FUNDAMENTOS DA CRÍTICA LITERÁRIA E PERFIL DO CRÍTICO Luciano Raphaelli Dias1 Angela da Rocha Rolla2 RESUMO O presente artigo resultou dos estudos literários proporcionados pela disciplina de Crítica Literária do curso de Letras da ULBRA/Guaíba, no período letivo 43G43H em 2009/01, e da apreensão do conhecimento gerado nos debates e discussões em seminários realizados em sala de aula durante a parte teórica do estudo, os quais se propuseram a desvendar o ponto de imbricação entre Teoria, História e Crítica Literária. Procura, também, apresentar o sentido da Crítica despido da ideia pejorativa que a sociedade atribui à palavra, ao valorizar a noção negativista, e os traços que devem caracterizar um crítico. O ato de criticar, no contexto em que será analisado, é mais um processo construtivo, analítico e esclarecedor do que destrutivo ou depreciativo do objeto criticado. PALAVRAS-CHAVES: Crítica Literária. Teoria Literária. História Literária. Estudos Literários. Perfil do Crítico. INTRODUÇÃO Cabe, inicialmente, frisar que o sentido de criticar, no contexto no qual será estudado, está longe do campo semântico em que habitualmente é utilizada esta palavra. A tarefa de um crítico é a apreciação minuciosa de uma obra literária, sendo necessário que o mesmo tenha 1 Acadêmico do Curso de Letras Licenciatura, cursando o 3º semestre na Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba, 2009/1. 2 Professora de Literatura, Doutora e Coordenadora do Curso de Letras da ULBRA – Campus Guaíba, orientadora deste trabalho. 2 um conhecimento prévio e amplo do assunto que avaliará, a fim de que a essencial função da Crítica Literária seja cumprida: o julgamento imparcial. Os meios de comunicação de massa, hoje, com a socialização da informação, abrem espaço à Crítica em programas televisivos, em jornais e revistas, assim como na Internet, nos sites de livrarias ou em fóruns de discussão acerca da Literatura. Entretanto, a Crítica Literária ocupa lugar privilegiado nas publicações, periódicas ou não, como revistas específicas e livros voltados não apenas a professores de Língua Portuguesa e Literatura, mas também àqueles que gostam de uma boa leitura ou estão em busca de uma melhor compreensão de uma obra ou, ainda, entender sua organização, sua estrutura e a intencionalidade do seu autor. 1 A CRÍTICA LITERÁRIA A prática da leitura, no meio acadêmico, deve romper os limites do entretenimento e do deleite que a Literatura oferece, a fim de o leitor tornar-se ativo. Para que isto aconteça, o acadêmico deve estar consciente que ingressará num campo instável e tenso, como é o da Crítica Literária, devido às opiniões distintas que se formam, até mesmo divergentes. A leitura eficiente é dependente do conhecimento de mundo do leitor, o qual dará subsídios ao mesmo no instante em que se lança a redigir um texto que contribua para a fortuna crítica3 de uma obra. Já se sabe que crítica é sinônimo de avaliação/juízo de alguma coisa, porém, o que será Crítica Literária? Segundo Martins4, Crítica Literária é a produção discursiva sobre uma obra literária individual ou sobre o conjunto de obras de um autor e possui a importante função de vincular as particularidades das obras e os preceitos literários de um período. Ela nunca é inocente ou neutra, visto que é extremamente dependente dos quadros de referência, do conhecimento e das experiências do crítico, sendo, por isso, sujeitada à sua interpretação e à apreciação de algum aspecto que não vise esgotar as possibilidades da obra, uma vez que a arte não é desvendada integralmente sob pena de perder seu “status” de produto artístico e ser esquecida. Seu olhar, como foi dito, não é inocente, pois a análise deve seguir critérios adotados à luz do 3 Conjunto de produções sobre uma obra ou autor. Manuel Farias Martins (Universidade de Lisboa), colaborador do E-Dicionário de Termos Literários com vários verbetes além de crítica literária. 4 3 conhecimento, da História e da Teoria que, em conjunto com a Crítica, compõem os Estudos Literários, de que o crítico se apropriou para argumentar seu julgamento. 2 ESTUDOS LITERÁRIOS: ALICERCES NOS QUAIS DEVE SE APOIAR UM CRÍTICO Os Estudos Literários traduzem de forma intelectualizada as experiências humanas pelo contato direto com a Literatura. Os autores Wellek-Warren (2003)5 e Compagnon (2006)6 abordam, em seus textos, a definição estatutária da Teoria Literária e observam que é necessário definir o seu objeto de estudo respondendo a pergunta insolúvel, desde a Antiguidade com a Poética de Aristóteles, “O que é Literatura?”