A Explicação na Prática Discursiva-Pedagógica no Ensino de Ciências Naturais Mirtes Ribeiro de Lira Conselho Editorial Av Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2014 Mirtes Ribeiro de Lira Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. LG7 Lira, Mirtes Ribeiro de. A Explicação na Prática Discursiva-Pedagógica no Ensino de Ciências Naturais/Mirtes Ribeiro de Lira. Jundiaí, Paco Editorial: 2014. 224 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8148-473-0 1. Ensino de Ciências 2. Ciências Naturais 3. Explicação 4. Ensino Fundamental I. Lira, Mirtes Ribeiro de CDD: 370 Índices para catálogo sistemático: Ciências Naturais Estudo e Ensino das Ciências 500.1 507 Métodos de Ensino 371 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal Meu pai (In memoriam) Este livro é o produto final após quatro anos de dedicação, da pesquisa sobre “explicação no ensino de Ciências” que devo entregar em primeira mão a professora Francimar Teixeira, minha orientadora do doutorado. O maior significado dele não vem a ser o que está escrito em suas páginas e, sim o que ele pode contribuir para novos estudos a partir de sua leitura. Agradeço, mais uma vez pela dedicação da equipe da Editora Paco. Mirtes Lira Este é o momento para refletir sobre essa longa caminhada que decidi realizar. E, quando começo a fazer isto, percebo a benevolência de Deus em me permitir concluí-la sem ressalvas e com tranquilidade. Por isso, agradeço: Ao meu esposo, que sempre esteve ao meu lado, ao longo dessa e de tantas outras jornadas da minha vida acadêmica. À minha orientadora, por ter me concedido essa oportunidade e, sempre, em todos os momentos, ter me incentivado e acreditado em mim. À minha família: mãe, irmãs e irmãos, por fazerem parte da minha vida. A Gerson Henrique, que favoreceu minha entrada na longa caminhada do doutorado e por sempre ter me considerado profissionalmente. A Micheline Motta, minha amiga de discussões, de descontrações, por, sempre, me apoiar nas horas de indecisões. Ao grupo de pesquisa, em especial a Adriel, Shirley Monteiro, Magadã Lira, Micaías, Ruthe, Simone Melo e Kênio. A Lúcia de Fátima, Tatiana Araújo e Ana Luíza, minhas colegas da turma de doutorado 2005. Ao diretor Pedro Falcão e ao vice-diretor Manoel Barros, da Universidade de Pernambuco campus Garanhuns, pela acolhida na Faculdade e pelo respeito ao meu trabalho. Às professoras Geane e Silvia, que contribuíram para a realização desta pesquisa. À direção da Escola Integral e da Escola de Aplicação Profa. Ivonita Alves Guerra de Garanhuns, por ter permitido minha permanência em suas dependências. Aos professores deste Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE, em especial às professoras Dra. Maria Eliete Santiago e Dra. Laêda Bezerra Machado, pelos espaços concedidos para a discussão da minha pesquisa. A Regina Pinheiro, pelas trocas de gentilezas nas horas mais precisas. Aos funcionários da pós-graduação em Educação, em especial a Morgana, Valéria e João, pelo apoio na parte administrativa desta formação. Ao meu mais novo amigo, Prof. Dr. Lorencini Jr., que, mesmo via e-mail, muito me auxiliou nos momentos de indecisão. À minha querida amiga Regina Fragoso, por estar sempre ao meu lado, independentemente da distância. Enfim, a todos aqueles que torcem pelo meu sucesso, agradeço incondicionalmente. Sumário Apresentação.........................................................................................11 Introdução............................................................................................13 Capítulo 1 Da natureza a construção científica da explicação..................................17 1. Natureza da explicação: Filosofia e Ciência.......................................18 2. Modelos de explicação científica........................................................23 3. Métodos das Ciências: explicação e compreensão...............................30 Capítulo 2 Explorando a temática explicação .........................................................35 1. O uso da linguagem na prática discursiva do professor de Ciências: a explicação...........................................................................................35 2. Estado da