A Explicação na Prática
Discursiva-Pedagógica
no Ensino de
Ciências Naturais
Mirtes Ribeiro de Lira
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©2014 Mirtes Ribeiro de Lira
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permissão da editora e/ou autor.
LG7 Lira, Mirtes Ribeiro de.
A Explicação na Prática Discursiva-Pedagógica no Ensino de Ciências
Naturais/Mirtes Ribeiro de Lira. Jundiaí, Paco Editorial: 2014.
224 p. Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-8148-473-0
1. Ensino de Ciências 2. Ciências Naturais 3. Explicação 4. Ensino
Fundamental I. Lira, Mirtes Ribeiro de
CDD: 370
Índices para catálogo sistemático:
Ciências Naturais
Estudo e Ensino das Ciências
500.1
507
Métodos de Ensino
371
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
Meu pai
(In memoriam)
Este livro é o produto final após quatro anos de dedicação,
da pesquisa sobre “explicação no ensino de Ciências” que
devo entregar em primeira mão a professora Francimar
Teixeira, minha orientadora do doutorado. O maior significado dele não vem a ser o que está escrito em suas páginas
e, sim o que ele pode contribuir para novos estudos a partir
de sua leitura.
Agradeço, mais uma vez pela dedicação da equipe da
Editora Paco.
Mirtes Lira
Este é o momento para refletir sobre essa longa caminhada que decidi
realizar. E, quando começo a fazer isto, percebo a benevolência de Deus em
me permitir concluí-la sem ressalvas e com tranquilidade.
Por isso, agradeço:
Ao meu esposo, que sempre esteve ao meu lado, ao longo dessa e de
tantas outras jornadas da minha vida acadêmica.
À minha orientadora, por ter me concedido essa oportunidade e, sempre, em todos os momentos, ter me incentivado e acreditado em mim.
À minha família: mãe, irmãs e irmãos, por fazerem parte da minha vida.
A Gerson Henrique, que favoreceu minha entrada na longa caminhada
do doutorado e por sempre ter me considerado profissionalmente.
A Micheline Motta, minha amiga de discussões, de descontrações, por,
sempre, me apoiar nas horas de indecisões.
Ao grupo de pesquisa, em especial a Adriel, Shirley Monteiro, Magadã
Lira, Micaías, Ruthe, Simone Melo e Kênio.
A Lúcia de Fátima, Tatiana Araújo e Ana Luíza, minhas colegas da
turma de doutorado 2005.
Ao diretor Pedro Falcão e ao vice-diretor Manoel Barros, da Universidade de Pernambuco campus Garanhuns, pela acolhida na Faculdade e
pelo respeito ao meu trabalho.
Às professoras Geane e Silvia, que contribuíram para a realização
desta pesquisa.
À direção da Escola Integral e da Escola de Aplicação Profa. Ivonita
Alves Guerra de Garanhuns, por ter permitido minha permanência em
suas dependências.
Aos professores deste Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFPE, em especial às professoras Dra. Maria Eliete Santiago e Dra. Laêda Bezerra Machado, pelos espaços concedidos para a discussão da minha pesquisa.
A Regina Pinheiro, pelas trocas de gentilezas nas horas mais precisas.
Aos funcionários da pós-graduação em Educação, em especial a Morgana, Valéria e João, pelo apoio na parte administrativa desta formação.
Ao meu mais novo amigo, Prof. Dr. Lorencini Jr., que, mesmo via e-mail, muito me auxiliou nos momentos de indecisão.
À minha querida amiga Regina Fragoso, por estar sempre ao meu lado,
independentemente da distância.
Enfim, a todos aqueles que torcem pelo meu sucesso, agradeço incondicionalmente.
