Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
ANO II - NÚMERO 2 - MAR/ABR/MAI'2005
03 ENTREVISTA BORIS TABACOF
07 TEMOS TECNOLOGIA PARA O TRANSPORTE
28 BREVE PANORAMA SOBRE A EDUCAÇÃO
PÚBLICO DE SÃO PAULO?
CORPORATIVA NO BRASIL
ADRIANO M. BRANCO
FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR, SÉRGIO MANCINI
E GREGÓRIO BITTAR IVANOFF
14 PARQUES TECNOLÓGICOS UNIVERSITÁRIOS:
UMA NOVA DIMENSÃO DE SEU PAPEL
NA ERA DA INOVAÇÃO
ROBERTO SBRAGIA
16 O PROJETO E A GESTÃO
LUIZ ROBERTO VANNUCCI
22 A REESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS
SUPERIORES DE TECNOLOGIA
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
30 TECNOLOGIA E PROFISSIONALISMO
CONSTROEM UMA MARCA
RUBENS ALVES JR.
32 ARTE & TÉCNICA, COMPANHIA ILIMITADA
FLÁVIO AGUIAR
34 LICENCIAMENTO AMBIENTAL: O GRANDE
GARGALO ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO
38 HISTÓRIA, MATEMÁTICA E INFORMAÇÃO:
A TRILOGIA DA COMPETIÇÃO
LUIZ PAULO LOPES FÁVERO
40 IMPACTO DO CUSTO DA LOGÍSTICA
NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS
EDITORIAL
EXPEDIENTE
É
com enorme satisfação que estamos apresentando a segunda edição
da Revista da FAT. Mais uma vez vencemos de forma prazerosa esse
desafio.E novamente o sonho se fez realidade.Gostaríamos de reafirmar
nosso compromisso com a democratização do conhecimento por meio da
disseminação de informações.
A repercussão positiva de nossa primeira edição, ao mesmo tempo que nos
deixa muito orgulhosos e motivados, nos apresenta desafios ainda maiores,
no sentido de buscarmos continuamente o aprimoramento de nossa proposta
de produzir uma revista de qualidade e que atenda de forma adequada os
leitores que conquistamos.
Continuamos empenhados na busca de matérias que efetivamente tragam
contribuições às pessoas, às instituições e à sociedade.
Trouxemos para reflexão, neste número, uma série de assuntos previamente
selecionados, abrangendo o transporte público em São Paulo, educação corporativa, cursos superiores de tecnologia, gestão de projetos, inovação, licenciamento ambiental,parques tecnológicos,custo da logística e construção de
uma marca, entre outros.
A diversidade de assuntos abordados reflete o caráter plural de nossa revista.
O que queremos é apresentar pontos de vista de profissionais altamente qualificados sobre temas diversos como forma de contribuição ao desenvolvimento
social, econômico e tecnológico do Estado de São Paulo e do Brasil.
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor Presidente
Prof. César Silva
Diretor Administrativo
Prof. Francisco Scarfoni Filho
Diretor Técnico
Prof. Luiz Roberto Vannucci
CONSELHO DE CURADORES
Prof. Dirceu D’Alkimin Telles
Prof. Francisco Antonio Pinto Éboli
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Profa. Yolanda Silvestre
Prof. Victor Sonnenberg
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Prof. Remo Alberto Fevorini
Profa. Rosana Maria Siqueira
Presidente do Conselho de Curadores
Prof. Kokei Uehara
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Prof. Dr. Angelo Albiero Filho (CIESP)
Prof. Dr. Claudio Felisoni de Angelo (FIA-USP)
Prof. Dr. Dirceu D´Alkmin Telles (FATEC-SP)
Enio Squeff
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Prof. Luiz Carlos Moraes Rego (FGV)
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Marcus Vinicius Sinval (Sebrae-SP)
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Revisão de textos Hebe Ester Lucas
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Vários desses profissionais têm atuado em parceria e são nossos colaboradores,
o que sem sombra de dúvida tem possibilitado o crescimento do acervo intelectual da FAT.
Projeto Gráfico Ronie Prado
A edição da Revista da FAT,aliada a várias outras ações que temos desenvolvido,
possibilita-nos afirmar que estamos atingindo de forma efetiva nosso principal
objetivo,que é colaborar com as instituições que atuam nas áreas da educação
e da tecnologia,buscando estimular e desenvolver o conhecimento,o ensino
técnico e tecnológico, a pesquisa aplicada, o desenvolvimento experimental
e a extensão de serviços à comunidade.
Fotolito/ Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial
Direção de Arte e Produção Gráfica
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Fotos Júlio Hilário, Folha Imagem
Tiragem 2.000 exemplares
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Jurídico
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Diretor-presidente da FAT,
professor da Fatec São Paulo
e consultor na área
de gestão empresarial.
A Revista da FAT tem o formato fechado: 208 x 273 mm, formato aberto: 416 x 273 mm.
Número de páginas: 48, incluindo capa. Acabamento: lombada canoa, verniz de máquina capa/contra-capa.
Papel do miolo: Couché opaco 70 g, capa: Couché opaco 150 g. Impressão: Offset, 4x4 cores.
DEZ'2004 e JAN/FEV'2005
Revista da FAT - Publicação TRIMESTRAL
da Fundação de Apoio à Tecnologia
Ano II - Número 2 - MAR/ABR/MAI’2005
ISSN - 1807-9687
Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro
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exclusiva responsabilidade dos autores.
ENTREVISTA
BORIS TABACOF
Para o empresário Boris Tabacof, o setor industrial de celulose
e papel deve trabalhar em conjunto com as universidades
no desenvolvimento de novas tecnologias e no treinamento
de pessoal.
A GRANDE
OPORTUNIDADE CHAMA-SE
FLORESTA PLANTADA
As questões cambiais da economia e as ambientais
são o foco do engenheiro Boris Tabacof ao abordar
os macromercados de celulose, papel e petroquímico.
Ele alerta para o novo conceito de floresta plantada
como importante instrumento de defesa e preservação
das florestas nativas.
Em entrevista à revista da FAT, Tabacof analisa as
perspectivas de crescimento desses mercados e fala da
necessidade da criação de cursos superiores que especializem profissionais para atuar nas áreas de pesquisa
genética das árvores, a fim de aumentar a qualidade
e a rentabilidade das fibras de celulose.
BORIS TABACOF
Dados pessoais
Soteropolitano, 75 anos, casado,
cinco filhos.
Carreira
É engenheiro civil pela Escola
Politécnica da Universidade da
Bahia. Foi secretário da Fazenda
do Estado da Bahia, presidente
do Banespa e diretor-superintendente
do Grupo Financeiro Safra.
Posição Atual
Vice-presidente do Conselho
de Administração da Suzano Bahia
Sul Papel e Celulose, presidente
do Conselho de Administração
da Suzano Petroquímica,
vice-presidente do Conselho de
Administração da Suzano Holding
e diretor do Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo (Ciesp).
Por Luiz S. Nogueira [email protected] e Hebe Lucas [email protected]
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
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ENTREVISTA
BORIS TABACOF
Há como financiar um novo ciclo de
de arrocho de crédito e de tribu-
desenvolvimento para este mercado?
tação elevadíssima.
Qual é a expectativa que o senhor tem
Na indústria de celulose os investi-
com relação ao desempenho dos negó-
mentos são de altíssima intensi-
O sistema de Parcerias Públicas Pri-
cios de celulose e papel a curto e médio
dade. Hoje, um projeto de fábrica
vadas (PPPs) interessa direta ou indi-
prazos?
de celulose envolve valores em torno
retamente ao setor?
Em primeiro lugar, há uma preocu-
de 1 bilhão de dólares. Dada a capa-
Não vemos ainda uma possibilida-
pação muito grande quanto à questão
cidade de exportação, de geração
de de utilização das PPPs diretamen-
cambial. O setor brasileiro de celu-
de moeda forte,nossa indústria tem
te nos nossos investimentos indus-
lose e papel alcançou uma posição
acesso ao capital internacional e
triais.A importância do projeto das
no cenário internacional que tende
nossas empresas conseguem obter
PPPs estaria mais ligada a questões
a crescer. O Brasil, que há pouco
financiamento externo. Várias dessas
de infra-estrutura, que afeta muito
tempo era praticamente insignifi-
empresas têm ações cotadas em
a indústria de papel e celulose. As
cante nesse segmento, é hoje um
bolsas internacionais.Por outro lado,
PPPs teriam a ver com, digamos, a
dos produtores mais importantes
temos um apoio muito forte do
questão do acesso,rodovias,portos.
do mundo. Então, na medida em
BNDES (Banco Nacional de Desen-
Por exemplo, temos uma movimentação muito grande – transportamos
que o câmbio desencoraja as importações, se esse processo continuar
por um prazo muito longo, isso vai
acabar com toda a expectativa de
investimento. O setor brasileiro de
celulose e papel,principalmente de
celulose, tem investido maciçamente nos últimos dez anos – algo em
A importância do
projeto das PPPs
estaria mais ligada
a questões de
infra-estrutura, que
afeta muito a
indústria de papel
e celulose.
de pinho para a fábrica a distâncias
razoáveis, às vezes mais de 100 quilômetros.Então,o problema do mau
estado das estradas nos afeta diretamente e aumenta o nosso custo.
Também temos problemas portuários sérios – seria preciso cons-
torno de 12 bilhões de dólares.Esse
2
madeira dos plantios de eucalipto e
aumento reflete a capacidade da
volvimento Econômico e Social),que
truir portos mais próximos dos
produção de celulose, que cresceu
tem sido, ao longo da história, um
locais da produção. Nesse nível, as
rapidamente, motivada por uma
sustentáculo importante no cresci-
PPPs podem ser uma solução, mas
boa condição de competitividade
mento dessa indústria. Do ponto de
provavelmente o setor de celulose
mundial.Essa vantagem se deve prin-
vista de investimento, temos uma
e papel não participaria delas como
cipalmente à bem-sucedida produ-
equação capaz de sustentar novos
investidor. Não seria uma priorida-
ção de eucalipto em território nacional.
projetos. A situação é realmente crí-
de do segmento. Em algumas ques-
Embora seja originário da Austrália,
tica no mercado doméstico,no con-
tões, especialmente no tocante a
o eucalipto se aclimatou de maneira
sumo do papel e no capital de giro
um transporte ferroviário que subs-
extraordinária no Brasil. A exportação
das empresas. A dificuldade de cré-
tituísse o transporte rodoviário das
é a nossa grande força. Em relação
dito é muito maior na distribuição
cargas e na melhoria e ampliação de
ao consumo doméstico de papel,
e venda de papel no mercado bra-
portos, poderíamos eventualmente
estamos mais ou menos estagnados,
sileiro, que deveria ser uma base
ter interesse, mas esta seria uma
procurando recuperar o consumo.
firme. A indústria não pode se
opção de cada empresa e de cada
Diante desse contexto, ficamos na
basear exclusivamente em expor-
localização. De modo geral,o setor se
dependência das taxas de juros, e
tação. Precisamos ter uma base
beneficiaria muito se o programa PPP
com a taxa de juro colocada nessa
sólida interna no consumo dos
nacional desse certo e se a área de
altitude, é difícil obter crédito para
novos produtos e isso está rela-
infra-estrutura do Brasil, que está tão
um giro do consumo de papel.
cionado à abertura dessa política
precária, ganhasse um impulso.
MAR/ABR/MAI' 2005
Quais são as novas tecnologias que
sidades e com as instituições de de-
deverão ser adotadas pelas indústrias
senvolvimento de tecnologia e do
de celulose e papel?
treinamento de pessoal. Como mem-
Na parte industrial propriamente
dita da fabricação de celulose e papel,
nossas indústrias estão muito integradas aos produtores mundiais.Aliás,
existem poucas fábricas de equipamentos no mundo para o setor de
celulose e papel.Quando temos projetos de plantações,novas unidades,
aperfeiçoamentos ou ampliações,
trabalhamos em parceria com essas
grandes organizações internacionais.
Eu não poderia dizer que há expectativa de um grande salto na área
fabril nos próximos tempos, mudanças que representem um avanço
qualitativo de processos. O que
existe é um desenvolvimento contínuo de vários processos, principalmente na área de informática,
em nossas fábricas. Em termos de
aplicativos, ainda há muito a se fazer.
Onde ainda existe um longo caminho a se percorrer é na área florestal.
Refiro-me à tecnologia florestal do
eucalipto. A indústria florestal tem
celulose e papel, tem móveis, tem
placas,tem biomassa,tem uma série
bro de organizações internacionais,
tenho chamado a atenção, em âmbito mundial, para o fato de que o
caminho a médio e longo prazo da
nossa indústria reside em plantar e
colher árvores.Talvez soe estranho,
mas isso ainda é muito pouco realizado no mundo. As grandes nações
produtoras de papel e celulose cortam florestas – pinheirais enormes
que existem nos Estados Unidos,no
Canadá,na Escandinávia,na Rússia –,
que são árvores nativas.Obviamente
há replantio dessas árvores, só que
uma árvore dessa espécie leva em
média 40/50 anos para crescer. Aqui
nós temos o eucalipto australiano,
que se aclimatou de maneira extraordinária no Brasil em termos eco-
ENTREVISTA
BORIS TABACOF
vimento do segmento há alguns anos,
na parte industrial. Agora,na área de
genética, há um campo extraordinariamente amplo ser pesquisado. A
grande oportunidade do Brasil está
em suas condições ecológicas – clima,pluviosidade,temperatura,solo,
sol, todos esses elementos que são
fundamentais para o pleno desenvolvimento da árvore.Hoje o que vale é a quantidade de fibra que se
extrai de uma árvore, que é exatamente a celulose. Nós praticamente
duplicamos o volume de fibra de
eucalipto em aproximadamente 30
anos. Como fizemos isso? Com a
hibridação: fizemos híbridos de
várias árvores de eucalipto e desenvolvemos técnicas de clonagem.
lógicos. Aí entra o esforço que a
O que existe é um
desenvolvimento
contínuo de
vários processos,
principalmente na
área de informática,
em nossas
fábricas.
nossa indústria está fazendo e
que vai transformar o Brasil
numa potência florestal. Essa
potência florestal é baseada em
plantar e não em dizimar florestas que sobraram, principalmente no Amazonas.
Hoje não plantamos mais árvores
de utilizações. No caso brasileiro, a
grande oportunidade chama-se flo-
Parcerias entre a universidade e o seg-
com
resta plantada.O conceito de floresta
mento industrial agilizariam novos pro-
Utilizamos clones, que propiciam
plantada é novo universalmente da
cessos de desenvolvimento?
um
forma como estamos colocando hoje.
Muito.A gama de pesquisas é muito
Identificamos numa floresta de
A plantação de florestas é a grande
grande. Só para destacar as princi-
eucaliptos as árvores que apresen-
defesa contra a devastação das flo-
pais áreas, podemos falar em técni-
tam as melhores características – as
restas nativas. Existe, no Brasil, um
cas de plantio, técnicas de manejo
mais produtivas em termos de
processo gradual de devastação
florestal,técnicas de utilização cada
fibras. Elas se desenvolvem mais
das florestas nativas, que não é um
vez mais aperfeiçoadas e econômicas
depressa, são mais resistentes a
privilégio nosso, mas que também
de insumos, defesa contra pragas e
doenças e demandam menos insu-
acontece na Ásia e na Rússia. É aí
outras.O IPT (Instituto de Pesquisas
mos. Tiramos um pedacinho de ma-
que reside a importância da tecno-
Tecnológicas), por exemplo, teve
terial dessa árvore, desenvolvemos
logia,da cooperação com as univer-
uma boa participação no desenvol-
esse material em laboratório e o
sementes
resultado
de
eucalipto.
extraordinário.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
3
mercado para esses profissionais e
que está havendo hoje é um pro-
o País tem o maior interesse em trei-
cesso de fortalecimento da estrutu-
transformamos em uma muda clo-
nar especialistas, principalmente em
ra empresarial. O Brasil sofreu uma
nada. É esta muda que vai para o
engenharia genética e/ou bioen-
pulverização, pelo próprio modelo
solo. Isso significa que você só re-
genharia.
que foi utilizado quando se implan-
ENTREVISTA
BORIS TABACOF
tou a petroquímica. Os investimen-
produz as árvores de boa qualidade.
O salto agora chama-se engenharia
Qual é hoje a participação desse setor
tos eram chamados terços. Havia a
genética, e é aí que está o desafio
no PIB e qual a possibilidade de cresci-
Petroquisa,que é a Petrobras – e que
do setor e da universidade: traba-
mento dessa participação?