Arte sobre explicação no ensino de Ciências Naturais.........37 3. Modelo Pedagógico da explicação no ensino de Ciências – Conceito de Explicação........................................................48 4. Tipos de explicação relacionada a perguntas.......................................53 5. Explicação e metacognição – construção do conceito de explicação.........................................................................................63 Capítulo 3 A explicação na prática pedagógica do ensino de ciências......................67 1. Explicação nas modalidades de ensino em ciências naturais.............67 2. O lugar da explicação nas orientações do Parâmetro Curricular Nacional de Ciências, no terceiro ciclo (6º e 7º anos)................................................77 3. O discurso explicativo como recurso didático para aprendizagem em Ciências................................................................................................79 Procedimentos metodológicos da pesquisa, análises e resultados............83 Capítulo 4 Descrição do estudo...............................................................................85 1. Situando o campo empírico..............................................................85 2. Participantes e materiais....................................................................86 3. Etapas de investigação........................................................................88 Capítulo 5 Análise dos resultados............................................................................91 1. Organização das análises e interpretação dos dados...........................91 2. Primeira Análise – Entrevistas com as professoras.............................92 3. Segunda Análise – Situações didáticas...........................................107 4. Análises dos dados compostos pelas escolas......................................165 Considerações finais Discussão e Conclusão........................................................................189 Referências .........................................................................................197 Apresentação Aceitamos com prazer o desafio de apresentar a pesquisa “ A explicação na prática pedagógica no ensino de Ciências Naturais” de Mirtes Ribeiro de Lira neste livro. Desafio múltiplo porque depois de compartilharmos em momentos próximos e distantes, orientadora e avaliadora, nos encontramos para redigir tal texto. As pesquisas com foco na linguagem e cognição se multiplicam na atualidade, mas poucas deixam o espaço da validação dos modelos predominantes para aprofundar nos saberes constituídos nas salas de aulas do ensino fundamental. Nas diferentes práticas discursivas instituídas pelos sistemas educativos, a explicação ocupa um espaço importante para consolidar posições enunciativas e relações de poder. Afinal quem tem o poder de explicar ? No ensino de ciências da natureza temos ainda o refinamento de saber se a explicação estabelece uma relação causal. Dessa forma além dos aspectos discursivos temos uma matriz semântica ligada ao conhecimento científico que nos leva a critérios de julgamento dos modelos explicativos emergentes da sala de aula. Tais questionamentos que perpassam diferentes campos dos conhecimentos foram desenhados pela autora com cuidado e respeito aos falantes representantes do universo escolar do ensino fundamental. Uma revisão bibliográfica em diferentes campos problematiza o verbete explicação e as pesquisas recentes na área de Educação em Ciências sobre o tema. Após tal problematização Mirtes Lira assume a explicação como uma atividade verbal metacognitiva, construída dialogicamente, que tem como propósito evidenciar um conhecimento científico (p. 73). Essa enunciação alia uma postura cognitivista à discursiva o que representa a originalidade da investigação conduzida. O estudo foi realizado em duas classes do sexto ano do ensino fundamental das cidades de Jaboatão dos Guararapes e de Garanhuns no estado de Pernambuco. Nas vozes das professoras Silvia e Geane o cotidiano de situações de ensino diferenciadas o que enriquece a análise contrastiva. A participação dos alunos entre 9 e 12 anos alarga nosso horizonte sobre como