1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas Curso de Licenciatura em Matemática Números Fracionários: Uma Discussão sobre a História, o Ensino, os Significados e as Operações Aparecido José da Silva ANÁPOLIS 2012 2 APARECIDO JOSÉ DA SILVA Números Fracionários: Uma Discussão sobre a História, o Ensino, os Significados e as Operações Trabalho de Curso apresentado a Coordenação Adjunta de TC, como parte dos requisitos para obtenção do título de Graduado no Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual de Goiás sob a orientação da Professora Msc. Suely Miranda Cavalcante Bastos. ANÁPOLIS 2012 3 4 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, por ter me conduzido durante todo esse processo me proporcionando a oportunidade deste momento e a realização de mais um objetivo. À minha orientadora Suely Miranda Cavalcante Bastos, pela sua paciência, dedicação, apoio e colaboração durante todas as etapas desse processo. 5 “A Matemática apresenta invenções tão sutis que poderão servir não só para satisfazer os curiosos como, também para auxiliar as artes e poupar trabalho aos homens”. (René Descartes) 6 RESUMO A aprendizagem dos números racionais e as operações entre eles é um dos principais objetivos do ensino de Matemática no Ensino Fundamental pelo fato de que estão presentes em muitas situações do dia a dia. Porem, pesquisas atestam o baixo rendimento dos alunos no conteúdo de frações sendo este considerado um dos temas mais difíceis no Ensino Fundamental. Diante desse quadro, o presente trabalho objetiva, a partir de uma pesquisa bibliográfica, dar subsídios para o ensino-aprendizagem de fração. Apresentando conceitos que normalmente não são encontrados nos livros didáticos. Aborda o ensino dos números racionais na sua forma fracionária, voltado para o Ensino Fundamental: apresenta um pouco da história das frações, considerações sobre o seu ensino e, principalmente seus significados alem de justificativas para as regras utilizadas nas operações procurando refletir sobre as dificuldades dos alunos em aprender esse conteúdo. Enfatiza os significados associados às frações e apresenta as quatro operações fundamentais, tentando esclarecer dúvidas que, na maioria dos livros didáticos, estão nas entrelinhas e muitos professores deixam de esclarecer pelo fato de não compreender. Por este motivo deixam de ensinar ou ensinam de forma mecânica (utilizando o método siga o modelo). É um texto que poderá servir de consulta para professores e alunos que queiram complementar seus conhecimentos acerca deste conteúdo. Palavras-chave: Números Racionais; Frações; Ensino das frações; Significados das frações. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................................8 1. UM POUCO DA HISTÓRIA DAS FRAÇÕES ............................................................... 10 2. FRAÇÕES NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA............................................................... 13 2.1. As propostas curriculares e o papel do professor no ensino das frações ....................... 15 3. OS SIGNIFICADOS DAS FRAÇÕES ............................................................................. 18 3.1. Frações como parte-todo ............................................................................................... 20 3.2. Frações como medida... ................................................................................................. 23 3.3. Fração como quociente .................................................................................................. 24 3.4. Fração como operador multiplicativo ............................................................................ 26 3.5. Frações como números .................................................................................................. 26 3.6. Razão, probabilidade, porcentagem e a relação entre os significados de fração ........... 28 4. EQUIVALÊNCIA DE FRAÇÕES...................................................................................31 5. AS OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS ENTRE FRAÇÕES...........................................36 5.1. Adição e subtração......................................................................................................... 37 5.2. Multiplicação ................................................................................................................. 44 5.3. Divisão ........................................................................................................................... 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 55 8 INTRODUÇÃO A aprendizagem dos números naturais e racionais bem como as operações entre eles é um dos principais objetivos do ensino de Matemática no Ensino Fundamental pelo fato de que estão presentes em muitas situações do nosso dia a dia. Esse uso social frequente garantiu maior destaque desses conteúdos nos livros didáticos, mas não garante a sua compreensão e, consequentemente, uma aplicação eficiente. Segundo Mandarino e Belfort (2006) muitos professores, autores e pesquisadores da área desprezam o ensino da representação fracionária dos números racionais devido ao uso crescente das calculadoras e computadores, valorizando mais a sua forma decimal. Porem, se os significados das frações não forem bem compreendidos a própria construção da escrita decimal dos números racionais ficará comprometida e, além disso, as frações são essenciais nos estágios posteriores da escolaridade. Pesquisas apontam que o interesse dos alunos pela área de exatas é cada vez menor, o que nos leva a refletir se não seria pelo tratamento que tem sido dado aos conteúdos de Matemática e suas aplicações desde as series iniciais do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. A preocupação sobre como está sendo a formação de nossos alunos em relação à Matemática que de certa forma se tornou o “bicho papão” do ensino juntamente com os números fracionários e sobre o que o professor precisa saber para ensinar motivou o presente trabalho. O texto apresentado aqui, objetiva dar subsídios para o ensino-aprendizagem de fração apresentando conceitos que normalmente não são encontrados nos livros didáticos. Aborda o ensino dos números racionais na sua forma fracionária, voltado para o Ensino Fundamental: apresenta um pouco da história das frações, considerações sobre o seu ensino e, principalmente seus significados além de justificativas para as regras utilizadas nas operações. O trabalho foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica de autores como Santos (2005) e Damico (2007), Bertoni, Mandarino e Belfort (2005), dentre outros, e ainda os Parâmetros Curriculares Nacionais. Está dividido em capítulos e o primeiro deles relata um pouco da história das frações como uma forma de atribuir significado aos conceitos matemáticos e contextualizar alunos e professores no processo de evolução histórica desses conceitos. 9 O segundo capítulo discorre sobre as inquietações dos pesquisadores em Educação Matemática e as tendências sobre o ensino das frações. Trata também, brevemente, das propostas curriculares e do papel do professor no ensino deste conteúdo. O capítulo 3, talvez seja o mais importante pelo fato de que poucas são as obras que tratam do assunto: os significados da fração. São apresentados e discutidos cinco significados: comparação (ou relação) entre Parte-todo, Medida, Quociente, Operador Multiplicativo e Fração como um Número. Nesse estudo os conceitos de razão, probabilidade e porcentagem não são considerados como sendo outros significados de fração, pois acreditamos que estas interpretações emergem de situações em que estão implícitos os significados medida, parte-todo e operador multiplicativo. A Equivalência de Frações, bem como as quatro operações fundamentais – adição, subtração, multiplicação e divisão de frações – são apresentadas no capítulo quatro. Aqui são discutidos os conceitos e apresentadas as construções das regras utilizando ilustrações, situações-problema ou propriedades para justificá-las. Este texto busca refletir e dar sugestões sobre os números fracionários no ensino fundamental, as dificuldades dos alunos com as frações e assim tentar desmistificar seu ensino-aprendizagem, provocar uma inquietação sobre o assunto, promover discussões e assim contribuir com a formação dos futuros e atuais professores. Sem ter a pretensão de esgotar o assunto, acreditamos que este trabalho poderá servir de consulta para professores e alunos que queiram complementar seus conhecimentos acerca deste conteúdo. 