ENSINAR MATEMÁTICA *Margarete Darski Battochia **Marlene Menegazzi RESUMO O presente artigo aborda o tema tão discutido nas últimas décadas, referente ao ensino da Matemática com o auxílio do lúdico, do concreto, da contextualização, da relação com o cotidiano do aluno e suas vivências.A importância do ensino através de projetos multidisciplinares e a necessidade do envolvimento dos professores para que o processo de ensino-aprendizagem da Matemática se torne menos torturante para os alunos. De acordo com essa concepção, um projeto de trabalho de matemática foi desenvolvido numa escola estadual do município, comprovando que a matemática pode e deve ser prazerosa e que a aula de matemática pode ser um ambiente extremamente agradável. Palavras-chave: ensino de Matemática, projetos, vivência, dinâmico, curiosidade científica. INTRODUÇÃO Buscando atender as necessidades dos alunos, que manifestam interesse por brincadeiras antigas – estavam muito envolvidos com o pião - e valorizar o lúdico, a curiosidade científica, a convivência com os colegas, a criatividade, a integração de conhecimentos, o trabalho em equipe, a comunicação e a capacidade crítica, a professora Margarete Darski Battochia propôs a realização do Projeto “Construindo Pipas ... uma aula leve como o ar.” A turma escolhida para desenvolver o projeto foi a 7ª série do Ensino Fundamental, da Escola Estadual de Ensino Médio Gonçalves Lêdo, situada em Mariana Pimentel. Construir pipas e aproveitá – las para apresentar algumas figuras e conceitos geométricos é uma forma de transformar o obrigatório em prazeroso, isto é, aprender brincando. É fazer da __________________________________ *Margarete Draski Battochia é acadêmica do 7º semestre do Curso de Matemática da Ulbra Guaíba e desenvolveu este projeto através da disciplina de Estágio I. ** Marlene Menegazzi é professora orientadora do trabalho e Coordenadora do Curso de Matemática da Ulbra Guaíba. 2 sala de aula um ambiente agradável e acolhedor que oportuniza a participação e a ação. À medida que o professor se organiza com atividades que facilitem o crescimento e o desenvolvimento das diferentes áreas (cognitiva, afetivo – emocional, motora e social ), suas aulas se tornarão algo interessante, vivo, dinâmico. O DESAFIO Melhorar a aprendizagem é o grande desafio de todos os professores. Pensando nisso, vivem buscando uma ação pedagógica eficiente que envolva diversos aspectos da vida do aluno, por meio de situações reais que valorizam seu conhecimento prévio, estimulando – o a agir reflexivamente e privilegiando a criatividade e a autonomia na busca de soluções para os mais diversos problemas, e dessa forma, enriquecendo seu trabalho. Identificar formas geométricas utilizando um brinquedo construído pelo próprio aluno, com certeza é estimulante e significativo, mas ainda é pouco, visto que os alunos de hoje são muito ativos e estão habituados a interagir com brinquedos muito interessantes e atrativos, faz – se necessário também o uso de jogos variados e de todos os recursos tecnológicos possíveis. Os jogos promovem a troca de informações e idéias entre os educandos, uma vez que, sendo atividades realizadas em grupo, os alunos precisam discutir, argumentar e analisar o ponto de vista do outro. Essa interação proporciona conquistas nos aspectos cognitivo, emocional, moral e social, e também estimula o desenvolvimento do raciocínio lógico. A calculadora, quando utilizada no momento certo e com objetivos definidos, contribui para a formação de indivíduos aptos a intervirem numa sociedade em que a tecnologia ocupa um espaço cada vez maior, é uma excelente ferramenta para aprimorar o raciocínio lógico e até agilizar o cálculo mental. Preparar os alunos para enfrentar desafios cada vez mais complexos é obrigação do professor. Temos que ter os olhos no futuro para agir melhor sobre o presente. A educação escolar deve se iniciar pela vivência do aluno, mas isso não significa que ela deva ser reduzida ao saber cotidiano. No caso da matemática, consiste em partir do conhecimento dos números, das medidas e da geometria, contextualizados em situações próximas do aluno. O desafio didático consiste em estruturar condições para que ocorra uma evolução dessa situação inicial rumo aos conceitos previstos. Uma forma de dar sentido ao plano existencial do aluno é através do compromisso com o contexto por ele 3 vivenciado, fazendo com que aquilo que ele estuda tenha um significado autêntico e por isso deve estar próximo a sua