. Tanto Wellek-Warren quanto Compagnon apontam as várias respostas surgidas no decorrer do tempo e eles concordam que a Literatura já foi considerada, no sentido amplo (lato sensu), todo material que foi impresso: ficção, filosofia, ciências, história etc.. Porém, no sentido restrito (stricto sensu), as obras que realmente fazem parte da Literatura são, além da literatura oral, as que exploram os recursos e as técnicas da linguagem, tornando a obra “[...] uma organização altamente complexa, de caráter estratificado, com múltiplos significados e relações” (WELLEK-WARREN, 2003, p. 22), ocorrendo nesse grupo a determinação da época e da cultura, cabendo aí os romances, os dramas e as poesias. Após a tentativa de definir o objeto, ensaiou-se o estabelecimento de um estatuto para instaurar uma ciência de cunho teórico para o objeto Literatura. Conforme Wellek-Warren, alguns teóricos julgavam que obras literárias somente poderiam ser lidas e era impossível a sistematização de estudos sobre as mesmas, contudo, a possibilidade de lidar intelectualmente com a Literatura já existia por meio da apreciação do literário simultaneamente a um estudo do conjunto dos saberes literários. A estes conhecimentos podem ser aplicados os métodos que servem para qualquer tipo de estudo, os das ciências naturais, entretanto a organização de uma teoria literária ideal segue além, pois esta possui métodos peculiares caracterizados pela compreensão de fatos sucessivos num processo subjetivo e individual, garantindo a reflexão sobre a obra literária. 5 WELLEK, René; WARREN, Austin. Teoria da literatura e metodologia dos estudos literários. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 6 COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria – Literatura e senso comum. Belo Horizonte: UFMG, 2006. 4 Wellek-Warren concluem, então, que o “estudo adequado” não pode ignorar distinção entre teoria, crítica e história da literatura, sendo a primeira o estudo dos princípios da literatura e das suas categorias generalizantes, enquanto a segunda e a terceira examinam as obras literárias de forma isolada e cronológica respectivamente, e que tais saberes são necessários para o crítico não se perder nos seus julgamentos. Para Compagnon, a institucionalização da teoria literária transformou-a numa pequena prática pedagógica que, efetivamente, não respondia às perguntas aventadas pela história literária nem por ela própria. A teoria é mais do que a definição de uma simples técnica, na verdade ela é um sistema doutrinário ou ideológico segmentado em várias correntes que organiza os estudos literários (a história e a crítica) pressupondo uma práxis, a qual não é uma fórmula para escrever obras literárias, mas a realização de uma crítica consciente ao refletir sobre a literatura. A teoria é uma forma de aprendizagem crítica que baliza o discurso descritivo e avaliativo acerca da interpretação de obras literárias feita por bons leitores – a crítica literária –, bem como o discurso realizado para a explicação do texto pelo contexto em que a obra está inserida, relacionando-a com fatores exteriores à leitura – história literária, chegando a uma conclusão semelhante à de Wellek-Warren. O texto redigido por Soares (1985)7 também pode ser observado, visto que trata da mesma temática dos outros autores, porém com fins mais didáticos e com conceitos pré-estabelecidos, contrastando com os outros dois textos que possuíam uma proposta mais construtiva na formação dos mesmos conceitos. Soares trata do assunto de uma maneira mais simples e define a teoria literária como a “[...] disciplina que nos fornece elementos para a apreensão do fenômeno literário.” (SAMUEL et al, 1985, p.90), assegurando que ela mantém uma inter-relação com o texto, porque dele surge e a ele se volta, e que a mesma deve estar sujeita às várias possibilidades do texto literário. Teorizar implica a formação de um método, que, segundo a autora, envereda na obra pelo próprio texto. Depois dessas definições, parte-se para o exercício crítico, cuja função é caracterizar a obra distinguindo os elementos compositivos que lhes são característicos. A crítica literária é atividade praticada com o propósito de desenvolver habilidades investigativas, pretendendo reconduzir a obra às suas procedências ou razões de existência, seguindo o rigor dado pela metodologia. As análises teóricas literárias prescindem da lógica que um estatuto científico lhes confere, dando um dinamismo à investigação, proporcionando 7 Angélica Soares, é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, redigiu o capítulo 5, “A Crítica”, do Manual de teoria literária. 5 resultados abertos sem esgotarem os sentidos do literário e ponderando a estrutura da obra e a sua situação histórica. Sendo assim, os conhecimentos que servem de alicerce na construção dos argumentos de um crítico estão envolvidos em três importantes áreas que se interligam: 1. Teoria: método, rigor, pensamento científico, hipótese; 2. História: periodização, reconstrução da visão de mundo de dado momento histórico; 3. Crítica: interpretação, subjetividade, imparcialidade, julgamento. 