10 1. UM POUCO DA HISTÓRIA DAS FRAÇÕES Desde os primórdios da humanidade os números estão presentes nas mais diversificadas áreas. Foram aprimorados com o desenvolvimento da linguagem, a necessidade do cotidiano e o desenvolvimento do comércio. Vários pesquisadores como Boyer (1974) e Caraça (1998), entre outros, afirmam que o surgimento da matemática deve-se aos problemas oriundos da vida diária, salvo sua evolução e formalismo. A matemática surgiu da percepção sensível do real, isto é, a tentativa de construir modelos matemáticos para resolver problemas reais. Segundo Santos: As primeiras informações a respeito da idéia de números são do período paleolítico. No entanto, poucos progressos fizeram neste campo até se dar a transição ao período neolítico, durante o qual já existia uma atividade comercial importante entre diversas povoações (2005, p. 60). A noção de número surge para resolver problemas do dia a dia, tais como a necessidade do homem de registrar suas produções e estoques: fazer contagem de grãos, registrarem suas produções e estoques, organizar suas transações comerciais, contar seus rebanhos, seus exércitos e dividir o tempo. Estes dilemas estão presentes desde a descoberta da escrita, segundo Garbi (1997) e, sem sombra de dúvida, com o desenvolvimento da escrita a matemática teve um grande impulso. Os números racionais surgiram para solucionar problemas como o de divisões de terras que margeavam os rios, e pela cobrança de impostos cobrados pelo tamanho das propriedades. Os números inteiros já conhecidos não eram suficientes para dar a real representação de grandezas, como comprimento, e área, por exemplo. Daí a necessidade de subdividir esse número em partes iguais. Segundo Carraher: Era preciso criar um novo instrumento numérico que pudesse exprimir sempre a medida de grandeza por um número. Para superar a impossibilidade dos números inteiros ante a medida, cria-se um novo instrumento numérico, [...] (2008, p. 82). Desde o século XIX, arqueólogos vêm trabalhando sistematicamente na antiga região conhecida como Mesopotâmia, onde foram encontradas muitas placas de argila. Dentre elas aproximadamente 400 são de escritos matemáticos, contendo listas de problemas matemáticos. A descoberta de importantes documentos egípcios mostrou que por meio de problemas, esses povos já realizavam cálculos utilizando os números racionais. O primeiro documento descoberto é chamado de Papiro de Rhind (descoberto por volta de 1858 e escrito por volta de 1650 a.C. por Ahmes). Este documento reúne 85 11 problemas, muitos deles envolvendo o calculo de números racionais. Na primeira parte do Papiro há uma tabela contendo as frações , , , representadas como uma soma de frações unitárias. Apresentamos abaixo alguns exemplos: 2 1 1 = + 5 3 15 2 1 1 = + 11 6 66 2 1 1 1 1 = + + + 29 24 58 174 232 2 1 1 1 1 = + + + 101 101 202 203 606 Segundo Ifrah (1989), na antiguidade, as frações não eram conhecidas como números. O autor ainda afirma que os egípcios só conheciam as frações denominadas unitárias (as de numerador igual a um). Segue abaixo a notação que eles utilizavam para representar as frações: Os babilônios, com a numeração de base 60, foram os primeiros a atribuir às frações uma notação racional, exprimindo-as mais ou menos como se expressam graus, minutos e segundos. Mas a expressão (33; 45) podia expressar 33h 45min ou 33min 45s. Essa notação era “flutuante” e só o contexto podia precisar. Cita Ifrah (1989), que os babilônios representavam as frações conforme símbolos abaixo: Mais tarde os gregos tentaram melhorar o sistema de numeração fracionário dos babilônios, mas a numeração conhecida por eles na época não era suficiente para simbolizar corretamente as frações. Eles escreviam da seguinte maneira: 12 A notação moderna de frações deve-se aos hindus. Devido à numeração posicional decimal, estes povos escreviam as frações mais ou menos como conhecemos somente separadas por uma barra inclinada, por exemplo, 51/84. Mas foram os árabes que, após adotarem essa representação para as frações trocaram a barra inclinada por uma barra horizontal, forma que conhecemos hoje. As frações não foram bem aceitas por todos os povos da região, devido a sua complexidade, entretanto foi adotada pelos árabes em suas negociações. Graças às viagens dos comerciantes árabes os números racionais foram pouco a pouco sendo utilizados por outros povos. Os europeus, ao contrário dos árabes, ficaram tão agarrados aos seus sistemas arcaicos e reticentes diante da novidade que levaram séculos para adotar os novos métodos de calcular com números racionais. Somente a partir do século XI graças as atividade dos tradutores e dos compiladores de obras árabes, gregas e hindus, foi que floresceu os novos métodos de calcular utilizando os números racionais na Espanha. O contato cultural cada vez mais frequente entre os dois mundos deu início a instrução dos europeus na matemática, astronomia, ciências naturais e filosofia. Entre os séculos XII e XIII chegaram à Europa as obras de Euclides, Ptolomeu, Aristóteles e muitos outros. Então foi a vez de traduzir para o latim tudo o que chegava às mãos, o que provocou uma grande e importante troca de conhecimento entre os povos. Os europeus entusiasmados pelos novos métodos de cálculos, muito mais prático que o método tradicional, os comunicava aos seus discípulos que eram cada vez mais numerosos. Neste breve relato histórico observa-se que os grandes avanços das frações vão da pré-história até a Idade Media. Após esse período, houve uma preocupação maior com o aperfeiçoamento da escrita e a utilização para os decimais. 13 2. FRAÇÕES NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA No atual contexto escolar, o ensino da matemática tem sido foco de estudos e muitas discussões a respeito de como está sendo transmitido o saber matemático, além de como está sendo acolhido esse ensinamento por parte dos alunos. A maioria desses estudos a respeito do ensino de matemática está voltada para o ensino fundamental, e nos mostra a preocupação de muitos educadores com o processo de ensino e aprendizagem dessa disciplina. Dentre estas preocupações encontra-se o ensino dos números racionais: muitos alunos têm dificuldade para compreender e muitos professores sentem dificuldade para ensinar. Essa dificuldade de aprendizagem dos números racionais é apontada nas avaliações nacionais, como as do SAEB – (Sistema de Avaliação da Educação Básica), desenvolvida pelo INEP/MEC (2001, 2003) e reafirmado nas ultimas avaliações como as de (2010, 2011), que enfoca principalmente na 3º, 4º, 5º e 6º (serie, ano), do ensino fundamental, a dificuldade em compreender os números racionais principalmente envolvendo problemas. Existe uma preocupação por parte dos educadores com o ensino dos números racionais principalmente em relação às quatro operações envolvendo frações e na resolução de problemas. Entende-se que os alunos precisam terminar o quinto ano do ensino fundamental dominando esses conteúdos. Vários autores atestam a diversidade e a necessidade de se trabalharem com os números racionais segundo Mandarino e Belfort: Os usos e significados dos números racionais são diversos e importantes para lidarmos, cotidianamente, com informações necessárias ao exercício da cidadania. Quando medimos ou descrevemos medidas, por exemplo, é comum recorrermos a frações (2010, p. 107). Mas existe um consenso entre vários pesquisadores, de que a construção do conceito dos números racionais, em especial os de frações não ocorre de maneira natural. Necessita de uma abordagem que leve a uma construção significativa desse importante conceito matemático. Segundo Santos: Para tanto, as frações quando aplicadas a problemas reais e analisadas do ponto de vista pedagógico assumem várias “interpretações”. Nesse sentido, encontramos diversos educadores matemáticos cujos estudos caminham nessa direção (2005, p. 73). No entanto percebe-se pouca atenção por parte dos educadores no ensino das frações e isso não ocorre somente na sala de aula. Em comparação com o volume das 14 pesquisas realizadas sobre a construção do número natural pela criança, o número de pesquisas sobre a construção do número fracionário é bem reduzido. A maioria das aulas sobre os números racionais se reduz a aulas expositivas, seguidas de exercícios repetitivos dos tipos “siga o modelo” e o professor fica restrito somente ao livro didático, fazendo com que o aluno não tenha uma real compreensão dos números fracionários. Em todos os níveis de ensino, é comum que professores e textos resolvam alguns “exercícios–modelo” mostrando como se faz, pedindo em seguida que o estudante resolva dezenas de problemas semelhantes. Por “falta de tempo” preferem o “é assim que se faz” ao invés de deixar que os estudantes pensem por si próprios, experimentem as suas idéias, dêem ouvidos à sua intuição. Melhor seria se o professor fosse mais um orientador, um incentivador, um burilador das idéias e iniciativas dos estudantes (DANTE 1987, p.32-33). No ensino da matemática ainda é comum a utilização de métodos de memorização e repetição. De acordo com Dante a justificativa para utilização de tais métodos está no argumento de que “a repetição leva à fixação” (1987, p. 33). Apesar de que no ensino da matemática o aluno tem que praticar, não devemos levá-lo apenas para o lado da repetição, pois praticar é treinar o raciocínio lógico e desenvolver a prática de calcular e não a resolução de inúmeros exercícios semelhantes. Os estudos feitos pelo PROEM (Programa de Estudos e Pesquisas no Ensino Médio), sob orientação de Beatriz D’Ambrosio (1989), apontaram algumas dificuldades dos alunos em trabalhar com o conceito de frações. Estas dificuldades provavelmente são uma consequência da confusão que os alunos fazem com os significados de fração. Outro problema que a pesquisa aponta é que a formação dos professores é cada vez mais inadequada, formando assim maus profissionais, os quais passam a sua dificuldade aos seus alunos deixando lacunas enormes no ensino fundamental que os alunos levam para toda sua vida de estudante. Assim, é importante refletir sobre o ensino dos números racionais, pois além de ser essencial para o campo da matemática, também tem seu uso social, como por exemplo, em uma receita simples de culinária ou em medições de áreas na engenharia ou ainda na manipulação de fórmulas de remédios pelos farmacêuticos que, na maioria das vezes são fracionárias, alem de muitos outros segmentos. Os alunos deverão ser conduzidos a enxergar esse lado prático das frações e aplicar esse conceito no seu dia a dia. Segundo Mandarino e Belfort: Em estágios posteriores da escolaridade, as frações são essenciais, como nos cálculos algébricos que surgem inevitavelmente em problemas de geometria ou de grandezas e medidas. Ao chegar nesses estágios, é importante que o aluno já esteja bem familiarizado com as frações. Assim, pode se concentrar no próprio problema e 15 não fica impossibilitado de resolvê-lo corretamente devido a dificuldades operatórias que deveriam ter sido superadas muito antes (2010, p. 107). Enfatizamos que se os números racionais na forma fracionária não forem bem introduzidos nas séries iniciais poderá acarretar problemas futuros ao aluno em toda sua vida estudantil, visto que esses números têm grande importância na matemática, relacionando-se a razões, raciocínio