realidade. ( Luiz Carlos Pais, 2001,Pp.45) Os brinquedos antigos nos permitem compreender o mundo infantil de épocas passadas, os atuais nos permitem registrar o mundo de agora. O ato de trabalhar com brinquedos antigos necessita de um tempo interno demorado e amplo, se comparado aos brinquedos eletrônicos estes desenvolvem determinadas capacidades que são típicas da sociedade contemporânea. A escola é uma instituição social e, como tal, esta inserida na história. Ela é uma instituição que sofre influência e influencia aquilo que acontece ao seu redor. Em outras palavras : a escola esta inserida numa certa realidade da qual sofre e na qual exerce influência. Ela não é apenas o local onde se reproduzem os interesses, os valores, a cultura, a ideologia. Também pode influenciar a ideologia, os valores, a ciência, a política e a cultura da sociedade em que esta inserida. ( Neidson Rodrigues, 1988,p.61 ) Um projeto deve abranger todas as áreas do conhecimento. É uma atividade intencional onde o envolvimento e empenho dos alunos são fundamentais, pois estes são responsáveis pelo trabalho e pelas escolhas ao longo das fases que se compõe. Em geral é feito em grupo e não se trata de uma mera reprodução de algo já feito por outros, diante disso surgem diversas situações que motivam os alunos e contribuem para torná – los ativos, críticos e cooperativos. O aluno é estimulado a aprofundar seu conhecimento, pois tão importante quanto a construção das pipas são as informações sobre esse brinquedo antigo, buscadas através de pesquisa em casa, entrevistando familiares e moradores do bairro, na biblioteca, na Internet, etc. Debates promovidos na sala de aula para o aluno partilhar suas descobertas, comunicar suas investigações e dessa forma, ampliar seus conhecimentos, são de suma importância na elaboração do planejamento das próximas atividades que deverão ser realizadas para atingirem o objetivo a que se propõem. Segundo DEMO (1990, p.83), pesquisar é dialogar com a realidade e “uma coisa é aprender pela imitação, outra pela pesquisa. Pesquisar não é somente produzir conhecimento, é sobretudo aprender em sentido criativo. É possível aprender escutando aulas, tomando nota mas aprende – se de verdade quando se parte para a elaboração própria, motivando o surgimento do pesquisador, que aprende construindo.” 4 Através de debates, os alunos constatam que os motivos pelos quais uma brincadeira tão divertida foi deixada de lado devem – se ao desenvolvimento tecnológico e a concorrência que se fazem presentes em todas as situações. Compreendem que estes são responsáveis pelas mudanças culturais da humanidade e que, como seres humanos que se relacionam em sociedade, devem ser um elemento ativo, que preocupa – se com tais transformações agindo em busca de desenvolvimento e qualidade de vida. Na verdade nada se aprende da estaca zero. O conhecimento é uma construção, coloca – se tijolo sobre tijolo, o último colocado apoiando – se sempre sobre o anterior, ajusta – se, faz – se o reboco e constrói – se a parede (saber). A partir dessas idéias, é impossível deixar de pensar num trabalho que sensibilize os alunos, que lhe ofereça múltiplas oportunidades para o desenvolvimento do raciocínio e reflexivo – crítico e lhes facilite a aprendizagem de inúmeros conceitos. Um conjunto de atividades em diferentes áreas do conhecimento pode, assim, contemplar diferentes objetivos e conteúdos utilizando – se para isso a multidisciplinariedade. No momento em que o aluno e o professor entram na sala de aula e começam a desenvolver suas atividades, ambos estão envolvidos num processo de trabalho para juntos viverem situações de busca e descoberta. Segundo COMÊNIO (1996, p.57), “a proa e popa de nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais”. O interesse da professora ao inserir atividades práticas no projeto mostra a preocupação em proporcionar ao aluno, oportunidades para a construção dos conceitos básicos da geometria retas, ângulos, polígonos - visando tornar a aprendizagem menos complicada e tão prazerosa quanto possível, sem perder a objetividade. Trabalhar ludicamente oferece situações em que as habilidades podem ser praticadas, tanto as físicas quanto as mentais e sociais. As tarefas devem ser globais e distribuídas de tal modo que cada aluno escolhe o que desejar fazer ou aquilo onde tem chance de sucesso. A autonomia iniciativa e projetos são negociados com o professor e assim, os alunos sentem que o mundo da escola e o mundo que eles pressentem e