3 TIPOS DE CRÍTICA A Crítica movimenta e mantém viva a Literatura pelo seu poder de resgatar uma obra esquecida ou elevar uma que seja desprestigiada ou condenar outras ao limbo, pois uma obra ou autor possibilita inúmeras análises diferentes. De acordo com Tadié8, a Crítica liga-se à experiência literária pela investigação que se constitui ao concordar ou contestar por meio da interpretação, da leitura e da escrita simultaneamente manifestando o interior da obra e, em vista de tal relação, tende a confinar com a própria obra. Como afirma o autor, as mudanças da arte literária no século XX modificaram a maneira de criticar que, na atual visão, é adotar métodos para se comentar os textos, sob a influência da linguística, da psicanálise, da sociologia, da filosofia, dos estudos culturais, entre outros campos científicos. Para se conhecer uma obra não é necessário desvendá-la por completo, porque “[...] não há maneira única para descrever forma e significação de um gênero ou de uma obra literária [...]”9. Na realidade, a prática da Crítica Literária reside no debate e, dependendo da sua linguagem, forma e conteúdo, podem-se perceber três categorias que são destacadas por Tadié: a Crítica Falada ou Jornalística, a Crítica Profissional ou Acadêmica e a Crítica dos Artistas. 3.1 CRÍTICA FALADA OU JORNALÍSTICA 8 9 TADIÉ, Jean-Yves. A crítica literária no século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1992. TADIÉ, Jean-Yves, 1992, p. 15-6. 6 A Crítica Falada ou Jornalística é feita, hoje, por jornalistas da imprensa, do rádio, da televisão, que devem comentar livros contemporâneos seus dos quais grande parte estão fadados a desaparecer, raramente comentam os do passado, mas era muito comum nos salões, nas correspondências e diários. Este tipo de opinião está sujeito a desaparecer juntamente com a obra a que faz referência, salvo se o crítico reunir seus artigos num livro de ensaios. A principal característica desta categoria é a necessidade de se escrever rápido, abdicando, muitas vezes, de uma análise profunda e uma leitura completa, na tentativa de ajudar a entender conceitos e propor escolhas. 3.2 CRÍTICA PROFISSIONAL OU ACADÊMICA A Crítica Profissional ou Acadêmica é realizada por professores e alunos. É mais científica pela fundamentação teórica, por isso possui uma linguagem densa com termos específicos. Assegura duas funções: “a primeira consiste em preservar todo o passado da literatura, a segunda, em proporcionar descrição e interpretação que o conhecimento não só de textos de sua época, mas também das ciências humanas, torna mais precisa, mais técnica, mais científica.”10. 3.3 CRÍTICA DOS ARTISTAS A Crítica dos Artistas é executada pelo próprio autor que se torna um crítico ao refletir sobre suas teorias, sua estética e sua arte poética (estratégias da criação) incididas sobre seus iguais. Ela desvenda os bastidores de uma obra e pode revelar escritores desconhecidos do público, discípulos ou não do crítico. A crítica escrita pelos artistas “[...] é uma obra de arte, a reconstituição de um estilo por outro, a metamorfose de uma linguagem em outra. Assim, em seus melhores momentos, os escritores fazem com que nos aproximemos de seus confrades de maneira sensível e não mais intelectual [...]”11. 10 11 TADIÉ, Jean-Yves, 1992, p. 13. Ibidem: p.11. 7 4 PERFIL DO CRÍTICO Machado de Assis, além de célebre escritor, escreveu artigos de crítica e num deles descreveu muito bem aquilo que deveria ser a aspiração do bom crítico. Para ele, crítica e política são mais que o simples desejo de falar ao público desviando sua atenção com discursos revestidos da intencionalidade de defender interesses pessoais ou de terceiros, mas falar com objetividade para esclarecer as obscuridades do objeto descrito. O erro é facilmente produzido por sentenças mal desenvolvidas do crítico, que deve ter uma opinião imparcial, sem faltar com a verdade. Conforme Machado de Assis, o crítico deve primar pela literatura, preocupar-se com questões que envolvem a imaginação, refletir profundamente sobre a obra analisada e encontrar o sentido no âmago da leitura, aplicar as leis da poética e averiguar até onde a imaginação é verossímil. Ele não deve deixar-se guiar por impressões momentâneas de uma leitura superficial. Sua opinião tem que ser gerada pela ciência e pela consciência, tanto que possui a obrigação de produzir juízos de acordo com sua convicção e sem influências externas. Na sua escrita, a coerência e a autoridade são condições para que as sentenças não percam valor e garantam a imparcialidade da crítica. Além disso, é necessário que o crítico seja tolerante ao