proporcional, ao cálculo algébrico, a probabilidades etc. 2.1. As propostas curriculares e o papel do professor no ensino das frações Vários autores atribuem as dificuldades na aprendizagem dos números fracionários apontadas na literatura e nas avaliações nacionais à complexidade do conceito de fração associada aos vários significados do número racional. Estas dificuldades são percebidas tanto do ponto de vista do seu ensino como em relação à sua aprendizagem. Bertoni (2008) aponta que propostas curriculares estaduais muito extensas sobre o tema, que se refletem nos conteúdos de muitos livros didáticos, também contribuem para as dificuldades dos alunos em relação às frações. O tempo destinado ao ensino deste conteúdo traduz uma concepção de ensino fundamental que visa à formação do aluno-calculadora – não importa o que ele entenda ou não, o importante é que consiga realizar qualquer operação com os números naturais, fracionários, decimais. Não importa mesmo que ele saiba como usar essas operações ou como combiná-las na resolução de problemas. As representações fracionárias e decimais dos números racionais são conteúdos desenvolvidos nos dois últimos anos da primeira fase do ensino fundamental. Porém, o que se constata é que os alunos chegam à fase seguinte sem compreender os diferentes significados, associados a esse tipo de número e tampouco os procedimentos de cálculo envolvendo esses números. Essas dificuldades segundo os PCN possivelmente devem-se ao fato de que a aprendizagem dos números racionais supõe rupturas com ideias construídas para os números naturais, tais como: - Um mesmo número racional pode ser escrito de diversas maneiras, por exemplo, 0,5, 1/2, 2/4, 3/6,... - A comparação entre frações visto que estão acostumados com 3>2, terão que compreender uma desigualdade que para eles parece contraditória (1/3<1/2); 16 - O fato de o tamanho da escrita numérica, no caso de números naturais, ser um bom indicador de ordem de grandeza (9658 > 96) o que não ocorre com números decimais (2,8 > 2,765). - Ao multiplicar um número natural por outro natural espera-se encontrar um número maior que ambos, o que não ocorre com os racionais (Ex: 1/2 x 10). Os aspectos apontados acima apontam para uma necessidade de se elaborar propostas de ensino que de fato possibilitem ao aluno a compreensão plena do conceito de fração. O que se observa em relação ao ensino é uma forte tendência para introduzir esse conceito apenas a partir da relação parte-todo seguido de uma ênfase exagerada em procedimentos e algoritmos. Em concordância com Santos (2005), acreditamos o conceito de fração é uma das mais complexas e importantes ideias da matemática e que seu ensino envolve três aspectos: 1º O fato das frações surgirem frequentemente em situações relacionadas às medidas e quantidades evidencia a necessidade da extensão dos conjuntos naturais. 2º O trabalho com frações surge como uma oportunidade privilegiada para alavancar e expandir estruturas mentais necessárias ao desenvolvimento intelectual. 3º São as frações que fundamentarão ideias matemáticas mais complexas, como por exemplo, as operações algébricas a serem desenvolvidas ao longo do ensino de Matemática. É importante ressaltar que, o que o professor precisa saber para ensinar é muito mais amplo do que aquele que o seu aluno deverá aprender tanto ao nível de profundidade quanto ao tipo de saber. Portanto, o professor precisa conhecer muito bem o conteúdo que irá ensinar, seus conceitos e procedimentos, para que possa ser o mediador de um ensino que leve o aluno a construir seu próprio conhecimento a partir de relações próprias como sugerem os PCN (1998). Isto significa que os conhecimentos do professor deverão ir alem dos conteúdos definidos para os níveis nos quais atuará, incluindo conhecimentos a ele articulados que compõe o campo de aplicação e aprofundamento. Nos anos finais do Ensino Fundamental o ensino das frações e números decimais deve visar o desenvolvimento do pensamento numérico por meio de situações de aprendizagem que levem o aluno a ampliar e consolidar esses significados a partir dos diferentes usos em contextos sociais e matemáticos e reconhecer que existem números que não são racionais. Além disso, devem resolver situações-problema envolvendo números racionais, naturais e irracionais. 17 Com relação aos recursos de que o professor pode lançar mão para ensinar frações e números decimais, devemos buscar sempre novidades e outros materiais (dourado, cuisenaire, calculadora, jogos...) além do livro didático para ensinar numa sala de aula, retirando o dogma de simplesmente jogar inúmeros e repetitivos exercícios aos alunos. A calculadora, apesar das controvérsias que tem provocado, tem sido enfaticamente recomendada pela maioria dos pesquisadores e mesmo pelos professores do ensino fundamental. Dentre as várias razões para seu uso, ressalta-se a possibilidade de explorar problemas com números frequentes nas situações cotidianas e que demandam cálculos mais complexos. PCN (1988). Reconhecer os números racionais em diferentes contextos cotidianos e históricos e explorar situações-problema que indicam os vários significados da fração alem de localizá-las na reta numérica reconhecendo que estes podem ser expressos também na forma decimal, estabelecendo relações entre essas representações são conceitos e procedimentos que deverão estar dominados pelos alunos ao final do ensino fundamental. Somam-se a estes a análise, interpretação, formulação e resolução de situações-problema, compreendendo diferentes significados das operações, envolvendo números naturais, inteiros e racionais, reconhecendo que diferentes situações-problema podem ser resolvidas por uma única operação e que eventualmente diferentes operações podem resolver um mesmo problema. Diante do exposto acima cabe ao professor escolher e adequar as situações que podem dar significado ao conhecimento das frações para minimizar as dificuldades encontradas pelos alunos e tornar o seu ensino mais eficiente: abordar o conceito em diferentes contextos e diversas situações, valorizar mais os aspectos conceituais do que os operatórios. 18 3. OS SIGNIFICADOS DAS FRAÇÕES No ensino-aprendizagem das frações parece ficar meio oculta a intenção de, além de designá-las e representá-las, mostrar que são números com os quais se poderá operar, comparar com os números naturais e entre si e colocar na reta numérica. Essa intenção não fica bem consubstanciada, na medida em que as operações com os símbolos numéricos fracionários surgem de repente, na forma de regras. Os alunos não compreendem os significados iniciais desses números e as relações entre eles como ocorre quando começam a perceber o sentido dos números naturais. Assim, não constroem o conceito de número fracionário. Basta entrar em uma classe de 5º ou 6º ano e formular perguntas como: quanto é um menos um quarto? Quanto dá metade de um meio? Em um litro e meio, quantos quartos de litros cabem? Se o objetivo é formar o conceito de número fracionário nos alunos é necessário evidenciar a característica quantificadora essencial dos mesmos. De acordo com os estudos de Bertoni (2009), o conceito claramente formado de que estes números quantificam conduz a várias percepções: • de que sem os fracionários só se poderia quantificar coleções constituídas apenas de objetos inteiros. • de que é possível comparar, em termos das quantidades que representam, esses números entre si e com os números naturais; • do reconhecimento de que esses números entremeiam-se entre os números naturais; • do posicionamento dos mesmos na reta numérica; • do significado das operações entre eles. Fração é uma forma de representar números não-inteiros, pelo uso de números inteiros. É expresso pela forma , onde a e b são inteiros e b diferente de zero. Nessa representação, a primeira parcela da fração, isto é, o número inteiro que ocupa a posição de a (em cima da barra) é chamado de numerador e a outra parcela, o número que ocupa a posição de b (embaixo da barra) é o denominador. Denominador – o que denomina, dá nome à fração. Ao multiplicarmos as duas parcelas da fração (numerador e denominador) por um número diferente de zero, obtemos outra fração dita equivalente. As frações equivalentes, como, por exemplo, , , ,..., representam o mesmo número na reta real, podendo-se 19 substituir uma pela outra quando conveniente. O item seguinte trata mais detalhadamente das frações equivalentes. Algumas frações recebem um nome especial por sua singularidade. - fração irredutível: aquela que não pode ser reduzida, isto é, que não possua uma equivalente de numerador e denominador menores; - fração imprópria: fração cujo numerador é maior que o denominador; - fração aparente: assim chamada, pois representa, na verdade, um número inteiro. Acontece quando o numerador é um múltiplo do denominador; - frações inversas: frações cujo denominador e numerador estão trocados. Ex: e . Pode-se falar em 2,5 pizzas numa mesa, mas não em 5,67 crianças numa sala. Pode-se falar em 1,223 litros de água num balde, mas não de 53,73 árvores num bosque. Por que algumas quantidades se mostram discretas e outras contínuas? Quantidade ou grandeza contínua - as que podem ser divididas infinitamente sem perder as suas características como, por exemplo, uma pizza pode ser dividida em inúmeras partes iguais sem deixar de ser pizza, Quantidade ou grandeza discreta - um conjunto de objetos idênticos, representando um todo e que sua divisão produzirá subconjuntos com o mesmo número de unidade. Exemplo: em um bosque com mais de 250 árvores cada uma delas representa a fração das árvores do bosque. Segundo Santos (2005) e Damico (2007) existem diferentes classificações dos significados das frações sem que a importância dessas classificações para o ensino tenha sido esclarecida. Uma compreensão completa sobre os números racionais, em especial sobre as frações, requer uma compreensão de cada um desses significados e de como eles se relacionam. Damico (2007) evidencia que para lidar com os vários significados são necessárias diferentes estruturas cognitivas e que muitos estudos identificaram diversas fases de desenvolvimento no pensamento das crianças ao lidarem com os números racionais, constatando uma gradual diferenciação e progressiva integração dos seus significados. Santos (2005) e Damico (2007) identificam cinco significados possíveis que devem ser considerados no ensino-aprendizagem das frações: comparação (ou relação) entre Parte-todo, Medida, Quociente, Operador Multiplicativo e Fração como um Número. 