esses sujeitos buscam produzir explicações referenciadas em fenômenos cotidianos. Entrevistas com as professoras e seus alunos acompanhadas de videogravação e de análises de episódios de sala de aula vão além dos 11 Mirtes Ribeiro de Lira estudos das interações de cadeias enunciativas do tipo I-R-F (iniciação-resposta-feed back) para buscar entender o formato da constituição da explicação nas situações produzidas pelas professoras. A pesquisa discute as implicações da condução das explicações como um saber das professoras. De uma parte a professora encaminha na perspectiva do conhecimento cabendo-lhe o papel de conduzir os alunos ao estabelecimento de uma explicação científica. De outra parte, ao desenvolvimento cognitivo dos alunos dialogando com as premissas por eles enunciadas. É importante destacar a posição central das professoras enquanto gestoras das situações discursivas que levam a construção colaborativa das explicações. O destaque que Mirtes Lira consegue empreender em sua análise da função primordial das professoras na escuta atenta de seus alunos. Ela mostra a importância de investigações que em colaboração com situações reais de ensino elucidam o enorme repertório dos professores e da riqueza discursiva entre injunções, argumentações, descrições e narrações que visam de fato levar aos alunos a construção de uma compreensão sobre o mundo. Na prática pedagógica, para esta faixa etária o discurso explicativo causal é efêmero como conclui a investigação. Há um descompasso entre o explicar para as professoras. O olhar das professoras comprometidas com o desenvolvimento cognitivo dos alunos, coloca a explicação prioritariamente como a ação de tornar acessível o conhecimento científico escolar. Já para os alunos uma boa explicação é aquela que viabiliza o sucesso na tarefa escolar. Consideramos que longe de ser interpretados como inconsistências, os desencontros entre as perspectivas das professoras e dos alunos ao que se refere a que é uma explicação evidenciam os diferentes caminhos para a produção de uma explicação em sala de aula. Desejamos que a leitura dessa obra amplie as reflexões sobre a prática pedagógica de professores e professoras de todos os níveis de ensino. Silvania Sousa do Nascimento Universidade Federal de Minas Gerais 12 Introdução No contexto do ensino e aprendizagem, a explicação, até o presente, não se constituiu como objeto de reflexão por parte dos professores. Em sala de aula, são os alunos que, geralmente, sinalizam uma boa ou má explicação, pois essa atividade pode passar despercebida se o professor considerá-la inerente ao ensino. Esta obra se propõe a investigar a explicação como discurso inerente ao ensino, na perspectiva enunciativo-discursiva sugerida por Bakhtin, nos seus estudos sobre enunciação; nos pressupostos teóricos da abordagem psicológica de Vygotsky e da epistemologia de base biológica de Maturana. Enquanto referencial teórico-metodológico, tomamos como procedimento investigativo a estrutura analítica proposta por Mortimer e Scott (2000). É um estudo que se situa nas pesquisas em Educação em Ciências e que integra questões como: (1) a interação professor aluno; (2) o conhecimento científico e o conhecimento cotidiano; (3) o discurso pedagógico; (4) os modelos de explicação científica; (5) a linguagem da Ciência; (6) interações a partir de perguntas e respostas; (7) metacognição; (8) as modalidades de ensino; e (9) a explicação na prática discursivo-pedagógica, esta como objeto de investigação. Neste sentido, levando-se em consideração o lugar da explicação no ensino de Ciências, bem como a importância da explicação na prática discursivo-pedagógica, e sendo escassos os estudos desenvolvidos neste domínio, consideramos relevante, desenvolver um trabalho que averigue a concepção de explicação do professor a partir de práticas em sala de aula de Ciências. Mas como abordar esse objeto de investigação? Esse desafio tem sido enfrentado de distintas maneiras, de modo que identificamos diversos caminhos científico-literários (Linguística, Filosofia, Ciências Naturais, Ciências Sociais, Pedagogia, Psicologia) para entender o que é explicação. Todavia, quais caminhos deveríamos seguir para a trajetória