é o governo. Uma empresa brasilei-
lhar para mudar a célula da árvore
No que se refere à produção de ár-
ra podia ou não ter experiência no
vores e de papel, as pesquisas são
ramo – e quase nenhuma tinha,por-
demoradas. Depois de obter uma
que esse negócio quase não existia
mutação, você tem de plantar aque-
–, e geralmente era uma multina-
la muda para que ela cresça. Isso
cional que trazia a tecnologia. Isso
significa que o ciclo – e o resultado
era feito em cada um dos pólos
econômico da pesquisa – demoram
petroquímicos fundados. Temos
vários anos. As pesquisas nesse cam-
três principais pólos, um na Bahia,
po são relativamente recentes. Não
um no Rio Grande do Sul e um em
se pode dizer que elas já estejam
São Paulo. Cada pólo tem uma varie-
de tal maneira que ela adquira con-
influenciando o PIB como produ-
dade de empresas que cuida de cada
dições mais favoráveis em termos
ção.Mas como mercado de trabalho,
segmento. Isso produziu uma dis-
de produtividade. Essas questões já
é uma oportunidade profissional mui-
persão muito grande. O momento
vêm sendo trabalhadas. A Suzano
to boa. Creio que ainda há muito
que o setor está vivendo hoje é de
tem pesquisas em conjunto com a
campo a ser explorado,porque o que
fortalecimento da cultura societária,
Escola Superior de Agronomia Luis
se faz hoje é o aproveitamento de
para que tenhamos boas condições
de Queiroz (ESALQ), de Piracicaba
engenheiros florestais, que não
de competição e de integração global.
(SP), e outras fábricas do setor tam-
tiveram como meta de estudo prin-
bém atuam nessa linha.
cipal essas novas técnicas.Você tem
Qual será o perfil desse setor nos pró-
de mexer na célula da árvore, no
ximos anos?
E a criação de novos cursos superiores
núcleo, trocar um gene. É pratica-
O setor deve iniciar um novo ciclo
de tecnologia para atuar neste mercado?
mente uma nova profissão.
de investimentos,o que pouco acon-
Acho que poderiam
ser criados
cursos de tecnologia
especificamente
relacionada
ao eucalipto,
indo além da
engenharia florestal
tradicional.
teceu nos últimos anos.O principal
Existe uma formação de engenhei-
4
ros florestais de boa qualidade já há
Que análise o senhor faz do setor petro-
deles é o da Rio Polímeros, que foi
bastante tempo, mas há muita es-
químico e como a Suzano deve cami-
praticamente o único grande projeto
cassez de especialistas nessa linha.
nhar nesse segmento?
do setor petroquímico em uma década.
Acho que poderiam ser criados cur-
A Suzano está no negócio petroquí-
sos de tecnologia especificamente
mico há cerca de 30 anos,quando o
Como vai se dar a participação da Suzano
relacionada ao eucalipto, indo além
segmento começou no Brasil.Inves-
nesse processo da Rio Polímeros?
da engenharia florestal tradicional.
timos nos primeiros projetos de plan-
A participação já está definida: um
Acho também que existe uma boa
ta petroquímica no Pólo de Cama-
terço da Suzano,um terço da Unipar
chance de esses cursos funciona-
çari, na Bahia, e temos tido um
e um terço de direitos públicos,que
rem em nível tecnológico, ou seja,
crescimento importante nessa área,
são o BNDES e a Petrobras.O projeto
formarem tecnólogos, e não bacha-
que hoje é separada societariamen-
vai entrar em funcionamento no pri-
réis, em engenharia florestal. Existe
te da área de papel e celulose. O
meiro semestre deste ano. Essa etapa
MAR/ABR/MAI' 2005
que está começando hoje no Brasil e
tos,novas fábricas ou a expansão das
que está ligada à reestruturação socie-
existentes.Na fábrica da Rio Políme-
tária de formação de grupos mais for-
ros, por exemplo, há um detalhe in-
tes,com mais poder de fogo, deverá
teressante:a matéria-prima utilizada
necessariamente resultar em novos
é o gás natural, e não a nafta – que
investimentos. À medida que a eco-
é um derivado de petróleo. É uma
nomia vai crescendo,certamente o
diversificação que implica uso de
consumo de produtos petroquími-
tecnologia e que torna a produção
cos sofrerá uma otimização.Um car-
mais independente.
ro,por exemplo,tem mais de 30 quilos de polipropileno.Hoje o material
E isso também tem resultados em nível
está por toda parte, desde produ-
de meio ambiente e de rentabilidade?
tos eletroeletrônicos até automóveis.
Em relação ao meio ambiente, creio
Por isso o crescimento dos produtos
que não. Mas em termos econômicos
se dá em índices maiores no cresci-
e estratégicos, tem muito, porque
mento do PIB. Então, a expectativa
você fica menos dependente do pe-
é de que o Brasil dará um salto na
tróleo e dos preços extremamente
sua capacidade instalada. Para isso
oscilantes dos seus derivados, prin-
são necessários novos investimen-
cipalmente no caso da NAFTA.
ENTREVISTA
BORIS TABACOF
A trajetória do empresário Boris
Tabacof está descrita na autobiografia Perdidos e achados, lançada em abril deste ano. No livro,
Tabacof conta como foi o episódio
de sua prisão no governo Vargas,
relata o desencanto com o comunismo e a investida no mundo dos
negócios: "O primeiro supermercado da Bahia foi construído por
mim", destaca. Tabacof aborda
também a sua passagem pelo setor
público, a profissionalização do
Banco Safra e do Grupo Suzano
e suas incursões pelos campos
da ciência e da religião.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo.
FAT • FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino,
pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos
problemas e das necessidades da organização, a FAT propõe,
desenvolve e implanta soluções específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda.
A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico
e tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar
serviços nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde,
indústria e meio ambiente, entre outras.
• Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação
• Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde,
Meio Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras
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ÍNDICE
NOSSA CAPA
Obra do artista plástico Iberê Camargo
“Formas Geométricas”, 1983
óleo sobre tela,184 x 130 cm
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo
Direitos autorais gentilmente cedidos pela Fundação Iberê Camargo
Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
ANO II - NÚMERO 2 - MAR/ABR/MAI' 2005
Fotografia Rodolfo Neto
EDITORIAL CÉSAR SILVA, diretor-presidente da FAT
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ENTREVISTA BORIS TABACOF
TEMOS TECNOLOGIA PARA O TRANSPORTE PÚBLICO DE SÃO PAULO?
ADRIANO M. BRANCO
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PARQUES TECNOLÓGICOS UNIVERSITÁRIOS:
UMA NOVA DIMENSÃO DE SEU PAPEL NA ERA DA INOVAÇÃO.
ROBERTO SBRAGIA
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O PROJETO E A GESTÃO
LUIZ ROBERTO VANNUCCI
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A REESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
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BREVE PANORAMA SOBRE A EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL
FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR, GREGÓRIO BITTAR IVANOFF E SÉRGIO MANCINI
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TECNOLOGIA E PROFISSIONALISMO CONSTROEM UMA MARCA
RUBENS ALVES JR.
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ARTE & TÉCNICA, COMPANHIA ILIMITADA
FLÁVIO AGUIAR
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LICENCIAMENTO AMBIENTAL: O GRANDE GARGALO
ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO
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HISTÓRIA, MATEMÁTICA E INFORMAÇÃO:A TRILOGIA DA COMPETIÇÃO
LUIZ PAULO LOPES FÁVERO
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IMPACTO DO CUSTO DA LOGÍSTICA NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS
43
SUGESTÃO DE LEITURA
O ENIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
44
AGENDA
EVENTOS MUNDIAIS EM GESTÃO TECNOLÓGICA - 2005
6
MAR/ABR/MAI' 2005
TEMOS TECNOLOGIA PARA
O TRANSPORTE PÚBLICO
DE SÃO PAULO?
Por ADRIANO M. BRANCO
Em 1999 publiquei artigo na Revista da Associação Nacional de
Transportes Públicos (Ano 21, 1º trimestre) em que apresentei uma
metodologia de cálculo dos prejuízos que a população metropolitana
sofre por não contar com uma boa infra-estrutura de transportes coletivos
e ter, em conseqüência, de conviver com um trânsito verdadeiramente insuportável, sob o ponto de vista do desgaste psicológico, econômico e
ambiental, sofrido por todos aqueles que se deslocam na cidade.
A metodologia foi bastante significativa, pois seu objetivo era mostrar a verdadeira grandeza das perdas sociais,
sem filigranas. E, analisando apenas cinco itens dessas
perdas, cheguei ao prejuízo anual de R$ 21,8 bilhões por
ano. Uma catástrofe!
Meus velhos companheiros de transporte público silenciaram, porque não acreditaram no número, mas julgaram
dever respeitar a opinião de quem já acumulava, àquela
época, 43 anos de exercício profissional, sempre ligados
às lides do transporte.
Foi preciso, para que os números começassem a ser
levados a sério, que um ano depois, o Secretário do
Planejamento do Estado, prof. André Franco Montoro
Filho, declinasse na Assembléia Legislativa a sua avaliação
do mesmo fenômeno: 15 bilhões de reais por ano! Pouco
tempo depois, o engº Willian de Aquino, professor de
engenharia de transportes no Rio de Janeiro, revelou em
seminário da ANTP que o Banco Mundial tinha avaliado
aquelas perdas, só para a capital, em 5 bilhões de dólares
(que equivaliam, à época, a 12,5 bilhões de reais).
As nossas diferenças, que não são relevantes nessa
dimensão, resultam de metodologias diferentes. Eu, por
exemplo, insisto em que a maior perda é de produtividade,
de toda a população que se desloca a pé, por transporte
público ou por automóvel, em razão da crise de circulação,
que leva as pessoas ao desespero e a se matarem no trânsito.
Não é possível que o trabalhador que acorda de madruFUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
7
gada e leva de duas e três horas para chegar ao trabalho
– e gasta outro tanto para voltar – seja produtivo. Como
também não pode ser eficiente, em seu trabalho, o automobilista que despende horas no trânsito e perde sistematicamente os seus horários de trabalho, de encontros e de reuniões.
Nos meus cálculos, esse fenômeno responde, sozinho, por
metade das perdas.
Eu não nasci com essa preocupação: adquiri-a quando,
recém-formado, trabalhei na CMTC, época em que a Comissão
Anápio Gomes, que incorporara, se não me falha a memória, economistas do porte de Paulo Assiz Ribeiro e Dias Leite,
demonstrou que as perdas sociais, oriundas dos problemas
de transporte, eram maiores do que o orçamento anual da
(Fusão - Telma Cavalieri Victorio/ Foto original: Folha Imagem)
cidade. Hoje, 47 anos depois, tudo se repete, um pouco pior.
Mas nesse meio tempo implantamos metrô e corredores
de ônibus e introduzimos os trólebus, alargamos avenidas e
construímos túneis (ah, os tão falados túneis), fizemos comboios ordenados, introduzimos o rodízio, expulsamos os
Em 1948, primeiro ano de funcionamento da CMTC –
Companhia Municipal de Transportes Coletivos, quando
a população do município era de 2.014 mil habitantes,
esses mesmos dados conformam o seguinte quadro:
bondes, fizemos papa-filas e fura-filas, aceitamos peruas,
microônibus e toda a sorte de transportes clandestinos,
subsidiamos os ônibus, os trens e o metrô, reunimos
numa só empresa os trens de subúrbio federais e estaduais,
construímos terminais nos quatro cantos da cidade, multiplicamos o número de empresas públicas dedicadas ao
transporte coletivo e fizemos vultosos investimentos. Por
BONDES
ÔNIBUS
Pass. Transportados x 106
384
320
Nº de Veículos
438
682
Extensão das linhas (km)*
706
1186
44.022
59.517
Km percorridos x 1000 (ano)
* Refere-se à extensão dos itinerários.
que, então, esta triste sina dos cidadãos da metrópole que
Essas referências estatísticas mostram a importância que
não conseguem trabalhar nem viver com tranqüilidade,
teve para o transporte público o sistema de bondes, erra-
que matam outros ou são atropelados, que são assaltados
dicado em 1968. A extensão de suas linhas em 1948 e o
em cada semáforo? Falhou a tecnologia?
número de passageiros transportados, que ainda foram
superados posteriormente, bem o atestam.
UM RÁPIDO HISTÓRICO DO TRANSPORTE COLETIVO
O transporte público motorizado começou a operar no
Os sistemas tipicamente ferroviários (com exceção da linha
início do século com os bondes elétricos da Light. Assim
da Cantareira, também eliminada), após passar por longo
foi até 1925, quando surgiram os primeiros ônibus.
período de decadência, foram reorganizados a partir de
As estatísticas disponíveis (Comissão de Estudos de Trans-
29/03/96 sob o comando da CPTM, que já logrou elevar
portes Coletivos-PMSP-1941) mostram o seguinte quadro
de aproximadamente 252 milhões de passageiros trans-
evolutivo:
portados por ano (primeiro ano de operação da nova
Passageiros Anuais (x 106)
POPULAÇÃO
(X 1000)
Serviços Urbanos
BONDES
8
ÔNIBUS
Serviços Suburbanos
Sto Amaro (1)
Cantareira (2)
SPR(3)
EFS(4)
EFCB(5)
1915
473
50,5
-
*
*
*
*
*
1925
707
147,6
*
*
*
*
*
*
1933
983
233,4
44,5
2,6
2,1
6,3
*
*
1938
1.208
283,5
131,1
4,6
3,8
9,4
0,9
7,6
1940
1.311
328,8
177,4
5,2
3,7
*
1,5
5,9
MAR/ABR/MAI' 2005
* Dados não disponíveis
(1) Linhas da Light (bondes)
(2) Trem da Cantareira
(3) São Paulo Railway
(4) Estrada de Ferro Sorocabana
(5) Estrada de Ferro Central do Brasil
ANO
companhia), para 354 milhões (2003). São 270 quilômetros
1925 (como também dos automóveis). Dotados de maior
de linhas na Região Metropolitana de São Paulo, destina-
flexibilidade, os ônibus logo aprenderam a ultrapassar os
das a transportar 900 milhões de passageiros por ano,
bondes para pegar os passageiros nos pontos, não raro
dentro de um horizonte de oito anos, se os atuais planos
promovendo acidentes. Por volta de 1936, a Prefeitura já
se desenvolverem.
procurava pôr ordem no sistema de ônibus, o que come-
A história dos bondes em São Paulo não é apenas a do
çou por um regulamento que cancelava o registro de “em-
transporte. Mas um exemplo de capacidade empreende-
presas” que não possuíssem pelo menos quatro veículos.
dora que tem faltado aos responsáveis pelos transportes
Mas as dificuldades de conciliar os vários modos de trans-
de hoje. No fim do século XIX, a Light obteve uma conces-
porte coletivo acabaram por levar a Prefeitura à adoção
são para produzir eletricidade. No passo seguinte, obteve
de um sistema público monopolista dos transportes,
concessão para implantar um sistema de bondes elétricos,
segundo o modelo vigente à época, criando a CMTC.
para consumir parte significativa da eletricidade que pro-
Uma das razões fortes residiu no fato de ter a Cia. Light,
duziria. É o que modernamente chamaríamos de “projeto
em 1941, desistido de continuar operando os bondes.
associado”, segundo a nomenclatura adotada pela lei federal das concessões (nº 8987, de 13/02//95).
Um período de progresso se seguiu à fundação da
CMTC: os ônibus foram substituídos por frotas novas e
Mas, ao perceber o quanto a expansão dos serviços de
modernas; o parque dos bondes foi acrescido de 50
bondes promovia a valorização dos imóveis onde se
unidades, muito mais modernas; implantaram-se as primei-
instalavam, o grupo Light dedicou-se também ao negócio
ras linhas de trólebus, muito bem recebidas pela popu-
de terrenos, apropriando parte daquela valorização. Um
lação. Em 1956 decidiu-se pela implantação de um metrô
projeto associado ao projeto associado...
do tipo monotrilho Alweg, gerando um grande conflito de
Com isso, não lhe faltaram recursos para chegar a ope-
opiniões técnicas, que acabou por anular a licitação. Em
rar 570 carros em 217 quilômetros de trilhos implantados,
1958, a Prefeitura voltou a propor a implantação de um
transportando 329 milhões de passageiros em 1940, ano-
metrô, de características convencionais, mas não a viabi-
base do grande estudo de transportes empreendido pela
lizou, embora tenha feito licitação pública. Essa tentativa
Prefeitura. Em 1948, primeiro ano de funcionamento da
de implantar metrô em São Paulo já fora feita pela Light,
CMTC, o número de passageiros transportados foi ainda
em 1925, sem lograr aprovação. E planos não faltaram,
mais significativo, como se viu. Mas um dado importante
sendo de destacar, além dos já referidos, o do prefeito
a acrescentar é que durante 40 anos a Light operou os seus
Prestes Maia, em sua primeira gestão, e do engº Mário
bondes com a mesma tarifa, em parte porque viu crescer
Lopes Leão, em 1945.
o número de passageiros transportados, a cada quilômetro
percorrido, de 3,6 em 1915, para 7,9 em 1940; em parte
porque usufruiu dos projetos associados.