20 Nesse estudo os conceitos de razão, probabilidade e porcentagem não são considerados como sendo outros significados de fração, pois em concordância com Santos (2005) acreditamos que estas interpretações emergem de situações, cuja resolução de determinados problemas pode recorrer às frações como tratamento didático estando implícitos os significados medida, parte-todo e operador multiplicativo. A seguir serão descritas as idéias básicas de cada significado. 3.1. Frações como parte-todo As frações podem assumir a ideia de partição de um todo – contínuo ou discreto – em n partes iguais, em que cada parte poderá ser representada por . Se a pessoa se refere a várias (k) partes do todo então temos . O inteiro 1 = é uma característica básica nesta representação. Este é um significado importante a ser desenvolvido por ser fundamental para o entendimento dos outros quatro tratados aqui. Frações com esse significado podem ser representadas por figuras que, principalmente no ensino fundamental, podem ajudar o aluno a compreender melhor essa repartição. Se um todo foi dividido em três partes iguais e uma foi pintada os alunos podem interpretar essa representação como um processo de dupla contagem: acima do traço da fração se escreve o número de partes pintadas e abaixo do traço escreve-se o número total de partes. Se o todo (retângulo) foi dividido em partes iguais, tratando-se de uma comparação parte-todo, a parte de cima é chamada de numerador e indica quantas partes do todo foram utilizadas, e parte de baixo é chamada de denominador, e indica a quantidade máxima de partes iguais em que o inteiro foi dividido. Inúmeras são as situações-problema envolvendo o significado de parte-todo que podem ser encontradas pelo mundo e apresentadas aos alunos normalmente com o auxílio de modelos envolvendo pizzas, chocolates ou pirulitos. Essa idéia de relação parte-todo começa a ser apresentada aos alunos por volta do 4º ano do Ensino Fundamental inicialmente utilizando na maioria das vezes materiais concretos, papel quadriculado ou dobraduras e são bastante exploradas até o final do 5º ano. Os outros significados são aplicados com outras 21 abordagens na segunda metade do Ensino Fundamental com o objetivo de ampliar os conhecimentos e resolver problemas (DAMICO, 2007). Para Marshal (1990 e 1993) e Sweller e Cooper (1985) apud Damico (2007), a representação visual para a situação parte-todo precisa ser codificada pelo aluno para que ele possa memorizar quais aspectos das figuras representam o todo, quais representam as partes e como eles se relacionam. São duas as formas de representação que predominam: a primeira é o símbolo que é uma representação visual uma vez que difere dos outros números que os estudantes conhecem e a segunda tem a ver com dividir regiões, que normalmente são retângulos ou círculos que podem ser facilmente divididos em pedaços de igual tamanho e isso envolve aparentemente uma compreensão da noção de área. Quando tomamos quantidades contínuas divididas em partes congruentes podem surgir dificuldades em relação a identificação da relação entre a área destacada e a área total da figura. As situações seguintes representam do todo: Nelas a habilidade requerida é dividir “todos contínuos” em áreas congruentes e não dividi-los em partes com formas iguais. Para a compreensão completa deste significado (relação parte-todo) é necessário identificar qual “todo” está sendo tomado como unidade. Desta forma, a identificação da relação entre a área colorida e a área total da figura requer estruturas cognitivas distintas que devem ser levadas em consideração quando se elaboram as metodologias para abordar este significado. Porem, contextualizar com a noção de área pode ajudar na habilidade dos alunos para aprender conceitos de fração que envolve regiões geométricas e até medidas. Veja a seguir um exemplo usual de fração com significado de relação parte-todo envolvendo quantidade contínua: 22 Tomemos uma barra de chocolate Dividida em quatro pedaços iguais: E consumir três desses pedaços: Foram consumidos do chocolate. Vejamos agora um exemplo em que são usados conjuntos discretos: Fernanda tem 4 botões coloridos, Sofia tem 3 e Bia tem 5, logo juntas elas têm 12 botões. Considerando que cada botão é a unidade de divisão podemos ilustrar a situação da seguinte maneira: A representação parte-todo de Fernanda é A representação parte-todo para Sofia é 23 A representação parte-todo de Bia é Assim, por exemplo, a “parte” é o número de botões de Sofia e o todo é o número total de botões. Cada uma das unidades que compõe a “parte” tem tamanho igual – no caso do nosso exemplo um botão colorido. Entretanto, a divisão não resulta em partes de mesmo tamanho. São necessárias três partes para formar o todo que são os 12 botões e cada uma podem ser representadas por uma fração: – Fernanda, – Sofia e – Bia. É importante ressaltar que apesar de ser importante para as interpretações posteriores dos números racionais este significado isoladamente é insuficiente para uma completa compreensão desse conjunto numérico. O processo de dividir, contar, pintar apresenta-se artificial não refletindo situações reais. Alem disso, a compreensão das frações impróprias não pode ser adquirida por intermédio deste significado. 3.2. Frações como medidas A ideia é de comparação de duas grandezas em que é estabelecido um termo de comparação único para todas as grandezas de mesma espécie, como por exemplo, metros para comprimento. A questão exige resposta para a pergunta “quantas vezes”? O que se faz dando um número que exprima o resultado da comparação. Consideremos dois segmentos de medidas diferentes e tomemos um deles, o menor, por exemplo, como unidade de medida. Atualmente, não é muito comum o uso das frações para indicar medidas, as pessoas preferem o uso da escrita decimal, ou seja, os "números com vírgula". Assim, em vez de se indicar uma altura de dois metros e meio por 2m e ou por m, prefere-se a indicação 2,5 m. Porém, o uso das frações para indicar medidas ajuda a formar o conceito de fração e proporciona um contexto natural para a soma de frações, pois trata-se da união de duas medidas. Alem disso, facilita a introdução da notação decimal. O significado de medida também é muito útil para entender as frações maiores que a unidade. Vamos pensar na seguinte pergunta: Qual é a fração que corresponde a três inteiros e dois quintos? 24 Acontece que cada uma das barras que representa o inteiro pode também ser dividida em 5 partes. A reta numérica é outra boa representação das frações como medida bastando que, para isso, identifique-se um segmento como unidade de medida e este segmento admitirá subdivisões congruentes. 3.3. Fração como quociente Neste caso a fração símbolo é olhada como uma divisão entre dois números inteiros e o representa uma relação entre duas quantidades k e n que significa que às vezes ≠ 0) é usado como um outro modo de escrever a divisão de k por n (n . Este significado sugere a ideia de partilha, de fazer agrupamentos, de divisão indicada que extrapola as idéias presentes no significado parte-todo. Em situações de quociente temos duas variáveis, por exemplo, três chocolates e quatro crianças e a fração 25 corresponde à divisão de três chocolates para quatro crianças e também ao resultado da divisão (cada criança receberá ). Para um estudante que está apreendendo frações a diferença entre esta interpretação e a de parte-todo é bastante significativa. Para ele, dividir uma unidade em quatro partes e tomar 3 é diferente de dividir três unidades entre quatro pessoas apesar do resultado ser o mesmo: ). Problemas deste tipo auxiliam não somente a compreensão de mais de um sentido da fração, como também o estabelecimento da relação entre as frações e os números decimais. Nesse sentido, devem ser exploradas frações decimais para que os alunos percebam, por exemplo, = = 0,2. A partir de exemplos desse tipo, os alunos podem observar que é possível transformar uma fração decimal em números decimal e vice-versa. Exemplo 1: Dividir três barras de chocolate em partes iguais entre 4 pessoas. Que fração representa essa divisão? (quantidade contínua). Exemplo 2: Tenho 12 bolinhas de gude e vou dividir igualmente entre 4 crianças. Quantas bolinhas cada criança receberá? (quantidade discreta) Ambas as situações, quantidades contínuas ou discretas, podem ser representadas por figuras, pois, principalmente as crianças terão uma melhor compreensão. Exemplo 1: Três barras de chocolate (quantidades contínuas) divididas entre quatro pessoas. E dividir as três barras entre 4 pessoas Assim obteremos a fração . Exemplo 2: Doze bolinhas de gude (quantidade discreta) divididas entre quatro crianças. 26 Ao dividir igualmente entre 4 crianças cada criança receberá 3 bolinhas. 