desta investigação? Muitos estudos têm abordado “explicação”, a saber: como os alunos conseguem explicar determinado fenômeno; relação entre explicação e afetividade; apropriação de explicação causal; construção de uma explicação científica pelos alunos; uso de critérios na qualidade da explicação. No entanto, o nosso desafio é ir à busca de um conceito de explicação que venha 13 Mirtes Ribeiro de Lira atender às especificidades do ensino de Ciências. O momento da busca foi o mais precioso e mais decisivo nesta trajetória acadêmica de doutoramento. Seu início se deu pela Linguística, por entender que a explicação está relacionada com a linguagem, enquanto instância viva e dinâmica, na qual seres falantes se constituem em sujeitos sociais e socializáveis por meio da interação. É através dela que a explicação, como gênero, far-se-á presente, independentemente da área que a subscreva, o que nos fez pensar que deveríamos começar por essa área de conhecimento. Todavia, a maioria dos estudos observados nesta área sobre explicação encontra-se nos domínios da aquisição e do desenvolvimento da língua materna (Hudelot, Préneron e Anne Salazar-Orvig, 2003; Melo, 2003; Fernandes, 2003; Del Ré, 2003). Muito embora esses estudos tenham ampliado o nosso olhar em torno do gênero explicação, não trouxeram elementos suficientes que contemplassem nosso foco de investigação – a explicação no ensino de Ciências. Os conceitos postos, na maioria desses estudos, são migrados do modelo da explicação científica proposto por Hempel, e isso nos levou a uma investigação teórica a respeito do que seria a explicação científica. Deste modo, mergulhamos nos estudos da Lógica, a partir da obra La explicación científica, de Carl Hempel (1965, 2005). Esse trabalho reúne ensaios de quatro temas principais da Filosofia da Ciência: Confirmação, indução e crença racional; Concepções de significação cognoscitiva; Estrutura e função dos conceitos; e Teorias Científicas e Explicação Científica. A leitura desse livro nos fez produzir parte do primeiro capítulo deste estudo. Contudo, mesmo que essa leitura nos tenha proporcionado um frenesi, visto que achávamos que isso levaria a pesquisa a conseguir elementos para a elaboração do conceito de explicação, a mesma não nos fornecia a essência do sentido da explicação no campo do conhecimento. Sendo assim, partimos para a própria Filosofia, a qual nos abriu, nos campos epistemológicos, mil e uma possibilidades. A partir dela nos deparamos com as Ciências: Naturais, da Linguagem; Sociais e, junto, a Psicologia. Para começar, este conjunto de campos teóricos nos possibilitou montar um tripé, que nos serviu de base para a construção do conceito de explicação, em nossa investigação nas três áreas de conhecimento: Filosofia, Ciências e Linguagem. Seguindo esse tripé, foi possível constituir nosso objeto de investigação. Como já se pode notar, o desafio do nosso estudo é diferente dos anteriormente citados, mesmo que, de alguma forma, haja um entrelaçamento 14 A Explicação na Prática Discursiva-Pedagógica no Ensino de Ciências Naturais nos caminhos e objetivos, pois nosso intento também consiste em investigar a explicação na prática discursivo-pedagógica no ensino de Ciências. A diferença é que, em nosso caso, o interesse de investigação surgiu de indagações e inquietações a respeito do que o professor concebe “o que é explicação” na sua própria prática pedagógica: trazer, realmente, a explicação como objeto de reflexão da prática pedagógica do professor. Por isso, consideramos este livro uma importante contribuição, por tornar a explicação um objeto de reflexão da prática pedagógica do professor. Resta, então, saber qual o conceito de explicação que o professor assume, na sua prática discursivo-pedagógica e o que, realmente, encontramos no contexto de sala de aula. Diante disso, levando-se em consideração o lugar da explicação no ensino de Ciências, bem como a importância da explicação na prática discursivo-pedagógica, e sendo escassos os estudos desenvolvidos neste domínio, consideramos relevante, para o ensino de Ciências, desenvolver um trabalho que averigue a concepção de explicação, seguindo uma prática em sala de aula de Ciências. 15