Apesar de tudo isso, os bondes foram intempestivamente erradicados em 1968, sob a euforia das virtudes do
transporte individual (“o bonde atrapalha o trânsito”, diziam
os fabricantes de ônibus e de automóveis, apoiados
“coincidentemente” pelos distribuidores de combustível,
fabricantes de asfalto, construtores de avenidas), bem como
do entusiasmo gerado pelo lançamento da pedra fundamental do metrô. Era a modernidade de estilo norteamericano (os bondes existem ainda hoje na Europa,
ganhando fisionomia nova) que desabava no Brasil e, em
nome dela, até os corredores privativos de bondes se transformaram em ruas, avenidas e pátios de estacionamento.
Ao longo do desenvolvimento do sistema de bondes,
em São Paulo, deu-se a chegada dos ônibus, a partir de
Passageiros fazem fila para embarcar em lotação próximo ao Terminal
São Mateus, na zona leste de São Paulo (SP), durante o segundo dia
a greve geral de ônibus na cidade.
(São Paulo, SP, 04.02.2003. Foto de Ormuzd Alves/Folha Imagem)
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
9
10
MAR/ABR/MAI' 2005
(São Paulo - SP, 14.10.2004. Foto de João Wainer/Folha Imagem)
Ônibus enfileirados em ponto do corredor Passa Rápido da avenida Rebouças, perto da avenida Paulista, em São Paulo
Mas a partir de 1958, aproximadamente, a CMTC
280 quilômetros de rede, com 830 trólebus modernos e
começou a perder as suas linhas de ônibus em favor das
de dois eixos (de 12 metros) e outros 480 articulados (18
empresas privadas, que “negociavam” subconcessões, ao
metros). Parecia, enfim, que se iniciava uma nova fase do
mesmo tempo em que a empresa entrava em declínio
transporte de superfície. Entretanto, adquiridos os
acentuado. Assim, em 1968, quando a Prefeitura deu início
primeiros 290 veículos pelo prefeito Setúbal, o plano foi
ao metrô, tirou-o da exclusividade da CMTC, criando uma
descontinuado em gestões posteriores até chegar à situ-
nova empresa, a Companhia do Metropolitano – Metrô.
ação atual, em que várias linhas de trólebus estão sendo
desativadas, embora de implantação recente e dotadas de
No período de altos e baixos da CMTC que se seguiu,
veículos novos, cujo destino agora é a sucata.
no início da década de 1960, foram feitas “experiências”
novas (por volta de 1957/1960) com a implantação de
“papa-filas” (carretas encarroçadas com jeito de ônibus e
tracionadas por cavalos mecânicos), como também de microônibus. Felizmente para a cidade, isso durou pouco; foi
dinheiro posto fora. Mas também houve um esforço muito
construtivo, por volta de 1962, empreendido na segunda
gestão Prestes Maia pelo superintendente da CMTC, engº
Cláudio Jacoponi, no sentido de utilizar a oficina de
reparo de carrocerias para reformar e mesmo montar
novos trólebus. Os equipamentos mais duráveis –
motores e comandos – existentes nas oficinas receberam
chassis novos, nacionais, e carrocerias de duralumínio,
montadas na CMTC. Isso permitiu recompor a frota de
trólebus (pois importar novos era muito difícil àquela
época) e mantê-la viva por mais três ou quatro décadas!
Quando
criada
a
Secretaria
de
Negócios
Metropolitanos, na gestão Paulo Egydio Martins, planejou-se uma nova estrutura de transportes, a ser subordinada àquela Secretaria. Ela teria sob o seu comando a
EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos,
que seria holding do Metrô, de uma futura empresa que
reuniria os trens de subúrbio da Fepasa e da RFFSA e de
uma nova CMTC – que coordenaria os ônibus de São
Paulo e os da RMSP. A EMTU foi criada, o Metrô passou
para o Estado, a CPTM foi instituída muitos anos depois,
mas a CMTC permaneceu municipal. E o plano de coordenação dos transportes em nível metropolitano, indispensável para ordenar a balbúrdia que aí está, foi por
água abaixo. A própria EMTU foi desativada no governo
seguinte e recriada mais tarde com outra finalidade.
Em 1995 a CMTC foi extinta e suas frotas, inclusive as
Ao ser inaugurada a primeira linha do metrô, entretan-
de trólebus, confiadas a empresas privadas. Nasceu a
to, a CMTC estava vivendo uma nova fase de recuperação
SPTRANS para coordenar o transporte público municipal,
na administração do prefeito Olavo Setúbal e sob o
que se destacou por duas iniciativas: conseguiu renovar
comando do engº Olavo Guimarães Cupertino. A
Prefeitura não só adquiriu 1.600 ônibus novos, renovando toda a frota, como desenvolveu o primeiro plano metropolitano de transportes – o Sistran – em conjunto com
a recém-criada Secretaria de Negócios Metropolitanos,
em boa hora confiada ao arquiteto Roberto Cerqueira
Cézar. O plano Sistran, conduzido pelo engº Mário
Laranjeira de Mendonça, não só admitiu uma visão metropolitana, como deu prioridade ao transporte público,
desenvolvendo um amplo plano de corredores exclusivos
operados por trólebus, veículos que consomem menos
energia, não poluem, são mais confortáveis, não fazem
ruído excessivo, não produzem calor, têm melhor desempenho e são mais duráveis, características estas essenciais
para a boa qualidade da operação em corredores.
Para isso, foi totalmente atualizada a tecnologia dos
trólebus, voltada para uma fabricação inteiramente
nacional. Dava-se, assim, a partida em um programa de
Estação Barra Funda do Metrô, cujo sistema de arrecadação será
concedido à iniciativa privada para permitir a criação do Metropass,
bilhete único do Estado.
(São Paulo, SP, 29.10.2004, Foto: Marcelo Min/Folha Imagem)
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
11
boa parte da frota de trólebus e desenvolveu o projeto do
público assumiu as suas rédeas, com a criação da CMTC.
VLP – Veículo Leve sobre Pneumáticos, também conheci-
Mas a decadência real do transporte público não está repre-
do por fura-fila. É um projeto especial, bem concebido,
sentada apenas pelo quadro anterior: tão grave quanto é
utilizando tecnologia e fabricação inteiramente nacionais,
a constatação do aumento continuado dos deslocamentos
mas que parou no meio de sua implantação, já há seis anos.
a pé, que atingiu 36,7% do total, em 2002, configurando-
Sua função era a de resolver problemas de transporte
se na RMSP a seguinte distribuição modal:
onde se demandava capacidade acima da dos ônibus, não
justificando, entretanto, a implantação de metrô, de custo
muito maior.
Ao longo de toda essa história, houve outras iniciativas
especiais. Uma delas, do fim da década de 1970, foi a
experiência com os “comboios ordenados” de ônibus,
que aumentaram muito a oferta das próprias linhas convencionais de ônibus. Outra foi o desenvolvimento de
ônibus mais modernos, eficientes e confortáveis, chamados
de Padron, mas que só conseguem operar nas boas
Deslocamentos por transporte coletivo
29,8%
Deslocamentos por transporte individual
33,5%
Deslocamentos a pé
36,7%
A conseqüência disso é aquele terrível ônus suportado
pela sociedade da RMSP. Mas a ele deve-se acrescentar o
custo, a longo prazo, de se consumir energia em demasia,
como mostra o quadro seguinte, de situação medida em
1988, relativa ao consumo no deslocamento de cada passageiro em São Paulo:
avenidas da cidade. Nas ruas dotadas de valetas e na peri-
Metrô
0,52 kWh por viagem
feria, não têm como circular adequadamente.
CPTM
0,96 kWh por viagem
Trólebus
1,20 kWh por viagem
de carros, inicialmente por razões ambientais e depois
Ônibus
0,96 kWh por viagem
para aliviar os picos de trânsito. Em sentido inverso,
Automóvel
Iniciativa de peso, também, foi a de implantar o rodízio
13,13 kWh por viagem
criou-se a tarifa horo-sazonal de eletricidade, que atinge
o transporte eletrificado (metrô, trens, trólebus) exata-
Com a crescente carência de energia que o mundo
mente na hora dos picos de demanda, onerando sobre-
enfrenta, em particular daquela oriunda de fontes não
maneira o transporte mais eficiente e não poluidor. No
renováveis, é uma insensatez não olhar para esse aspecto,
tempo em que as autoridades não eram meramente mone-
que já revela a seguinte relação de consumo na Região
taristas, a tarifa para tração elétrica era um quarto do que
Metropolitana:
é hoje (com correção monetária e tudo).
Energia para transporte = 165% da energia elétrica para
CONCLUSÃO
todos os fins
Rápida de contar, mas longa de experiência, é a história
Perdas de energia nos transportes = 107% da energia
do transporte coletivo de São Paulo. Alguns dados muito
positivos resultam dela: afinal, bem ou mal, sobrevive
uma parte da rede de trólebus; o Metrô tem hoje (2003)
57,6 quilômetros de linhas, transportando 506.617.000
passageiros por ano; a CPTM reorganizou o sistema ferroviário de subúrbios e transporta 354 milhões de passageiros por ano (2003); alguns ônibus modernizaram-se;
Transporte Público
Transporte Privado
1948
384
320
2002
438
682
elétrica para todos os fins
Desse quadro se deduz, sabendo o baixo rendimento
energético dos motores de combustão, que a energia perdida sob forma de calor, na RMSP (é a mesma coisa,
aproximadamente, no Estado e no Brasil), supera toda a
eletricidade consumida para todos os fins. E, ao que parece, o crescente calor atmosférico é a mola propulsora dos
maiores desastres denominados de “naturais”.
Visto esse panorama atual e analisados os cem anos de
transporte urbano em São Paulo, visivelmente o nosso
problema não foi de tecnologia. O Brasil produz e exporta
alguns corredores de ônibus foram implantados.
trólebus, ônibus rodoviários e metrôs de última geração,
100% nacionais. Por seu turno, a RMSP desenvolveu um
12
Porém, a distribuição modal dos transportes urbanos
projeto sui generis de transporte de média capacidade –
assim mudou, assustadoramente, desde que o poder
o VLP; implantou um excepcional corredor de trólebus
MAR/ABR/MAI' 2005
Estação Anhangabaú do metrô de São Paulo. (São Paulo - SP. 03.01.2003. Foto de Marlene Bergamo/Folha Imagem)
intermunicipais ligando São Paulo a Santo André, São
Em 1934, a Constituição Federal adotou o princípio da
Bernardo e Diadema; viu aprovado pelos órgãos ambientais
cobrança de contribuição de melhoria, para compensar o
da ONU o plano de frota experimental de ônibus a
Estado de seus investimentos que causam valorizações
hidrogênio, da EMTU. E ainda se pode dizer que o País
em propriedades próximas; a lei brasileira prevê ainda a
até desenvolveu uma espetacular indústria de sandálias
implantação de projetos associados e vários outros
havaianas, para tão grande número de deslocamentos a pé...
mecanismos de financiamento das obras e serviços públi-
Na verdade, tem faltado continuidade aos planos, que
sofrem rupturas a cada modismo novo. Falta a integração
metropolitana. Mas dirão alguns que “falta dinheiro”.
cos. Mas nós não recorremos a nada disso.
Quem paga por isso é a população.
Somos um país rico ou só perdulário?
É verdade. Enquanto a população perde dezenas de
bilhões todos os anos, não se conseguem equacionar os
35 bilhões de reais que o plano PITU 2020 indicou como
necessários ao transporte público metropolitano em 20 anos.
Em compensação, a cada obra ou serviço novo, o poder
público faz investimentos de grande porte, que valorizam
propriedades, enriquecendo uns poucos com o sofrido
dinheiro de muitos. Os “projetos associados” não beneficiam o empreendimento público, como ocorre em Tóquio,
onde 73% da receita do metrô provém de negócios imo-
ADRIANO M. BRANCO
[email protected]
Engenheiro – Administrador
Ex-professor nas Escolas
de Engenharia Mackenzie e Mauá
Ex-Diretor da CMTC
Ex-Secretário de Estado dos
Transportes e da Habitação
biliários advindos da implantação dos transportes.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
13
PARQUES TECNOLÓGICOS
UNIVERSITÁRIOS:
Por ROBERTO SBRAGIA
UMA NOVA DIMENSÃO DE SEU
PAPEL NA ERA DA INOVAÇÃO
Há mais de 200 anos e até pouco recentemente se considerava que a mãode-obra e o capital eram os únicos fatores diretamente ligados ao crescimento
econômico. O conhecimento, a educação e o capital intelectual eram considerados fatores externos, de relativa incidência na economia. Este conceito foi
sendo mudado nos últimos tempos, tanto que atualmente o crescimento
econômico e a produtividade dos países desenvolvidos se baseiam cada vez
mais na informação, no conhecimento, na tecnologia e na inovação.
14
Por convicção, estamos vivendo hoje a Era da Inovação,
manidade, a primeira razão de ser dos Parques Tecnoló-
sinônimo de desenvolvimento tecnológico, de criação de
gicos, especialmente daqueles que giram em torno da univer-
empregos mais qualificados e de novas oportunidades de
sidade (GALIÁN, 2004), é transferir à atividade industrial os
negócio com base no conhecimento. Entre tais oportunida-
resultados da investigação acadêmica. Para ser eficazes nesse
des, surge no âmbito universitário a possiblidade de criação
objetivo, é necessário que os Parques considerem um obje-
de EBTs - Empresas Base Tecnológicas, que podem contar com
tivo secundário: atrair empresas às quais se possa transferir
os benefícios dos parques tecnológicos enquanto empreen-
tais tecnologias e assegurar que essas tecnologias sejam
dimentos em processo de germinação.
transferidas aos consumidores finais, na forma de produtos
Considerando-se que a tecnologia pode ser definida em sen-
e serviços. Isso pode ser entendido como um processo de
tido amplo como um conjunto de conhecimentos científi-
transferência de tecnologia, cujo êxito final é medido pela
cos cuja utilização adequada produz benefícios para a hu-
sobrevivência das EBTs no mercado.
MAR/ABR/MAI' 2005
De fato, uma pesquisa recente (SBRAGIA e OZONI, 2004)
buscou identificar junto a empresas incubadas de base tecnológica oriundas da universidade, e que já operam no mercado, alguns fatores – de origem interna e externa – que
influenciaram o seu aparente êxito até o momento. Com
relação aos aspectos de origem externa, podem-se citar:
Fábio Carvalho, que estuda processamento de dados na Fatec
e participa de uma empresa júnior.
(São Paulo - SP, 05.07.2002. Foto de Cristiana Castello Branco/Folha Imagem)
• a universidade enquanto um ambiente facilitador,
assim como seu prestígio e visibilidade na intermediação
Assim, enquanto Parques, devemos ser capazes de au-
de parcerias com outras instituições;
mentar a massa crítica de empresas residentes, diversificar
• a infra-estrutura oferecida pela incubadora às incubadas;
e incrementar os ingressos da universidade e oferecer outras
• não obstante as barreiras ainda existentes,
saídas a docentes investigadores, graduados e estudantes,
a facilidade para se usar os laboratórios da universidade;
mediante a incubação e geração centrífuga (spin-offs) de em-
• o apoio da incubadora universitária para
presas. Assim, o atual desafio para os Parques Tecnológicos,
a busca de financiamentos para projetos de inovação;
na nova era da Economia e do Conhecimento, é se cons-
• a possibilidade de networking
tituírem em núcleos germinais de regiões do conhecimento,
com as outras incubadas, vital para o aprendizado.
entendendo-se por isto unidades territoriais com abundante capital humano e social, que contêm estrutura e pessoal
ativamente envolvido com o desenvolvimento econômico
Assim, os Parques Tecnológicos Universitários têm um
e social por meio da ciência, da tecnologia e da inovação, e
papel importante para o êxito dessas empresas, que pode
cuja interação produz uma alta densidade de empresas tec-
ser traduzido em ações dos seguinte tipos:
nológicas, constituídas por colaboradores com grande conhecimento e empreendedores com um alto nível de capacitação.