3.4. Fração como operador multiplicativo Este significado define uma estrutura multiplicativa em que o operador faz duas operações: uma de multiplicação por k outra de divisão por n. Em quantidades discretas funciona como modo de ampliação, enquanto que em quantidades contínuas funciona como modo de redução. Assim as frações, bem como os números inteiros, podem ser interpretadas como valor escalar aplicado a uma quantidade. Exemplo 1: Em uma turma do 8º ano, foi aplicada uma prova de matemática para 32 alunos, sendo que somente da turma obtiveram bons resultados. Quantos alunos tiveram bons resultados (quantidade discreta). O número de alunos será obtido multiplicando a quantidade (32) de alunos por 3 dividindo o resultado por 4 assim obtendo 24 alunos. Outra maneira seria dividir o número de alunos (32) por 4 multiplicar o resultado por 3, também obtendo o mesmo resultado. Exemplo 2: Uma jarra contém 900 ml de suco e Pedro bebeu desse. Quantos mililitros de suco Pedro bebeu? (quantidade contínua). Da mesma forma que no exemplo anterior, a quantidade de suco que Pedro bebeu será obtida multiplicando 900 ml por 2 e dividindo o resultado por 3, obtendo 600 ml, ou ainda dividindo 900 ml por 3 e multiplicando o resultado por 2, e obtendo os mesmos 600 ml. Nas ampliações e reduções de figuras as escalas são representadas por frações que correspondem aos respectivos fatores (operadores) de redução ou ampliação. 3.5. Frações como números 27 Assim como números inteiros as frações não precisam necessariamente referir-se a quantidades ou a situações especificas, isto é, não é necessário fazer referência a uma situação específica ou a um conjunto de situações para nos remeter a fração com significado de número e, consequentemente, não há necessidade de abordar esse significado em quantidades contínuas e discretas. Representar diferentes frações na reta numérica e representar números decimais em forma de fração são atividades que podem ajudar no entendimento do significado de fração como número. De acordo com Damico (2007 a reta é um poderoso instrumento para construir o significado de número racional, então utilizá-la no ensino-aprendizagem dos números racionais, em especial os escritos na forma fracionária, traz inúmeras vantagens: • Faz com que os alunos concebam as frações como números tais como 1, 2, 3,... • Contribui para a compreensão de que os números racionais são uma extensão dos números inteiros (e de que os inteiros também são racionais); • Garantem mais naturalidade às frações impróprias e mistas; • Contribui para a compreensão da densidade dos números racionais; • Pode ser utilizada para a construção do significado de equivalência; • Auxilia na construção e consolidação dos conceitos de medida, relação de ordem e equivalência de frações; • Pode auxiliar na compreensão das operações básicas das frações servindo como modelo representacional. Entretanto, ainda segundo Damico (2007) alguns problemas podem ser identificados tanto em alunos como em professores ao trabalhar a fração na reta numerada: • Os alunos associam mais facilmente as frações próprias com pontos na reta quando a graduação é 1; • Não associam as frações equivalentes entre si ao mesmo ponto na reta ( e , por exemplo); 28 • Dificuldades em identificar na reta os pontos nos quais o número de subdivisões da unidade não são iguais ao denominador da fração. Exemplo: marcar em uma reta que estiver dividida em duas partes: A representação das frações na reta numérica também pode ser um caso particular da relação parte-todo. Em razão dos diversos significados que podem ser atribuídos à fração (e consequentemente ao número racional) pode-se considerar que trata-se de um superconceito. Do ponto de vista do ensino não é indicado isolar completamente cada um dos significados dos demais. Alguns deles têm vinculações naturais que não se podem ignorar e fazem com que, ao se tratar de um determinado aspecto de um significado, outros estejam implicitamente presentes. O indicado é o professor utilizar vários contextos para reforçar a idéia de que os números racionais assumem vários significados. Pesquisas apontam que a abordagem que se faz de um determinado conceito de fração não garante que o aluno construa o conhecimento desse conceito especificamente. 3.6. Razão, probabilidade, porcentagem e a relação entre os significados de fração. Existem algumas situações em que as frações podem ser interpretadas como razão, probabilidade e porcentagem e não serão consideradas neste estudo, como outros significados de fração pelo fato de emergirem de situações cuja resolução pode recorrer às frações que contenham implícitos os significados medida, parte-todo e operador multiplicativo. (SANTOS, 2005). A razão nem sempre está presente nos contextos que lhes confere significado de fração. Vamos analisar a seguinte situação: dividir 3 biscoitos para 6 crianças. A resposta pode ser pensada em termos de quociente (ou divisão) – a quantidade de doce que cada criança recebe, ou em termos de razão – a razão de biscoitos para cada criança. Outra situação: receita de um suco - um copo de concentrado para três copos de água. A receita nos remete a duas frações: um pra três ou em que a fração aparece com 29 significado de medida ou ainda que representaria a quantidade de concentrado em relação à quantidade total da mistura com significado de parte-todo. Entretanto existem situações em que a razão não representa uma fração: dois reais a cada três quilos de cebola. Em termos de razão a representação seria dois para três ou . Outro aspecto a ser levado em conta é o fato de que só é possível somar razões se elas fizerem referência a um mesmo todo, isto é, só é possível somar razões (quantidades intensivas) se elas puderem ser transformadas em frações (quantidades extensivas), expressando uma relação parte-todo de um mesmo todo ou de todos iguais. Segundo Santos (2005), no contexto de fração como probabilidade está implícito o significado de medida. Exemplo: Em uma caixa há três bolas azuis e oito bolas pretas, qual a probabilidade de se sortear ao acaso uma bola azul? A resposta é . Onde de onze bolas na caixa três são azuis. Nessa situação está implícito o significado de medida e a fração representa a probabilidade da ocorrência desse evento que é medida pelo número de casos favoráveis divididos pelo número de casos possíveis. Apesar da maioria dos livros didáticos abordar separado do estudo das frações, em situações que se referem à porcentagem está implícito um dos significados da fração: o de operador multiplicativo. Exemplo: Carlos teve aumento no seu salário de 7 %, isto é . Só tem sentido dizer 7 % referindo-se a uma quantidade, seja ela discreta ou contínua. A porcentagem tem significado de operador, pois a % de x significa aplicar a fração sobre x. As frações podem ser tomadas também para demonstrar uma complementaridade entre razão e quociente. Como quociente a fração responde à pergunta “quanto?” advindo do ato de compartilhar e casos como estes envolvem quantidades extensivas. Como razões as frações tem caráter intensivo: contem uma propriedade que relaciona uma quantidade e uma unidade. Podemos considerar também uma relação existente entre os significados medida e parte-todo e um contexto que pode exemplificar essa relação é uma situação comum de uma pizza dividida em 8 partes iguais dos quais 3 já foram comidos. A fração que representa o todo dividido em 8 partes das quais foram tomados 3 é que é a relação entre parte e todo. 30 Por outro lado, pode-se considerar também a relação entre as áreas correspondentes entre os 3 pedaços de pizza e o todo (pizza inteira) que denota uma medida ( ). Rodrigues (2005), em sua pesquisa para identificar que aspectos dos conceitos de fração relativos aos significados de parte-todo e quociente permanecem sem ser compreendidos por alunos das series finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior na área de exatas concluíram que os alunos ainda apresentam dificuldades significativas da compreensão do papel da unidade nos problemas envolvendo frações, das peculiaridades das situações envolvendo grandezas discretas e a explicitação de soluções em termos de operações com frações. 31 4. EQUIVALÊNCIA DE FRAÇÕES São equivalentes todas as frações que descrevem a mesma relação entre a parte considerada e o todo. O conceito de equivalência de frações é fundamental na construção dos números racionais. Compreender o seu significado é de fundamental importância para o estudo de comparação e operação de frações. Os conhecimentos prévios necessários para uma boa compreensão da equivalência de frações são relacionados ao significado de parte-todo, tanto em situações envolvendo quantidades contínuas quanto em situações que envolvam quantidades discretas. O indicado é que, em um primeiro momento as relações de equivalência devem ser desenvolvidas a partir da exploração de material concreto, desenhos de figuras ou representação de situações que lhes são familiares. Estudantes que compreenderam o significado de fração e que manipularam adequadamente materiais concretos não encontram dificuldades em perceber a seguinte propriedade: dadas duas frações com o mesmo denominador é maior a que possui maior numerador. Se trabalhada utilizando situações bem contextualizadas e/ou apoiadas em figuras com o significado de parte-todo comparar duas frações de mesmo denominador não apresenta grandes dificuldades. Como exemplo, temos o retângulo que representa o inteiro: Se dividirmos o retângulo ao meio e pintarmos uma dessas partes, A fração que representara a parte pintada será . Se dividirmos o retângulo em 4 partes e pintarmos 2 dessas partes, A fração que representara a parte pintada será . 