descobrem progressivamente ao seu redor unem – se, não se opõem. Podemos dizer que essas propostas despertam interesse e gosto pela disciplina, pois muitos alunos não sabem Matemática porque não gostam da matéria ou não gostam dela, porque não sabem o seu conteúdo, que geralmente é estabelecido pelo professor 5 através de livros, baseado na memorização e no uso de regras, desconsiderando sua natureza lógica. A Matemática é fundamental na vida das pessoas. Sabemos que o surgimento dessa disciplina deve – se à necessidade que o homem tem de buscar a solução para resolver seus problemas do dia – a – dia . Seu emprego é obrigatório em diferentes situações do cotidiano e não há como dispensar o seu aprendizado. Por isso, o ensino da Matemática deve ser dinâmico e também contribuir para desenvolver a capacidade de resolver problemas, validar ou refutar soluções, tomar decisões e raciocinar logicamente. Segundo RANGEL (1992) o maior engano que se vem cometendo está no ensinar a Matemática como se esta tratasse exclusivamente de verdades acessíveis, por meio de uma linguagem artificial, que é a dos símbolos operatórios. Não se leva em conta a maneira como a criança constrói o número e os primeiros conceitos matemáticos; não se consideram suas experiências diárias, nas quais estabelece relações de semelhanças e diferenças entre objetos e fatos que manipulam, classificando – os e quantificando – os. CONCLUSÃO O ensino da Matemática poderá tornar – se mais eficiente quando os professores compreendem que, como pensa PIAGET(1964, p.35), o principal objeto desse ensino é o desenvolvimento das capacidades dedutivas. O importante é ampliar a experiência do professor e dos alunos, para que, na exploração das idéias, possam, além de desenvolver a capacidade de pensar e inventar, fazer do processo de ensino algo dotado de significado e alegria. É preciso buscar situações problemas que permitam mais de uma solução, que valorizem a criatividade e admitam estratégias pessoais de pesquisa para que o aluno sinta – se motivado pela busca do conhecimento, para melhor enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. A educação deve integrar alunos e professores e isso pode ser conseguido de forma eficaz através do desenvolvimento de atividades práticas, seja na sala de aula, seja fora dela, oportunizando um relacionamento professor – aluno mais informal, onde as perguntas de ambas 6 as partes são mais espontâneas e onde o professor pode, mais facilmente, desfazer o mito de que este deve saber tudo. No desenvolvimento deste projeto foram propostas diversas atividades dentre elas : construção de pipas, desenhos livres destacando ângulos e retas, construção de polígonos, pesquisas, entrevistas, recortes, colagens, representação de retas e polígonos com material concreto e com régua e esquadro. O envolvimento dos alunos, fazendo tudo em equipe e motivados pelo espírito de cooperação, comprovaram que criar condições para o aluno realizar atividades lúdicas, são estratégias de ensino – aprendizagem que enriquecem o trabalho em sala de aula e dão resultados satisfatórios. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PAIS, Luiz Carlos. Didática da matemática : uma análise da influência francesa. Belo Horizonte : Autêntica, 2001. RODRIGUES, Neidson. Da modificação da escola à escola necessária. 2ª ed. São Paulo : Cortez, 1988. DEMO, P. Pesquisa – Princípio científico e educativo. 2ª ed. São Paulo : Cortez, 1990 COMÊNIO, João Amós. Didática Magna. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1966. RANGEL, A. C. S. Educação Matemática e a construção do número pela criança. Porto Alegre : Artes Médicas, 1992. PIAGET, Jean. A formação do símbolo da criança, Imitação, Jogo e Sonho, Imagem e Representação. Rio de Janeiro : Zahar Editoras, 1964. FONSECA, Lúcia Lima da. O Universo da Sala de Aula : Uma experiência em pedagogia de projetos. Porto Alegre : Mediação. OLIVEIRA, Maria Medianeira V. D. Projetos Pedagógicos : Um desafio para o novo milênio. Santa Maria : Palhota 2000. HILLEBRAND, Vicente. Grupos de Estudos : Contribuições na atuação pedagógica. Porto Alegre : SE/CECIRS, 1997. MORAES, Régis de. A sala de aula : que espaço é esse ?. 7ª ed. Campinas : Papirus, 1994. REVISTA DO PROFESSOR. Ano XX – N.º 77, Jan. a Mar. 2004 REVISTA DO PROFESSOR. Ano XX – N.º 78, Abr. a Jun. 2004 REVISTA CRIANÇA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL. Secretária de Educação Fundamental do MEC, Nov. 2002 NOVA ESCOLA. Ano XIII – N.º 118, Dez. 1998