A função, portanto, primária dos Parques Tecnológicos –
ser a ponte entre a universidade e a comunidade, passando
pelas empresas – deve ser retomada como um novo desafio.
A razão se sustenta num silogismo muito simples: o conhecimento é hoje o maior ativo das empresas e das sociedades. As universidades seguem sendo o principal criador e
acumulador de conhecimentos, portanto, a criação de empresas mediante mecanismos de geração centrífuga (spin-offs)
é particularmente interessante como um meio eficaz de
estimular esses processos, já que são especialmente aptos para
vincular a universidade e a sociedade, contribuindo para a
• Auxiliar no planejamento estratégico dessas empresas
e na definição clara do mercado-alvo, especialmente
em nível internacional.
• Auxiliar as incubadas na obtenção de recursos
financeiros junto às agências de fomento, especialmente
para as empresas start up.
• Auxiliar na formação gerencial dos incubados,
tendo em vista que o desequilíbrio técnico-gerencial
tem sido gerador de dificuldades futuras para
as incubadas.
• Criar mecanismos para constituir-se numa
fonte permanente de networking para as incubadas.
mudança da mentalidade que ainda opera, de maneira geral,
dentro do mundo acadêmico. Um spin-off acadêmico não
é senão uma das maneiras pelas quais o conhecimento da
universidade se transfere para a economia e a sociedade, mediante a intermediação dos Parques Tecnológicos Universitários.
BIBLIOGRAFIA
GALIÁN, C. E. Los parques tecnologicos em la Economia del Conocimiento. Revista Parque del Conocimiento. Ano I, Nº 1,Argentina, 2004.
SBRAGIA, R. & PEREIRA, E.C.O. Success determinants of Universitytechnology based firms: a study of multiple cases from CIETEC/USP.
10th International Conference on Management of Technology.
Washington D.C., May, 2004.
ROBERTO SBRAGIA
[email protected]
Professor Titular da FEA/USP e
Coordenador Científico do PGT/USP
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
15
O PROJETO E A GESTÃO
Por LUIZ ROBERTO VANNUCCI
Núcleo de operações da BCP,
que controla a rede da operadora em São Paulo.
(São Paulo, SP, 13.11.2001. Foto de Greg Salibian/Folha Imagem)
Em época de avanços tecnológicos, de mercados competitivos, de reavaliações
nas margens de lucro, de exigências cada vez maiores em qualidade, é
necessário desenvolverem-se novos procedimentos e metodologias, mesmo
que sejam de assuntos conhecidos ou tidos como resolvidos, para propiciar
crescimento ou mesmo a sobrevivência das empresas.
Com relação ao projeto e sua gestão, é preciso conhecer os conceitos,
dominar os fundamentos e traduzir as teorias para implantá-las na prática,
suprindo as necessidades da empresa, conforme seu porte.
16
MAR/ABR/MAI' 2005
CONCEITOS DE PROJETO
Primeiramente é preciso distinguir o ambiente da empresa
como um todo do ambiente de projeto.
A empresa possui ações contínuas e ações exclusivas
aos projetos, que necessitam de agenda própria, aliadas
aos recursos, receitas e despesas inerentes ao seu ambiente.
Cada projeto interage com todos os níveis da empresa,
ou partes dela, dependendo de sua complexidade, e
muitas vezes ultrapassam os limites internos da empresa
recorrendo a parcerias, fornecedores e clientes para atingir
suas metas.
Assim, entende-se um projeto como sendo um conjunto
de tarefas organizadas com a finalidade de se atingir um
• Concepção: formalização das idéias com base em um
determinado objetivo a ser alcançado.
• Viabilidade: estudo de vários aspectos, como econômicos,
mercadológicos, técnicos e outros, para a aprovação ou não
do prosseguimento do projeto.
• Planejamento: elaboração de um plano com detalhes
das ações necessárias para a consecução das idéias.
• Execução: efetivação das ações buscando atingir o objetivo
final planejado, utilizando-se de todos os recursos disponíveis.
• Controle: comparação periódica entre o que se está executando com o planejado e sua correção de rumo.
• Conclusão: apreciação final das ações e últimos ajustes.
objetivo definido.
As ações dos projetos estão inseridas no contexto da
empresa, mas nem todas as ações da empresa são voltadas
aos projetos.
EXEMPLOS DE PROJETOS
Um projeto pode envolver uma quantidade pequena
ou um grande número de pessoas. Pode consumir algumas
horas, alguns dias ou vários anos. Pode necessitar de
CARACTERÍSTICAS DOS PROJETOS
poucas ou de várias técnicas e ferramentas. Tudo depende
As ações contínuas e as de projetos de uma empresa
de seu porte e da estratégia e criatividade dos gestores.
têm muitas características em comum. Especificamente
Alguns exemplos de projetos:
aos projetos destacam-se:
• Construção de uma usina hidroelétrica.
• Construção de um edifício.
• Possuir um objetivo a ser alcançado.
• Ter começo, meio e fim, portanto uma duração.
• Gerar um produto ou serviço final único.
• Permitir análises e medições ao longo do tempo.
• Proporcionar meios de avaliações e correções de rumo.
• Lançamento de um produto novo.
• Desenvolvimento de um software.
• Reestruturação de um setor de uma empresa.
• Edição de um livro.
• Realização de uma viagem.
• Realização de uma compra no supermercado.
EMPRESA
• Gestão do projeto
Ações contínuas
Projeto 1
Projeto 2
GESTÃO DO PROJETO
Para o êxito do projeto, é necessário que se disponha de
Projeto n
mecanismos específicos para a condução das ações e de seus
controles. O emprego de técnicas, ferramentas, habilidades
e, sobretudo, de conhecimentos, é de fundamental importância para se atingirem os objetivos almejados.
CICLOS DE UM PROJETO
ALGUMAS TÉCNICAS E FERRAMENTAS ÚTEIS À GESTÃO
Os ciclos de um projeto dependem basicamente de sua
Para a gestão do projeto com relação ao escopo, prazos,
natureza. Qualquer que seja o seu porte, deverá passar
custos, recursos humanos, comunicações, qualidade e ris-
pela parte criativa de concepção, a operacional e a con-
cos, é necessário dispor de técnicas e ferramentas para asse-
clusiva. Com base nos princípios fundamentais que
gurar que o projeto seja implementado conforme o planejado.
devem ser dominados numa administração, segundo
A seguir expõem-se algumas técnicas fundamentais à
Fayol e vários autores que estratificam as fases de um
gestão, mais voltadas ao planejamento e controle com
projeto, de forma genérica os ciclos caracterizam-se por:
relação aos prazos e custos.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
17
REDE DE PLANEJAMENTO
Tradicionalmente, após a definição de seu escopo, os
projetos sempre tiveram como suporte o tripé tempo,
custo e qualidade. Evidentemente, essas áreas de conhecimento e atuação possuíam suas abrangências em outras
áreas de suporte, que mesmo sem uma formalidade,
apresentavam uma visão sistêmica.
O PMBOK Guide (Guide to the Project Management
Body of Knowledge), o Guia de Conhecimentos Gerais
Fonte: Hirschfeld, 1994.
sobre Gerenciamento de Projetos, preparado pelo Project
Management Institute (PMI), identifica nove áreas de conheci-
CRONOGRAMA FISCO-FINANCEIRO
mento, todas com detalhamentos específicos, assim descritas:
• Integração: trata de elaboração, execução
e controle do plano do projeto.
• Escopo: trata de iniciação, planejamento,
definição, verificação e alteração do escopo.
• Tempo: trata de definição, seqüenciamento e estimativa de duração das atividades e
elaboração e controle de cronogramas.
ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA
• Custos: trata de planejamento, estimativa,
orçamento e controle de custos.
• Qualidade: trata de planejamento, garantia
e controle de qualidade.
• Recursos Humanos: trata de planejamento
organizacional e de formação e desenvolvimento
da equipe.
• Comunicações: trata de planejamento das
comunicações, distribuição de informações,
relatório de desempenho e encerramento administrativo.
• Riscos: trata de planejamento do gerencia-
GRÁFICO DE VALORES ACUMULADOS
mento, identificação, análise qualitativa, análise
quantitativa, planejamento de respostas e
Fonte: Vannucci, 2003.
monitoramento e controle de riscos.
18
MAR/ABR/MAI' 2005
• Aquisições: trata de planejamento das
aquisições, planejamento das solicitações,
seleção de fontes, administração e encerramento do contrato.
ALGUNS QUESITOS PARA A GESTÃO DE UM PROJETO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BEM-SUCEDIDO
As ações organizadas em torno de um projeto têm de
Para o sucesso de um projeto, vários quesitos têm de
estar voltadas a uma estratégia que faculte o máximo de
ser observados, a começar pela escolha do gestor, que,
envolvimento interpessoal, visando-se compartilhar conhe-
segundo Dobson/Vargas, tradicionalmente tem muito
cimentos para se atingirem as mesmas metas. Conhecer e
mais responsabilidade do que autoridade.
aplicar os princípios e as técnicas da gestão de projetos são
Alguns quesitos de destaque:
habilidades importantes para todas as pessoas que se envolvem com projetos – gerentes ou não (Maximiniano, 2002).
• Entendimento perfeito de que um projeto é um conjunto de
ações específicas para o atendimento de um objetivo único.
Com o avanço tecnológico dos últimos anos na linha de
computadores pessoais e no desenvolvimento de softwares,
as empresas têm, cada vez mais, ferramentas adequadas
• Combinações de pessoas com conhecimento para a
atuação em áreas específicas.
• Conhecimento dos mais diversos recursos técnicos e
operacionais para a consecução das ações.
• Comprometimento das pessoas envolvidas, a começar por
aquelas de funções mais altas e que detêm o poder das
decisões.
à gestão dos mais diversos projetos. Racionalizaram-se a
quantidade de trabalho, a documentação, o tempo e o
custo e adquiriu-se agilidade nas análises indispensáveis
dos projetos.
A aplicação da gestão em projetos requer, no entanto,
uma sincronização entre o conhecimento dos gestores e
a informatização. Segundo Kerzner (2002), a utilização
vantajosa de software de gestão de projetos de qualquer
• Comprometimento com relação ao comportamento pessoal e principalmente com relação ao espírito de equipe.
• Manutenção de uma comunicação efetiva e permanente entre cada elemento envolvido no projeto.
• Trabalho visando o aprimoramento contínuo nas diversas
fases do projeto.
tipo requer que os gerentes e equipes de projetos primeiramente entendam os princípios da gestão de projetos.
Implementar os conceitos e fundamentos da gestão de
projetos independe do porte do projeto e da empresa. A
execução bem-sucedida de um projeto exige planejamento,
coordenação e controle dentro de uma cultura organizacional própria, porém, buscando atingir a excelência em gestão.
LUIZ ROBERTO VANNUCCI
[email protected]
Professor do Departamento de Edíficios
da FATEC-SP e Diretor Técnico da FAT Fundação de Apoio à Tecnologia.
Autor do livro Cálculos Financeiros
Aplicados e Avaliação Econômica de
Projetos de Investimento.
BIBLIOGRAFIA
BROWN, M.G.; HITCHCOCK, D.E.;WILLARD, M.L. Porque o TQM falha e
como evitar isso. São Paulo: Nobel, 1996.
CLELAND, David I. Project management: Strategic design and implementation. McGraw-Hill, 1999.
DINSMORE, Paul C. Handbook of project management. New York:
Amacon, 1993.
EHRLICH, Pierre Jacques. Engenharia econômica. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 1995.
HIRSCHFELD, Henrique. Engenharia econômica e análise de custo. 5.
ed. São Paulo:Atlas, 1992.
_____________________. Planejamento com PERT-COM e análise do
desempenho. 7. ed. São Paulo:Atlas, 1982.
KERZNER, Harold. Gestão de projetos. As melhores práticas. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
LEWIS, James. Fundamentals of project management. New York:American
Management Association, 1997.
MAXIMINIANO,Antônio C.A. Administração de projetos. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
UM GUIA do conjunto de conhecimentos do gerenciamento de projetos
(PMBOK Guide). Pennsylvania: Project Management Institute, 2002.
VALERIANO, Dalton L. Gerência em projetos: Pesquisa, desenvolvimento e
engenharia. São Paulo: Makron Books, 1998.
VANNUCCI,Luiz R.Cálculos financeiros aplicados e avaliação econômica
de projetos de investimento. São Paulo:Textonovo, 2003.
VARGAS, Ricardo. Gerenciamento de projetos. 5. ed. São Paulo: Brasport,
2003.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
19
FAT
•
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino, pesquisa
e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas e das
necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta soluções
específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda.
A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e
tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços
nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio
ambiente, entre outras.
• Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação
• Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde,
Meio Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras
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Estudante opera aparelho de realidade virtual em núcleo da USP.
(São Paulo, SP, 14.09.2004. Foto: Fernando Moraes/Folha Imagem. Digital)
A REESTRUTURAÇÃO
DOS CURSOS SUPERIORES DE
TECNOLOGIA
Por FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
Estamos vivendo um momento importante na história da educação nacional. Este
é o oitavo ano de vigência da atual LDB, a Lei Federal nº 9.394/96, de 20/12/96, a Lei
Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e o quarto ano de vigência
de nosso primeiro Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei Federal
nº 10.172/01, de 09/01/01.
Tanto a LDB quanto o PNE estão sendo motivo de grandes
Em relação à educação profissional, a situação não é
debates e objeto de propostas de reestruturação. O momento
menos delicada e menos problemática. E não é de hoje.
é delicado e importante. Ainda no fim de fevereiro deste
A atual LDB reservou um capítulo específico, no título V
ano, pudemos testemunhar, na Câmara dos Deputados,
da Lei, que trata “dos níveis e das modalidades de
os clamores dos educadores por uma atualização do Plano
Educação e Ensino”, que é o capítulo III, para tratar espe-
Nacional de Educação. É preciso rever metas e objetivos
cificamente “da Educação Profissional”. Não é à toa que
e reestruturar um plano de ação que permita torná-lo
esse referido capítulo da LDB foi um dos primeiros dispo-
realidade. No âmbito da LDB, há um intenso debate em
sitivos legais a serem regulamentados pela União, por meio
torno da reestruturação de várias de suas práticas e pro-
do Decreto Federal nº 2.208/97. O referido decreto, de
pósitos, em especial quanto à educação superior, objeto
17/04/97, já foi revogado e substituído pelo Decreto
de um anteprojeto de lei, preparado pelo Executivo e
Federal nº 5.154/04, de 23/07/04.
submetido a uma ampla consulta pública à sociedade
civil educacional até o fim do mês de março de 2005.
22
MAR/ABR/MAI' 2005
A Lei Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, a Lei n. º 9.394/96, de 20/12/96, interpretando
o mandamento constitucional, apresentou uma concepção
possibilidade de iniciar negociações em torno de referen-
moderna e avançada de Educação Profissional, conceben-
ciais e garantias coletivas” . De acordo com o autor, para
do-a como “integrada às diferentes formas de educação,
as organizações sindicais, “a qualificação é a caixa de ferra-
ao trabalho, à ciência e à tecnologia” (Artigo 39), objeti-
mentas que o assalariado tem. A competência diz
vando conduzir o educando “ao permanente desenvolvi-
respeito à maneira de utilizar concretamente essa caixa
mento de aptidões para a vida produtiva” (idem), a ser
de ferramentas, de empregá-la”. Qualificação profissional
“desenvolvida em articulação com o ensino regular ou
e competência profissional não se antagonizam. Elas se com-
por diferentes estratégias de educação continuada, em
plementam. Um profissional qualificado deve ser qualifi-
instituições especializadas ou no ambiente de trabalho”
cado e competente. A competência profissional demonstra,
(Artigo 40).
na prática, que a qualificação profissional não foi concluída
Essa concepção de educação profissional a coloca na
convergência de dois direitos fundamentais do cidadão: o
direito à educação e o direito ao trabalho. Esses dois direitos,
assim considerados, de forma integrada, são consagrados
pela Constituição da República Federativa do Brasil como
“direito à profissionalização” (Artigo 227).
em vão, como uma farsa.