32 Se dividirmos o retângulo em 8 partes e pintarmos 4 dessas partes, A fração que representa a parte pintada será E se repetirmos esse procedimento várias vezes iremos encontrar infinitas frações equivalentes a . Observe-se que nestes exemplos todas as frações que representam as partes pintadas dos retângulos são frações equivalentes, pois representam a mesma parte do todo (retângulo). Apesar de sua representação numérica ser diferente, todas representa . A dificuldade surge quando se deseja comparar frações com denominadores diferentes. Frequentemente os estudantes cometem um erro ao acreditar que é maior do que por que 3 é maior do que 2. Nesses casos, é necessário estabelecer parâmetros de comparação, o que significa padronizar a medida e determinar o todo a ser tomado como referencia, ou seja, encontrar frações equivalentes às frações dadas, mas que tenham o mesmo denominador. O indicado é começar com exemplos simples, como e que podem ser percebidos por meio da manipulação de material concreto, ou até mesmo analisando no contexto de parte-todo: na primeira pegamos uma parte do todo que foi divido em duas partes e na segunda pegamos uma parte do todo que foi dividido em quatro partes. Acredita-se que o aluno poderá concluir rapidamente que é maior que . Ao observarmos os exemplos anteriores, podemos verificar que pelo método geométrico é simples visualizar se duas ou mais frações são equivalentes ou não. Este processo, apesar de longo e cansativo, servirá para o professor conduzir os estudantes ao processo aritmético: 33 • Multiplicar o numerador e o denominador da fração pelo mesmo número, desde que esse seja diferente de zero, ou • Dividir o numerador e o denominar da fração pelo mesmo número desde que seja diferente de zero. Exemplo: utilizaremos como a fração original: Se multiplicarmos o numerador e o denominador por 2 obteremos, Se multiplicarmos o numerador e o denominador agora por 3 obteremos, Exemplo: utilizaremos a fração como fração original: Se dividirmos o numerador e o denominador por 2 obteremos: 34 Se dividirmos o numerador e o denominador por 4 obteremos: Observando as figuras, percebe-se que ao multiplicar numerador e denominador pelo mesmo número podem ser encontradas infinitas frações equivalentes a uma dada fração, já no caso da divisão não, pois vamos procurar somente até encontrar uma fração irredutível (quando o numerador e o denominador são primos entre si, ou seja, o máximo divisor comum entre eles é 1). Caso já tenhamos duas frações e precisamos saber se elas são equivalentes ou não, basta multiplicar o numerador da primeira pelo denominador da segunda, e o denominador da primeira pelo numerador da segunda: • Se os resultados das duas multiplicações forem iguais, as frações são equivalentes e • Se os resultados das duas multiplicações forem diferentes as frações não são equivalentes. Exemplo: vamos utilizar as frações e . Assim como os resultados da multiplicação foram iguais as frações e , são equivalentes, o que pode ser confirmado por meio de uma figura feita como no exemplo abaixo ou de materiais concretos. Exemplo: Vamos utilizar as frações e : 35 Podemos ver que o resultado da multiplicação foi diferente entre as frações. Neste caso as frações não são equivalentes. E podemos observar pela figura abaixo. Por que essa regra funciona? Para explicarmos usaremos o mesmo principio dos números naturais, que nos garante que se pegarmos dois números naturais e subtrairmos um pelo outro, se o resultado da subtração for zero, então os números são iguais. Se duas frações são equivalentes, isso quer dizer que elas são iguais, pois representam a mesma parte do todo, então se subtrairmos uma pela outra naturalmente seu resultado será zero. Exemplo: Vamos verificar se as frações e . É importante ressaltar que o conceito de equivalência de frações pode ter vários níveis de dificuldade, logo o professor deverá estar atento para melhor preparar as atividades de ensino. Como já foi dito anteriormente, a reta numérica é bastante eficaz para estabelecer uma relação de ordem entre duas frações. 36 5. As operações fundamentais entre frações As operações são pontos extremamente importantes na aritmética que é trabalhada com os alunos a partir dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Porém o que se percebe é uma ênfase exagerada nos algoritmos e o treinamento por intermédio de listas exaustivas de exercícios repetitivos e descontextualizados. O problema se torna ainda maior quando estas operações envolvem números racionais, em especial as frações. A compreensão dos conceitos envolvidos nas operações elementares com fração deve anteceder a aplicação dos algoritmos e o professor deve propor formas de organização do seu ensino para assim evitar mecanizações desprovidas de sentido para os alunos. Bittar (2005), sugere que devemos iniciar o ensino das operações com o uso de material concreto, e a partir daí apresentar as regras, e ressalta que “não é o objetivo nas series iniciais o estudo de todas as técnicas, pois o importante é a compreensão das ideias envolvendo frações”. Bertoni (2009), por sua vez, sugere iniciar os estudos das operações com frações, utilizando as famílias das frações, meios, quartos, oitavos, terços, sextos, doze avos, quintos, décimos, vinte avos. Ela acredita que, dessa forma ao se trabalhar com as famílias separadamente, consolida-se a ideia de números fracionários. D’Ambrosio (2002), ressalta que dificilmente são apresentadas justificativas para as operações com frações continuarem a ser ensinadas. Segundo este autor, apesar da fração como razão e proporção serem extremamente importantes os professores deixam de trabalhar essa forma de representação em função das operações, as quais não têm nenhuma importância, e deveriam ser realizadas apenas com o uso da calculadora. Bertoni (2006), diz que por ser pouco comum o uso da calculadora com a representação fracionária em nossa cultura, se observa uma ênfase em nossos livros didáticos e propostas curriculares em desenvolver esses cálculos de modo mecânico, e que acaba por resultar em quase nenhum uso funcional autêntico. Observando os livros didáticos percebe-se que sua maioria inicia as operações de adição e subtração com um problema envolvendo parte-todo e apresenta primeiro, operações que envolvem frações com denominadores iguais e depois uma regra para somar frações com denominadores diferentes. A multiplicação é apresentada primeiramente envolvendo dobro e 37 triplo de números fracionários, e finalizando com a apresentação da regra para a multiplicação de dois números fracionários. A divisão é apresentada pela regra seguida de vários exercícios de aplicação dessa regra: repete a primeira fração e multiplica pelo inverso da segunda fração. A razão para que os algoritmos se tornem regras sem sentido pode ser em virtude de uma introdução demasiadamente precoce na escola, de manejo de símbolos sem a existência de um esquema conceitual que os embase. No entanto, também em alguns casos, por uma introdução desvinculada de um fundamento suficientemente concreto e natural para a operação (falta da existência de um “modelo de compreensão”). Outro aspecto a se ter em conta quando se fala dos algoritmos nas operações com frações é o fato de que existe uma aparente desvinculação entre a regra para resolver uma “conta”, por exemplo, x e uma situação-problema que contenha implicitamente esta operação. Várias são as razões para que os algoritmos se tornem regras sem sentido, segundo Damico (2007), uma introdução demasiadamente precoce do manejo de símbolos sem a existência de um esquema conceitual que os embase, uma introdução desvinculada de um fundamento suficientemente concreto e natural para a operação ou ainda uma aparente desvinculação entre a regra para resolver uma “conta”, por exemplo, x e uma situação- problema que contenha implicitamente esta operação. É preocupante o fato de o trabalho com as operações com frações merecer grande dedicação do tempo escolar, sem que se verifique, muitas vezes, o sucesso esperado na aprendizagem de nossos estudantes. Este trabalho não é suficiente para discutir e esclarecer todos os aspectos fundamentais sobre o ensino das operações com números fracionários. Assim, optamos por citar cada uma delas e alertar para os problemas recorrentes no ensino deste tópico. Fica aqui a sugestão para que os professores aprofundem os estudos e as discussões na escola sobre este tema, que é tão importante. 5.1 - Adição e Subtração O ideal é começar a discutir essas operações usando frações de mesmo denominador, através de situações que são familiares ao aluno. Um apoio visual como tentativa de melhorar a interpretação da adição ou subtração de frações pode ser um recurso interessante no processo de ensino. Se o aluno compreendeu bem os significados de medida e 38 a relação parte-todo o conceito de soma e subtração de frações se apresenta com maior naturalidade. - Frações com o mesmo denominador Frações homogêneas – se apoiadas em situações familiares aos alunos ou na manipulação de objetos concretos fica fácil para o aluno perceber que para somar ou subtrair frações, basta somar (ou subtrair) o numerador e conservar o denominador. Exemplo: Representação Geométrica Observando o desenho podemos fazer a adição algebricamente. No exemplo seguinte utilizaremos a adição de números fracionários com inteiros, pois ao observamos os livros didáticos, percebe-se que quase não são encontrados esse tipo de exemplo o que poderá muitas vezes deixar o professor, principalmente dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em dúvida. Exemplo: Representação Geométrica da adição 3 + =. 39 Este exemplo apresenta soma de frações envolvendo frações próprias e impróprias. Depois de transformar o número 3 em uma fração aparente ( ) o procedimento é o mesmo utilizado no exemplo anterior: somar a parte que representa o numerador e repetir a parte que representa o denominador. Algebricamente teremos: - Frações com denominadores diferentes Frações heterogêneas - os algoritmos para soma e subtração de frações com denominadores diferentes pertencem a um nível um pouco mais complexo, logo, o professor precisará escolher os processos mais adequados para ajudar os alunos a fazer a transposição dos seus procedimentos pessoais para o procedimento geral. Novamente enfatizamos que os significados de parte-todo e medida são os mais indicados por que conduzem o aluno de uma maneira mais natural ao conceito dessas operações. Uma dificuldade inicial ao se trabalhar adição e subtração de frações com denominadores diferentes está na identificação da unidade tomada como referência. Quando somamos temos que, em primeiro lugar, torná-las expressões do mesmo todo, isto é, devemos “padronizar a medida”. Então teremos: e , logo podemos dizer que 40 . Para o aluno compreender a necessidade de padronizar a medida pode ser feita uma analogia entre a soma de comprimentos medidos em unidades diferentes, como por exemplo, 3 m + 25 cm. O professor deverá conduzir os alunos a perceberem que será necessário transformar metros em centímetros ou centímetros em metros para que a soma seja efetuada. O importante é utilizar algum método, que possa fazer com que as frações passem a pertencer ao mesmo todo, como foi feito na unidade de medidas, ou seja, fazer com que o aluno compreenda que para somar ou subtrair frações os denominadores devem ser iguais. Se os alunos dominam o conceito de equivalência de frações eles terão condições de resolver problemas que envolvam adição e subtração de frações sem nenhuma instrução formal e ainda construir procedimentos significativos de resolução, desde que os contextos tenham significado para eles. Exemplo: Representação geométrica de . Para efetuarmos a soma precisamos encontrar frações equivalentes às duas frações dadas que contenham o mesmo denominador. Agora que já temos as duas frações com o mesmo denominador, basta efetuar a soma dos numeradores e conservar o denominador. 