gesticulação – os gestos são um segundo canal de comunicação que sintoniza e retroalimenta a comunicação verbal. São mais ou menos acentuados consoante os meios sociais e os grupos sociais, regulando as expressões do corpo em certas situações sociais (protocolo, etiqueta, saudação). Os gestos transmitem sentimentos e emoções. Expressão Facial – segundo Argyle (1969) a face é o principal sistema de sinais para mostrar emoções, a área mais importante e completa da comunicação não-verbal. A expressão facial sublinha, acompanha, reforça ou atenua partes do discurso verbal. Exprime vários papéis na interacção social, não só mostrando o estado emocional do interlocutor, como indicando a atitude deste para com os outros como, ainda, proporcionando uma retroalimentação (feed-back) contínua ao interlocutor. Contacto Visual – é uma importante fonte de informação sobre a atenção auditiva e interesse no que o outro está a comunicar. É especialmente importante durante uma conversa, em que os olhos parecem ser eficientemente usados para exprimir surpresa, ira e prazer, retirando-se informação do tipo e duração do contacto visual estabelecido. Este contacto depende do tipo de interacção, do status relativo dos interlocutores e do assunto. Aparência Física – oferece uma primeira impressão acerca do indivíduo: o seu poder atractivo, estatuto, grau de conformidade com as normas, inteligência, personalidade, estatuto sócio-económico, estilo e gosto, sexualidade e idade, através de factores como as roupas e adornos e o aspecto visual global (cabelo, higiene aparente) – impressão e sensação a que Goffman (1958) chamou o nosso invólucro externo (Matos, 1998). Esta aparência é extremamente importante nos primeiros contactos, embora seja manipulável, prática esta traduzida pela expressão “dar boa impressão”. Sorriso – está enquadrado na expressão facial, integrando uma das 6 expressões de emoções: a alegria comunica simpatia e agrado em relação ao outro. Movimentos de Cabeça - são especialmente importantes para a audição. Transmitem interesse/desinteresse na comunicação. Voz – incluída nas componentes paralinguísticas da comunicação, as características da voz, tais como: volume, tom, timbre, clareza, velocidade, ênfase, fluidez, pausas e oscilações são muitas vezes determinantes na qualidade e percepção desta. O significado transmitido é, normalmente, resultado de uma combinação de sinais vocais e comportamento verbal e é avaliado dentro de um contexto ou situação determinada. b) Treino Assertivo Para Alberti e Emmos (1974 in Matos, 1998), assertividade é um comportamento que habilita o indivíduo a agir no seu interesse, defender-se sem ansiedade excessiva, expressar os seus sentimentos de forma honesta e adequada, fazer valer os seus direitos sem negar os dos outros. Segundo Salter (1949) o indivíduo assertivo é o que é capaz de exprimir o mais directamente possível o que pensa, o que quer, o que deseja e o que faz valer os seus direitos sem impedir os direitos dos outros, escolhendo um conjunto de comportamentos e atitudes adequadas para o local e o momento, sublinhando que a regulação do comportamento social não deve confundir-se com passividade ou submissão a padrões ou regras, mas com a sua adequação às circunstâncias sociais, favorecendo, uma dinâmica de relacionamento interpessoal (Matos, 1998). Como tal, ser assertivo implica dois tipos de respeito: o respeito por si próprio e o respeito pelos outros. Com o treino assertivo pretende-se que os indivíduos modifiquem o seu comportamento através de: Desenvolvimento de um largo conjunto de respostas assertivas a serem utilizadas nas mais diversas situações e contextos; Reconhecimento de respostas inibidas e agressivas; Valorização dos direitos próprios e dos direitos dos outros; Reconhecimento e modificação de pensamentos irracionais frequentemente adoptados em situações específicas; Diminuição da ansiedade e aumento da auto-confiança em situações ou contextos que exijam comportamentos assertivos; Estimulação da assertividade nas pessoas com quem se relacionam. No treino assertivo abordam-se aspectos como: Cumprimentar; Pedidos