Sumário
Apresentação.........................................................................................11
Introdução............................................................................................13
Capítulo 1
Da natureza a construção científica da explicação..................................17
1. Natureza da explicação: Filosofia e Ciência.......................................18
2. Modelos de explicação científica........................................................23
3. Métodos das Ciências: explicação e compreensão...............................30
Capítulo 2
Explorando a temática explicação .........................................................35
1. O uso da linguagem na prática discursiva do professor de Ciências:
a explicação...........................................................................................35
2. Estado da Arte sobre explicação no ensino de Ciências Naturais.........37
3. Modelo Pedagógico da explicação no ensino de
Ciências – Conceito de Explicação........................................................48
4. Tipos de explicação relacionada a perguntas.......................................53
5. Explicação e metacognição – construção do conceito
de explicação.........................................................................................63
Capítulo 3
A explicação na prática pedagógica do ensino de ciências......................67
1. Explicação nas modalidades de ensino em ciências naturais.............67
2. O lugar da explicação nas orientações do Parâmetro Curricular Nacional
de Ciências, no terceiro ciclo (6º e 7º anos)................................................77
3. O discurso explicativo como recurso didático para aprendizagem em
Ciências................................................................................................79
Procedimentos metodológicos da pesquisa, análises e resultados............83
Capítulo 4
Descrição do estudo...............................................................................85
1. Situando o campo empírico..............................................................85
2. Participantes e materiais....................................................................86
3. Etapas de investigação........................................................................88
Capítulo 5
Análise dos resultados............................................................................91
1. Organização das análises e interpretação dos dados...........................91
2. Primeira Análise – Entrevistas com as professoras.............................92
3. Segunda Análise – Situações didáticas...........................................107
4. Análises dos dados compostos pelas escolas......................................165
Considerações finais
Discussão e Conclusão........................................................................189
Referências .........................................................................................197
Apresentação
Aceitamos com prazer o desafio de apresentar a pesquisa “ A explicação
na prática pedagógica no ensino de Ciências Naturais” de Mirtes Ribeiro
de Lira neste livro. Desafio múltiplo porque depois de compartilharmos
em momentos próximos e distantes, orientadora e avaliadora, nos encontramos para redigir tal texto. As pesquisas com foco na linguagem e cognição se multiplicam na atualidade, mas poucas deixam o espaço da validação
dos modelos predominantes para aprofundar nos saberes constituídos nas
salas de aulas do ensino fundamental. Nas diferentes práticas discursivas
instituídas pelos sistemas educativos, a explicação ocupa um espaço importante para consolidar posições enunciativas e relações de poder. Afinal
quem tem o poder de explicar ? No ensino de ciências da natureza temos
ainda o refinamento de saber se a explicação estabelece uma relação causal.
Dessa forma além dos aspectos discursivos temos uma matriz semântica
ligada ao conhecimento científico que nos leva a critérios de julgamento
dos modelos explicativos emergentes da sala de aula. Tais questionamentos
que perpassam diferentes campos dos conhecimentos foram desenhados
pela autora com cuidado e respeito aos falantes representantes do universo
escolar do ensino fundamental.
Uma revisão bibliográfica em diferentes campos problematiza o verbete explicação e as pesquisas recentes na área de Educação em Ciências
sobre o tema. Após tal problematização Mirtes Lira assume a explicação
como uma atividade verbal metacognitiva, construída dialogicamente, que
tem como propósito evidenciar um conhecimento científico (p. 73). Essa
enunciação alia uma postura cognitivista à discursiva o que representa a
originalidade da investigação conduzida.
O estudo foi realizado em duas classes do sexto ano do ensino fundamental das cidades de Jaboatão dos Guararapes e de Garanhuns no estado
de Pernambuco. Nas vozes das professoras Silvia e Geane o cotidiano de
situações de ensino diferenciadas o que enriquece a análise contrastiva.
A participação dos alunos entre 9 e 12 anos alarga nosso horizonte sobre
como esses sujeitos buscam produzir explicações referenciadas em fenômenos cotidianos. Entrevistas com as professoras e seus alunos acompanhadas
de videogravação e de análises de episódios de sala de aula vão além dos
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Mirtes Ribeiro de Lira
estudos das interações de cadeias enunciativas do tipo I-R-F (iniciação-resposta-feed back) para buscar entender o formato da constituição da
explicação nas situações produzidas pelas professoras. A pesquisa discute as
implicações da condução das explicações como um saber das professoras.