analisar obras ou escolas literárias cujo estilo não lhe desperte o gosto, bem como possua na sua expressão moderação e urbanidade, [...] eis o melhor meio de convencer, não há outro que seja tão eficaz. Se a delicadeza das maneiras é um dever de todo homem que vive entre homens, com mais razão é um dever do crítico, e o crítico deve ser delicado por excelência. Como a sua obrigação é dizer a verdade, e dizê-la ao que há de mais suscetível neste mundo, que é a vaidade dos poetas, cumpre-lhe, a ele sobretudo, não esquecer nunca esse dever. De outro modo, o crítico passará o limite da discussão literária, para cair no terreno das questões pessoais [...].12 Em outras palavras, a expressão do crítico só convence pela polidez do discurso, até quando deseja apontar aquilo que julga serem defeitos; a expressão áspera, apesar de causar a falsa impressão de independência, não medita e produz uma crítica destrutiva no terreno de questões pessoais. Enfim, a somatória das condições, dos deveres e das virtudes revela o perfil de um verdadeiro crítico que busca a alma do livro com consciência e convicção, adotando uma metodologia para evitar contradições, sendo franco e polido, sem cometer injustiças e modelar 12 MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria, 2000/2003, p.27-8. 8 seu discurso para promover ou adular alguém. Ele procura promover uma mudança pela crítica feita, que deve ser construtiva no intuito de engrandecer a Literatura, corrigir talentos feitos e guiar os iniciantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os Estudos Literários, suportados pelas três pilastras - a teoria, que caracteriza a forma, a estrutura, o funcionamento, as relações psicológicas, entre outros elementos constituintes do texto literário; a história, que informa meio o qual influenciou o surgimento da obra e reflete-se no interior da mesma, bem como periodização cronológica da Literatura por meio dos vestígios comuns das obras em determinadas épocas; e a crítica literária, que possibilita um maior conhecimento da obra, dos contextos e da teoria -, permitem, além de provocarem os leitores com seus juízos argumentados com critérios consistentes, a discussão sobre a Literatura. A Crítica Literária, apesar de seus domínios serem repletos de controvérsias por suas opiniões serem instáveis e revestirem-se de diversas ideologias, é um ótimo exercício de leitura, visto que um ensaio é gerado por uma análise criteriosa que seja capaz de sustentá-lo, porque jamais existe crítica sem análise, no entanto existe análise sem crítica. De uma análise surgem as interpretações do crítico, que busca subsídios para seu texto na história e na teoria, bem como noutras áreas das ciências humanas e estudos culturais. A teoria e a história, principais doutrinas literárias, embora busquem se emancipar da crítica, são frutos da investigação de um crítico, pois esses estudos se afirmaram diante da análise das características das obras e para elas acabam se voltando numa relação de mão-dupla, já que a teoria explica os cânones literários e a história utilmente reúne as obras, conforme traços estilísticos semelhantes, em períodos literários. Nenhum crítico está livre de expressar suas impressões no seu texto, entretanto, ele deve ser imparcial no seu julgamento, em outras palavras, deve avaliar a obra-objeto independentemente de seus gostos literários, mesmo se sua ideologia for diferente da do escritor, porque o objetivo não é analisar somente obras da sua preferência, mas o estudo de qualquer obra. O crítico deve possuir uma linguagem polida e seu texto ser coerente sem o abuso de termologias teóricas, pois nem todo leitor possui conhecimento teórico suficiente 9 para entendê-las, caso as contenha, as mesmas devem ser explicadas com uma linguagem simplificada, facilitando a leitura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria – Literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Críticas Literárias. Pará de Minas: Virtual Books Online M&M Editores, 2000/2003, disponível em: <http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/download/criticas_literarias.pdf>, consultado em: 26-07-2009, às 17h28min. MARTINS, Manuel Farias. s.v. “Crítica Literária”, E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, disponível em: <http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/C/critica_literaria.htm>, consultado em: 25-07-2009, às 20h12min. WELLEK, René; WARREN, Austin. Teoria da literatura e metodologia dos estudos literários. São Paulo: Martins Fontes, 2003. SOARES, Angélica. A Crítica. in SAMUEL, Rogel (Org.) et al. Manual de teoria literária. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 1985. TADIÉ, Jean-Yves. A crítica literária no século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.