41 Então, Para 3 ou mais frações o procedimento utilizado para fazermos a adição (ou subtração) é o mesmo utilizado para 2 frações. Exemplo: Representação Geométrica da Adição Como as frações têm denominadores diferentes temos que achar as frações equivalentes a elas e que tenham os mesmos denominadores. 42 Agora como já temos as frações equivalentes às frações dadas, basta somar os numeradores e conservar o denominador. Para somar três ou mais frações somam-se as duas primeiras pelo algoritmo anterior e a seguir soma a terceira fração. 43 No processo de ensino o algoritmo deve ser a síntese da evolução das estratégias pessoais conquistadas a partir da resolução de problemas contextualizados e significativos para os alunos. De acordo com Damico (2007) quando o ensino está baseado exclusivamente na aplicação de algoritmos o processo gira em torno de calcular o mínimo múltiplo comum (mmc) dos denominadores e a seguir aplicar os passos subseqüentes para alcançar o resultado. Neste caso, a pergunta: por que se calcula o mmc? Nem sempre é respondida e o procedimento fica desprovido de significado. No meu ponto de vista, esse procedimento não é adequado para as series iniciais, pois o aluno ainda não conhece os números primos e isso somente irá complicar o entendimento da operação. Aliás, o que muitos professores constatam em suas salas de aula é que a noção de mmc interrompe e faz um desvio no caminho da construção da ideia de fração. Há outros caminhos para efetuar a soma ou subtração sem que haja necessidade de se calcular o mmc que podem ser muito mais eficientes. O indicado é que esses caminhos ou algoritmos sejam apresentados aos alunos apenas depois de construídos com a participação deles e a partir da necessidade de generalização. Pouco adianta fazer os alunos decorarem uma regra que não compreendem e, que, talvez por isso, tenham dificuldades em repeti-las. Isso poderá ser feito a partir da observação da representação geométrica. Nas series finais do ensino fundamental e no ensino médio é muito comum fazer as operações com denominadores diferentes utilizando o mmc. A vantagem em somar ou subtrair frações com denominadores diferentes utilizando o mmc é já efetuar a operação utilizando números menores, o que as vezes não acontece no algoritmo apresentado acima. Primeiro vamos resolver utilizando o produto dos denominadores: Exemplo: Agora vamos utilizar a mmc: 44 Utilizando o exemplo anterior teremos: 5.2. Multiplicação Segundo BITTAR (2005) a multiplicação de duas frações pode representar uma dificuldade para os alunos pelo fato de que o resultado da multiplicação de dois números naturais maiores do que zero, é sempre maior que cada um dos dois fatores e o mesmo não acontece necessariamente quando um dos fatores é uma fração. Com os racionais, ao contrário dos inteiros, a multiplicação tem uma natureza conceitualmente complexa: agora a multiplicação nem sempre produz algo maior. Assim o professor deve orientar o aluno para o fato de que ao realizar a multiplicação com números fracionários nem sempre acontecerá o mesmo que com os números naturais e o produto entre duas frações poderá ser menor que cada um dos fatores. Com os números racionais a multiplicação pode ser vista como uma função em que os números se tornam operadores multiplicativos que podem ser associados à ideia de esticar e encolher própria dos operadores multiplicativos. Por este motivo Carpenter (1994) apud Damico (2007), defende a ideia de que o conceito de números racionais seja construído junto com este significado utilizando situações fortemente contextualizadas e que tenham significado para as crianças. 45 Por outro lado, é fácil para o aluno compreender que multiplicar mesmo que fazer a adição por 5 é o , ou seja, associar a multiplicação à adição de parcelas iguais e levá-lo a concluir que 5 X . Apresentar diversas situações que utilizem multiplicações de números inteiros por frações unitárias (numerador igual a um) conduzirá o aluno a perceber que para efetuar a multiplicação de números inteiros por frações ou frações por números inteiros, basta efetuar a multiplicação do número inteiro pelo numerador da fração ou o numerador da fração pelo número inteiro (chamar a atenção para o fato de que todo número inteiro tem denominador igual a um), ou seja, xa=ax = . Contribui também para a compreensão da operação fazer uma associação entre o símbolo x e palavra de, lembrando ao estudante que se o dobro de 16 é 2 x 16 podemos dizer também que o triplo de é3x . O conhecimento sobre divisão de inteiros (processo de dividir um todo ou inteiro em partes de tamanhos iguais) também poderá servir de suporte para o desenvolvimento da compreensão sobre a multiplicação de frações. Se tomarmos as frações pode ser vista como “partes de um todo”. Neste caso serão procurados os Desta forma, calcular devemos considerar os x de . de . Para isto, primeiramente é encontrar os do todo. A seguir os essa operação serão considerados agora como uma nova unidade e esta nova unidade (os ) será dividida em três partes de tamanhos iguais e tomadas duas delas relacionando-a com a unidade original, ou seja, . Esta forma de resolução utilizada para interpretar x também pode ser entendida em termos de área como um recurso auxiliar na compreensão de multiplicação de frações. Como ilustração utilizaremos uma barra de chocolate para interpretar em termos de área, a operação x . 46 Primeiramente consideramos os do chocolate. A seguir, tomamos a área correspondente aos Este novo todo é dividido em 3 partes. Das quais tomamos 2 delas. Como resultado obtemos . do chocolate como um novo todo. 47 Observando algumas ilustrações associadas à contextos familiares o aluno, com a mediação do professor, poderá perceber que para efetuar a multiplicação de frações algebricamente, basta multiplicar o numerador pelo numerador e denominador pelo denominador. Analogamente, a multiplicação de três ou mais frações terá como numerador o produtos de todos os numeradores e como denominador o produto de todos os denominadores, como no exemplo seguinte: Caso seja necessário, o resultado encontrado poderá ser simplificado até encontrar a fração irredutível. 5.3. Divisão Há muito menos pesquisas sobre as estratégias informais de crianças ao resolverem problemas que envolvem multiplicação e divisão de frações do que sobre adição e subtração. Talvez por isto, os professores sintam dificuldades em construir situações que envolvem a divisão de frações e, muitas vezes nem conseguem identificar estas situações. Segundo Damico (2007), ao analisar os significados de divisão e medida para os números inteiros pode-se perceber que, se estes forem completamente compreendidos para situações que envolvem números inteiros, esta compreensão ajudará a encontrar contextos significativos para o entendimento da divisão de frações. Apesar da conexão entre frações e divisão em partes iguais para os inteiros não ser tão direta, é possível propor problemas simples utilizando contextos que fazem sentido para as crianças desde que a escolha dos números seja adequada. O interessante é propor situaçõesproblema que contribuem para desenvolver uma compreensão básica sobre divisão de fração e não para generalizar a divisão como o inverso da multiplicação. Um exemplo: Doze alunos 48 entregaram o trabalho de Matemática na data prevista. Isto representa da turma. Quantos são os alunos desta turma? Este problema pode ser pensado de duas maneiras o que demonstra uma flexibilidade que se deve encorajar em professores e alunos: de quanto dão 24? Ou ainda: se 24 corresponde a , quanto corresponde ao número 1? Ao fazer a conexão entre medida e frações a questão é descobrir quantas vezes a fração de um todo cabe em uma outra fração deste mesmo todo. O apelo visual, tantas vezes orientado neste trabalho como uma estratégia eficiente para a construção de diversos conceitos, nem sempre pode ajudar a construir a ideia de divisão de frações. As ilustrações poderão sim ser utilizadas com frações que resultem em quocientes de fácil interpretação como é o caso da divisão de um número natural por uma fração. Por exemplo, para dividir 6 inteiros por , (6 ) precisamos descobrir quantos cabem em 6. Ao fazer a ilustração pode-se perceber que, como em cada inteiro cabem dois em seis inteiros cabem doze . Neste caso podemos dizer que 6 Para dividir 8 inteiros por unidades. = 12. . precisamos descobrir quantas vezes o cabe em 8 49 Observando a figura pode-se perceber que em cada um dos 8 inteiros cabe uma vez o e sobra . Como + = são necessários pegar o que sobrou de cada dois inteiros para obter . Contando quantos terços ( cabem em 8 inteiros chegaremos a um total de 12 dois ). Logo, 8 12 Pela figura anterior fica clara a dificuldade em ilustrar divisão entre inteiros e . frações. Mais difícil ainda ilustrar a divisão entre frações como, por exemplo, Pesquisadores e o próprio PCN orientam que a divisão de fração deve ser tratada a partir da segunda metade do Ensino Fundamental inicialmente por meio de materiais concretos, contextos significativos e ilustrações aplicadas à divisão de número inteiro por fração. Para dividir fração por fração pode-se aplicar a invariância do quociente. Para falar em invariância do quociente é importante relembrar duas coisas: 1. Se multiplicarmos o dividendo e o divisor pelo mesmo número (neste caso por outra fração) o resultado da divisão não se altera, propriedade usada para encontrar frações equivalentes. Observar que . 