De uma parte a professora encaminha na perspectiva do conhecimento
cabendo-lhe o papel de conduzir os alunos ao estabelecimento de uma
explicação científica. De outra parte, ao desenvolvimento cognitivo dos
alunos dialogando com as premissas por eles enunciadas.
É importante destacar a posição central das professoras enquanto gestoras das situações discursivas que levam a construção colaborativa das explicações. O destaque que Mirtes Lira consegue empreender em sua análise
da função primordial das professoras na escuta atenta de seus alunos. Ela
mostra a importância de investigações que em colaboração com situações
reais de ensino elucidam o enorme repertório dos professores e da riqueza
discursiva entre injunções, argumentações, descrições e narrações que visam
de fato levar aos alunos a construção de uma compreensão sobre o mundo.
Na prática pedagógica, para esta faixa etária o discurso explicativo causal é efêmero como conclui a investigação. Há um descompasso entre o
explicar para as professoras. O olhar das professoras comprometidas com
o desenvolvimento cognitivo dos alunos, coloca a explicação prioritariamente como a ação de tornar acessível o conhecimento científico escolar.
Já para os alunos uma boa explicação é aquela que viabiliza o sucesso na
tarefa escolar.
Consideramos que longe de ser interpretados como inconsistências,
os desencontros entre as perspectivas das professoras e dos alunos ao que
se refere a que é uma explicação evidenciam os diferentes caminhos para a
produção de uma explicação em sala de aula.
Desejamos que a leitura dessa obra amplie as reflexões sobre a prática
pedagógica de professores e professoras de todos os níveis de ensino.
Silvania Sousa do Nascimento
Universidade Federal de Minas Gerais
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Introdução
No contexto do ensino e aprendizagem, a explicação, até o presente, não se constituiu como objeto de reflexão por parte dos professores.
Em sala de aula, são os alunos que, geralmente, sinalizam uma boa ou
má explicação, pois essa atividade pode passar despercebida se o professor
considerá-la inerente ao ensino.
Esta obra se propõe a investigar a explicação como discurso inerente
ao ensino, na perspectiva enunciativo-discursiva sugerida por Bakhtin, nos
seus estudos sobre enunciação; nos pressupostos teóricos da abordagem
psicológica de Vygotsky e da epistemologia de base biológica de Maturana.
Enquanto referencial teórico-metodológico, tomamos como procedimento investigativo a estrutura analítica proposta por Mortimer e Scott (2000).
É um estudo que se situa nas pesquisas em Educação em Ciências e que
integra questões como: (1) a interação professor aluno; (2) o conhecimento
científico e o conhecimento cotidiano; (3) o discurso pedagógico; (4) os
modelos de explicação científica; (5) a linguagem da Ciência; (6) interações
a partir de perguntas e respostas; (7) metacognição; (8) as modalidades de
ensino; e (9) a explicação na prática discursivo-pedagógica, esta como objeto de investigação.
Neste sentido, levando-se em consideração o lugar da explicação no ensino de Ciências, bem como a importância da explicação na prática discursivo-pedagógica, e sendo escassos os estudos desenvolvidos neste domínio,
consideramos relevante, desenvolver um trabalho que averigue a concepção
de explicação do professor a partir de práticas em sala de aula de Ciências.
Mas como abordar esse objeto de investigação? Esse desafio tem sido
enfrentado de distintas maneiras, de modo que identificamos diversos caminhos científico-literários (Linguística, Filosofia, Ciências Naturais, Ciências Sociais, Pedagogia, Psicologia) para entender o que é explicação. Todavia, quais caminhos deveríamos seguir para a trajetória desta investigação?
