UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC COLEGIADO DE BIOLOGIA - MODALIDADE EAD CURSO DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA - MODALIDADE EAD Módulo III – Processos de manutenção da vida Eixo Temático: Pedagógico. Unidade EP3 – Prática de Ensino. Turma Mista Profa. Alexandra Marselha Siqueira Pitolli Tendências atuais para o ensino de Ciências e Biologia1 Nas últimas décadas tem havido sucessivas reformulações no direcionamento do movimento de inovação no ensino de Ciências Naturais. No quadro abaixo resumimos as tendências desta inovação em alguns períodos: PERÍODO Antes da década de 60 Década de 60 Década de 70 INOVAÇÕES - diminuição da defasagem entre o conteúdo curricular e o nível de conhecimento científico existente; - tornar o ensino mais prático. - propiciar ao estudante a análise e vivência do método científico; - desenvolver no estudante o pensamento lógico e o espírito crítico; - precisar melhor o “tornar o ensino mais prático”. - mantém a análise e vivência do método científico; - incluir nos objetivos existentes os que propiciassem a análise das implicações sociais da produção científica e tecnológica. Decorrente destas “inovações” da década de 60, muita importância passa a ser dada às feiras de ciências e as atividades de laboratório que, no entanto reduziam-se ao modelo tradicional de ensino, ou seja, o aluno apenas executa as instruções do professor ou do manual de laboratório para “redescobrir” conceitos antes ensinados com o uso de textos e aulas expositivas. Na década de 70 foi mantido o propósito de dar ao estudante a análise e vivência do método científico pela manipulação de materiais e equipamentos de laboratório através da redescoberta, transmitindo a idéia errônea de que sempre existe uma “receita” que sendo seguida era o mesmo que usar o método científico. Nesta mesma época, especialistas no ensino de Ciências Naturais passam a perceber que o desenvolvimento do espírito crítico requer mais do que simplesmente praticar ciência de forma simulada. 1 Texto elaborado como subsídio para a disciplina de Prática de Ensino, Turma Mista, do Curso de Licenciatura em Ciências Biológica da UESC – Modalidade a Distância. PITOLLI, A. M. S. Tendências atuais para o ensino de Ciências e Biologia. s/d. 1 Entretanto, toda esta “inovação” nos objetivos para o ensino de Ciências alcançou de forma muito modesta a sala de aula. Aparentemente os professores ficaram com uma idéia de que o ensino de Ciências dependia do uso de laboratórios muito bem equipados o que contribuiu na desvalorização de diversos procedimentos didáticos. Isto causou também outra ideia equivocada de que o método científico, o método da redescoberta e os experimentos de laboratório eram uma mesma coisa. Ou seja, uma alteração e modernização nos objetivos, pouco ou quase nada transformou o ensino de Ciências e, que atualmente é inevitável repensarmos os objetivos mais gerais da escola de ensino fundamental considerando-se que ela visa à formação intelectual básica do indivíduo. Para tanto deve possibilitar que a criança desenvolva, entre outros, a capacidade de observar; de distinguir seres vivos de não vivos; dominar a noção de espaço, tempo e casualidade; de problematizar a sua realidade; formular hipótese; analisar dados; estabelecer e criar conclusões. A finalidade disto tudo é proporcionar aos alunos o poder de construir e reconstruir seus próprios conceitos, o que exige ir além dos limites tradicionalmente abrangidos pelos conteúdos programáticos. Bastos (1998) nos alerta para o fato de o ensino de Ciências Naturais na maior parte das escolas do mundo tem se caracterizado por enfatizar o produto final da atividade científica (teorias, modelos, leis) e não “(...) o processo através do qual os cientistas conseguiram produzir esses conhecimentos” (p.6). Desta forma hoje se torna crescente a expectativa de que o ensino de Ciências realize uma drástica mudança em seu perfil metodológico e enfoque as relações mútuas entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS), o que irá favorecer a aquisição de conhecimentos que ajudem os indivíduos a participar conscientemente dos “(...) processos de tomada de decisões em sua sociedade” (p. 7). O mesmo autor sintetiza de maneira clara as tendências atuais para o ensino de Ciências, e afirma ainda que no Brasil estas tendências vêm sendo observadas tanto na produção de propostas curriculares oficiais, como na produção de dissertações, teses, artigos e demais trabalhos acadêmicos: “- preocupação com um entendimento adequado da natureza da ciência. - ênfase no estudo de tópicos de CTS. - ênfase no uso da História e Filosofia da Ciência como conteúdo de ensino e/ou subsídio para o professor. 2 - valorização de um Ensino de Ciências compromissado com a construção da cidadania e da democracia. - consolidação dos modelos construtivistas de aprendizagem como referenciais teóricos privilegiados para o Ensino de Ciências. - valorização dos processos coletivos de construção do currículo.” (p.9) O ensino de Ciências Naturais apesar de sua importância, do interesse que pode despertar nos alunos e da grande variedade de temas que envolvem vem sendo, de uma maneira geral, conduzido nas salas de aula de maneira desinteressante e pouco compreensível. Concordamos com os Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais (Brasil, 1997) quando este documento nos afirma que, na maioria das vezes, isto acontece pelo fato de as teorias científicas possuírem um alto nível de complexidade e abstração, o que acaba impossibilitando sua comunicação direta aos alunos do ensino fundamental. Seu ensino requer, portanto adequação e seleção de conteúdos, mesmo por que é praticamente impossível ensinar todo o conjunto de conhecimentos científicos acumulados. De acordo com o mesmo documento citado acima, não se pode ter a intenção de que as teorias científicas vigentes “altamente sistematizadas e