Para Zarifian, “a emergência do modelo de competência
é uma transformação de longo prazo, que inaugura um
novo período histórico.Ela se desenvolve durante um longo
tempo. É ainda, apenas, uma emergência. O desafio global
não é pequeno. Trata-se de substituir os dois grandes
Encarar a educação profissional nessa teia dos direitos
modelos dominantes, que foram (e ainda são) o modelo
fundamentais do cidadão exige das escolas e das instituições
da profissão e o modelo do posto de trabalho”. O modelo
dedicadas à educação profissional um novo compromisso,
da profissão “começou a ser construído nas corporações
que é o da oferta de programas profissionalizantes com-
artesanais urbanas” e uma de suas qualidades é “a institu-
prometidos com resultados de aprendizagem, em termos
cionalização de sua transversalidade em relação aos
de desenvolvimento de competências profissionais.
lugares em que a profissão é exercida (os quais se trans-
Afinal, o cidadão que procura um curso profissionali-
formarão em empresas). Uma pessoa reconhecidamente
zante, seja de formação inicial ou continuada, seja de
pertencente a uma profissão pode valer-se dela onde quer
educação técnica ou tecnológica, isto é, dos níveis mais
que tenha de exercê-la”. Já o modelo de posto de trabalho,
básicos ao nível da pós-graduação, procura, na verdade,
implantado de maneira ostensiva sob a égide do taylorismo,
desenvolver competências profissionais que o conduzam
pode ser considerado, como o fez Marx, “uma ‘arma de
a um exercício profissional competente, seja adquirindo
guerra´ contra o modelo da profissão”. O posto de trabalho,
um novo ou um primeiro emprego ou mesmo alterando
de acordo com o autor, “é, ao mesmo tempo, um lugar e
sua situação de trabalho, ou seja, conseguindo progredir
uma função precisa dentro da organização, um tempo
em sua profissão.
preciso de duração do trabalho, um conjunto de tarefas
Mas o que significa essa tal de competência profissional?
Trata-se de mais um modismo educacional, importado do
mundo do trabalho? Significa a submissão do sistema
educacional às regras do mercado de trabalho, sob controle dos investidores capitalistas? É mais uma forma de
esfoliar o trabalhador, culpando-o pelos seus fracassos
profissionais, decorrentes de sua falta de vontade para se
qualificar, se especializar e se atualizar continuamente? É
mais uma esperteza dos empregadores, migrando da lógica
da qualificação, que é objetiva e que pode receber tratamento coletivo, para a lógica da competência, que se refere a
a serem realizadas e uma imobilização do trabalhador,
sob a pressão do ritmo da produção ou do rendimento
de seu posto, imobilizado na ausência da legitimidade
de sua iniciativa pessoal”. Por isso mesmo, conclui Zarifian,
“sair da lógica do posto de trabalho exprime-se de
maneira simples: fazer com que, de algum modo, o trabalho
seja absorvido pelo indivíduo que o realiza. É isso que
significa a inclinação para um modelo de competência”,
sobre o qual pode ser dito, de forma sucinta, que, “do ponto
de vista da relação com o trabalho, o desafio da competência é a volta do trabalho para o trabalhador”.
uma capacidade puramente individual? É mais uma manobra
Esse modelo de educação profissional centrado no
dos adeptos de individualismo contra o coletivo e o social?
compromisso com o desenvolvimento de competências pro-
Philippe Zarifian anuncia o fim dessa “oposição fictícia
fissionais, buscando a superação dos modelos tradicionais
entre qualificação e competência, que bloqueava qualquer
da profissão e do posto de trabalho, dando um novo
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
23
significado à qualificação e à habilitação profissional, foi o adotado pelo Conselho Nacional de Educação para definir as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a nova Educação
Profissional proposta pela LDB, tanto no que tange à
Educação Profissional Técnica de nível médio quanto em
relação à Educação Profissional Tecnológica.
De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 04/99, que
definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Profissional Técnica de nível médio, “entende-se por competência profissional a capacidade de mobilizar, articular
e colocar em ação valores, habilidades e conhecimentos
necessários para o desempenho eficiente e eficaz de
atividades requeridas pela natureza do trabalho”. Com
pequenas variações, essa mesma noção de competência
profissional já adotada nas Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Profissional Técnica de nível médio é também
a adotada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Tecnológica, graduação, de nível superior.
Assim, de acordo com a Resolução CNE/CP nº 03/02,
“entende-se por competência profissional a capacidade
pessoal de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para
o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas
pela natureza do trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico”.
De acordo com esses conceitos de competência profis-
O aluno Etros Barbosa, no laboratório de informática da Fatec de Mauá (SP).
(Mauá - SP, 17.10.2002 - Foto de Flávio Florido/Folha Imagem)
sional adotados pelo Conselho Nacional de Educação e
24
devidamente explicitados pelo Parecer CNE/CEB nº 16/99,
superior, quando consegue constituir, articular e mobilizar
o conhecimento é entendido como o que muitos denomi-
valores, atitudes, habilidades e conhecimentos para a reso-
nam simplesmente como saber. É a dimensão do saber co-
lução de problemas em seu campo de atuação profissional,
nhecer. A habilidade refere-se ao saber fazer, intimamente
não apenas os problemas rotineiros e planejados, mas tam-
relacionada com prática do trabalho, embora transcendendo
bém, e principalmente, os desafios inusitados e não planejados,
a mera ação motora. É a dimensão do saber fazer. Os valores
o novo e o incerto, o inesperado e o inabitual, liberando, assim,
e as atitudes se expressam no saber ser, na atitude relacio-
o profissional para a criatividade, a iniciativa, o empreen-
nada com o julgamento da pertinência da ação e com a
dedorismo e a ação transformadora.
qualidade do trabalho. Expressa, também, a dimensão do
O desenvolvimento de competências profissionais deve
saber conviver, em termos de ética do comportamento,
proporcionar às pessoas efetivas condições de laborabilida-
convivência participativa e solidária, bem como outros
de, isto é, propiciar ao trabalhador condições efetivas para
atributos humanos, tais como a iniciativa e a criatividade,
que ele possa manter-se em atividade produtiva e geradora
o gosto pelo trabalho bem-feito e acabado, expressões do
de renda, em contextos socioeconômicos e profissionais
saber conviver e do saber ser.
cambiantes e instáveis. Isso requer condições de mobili-
Pode-se, portanto, dizer que uma pessoa tem compe-
dade entre múltiplas atividades produtivas, superando de
tência profissional quando consegue utilizar concretamente
vez a perspectiva de preparação profissional específica
as ferramentas adquiridas em sua qualificação ou em sua
para assumir um determinado posto de trabalho. Até
habilitação profissional, em cursos profissionalizantes ou
porque estes são cada vez mais escassos. Neste particular,
no próprio trabalho, conforme explicita o Artigo 41 da LDB
uma ressalva se faz necessária: embora o desenvolvimen-
ou até mesmo através de sua educação escolar, básica ou
to de competências profissionais facilite essa mobilidade
MAR/ABR/MAI' 2005
no mundo do trabalho, criando condições de labora-
instituições de Educação Profissional preparem profis-
bilidade, aumentando as oportunidades de trabalho, este
sionais que, ao aprender, tenham aprendido a aprender e
desenvolvimento não pode ser apontado como a solução
a gerar autonomamente um conhecimento atualizado,
definitiva para o problema do desemprego, estrutural ou
inovador, criativo e operativo, que incorpore as mais recen-
conjuntural. Nem a educação profissional nem o próprio
tes contribuições científicas e tecnológicas das diferentes
trabalhador podem ser responsabilizados, na perspectiva
áreas do saber, e que saiba articular, mobilizar e colocar
de um raciocínio linear e simplista, pela problemática do
em ação todos os seus saberes (saber conhecer, saber
desemprego, a qual depende, fundamentalmente, do ade-
fazer, saber conviver e saber ser) para atender aos
quado encaminhamento de outras variáveis ligadas ao
reclames da vida profissional de forma eficiente e eficaz
desenvolvimento econômico e social, com a correspon-
e responder os desafios do dia-a-dia de modo original e
dente distribuição de renda.
criativo, neste mundo globalizado, instável e cambiante
Essa vinculação estreita entre educação e trabalho, na
onde vivemos e atuamos como cidadãos e profissionais.
perspectiva da criação de condições para a laborabilidade,
Em síntese, está aí a essência do conjunto de Diretrizes
é uma referência fundamental para se entender o conceito
Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional
de competência profissional consagrado pelo Conselho
de Educação para a Educação Profissional Técnica de nível
Nacional de Educação.
médio (Parecer CNE/CEB nº 16/99 e Resolução CNE/CEB
Esse conceito de competência profissional amplia a
responsabilidade das escolas e instituições de Educação
Profissional, principalmente as dedicadas à Educação
Técnica e Tecnológica, na medida em que se exige a utilização de metodologias de ensino que propiciem o
desenvolvimento da capacidade de resolver novos problemas, tomar decisões com crescentes graus de autonomia intelectual, ter iniciativa e espírito empreendedor, ser
criativo e responsável, em um contexto de respeito às
regras da convivência democrática.
nº 04/99) e para a Educação Profissional Tecnológica
(Parecer CNE/CP nº 29/02 e Resolução CNE/CP nº 03/02),
recentemente atualizadas pelo Parecer CNE/CEB nº 39/04
e Resolução CNE/CEB nº 01/05, em decorrência da
edição do Decreto Federal nº 5.154/04, de 23/07/04.
A própria Resolução CNE/CP nº 03/02, em seu Artigo
15, define que o Conselho Nacional de Educação, no momento oportuno, promoverá “a avaliação das políticas
públicas de implantação dos cursos superiores de tecnologia”. É chegado esse momento, uma vez que o MEC, em
29/12/04, acatando proposta da Setec – Secretaria de Edu-
O exercício profissional competente implica um efetivo
cação Profissional e Tecnológica, encaminhou ao Conse-
preparo para enfrentar situações esperadas e inesperadas,
lho Nacional de Educação, como “subsídios à comple-
previsíveis e imprevisíveis, rotineiras e inusitadas, em
mentação da Resolução CNE/CP nº 03/02”, o documento
condições de responder aos novos desafios profissionais,
propostos diariamente ao cidadão trabalhador, de modo
original e criativo, de forma inovadora, imaginativa,
empreendedora, eficiente no processo e eficaz nos resultados, que demonstre senso de responsabilidade, espírito
crítico, auto-estima compatível, autoconfiança, sociabilidade, firmeza e segurança nas decisões e ações, capacidade
de autogerenciamento com autonomia e disposição empreendedora, honestidade e integridade ética.
Esse conjunto de demandas em relação às escolas e
instituições de Educação Profissional Técnica e Tecnológica pode ser encarado, ao mesmo tempo, como muito
simples e, também, como muito complexo e exigente.
Essas demandas supõem pesquisas, planejamento, utilização
e avaliação de métodos, processos, conteúdos programáticos, arranjos didáticos e modalidades de programação
em função de resultados. Espera-se que essas escolas e
Alunos assistem a aula de teoria da administração na Fatec de Mauá (SP).
(Mauá - SP, 17.10.2002 - Foto de Flávio Florido/Folha Imagem)
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
25
“Proposta de bases conceituais e metodológicas para as
seu próprio Projeto Pedagógico” (Artigo 4º). Quarto, a
Diretrizes Curriculares dos cursos superiores de tecnologia”.
consagração da flexibilização curricular dos cursos técnicos
O referido documento, atualmente em estudo nas duas
de nível médio e dos cursos superiores de graduação em
Câmaras do Conselho Nacional de Educação, relembra
Tecnologia, pela possibilidade de saídas intermediárias,
quatro pontos cruciais em relação ao Decreto Federal nº
expedindo certificados de Qualificação Profissional, técnica ou
5.154/04. Primeiro, que foram abolidos os níveis de
tecnológica, conforme o caso (Artigo 6º), privilegiando uma
Educação Profissional, tais quais propostos pelo Decreto
organização curricular orientada pela identificação de “itinerá-
Federal nº 2.208/97. O novo decreto prevê, em seu Artigo
rios formativos, objetivando o desenvolvimento de aptidões
1º, que a educação profissional “será desenvolvida por
para a vida produtiva e social” (Artigo 3º) e “possibilitando
meio de cursos e programas de formação inicial e conti-
o aproveitamento contínuo e articulado dos estudos”
nuada de trabalhadores; educação profissional de nível
(§1º do Artigo 3º).
médio; e educação profissional tecnológica, de graduação e de pós-graduação”. Segundo, o estabelecimento,
O artigo 5º do Decreto Federal nº 5.154/04, incluindo a
como premissas para a oferta da Educação Profissional,
graduação e a pós-graduação, é enfático: “Os cursos de
da “organização por áreas profissionais, em função da
educação profissional tecnológica de graduação e de pós-
estrutura socioocupacional e tecnológica” (Inciso I do
graduação organizar-se-ão, no que concerne aos objetivos,
Artigo 2º) e “a articulação de esforços das áreas da Educação,
características e duração, de acordo com as Diretrizes
do Trabalho e Emprego, e da Ciência e Tecnologia” (Inciso
Curriculares Nacionais, definidas pelo Conselho Nacional
II do Artigo 2º). Terceiro, que ficam mantidas as Diretrizes
de Educação”.
Curriculares Nacionais, definidas pelo Conselho Nacional
de Educação, para a Educação Profissional técnica de nível
Essas Diretrizes Curriculares Nacionais gerais para todos
médio e para a Educação Profissional tecnológica, de nível
os cursos de graduação em tecnologia, e que agora serão
superior, nas modalidades de graduação e pós-graduação,
complementadas, em função do Decreto Federal nº
quanto aos “objetivos contidos”, bem como “as normas
5.154/04, incluindo graduação e pós-graduação tecnológica,
complementares dos respectivos sistemas de ensino; e as
foram definidas pelo Conselho Nacional de Educação pelo
exigências de cada instituição de ensino, nos termos de
Parecer CNE/CP nº 29/02 e pela Resolução CNE/CP nº 03/02.
O Artigo 2º da Resolução CNE/CP é suficientemente claro ao definir que os cursos de educação profissional tecnológica, como cursos superiores, de graduação, deverão necessariamente:
I. incentivar o desenvolvimento da capacidade empreendedora e da compreensão do processo tecnológico, em suas causas e efeitos;
II. incentivar a produção e a inovação científico-tecnológica, e suas respectivas aplicações no mundo do trabalho;
III. desenvolver competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas, para a gestão de processos e a produção de bens
e serviços;
IV. propiciar a compreensão e a avaliação dos impactos sociais, econômicos e ambientais resultantes da produção, gestão e incorporação de novas tecnologias;
V. promover a capacidade de continuar aprendendo e de acompanhar as mudanças nas condições de trabalho, bem como propiciar
o prosseguimento de estudos em cursos de pós-graduação;
VI. adotar a flexibilidade, a interdisciplinaridade, a contextualização e a atualização permanente dos cursos e seus currículos;
VII. garantir a identidade do perfil profissional de conclusão de curso e da respectiva organização curricular.
Para tanto, são critérios para o planejamento e a organização dos cursos superiores de tecnologia:
I. o atendimento às demandas dos cidadãos, do mercado de trabalho e da sociedade;
II. a conciliação das demandas identificadas com a vocação da instituição de ensino e as suas reais condições de viabilização;
III. a identificação de perfis profissionais próprios para cada curso, em função das demandas e em sintonia com as políticas de
promoção do desenvolvimento sustentável do País” (Artigo 3º).
26
MAR/ABR/MAI' 2005
Nessa perspectiva, “a organização dos cursos superiores
de tecnologia deverá contemplar o desenvolvimento de
• Natureza – “certas áreas são, por natureza, essencial-
competências profissionais e será formulada em conso-
mente científicas e outras essencialmente tecnológicas”.
nância com o perfil profissional de conclusão do curso, o
qual define a identidade do mesmo e caracteriza o com-
• Densidade – o foco da formação do tecnólogo “deve
promisso ético da instituição com os seus alunos e a
ser o da tecnologia, diretamente ligada à produção e
sociedade”. Essa “organização curricular compreenderá as
gestão de bens e serviços”, sem deixar que essa densidade
competências profissionais tecnológicas, gerais e especí-
em tecnologia conduza o aluno a olvidar o indispensável conhe-
ficas, incluindo os fundamentos científicos e humanísticos
cimento científico, base do conhecimento tecnológico.
necessários ao desempenho profissional do graduado
em tecnologia”. E mais: “quando o perfil profissional de
• Demanda – é fundamental que a oferta, tanto da forma-
conclusão e a organização curricular incluírem compe-
ção do tecnólogo, quanto da formação dos bacharéis e dos
tências profissionais de distintas áreas, o curso deverá
licenciados, para a formação de docentes para a Educação
ser classificado na área profissional predominante”
Básica e para a Educação Profissional, “correspondam às
(Artigo 6º).
reais necessidades do mercado e da sociedade”. Para tanto, é
fundamental a “clareza na definição de perfis profissionais
Essas Diretrizes Curriculares Nacionais, de acordo com o
distintos e úteis”.