Muitos estudos têm abordado “explicação”, a saber: como os alunos
conseguem explicar determinado fenômeno; relação entre explicação e afetividade; apropriação de explicação causal; construção de uma explicação
científica pelos alunos; uso de critérios na qualidade da explicação. No entanto, o nosso desafio é ir à busca de um conceito de explicação que venha
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Mirtes Ribeiro de Lira
atender às especificidades do ensino de Ciências. O momento da busca foi
o mais precioso e mais decisivo nesta trajetória acadêmica de doutoramento. Seu início se deu pela Linguística, por entender que a explicação está
relacionada com a linguagem, enquanto instância viva e dinâmica, na qual
seres falantes se constituem em sujeitos sociais e socializáveis por meio da
interação. É através dela que a explicação, como gênero, far-se-á presente,
independentemente da área que a subscreva, o que nos fez pensar que deveríamos começar por essa área de conhecimento.
Todavia, a maioria dos estudos observados nesta área sobre explicação
encontra-se nos domínios da aquisição e do desenvolvimento da língua
materna (Hudelot, Préneron e Anne Salazar-Orvig, 2003; Melo, 2003;
Fernandes, 2003; Del Ré, 2003). Muito embora esses estudos tenham
ampliado o nosso olhar em torno do gênero explicação, não trouxeram
elementos suficientes que contemplassem nosso foco de investigação – a
explicação no ensino de Ciências. Os conceitos postos, na maioria desses
estudos, são migrados do modelo da explicação científica proposto por
Hempel, e isso nos levou a uma investigação teórica a respeito do que seria
a explicação científica. Deste modo, mergulhamos nos estudos da Lógica, a
partir da obra La explicación científica, de Carl Hempel (1965, 2005). Esse
trabalho reúne ensaios de quatro temas principais da Filosofia da Ciência:
Confirmação, indução e crença racional; Concepções de significação cognoscitiva; Estrutura e função dos conceitos; e Teorias Científicas e Explicação Científica. A leitura desse livro nos fez produzir parte do primeiro
capítulo deste estudo.
Contudo, mesmo que essa leitura nos tenha proporcionado um frenesi,
visto que achávamos que isso levaria a pesquisa a conseguir elementos para
a elaboração do conceito de explicação, a mesma não nos fornecia a essência do sentido da explicação no campo do conhecimento.
Sendo assim, partimos para a própria Filosofia, a qual nos abriu, nos
campos epistemológicos, mil e uma possibilidades. A partir dela nos deparamos com as Ciências: Naturais, da Linguagem; Sociais e, junto, a Psicologia. Para começar, este conjunto de campos teóricos nos possibilitou
montar um tripé, que nos serviu de base para a construção do conceito
de explicação, em nossa investigação nas três áreas de conhecimento: Filosofia, Ciências e Linguagem. Seguindo esse tripé, foi possível constituir
nosso objeto de investigação.
Como já se pode notar, o desafio do nosso estudo é diferente dos anteriormente citados, mesmo que, de alguma forma, haja um entrelaçamento
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A Explicação na Prática Discursiva-Pedagógica no Ensino de Ciências Naturais
nos caminhos e objetivos, pois nosso intento também consiste em investigar a explicação na prática discursivo-pedagógica no ensino de Ciências.
A diferença é que, em nosso caso, o interesse de investigação surgiu de
indagações e inquietações a respeito do que o professor concebe “o que é
explicação” na sua própria prática pedagógica: trazer, realmente, a explicação como objeto de reflexão da prática pedagógica do professor.
Por isso, consideramos este livro uma importante contribuição, por
tornar a explicação um objeto de reflexão da prática pedagógica do professor. Resta, então, saber qual o conceito de explicação que o professor assume, na sua prática discursivo-pedagógica e o que, realmente, encontramos
no contexto de sala de aula.
Diante disso, levando-se em consideração o lugar da explicação no ensino de Ciências, bem como a importância da explicação na prática discursivo-pedagógica, e sendo escassos os estudos desenvolvidos neste domínio,
consideramos relevante, para o ensino de Ciências, desenvolver um trabalho que averigue a concepção de explicação, seguindo uma prática em sala
de aula de Ciências.
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