formalizadas (p.10)”, sejam as mesmas que organizam o processo de ensino-aprendizagem das Ciências Naturais no ensino fundamental. Tais teorias oferecem modelos lógicos e categorias de raciocínio que orientam as investigações em aulas e projetos de Ciências Naturais. Vale lembrar que os estudantes obtêm pela vivência, cultura e senso-comum muitos conhecimentos acerca de vários dos conceitos que virão a conhecer na escola, fato que forma um dos pressupostos das modernas concepções do aprendizado escolar. Fora isso, o professor ainda que tenha organizado parcelas do conhecimento científico também mantém muitas idéias do senso-comum. Portanto trata-se de progredir num diálogo entre as concepções pré-existentes e as novas. Logo, faz-se necessário comparar as visões das Ciências com aquelas construídas espontaneamente pelos interlocutores do processo de aprendizado. A história das ciências, das idéias científicas e das relações do ser humano com os recursos naturais pode ser abordada para dar um contexto às relações existentes entre as sociedades humanas e a natureza. Não podemos nos esquecer de que não é a escola o único agente educador e que os padrões de comportamento aprendidos no convívio familiar e também as 3 informações transmitidas pela mídia influenciam bastante os adolescentes e jovens. Portanto, torna-se extremamente importante que o professor tenha como objetivo desenvolver nos alunos uma postura crítica frente à realidade, às informações e valores veiculados pela mídia e àqueles trazidos de casa. A área de Ciências Naturais é tida como uma rica oportunidade de encontro entre o aluno, o professor e o mundo na perspectiva de se ultrapassar o senso-comum e o conhecimento intuitivo. Isso poderá acontecer agrupando as coleções de vivência trazidas pelos alunos, compartilhando imagens e negociando palavras e proposições. “Se a intenção é que os alunos se apropriem do conhecimento científico e desenvolvam a autonomia no pensar e no agir, é importante conceber a relação de ensino e aprendizagem como uma relação entre sujeitos, em que cada um, a seu modo e com determinado papel, está envolvido na construção de uma compreensão dos fenômenos naturais e suas transformações, na vivência de procedimentos de investigação e na formação de atitudes e valores humanos.” (BRASIL, 1997. p. 11) As ideias que os alunos trazem de casa sobre os fenômenos naturais, o seu corpo, o mundo, são modelos que contém toda uma lógica interna e vêm carregados de símbolos de sua própria cultura. Eles poderão perceber os limites de seus modelos e compreender a necessidade de novas elaborações ao serem, por exemplo, convidados a expor suas idéias para explicar certo fenômeno e confrontar estas idéias com as trazidas pelos colegas. Neste momento, os alunos estarão em movimento de ressignificação e, portanto sujeitos de sua própria aprendizagem, o que segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais (Brasil, 1997): “... significa afirmar que é dele (aluno) o movimento de ressignificar o mundo, isto é, de construir explicações, mediado pela interação com o professor e outros alunos e pelos instrumentos culturais próprios do conhecimento científico.” (BRASIL. 1991. p.11) É muito importante ressaltar o papel fundamental que o professor exerce neste momento para que o movimento de ressignificação seja construído, uma vez que sabemos que ele não é espontâneo. É o professor que tem a função social de orientar o caminhar do aluno, criando situações atraentes e significativas, dando as informações necessárias para que ocorra a reelaboração e a ampliação dos conhecimentos prévios, ao mesmo tempo em que propõem as necessárias articulações entre os conceitos construídos a fim de organizá-los em um corpo de conhecimentos sistematizados. 4 É imprescindível que o professor perceba que o ensino de Ciências Naturais não se resume a apresentação pura e simples de conceitos e definições científicas muitas vezes fora do alcance da compreensão dos alunos. Muito pelo contrário, as definições são o ponto de chegada do processo de ensino, o que se pretende que o aluno compreenda ao longo ou ao final de suas investigações. É preciso atentar para o fato que da mesma maneira que conceitos, procedimentos e atitudes também são aprendidos e construídos pelos alunos através de comparação e discussões mediadas por elementos e modelos oferecidos pelo professor. Procedimentos fundamentais em Ciências Naturais são aqueles que permitem a busca, a comunicação e o debate de fatos e idéias. O ensino destes vários procedimentos só é possível pelo trabalho com diferentes temas que deverão ser investigados de formas distintas. Certos temas pedem observação direta, outros pedem atividades de experimentação, outros são mais facilmente trabalhados com o uso de enquetes e assim por diante. “No contexto da aprendizagem interativa, os alunos são convidados à prática de tais procedimentos, no início a partir de modelos oferecidos pelo professor e, aos poucos, tornando-se autônomos.” (Brasil, 1997 – p.13) Com relação às atitudes e valores, o professor sempre estará legitimando-os, embora muitas vezes nem se dê conta disto, pois ele é uma importante referência para sua classe. Vale ressaltar que o desenvolvimento de posturas e valores em Ciências Naturais envolve muitos aspectos da vida social, tais como a cultura e as relações entre o ser humano e a natureza. As discussões sobre tais aspectos contribuem para o aprendizado de atitudes como, por exemplo, de responsabilidade em relação à saúde e ao ambiente. BIBLIOGRAFIA BASTOS, F.; História da ciência e ensino de Biologia – A pesquisa médica sobre a febre amarela (1881-1903); Tese de Doutorado; Faculdade de Educação; USP; São Paulo/SP; 1998. BRASIL; Ministério da Educação e do Desporto; Secretaria do Ensino Fundamental; Parâmetros Curriculares Nacionais – Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental – Ciências Naturais; Abril/98. 5