Parecer CNE/CP nº 29/02, têm considerado que “inicialmente, a presença do tecnólogo se fazia sentir nos campos
• Tempo e duração dos cursos – “é muito difícil precisar
relacionados com a engenharia mecânica e com a cons-
a duração de um curso de tecnólogo, objetivando fixar
trução civil. Posteriormente, verificou-se que havia
limites mínimos e máximos”. Por isso mesmo, a duração
espaço para atuação do tecnólogo, também, nas áreas de
deverá ser aquela determinada pelo perfil profissional de
eletroeletrônica, da informática, da biotecnologia e, mais
conclusão do curso, conforme traçado pela instituição de
recentemente, nos vários setores da prestação de
ensino superior, à luz de seu projeto pedagógico.
serviços.O campo de atuação do tecnólogo nos setores de
comércio e serviços constitui mesmo um notável universo em expansão”.
• Perfil profissional de conclusão – o perfil demandado
pelos trabalhadores, pelas empresas e pela sociedade deve
ser claramente identificado e “constitui a matéria principal
Por isso mesmo, é indispensável, por parte das instituições
do Projeto Pedagógico de um curso, indispensável para
de ensino que se dedicam à oferta de cursos superiores
a caracterização do itinerário de profissionalização, da
de graduação em tecnologia, a identificação clara e inequí-
habilitação, das qualificações iniciais ou intermediárias
voca dos critérios e dos referenciais que caracterizam o
do currículo e da duração e carga horária necessárias
tecnólogo e marcam o compromisso ético dessas institui-
para a sua formação”. O perfil profissional de conclusão
ções de ensino superior para com sua clientela, em termos
representa o compromisso ético da instituição de ensino
de alunos, trabalhadores, empregadores e sociedade. Entre
superior para com sua clientela, isto é, alunos, trabalha-
esses referenciais, o Parecer CNE/CP destaca os seguintes:
dores, empregadores e sociedade.
Essas são as orientações básicas que devem guiar o processo de reestruturação dos cursos superiores de tecnologia,
de acordo com o Decreto Federal nº 5.154/04, que deu nova
regulamentação ao capítulo da Educação Profissional na
LDB – a Lei Federal nº 9.394/96, bem como orienta os
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
facordã[email protected]
Conselheiro da Câmara de Educação
Básica do Conselho Nacional de Educação
Diretor-presidente da Consultoria
Educacional Peabiru – Consultores
Associados em Educação
debates sobre a matéria, tanto em torno do anteprojeto de lei
de reforma da educação superior levado à discussão pública
pelo Ministério da Educação, quanto em torno da revisão das
metas e dos objetivos do Plano Nacional de Educação.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
27
BREVE PANORAMA SOBRE A
EDUCAÇÃO CORPORATIVA
NO BRASIL
Por FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR, GREGÓRIO BITTAR IVANOFF E SÉRGIO MANCINI
Os colegas Sandra Turchi e Juan Lopez, que atuam em banco e cursaram MBA
para atualizar o currículo e conseguir destaque no mercado.
(São Paulo - SP, 08.01.2004. Foto de Fernando Moraes/Folha Imagem)
Na sua incessante busca pela perpetuidade do negócio e aumento de
competitividade no mercado, muitas empresas têm buscado novas formas
para o aprendizado e desenvolvimento dos seus funcionários (e, muitas
vezes, também dos seus públicos externos). Como uma alternativa para
incrementar a capacitação individual e, conseqüentemente, gerar níveis
mais altos de competência para toda a organização, surgiu o conceito de
Educação Corporativa, que se consolidou na década de 1990 nos Estados
Unidos e que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil.
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MAR/ABR/MAI' 2005
A finalidade básica de um Sistema de Educação Corporativa (SEC) é, no entender de Marisa Eboli, “fomentar o
De modo sucinto, apresentamos alguns resultados preliminares da pesquisa:
desenvolvimento e a instalação das competências empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização
• Tendência de alinhamento estratégico: os SECs apresentam
das estratégias de negócios”, de uma forma sistemática,
alinhamento com a estratégia da organização, tendo sua importância aumentada em relação ao Treinamento & Desenvolvimento tradicional.
estratégica e contínua. Percebe-se, assim, o poder e a importância deste conceito em um cenário de extrema competitividade, como o atual, na criação de valor real agregado às
pessoas envolvidas e ao negócio em si.
O processo de evolução da Educação Corporativa no
Brasil tem sido muito dinâmico, e com o propósito de se
obter um panorama mais acurado de como está sendo
tratado o assunto pelas organizações brasileiras, foi realizada
a pesquisa "Mensuração de Resultados em Educação Corporativa no Brasil", fruto de um convênio entre a FIA (Fundação
Instituto de Administração) e a Natura Cosméticos S.A., sob a
coordenação da profª. Marisa Eboli e de Denise Asnis,
respectivamente.
No período de 04 a 30 de novembro de 2004, foram
enviados questionários a 164 organizações que atuam no
Brasil e que, sabidamente, apresentavam alguma iniciativa
de Educação Corporativa. O questionário utilizado possuía 64
questões e dividia-se em três partes:
• Melhorias internas: os SECs têm contribuído de maneira
substancial para a melhoria nos processos internos, nos resultados financeiros e também no clima organizacional para as
empresas respondentes.
• Reforço na imagem institucional: as respondentes afirmam
que há uma tendência na melhoria da imagem da organização
e da qualidade de seus produtos e serviços como desdobramento das atividades dos SECs.
• Participação dos stakeholders nos SECs: As demandas da
cadeia produtiva e da comunidade local foram consideradas
prioritárias pela maioria dos respondentes. Isso revela a visão
ampla que as empresas pesquisadas têm do negócio não
apenas voltada para atender demandas internas, mas também
demandas de outras partes interessadas.
A partir desses resultados, ainda que preliminares,
percebe-se que as contribuições geradas pela Educação
Corporativa no Brasil são expressivas e que as ações
voltadas às competências humanas e empresariais – que
vão além das fronteiras da própria organização – têm sido
• Caracterização da empresa e do respondente.
efetivas e evidenciadas, apesar da atividade ser recente no
• Caracterização do SEC.
cenário empresarial brasileiro.
• Resultados do SEC da empresa.
A pesquisa contemplou cinco blocos temáticos:
• Inserção do SEC na cultura e nos processos.
• Alinhamento com estratégias e geração de programas
educacionais a partir das competências críticas.
• Intervenção dos stakeholders na concepção dos programas.
FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR
[email protected]
Mestrando em Administração de Empresas
da Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade da Universidade
de São Paulo (FEA-USP);
participante do GPEC - Grupo de Estudos
em Educação Corporativa
• Avaliação dos programas.
• Indicadores de resultados.
Trinta e nove dessas organizações responderam às questões
solicitadas. Segue um breve perfil das empresas participantes
da pesquisa:
• 28% são do setor financeiro, 28% do setor de serviços,
GREGÓRIO BITTAR IVANOFF
[email protected]
Mestrando do Departamento de Engenharia
de Computação e Sistemas Digitais da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo;
participante do GPEC - Grupo de Estudos
em Educação Corporativa
21% da indústria secundária, 13% da indústria
de infra-estrutura e 10% da indústria primária.
• 58% têm controle acionário brasileiro.
• 70% têm faturamento anual acima de R$ 1 bilhão.
• 33% têm entre 2.000 e 10.000 funcionários,
e 38% têm acima de 10.000 funcionários.
SÉRGIO MANCINI
[email protected]
Doutorando no PROCAM - Programa de
Pós-Graduação em Ciência Ambiental da
Universidade de São Paulo;
participante do GPEC - Grupo de Estudos
em Educação Corporativa
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
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Sala de computadores da empresa Microsoft, em São Paulo (SP).
(São Paulo, SP, 29.06.2001. Foto de Luana Fischer/Folha Imagem)
TECNOLOGIA
E PROFISSIONALISMO
Por RUBENS ALVES JR.
CONSTROEM UMA MARCA
Quem atua na área de comunicação de marketing já está acostumado a
estereótipos que banalizam seus profissionais. Talvez por beber seu “próprio
veneno”, todo um setor luta para provar que é extremamente competente
em nosso país, e que a sua participação na sociedade oferece uma contribuição com tecnologia de ponta e reconhecida internacionalmente.
Entre os profissionais especializados na área de propaganda
setores e até de grande corporações é o branding. Nos últimos
e marketing, é freqüente e calorosa a discussão – muito comum
meses, uma evolução desse conceito começa a tornar ainda
entre iguais – sobre onde está o futuro do mundo dos negó-
mais quentes essas avaliações – surge o love marks. Devemos
cios. Uma das últimas análises e que serve de base a boa
estar atentos, pois esta é a tradução mais moderna do que po-
parte dos planejamentos de marketing de empresas de vários
de ser aplicado para o fortalecimento e a consolidação de marcas.
Os estudantes de propaganda aprendem, nos primeiros
30
MAR/ABR/MAI' 2005
momentos na faculdade, a origem dos conhecimentos adqui-
Os estudantes de propaganda aprendem, nos primeiros
momentos na faculdade, a origem dos conhecimentos adquiridos no seu curso. Mas muitas vezes esquecem de se autovalorizar como conhecedores científicos de sua área de
estudo, e sequer lembram que receberão, após quatro
anos, um diploma com a reconhecida outorga de Bacharel
em Comunicação Social. Lamentavelmente, a glamourização
das colunas sociais faz de certos publicitários verdadeiros
semideuses, e os tornam referenciais equivocados em um
disputado mercado de trabalho. Não podemos aqui fazer
uma crítica à capacidade produtiva e empreendedora,
porém, é uma pena que ocultem todo esse valor e refor-
Luminoso da Coca-Cola, empresa fundada em 1886, com sede em Atlanta (EUA).
cem estereótipos e preconceitos que derrubam a seriedade
(Atlanta, EUA, 03.11.2001. Foto de Margarete Magalhães/Folha Imagem. Negativo 12042.01)
do que é realizado na prática.
O marketing e a propaganda são parte integrante do
Branding é a somatória de ações ligadas à administração
cotidiano de executivos e empresários. Pode ser que o
das marcas, nas mais diversas áreas, e tem por finalidade
ultrapassado conceito de que a publicidade engana, ou
manter ou ampliar sua posição no mercado e torná-la cada
vende “até a mãe”, esteja enraizado no subconsciente de
vez mais presente na mente dos consumidores.
muitas pessoas que insistem em atribuir um tom amador
Desenvolvida pela rede inglesa de agências Saatchi&Saatchi,
ou meramente intuitivo para trabalhos planejados, calculados
a ferramenta chamada love marks busca averiguar se a marca,
e com reais expectativas de resultados. Assim, o que poderia
mais do que respeitada, é amada pelos consumidores.
parecer modismo tem de ser assimilado como estudos que se
Segundo depoimento publicado no Portal Terra, Fábio Fer-
adaptam às mudanças que o novo século aponta. Essas tendên-
nandes, proprietário da sua associada brasileira, a agência
cias são sempre voltadas para o ser humano, em que a tecno-
F/Nazca, “a cerveja Skol é um exemplo de marca que desperta
logia necessita cada vez mais de sua interpretação emocional.
emoção no consumidor”. E comprova: “No evento de música
Segundo a American Marketing Association, marketing é
eletrônica Skol Beats, que reuniu mais de 50 mil pessoas,
“o processo de planejar e executar a concepção, o estabe-
em São Paulo, os jovens fizeram filas imensas no estande
lecimento de preços, a promoção e a distribuição de
onde se podia colocar lentes de contato nos olhos com um
idéias, produtos e serviços a fim de criar trocas que satis-
dos símbolos da cerveja”. E com esse depoimento perce-
façam metas individuais e organizacionais”. Vale ressaltar
bemos que a marca “amada” fica no próprio corpo de seus
que essas metas podem ser entendidas como necessidades
consumidores e faz parte de sua cultura de consumo e iden-
e desejos. Este é um conceito que pragmaticamente é apli-
tidade na sociedade contemporânea.
cado. Mas entender a força de uma marca é superar um mero
A comunicação de marketing caminha, agora sim, para
pedido persuasivo voltado para a venda por anúncios e comer-
deixar claro que sua tecnologia é bem apurada e muito maior
cias que são veiculados nos meios de comunicação de massa.
que os apelos comerciais imediatos. O resultado será em longo
O publicitário inglês David Ogilvy (1911-1999) tinha
prazo e conta com o empenho de grandes profissionais.
uma definição bem-humorada, que reflete bem a tendência
de aplicar o branding: "Qualquer tonto pode fazer negócio, mas é preciso gênio, fé e perseverança para criar uma
marca". As marcas podem ser, nos últimos tempos, consideradas o principal ativo de muitas empresas. Ao citarmos marcas como Coca-Cola, Marlboro, McDonald's,
Microsoft, IBM, Shell, entre tantas outras, é notório que
valem bilhões de dólares a mais do que todo o patrimônio
das suas respectivas empresas. Por isso, o branding – ou o
RUBENS ALVES JR.
[email protected]
Publicitário com pós-graduação
em Teoria da Comunicação.
Coordenador dos cursos de Publicidade e Propaganda/
Propaganda e Marketing - Coordenador do Curso de
Especialização em Marketing de Incentivo e Relacionamento
do Centro de Pós-Graduação - Faculdades Oswaldo Cruz.
Sócio-diretor da EssecomZ Comunicação e Marketing,
agência especializada em ações diferenciadas de marketing.
gerenciamento estratégico da marca – está se sedimentando.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
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ARTE & TÉCNICA,
COMPANHIA ILIMITADA
Por FLÁVIO AGUIAR
Quando falamos de arte e de técnica, imaginamos primeiro dois mundos
opostos, o primeiro nos píncaros da criatividade e o segundo nas planícies dos
misteres cotidianos. Ao invés dessa oposição, uma imagem mais coerente
seria a de se ver neles uma complementaridade: um não existe sem o outro.
Que arte não existe sem técnica, é mais fácil de se imaginar,
32
Mas essa aparelhagem, por mais sofisticada que seja, é
do que o contrário. É fácil imaginar que um pintor deva domi-
apenas o vestíbulo da técnica, o prefácio do que realmente
nar técnicas de pintura, ou que um escultor, de escultura.
importa. Porque a técnica não é um artefato, uma coisa, um
É fácil também imaginar que um ator deva dominar técnicas
objeto; a técnica é uma aptidão corporal, e isso inclui a mente,
de respiração, e que um poeta será tanto melhor quanto mais
o espírito, a alma, os neurônios ou seja como se quiser
técnicas de versificação dominar, até para poder quebrá-las
denominar esse mistério de pensarmos, desejarmos, odiarmos,
criativamente.
assim tudo ao mesmo tempo.
Já que uma técnica exige uma prática artística, é bem mais
O contato com a tecnologia pode nos levar ao conheci-
difícil de se conceber. Para isso é preciso entrar mais fundo
mento de um aparelho, por exemplo, no limite de como
no conceito do que seja uma técnica. Normalmente, con-
ligá-lo, desligá-lo e torná-lo apto para os nossos fins. É uma
funde-se o conceito de técnica com o de tecnologia: uma
questão de treinamento, de aprendizado passivo (e neces-
série de dispositivos materiais que possibilitam e facilitam
sário, pois para mexermos num aparelho é melhor ler o
a realização de operações que potencializam a percepção
manual antes) e depois de reciclagem. A técnica depende
de nossos sentidos e a velocidade de nossas ações.
da construção de um saber, e um saber, que é uma intro-
MAR/ABR/MAI' 2005
jeção do conhecimento no corpo, só se constrói de duas maneiras: por experimentação e erro; ou por imitação criativa
(vendo fazer, o que inclui, por exemplo, ler sobre a experiência alheia).
Ao contrário do que se pensa vulgarmente, a imitação é um
ato criativo, distinto da cópia. O mau ator copia; o bom ator imita. O que ele imita? O gesto, isto é, ele “cita” o gesto que aprendeu observando a vida e o próprio teatro –- o sujeito atrapalhado e distraído que quer atravessar a rua, por exemplo
–- num contexto que ele, ator, cria para si mesmo no palco.
Portanto, para aprender e dominar uma técnica, é necessário recriá-la, não copiar simplesmente o que se viu, ou o
que se leu, e aí já estamos nos domínios da arte.