difíceis; Dar e receber elogios; Exprimir desacordo; Defender uma opinião; Convencer alguém – “penso que devias…”; Defender um direito – “eu tenho o direito de…”; Lidar com a injustiça – “eu acho que isto é injusto, porque…”; Lidar com a recusa – “se a resposta é não, então…”. No entanto, nem todos os comportamentos são assertivos, existindo comportamentos agressivos e passivos/inibidos. No indivíduo inibido observa-se uma falta de respeito pelas suas próprias necessidades, tornando difícil o tomar iniciativas, realizar o que pretende e atender aos seus fins pessoais, assim como falta de respeito pelos outros na medida em que não os considera capazes de aceitar a sua individualidade. Entre outros aspectos, verifica-se contacto visual evasivo, gestos nervosos, linguagem hesitante com bastantes pausas. Este conjunto de comportamentos evidencia ansiedade, reduzindo o impacto da mensagem que está a ser transmitida verbalmente. No indivíduo agressivo verifica-se uma violação dos direitos dos outros, tal como um desejo de dominar o outro. Verifica-se um contacto visual dominador, tom de voz estridente assim como uma proximidade corporal exagerada, entre outros aspectos. Estes comportamentos não assertivos estão em oposição com o comportamento assertivo em que o aspecto não-verbal está de acordo com o verbal, dando-lhe suporte, e em que se verifica uma linguagem fluente, contacto visual firme mas não excessivo. c) Resolução de Problemas No Programa de Promoção de Competências Sociais, este item visa desenvolver nos jovens uma metodologia de abordagem e solução de problemas e conflitos sociais: o que se pretende não é facilitar a resolução de um ou outro problema específico mas utilizar uma metodologia de abordagem de qualquer problema. Pretende-se ainda uma diminuição de respostas impulsivas face a uma situação - problema. Esta metodologia é aplicável através de uma sequência que envolve os seguintes passos: Compreender a situação e pensar no problema que se coloca; Procurar várias alternativas possíveis para a resolução do problema; Antecipar as consequências de cada uma das alternativas possíveis; Escolher de entre as alternativas possíveis aquela que for considerada a melhor solução; Colocar em prática a alternativa escolhida; Avaliar as consequências da escolha; Se obtiver consequências positivas – surgirá a recompensa pela opção; Se obtiver consequências negativas – deverá voltar ao princípio da sequência. As Sessões: A primeira sessão é de quebra-gelo com o objectivo de estabelecer conhecimentos e criar uma relação empática. A última sessão será de avaliação, ou seja, auto-avaliação em que as crianças nos dão a conhecer aquilo que apreenderam do programa e a sua opinião pessoal acerca do mesmo. As sessões são organizadas apresentando um nível de complexidade crescente em cada bloco. Todas as sessões de conteúdos têm uma estrutura comum, que compreende 6 fases: 1. Diálogo inicial em grupo - onde se expõe o tema que se vai abordar na sessão ou relembra o que já foi abordado e onde se discute a aplicação na vida diária das situações trabalhadas na sessão anterior. 2. Cooperação – jogos com o objectivo de promover a entreajuda e união de acções para atingir objectivos comuns. 3. Conteúdos do programa – jogos em que são abordadas situações específicas relacionadas com o conteúdo da sessão. 4. Jogo de regras – onde se tenta que os alunos criem um jogo com regras definidas por eles de modo a identificar a regra como estrutura organizadora de um trabalho de equipa. 5. Relaxação – momento de retorno à calma, controlo da respiração, controlo da ansiedade/agressividade e consciencialização corporal. Esta fase pode ser abordada de diferentes modos de acordo com aquele que se adequa mais às crianças (desenhar ao som da música, ouvir um texto de olhos fechados…). 6. Diálogo final em grupo – onde se faz comentários à sessão e se reflecte um pouco sobre a mesma, se destina o trabalho para casa e se pede o da sessão anterior. Nesta fase temos também como objectivo fazer a identificação, análise e/ou transferência para a vida diária das situações da sessão.