2. Que todo número possui inverso multiplicativo, isto é, o produto entre eles é igual a um. Exemplo: o inverso multiplicativo de 4 é , de é , pois 4 x =1e x = 1. Como pela invariância o “quociente não se altera quando dividendo e divisor são multiplicados pelo mesmo número diferente de zero” podemos “escolher” multiplicar o numerador e o denominador pelo inverso multiplicativo do denominador e assim obter um denominador igual a 1. Generalizando teremos que: Aplicando a invariância do quociente para efetuar a divisão temos: 50 Analisando o algoritmo acima pode-se perceber que ao multiplicar numerador e denominador pelo inverso multiplicativo do denominador este último sempre será igual a 1, logo no denominador teremos a multiplicação da primeira fração pelo inverso multiplicativo da segunda fração. Isto nos garante que podemos realizar a divisão de frações de uma forma ainda mais prática: “dividir e multiplicar pelo inverso” o que significa na prática “repetir a primeira fração e multiplicar pelo inverso da segunda fração”. Exemplos: 1. 2. A invariância do quociente e consequentemente a regra prática para a divisão de frações pode ser aplicada também à divisão de números inteiros por frações ou frações por números inteiros, atentando para o fato de que o número inteiro possui denominador igual a um. Concluindo as considerações sobre as operações com fração salientamos que o professor deve respeitar o desenvolvimento cognitivo de cada aluno e desenvolver atividades que sejam de possível compreensão. Alem disso, iniciar o trabalho com exemplos simples e de fácil entendimento e, sempre que possível, utilizar ilustração e material concreto, para uma melhor visualização dos alunos. É extremamente importante que o professor detenha o conhecimento sobre os números fracionários, seus significados e os métodos para efetuar as quatro operações, para que assim possa escolher estratégias adequadas à sua turma. Deve cuidar para que operações com frações não sejam repassadas para os alunos de forma mecânica como uma aplicação de regras prontas que o aluno deverá decorar mesmo se não entender. Tudo isso faz com que o aprendizado se torne chato e enfadonho, com o sentido único de obtenção de notas, e não 51 desperte no aluno o verdadeiro sentido dos números fracionários, suas aplicações no dia a dia e nos seus estudos posteriores. 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante o professor: • Dominar os conceitos referentes às frações, em especial os seus significados, pois o que ele precisa saber para ensinar é muito mais amplo do que aquele que o seu aluno deverá aprender. • Elaborar propostas de ensino que de fato possibilitem ao aluno a compreensão plena do conceito de fração. O que se observa em relação ao ensino é uma forte tendência para introduzir esse conceito apenas a partir da relação parte-todo seguido de uma ênfase exagerada em procedimentos e algoritmos. • Não se apegar apenas ao livro didático, lembrando sempre que existem várias outras ferramentas que podem auxiliar no ensino do conteúdo. Em relação aos cinco significados apontados aqui: 1. Relação parte-todo – Provavelmente pelo fato de que inúmeras situaçõesproblema envolvendo este significado podem ser encontradas esta é a ideia mais discutida e apresentada para os alunos desde o 4º ano do Ensino Fundamental. O apelo visual neste caso é fundamental para a compreensão deste significado juntamente com a utilização de materiais concretos e contextos significativos para o aluno cuidando para que sejam utilizadas quantidades contínuas e discretas. Contextualizar com a noção de área pode ajudar na habilidade dos alunos para aprender conceitos de fração que envolvem regiões geométricas e até medidas. É importante ressaltar que apesar de ser importante para as interpretações posteriores dos números racionais este significado isoladamente é insuficiente para uma completa compreensão desse conjunto numérico, pois a compreensão das frações impróprias não pode ser adquirida por intermédio deste significado. 2. Frações como medidas – a compreensão deste significado ajuda a formar o conceito de fração, proporciona um contexto natural para a soma de frações, pois trata-se da união de duas medidas, facilita a introdução da notação decimal e é muito útil para ajudar a entender as frações maiores que a unidade. 3. Fração como Quociente – este significado auxilia não somente a compreensão de mais de um sentido da fração, como também a relação entre as frações e os números 53 decimais. Alem disso, é muito utilizado em estudos posteriores pelo fato de ser usado como um outro modo de escrever a divisão de k por n . 4. Fração como Operador Multiplicativo – um dos significados indicados no PCN. Em quantidades discretas funciona como modo de ampliação, enquanto que em quantidades contínuas funciona como modo de redução. 5. Frações como números – assim como os números inteiros as frações não precisam necessariamente referir-se a situações especificas ou quantidades. Representar frações na reta numérica e números decimais em forma de fração são atividades que podem ajudar no entendimento deste significado. Há situações em que as frações podem ser interpretadas como razão, probabilidade e porcentagem e não são consideradas neste estudo como outros significados de fração pelo fato de emergirem de situações cuja resolução pode recorrer às frações que contenham implícitos os significados medida, parte-todo e operador multiplicativo. É importante ressaltar que abordagem que se faz de um determinado significado de fração não garante que o aluno construa o conhecimento desse conceito especificamente. O conceito de equivalência de frações pode ter vários níveis de dificuldade e é fundamental na construção dos números racionais. Compreender o seu significado é de indispensável para o estudo de comparação e operação de frações. A compreensão dos conceitos envolvidos nas operações elementares com fração deve anteceder a aplicação dos algoritmos e o professor deve propor formas de organização do seu ensino para assim evitar mecanizações desprovidas de sentido para os alunos. O ideal é começar a discutir as operações de adição e subtração usando frações de mesmo denominador, através de situações que são familiares ao aluno com apoio visual. Para as frações com denominadores diferentes que pertencem a um nível mais intuitivo, pode ser feita uma analogia entre a soma de comprimentos medidos em unidades diferentes para justificar a necessidade de igualar os denominadores. Há mais de um caminho para efetuar a soma ou subtração sem que haja necessidade de se calcular o MMC que podem ser muito mais eficientes e que podem ser observados a partir de ilustrações. O MMC é mais indicado para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, pelo fato dos alunos já dominarem o conceito de números primos. O professor deve orientar o aluno para o fato de que ao realizar a multiplicação com números fracionários nem sempre o produto entre duas frações poderá ser menor que cada um dos fatores como nos números naturais. A introdução da multiplicação entre frações poderá ser associada à adição de parcelas iguais, à associação entre o símbolo x e palavra “de” 54 (dobro “de” 16 é 2 x 16) e ainda ao conhecimento sobre divisão de inteiros. As ilustrações podem ajudar na compreensão da operação e conduzir o aluno à “regra” da multiplicação de frações. Para a divisão pode ser feita uma conexão entre medida e frações: quantas vezes a fração de um todo cabe em uma outra fração deste mesmo todo? Neste caso, o apelo visual poderá ser utilizado apenas com frações que resultem em quocientes de fácil interpretação como é o caso da divisão de um número natural por uma fração. Como a divisão de fração deve ser tratada a partir da segunda metade do Ensino Fundamental já será possível aplicar a invariância do quociente e concluir que para dividir frações o que é feito na prática é “repetir a primeira fração e multiplicar pelo inverso da segunda fração”. Conscientes de que este trabalho não é suficiente para discutir e esclarecer todos os aspectos fundamentais sobre o ensino das frações – sua história, metodologias adequadas, significados e operações – optamos por alertar para os problemas recorrentes no ensino deste conteúdo. Fica aqui a sugestão para que os professores aprofundem os estudos e as discussões na escola sobre este tema, que é tão importante. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTONI. N. E. A Construção do Conhecimento sobre Número Fracionário. In: Boletim de Educação Matemática, ano 21, n.31. Rio Claro: UNESP. 2008. BERTONI. N. E. Frações e Números Racionais–concepções, fundamentos lógicos e obstáculos à aprendizagem. Curso 1: SBEM-DF, Universidade de Brasília, 1º semestre 2006. Curso 2: SBEM-DF, Faculdade Jesus Maria José (FAJESU), 2º. Semestre 2006. BERTONI. N. E. Mo695 Módulo VI: Educação e Linguagem Matemática IV / – Brasília: Universidade de Brasília, 2009. BITTAR. M. Fundamentos e metodologia de matemática para os ciclos iniciais do ensino fundamental. 2º Ed. Campo Grande MS. Ed. UFMS. (2005). BOYER. C. B. História a Matemática. Tradução de Elza F. Gomide. São Paulo. Edgar Blucher, (1974). CARAÇA. B. J. Conceitos fundamentais de Matemática. Lisboa - Portugal. Gradiva, (1998). CARRAHER. T. 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