É claro que há artes mais valorizadas do que outras; aí
entramos num domínio em que jogam tradições pertinentes e preconceitos impertinentes que funcionam de acordo
com cada contexto histórico. Veremos mais comumente uma
exposição de grandes pintores do passado ou do presente
do que uma exposição de câmaras de ar e pneus bem
remendados; entretanto, embora a técnica de um pintor
seja bem mais complexa do que a de um borracheiro, a
natureza conceitual de ambos os afazeres humanos é a
mesma. E convenhamos: é mais digno ser um bom borracheiro, que procura dominar com afinco a técnica necessária ao seu trabalho, do que um mau pintor, que só copie
As meninas Li Zhaofang (à esq.), e Huang Wen,
descendentes de chineses, visitam a exposição de arte chinesa na Faap.
o que outros já fizeram, com o único propósito de “agradar
(São Paulo, SP, 14.08.2002. Foto: Maurício Piffer/Folha Imagem.)
à moda do dia”.
Por vezes nos deixamos maravilhar ou horrorizar perante
o mundo da tecnologia, esquecendo que este só existe por
causa das técnicas que possibilitaram suas criações. Vemos
manifestações carregadas de desprezo pelas “novidades”,
só reconhecendo valor no antigo. Eu mesmo sou um
pouco assim. Sou capaz de idolatrar uma caneta tinteiro e
sempre olho de soslaio para o meu computador, sabendo
que esta geringonça pode me aprontar alguma, além de ficar
me dando ordens, como “é melhor escrever assim”, ou marcando com tracinhos verdes ou vermelhos o que considero
São pensamentos desfocados, na verdade, o meu e o dele,
pois perdem de vista esta questão conceitual, a de que a
técnica supõe a arte; a arte, como uma das manifestações
mais sofisticadas do espírito humano, supõe o saber das
técnicas. O restante –- os fantasmas ou a idolatria das tecnologias –- são os pesadelos ou as ilusões que nós mesmos, os humanos, podemos criar para nos afligir ou nos
embalar entre os escombros dos nossos sonhos. Arte e técnica são outra coisa, são do reino da liberdade. Juntas, formam
uma companhia ilimitada…
criações que tomaram madrugadas de pensamento.
Mas… meu vizinho de sala, na universidade, é o oposto.
Para ele, só existe o que cabe no computador, e o que não está
disponível na internet não tem qualquer valor. Acha que
os livros estão condenados, que o jornal é obsoleto, e que
a máquina de escrever e tudo o mais foram meros intermediários entre o cinzel e o martelo com que os primeiros
Homos sapiens gravavam na rocha e o DVD ou o chip de
FLÁVIO AGUIAR
[email protected]
Professor de Literatura Brasileira da
Universidade de São Paulo
Autor do romance Anita
(São Paulo: Boitempo, 1999),
Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do
Livro de 2000.
compressão, pois até o disquete já é coisa do paleozóico.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
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MAR/ABR/MAI' 2005
LICENCIAMENTO AMBIENTAL:
O GRANDE GARGALO
Por ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO
Precisamos crescer, e a par das dificuldades tributárias, financeiras e tecnológicas, que chamamos de “custo Brasil”, nos deparamos com a dificuldade, algumas vezes intransponível, do licenciamento ambiental, que,
devido à complexidade que assumiu, inviabiliza a pequena e média
empresa que deseja se instalar ou se expandir no Estado de São Paulo.
Para que possamos entender a complexidade do problema, vamos rememorar as causas desta complexidade.
A questão ambiental tomou vulto, entre nós, na década de
1970, durante os chamados anos de chumbo, decorrentes do
golpe militar.
sentado pelo então ministro do Interior, o coronel José Costa
Cavalcante, que em seu discurso afirmou: “O Brasil pode
se tornar importador de poluição [...], nós ainda temos o
que poluir, eles não”. E acrescentou: “Venham poluir no
Brasil”, esperando com isso atrair novos investidores.
As primeiras manifestações populares visavam mais o viés da
A repercussão negativa dessa posição levou o governo
saúde pública e do saneamento do que a questão ambiental pro-
brasileiro a promulgar, no ano seguinte, o Decreto Federal
priamente dita, como nós a encaramos hoje.
nº 73.030, de 30 de outubro de 1973, que criou a Secretaria
No início da década de 1960, a região do ABC, na Grande
São Paulo, começou a apresentar os sintomas de uma grande
crise ambiental, mas as pessoas e o Estado a tratavam como
uma questão de saúde pública e de saneamento.
Inicialmente os prefeitos do ABC se uniram na tentativa de
encontrar uma solução local para os problemas decorrentes da expansão industrial e do adensamento populacional
a que estavam sujeitos pelo acelerado desenvolvimento que
ocorria nestas cidades, em razão da infra-estrutura que possuíam.
Especial do Meio Ambiente – SEMA, ligada ao Ministério
do Interior, e propagandeada como um dos programas de
impacto do governo Médici.
A questão ambiental nascia, portanto, como assunto
federal, mas as conseqüências dos malefícios causados
pela poluição continuaram sendo municipais. Em meados
de julho de 1975, moradores do bairro Campestre, na divisa
de Santo André com Mauá, abandonaram as suas residências em pânico, numa evacuação espontânea, devido a um
vazamento de amônia em uma fábrica de fertilizantes.
O País iniciou um novo processo de desenvolvimento,
que foi chamado de “Milagre Brasileiro”, e continuamos a
Ainda naquele mês de julho de 1975, donas de casa de
crescer sem que criássemos as condições de sustentabili-
classe média, no bairro da Pompéia, jogaram pedras nos
dade necessárias para aquele adensamento industrial e
portões de uma indústria, em protesto contra o mau cheiro
populacional.
e a fumaça preta exalada por ela.
As iniciativas de regulamentação no Estado de São Paulo
Começava a se articular um movimento generalizado de
foram realizadas no âmbito do DAEE ou da Secretaria da
protesto contra a poluição industrial. Em Perus, a fábrica de
Saúde, pois se entendia que o assunto era de saneamento
cimento do grupo J.J. Abdalla foi cercada por uma mani-
básico e de saúde pública.
festação pública contra a poluição causada pelas suas cha-
No início dos anos 70, mais precisamente em 1972, o
minés, que lançavam cimento sobre as residências.
Brasil compareceu à primeira Conferência das Nações Unidas
Em Porto Alegre, a população se revoltou contra a fábrica
sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, repre-
de papel Borregard, por lançar lixívia negra in natura, resulFUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
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tante da fabricação de celulose, no rio Guaíba, causando
tituinte, retiramos de nossa legislação o que chamávamos
significativos impactos ambientais.
de entulho autoritário, no tocante às liberdades individuais,
Foi neste clima que o prefeito da cidade de Contagem,
Nilton Cardoso, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, decretou o fechamento da Cia. de Cimento Portland Itaú,
por poluir o ar com o lançamento de cimento por suas cha-
tes em todos os níveis, mas não alteramos uma linha
sequer de toda legislação autoritária gerada pelo regime
militar em relação ao meio ambiente.
minés. Isso levou o presidente Ernesto Geisel a promulgar
Continuamos entendendo que o município não tem
o Decreto-lei nº 1.413, de 13 de agosto de 1975, proibindo
competência nem capacidade para licenciar empreendi-
a atuação dos municípios na questão ambiental, transfor-
mentos industriais de impacto local, apesar de a atual Cons-
mando-o em um assunto de Segurança Nacional, a ser tra-
tituição dizer textualmente que o município tem a capaci-
tado pela Presidência da República.
dade concorrente de licenciar os empreendimentos de
Desde então as questões ambientais passaram a ser as-
impacto local, que são a grande maioria dos empreendi-
sunto de “Segurança Nacional”, portanto de âmbito federal,
mentos industriais. Mas, pela inércia, continua cabendo ao
a ser tratado pela União e no máximo pelos Estados.
Estado, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e da
A criação da CETESB em 1976 se dá dentro desta visão,
CETESB, proceder a este licenciamento.
a de que a questão ambiental era assunto de âmbito federal
O empreendimento se instala na área física do município,
ou, no máximo, estadual, que viria a ser a grande referência
a poluição que por ventura emita é sentida no município,
para todo o País.
o desconforto causado à população acontece no município,
O Estado assume a capacidade de licenciar e as prerrogativas de comando e controle, típicas dos comandos militares, sendo a CETESB o órgão autorizado a permitir o fun-
só que ao município é negada a capacidade de licenciar e
fiscalizar o funcionamento desta instalação industrial. É preciso que o Estado o faça.
cionamento, a aplicar multas pelo mau funcionamento e a
O grande argumento que se apresenta para a manutenção
determinar o encerramento das atividades de um estabe-
deste quadro é o fato de o município não ter quadros téc-
lecimento industrial no Estado de São Paulo, criando a cul-
nicos capacitados a fazê-lo, e pergunta-se: para que o muni-
tura de que o município não tem competência ou capaci-
cípio teria quadro técnico se não pode licenciar?
dade para atuar nesta área.
Em 1981, devido à impossibilidade de contrairmos em-
Estamos diante da grande indagação filosófica: quem
nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
préstimos nos organismos financeiros internacionais, que
O município de São Paulo, por iniciativa do então
exigiam que o País elaborasse uma legislação ambiental, o
prefeito Paulo Maluf, inspirado pelo engenheiro Werner
então presidente da República, João Figueiredo, que viria
Zullauf, que foi presidente da CETESB no governo Franco
a ser o último dos militares na presidência do País, envia
Montoro, criou na capital a Secretaria do Verde e do Meio
e o Congresso Nacional aprova a mais restritiva lei ambi-
Ambiente, mas talvez devido ao fato de ser oposição ao
ental até então existente, que recebe o nº 6.938, de 31 de
governo do Estado – quando Maluf foi prefeito era gover-
agosto de 1981, que “dispõe sobre a Política Nacional do
nador Mario Covas –, não foi possível se iniciar o processo
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
de licenciamento ambiental municipal. Não que existissem
aplicação, e dá outras providências”.
impedimentos legais para que a prefeitura o fizesse, mas por-
Estava criada uma legislação que federalizou o licenciamento ambiental entre nós, permitindo, desde que obedecidas as condições criadas no CONAMA, que o licenciamento
fosse efetuado no âmbito estadual.
36
readquirimos a capacidade de eleger os nossos governan-
que se entendia que o município não tinha “capacidade”
de fazê-lo.
Em seguida, foi eleito o prefeito Celso Pitta, do mesmo
partido de Maluf, continuando em oposição ao governo do
O tempo passou, retornamos ao Estado de Direito, tivemos
Estado, para depois ser eleita prefeita Marta Suplicy, do PT,
as Diretas Já, implantamos a Assembléia Nacional Cons-
também de oposição ao governo do Estado. Nenhum deles
MAR/ABR/MAI' 2005
conseguiu implantar o licenciamento ambiental municipal,
deste ano, uma proposta para regulamentação do Artigo 23
apesar de ter todas as condições técnicas e legais para isso.
da Constituição, o que melhor definiria as competências da
Neste momento temos no comando da prefeitura da
capital José Serra, que é do mesmo partido do governador
do Estado, sendo esta, portanto, a grande oportunidade de
União, dos Estados e dos Municípios na área ambiental e
ajudaria a evitar sombreamentos e disputas jurídicas e institucionais na área de licenciamento.
restabelecer a autonomia municipal e São Paulo iniciar o
O anúncio foi feito pelo secretário-executivo do MMA,
processo de licenciamento ambiental municipal para os em-
Cláudio Langone, durante a 8ª Marcha dos Prefeitos, em Bra-
preendimentos de impacto local, que são a grande maioria
sília. O programa nacional de capacitação levará informações
dos projetos industriais de médio e pequeno porte.
sobre legislação e estruturação do setor de meio ambiente
Como fazer?
a municípios de pelo menos 18 Estados até o fim do ano.
A prefeitura de São Paulo, por exemplo, já criou a Secre-
O objetivo é fazer com que os municípios assumam cada
taria do Verde e do Meio Ambiente. Precisa criar o Conselho
vez mais responsabilidades, fiscalizando e licenciando empre-
de Meio Ambiente e simplesmente iniciar o processo de licen-
endimentos considerados de impacto local e contribuindo
ciamento industrial municipal, pois não existe na Constitui-
para aliviar a pressão sobre os governos estadual e federal.
ção Federal ou na Estadual qualquer artigo que proíba o
Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul emitem mais
município de licenciar empreendimentos industriais dentro
de 15 mil licenças por ano e, segundo estimativas do MMA,
de sua área territorial cujo impacto seja local, o que que-
seis em cada dez dessas licenças poderiam ficar a cargo
braria a inércia e faria os prefeitos tomarem a iniciativa de
dos municípios.
proceder ao licenciamento de impacto local.
Oficinas mecânicas, suinocultura de pequeno porte e até
Quanto à inexistência de quadros técnicos, contratam-se
pequenas empresas poderiam ser licenciadas e fiscalizadas
consultores para realizar a análise dos processos até poder
por órgãos municipais, mantendo os recursos arrecadados
admitir os técnicos necessários, nos mesmos moldes que a
nas prefeituras.
Secretaria de Meio Ambiente do Estado o faz quando tem
de analisar um projeto que o seu corpo técnico não está
capacitado a fazê-lo.
Esta é a posição defendida pelo Departamento de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do CIESP, fruto
de um acompanhamento exaustivo desta questão. O que
falta é a vontade política de fazer e simplesmente pôr em
prática um direito que é assegurado aos municípios, e que
irá desafogar sobremaneira a Secretaria do Meio Ambiente
Estadual e a CETESB, que ficarão encarregadas dos assuntos
que forem estaduais e que envolvam mais de um município,
que são poucos e que têm maior complexidade.
A iniciativa também atende às prioridades definidas na
1ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, realizada em 2003,
quando ficou clara a necessidade de mais investimentos
nos municípios.
O mais grave na questão ambiental em nosso Estado é
que a cada governo, novas normas são criadas sem que o
legislador tenha o cuidado de revogar as disposições em
contrário, criando um acúmulo de obrigações que na maioria das vezes tem pouco ou nada a ver com a preservação do
meio ambiente e muito do cumprimento do rito processual
burocrático em prejuízo de todos, assegurando vida longa
para a burocracia.
Parece ser também a posição do Ministério do Meio
Ambiente quando afirma que o licenciamento será mais
rápido e mais barato com a descentralização. O órgão pretende lançar, em abril, um programa nacional para capacitar gestores, conselheiros e vereadores municipais em questões relativas ao meio ambiente.
Além disso, o MMA – Ministério do Meio Ambiente pre-
ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO
[email protected]
Bacharel em Direito, Diretor Titular
Adjunto do Departamento de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentado
do CIESP – Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo, e Diretor da RAS do
Brasil Consultores Associados Ltda.
tende enviar ao Congresso Nacional, no primeiro semestre
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
37
HISTÓRIA, MATEMÁTICA E INFORMAÇÃO:
A TRILOGIA DA COMPETIÇÃO
Muitos segmentos estão sofrendo conseqüências bastante fortes, decorrentes da oscilação econômica e dos índices de crescimento instáveis.
A análise dos indicadores socioeconômicos de uma nação leva à avaliação das condições de renda, emprego e taxa de juros para crediário e
financiamento, uma vez que essas variáveis agem consideravelmente para
a determinação de intenções de compra e restrição orçamentária, oferecendo condições à avaliação da disposição de endividamento por que
podem passar os consumidores.
Por PROF. LUIZ PAULO LOPES FÁVERO
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, visto através de monitor, durante o 1º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo (SP).
(São Paulo, SP, 13.09.2004. Foto: Sérgio Zacchi/Folha Imagem)
38
É justamente na modalidade de compra planejada que a
estabilidade nos patamares de renda e emprego, a compra
possibilidade de elaboração de um financiamento se faz
de bens duráveis passa para uma condição delicada, já que
necessária, quando se disponibiliza parte dos recursos
qualquer incentivo ao crédito pode representar um risco à
provenientes da renda para a sua efetuação. Porém, com
inadimplência, já que os recursos disponíveis são alocados
MAR/ABR/MAI' 2005
em aquisição de bens não duráveis, como aqueles destina-
Não se pode deixar de abordar os aspectos relacionados
dos à alimentação e à higiene e limpeza. Ademais, as
à utilização de tecnologia para a otimização dos processos.
próprias taxas de juros inibem o consumo, uma vez que,
A integração de cadeias e as ferramentas de leitura por
para alguns segmentos de bens duráveis, ultrapassam os
radiofreqüência têm sido cada vez mais freqüentes nos
100% ao ano para o consumidor final.
processos organizacionais e operacionais, gerando performances mais otimizadas e controladas nos meios de
Desta forma, o que resta aos players atuantes no merca-
produção e distribuição. Atualmente, os fluxos de produ-
do? Entrar em uma “guerra” de preços com muitos dos con-
tos, de informações e financeiros, ao longo de uma cadeia,
correntes, no sentido de oferecer preços cada vez menores,
têm se dado de maneira cada vez mais rápida e eficiente,
muitas vezes abaixo do custo? Na verdade, é a combinação
e o incremento de técnicas computacionais, aliadas a sis-
de atributos que faz com que as vendas possam ser alavan-
temas integrados, tem permitido a gestão de interfaces
cadas e os índices de conversão majorados. A diferenci-
logísticas em um processo produtivo, até a efetiva compra
ação aparece neste contexto de análise da competitividade,
por parte do consumidor no varejo. É a partir desses con-
uma vez que muitos questionamentos têm sido feitos em
ceitos que surge o que é chamado de CPFR (collaborative,
relação à existência freqüente de commodities, o que torna
planning, forecasting, replenishment), que representa uma
a escolha, por parte dos consumidores, definida única e
visão global da criação de soluções para varejistas, dis-
exclusivamente por preço. A inclusão de atributos, ou até
tribuidores, fornecedores e fabricantes que reduzem os
mesmo de “pacotes” de atributos, na oferta torna possível
custos totais da cadeia.
a diferenciação de um produto ou serviço que inicialmente
era tido como ausente de características que agregassem
Desta forma percebe-se que a preocupação com o
valor. Na realidade, o que deve ser explorada é a per-
aumento de competitividade não deve ser abordada de
cepção do consumidor em relação ao que o mesmo
forma isolada ou simplista. A existência de diversas vari-
entende por satisfação, ainda que, se perguntado, não con-
áveis e a possibilidade de inúmeras ações podem gerar
siga detectar certos estímulos, muitas vezes provenientes
fatores de sucesso para os membros de uma cadeia, em
de aspectos cognitivos e sensoriais.
função do ambiente em que estão inseridos, porém a
adoção de práticas utilizadas em condições geográfica ou
Desta forma, a adoção de critérios que conduzam à ela-
temporalmente distintas das vigentes pode conduzir cada
boração perene de pesquisas pode oferecer subsídios à cri-
empresa, isoladamente, a situações inesperadas ou até
ação de séries históricas que contenham dados plausíveis
mesmo indesejadas.
de ser tratados, com vistas à geração de informação que
pode representar uma prática inestimável em um país ca-
A diferenciação competitiva não pode ser adquirida
rente de séries confiáveis. A própria história organizacional
única e exclusivamente por meio dos produtos ou serviços
se perde com altos índices de turnover.
disponibilizados. A utilização de séries históricas e temporais, a aplicação de matemática adequada ao tratamento de
Ainda em relação à provisão de dados confiáveis que
previsão, tendência e verificação, e a avaliação dos proces-
sejam adquiridos por meio de investimentos conscientes
sos informacionais são instrumentos que podem, compro-
em pesquisas estruturadas, o tratamento desses dados e as
vadamente, representar o grande diferencial competitivo
respectivas modelagens, por meio de métodos econométri-
dos players atuantes. Talvez seja esta a passagem da era da
cos estatísticos e multivariados, podem oferecer subsídio à
informação para a era do conhecimento.
tomada de decisão muitas vezes inexistente nas práticas
comuns de gestão. A própria ancoragem dos agentes
econômicos em variáveis publicadas que não representam
essencialmente os reais impactos gerados no consumo
pode fazer com que este se comporte às avessas do esperado, demonstrando a verdadeira importância das informações divulgadas e explicitando a diferenciação adquirida quando se consegue detectar tais comportamentos por
PROF. LUIZ PAULO LOPES FÁVERO
[email protected]
Professor e Coordenador de Cursos,
Pesquisas e Consultoria do Provar –
Programa de Administração de Varejo da FIA
- Fundação Instituto de Administração.
Sócio-Diretor da Canal Varejo.
meio da utilização das técnicas mencionadas.
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
39
IMPACTO DO CUSTO DA LOGÍSTICA
NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
É de grande importância para o Brasil participar de forma crescente e
acelerada no comércio internacional, como forma de reduzir a vulnerabilidade de sua economia e melhorar sua posição competitiva e estratégica
Por MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS
frente ao mundo.
Esse fato, associado ao amadurecimento do empresariado
brasileiro, causado principalmente pela concorrência extrema
a que foi exposto, a partir da abertura comercial realizada
no início da década de 1990, durante o governo Collor, trouxe
um significativo aumento da conscientização da nação sobre
a necessidade de organização coletiva para o crescimento da
participação do País no comércio mundial.
As Figuras 1, 2 e 3 (Fonte - Secex – Secretaria de Comércio
Exterior do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior), mostram, para o período 1950/2004, respectivamente as exportações, importações e o saldo comercial,
(exportações menos importações) em dólares americanos
(Figura 1), a corrente de comércio (exportações mais importações), em dólares americanos (Figura 2) e o valor porcentual
das exportações e importações brasileiras, com relação às
exportações mundiais (Figura 3). Desses dados, é possível
observar que, a partir do início da década de 1970, houve um
substancial crescimento do comércio exterior brasileiro, seguindo a tendência mundial, conforme a Figura 4 (Fonte - Secex
– Secretaria de Comércio Exterior do MDIC – Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Além disso,
nota-se que o saldo comercial foi negativo nos períodos 1974/
1982 e 1995/2001, altamente positivo no período 1982/1995
e crescentemente positivo no período 2001/2004, tendo atingido em 2004 o recorde de 33,7 bilhões de dólares americanos.
Da Figura 3, observa-se que, apesar do PIB (Produto
Interno Bruto) brasileiro representar cerca de 1,5% do PIB
mundial, sua participação no comércio internacional está,
ainda, aquém das necessidades e do potencial do país e da
velocidade de crescimento do comércio mundial. Na realidade, há um decréscimo sistemático relativo ao comércio
mundial e, somente a partir de 1999, quando a participação
das exportações brasileiras nas exportações mundiais era de
40
Trecho da estrada BR-153, em condições precárias, em São José do
Rio Preto, no noroeste de São Paulo.
0,85%, houve um crescimento sistemático que permitiu atin-
(São Paulo, 30.01.2004. Foto de Pierre Duarte/Folha Imagem)
gir 1,1% em 2004. As importações, por sua vez, começaram
MAR/ABR/MAI' 2005
Figura 1
Exportações, importações e saldo comercial brasileiros entre 1950 e 2004.
100
90
80
70
US$ bilhões
60
50
40
30
20
10
0
-10
Exportação
Importação
2004
2001
1998
1995
1992
1989
1988
1983
1980
1977
1974
1971
1968
1965
1962
1959
1958
1953
1950
-20
Saldo Comercial
Figura 2
Corrente de comércio brasileira entre 1950 e 2004.
180
160
Contêiner sendo transportado no porto de Santos (SP).
140
(Santos, SP, 29.07.2004. Foto Jorge Araujo/Folha Imagem)
US$ bilhões
120
100
80
60
a crescer somente a partir de 2004, atingindo naquele ano
40
cerca de 0,7% das exportações mundiais.
20
É óbvio que o grande esforço do país foca-se nas expor-
0
tações, mas as importações devem também acontecer, porque o comércio é uma via de duas mãos e porque no merFigura 3
cado globalizado busca-se comprar de quem oferece as
Valor porcentual das exportações e importações brasileiras, com
relação às exportações mundiais entre 1950 e 2004.
melhores condições.
2,6
2,4
É sabido que a grande contribuição para o crescimento
Participação % frente ao Mundo
2,2
das exportações brasileiras é proveniente do agronegócio,
2,0
1,8
muito embora haja também um crescimento, ainda que
1,6
modesto, das exportações de produtos de maior valor
1,4
1,2
agregado. O Brasil tem uma vocação nata de ser um
1,0
0,8
grande exportador de commodities, fato que não pode ser
0,6
ignorado, nem combatido, mas a exportação de produtos
0,2
Exportação
2004
2001
1998
1995
1992
1989
1988
1983
1980
1977
1974
1971
1968
1965
1962
1959
1958
1953
1950
0,0
Importação
de maior valor agregado é uma necessidade imperativa, pois
nesse caso a lucratividade das exportações é substancialmente maior. Na realidade, uma combinação mais equilibra-
Figura 4
da entre produtos de baixo e alto valor agregado é o desejável.
Exportações Mundiais entre 1950 e 2004.
9.000
Assim, fica claro que, apesar do Brasil ter seguido a
7.000
tendência mundial de crescimento das transações interna-
6.000
cionais nas últimas três décadas do século XX, há fatores
5.000
que impedem que essa evolução seja mais pujante, de
4.000
forma a permitir o crescimento da importância do país no
3.000
comércio mundial. Os principais fatores de “emperramento”
2.000
para o crescimento das exportações brasileiras podem ser
1.000
resumidos como segue:
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
1988
1986
1984
1982
1980
1978
1976
1974
1972
1970
1968
1966
1964
1962
1960
1958
1956
1954
1952
0
1950
Exportações Mundiais (US$ bilhões)
8.000
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
41
a) Deficiências de infra-estrutura, aí incluídas estradas, ferrovias, hidrovias interiores, portos e sistemas de armazenagem. Os principais motivos dessa deficiência são a falta de manutenção dos sistemas existentes e a falta de investimentos para ampliações
ou para a implantação de novos sistemas.
b) Frota de veículos rodoviários de carga com idade média excessiva, da ordem de 17,5 anos, sendo 76% dos veículos com idade superior a 10 anos, de acordo com a CNT – Confederação Nacional do Transporte, sendo 5 anos a idade média desejável. Este problema
implica custos operacionais elevados e menor produtividade, e sua superação exigirá um grande esforço por parte dos proprietários
de veículos rodoviários e dos diversos níveis de governo.
c) Frotas insuficientes de veículos ferroviários, fluviais e marítimos. Esse fato, associado às citadas deficiências de infra-estrutura, acarreta o inevitável deslocamento de cargas de baixo valor agregado, transportadas a grandes distâncias, como a soja, para
o transporte rodoviário, onerando de forma brutal os custos logísticos.
d) Procedimentos que constituem gargalos para as exportações, que foram alvo do Estudo sobre a Competitividade Global da
Empresa Brasileira na Dimensão Tempo, desenvolvido pelo autor deste artigo e por seu colega, prof. Claude Machline, em 1999.
O referido estudo identificou cerca de cem gargalos que dificultam o desenvolvimento eficaz das exportações, os quais têm grande
impacto nos tempos envolvidos no processo logístico, parâmetro essencial para a competitividade global na atualidade.
Essa longa lista de dificuldades traz claramente um expres-
Há ainda dois outros aspectos que devem ser, também,
sivo crescimento dos custos e dos tempos logísticos envolvidos,
considerados para melhorar o desempenho do país nas
baixando a competitividade dos produtos brasileiros no exte-
exportações:
rior pelo ônus direto nos preços e pela dificuldade, ou quase
impossibilidade, para o atendimento aos prazos de contrato,
num momento da história em que precisão no tempo é um
• necessidade das empresas brasileiras desenvolverem, em
importante instrumento de serviço ao cliente.
muito maior volume e velocidade, produtos de qualidade
mundial, de forma a aumentar a sua penetração de mercado;
• agregação de valor às commodities, dentro do possível, de
forma a aumentar o valor agregado das mesmas, como é o
exemplo do café, que, na grande maioria, é exportado cru.
MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS
[email protected]
Engenheiro naval, mestre em Engenharia pela
Escola Politécnica da USP e Ph.D pelo
Massachusetts Institute of Technology - MIT – EUA.
Manifestação de caminhoneiros interdita pedágio na BR-277, em São
Luiz do Purunã, distrito de Balsa Nova (PR). O motivo do protesto é o alto
valor das tarifas do pedágio.(Balsa Nova, PR, 02.12.2002. Foto de Jonas Oliveira/Folha Imagem)
42
MAR/ABR/MAI' 2005
É professor de Logística e coordenador do CELog –
Centro de Excelência em Logística e Cadeias
de Suprimentos na Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo e sócio-diretor da Mare Logística
SUGESTÃO DE LEITURA
TENTANDO DESVENDAR O ENIGMA
DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Monstrengo enviado para punir o povo de Tebas por ter afrontado os deuses, a Esfinge tinha cabeça e seios de mulher,
corpo e patas de leoa, e asas de águia. Instalada às portas da cidade, ela exigia que seus melhores jovens a enfrentassem.
Todos eram impiedosamente trucidados porque não conseguiam responder ao enigma que ela lhes propunha. A desgraça
só terminou quando apareceu um esperto rapaz, vindo de Corinto, chamado Édipo. Ele matou a charada, provocando o
suicídio da fera. O resto da lenda é bem conhecido.
Pois bem, o “desenvolvimento sustentável” também é um enigma à espera de seu
Édipo. Esta é a tese central do livro de José Eli da Veiga, Desenvolvimento sustentável - O desafio do século XXI. Em vez de aumentar a lista dos contorcionismos já tão
banalizados nas diversas tentativas de promover um suposto "conceito" de desenvolvimento sustentável, este livro sugere que, por enquanto, ele é uma espécie de quadratura do círculo. Para dissecar essa controversa noção, o livro busca primeiro examinar
separadamente os argumentos científicos disponíveis sobre seus dois componentes:
o substantivo desenvolvimento e o adjetivo sustentável. Só depois, na terceira parte,
procura interpretar o sentido histórico da junção política desses dois termos na formação do mágico binômio. Nada disso significa, portanto, que a noção tenha pouca utilidade. Ao contrário, deve ser entendida como um dos mais generosos ideais surgidos no
século passado, só comparável talvez à bem mais antiga idéia de "justiça social".
JOSÉ ELI DA VEIGA
Editora Garamond
São Paulo, 2004
200 páginas, R$ 30,00
SOBRE O AUTOR
José Eli da Veiga é professor titular da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo (FEA-USP), autor de Cidades Imaginárias
(Ed. Autores Associados, 2002) e colunista do jornal Valor
Econômico. Mais informações em http://www.econ.fea.usp.br/zeeli
FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
43
AGENDA
Eventos Mundiais
em Gestão Tecnológica
XI Seminário de Gestión Tecnológica Altec 2005
Asociación Latino-Iberoamericana de Gestión Tecnológica
25 a 28 de outubro de 2005 • Salvador, Brasil
Prazo - 31 de maio de 2005: submissão de trabalhos completos
Informações: http://www.fia.com.br/pgtusp/altec
II Congreso Iberoamericano de Filosofía de la Ciencia y la Tecnología
26 a 30 de setembro de 2005 • Tenerife, Espanha
Prazo - 30 de março de 2005: submissão de resumos
Informações: http://www.ibercanarias.org
PICMET 2005
Portland International Conference on Management of Engineering & Technology
31 de julho a 4 de agosto de 2005 • Portland, Estados Unidos
Informações: http://www.picmet.org/conferences ou pelo e-mail [email protected]
5th Triple Helix Conference
"The Capitalization of Knowledge: cognitive, economic, social & cultural aspects"
18 a 21 de maio de 2005 • Turim, Itália
Informações: http://www.triplehelix5.com
IAMOT 2005
14th International Conference on Management of Technology
22 a 26 de maio de 2005 • Viena, Áustria
Informações: http://www.iamot.org
IASP
Latin American Conference on Science and Technology Parks, 2005
Tema principal: Tecnología e Innovación para la Generación de Riquezas
28 a 30 de junho de 2005 • Buenos Aires, Argentina
Informações: http://www.iasplabsas2005.com.ar
14º Congresso Científico Internacional CNIC
(Centro Nacional de Investigaciones Cientificas)
Prazo - 31 de março de 2005: submissão de resumos
27 a 30 de junho de 2005 • Havana, Cuba
Informações: http://www.loseventos.cu/seminariocnic2005
Seminário Internacional de Inovação Tecnológica no Nordeste
(Centro Nacional de Investigaciones Cientificas)
Prazo - 8 de abril de 2005: submissão de resumos
5 a 7 de julho de 2005 • Fortaleza, Brasil
Informações: [email protected]
XXII IASP World
Conference on Science & Technology Parks, 2005
19 a 21 de setembro de 2005 • Beijing, China
Informações: www.iaspbeijing2005.com
Mais informações: [email protected]
44
MAR/ABR/MAI' 2005
FAT • FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA
Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino,
pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas
e das necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta
soluções específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda.
A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e
tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços
nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio
ambiente, entre outras.
• Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação
• Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde, Meio
Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras
• Concursos - Vestibular, Vestibulinhos e outros
• Apoios a Eventos e Publicações
www.fundatec.org.br
[email protected]
Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP 01123-001 Telefones: (11) 3313-1200 / 3315-9511/ 228-8373
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Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA