Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA ANO II - NÚMERO 2 - MAR/ABR/MAI'2005 03 ENTREVISTA BORIS TABACOF 07 TEMOS TECNOLOGIA PARA O TRANSPORTE 28 BREVE PANORAMA SOBRE A EDUCAÇÃO PÚBLICO DE SÃO PAULO? CORPORATIVA NO BRASIL ADRIANO M. BRANCO FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR, SÉRGIO MANCINI E GREGÓRIO BITTAR IVANOFF 14 PARQUES TECNOLÓGICOS UNIVERSITÁRIOS: UMA NOVA DIMENSÃO DE SEU PAPEL NA ERA DA INOVAÇÃO ROBERTO SBRAGIA 16 O PROJETO E A GESTÃO LUIZ ROBERTO VANNUCCI 22 A REESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA FRANCISCO APARECIDO CORDÃO 30 TECNOLOGIA E PROFISSIONALISMO CONSTROEM UMA MARCA RUBENS ALVES JR. 32 ARTE & TÉCNICA, COMPANHIA ILIMITADA FLÁVIO AGUIAR 34 LICENCIAMENTO AMBIENTAL: O GRANDE GARGALO ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO 38 HISTÓRIA, MATEMÁTICA E INFORMAÇÃO: A TRILOGIA DA COMPETIÇÃO LUIZ PAULO LOPES FÁVERO 40 IMPACTO DO CUSTO DA LOGÍSTICA NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS EDITORIAL EXPEDIENTE É com enorme satisfação que estamos apresentando a segunda edição da Revista da FAT. Mais uma vez vencemos de forma prazerosa esse desafio.E novamente o sonho se fez realidade.Gostaríamos de reafirmar nosso compromisso com a democratização do conhecimento por meio da disseminação de informações. A repercussão positiva de nossa primeira edição, ao mesmo tempo que nos deixa muito orgulhosos e motivados, nos apresenta desafios ainda maiores, no sentido de buscarmos continuamente o aprimoramento de nossa proposta de produzir uma revista de qualidade e que atenda de forma adequada os leitores que conquistamos. Continuamos empenhados na busca de matérias que efetivamente tragam contribuições às pessoas, às instituições e à sociedade. Trouxemos para reflexão, neste número, uma série de assuntos previamente selecionados, abrangendo o transporte público em São Paulo, educação corporativa, cursos superiores de tecnologia, gestão de projetos, inovação, licenciamento ambiental,parques tecnológicos,custo da logística e construção de uma marca, entre outros. A diversidade de assuntos abordados reflete o caráter plural de nossa revista. O que queremos é apresentar pontos de vista de profissionais altamente qualificados sobre temas diversos como forma de contribuição ao desenvolvimento social, econômico e tecnológico do Estado de São Paulo e do Brasil. DIRETORIA EXECUTIVA Diretor Presidente Prof. César Silva Diretor Administrativo Prof. Francisco Scarfoni Filho Diretor Técnico Prof. Luiz Roberto Vannucci CONSELHO DE CURADORES Prof. Dirceu D’Alkimin Telles Prof. Francisco Antonio Pinto Éboli Prof. Almério Melquiades de Araújo Profa. Yolanda Silvestre Prof. Victor Sonnenberg Profa. Silvia Regina Lucca Prof. Remo Alberto Fevorini Profa. Rosana Maria Siqueira Presidente do Conselho de Curadores Prof. Kokei Uehara ---------------------------------------------------------CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Angelo Albiero Filho (CIESP) Prof. Dr. Claudio Felisoni de Angelo (FIA-USP) Prof. Dr. Dirceu D´Alkmin Telles (FATEC-SP) Enio Squeff Prof. Dr. Guilherme Ary Plonski (IPT) Prof. Dr. Ivanildo Hespanhol (POLI-USP) Prof. Luiz Carlos Moraes Rego (FGV) Prof. Dra. Marisa Eboli (FEA-USP) Marcus Vinicius Sinval (Sebrae-SP) Ricardo Young (UniEthos) Prof. Dr. Roberto Sbragia (PGT/USP) ---------------------------------------------------------Editor/ Jornalista Responsável Luiz da Silva de Nogueira Mtb 15.612 11 9639-6850 - [email protected] Revisão de textos Hebe Ester Lucas [email protected] Vários desses profissionais têm atuado em parceria e são nossos colaboradores, o que sem sombra de dúvida tem possibilitado o crescimento do acervo intelectual da FAT. Projeto Gráfico Ronie Prado A edição da Revista da FAT,aliada a várias outras ações que temos desenvolvido, possibilita-nos afirmar que estamos atingindo de forma efetiva nosso principal objetivo,que é colaborar com as instituições que atuam nas áreas da educação e da tecnologia,buscando estimular e desenvolver o conhecimento,o ensino técnico e tecnológico, a pesquisa aplicada, o desenvolvimento experimental e a extensão de serviços à comunidade. Fotolito/ Impressão e Acabamento Imprensa Oficial Direção de Arte e Produção Gráfica Telma Cavalieri Victorio Fotos Júlio Hilário, Folha Imagem Tiragem 2.000 exemplares ---------------------------------------------------------Produção e Compras Alecsanda A. Moraes Mascarenhas [email protected] Jurídico Drª Ana Flávia Consolin [email protected] Assinaturas Nagila de Carvalho Pereira [email protected] - tel:11-3313 1200 --------------------------------------------------------- CÉSAR SILVA [email protected] Diretor-presidente da FAT, professor da Fatec São Paulo e consultor na área de gestão empresarial. A Revista da FAT tem o formato fechado: 208 x 273 mm, formato aberto: 416 x 273 mm. Número de páginas: 48, incluindo capa. Acabamento: lombada canoa, verniz de máquina capa/contra-capa. Papel do miolo: Couché opaco 70 g, capa: Couché opaco 150 g. Impressão: Offset, 4x4 cores. DEZ'2004 e JAN/FEV'2005 Revista da FAT - Publicação TRIMESTRAL da Fundação de Apoio à Tecnologia Ano II - Número 2 - MAR/ABR/MAI’2005 ISSN - 1807-9687 Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro São Paulo - SP - CEP 01123-001 Telefones: (11) 3313-1200 3315-9511/ 228-8373 [email protected] Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta revista em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização prévia. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores. ENTREVISTA BORIS TABACOF Para o empresário Boris Tabacof, o setor industrial de celulose e papel deve trabalhar em conjunto com as universidades no desenvolvimento de novas tecnologias e no treinamento de pessoal. A GRANDE OPORTUNIDADE CHAMA-SE FLORESTA PLANTADA As questões cambiais da economia e as ambientais são o foco do engenheiro Boris Tabacof ao abordar os macromercados de celulose, papel e petroquímico. Ele alerta para o novo conceito de floresta plantada como importante instrumento de defesa e preservação das florestas nativas. Em entrevista à revista da FAT, Tabacof analisa as perspectivas de crescimento desses mercados e fala da necessidade da criação de cursos superiores que especializem profissionais para atuar nas áreas de pesquisa genética das árvores, a fim de aumentar a qualidade e a rentabilidade das fibras de celulose. BORIS TABACOF Dados pessoais Soteropolitano, 75 anos, casado, cinco filhos. Carreira É engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade da Bahia. Foi secretário da Fazenda do Estado da Bahia, presidente do Banespa e diretor-superintendente do Grupo Financeiro Safra. Posição Atual Vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano Bahia Sul Papel e Celulose, presidente do Conselho de Administração da Suzano Petroquímica, vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano Holding e diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Por Luiz S. Nogueira [email protected] e Hebe Lucas [email protected] FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 1 ENTREVISTA BORIS TABACOF Há como financiar um novo ciclo de de arrocho de crédito e de tribu- desenvolvimento para este mercado? tação elevadíssima. Qual é a expectativa que o senhor tem Na indústria de celulose os investi- com relação ao desempenho dos negó- mentos são de altíssima intensi- O sistema de Parcerias Públicas Pri- cios de celulose e papel a curto e médio dade. Hoje, um projeto de fábrica vadas (PPPs) interessa direta ou indi- prazos? de celulose envolve valores em torno retamente ao setor? Em primeiro lugar, há uma preocu- de 1 bilhão de dólares. Dada a capa- Não vemos ainda uma possibilida- pação muito grande quanto à questão cidade de exportação, de geração de de utilização das PPPs diretamen- cambial. O setor brasileiro de celu- de moeda forte,nossa indústria tem te nos nossos investimentos indus- lose e papel alcançou uma posição acesso ao capital internacional e triais.A importância do projeto das no cenário internacional que tende nossas empresas conseguem obter PPPs estaria mais ligada a questões a crescer. O Brasil, que há pouco financiamento externo. Várias dessas de infra-estrutura, que afeta muito tempo era praticamente insignifi- empresas têm ações cotadas em a indústria de papel e celulose. As cante nesse segmento, é hoje um bolsas internacionais.Por outro lado, PPPs teriam a ver com, digamos, a dos produtores mais importantes temos um apoio muito forte do questão do acesso,rodovias,portos. do mundo. Então, na medida em BNDES (Banco Nacional de Desen- Por exemplo, temos uma movimentação muito grande – transportamos que o câmbio desencoraja as importações, se esse processo continuar por um prazo muito longo, isso vai acabar com toda a expectativa de investimento. O setor brasileiro de celulose e papel,principalmente de celulose, tem investido maciçamente nos últimos dez anos – algo em A importância do projeto das PPPs estaria mais ligada a questões de infra-estrutura, que afeta muito a indústria de papel e celulose. de pinho para a fábrica a distâncias razoáveis, às vezes mais de 100 quilômetros.Então,o problema do mau estado das estradas nos afeta diretamente e aumenta o nosso custo. Também temos problemas portuários sérios – seria preciso cons- torno de 12 bilhões de dólares.Esse 2 madeira dos plantios de eucalipto e aumento reflete a capacidade da volvimento Econômico e Social),que truir portos mais próximos dos produção de celulose, que cresceu tem sido, ao longo da história, um locais da produção. Nesse nível, as rapidamente, motivada por uma sustentáculo importante no cresci- PPPs podem ser uma solução, mas boa condição de competitividade mento dessa indústria. Do ponto de provavelmente o setor de celulose mundial.Essa vantagem se deve prin- vista de investimento, temos uma e papel não participaria delas como cipalmente à bem-sucedida produ- equação capaz de sustentar novos investidor. Não seria uma priorida- ção de eucalipto em território nacional. projetos. A situação é realmente crí- de do segmento. Em algumas ques- Embora seja originário da Austrália, tica no mercado doméstico,no con- tões, especialmente no tocante a o eucalipto se aclimatou de maneira sumo do papel e no capital de giro um transporte ferroviário que subs- extraordinária no Brasil. A exportação das empresas. A dificuldade de cré- tituísse o transporte rodoviário das é a nossa grande força. Em relação dito é muito maior na distribuição cargas e na melhoria e ampliação de ao consumo doméstico de papel, e venda de papel no mercado bra- portos, poderíamos eventualmente estamos mais ou menos estagnados, sileiro, que deveria ser uma base ter interesse, mas esta seria uma procurando recuperar o consumo. firme. A indústria não pode se opção de cada empresa e de cada Diante desse contexto, ficamos na basear exclusivamente em expor- localização. De modo geral,o setor se dependência das taxas de juros, e tação. Precisamos ter uma base beneficiaria muito se o programa PPP com a taxa de juro colocada nessa sólida interna no consumo dos nacional desse certo e se a área de altitude, é difícil obter crédito para novos produtos e isso está rela- infra-estrutura do Brasil, que está tão um giro do consumo de papel. cionado à abertura dessa política precária, ganhasse um impulso. MAR/ABR/MAI' 2005 Quais são as novas tecnologias que sidades e com as instituições de de- deverão ser adotadas pelas indústrias senvolvimento de tecnologia e do de celulose e papel? treinamento de pessoal. Como mem- Na parte industrial propriamente dita da fabricação de celulose e papel, nossas indústrias estão muito integradas aos produtores mundiais.Aliás, existem poucas fábricas de equipamentos no mundo para o setor de celulose e papel.Quando temos projetos de plantações,novas unidades, aperfeiçoamentos ou ampliações, trabalhamos em parceria com essas grandes organizações internacionais. Eu não poderia dizer que há expectativa de um grande salto na área fabril nos próximos tempos, mudanças que representem um avanço qualitativo de processos. O que existe é um desenvolvimento contínuo de vários processos, principalmente na área de informática, em nossas fábricas. Em termos de aplicativos, ainda há muito a se fazer. Onde ainda existe um longo caminho a se percorrer é na área florestal. Refiro-me à tecnologia florestal do eucalipto. A indústria florestal tem celulose e papel, tem móveis, tem placas,tem biomassa,tem uma série bro de organizações internacionais, tenho chamado a atenção, em âmbito mundial, para o fato de que o caminho a médio e longo prazo da nossa indústria reside em plantar e colher árvores.Talvez soe estranho, mas isso ainda é muito pouco realizado no mundo. As grandes nações produtoras de papel e celulose cortam florestas – pinheirais enormes que existem nos Estados Unidos,no Canadá,na Escandinávia,na Rússia –, que são árvores nativas.Obviamente há replantio dessas árvores, só que uma árvore dessa espécie leva em média 40/50 anos para crescer. Aqui nós temos o eucalipto australiano, que se aclimatou de maneira extraordinária no Brasil em termos eco- ENTREVISTA BORIS TABACOF vimento do segmento há alguns anos, na parte industrial. Agora,na área de genética, há um campo extraordinariamente amplo ser pesquisado. A grande oportunidade do Brasil está em suas condições ecológicas – clima,pluviosidade,temperatura,solo, sol, todos esses elementos que são fundamentais para o pleno desenvolvimento da árvore.Hoje o que vale é a quantidade de fibra que se extrai de uma árvore, que é exatamente a celulose. Nós praticamente duplicamos o volume de fibra de eucalipto em aproximadamente 30 anos. Como fizemos isso? Com a hibridação: fizemos híbridos de várias árvores de eucalipto e desenvolvemos técnicas de clonagem. lógicos. Aí entra o esforço que a O que existe é um desenvolvimento contínuo de vários processos, principalmente na área de informática, em nossas fábricas. nossa indústria está fazendo e que vai transformar o Brasil numa potência florestal. Essa potência florestal é baseada em plantar e não em dizimar florestas que sobraram, principalmente no Amazonas. Hoje não plantamos mais árvores de utilizações. No caso brasileiro, a grande oportunidade chama-se flo- Parcerias entre a universidade e o seg- com resta plantada.O conceito de floresta mento industrial agilizariam novos pro- Utilizamos clones, que propiciam plantada é novo universalmente da cessos de desenvolvimento? um forma como estamos colocando hoje. Muito.A gama de pesquisas é muito Identificamos numa floresta de A plantação de florestas é a grande grande. Só para destacar as princi- eucaliptos as árvores que apresen- defesa contra a devastação das flo- pais áreas, podemos falar em técni- tam as melhores características – as restas nativas. Existe, no Brasil, um cas de plantio, técnicas de manejo mais produtivas em termos de processo gradual de devastação florestal,técnicas de utilização cada fibras. Elas se desenvolvem mais das florestas nativas, que não é um vez mais aperfeiçoadas e econômicas depressa, são mais resistentes a privilégio nosso, mas que também de insumos, defesa contra pragas e doenças e demandam menos insu- acontece na Ásia e na Rússia. É aí outras.O IPT (Instituto de Pesquisas mos. Tiramos um pedacinho de ma- que reside a importância da tecno- Tecnológicas), por exemplo, teve terial dessa árvore, desenvolvemos logia,da cooperação com as univer- uma boa participação no desenvol- esse material em laboratório e o sementes resultado de eucalipto. extraordinário. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 3 mercado para esses profissionais e que está havendo hoje é um pro- o País tem o maior interesse em trei- cesso de fortalecimento da estrutu- transformamos em uma muda clo- nar especialistas, principalmente em ra empresarial. O Brasil sofreu uma nada. É esta muda que vai para o engenharia genética e/ou bioen- pulverização, pelo próprio modelo solo. Isso significa que você só re- genharia. que foi utilizado quando se implan- ENTREVISTA BORIS TABACOF tou a petroquímica. Os investimen- produz as árvores de boa qualidade. O salto agora chama-se engenharia Qual é hoje a participação desse setor tos eram chamados terços. Havia a genética, e é aí que está o desafio no PIB e qual a possibilidade de cresci- Petroquisa,que é a Petrobras – e que do setor e da universidade: traba- mento dessa participação? é o governo. Uma empresa brasilei- lhar para mudar a célula da árvore No que se refere à produção de ár- ra podia ou não ter experiência no vores e de papel, as pesquisas são ramo – e quase nenhuma tinha,por- demoradas. Depois de obter uma que esse negócio quase não existia mutação, você tem de plantar aque- –, e geralmente era uma multina- la muda para que ela cresça. Isso cional que trazia a tecnologia. Isso significa que o ciclo – e o resultado era feito em cada um dos pólos econômico da pesquisa – demoram petroquímicos fundados. Temos vários anos. As pesquisas nesse cam- três principais pólos, um na Bahia, po são relativamente recentes. Não um no Rio Grande do Sul e um em se pode dizer que elas já estejam São Paulo. Cada pólo tem uma varie- de tal maneira que ela adquira con- influenciando o PIB como produ- dade de empresas que cuida de cada dições mais favoráveis em termos ção.Mas como mercado de trabalho, segmento. Isso produziu uma dis- de produtividade. Essas questões já é uma oportunidade profissional mui- persão muito grande. O momento vêm sendo trabalhadas. A Suzano to boa. Creio que ainda há muito que o setor está vivendo hoje é de tem pesquisas em conjunto com a campo a ser explorado,porque o que fortalecimento da cultura societária, Escola Superior de Agronomia Luis se faz hoje é o aproveitamento de para que tenhamos boas condições de Queiroz (ESALQ), de Piracicaba engenheiros florestais, que não de competição e de integração global. (SP), e outras fábricas do setor tam- tiveram como meta de estudo prin- bém atuam nessa linha. cipal essas novas técnicas.Você tem Qual será o perfil desse setor nos pró- de mexer na célula da árvore, no ximos anos? E a criação de novos cursos superiores núcleo, trocar um gene. É pratica- O setor deve iniciar um novo ciclo de tecnologia para atuar neste mercado? mente uma nova profissão. de investimentos,o que pouco acon- Acho que poderiam ser criados cursos de tecnologia especificamente relacionada ao eucalipto, indo além da engenharia florestal tradicional. teceu nos últimos anos.O principal Existe uma formação de engenhei- 4 ros florestais de boa qualidade já há Que análise o senhor faz do setor petro- deles é o da Rio Polímeros, que foi bastante tempo, mas há muita es- químico e como a Suzano deve cami- praticamente o único grande projeto cassez de especialistas nessa linha. nhar nesse segmento? do setor petroquímico em uma década. Acho que poderiam ser criados cur- A Suzano está no negócio petroquí- sos de tecnologia especificamente mico há cerca de 30 anos,quando o Como vai se dar a participação da Suzano relacionada ao eucalipto, indo além segmento começou no Brasil.Inves- nesse processo da Rio Polímeros? da engenharia florestal tradicional. timos nos primeiros projetos de plan- A participação já está definida: um Acho também que existe uma boa ta petroquímica no Pólo de Cama- terço da Suzano,um terço da Unipar chance de esses cursos funciona- çari, na Bahia, e temos tido um e um terço de direitos públicos,que rem em nível tecnológico, ou seja, crescimento importante nessa área, são o BNDES e a Petrobras.O projeto formarem tecnólogos, e não bacha- que hoje é separada societariamen- vai entrar em funcionamento no pri- réis, em engenharia florestal. Existe te da área de papel e celulose. O meiro semestre deste ano. Essa etapa MAR/ABR/MAI' 2005 que está começando hoje no Brasil e tos,novas fábricas ou a expansão das que está ligada à reestruturação socie- existentes.Na fábrica da Rio Políme- tária de formação de grupos mais for- ros, por exemplo, há um detalhe in- tes,com mais poder de fogo, deverá teressante:a matéria-prima utilizada necessariamente resultar em novos é o gás natural, e não a nafta – que investimentos. À medida que a eco- é um derivado de petróleo. É uma nomia vai crescendo,certamente o diversificação que implica uso de consumo de produtos petroquími- tecnologia e que torna a produção cos sofrerá uma otimização.Um car- mais independente. ro,por exemplo,tem mais de 30 quilos de polipropileno.Hoje o material E isso também tem resultados em nível está por toda parte, desde produ- de meio ambiente e de rentabilidade? tos eletroeletrônicos até automóveis. Em relação ao meio ambiente, creio Por isso o crescimento dos produtos que não. Mas em termos econômicos se dá em índices maiores no cresci- e estratégicos, tem muito, porque mento do PIB. Então, a expectativa você fica menos dependente do pe- é de que o Brasil dará um salto na tróleo e dos preços extremamente sua capacidade instalada. Para isso oscilantes dos seus derivados, prin- são necessários novos investimen- cipalmente no caso da NAFTA. ENTREVISTA BORIS TABACOF A trajetória do empresário Boris Tabacof está descrita na autobiografia Perdidos e achados, lançada em abril deste ano. No livro, Tabacof conta como foi o episódio de sua prisão no governo Vargas, relata o desencanto com o comunismo e a investida no mundo dos negócios: "O primeiro supermercado da Bahia foi construído por mim", destaca. Tabacof aborda também a sua passagem pelo setor público, a profissionalização do Banco Safra e do Grupo Suzano e suas incursões pelos campos da ciência e da religião. Fonte: Jornal Folha de S. Paulo. FAT • FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino, pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas e das necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta soluções específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda. A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio ambiente, entre outras. • Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação • Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras • Concursos - Vestibular, Vestibulinhos e outros • Apoios a Eventos e Publicações www.fundatec.org.br Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP 01123-001 Telefones: (11) 3313-1200 / 3315-9511/ 228-8373 ÍNDICE NOSSA CAPA Obra do artista plástico Iberê Camargo “Formas Geométricas”, 1983 óleo sobre tela,184 x 130 cm Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo Direitos autorais gentilmente cedidos pela Fundação Iberê Camargo Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA ANO II - NÚMERO 2 - MAR/ABR/MAI' 2005 Fotografia Rodolfo Neto EDITORIAL CÉSAR SILVA, diretor-presidente da FAT 01 07 ENTREVISTA BORIS TABACOF TEMOS TECNOLOGIA PARA O TRANSPORTE PÚBLICO DE SÃO PAULO? ADRIANO M. BRANCO 14 PARQUES TECNOLÓGICOS UNIVERSITÁRIOS: UMA NOVA DIMENSÃO DE SEU PAPEL NA ERA DA INOVAÇÃO. ROBERTO SBRAGIA 16 O PROJETO E A GESTÃO LUIZ ROBERTO VANNUCCI 22 A REESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA FRANCISCO APARECIDO CORDÃO 28 BREVE PANORAMA SOBRE A EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR, GREGÓRIO BITTAR IVANOFF E SÉRGIO MANCINI 30 TECNOLOGIA E PROFISSIONALISMO CONSTROEM UMA MARCA RUBENS ALVES JR. 32 ARTE & TÉCNICA, COMPANHIA ILIMITADA FLÁVIO AGUIAR 34 LICENCIAMENTO AMBIENTAL: O GRANDE GARGALO ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO 38 HISTÓRIA, MATEMÁTICA E INFORMAÇÃO:A TRILOGIA DA COMPETIÇÃO LUIZ PAULO LOPES FÁVERO 40 IMPACTO DO CUSTO DA LOGÍSTICA NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS 43 SUGESTÃO DE LEITURA O ENIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 44 AGENDA EVENTOS MUNDIAIS EM GESTÃO TECNOLÓGICA - 2005 6 MAR/ABR/MAI' 2005 TEMOS TECNOLOGIA PARA O TRANSPORTE PÚBLICO DE SÃO PAULO? Por ADRIANO M. BRANCO Em 1999 publiquei artigo na Revista da Associação Nacional de Transportes Públicos (Ano 21, 1º trimestre) em que apresentei uma metodologia de cálculo dos prejuízos que a população metropolitana sofre por não contar com uma boa infra-estrutura de transportes coletivos e ter, em conseqüência, de conviver com um trânsito verdadeiramente insuportável, sob o ponto de vista do desgaste psicológico, econômico e ambiental, sofrido por todos aqueles que se deslocam na cidade. A metodologia foi bastante significativa, pois seu objetivo era mostrar a verdadeira grandeza das perdas sociais, sem filigranas. E, analisando apenas cinco itens dessas perdas, cheguei ao prejuízo anual de R$ 21,8 bilhões por ano. Uma catástrofe! Meus velhos companheiros de transporte público silenciaram, porque não acreditaram no número, mas julgaram dever respeitar a opinião de quem já acumulava, àquela época, 43 anos de exercício profissional, sempre ligados às lides do transporte. Foi preciso, para que os números começassem a ser levados a sério, que um ano depois, o Secretário do Planejamento do Estado, prof. André Franco Montoro Filho, declinasse na Assembléia Legislativa a sua avaliação do mesmo fenômeno: 15 bilhões de reais por ano! Pouco tempo depois, o engº Willian de Aquino, professor de engenharia de transportes no Rio de Janeiro, revelou em seminário da ANTP que o Banco Mundial tinha avaliado aquelas perdas, só para a capital, em 5 bilhões de dólares (que equivaliam, à época, a 12,5 bilhões de reais). As nossas diferenças, que não são relevantes nessa dimensão, resultam de metodologias diferentes. Eu, por exemplo, insisto em que a maior perda é de produtividade, de toda a população que se desloca a pé, por transporte público ou por automóvel, em razão da crise de circulação, que leva as pessoas ao desespero e a se matarem no trânsito. Não é possível que o trabalhador que acorda de madruFUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 7 gada e leva de duas e três horas para chegar ao trabalho – e gasta outro tanto para voltar – seja produtivo. Como também não pode ser eficiente, em seu trabalho, o automobilista que despende horas no trânsito e perde sistematicamente os seus horários de trabalho, de encontros e de reuniões. Nos meus cálculos, esse fenômeno responde, sozinho, por metade das perdas. Eu não nasci com essa preocupação: adquiri-a quando, recém-formado, trabalhei na CMTC, época em que a Comissão Anápio Gomes, que incorporara, se não me falha a memória, economistas do porte de Paulo Assiz Ribeiro e Dias Leite, demonstrou que as perdas sociais, oriundas dos problemas de transporte, eram maiores do que o orçamento anual da (Fusão - Telma Cavalieri Victorio/ Foto original: Folha Imagem) cidade. Hoje, 47 anos depois, tudo se repete, um pouco pior. Mas nesse meio tempo implantamos metrô e corredores de ônibus e introduzimos os trólebus, alargamos avenidas e construímos túneis (ah, os tão falados túneis), fizemos comboios ordenados, introduzimos o rodízio, expulsamos os Em 1948, primeiro ano de funcionamento da CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, quando a população do município era de 2.014 mil habitantes, esses mesmos dados conformam o seguinte quadro: bondes, fizemos papa-filas e fura-filas, aceitamos peruas, microônibus e toda a sorte de transportes clandestinos, subsidiamos os ônibus, os trens e o metrô, reunimos numa só empresa os trens de subúrbio federais e estaduais, construímos terminais nos quatro cantos da cidade, multiplicamos o número de empresas públicas dedicadas ao transporte coletivo e fizemos vultosos investimentos. Por BONDES ÔNIBUS Pass. Transportados x 106 384 320 Nº de Veículos 438 682 Extensão das linhas (km)* 706 1186 44.022 59.517 Km percorridos x 1000 (ano) * Refere-se à extensão dos itinerários. que, então, esta triste sina dos cidadãos da metrópole que Essas referências estatísticas mostram a importância que não conseguem trabalhar nem viver com tranqüilidade, teve para o transporte público o sistema de bondes, erra- que matam outros ou são atropelados, que são assaltados dicado em 1968. A extensão de suas linhas em 1948 e o em cada semáforo? Falhou a tecnologia? número de passageiros transportados, que ainda foram superados posteriormente, bem o atestam. UM RÁPIDO HISTÓRICO DO TRANSPORTE COLETIVO O transporte público motorizado começou a operar no Os sistemas tipicamente ferroviários (com exceção da linha início do século com os bondes elétricos da Light. Assim da Cantareira, também eliminada), após passar por longo foi até 1925, quando surgiram os primeiros ônibus. período de decadência, foram reorganizados a partir de As estatísticas disponíveis (Comissão de Estudos de Trans- 29/03/96 sob o comando da CPTM, que já logrou elevar portes Coletivos-PMSP-1941) mostram o seguinte quadro de aproximadamente 252 milhões de passageiros trans- evolutivo: portados por ano (primeiro ano de operação da nova Passageiros Anuais (x 106) POPULAÇÃO (X 1000) Serviços Urbanos BONDES 8 ÔNIBUS Serviços Suburbanos Sto Amaro (1) Cantareira (2) SPR(3) EFS(4) EFCB(5) 1915 473 50,5 - * * * * * 1925 707 147,6 * * * * * * 1933 983 233,4 44,5 2,6 2,1 6,3 * * 1938 1.208 283,5 131,1 4,6 3,8 9,4 0,9 7,6 1940 1.311 328,8 177,4 5,2 3,7 * 1,5 5,9 MAR/ABR/MAI' 2005 * Dados não disponíveis (1) Linhas da Light (bondes) (2) Trem da Cantareira (3) São Paulo Railway (4) Estrada de Ferro Sorocabana (5) Estrada de Ferro Central do Brasil ANO companhia), para 354 milhões (2003). São 270 quilômetros 1925 (como também dos automóveis). Dotados de maior de linhas na Região Metropolitana de São Paulo, destina- flexibilidade, os ônibus logo aprenderam a ultrapassar os das a transportar 900 milhões de passageiros por ano, bondes para pegar os passageiros nos pontos, não raro dentro de um horizonte de oito anos, se os atuais planos promovendo acidentes. Por volta de 1936, a Prefeitura já se desenvolverem. procurava pôr ordem no sistema de ônibus, o que come- A história dos bondes em São Paulo não é apenas a do çou por um regulamento que cancelava o registro de “em- transporte. Mas um exemplo de capacidade empreende- presas” que não possuíssem pelo menos quatro veículos. dora que tem faltado aos responsáveis pelos transportes Mas as dificuldades de conciliar os vários modos de trans- de hoje. No fim do século XIX, a Light obteve uma conces- porte coletivo acabaram por levar a Prefeitura à adoção são para produzir eletricidade. No passo seguinte, obteve de um sistema público monopolista dos transportes, concessão para implantar um sistema de bondes elétricos, segundo o modelo vigente à época, criando a CMTC. para consumir parte significativa da eletricidade que pro- Uma das razões fortes residiu no fato de ter a Cia. Light, duziria. É o que modernamente chamaríamos de “projeto em 1941, desistido de continuar operando os bondes. associado”, segundo a nomenclatura adotada pela lei federal das concessões (nº 8987, de 13/02//95). Um período de progresso se seguiu à fundação da CMTC: os ônibus foram substituídos por frotas novas e Mas, ao perceber o quanto a expansão dos serviços de modernas; o parque dos bondes foi acrescido de 50 bondes promovia a valorização dos imóveis onde se unidades, muito mais modernas; implantaram-se as primei- instalavam, o grupo Light dedicou-se também ao negócio ras linhas de trólebus, muito bem recebidas pela popu- de terrenos, apropriando parte daquela valorização. Um lação. Em 1956 decidiu-se pela implantação de um metrô projeto associado ao projeto associado... do tipo monotrilho Alweg, gerando um grande conflito de Com isso, não lhe faltaram recursos para chegar a ope- opiniões técnicas, que acabou por anular a licitação. Em rar 570 carros em 217 quilômetros de trilhos implantados, 1958, a Prefeitura voltou a propor a implantação de um transportando 329 milhões de passageiros em 1940, ano- metrô, de características convencionais, mas não a viabi- base do grande estudo de transportes empreendido pela lizou, embora tenha feito licitação pública. Essa tentativa Prefeitura. Em 1948, primeiro ano de funcionamento da de implantar metrô em São Paulo já fora feita pela Light, CMTC, o número de passageiros transportados foi ainda em 1925, sem lograr aprovação. E planos não faltaram, mais significativo, como se viu. Mas um dado importante sendo de destacar, além dos já referidos, o do prefeito a acrescentar é que durante 40 anos a Light operou os seus Prestes Maia, em sua primeira gestão, e do engº Mário bondes com a mesma tarifa, em parte porque viu crescer Lopes Leão, em 1945. o número de passageiros transportados, a cada quilômetro percorrido, de 3,6 em 1915, para 7,9 em 1940; em parte porque usufruiu dos projetos associados. Apesar de tudo isso, os bondes foram intempestivamente erradicados em 1968, sob a euforia das virtudes do transporte individual (“o bonde atrapalha o trânsito”, diziam os fabricantes de ônibus e de automóveis, apoiados “coincidentemente” pelos distribuidores de combustível, fabricantes de asfalto, construtores de avenidas), bem como do entusiasmo gerado pelo lançamento da pedra fundamental do metrô. Era a modernidade de estilo norteamericano (os bondes existem ainda hoje na Europa, ganhando fisionomia nova) que desabava no Brasil e, em nome dela, até os corredores privativos de bondes se transformaram em ruas, avenidas e pátios de estacionamento. Ao longo do desenvolvimento do sistema de bondes, em São Paulo, deu-se a chegada dos ônibus, a partir de Passageiros fazem fila para embarcar em lotação próximo ao Terminal São Mateus, na zona leste de São Paulo (SP), durante o segundo dia a greve geral de ônibus na cidade. (São Paulo, SP, 04.02.2003. Foto de Ormuzd Alves/Folha Imagem) FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 9 10 MAR/ABR/MAI' 2005 (São Paulo - SP, 14.10.2004. Foto de João Wainer/Folha Imagem) Ônibus enfileirados em ponto do corredor Passa Rápido da avenida Rebouças, perto da avenida Paulista, em São Paulo Mas a partir de 1958, aproximadamente, a CMTC 280 quilômetros de rede, com 830 trólebus modernos e começou a perder as suas linhas de ônibus em favor das de dois eixos (de 12 metros) e outros 480 articulados (18 empresas privadas, que “negociavam” subconcessões, ao metros). Parecia, enfim, que se iniciava uma nova fase do mesmo tempo em que a empresa entrava em declínio transporte de superfície. Entretanto, adquiridos os acentuado. Assim, em 1968, quando a Prefeitura deu início primeiros 290 veículos pelo prefeito Setúbal, o plano foi ao metrô, tirou-o da exclusividade da CMTC, criando uma descontinuado em gestões posteriores até chegar à situ- nova empresa, a Companhia do Metropolitano – Metrô. ação atual, em que várias linhas de trólebus estão sendo desativadas, embora de implantação recente e dotadas de No período de altos e baixos da CMTC que se seguiu, veículos novos, cujo destino agora é a sucata. no início da década de 1960, foram feitas “experiências” novas (por volta de 1957/1960) com a implantação de “papa-filas” (carretas encarroçadas com jeito de ônibus e tracionadas por cavalos mecânicos), como também de microônibus. Felizmente para a cidade, isso durou pouco; foi dinheiro posto fora. Mas também houve um esforço muito construtivo, por volta de 1962, empreendido na segunda gestão Prestes Maia pelo superintendente da CMTC, engº Cláudio Jacoponi, no sentido de utilizar a oficina de reparo de carrocerias para reformar e mesmo montar novos trólebus. Os equipamentos mais duráveis – motores e comandos – existentes nas oficinas receberam chassis novos, nacionais, e carrocerias de duralumínio, montadas na CMTC. Isso permitiu recompor a frota de trólebus (pois importar novos era muito difícil àquela época) e mantê-la viva por mais três ou quatro décadas! Quando criada a Secretaria de Negócios Metropolitanos, na gestão Paulo Egydio Martins, planejou-se uma nova estrutura de transportes, a ser subordinada àquela Secretaria. Ela teria sob o seu comando a EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, que seria holding do Metrô, de uma futura empresa que reuniria os trens de subúrbio da Fepasa e da RFFSA e de uma nova CMTC – que coordenaria os ônibus de São Paulo e os da RMSP. A EMTU foi criada, o Metrô passou para o Estado, a CPTM foi instituída muitos anos depois, mas a CMTC permaneceu municipal. E o plano de coordenação dos transportes em nível metropolitano, indispensável para ordenar a balbúrdia que aí está, foi por água abaixo. A própria EMTU foi desativada no governo seguinte e recriada mais tarde com outra finalidade. Em 1995 a CMTC foi extinta e suas frotas, inclusive as Ao ser inaugurada a primeira linha do metrô, entretan- de trólebus, confiadas a empresas privadas. Nasceu a to, a CMTC estava vivendo uma nova fase de recuperação SPTRANS para coordenar o transporte público municipal, na administração do prefeito Olavo Setúbal e sob o que se destacou por duas iniciativas: conseguiu renovar comando do engº Olavo Guimarães Cupertino. A Prefeitura não só adquiriu 1.600 ônibus novos, renovando toda a frota, como desenvolveu o primeiro plano metropolitano de transportes – o Sistran – em conjunto com a recém-criada Secretaria de Negócios Metropolitanos, em boa hora confiada ao arquiteto Roberto Cerqueira Cézar. O plano Sistran, conduzido pelo engº Mário Laranjeira de Mendonça, não só admitiu uma visão metropolitana, como deu prioridade ao transporte público, desenvolvendo um amplo plano de corredores exclusivos operados por trólebus, veículos que consomem menos energia, não poluem, são mais confortáveis, não fazem ruído excessivo, não produzem calor, têm melhor desempenho e são mais duráveis, características estas essenciais para a boa qualidade da operação em corredores. Para isso, foi totalmente atualizada a tecnologia dos trólebus, voltada para uma fabricação inteiramente nacional. Dava-se, assim, a partida em um programa de Estação Barra Funda do Metrô, cujo sistema de arrecadação será concedido à iniciativa privada para permitir a criação do Metropass, bilhete único do Estado. (São Paulo, SP, 29.10.2004, Foto: Marcelo Min/Folha Imagem) FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 11 boa parte da frota de trólebus e desenvolveu o projeto do público assumiu as suas rédeas, com a criação da CMTC. VLP – Veículo Leve sobre Pneumáticos, também conheci- Mas a decadência real do transporte público não está repre- do por fura-fila. É um projeto especial, bem concebido, sentada apenas pelo quadro anterior: tão grave quanto é utilizando tecnologia e fabricação inteiramente nacionais, a constatação do aumento continuado dos deslocamentos mas que parou no meio de sua implantação, já há seis anos. a pé, que atingiu 36,7% do total, em 2002, configurando- Sua função era a de resolver problemas de transporte se na RMSP a seguinte distribuição modal: onde se demandava capacidade acima da dos ônibus, não justificando, entretanto, a implantação de metrô, de custo muito maior. Ao longo de toda essa história, houve outras iniciativas especiais. Uma delas, do fim da década de 1970, foi a experiência com os “comboios ordenados” de ônibus, que aumentaram muito a oferta das próprias linhas convencionais de ônibus. Outra foi o desenvolvimento de ônibus mais modernos, eficientes e confortáveis, chamados de Padron, mas que só conseguem operar nas boas Deslocamentos por transporte coletivo 29,8% Deslocamentos por transporte individual 33,5% Deslocamentos a pé 36,7% A conseqüência disso é aquele terrível ônus suportado pela sociedade da RMSP. Mas a ele deve-se acrescentar o custo, a longo prazo, de se consumir energia em demasia, como mostra o quadro seguinte, de situação medida em 1988, relativa ao consumo no deslocamento de cada passageiro em São Paulo: avenidas da cidade. Nas ruas dotadas de valetas e na peri- Metrô 0,52 kWh por viagem feria, não têm como circular adequadamente. CPTM 0,96 kWh por viagem Trólebus 1,20 kWh por viagem de carros, inicialmente por razões ambientais e depois Ônibus 0,96 kWh por viagem para aliviar os picos de trânsito. Em sentido inverso, Automóvel Iniciativa de peso, também, foi a de implantar o rodízio 13,13 kWh por viagem criou-se a tarifa horo-sazonal de eletricidade, que atinge o transporte eletrificado (metrô, trens, trólebus) exata- Com a crescente carência de energia que o mundo mente na hora dos picos de demanda, onerando sobre- enfrenta, em particular daquela oriunda de fontes não maneira o transporte mais eficiente e não poluidor. No renováveis, é uma insensatez não olhar para esse aspecto, tempo em que as autoridades não eram meramente mone- que já revela a seguinte relação de consumo na Região taristas, a tarifa para tração elétrica era um quarto do que Metropolitana: é hoje (com correção monetária e tudo). Energia para transporte = 165% da energia elétrica para CONCLUSÃO todos os fins Rápida de contar, mas longa de experiência, é a história Perdas de energia nos transportes = 107% da energia do transporte coletivo de São Paulo. Alguns dados muito positivos resultam dela: afinal, bem ou mal, sobrevive uma parte da rede de trólebus; o Metrô tem hoje (2003) 57,6 quilômetros de linhas, transportando 506.617.000 passageiros por ano; a CPTM reorganizou o sistema ferroviário de subúrbios e transporta 354 milhões de passageiros por ano (2003); alguns ônibus modernizaram-se; Transporte Público Transporte Privado 1948 384 320 2002 438 682 elétrica para todos os fins Desse quadro se deduz, sabendo o baixo rendimento energético dos motores de combustão, que a energia perdida sob forma de calor, na RMSP (é a mesma coisa, aproximadamente, no Estado e no Brasil), supera toda a eletricidade consumida para todos os fins. E, ao que parece, o crescente calor atmosférico é a mola propulsora dos maiores desastres denominados de “naturais”. Visto esse panorama atual e analisados os cem anos de transporte urbano em São Paulo, visivelmente o nosso problema não foi de tecnologia. O Brasil produz e exporta alguns corredores de ônibus foram implantados. trólebus, ônibus rodoviários e metrôs de última geração, 100% nacionais. Por seu turno, a RMSP desenvolveu um 12 Porém, a distribuição modal dos transportes urbanos projeto sui generis de transporte de média capacidade – assim mudou, assustadoramente, desde que o poder o VLP; implantou um excepcional corredor de trólebus MAR/ABR/MAI' 2005 Estação Anhangabaú do metrô de São Paulo. (São Paulo - SP. 03.01.2003. Foto de Marlene Bergamo/Folha Imagem) intermunicipais ligando São Paulo a Santo André, São Em 1934, a Constituição Federal adotou o princípio da Bernardo e Diadema; viu aprovado pelos órgãos ambientais cobrança de contribuição de melhoria, para compensar o da ONU o plano de frota experimental de ônibus a Estado de seus investimentos que causam valorizações hidrogênio, da EMTU. E ainda se pode dizer que o País em propriedades próximas; a lei brasileira prevê ainda a até desenvolveu uma espetacular indústria de sandálias implantação de projetos associados e vários outros havaianas, para tão grande número de deslocamentos a pé... mecanismos de financiamento das obras e serviços públi- Na verdade, tem faltado continuidade aos planos, que sofrem rupturas a cada modismo novo. Falta a integração metropolitana. Mas dirão alguns que “falta dinheiro”. cos. Mas nós não recorremos a nada disso. Quem paga por isso é a população. Somos um país rico ou só perdulário? É verdade. Enquanto a população perde dezenas de bilhões todos os anos, não se conseguem equacionar os 35 bilhões de reais que o plano PITU 2020 indicou como necessários ao transporte público metropolitano em 20 anos. Em compensação, a cada obra ou serviço novo, o poder público faz investimentos de grande porte, que valorizam propriedades, enriquecendo uns poucos com o sofrido dinheiro de muitos. Os “projetos associados” não beneficiam o empreendimento público, como ocorre em Tóquio, onde 73% da receita do metrô provém de negócios imo- ADRIANO M. BRANCO [email protected] Engenheiro – Administrador Ex-professor nas Escolas de Engenharia Mackenzie e Mauá Ex-Diretor da CMTC Ex-Secretário de Estado dos Transportes e da Habitação biliários advindos da implantação dos transportes. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 13 PARQUES TECNOLÓGICOS UNIVERSITÁRIOS: Por ROBERTO SBRAGIA UMA NOVA DIMENSÃO DE SEU PAPEL NA ERA DA INOVAÇÃO Há mais de 200 anos e até pouco recentemente se considerava que a mãode-obra e o capital eram os únicos fatores diretamente ligados ao crescimento econômico. O conhecimento, a educação e o capital intelectual eram considerados fatores externos, de relativa incidência na economia. Este conceito foi sendo mudado nos últimos tempos, tanto que atualmente o crescimento econômico e a produtividade dos países desenvolvidos se baseiam cada vez mais na informação, no conhecimento, na tecnologia e na inovação. 14 Por convicção, estamos vivendo hoje a Era da Inovação, manidade, a primeira razão de ser dos Parques Tecnoló- sinônimo de desenvolvimento tecnológico, de criação de gicos, especialmente daqueles que giram em torno da univer- empregos mais qualificados e de novas oportunidades de sidade (GALIÁN, 2004), é transferir à atividade industrial os negócio com base no conhecimento. Entre tais oportunida- resultados da investigação acadêmica. Para ser eficazes nesse des, surge no âmbito universitário a possiblidade de criação objetivo, é necessário que os Parques considerem um obje- de EBTs - Empresas Base Tecnológicas, que podem contar com tivo secundário: atrair empresas às quais se possa transferir os benefícios dos parques tecnológicos enquanto empreen- tais tecnologias e assegurar que essas tecnologias sejam dimentos em processo de germinação. transferidas aos consumidores finais, na forma de produtos Considerando-se que a tecnologia pode ser definida em sen- e serviços. Isso pode ser entendido como um processo de tido amplo como um conjunto de conhecimentos científi- transferência de tecnologia, cujo êxito final é medido pela cos cuja utilização adequada produz benefícios para a hu- sobrevivência das EBTs no mercado. MAR/ABR/MAI' 2005 De fato, uma pesquisa recente (SBRAGIA e OZONI, 2004) buscou identificar junto a empresas incubadas de base tecnológica oriundas da universidade, e que já operam no mercado, alguns fatores – de origem interna e externa – que influenciaram o seu aparente êxito até o momento. Com relação aos aspectos de origem externa, podem-se citar: Fábio Carvalho, que estuda processamento de dados na Fatec e participa de uma empresa júnior. (São Paulo - SP, 05.07.2002. Foto de Cristiana Castello Branco/Folha Imagem) • a universidade enquanto um ambiente facilitador, assim como seu prestígio e visibilidade na intermediação Assim, enquanto Parques, devemos ser capazes de au- de parcerias com outras instituições; mentar a massa crítica de empresas residentes, diversificar • a infra-estrutura oferecida pela incubadora às incubadas; e incrementar os ingressos da universidade e oferecer outras • não obstante as barreiras ainda existentes, saídas a docentes investigadores, graduados e estudantes, a facilidade para se usar os laboratórios da universidade; mediante a incubação e geração centrífuga (spin-offs) de em- • o apoio da incubadora universitária para presas. Assim, o atual desafio para os Parques Tecnológicos, a busca de financiamentos para projetos de inovação; na nova era da Economia e do Conhecimento, é se cons- • a possibilidade de networking tituírem em núcleos germinais de regiões do conhecimento, com as outras incubadas, vital para o aprendizado. entendendo-se por isto unidades territoriais com abundante capital humano e social, que contêm estrutura e pessoal ativamente envolvido com o desenvolvimento econômico Assim, os Parques Tecnológicos Universitários têm um e social por meio da ciência, da tecnologia e da inovação, e papel importante para o êxito dessas empresas, que pode cuja interação produz uma alta densidade de empresas tec- ser traduzido em ações dos seguinte tipos: nológicas, constituídas por colaboradores com grande conhecimento e empreendedores com um alto nível de capacitação. A função, portanto, primária dos Parques Tecnológicos – ser a ponte entre a universidade e a comunidade, passando pelas empresas – deve ser retomada como um novo desafio. A razão se sustenta num silogismo muito simples: o conhecimento é hoje o maior ativo das empresas e das sociedades. As universidades seguem sendo o principal criador e acumulador de conhecimentos, portanto, a criação de empresas mediante mecanismos de geração centrífuga (spin-offs) é particularmente interessante como um meio eficaz de estimular esses processos, já que são especialmente aptos para vincular a universidade e a sociedade, contribuindo para a • Auxiliar no planejamento estratégico dessas empresas e na definição clara do mercado-alvo, especialmente em nível internacional. • Auxiliar as incubadas na obtenção de recursos financeiros junto às agências de fomento, especialmente para as empresas start up. • Auxiliar na formação gerencial dos incubados, tendo em vista que o desequilíbrio técnico-gerencial tem sido gerador de dificuldades futuras para as incubadas. • Criar mecanismos para constituir-se numa fonte permanente de networking para as incubadas. mudança da mentalidade que ainda opera, de maneira geral, dentro do mundo acadêmico. Um spin-off acadêmico não é senão uma das maneiras pelas quais o conhecimento da universidade se transfere para a economia e a sociedade, mediante a intermediação dos Parques Tecnológicos Universitários. BIBLIOGRAFIA GALIÁN, C. E. Los parques tecnologicos em la Economia del Conocimiento. Revista Parque del Conocimiento. Ano I, Nº 1,Argentina, 2004. SBRAGIA, R. & PEREIRA, E.C.O. Success determinants of Universitytechnology based firms: a study of multiple cases from CIETEC/USP. 10th International Conference on Management of Technology. Washington D.C., May, 2004. ROBERTO SBRAGIA [email protected] Professor Titular da FEA/USP e Coordenador Científico do PGT/USP FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 15 O PROJETO E A GESTÃO Por LUIZ ROBERTO VANNUCCI Núcleo de operações da BCP, que controla a rede da operadora em São Paulo. (São Paulo, SP, 13.11.2001. Foto de Greg Salibian/Folha Imagem) Em época de avanços tecnológicos, de mercados competitivos, de reavaliações nas margens de lucro, de exigências cada vez maiores em qualidade, é necessário desenvolverem-se novos procedimentos e metodologias, mesmo que sejam de assuntos conhecidos ou tidos como resolvidos, para propiciar crescimento ou mesmo a sobrevivência das empresas. Com relação ao projeto e sua gestão, é preciso conhecer os conceitos, dominar os fundamentos e traduzir as teorias para implantá-las na prática, suprindo as necessidades da empresa, conforme seu porte. 16 MAR/ABR/MAI' 2005 CONCEITOS DE PROJETO Primeiramente é preciso distinguir o ambiente da empresa como um todo do ambiente de projeto. A empresa possui ações contínuas e ações exclusivas aos projetos, que necessitam de agenda própria, aliadas aos recursos, receitas e despesas inerentes ao seu ambiente. Cada projeto interage com todos os níveis da empresa, ou partes dela, dependendo de sua complexidade, e muitas vezes ultrapassam os limites internos da empresa recorrendo a parcerias, fornecedores e clientes para atingir suas metas. Assim, entende-se um projeto como sendo um conjunto de tarefas organizadas com a finalidade de se atingir um • Concepção: formalização das idéias com base em um determinado objetivo a ser alcançado. • Viabilidade: estudo de vários aspectos, como econômicos, mercadológicos, técnicos e outros, para a aprovação ou não do prosseguimento do projeto. • Planejamento: elaboração de um plano com detalhes das ações necessárias para a consecução das idéias. • Execução: efetivação das ações buscando atingir o objetivo final planejado, utilizando-se de todos os recursos disponíveis. • Controle: comparação periódica entre o que se está executando com o planejado e sua correção de rumo. • Conclusão: apreciação final das ações e últimos ajustes. objetivo definido. As ações dos projetos estão inseridas no contexto da empresa, mas nem todas as ações da empresa são voltadas aos projetos. EXEMPLOS DE PROJETOS Um projeto pode envolver uma quantidade pequena ou um grande número de pessoas. Pode consumir algumas horas, alguns dias ou vários anos. Pode necessitar de CARACTERÍSTICAS DOS PROJETOS poucas ou de várias técnicas e ferramentas. Tudo depende As ações contínuas e as de projetos de uma empresa de seu porte e da estratégia e criatividade dos gestores. têm muitas características em comum. Especificamente Alguns exemplos de projetos: aos projetos destacam-se: • Construção de uma usina hidroelétrica. • Construção de um edifício. • Possuir um objetivo a ser alcançado. • Ter começo, meio e fim, portanto uma duração. • Gerar um produto ou serviço final único. • Permitir análises e medições ao longo do tempo. • Proporcionar meios de avaliações e correções de rumo. • Lançamento de um produto novo. • Desenvolvimento de um software. • Reestruturação de um setor de uma empresa. • Edição de um livro. • Realização de uma viagem. • Realização de uma compra no supermercado. EMPRESA • Gestão do projeto Ações contínuas Projeto 1 Projeto 2 GESTÃO DO PROJETO Para o êxito do projeto, é necessário que se disponha de Projeto n mecanismos específicos para a condução das ações e de seus controles. O emprego de técnicas, ferramentas, habilidades e, sobretudo, de conhecimentos, é de fundamental importância para se atingirem os objetivos almejados. CICLOS DE UM PROJETO ALGUMAS TÉCNICAS E FERRAMENTAS ÚTEIS À GESTÃO Os ciclos de um projeto dependem basicamente de sua Para a gestão do projeto com relação ao escopo, prazos, natureza. Qualquer que seja o seu porte, deverá passar custos, recursos humanos, comunicações, qualidade e ris- pela parte criativa de concepção, a operacional e a con- cos, é necessário dispor de técnicas e ferramentas para asse- clusiva. Com base nos princípios fundamentais que gurar que o projeto seja implementado conforme o planejado. devem ser dominados numa administração, segundo A seguir expõem-se algumas técnicas fundamentais à Fayol e vários autores que estratificam as fases de um gestão, mais voltadas ao planejamento e controle com projeto, de forma genérica os ciclos caracterizam-se por: relação aos prazos e custos. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 17 REDE DE PLANEJAMENTO Tradicionalmente, após a definição de seu escopo, os projetos sempre tiveram como suporte o tripé tempo, custo e qualidade. Evidentemente, essas áreas de conhecimento e atuação possuíam suas abrangências em outras áreas de suporte, que mesmo sem uma formalidade, apresentavam uma visão sistêmica. O PMBOK Guide (Guide to the Project Management Body of Knowledge), o Guia de Conhecimentos Gerais Fonte: Hirschfeld, 1994. sobre Gerenciamento de Projetos, preparado pelo Project Management Institute (PMI), identifica nove áreas de conheci- CRONOGRAMA FISCO-FINANCEIRO mento, todas com detalhamentos específicos, assim descritas: • Integração: trata de elaboração, execução e controle do plano do projeto. • Escopo: trata de iniciação, planejamento, definição, verificação e alteração do escopo. • Tempo: trata de definição, seqüenciamento e estimativa de duração das atividades e elaboração e controle de cronogramas. ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA • Custos: trata de planejamento, estimativa, orçamento e controle de custos. • Qualidade: trata de planejamento, garantia e controle de qualidade. • Recursos Humanos: trata de planejamento organizacional e de formação e desenvolvimento da equipe. • Comunicações: trata de planejamento das comunicações, distribuição de informações, relatório de desempenho e encerramento administrativo. • Riscos: trata de planejamento do gerencia- GRÁFICO DE VALORES ACUMULADOS mento, identificação, análise qualitativa, análise quantitativa, planejamento de respostas e Fonte: Vannucci, 2003. monitoramento e controle de riscos. 18 MAR/ABR/MAI' 2005 • Aquisições: trata de planejamento das aquisições, planejamento das solicitações, seleção de fontes, administração e encerramento do contrato. ALGUNS QUESITOS PARA A GESTÃO DE UM PROJETO CONSIDERAÇÕES FINAIS BEM-SUCEDIDO As ações organizadas em torno de um projeto têm de Para o sucesso de um projeto, vários quesitos têm de estar voltadas a uma estratégia que faculte o máximo de ser observados, a começar pela escolha do gestor, que, envolvimento interpessoal, visando-se compartilhar conhe- segundo Dobson/Vargas, tradicionalmente tem muito cimentos para se atingirem as mesmas metas. Conhecer e mais responsabilidade do que autoridade. aplicar os princípios e as técnicas da gestão de projetos são Alguns quesitos de destaque: habilidades importantes para todas as pessoas que se envolvem com projetos – gerentes ou não (Maximiniano, 2002). • Entendimento perfeito de que um projeto é um conjunto de ações específicas para o atendimento de um objetivo único. Com o avanço tecnológico dos últimos anos na linha de computadores pessoais e no desenvolvimento de softwares, as empresas têm, cada vez mais, ferramentas adequadas • Combinações de pessoas com conhecimento para a atuação em áreas específicas. • Conhecimento dos mais diversos recursos técnicos e operacionais para a consecução das ações. • Comprometimento das pessoas envolvidas, a começar por aquelas de funções mais altas e que detêm o poder das decisões. à gestão dos mais diversos projetos. Racionalizaram-se a quantidade de trabalho, a documentação, o tempo e o custo e adquiriu-se agilidade nas análises indispensáveis dos projetos. A aplicação da gestão em projetos requer, no entanto, uma sincronização entre o conhecimento dos gestores e a informatização. Segundo Kerzner (2002), a utilização vantajosa de software de gestão de projetos de qualquer • Comprometimento com relação ao comportamento pessoal e principalmente com relação ao espírito de equipe. • Manutenção de uma comunicação efetiva e permanente entre cada elemento envolvido no projeto. • Trabalho visando o aprimoramento contínuo nas diversas fases do projeto. tipo requer que os gerentes e equipes de projetos primeiramente entendam os princípios da gestão de projetos. Implementar os conceitos e fundamentos da gestão de projetos independe do porte do projeto e da empresa. A execução bem-sucedida de um projeto exige planejamento, coordenação e controle dentro de uma cultura organizacional própria, porém, buscando atingir a excelência em gestão. LUIZ ROBERTO VANNUCCI [email protected] Professor do Departamento de Edíficios da FATEC-SP e Diretor Técnico da FAT Fundação de Apoio à Tecnologia. Autor do livro Cálculos Financeiros Aplicados e Avaliação Econômica de Projetos de Investimento. BIBLIOGRAFIA BROWN, M.G.; HITCHCOCK, D.E.;WILLARD, M.L. Porque o TQM falha e como evitar isso. São Paulo: Nobel, 1996. CLELAND, David I. Project management: Strategic design and implementation. McGraw-Hill, 1999. DINSMORE, Paul C. Handbook of project management. New York: Amacon, 1993. EHRLICH, Pierre Jacques. Engenharia econômica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1995. HIRSCHFELD, Henrique. Engenharia econômica e análise de custo. 5. ed. São Paulo:Atlas, 1992. _____________________. Planejamento com PERT-COM e análise do desempenho. 7. ed. São Paulo:Atlas, 1982. KERZNER, Harold. Gestão de projetos. As melhores práticas. Porto Alegre: Artmed, 2002. LEWIS, James. Fundamentals of project management. New York:American Management Association, 1997. MAXIMINIANO,Antônio C.A. Administração de projetos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. UM GUIA do conjunto de conhecimentos do gerenciamento de projetos (PMBOK Guide). Pennsylvania: Project Management Institute, 2002. VALERIANO, Dalton L. Gerência em projetos: Pesquisa, desenvolvimento e engenharia. São Paulo: Makron Books, 1998. VANNUCCI,Luiz R.Cálculos financeiros aplicados e avaliação econômica de projetos de investimento. São Paulo:Textonovo, 2003. VARGAS, Ricardo. Gerenciamento de projetos. 5. ed. São Paulo: Brasport, 2003. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 19 FAT • FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino, pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas e das necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta soluções específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda. A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio ambiente, entre outras. • Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação • Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras • Concursos - Vestibular, Vestibulinhos e outros • Apoios a Eventos e Publicações www.fundatec.org.br Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP 01123-001 Telefones: (11) 3313-1200 / 3315-9511/ 228-8373 [email protected] Estudante opera aparelho de realidade virtual em núcleo da USP. (São Paulo, SP, 14.09.2004. Foto: Fernando Moraes/Folha Imagem. Digital) A REESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA Por FRANCISCO APARECIDO CORDÃO Estamos vivendo um momento importante na história da educação nacional. Este é o oitavo ano de vigência da atual LDB, a Lei Federal nº 9.394/96, de 20/12/96, a Lei Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e o quarto ano de vigência de nosso primeiro Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei Federal nº 10.172/01, de 09/01/01. Tanto a LDB quanto o PNE estão sendo motivo de grandes Em relação à educação profissional, a situação não é debates e objeto de propostas de reestruturação. O momento menos delicada e menos problemática. E não é de hoje. é delicado e importante. Ainda no fim de fevereiro deste A atual LDB reservou um capítulo específico, no título V ano, pudemos testemunhar, na Câmara dos Deputados, da Lei, que trata “dos níveis e das modalidades de os clamores dos educadores por uma atualização do Plano Educação e Ensino”, que é o capítulo III, para tratar espe- Nacional de Educação. É preciso rever metas e objetivos cificamente “da Educação Profissional”. Não é à toa que e reestruturar um plano de ação que permita torná-lo esse referido capítulo da LDB foi um dos primeiros dispo- realidade. No âmbito da LDB, há um intenso debate em sitivos legais a serem regulamentados pela União, por meio torno da reestruturação de várias de suas práticas e pro- do Decreto Federal nº 2.208/97. O referido decreto, de pósitos, em especial quanto à educação superior, objeto 17/04/97, já foi revogado e substituído pelo Decreto de um anteprojeto de lei, preparado pelo Executivo e Federal nº 5.154/04, de 23/07/04. submetido a uma ampla consulta pública à sociedade civil educacional até o fim do mês de março de 2005. 22 MAR/ABR/MAI' 2005 A Lei Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei n. º 9.394/96, de 20/12/96, interpretando o mandamento constitucional, apresentou uma concepção possibilidade de iniciar negociações em torno de referen- moderna e avançada de Educação Profissional, conceben- ciais e garantias coletivas” . De acordo com o autor, para do-a como “integrada às diferentes formas de educação, as organizações sindicais, “a qualificação é a caixa de ferra- ao trabalho, à ciência e à tecnologia” (Artigo 39), objeti- mentas que o assalariado tem. A competência diz vando conduzir o educando “ao permanente desenvolvi- respeito à maneira de utilizar concretamente essa caixa mento de aptidões para a vida produtiva” (idem), a ser de ferramentas, de empregá-la”. Qualificação profissional “desenvolvida em articulação com o ensino regular ou e competência profissional não se antagonizam. Elas se com- por diferentes estratégias de educação continuada, em plementam. Um profissional qualificado deve ser qualifi- instituições especializadas ou no ambiente de trabalho” cado e competente. A competência profissional demonstra, (Artigo 40). na prática, que a qualificação profissional não foi concluída Essa concepção de educação profissional a coloca na convergência de dois direitos fundamentais do cidadão: o direito à educação e o direito ao trabalho. Esses dois direitos, assim considerados, de forma integrada, são consagrados pela Constituição da República Federativa do Brasil como “direito à profissionalização” (Artigo 227). em vão, como uma farsa. Para Zarifian, “a emergência do modelo de competência é uma transformação de longo prazo, que inaugura um novo período histórico.Ela se desenvolve durante um longo tempo. É ainda, apenas, uma emergência. O desafio global não é pequeno. Trata-se de substituir os dois grandes Encarar a educação profissional nessa teia dos direitos modelos dominantes, que foram (e ainda são) o modelo fundamentais do cidadão exige das escolas e das instituições da profissão e o modelo do posto de trabalho”. O modelo dedicadas à educação profissional um novo compromisso, da profissão “começou a ser construído nas corporações que é o da oferta de programas profissionalizantes com- artesanais urbanas” e uma de suas qualidades é “a institu- prometidos com resultados de aprendizagem, em termos cionalização de sua transversalidade em relação aos de desenvolvimento de competências profissionais. lugares em que a profissão é exercida (os quais se trans- Afinal, o cidadão que procura um curso profissionali- formarão em empresas). Uma pessoa reconhecidamente zante, seja de formação inicial ou continuada, seja de pertencente a uma profissão pode valer-se dela onde quer educação técnica ou tecnológica, isto é, dos níveis mais que tenha de exercê-la”. Já o modelo de posto de trabalho, básicos ao nível da pós-graduação, procura, na verdade, implantado de maneira ostensiva sob a égide do taylorismo, desenvolver competências profissionais que o conduzam pode ser considerado, como o fez Marx, “uma ‘arma de a um exercício profissional competente, seja adquirindo guerra´ contra o modelo da profissão”. O posto de trabalho, um novo ou um primeiro emprego ou mesmo alterando de acordo com o autor, “é, ao mesmo tempo, um lugar e sua situação de trabalho, ou seja, conseguindo progredir uma função precisa dentro da organização, um tempo em sua profissão. preciso de duração do trabalho, um conjunto de tarefas Mas o que significa essa tal de competência profissional? Trata-se de mais um modismo educacional, importado do mundo do trabalho? Significa a submissão do sistema educacional às regras do mercado de trabalho, sob controle dos investidores capitalistas? É mais uma forma de esfoliar o trabalhador, culpando-o pelos seus fracassos profissionais, decorrentes de sua falta de vontade para se qualificar, se especializar e se atualizar continuamente? É mais uma esperteza dos empregadores, migrando da lógica da qualificação, que é objetiva e que pode receber tratamento coletivo, para a lógica da competência, que se refere a a serem realizadas e uma imobilização do trabalhador, sob a pressão do ritmo da produção ou do rendimento de seu posto, imobilizado na ausência da legitimidade de sua iniciativa pessoal”. Por isso mesmo, conclui Zarifian, “sair da lógica do posto de trabalho exprime-se de maneira simples: fazer com que, de algum modo, o trabalho seja absorvido pelo indivíduo que o realiza. É isso que significa a inclinação para um modelo de competência”, sobre o qual pode ser dito, de forma sucinta, que, “do ponto de vista da relação com o trabalho, o desafio da competência é a volta do trabalho para o trabalhador”. uma capacidade puramente individual? É mais uma manobra Esse modelo de educação profissional centrado no dos adeptos de individualismo contra o coletivo e o social? compromisso com o desenvolvimento de competências pro- Philippe Zarifian anuncia o fim dessa “oposição fictícia fissionais, buscando a superação dos modelos tradicionais entre qualificação e competência, que bloqueava qualquer da profissão e do posto de trabalho, dando um novo FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 23 significado à qualificação e à habilitação profissional, foi o adotado pelo Conselho Nacional de Educação para definir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a nova Educação Profissional proposta pela LDB, tanto no que tange à Educação Profissional Técnica de nível médio quanto em relação à Educação Profissional Tecnológica. De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 04/99, que definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de nível médio, “entende-se por competência profissional a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, habilidades e conhecimentos necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho”. Com pequenas variações, essa mesma noção de competência profissional já adotada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de nível médio é também a adotada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Tecnológica, graduação, de nível superior. Assim, de acordo com a Resolução CNE/CP nº 03/02, “entende-se por competência profissional a capacidade pessoal de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico”. De acordo com esses conceitos de competência profis- O aluno Etros Barbosa, no laboratório de informática da Fatec de Mauá (SP). (Mauá - SP, 17.10.2002 - Foto de Flávio Florido/Folha Imagem) sional adotados pelo Conselho Nacional de Educação e 24 devidamente explicitados pelo Parecer CNE/CEB nº 16/99, superior, quando consegue constituir, articular e mobilizar o conhecimento é entendido como o que muitos denomi- valores, atitudes, habilidades e conhecimentos para a reso- nam simplesmente como saber. É a dimensão do saber co- lução de problemas em seu campo de atuação profissional, nhecer. A habilidade refere-se ao saber fazer, intimamente não apenas os problemas rotineiros e planejados, mas tam- relacionada com prática do trabalho, embora transcendendo bém, e principalmente, os desafios inusitados e não planejados, a mera ação motora. É a dimensão do saber fazer. Os valores o novo e o incerto, o inesperado e o inabitual, liberando, assim, e as atitudes se expressam no saber ser, na atitude relacio- o profissional para a criatividade, a iniciativa, o empreen- nada com o julgamento da pertinência da ação e com a dedorismo e a ação transformadora. qualidade do trabalho. Expressa, também, a dimensão do O desenvolvimento de competências profissionais deve saber conviver, em termos de ética do comportamento, proporcionar às pessoas efetivas condições de laborabilida- convivência participativa e solidária, bem como outros de, isto é, propiciar ao trabalhador condições efetivas para atributos humanos, tais como a iniciativa e a criatividade, que ele possa manter-se em atividade produtiva e geradora o gosto pelo trabalho bem-feito e acabado, expressões do de renda, em contextos socioeconômicos e profissionais saber conviver e do saber ser. cambiantes e instáveis. Isso requer condições de mobili- Pode-se, portanto, dizer que uma pessoa tem compe- dade entre múltiplas atividades produtivas, superando de tência profissional quando consegue utilizar concretamente vez a perspectiva de preparação profissional específica as ferramentas adquiridas em sua qualificação ou em sua para assumir um determinado posto de trabalho. Até habilitação profissional, em cursos profissionalizantes ou porque estes são cada vez mais escassos. Neste particular, no próprio trabalho, conforme explicita o Artigo 41 da LDB uma ressalva se faz necessária: embora o desenvolvimen- ou até mesmo através de sua educação escolar, básica ou to de competências profissionais facilite essa mobilidade MAR/ABR/MAI' 2005 no mundo do trabalho, criando condições de labora- instituições de Educação Profissional preparem profis- bilidade, aumentando as oportunidades de trabalho, este sionais que, ao aprender, tenham aprendido a aprender e desenvolvimento não pode ser apontado como a solução a gerar autonomamente um conhecimento atualizado, definitiva para o problema do desemprego, estrutural ou inovador, criativo e operativo, que incorpore as mais recen- conjuntural. Nem a educação profissional nem o próprio tes contribuições científicas e tecnológicas das diferentes trabalhador podem ser responsabilizados, na perspectiva áreas do saber, e que saiba articular, mobilizar e colocar de um raciocínio linear e simplista, pela problemática do em ação todos os seus saberes (saber conhecer, saber desemprego, a qual depende, fundamentalmente, do ade- fazer, saber conviver e saber ser) para atender aos quado encaminhamento de outras variáveis ligadas ao reclames da vida profissional de forma eficiente e eficaz desenvolvimento econômico e social, com a correspon- e responder os desafios do dia-a-dia de modo original e dente distribuição de renda. criativo, neste mundo globalizado, instável e cambiante Essa vinculação estreita entre educação e trabalho, na onde vivemos e atuamos como cidadãos e profissionais. perspectiva da criação de condições para a laborabilidade, Em síntese, está aí a essência do conjunto de Diretrizes é uma referência fundamental para se entender o conceito Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de competência profissional consagrado pelo Conselho de Educação para a Educação Profissional Técnica de nível Nacional de Educação. médio (Parecer CNE/CEB nº 16/99 e Resolução CNE/CEB Esse conceito de competência profissional amplia a responsabilidade das escolas e instituições de Educação Profissional, principalmente as dedicadas à Educação Técnica e Tecnológica, na medida em que se exige a utilização de metodologias de ensino que propiciem o desenvolvimento da capacidade de resolver novos problemas, tomar decisões com crescentes graus de autonomia intelectual, ter iniciativa e espírito empreendedor, ser criativo e responsável, em um contexto de respeito às regras da convivência democrática. nº 04/99) e para a Educação Profissional Tecnológica (Parecer CNE/CP nº 29/02 e Resolução CNE/CP nº 03/02), recentemente atualizadas pelo Parecer CNE/CEB nº 39/04 e Resolução CNE/CEB nº 01/05, em decorrência da edição do Decreto Federal nº 5.154/04, de 23/07/04. A própria Resolução CNE/CP nº 03/02, em seu Artigo 15, define que o Conselho Nacional de Educação, no momento oportuno, promoverá “a avaliação das políticas públicas de implantação dos cursos superiores de tecnologia”. É chegado esse momento, uma vez que o MEC, em 29/12/04, acatando proposta da Setec – Secretaria de Edu- O exercício profissional competente implica um efetivo cação Profissional e Tecnológica, encaminhou ao Conse- preparo para enfrentar situações esperadas e inesperadas, lho Nacional de Educação, como “subsídios à comple- previsíveis e imprevisíveis, rotineiras e inusitadas, em mentação da Resolução CNE/CP nº 03/02”, o documento condições de responder aos novos desafios profissionais, propostos diariamente ao cidadão trabalhador, de modo original e criativo, de forma inovadora, imaginativa, empreendedora, eficiente no processo e eficaz nos resultados, que demonstre senso de responsabilidade, espírito crítico, auto-estima compatível, autoconfiança, sociabilidade, firmeza e segurança nas decisões e ações, capacidade de autogerenciamento com autonomia e disposição empreendedora, honestidade e integridade ética. Esse conjunto de demandas em relação às escolas e instituições de Educação Profissional Técnica e Tecnológica pode ser encarado, ao mesmo tempo, como muito simples e, também, como muito complexo e exigente. Essas demandas supõem pesquisas, planejamento, utilização e avaliação de métodos, processos, conteúdos programáticos, arranjos didáticos e modalidades de programação em função de resultados. Espera-se que essas escolas e Alunos assistem a aula de teoria da administração na Fatec de Mauá (SP). (Mauá - SP, 17.10.2002 - Foto de Flávio Florido/Folha Imagem) FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 25 “Proposta de bases conceituais e metodológicas para as seu próprio Projeto Pedagógico” (Artigo 4º). Quarto, a Diretrizes Curriculares dos cursos superiores de tecnologia”. consagração da flexibilização curricular dos cursos técnicos O referido documento, atualmente em estudo nas duas de nível médio e dos cursos superiores de graduação em Câmaras do Conselho Nacional de Educação, relembra Tecnologia, pela possibilidade de saídas intermediárias, quatro pontos cruciais em relação ao Decreto Federal nº expedindo certificados de Qualificação Profissional, técnica ou 5.154/04. Primeiro, que foram abolidos os níveis de tecnológica, conforme o caso (Artigo 6º), privilegiando uma Educação Profissional, tais quais propostos pelo Decreto organização curricular orientada pela identificação de “itinerá- Federal nº 2.208/97. O novo decreto prevê, em seu Artigo rios formativos, objetivando o desenvolvimento de aptidões 1º, que a educação profissional “será desenvolvida por para a vida produtiva e social” (Artigo 3º) e “possibilitando meio de cursos e programas de formação inicial e conti- o aproveitamento contínuo e articulado dos estudos” nuada de trabalhadores; educação profissional de nível (§1º do Artigo 3º). médio; e educação profissional tecnológica, de graduação e de pós-graduação”. Segundo, o estabelecimento, O artigo 5º do Decreto Federal nº 5.154/04, incluindo a como premissas para a oferta da Educação Profissional, graduação e a pós-graduação, é enfático: “Os cursos de da “organização por áreas profissionais, em função da educação profissional tecnológica de graduação e de pós- estrutura socioocupacional e tecnológica” (Inciso I do graduação organizar-se-ão, no que concerne aos objetivos, Artigo 2º) e “a articulação de esforços das áreas da Educação, características e duração, de acordo com as Diretrizes do Trabalho e Emprego, e da Ciência e Tecnologia” (Inciso Curriculares Nacionais, definidas pelo Conselho Nacional II do Artigo 2º). Terceiro, que ficam mantidas as Diretrizes de Educação”. Curriculares Nacionais, definidas pelo Conselho Nacional de Educação, para a Educação Profissional técnica de nível Essas Diretrizes Curriculares Nacionais gerais para todos médio e para a Educação Profissional tecnológica, de nível os cursos de graduação em tecnologia, e que agora serão superior, nas modalidades de graduação e pós-graduação, complementadas, em função do Decreto Federal nº quanto aos “objetivos contidos”, bem como “as normas 5.154/04, incluindo graduação e pós-graduação tecnológica, complementares dos respectivos sistemas de ensino; e as foram definidas pelo Conselho Nacional de Educação pelo exigências de cada instituição de ensino, nos termos de Parecer CNE/CP nº 29/02 e pela Resolução CNE/CP nº 03/02. O Artigo 2º da Resolução CNE/CP é suficientemente claro ao definir que os cursos de educação profissional tecnológica, como cursos superiores, de graduação, deverão necessariamente: I. incentivar o desenvolvimento da capacidade empreendedora e da compreensão do processo tecnológico, em suas causas e efeitos; II. incentivar a produção e a inovação científico-tecnológica, e suas respectivas aplicações no mundo do trabalho; III. desenvolver competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas, para a gestão de processos e a produção de bens e serviços; IV. propiciar a compreensão e a avaliação dos impactos sociais, econômicos e ambientais resultantes da produção, gestão e incorporação de novas tecnologias; V. promover a capacidade de continuar aprendendo e de acompanhar as mudanças nas condições de trabalho, bem como propiciar o prosseguimento de estudos em cursos de pós-graduação; VI. adotar a flexibilidade, a interdisciplinaridade, a contextualização e a atualização permanente dos cursos e seus currículos; VII. garantir a identidade do perfil profissional de conclusão de curso e da respectiva organização curricular. Para tanto, são critérios para o planejamento e a organização dos cursos superiores de tecnologia: I. o atendimento às demandas dos cidadãos, do mercado de trabalho e da sociedade; II. a conciliação das demandas identificadas com a vocação da instituição de ensino e as suas reais condições de viabilização; III. a identificação de perfis profissionais próprios para cada curso, em função das demandas e em sintonia com as políticas de promoção do desenvolvimento sustentável do País” (Artigo 3º). 26 MAR/ABR/MAI' 2005 Nessa perspectiva, “a organização dos cursos superiores de tecnologia deverá contemplar o desenvolvimento de • Natureza – “certas áreas são, por natureza, essencial- competências profissionais e será formulada em conso- mente científicas e outras essencialmente tecnológicas”. nância com o perfil profissional de conclusão do curso, o qual define a identidade do mesmo e caracteriza o com- • Densidade – o foco da formação do tecnólogo “deve promisso ético da instituição com os seus alunos e a ser o da tecnologia, diretamente ligada à produção e sociedade”. Essa “organização curricular compreenderá as gestão de bens e serviços”, sem deixar que essa densidade competências profissionais tecnológicas, gerais e especí- em tecnologia conduza o aluno a olvidar o indispensável conhe- ficas, incluindo os fundamentos científicos e humanísticos cimento científico, base do conhecimento tecnológico. necessários ao desempenho profissional do graduado em tecnologia”. E mais: “quando o perfil profissional de • Demanda – é fundamental que a oferta, tanto da forma- conclusão e a organização curricular incluírem compe- ção do tecnólogo, quanto da formação dos bacharéis e dos tências profissionais de distintas áreas, o curso deverá licenciados, para a formação de docentes para a Educação ser classificado na área profissional predominante” Básica e para a Educação Profissional, “correspondam às (Artigo 6º). reais necessidades do mercado e da sociedade”. Para tanto, é fundamental a “clareza na definição de perfis profissionais Essas Diretrizes Curriculares Nacionais, de acordo com o distintos e úteis”. Parecer CNE/CP nº 29/02, têm considerado que “inicialmente, a presença do tecnólogo se fazia sentir nos campos • Tempo e duração dos cursos – “é muito difícil precisar relacionados com a engenharia mecânica e com a cons- a duração de um curso de tecnólogo, objetivando fixar trução civil. Posteriormente, verificou-se que havia limites mínimos e máximos”. Por isso mesmo, a duração espaço para atuação do tecnólogo, também, nas áreas de deverá ser aquela determinada pelo perfil profissional de eletroeletrônica, da informática, da biotecnologia e, mais conclusão do curso, conforme traçado pela instituição de recentemente, nos vários setores da prestação de ensino superior, à luz de seu projeto pedagógico. serviços.O campo de atuação do tecnólogo nos setores de comércio e serviços constitui mesmo um notável universo em expansão”. • Perfil profissional de conclusão – o perfil demandado pelos trabalhadores, pelas empresas e pela sociedade deve ser claramente identificado e “constitui a matéria principal Por isso mesmo, é indispensável, por parte das instituições do Projeto Pedagógico de um curso, indispensável para de ensino que se dedicam à oferta de cursos superiores a caracterização do itinerário de profissionalização, da de graduação em tecnologia, a identificação clara e inequí- habilitação, das qualificações iniciais ou intermediárias voca dos critérios e dos referenciais que caracterizam o do currículo e da duração e carga horária necessárias tecnólogo e marcam o compromisso ético dessas institui- para a sua formação”. O perfil profissional de conclusão ções de ensino superior para com sua clientela, em termos representa o compromisso ético da instituição de ensino de alunos, trabalhadores, empregadores e sociedade. Entre superior para com sua clientela, isto é, alunos, trabalha- esses referenciais, o Parecer CNE/CP destaca os seguintes: dores, empregadores e sociedade. Essas são as orientações básicas que devem guiar o processo de reestruturação dos cursos superiores de tecnologia, de acordo com o Decreto Federal nº 5.154/04, que deu nova regulamentação ao capítulo da Educação Profissional na LDB – a Lei Federal nº 9.394/96, bem como orienta os FRANCISCO APARECIDO CORDÃO facordã[email protected] Conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação Diretor-presidente da Consultoria Educacional Peabiru – Consultores Associados em Educação debates sobre a matéria, tanto em torno do anteprojeto de lei de reforma da educação superior levado à discussão pública pelo Ministério da Educação, quanto em torno da revisão das metas e dos objetivos do Plano Nacional de Educação. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 27 BREVE PANORAMA SOBRE A EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL Por FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR, GREGÓRIO BITTAR IVANOFF E SÉRGIO MANCINI Os colegas Sandra Turchi e Juan Lopez, que atuam em banco e cursaram MBA para atualizar o currículo e conseguir destaque no mercado. (São Paulo - SP, 08.01.2004. Foto de Fernando Moraes/Folha Imagem) Na sua incessante busca pela perpetuidade do negócio e aumento de competitividade no mercado, muitas empresas têm buscado novas formas para o aprendizado e desenvolvimento dos seus funcionários (e, muitas vezes, também dos seus públicos externos). Como uma alternativa para incrementar a capacitação individual e, conseqüentemente, gerar níveis mais altos de competência para toda a organização, surgiu o conceito de Educação Corporativa, que se consolidou na década de 1990 nos Estados Unidos e que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. 28 MAR/ABR/MAI' 2005 A finalidade básica de um Sistema de Educação Corporativa (SEC) é, no entender de Marisa Eboli, “fomentar o De modo sucinto, apresentamos alguns resultados preliminares da pesquisa: desenvolvimento e a instalação das competências empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização • Tendência de alinhamento estratégico: os SECs apresentam das estratégias de negócios”, de uma forma sistemática, alinhamento com a estratégia da organização, tendo sua importância aumentada em relação ao Treinamento & Desenvolvimento tradicional. estratégica e contínua. Percebe-se, assim, o poder e a importância deste conceito em um cenário de extrema competitividade, como o atual, na criação de valor real agregado às pessoas envolvidas e ao negócio em si. O processo de evolução da Educação Corporativa no Brasil tem sido muito dinâmico, e com o propósito de se obter um panorama mais acurado de como está sendo tratado o assunto pelas organizações brasileiras, foi realizada a pesquisa "Mensuração de Resultados em Educação Corporativa no Brasil", fruto de um convênio entre a FIA (Fundação Instituto de Administração) e a Natura Cosméticos S.A., sob a coordenação da profª. Marisa Eboli e de Denise Asnis, respectivamente. No período de 04 a 30 de novembro de 2004, foram enviados questionários a 164 organizações que atuam no Brasil e que, sabidamente, apresentavam alguma iniciativa de Educação Corporativa. O questionário utilizado possuía 64 questões e dividia-se em três partes: • Melhorias internas: os SECs têm contribuído de maneira substancial para a melhoria nos processos internos, nos resultados financeiros e também no clima organizacional para as empresas respondentes. • Reforço na imagem institucional: as respondentes afirmam que há uma tendência na melhoria da imagem da organização e da qualidade de seus produtos e serviços como desdobramento das atividades dos SECs. • Participação dos stakeholders nos SECs: As demandas da cadeia produtiva e da comunidade local foram consideradas prioritárias pela maioria dos respondentes. Isso revela a visão ampla que as empresas pesquisadas têm do negócio não apenas voltada para atender demandas internas, mas também demandas de outras partes interessadas. A partir desses resultados, ainda que preliminares, percebe-se que as contribuições geradas pela Educação Corporativa no Brasil são expressivas e que as ações voltadas às competências humanas e empresariais – que vão além das fronteiras da própria organização – têm sido • Caracterização da empresa e do respondente. efetivas e evidenciadas, apesar da atividade ser recente no • Caracterização do SEC. cenário empresarial brasileiro. • Resultados do SEC da empresa. A pesquisa contemplou cinco blocos temáticos: • Inserção do SEC na cultura e nos processos. • Alinhamento com estratégias e geração de programas educacionais a partir das competências críticas. • Intervenção dos stakeholders na concepção dos programas. FLÁVIO HOURNEAUX JUNIOR [email protected] Mestrando em Administração de Empresas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP); participante do GPEC - Grupo de Estudos em Educação Corporativa • Avaliação dos programas. • Indicadores de resultados. Trinta e nove dessas organizações responderam às questões solicitadas. Segue um breve perfil das empresas participantes da pesquisa: • 28% são do setor financeiro, 28% do setor de serviços, GREGÓRIO BITTAR IVANOFF [email protected] Mestrando do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; participante do GPEC - Grupo de Estudos em Educação Corporativa 21% da indústria secundária, 13% da indústria de infra-estrutura e 10% da indústria primária. • 58% têm controle acionário brasileiro. • 70% têm faturamento anual acima de R$ 1 bilhão. • 33% têm entre 2.000 e 10.000 funcionários, e 38% têm acima de 10.000 funcionários. SÉRGIO MANCINI [email protected] Doutorando no PROCAM - Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo; participante do GPEC - Grupo de Estudos em Educação Corporativa FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 29 Sala de computadores da empresa Microsoft, em São Paulo (SP). (São Paulo, SP, 29.06.2001. Foto de Luana Fischer/Folha Imagem) TECNOLOGIA E PROFISSIONALISMO Por RUBENS ALVES JR. CONSTROEM UMA MARCA Quem atua na área de comunicação de marketing já está acostumado a estereótipos que banalizam seus profissionais. Talvez por beber seu “próprio veneno”, todo um setor luta para provar que é extremamente competente em nosso país, e que a sua participação na sociedade oferece uma contribuição com tecnologia de ponta e reconhecida internacionalmente. Entre os profissionais especializados na área de propaganda setores e até de grande corporações é o branding. Nos últimos e marketing, é freqüente e calorosa a discussão – muito comum meses, uma evolução desse conceito começa a tornar ainda entre iguais – sobre onde está o futuro do mundo dos negó- mais quentes essas avaliações – surge o love marks. Devemos cios. Uma das últimas análises e que serve de base a boa estar atentos, pois esta é a tradução mais moderna do que po- parte dos planejamentos de marketing de empresas de vários de ser aplicado para o fortalecimento e a consolidação de marcas. Os estudantes de propaganda aprendem, nos primeiros 30 MAR/ABR/MAI' 2005 momentos na faculdade, a origem dos conhecimentos adqui- Os estudantes de propaganda aprendem, nos primeiros momentos na faculdade, a origem dos conhecimentos adquiridos no seu curso. Mas muitas vezes esquecem de se autovalorizar como conhecedores científicos de sua área de estudo, e sequer lembram que receberão, após quatro anos, um diploma com a reconhecida outorga de Bacharel em Comunicação Social. Lamentavelmente, a glamourização das colunas sociais faz de certos publicitários verdadeiros semideuses, e os tornam referenciais equivocados em um disputado mercado de trabalho. Não podemos aqui fazer uma crítica à capacidade produtiva e empreendedora, porém, é uma pena que ocultem todo esse valor e refor- Luminoso da Coca-Cola, empresa fundada em 1886, com sede em Atlanta (EUA). cem estereótipos e preconceitos que derrubam a seriedade (Atlanta, EUA, 03.11.2001. Foto de Margarete Magalhães/Folha Imagem. Negativo 12042.01) do que é realizado na prática. O marketing e a propaganda são parte integrante do Branding é a somatória de ações ligadas à administração cotidiano de executivos e empresários. Pode ser que o das marcas, nas mais diversas áreas, e tem por finalidade ultrapassado conceito de que a publicidade engana, ou manter ou ampliar sua posição no mercado e torná-la cada vende “até a mãe”, esteja enraizado no subconsciente de vez mais presente na mente dos consumidores. muitas pessoas que insistem em atribuir um tom amador Desenvolvida pela rede inglesa de agências Saatchi&Saatchi, ou meramente intuitivo para trabalhos planejados, calculados a ferramenta chamada love marks busca averiguar se a marca, e com reais expectativas de resultados. Assim, o que poderia mais do que respeitada, é amada pelos consumidores. parecer modismo tem de ser assimilado como estudos que se Segundo depoimento publicado no Portal Terra, Fábio Fer- adaptam às mudanças que o novo século aponta. Essas tendên- nandes, proprietário da sua associada brasileira, a agência cias são sempre voltadas para o ser humano, em que a tecno- F/Nazca, “a cerveja Skol é um exemplo de marca que desperta logia necessita cada vez mais de sua interpretação emocional. emoção no consumidor”. E comprova: “No evento de música Segundo a American Marketing Association, marketing é eletrônica Skol Beats, que reuniu mais de 50 mil pessoas, “o processo de planejar e executar a concepção, o estabe- em São Paulo, os jovens fizeram filas imensas no estande lecimento de preços, a promoção e a distribuição de onde se podia colocar lentes de contato nos olhos com um idéias, produtos e serviços a fim de criar trocas que satis- dos símbolos da cerveja”. E com esse depoimento perce- façam metas individuais e organizacionais”. Vale ressaltar bemos que a marca “amada” fica no próprio corpo de seus que essas metas podem ser entendidas como necessidades consumidores e faz parte de sua cultura de consumo e iden- e desejos. Este é um conceito que pragmaticamente é apli- tidade na sociedade contemporânea. cado. Mas entender a força de uma marca é superar um mero A comunicação de marketing caminha, agora sim, para pedido persuasivo voltado para a venda por anúncios e comer- deixar claro que sua tecnologia é bem apurada e muito maior cias que são veiculados nos meios de comunicação de massa. que os apelos comerciais imediatos. O resultado será em longo O publicitário inglês David Ogilvy (1911-1999) tinha prazo e conta com o empenho de grandes profissionais. uma definição bem-humorada, que reflete bem a tendência de aplicar o branding: "Qualquer tonto pode fazer negócio, mas é preciso gênio, fé e perseverança para criar uma marca". As marcas podem ser, nos últimos tempos, consideradas o principal ativo de muitas empresas. Ao citarmos marcas como Coca-Cola, Marlboro, McDonald's, Microsoft, IBM, Shell, entre tantas outras, é notório que valem bilhões de dólares a mais do que todo o patrimônio das suas respectivas empresas. Por isso, o branding – ou o RUBENS ALVES JR. [email protected] Publicitário com pós-graduação em Teoria da Comunicação. Coordenador dos cursos de Publicidade e Propaganda/ Propaganda e Marketing - Coordenador do Curso de Especialização em Marketing de Incentivo e Relacionamento do Centro de Pós-Graduação - Faculdades Oswaldo Cruz. Sócio-diretor da EssecomZ Comunicação e Marketing, agência especializada em ações diferenciadas de marketing. gerenciamento estratégico da marca – está se sedimentando. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 31 ARTE & TÉCNICA, COMPANHIA ILIMITADA Por FLÁVIO AGUIAR Quando falamos de arte e de técnica, imaginamos primeiro dois mundos opostos, o primeiro nos píncaros da criatividade e o segundo nas planícies dos misteres cotidianos. Ao invés dessa oposição, uma imagem mais coerente seria a de se ver neles uma complementaridade: um não existe sem o outro. Que arte não existe sem técnica, é mais fácil de se imaginar, 32 Mas essa aparelhagem, por mais sofisticada que seja, é do que o contrário. É fácil imaginar que um pintor deva domi- apenas o vestíbulo da técnica, o prefácio do que realmente nar técnicas de pintura, ou que um escultor, de escultura. importa. Porque a técnica não é um artefato, uma coisa, um É fácil também imaginar que um ator deva dominar técnicas objeto; a técnica é uma aptidão corporal, e isso inclui a mente, de respiração, e que um poeta será tanto melhor quanto mais o espírito, a alma, os neurônios ou seja como se quiser técnicas de versificação dominar, até para poder quebrá-las denominar esse mistério de pensarmos, desejarmos, odiarmos, criativamente. assim tudo ao mesmo tempo. Já que uma técnica exige uma prática artística, é bem mais O contato com a tecnologia pode nos levar ao conheci- difícil de se conceber. Para isso é preciso entrar mais fundo mento de um aparelho, por exemplo, no limite de como no conceito do que seja uma técnica. Normalmente, con- ligá-lo, desligá-lo e torná-lo apto para os nossos fins. É uma funde-se o conceito de técnica com o de tecnologia: uma questão de treinamento, de aprendizado passivo (e neces- série de dispositivos materiais que possibilitam e facilitam sário, pois para mexermos num aparelho é melhor ler o a realização de operações que potencializam a percepção manual antes) e depois de reciclagem. A técnica depende de nossos sentidos e a velocidade de nossas ações. da construção de um saber, e um saber, que é uma intro- MAR/ABR/MAI' 2005 jeção do conhecimento no corpo, só se constrói de duas maneiras: por experimentação e erro; ou por imitação criativa (vendo fazer, o que inclui, por exemplo, ler sobre a experiência alheia). Ao contrário do que se pensa vulgarmente, a imitação é um ato criativo, distinto da cópia. O mau ator copia; o bom ator imita. O que ele imita? O gesto, isto é, ele “cita” o gesto que aprendeu observando a vida e o próprio teatro –- o sujeito atrapalhado e distraído que quer atravessar a rua, por exemplo –- num contexto que ele, ator, cria para si mesmo no palco. Portanto, para aprender e dominar uma técnica, é necessário recriá-la, não copiar simplesmente o que se viu, ou o que se leu, e aí já estamos nos domínios da arte. É claro que há artes mais valorizadas do que outras; aí entramos num domínio em que jogam tradições pertinentes e preconceitos impertinentes que funcionam de acordo com cada contexto histórico. Veremos mais comumente uma exposição de grandes pintores do passado ou do presente do que uma exposição de câmaras de ar e pneus bem remendados; entretanto, embora a técnica de um pintor seja bem mais complexa do que a de um borracheiro, a natureza conceitual de ambos os afazeres humanos é a mesma. E convenhamos: é mais digno ser um bom borracheiro, que procura dominar com afinco a técnica necessária ao seu trabalho, do que um mau pintor, que só copie As meninas Li Zhaofang (à esq.), e Huang Wen, descendentes de chineses, visitam a exposição de arte chinesa na Faap. o que outros já fizeram, com o único propósito de “agradar (São Paulo, SP, 14.08.2002. Foto: Maurício Piffer/Folha Imagem.) à moda do dia”. Por vezes nos deixamos maravilhar ou horrorizar perante o mundo da tecnologia, esquecendo que este só existe por causa das técnicas que possibilitaram suas criações. Vemos manifestações carregadas de desprezo pelas “novidades”, só reconhecendo valor no antigo. Eu mesmo sou um pouco assim. Sou capaz de idolatrar uma caneta tinteiro e sempre olho de soslaio para o meu computador, sabendo que esta geringonça pode me aprontar alguma, além de ficar me dando ordens, como “é melhor escrever assim”, ou marcando com tracinhos verdes ou vermelhos o que considero São pensamentos desfocados, na verdade, o meu e o dele, pois perdem de vista esta questão conceitual, a de que a técnica supõe a arte; a arte, como uma das manifestações mais sofisticadas do espírito humano, supõe o saber das técnicas. O restante –- os fantasmas ou a idolatria das tecnologias –- são os pesadelos ou as ilusões que nós mesmos, os humanos, podemos criar para nos afligir ou nos embalar entre os escombros dos nossos sonhos. Arte e técnica são outra coisa, são do reino da liberdade. Juntas, formam uma companhia ilimitada… criações que tomaram madrugadas de pensamento. Mas… meu vizinho de sala, na universidade, é o oposto. Para ele, só existe o que cabe no computador, e o que não está disponível na internet não tem qualquer valor. Acha que os livros estão condenados, que o jornal é obsoleto, e que a máquina de escrever e tudo o mais foram meros intermediários entre o cinzel e o martelo com que os primeiros Homos sapiens gravavam na rocha e o DVD ou o chip de FLÁVIO AGUIAR [email protected] Professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo Autor do romance Anita (São Paulo: Boitempo, 1999), Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro de 2000. compressão, pois até o disquete já é coisa do paleozóico. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 33 34 MAR/ABR/MAI' 2005 LICENCIAMENTO AMBIENTAL: O GRANDE GARGALO Por ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO Precisamos crescer, e a par das dificuldades tributárias, financeiras e tecnológicas, que chamamos de “custo Brasil”, nos deparamos com a dificuldade, algumas vezes intransponível, do licenciamento ambiental, que, devido à complexidade que assumiu, inviabiliza a pequena e média empresa que deseja se instalar ou se expandir no Estado de São Paulo. Para que possamos entender a complexidade do problema, vamos rememorar as causas desta complexidade. A questão ambiental tomou vulto, entre nós, na década de 1970, durante os chamados anos de chumbo, decorrentes do golpe militar. sentado pelo então ministro do Interior, o coronel José Costa Cavalcante, que em seu discurso afirmou: “O Brasil pode se tornar importador de poluição [...], nós ainda temos o que poluir, eles não”. E acrescentou: “Venham poluir no Brasil”, esperando com isso atrair novos investidores. As primeiras manifestações populares visavam mais o viés da A repercussão negativa dessa posição levou o governo saúde pública e do saneamento do que a questão ambiental pro- brasileiro a promulgar, no ano seguinte, o Decreto Federal priamente dita, como nós a encaramos hoje. nº 73.030, de 30 de outubro de 1973, que criou a Secretaria No início da década de 1960, a região do ABC, na Grande São Paulo, começou a apresentar os sintomas de uma grande crise ambiental, mas as pessoas e o Estado a tratavam como uma questão de saúde pública e de saneamento. Inicialmente os prefeitos do ABC se uniram na tentativa de encontrar uma solução local para os problemas decorrentes da expansão industrial e do adensamento populacional a que estavam sujeitos pelo acelerado desenvolvimento que ocorria nestas cidades, em razão da infra-estrutura que possuíam. Especial do Meio Ambiente – SEMA, ligada ao Ministério do Interior, e propagandeada como um dos programas de impacto do governo Médici. A questão ambiental nascia, portanto, como assunto federal, mas as conseqüências dos malefícios causados pela poluição continuaram sendo municipais. Em meados de julho de 1975, moradores do bairro Campestre, na divisa de Santo André com Mauá, abandonaram as suas residências em pânico, numa evacuação espontânea, devido a um vazamento de amônia em uma fábrica de fertilizantes. O País iniciou um novo processo de desenvolvimento, que foi chamado de “Milagre Brasileiro”, e continuamos a Ainda naquele mês de julho de 1975, donas de casa de crescer sem que criássemos as condições de sustentabili- classe média, no bairro da Pompéia, jogaram pedras nos dade necessárias para aquele adensamento industrial e portões de uma indústria, em protesto contra o mau cheiro populacional. e a fumaça preta exalada por ela. As iniciativas de regulamentação no Estado de São Paulo Começava a se articular um movimento generalizado de foram realizadas no âmbito do DAEE ou da Secretaria da protesto contra a poluição industrial. Em Perus, a fábrica de Saúde, pois se entendia que o assunto era de saneamento cimento do grupo J.J. Abdalla foi cercada por uma mani- básico e de saúde pública. festação pública contra a poluição causada pelas suas cha- No início dos anos 70, mais precisamente em 1972, o minés, que lançavam cimento sobre as residências. Brasil compareceu à primeira Conferência das Nações Unidas Em Porto Alegre, a população se revoltou contra a fábrica sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, repre- de papel Borregard, por lançar lixívia negra in natura, resulFUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 35 tante da fabricação de celulose, no rio Guaíba, causando tituinte, retiramos de nossa legislação o que chamávamos significativos impactos ambientais. de entulho autoritário, no tocante às liberdades individuais, Foi neste clima que o prefeito da cidade de Contagem, Nilton Cardoso, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, decretou o fechamento da Cia. de Cimento Portland Itaú, por poluir o ar com o lançamento de cimento por suas cha- tes em todos os níveis, mas não alteramos uma linha sequer de toda legislação autoritária gerada pelo regime militar em relação ao meio ambiente. minés. Isso levou o presidente Ernesto Geisel a promulgar Continuamos entendendo que o município não tem o Decreto-lei nº 1.413, de 13 de agosto de 1975, proibindo competência nem capacidade para licenciar empreendi- a atuação dos municípios na questão ambiental, transfor- mentos industriais de impacto local, apesar de a atual Cons- mando-o em um assunto de Segurança Nacional, a ser tra- tituição dizer textualmente que o município tem a capaci- tado pela Presidência da República. dade concorrente de licenciar os empreendimentos de Desde então as questões ambientais passaram a ser as- impacto local, que são a grande maioria dos empreendi- sunto de “Segurança Nacional”, portanto de âmbito federal, mentos industriais. Mas, pela inércia, continua cabendo ao a ser tratado pela União e no máximo pelos Estados. Estado, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e da A criação da CETESB em 1976 se dá dentro desta visão, CETESB, proceder a este licenciamento. a de que a questão ambiental era assunto de âmbito federal O empreendimento se instala na área física do município, ou, no máximo, estadual, que viria a ser a grande referência a poluição que por ventura emita é sentida no município, para todo o País. o desconforto causado à população acontece no município, O Estado assume a capacidade de licenciar e as prerrogativas de comando e controle, típicas dos comandos militares, sendo a CETESB o órgão autorizado a permitir o fun- só que ao município é negada a capacidade de licenciar e fiscalizar o funcionamento desta instalação industrial. É preciso que o Estado o faça. cionamento, a aplicar multas pelo mau funcionamento e a O grande argumento que se apresenta para a manutenção determinar o encerramento das atividades de um estabe- deste quadro é o fato de o município não ter quadros téc- lecimento industrial no Estado de São Paulo, criando a cul- nicos capacitados a fazê-lo, e pergunta-se: para que o muni- tura de que o município não tem competência ou capaci- cípio teria quadro técnico se não pode licenciar? dade para atuar nesta área. Em 1981, devido à impossibilidade de contrairmos em- Estamos diante da grande indagação filosófica: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? préstimos nos organismos financeiros internacionais, que O município de São Paulo, por iniciativa do então exigiam que o País elaborasse uma legislação ambiental, o prefeito Paulo Maluf, inspirado pelo engenheiro Werner então presidente da República, João Figueiredo, que viria Zullauf, que foi presidente da CETESB no governo Franco a ser o último dos militares na presidência do País, envia Montoro, criou na capital a Secretaria do Verde e do Meio e o Congresso Nacional aprova a mais restritiva lei ambi- Ambiente, mas talvez devido ao fato de ser oposição ao ental até então existente, que recebe o nº 6.938, de 31 de governo do Estado – quando Maluf foi prefeito era gover- agosto de 1981, que “dispõe sobre a Política Nacional do nador Mario Covas –, não foi possível se iniciar o processo Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e de licenciamento ambiental municipal. Não que existissem aplicação, e dá outras providências”. impedimentos legais para que a prefeitura o fizesse, mas por- Estava criada uma legislação que federalizou o licenciamento ambiental entre nós, permitindo, desde que obedecidas as condições criadas no CONAMA, que o licenciamento fosse efetuado no âmbito estadual. 36 readquirimos a capacidade de eleger os nossos governan- que se entendia que o município não tinha “capacidade” de fazê-lo. Em seguida, foi eleito o prefeito Celso Pitta, do mesmo partido de Maluf, continuando em oposição ao governo do O tempo passou, retornamos ao Estado de Direito, tivemos Estado, para depois ser eleita prefeita Marta Suplicy, do PT, as Diretas Já, implantamos a Assembléia Nacional Cons- também de oposição ao governo do Estado. Nenhum deles MAR/ABR/MAI' 2005 conseguiu implantar o licenciamento ambiental municipal, deste ano, uma proposta para regulamentação do Artigo 23 apesar de ter todas as condições técnicas e legais para isso. da Constituição, o que melhor definiria as competências da Neste momento temos no comando da prefeitura da capital José Serra, que é do mesmo partido do governador do Estado, sendo esta, portanto, a grande oportunidade de União, dos Estados e dos Municípios na área ambiental e ajudaria a evitar sombreamentos e disputas jurídicas e institucionais na área de licenciamento. restabelecer a autonomia municipal e São Paulo iniciar o O anúncio foi feito pelo secretário-executivo do MMA, processo de licenciamento ambiental municipal para os em- Cláudio Langone, durante a 8ª Marcha dos Prefeitos, em Bra- preendimentos de impacto local, que são a grande maioria sília. O programa nacional de capacitação levará informações dos projetos industriais de médio e pequeno porte. sobre legislação e estruturação do setor de meio ambiente Como fazer? a municípios de pelo menos 18 Estados até o fim do ano. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, já criou a Secre- O objetivo é fazer com que os municípios assumam cada taria do Verde e do Meio Ambiente. Precisa criar o Conselho vez mais responsabilidades, fiscalizando e licenciando empre- de Meio Ambiente e simplesmente iniciar o processo de licen- endimentos considerados de impacto local e contribuindo ciamento industrial municipal, pois não existe na Constitui- para aliviar a pressão sobre os governos estadual e federal. ção Federal ou na Estadual qualquer artigo que proíba o Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul emitem mais município de licenciar empreendimentos industriais dentro de 15 mil licenças por ano e, segundo estimativas do MMA, de sua área territorial cujo impacto seja local, o que que- seis em cada dez dessas licenças poderiam ficar a cargo braria a inércia e faria os prefeitos tomarem a iniciativa de dos municípios. proceder ao licenciamento de impacto local. Oficinas mecânicas, suinocultura de pequeno porte e até Quanto à inexistência de quadros técnicos, contratam-se pequenas empresas poderiam ser licenciadas e fiscalizadas consultores para realizar a análise dos processos até poder por órgãos municipais, mantendo os recursos arrecadados admitir os técnicos necessários, nos mesmos moldes que a nas prefeituras. Secretaria de Meio Ambiente do Estado o faz quando tem de analisar um projeto que o seu corpo técnico não está capacitado a fazê-lo. Esta é a posição defendida pelo Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do CIESP, fruto de um acompanhamento exaustivo desta questão. O que falta é a vontade política de fazer e simplesmente pôr em prática um direito que é assegurado aos municípios, e que irá desafogar sobremaneira a Secretaria do Meio Ambiente Estadual e a CETESB, que ficarão encarregadas dos assuntos que forem estaduais e que envolvam mais de um município, que são poucos e que têm maior complexidade. A iniciativa também atende às prioridades definidas na 1ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, realizada em 2003, quando ficou clara a necessidade de mais investimentos nos municípios. O mais grave na questão ambiental em nosso Estado é que a cada governo, novas normas são criadas sem que o legislador tenha o cuidado de revogar as disposições em contrário, criando um acúmulo de obrigações que na maioria das vezes tem pouco ou nada a ver com a preservação do meio ambiente e muito do cumprimento do rito processual burocrático em prejuízo de todos, assegurando vida longa para a burocracia. Parece ser também a posição do Ministério do Meio Ambiente quando afirma que o licenciamento será mais rápido e mais barato com a descentralização. O órgão pretende lançar, em abril, um programa nacional para capacitar gestores, conselheiros e vereadores municipais em questões relativas ao meio ambiente. Além disso, o MMA – Ministério do Meio Ambiente pre- ROMILDO DE OLIVEIRA CAMPELO [email protected] Bacharel em Direito, Diretor Titular Adjunto do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentado do CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, e Diretor da RAS do Brasil Consultores Associados Ltda. tende enviar ao Congresso Nacional, no primeiro semestre FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 37 HISTÓRIA, MATEMÁTICA E INFORMAÇÃO: A TRILOGIA DA COMPETIÇÃO Muitos segmentos estão sofrendo conseqüências bastante fortes, decorrentes da oscilação econômica e dos índices de crescimento instáveis. A análise dos indicadores socioeconômicos de uma nação leva à avaliação das condições de renda, emprego e taxa de juros para crediário e financiamento, uma vez que essas variáveis agem consideravelmente para a determinação de intenções de compra e restrição orçamentária, oferecendo condições à avaliação da disposição de endividamento por que podem passar os consumidores. Por PROF. LUIZ PAULO LOPES FÁVERO O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, visto através de monitor, durante o 1º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo (SP). (São Paulo, SP, 13.09.2004. Foto: Sérgio Zacchi/Folha Imagem) 38 É justamente na modalidade de compra planejada que a estabilidade nos patamares de renda e emprego, a compra possibilidade de elaboração de um financiamento se faz de bens duráveis passa para uma condição delicada, já que necessária, quando se disponibiliza parte dos recursos qualquer incentivo ao crédito pode representar um risco à provenientes da renda para a sua efetuação. Porém, com inadimplência, já que os recursos disponíveis são alocados MAR/ABR/MAI' 2005 em aquisição de bens não duráveis, como aqueles destina- Não se pode deixar de abordar os aspectos relacionados dos à alimentação e à higiene e limpeza. Ademais, as à utilização de tecnologia para a otimização dos processos. próprias taxas de juros inibem o consumo, uma vez que, A integração de cadeias e as ferramentas de leitura por para alguns segmentos de bens duráveis, ultrapassam os radiofreqüência têm sido cada vez mais freqüentes nos 100% ao ano para o consumidor final. processos organizacionais e operacionais, gerando performances mais otimizadas e controladas nos meios de Desta forma, o que resta aos players atuantes no merca- produção e distribuição. Atualmente, os fluxos de produ- do? Entrar em uma “guerra” de preços com muitos dos con- tos, de informações e financeiros, ao longo de uma cadeia, correntes, no sentido de oferecer preços cada vez menores, têm se dado de maneira cada vez mais rápida e eficiente, muitas vezes abaixo do custo? Na verdade, é a combinação e o incremento de técnicas computacionais, aliadas a sis- de atributos que faz com que as vendas possam ser alavan- temas integrados, tem permitido a gestão de interfaces cadas e os índices de conversão majorados. A diferenci- logísticas em um processo produtivo, até a efetiva compra ação aparece neste contexto de análise da competitividade, por parte do consumidor no varejo. É a partir desses con- uma vez que muitos questionamentos têm sido feitos em ceitos que surge o que é chamado de CPFR (collaborative, relação à existência freqüente de commodities, o que torna planning, forecasting, replenishment), que representa uma a escolha, por parte dos consumidores, definida única e visão global da criação de soluções para varejistas, dis- exclusivamente por preço. A inclusão de atributos, ou até tribuidores, fornecedores e fabricantes que reduzem os mesmo de “pacotes” de atributos, na oferta torna possível custos totais da cadeia. a diferenciação de um produto ou serviço que inicialmente era tido como ausente de características que agregassem Desta forma percebe-se que a preocupação com o valor. Na realidade, o que deve ser explorada é a per- aumento de competitividade não deve ser abordada de cepção do consumidor em relação ao que o mesmo forma isolada ou simplista. A existência de diversas vari- entende por satisfação, ainda que, se perguntado, não con- áveis e a possibilidade de inúmeras ações podem gerar siga detectar certos estímulos, muitas vezes provenientes fatores de sucesso para os membros de uma cadeia, em de aspectos cognitivos e sensoriais. função do ambiente em que estão inseridos, porém a adoção de práticas utilizadas em condições geográfica ou Desta forma, a adoção de critérios que conduzam à ela- temporalmente distintas das vigentes pode conduzir cada boração perene de pesquisas pode oferecer subsídios à cri- empresa, isoladamente, a situações inesperadas ou até ação de séries históricas que contenham dados plausíveis mesmo indesejadas. de ser tratados, com vistas à geração de informação que pode representar uma prática inestimável em um país ca- A diferenciação competitiva não pode ser adquirida rente de séries confiáveis. A própria história organizacional única e exclusivamente por meio dos produtos ou serviços se perde com altos índices de turnover. disponibilizados. A utilização de séries históricas e temporais, a aplicação de matemática adequada ao tratamento de Ainda em relação à provisão de dados confiáveis que previsão, tendência e verificação, e a avaliação dos proces- sejam adquiridos por meio de investimentos conscientes sos informacionais são instrumentos que podem, compro- em pesquisas estruturadas, o tratamento desses dados e as vadamente, representar o grande diferencial competitivo respectivas modelagens, por meio de métodos econométri- dos players atuantes. Talvez seja esta a passagem da era da cos estatísticos e multivariados, podem oferecer subsídio à informação para a era do conhecimento. tomada de decisão muitas vezes inexistente nas práticas comuns de gestão. A própria ancoragem dos agentes econômicos em variáveis publicadas que não representam essencialmente os reais impactos gerados no consumo pode fazer com que este se comporte às avessas do esperado, demonstrando a verdadeira importância das informações divulgadas e explicitando a diferenciação adquirida quando se consegue detectar tais comportamentos por PROF. LUIZ PAULO LOPES FÁVERO [email protected] Professor e Coordenador de Cursos, Pesquisas e Consultoria do Provar – Programa de Administração de Varejo da FIA - Fundação Instituto de Administração. Sócio-Diretor da Canal Varejo. meio da utilização das técnicas mencionadas. FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 39 IMPACTO DO CUSTO DA LOGÍSTICA NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS É de grande importância para o Brasil participar de forma crescente e acelerada no comércio internacional, como forma de reduzir a vulnerabilidade de sua economia e melhorar sua posição competitiva e estratégica Por MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS frente ao mundo. Esse fato, associado ao amadurecimento do empresariado brasileiro, causado principalmente pela concorrência extrema a que foi exposto, a partir da abertura comercial realizada no início da década de 1990, durante o governo Collor, trouxe um significativo aumento da conscientização da nação sobre a necessidade de organização coletiva para o crescimento da participação do País no comércio mundial. As Figuras 1, 2 e 3 (Fonte - Secex – Secretaria de Comércio Exterior do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), mostram, para o período 1950/2004, respectivamente as exportações, importações e o saldo comercial, (exportações menos importações) em dólares americanos (Figura 1), a corrente de comércio (exportações mais importações), em dólares americanos (Figura 2) e o valor porcentual das exportações e importações brasileiras, com relação às exportações mundiais (Figura 3). Desses dados, é possível observar que, a partir do início da década de 1970, houve um substancial crescimento do comércio exterior brasileiro, seguindo a tendência mundial, conforme a Figura 4 (Fonte - Secex – Secretaria de Comércio Exterior do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Além disso, nota-se que o saldo comercial foi negativo nos períodos 1974/ 1982 e 1995/2001, altamente positivo no período 1982/1995 e crescentemente positivo no período 2001/2004, tendo atingido em 2004 o recorde de 33,7 bilhões de dólares americanos. Da Figura 3, observa-se que, apesar do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro representar cerca de 1,5% do PIB mundial, sua participação no comércio internacional está, ainda, aquém das necessidades e do potencial do país e da velocidade de crescimento do comércio mundial. Na realidade, há um decréscimo sistemático relativo ao comércio mundial e, somente a partir de 1999, quando a participação das exportações brasileiras nas exportações mundiais era de 40 Trecho da estrada BR-153, em condições precárias, em São José do Rio Preto, no noroeste de São Paulo. 0,85%, houve um crescimento sistemático que permitiu atin- (São Paulo, 30.01.2004. Foto de Pierre Duarte/Folha Imagem) gir 1,1% em 2004. As importações, por sua vez, começaram MAR/ABR/MAI' 2005 Figura 1 Exportações, importações e saldo comercial brasileiros entre 1950 e 2004. 100 90 80 70 US$ bilhões 60 50 40 30 20 10 0 -10 Exportação Importação 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1988 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1958 1953 1950 -20 Saldo Comercial Figura 2 Corrente de comércio brasileira entre 1950 e 2004. 180 160 Contêiner sendo transportado no porto de Santos (SP). 140 (Santos, SP, 29.07.2004. Foto Jorge Araujo/Folha Imagem) US$ bilhões 120 100 80 60 a crescer somente a partir de 2004, atingindo naquele ano 40 cerca de 0,7% das exportações mundiais. 20 É óbvio que o grande esforço do país foca-se nas expor- 0 tações, mas as importações devem também acontecer, porque o comércio é uma via de duas mãos e porque no merFigura 3 cado globalizado busca-se comprar de quem oferece as Valor porcentual das exportações e importações brasileiras, com relação às exportações mundiais entre 1950 e 2004. melhores condições. 2,6 2,4 É sabido que a grande contribuição para o crescimento Participação % frente ao Mundo 2,2 das exportações brasileiras é proveniente do agronegócio, 2,0 1,8 muito embora haja também um crescimento, ainda que 1,6 modesto, das exportações de produtos de maior valor 1,4 1,2 agregado. O Brasil tem uma vocação nata de ser um 1,0 0,8 grande exportador de commodities, fato que não pode ser 0,6 ignorado, nem combatido, mas a exportação de produtos 0,2 Exportação 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1988 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1958 1953 1950 0,0 Importação de maior valor agregado é uma necessidade imperativa, pois nesse caso a lucratividade das exportações é substancialmente maior. Na realidade, uma combinação mais equilibra- Figura 4 da entre produtos de baixo e alto valor agregado é o desejável. Exportações Mundiais entre 1950 e 2004. 9.000 Assim, fica claro que, apesar do Brasil ter seguido a 7.000 tendência mundial de crescimento das transações interna- 6.000 cionais nas últimas três décadas do século XX, há fatores 5.000 que impedem que essa evolução seja mais pujante, de 4.000 forma a permitir o crescimento da importância do país no 3.000 comércio mundial. Os principais fatores de “emperramento” 2.000 para o crescimento das exportações brasileiras podem ser 1.000 resumidos como segue: 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 0 1950 Exportações Mundiais (US$ bilhões) 8.000 FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 41 a) Deficiências de infra-estrutura, aí incluídas estradas, ferrovias, hidrovias interiores, portos e sistemas de armazenagem. Os principais motivos dessa deficiência são a falta de manutenção dos sistemas existentes e a falta de investimentos para ampliações ou para a implantação de novos sistemas. b) Frota de veículos rodoviários de carga com idade média excessiva, da ordem de 17,5 anos, sendo 76% dos veículos com idade superior a 10 anos, de acordo com a CNT – Confederação Nacional do Transporte, sendo 5 anos a idade média desejável. Este problema implica custos operacionais elevados e menor produtividade, e sua superação exigirá um grande esforço por parte dos proprietários de veículos rodoviários e dos diversos níveis de governo. c) Frotas insuficientes de veículos ferroviários, fluviais e marítimos. Esse fato, associado às citadas deficiências de infra-estrutura, acarreta o inevitável deslocamento de cargas de baixo valor agregado, transportadas a grandes distâncias, como a soja, para o transporte rodoviário, onerando de forma brutal os custos logísticos. d) Procedimentos que constituem gargalos para as exportações, que foram alvo do Estudo sobre a Competitividade Global da Empresa Brasileira na Dimensão Tempo, desenvolvido pelo autor deste artigo e por seu colega, prof. Claude Machline, em 1999. O referido estudo identificou cerca de cem gargalos que dificultam o desenvolvimento eficaz das exportações, os quais têm grande impacto nos tempos envolvidos no processo logístico, parâmetro essencial para a competitividade global na atualidade. Essa longa lista de dificuldades traz claramente um expres- Há ainda dois outros aspectos que devem ser, também, sivo crescimento dos custos e dos tempos logísticos envolvidos, considerados para melhorar o desempenho do país nas baixando a competitividade dos produtos brasileiros no exte- exportações: rior pelo ônus direto nos preços e pela dificuldade, ou quase impossibilidade, para o atendimento aos prazos de contrato, num momento da história em que precisão no tempo é um • necessidade das empresas brasileiras desenvolverem, em importante instrumento de serviço ao cliente. muito maior volume e velocidade, produtos de qualidade mundial, de forma a aumentar a sua penetração de mercado; • agregação de valor às commodities, dentro do possível, de forma a aumentar o valor agregado das mesmas, como é o exemplo do café, que, na grande maioria, é exportado cru. MANOEL DE ANDRADE E SILVA REIS [email protected] Engenheiro naval, mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP e Ph.D pelo Massachusetts Institute of Technology - MIT – EUA. Manifestação de caminhoneiros interdita pedágio na BR-277, em São Luiz do Purunã, distrito de Balsa Nova (PR). O motivo do protesto é o alto valor das tarifas do pedágio.(Balsa Nova, PR, 02.12.2002. Foto de Jonas Oliveira/Folha Imagem) 42 MAR/ABR/MAI' 2005 É professor de Logística e coordenador do CELog – Centro de Excelência em Logística e Cadeias de Suprimentos na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e sócio-diretor da Mare Logística SUGESTÃO DE LEITURA TENTANDO DESVENDAR O ENIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Monstrengo enviado para punir o povo de Tebas por ter afrontado os deuses, a Esfinge tinha cabeça e seios de mulher, corpo e patas de leoa, e asas de águia. Instalada às portas da cidade, ela exigia que seus melhores jovens a enfrentassem. Todos eram impiedosamente trucidados porque não conseguiam responder ao enigma que ela lhes propunha. A desgraça só terminou quando apareceu um esperto rapaz, vindo de Corinto, chamado Édipo. Ele matou a charada, provocando o suicídio da fera. O resto da lenda é bem conhecido. Pois bem, o “desenvolvimento sustentável” também é um enigma à espera de seu Édipo. Esta é a tese central do livro de José Eli da Veiga, Desenvolvimento sustentável - O desafio do século XXI. Em vez de aumentar a lista dos contorcionismos já tão banalizados nas diversas tentativas de promover um suposto "conceito" de desenvolvimento sustentável, este livro sugere que, por enquanto, ele é uma espécie de quadratura do círculo. Para dissecar essa controversa noção, o livro busca primeiro examinar separadamente os argumentos científicos disponíveis sobre seus dois componentes: o substantivo desenvolvimento e o adjetivo sustentável. Só depois, na terceira parte, procura interpretar o sentido histórico da junção política desses dois termos na formação do mágico binômio. Nada disso significa, portanto, que a noção tenha pouca utilidade. Ao contrário, deve ser entendida como um dos mais generosos ideais surgidos no século passado, só comparável talvez à bem mais antiga idéia de "justiça social". JOSÉ ELI DA VEIGA Editora Garamond São Paulo, 2004 200 páginas, R$ 30,00 SOBRE O AUTOR José Eli da Veiga é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), autor de Cidades Imaginárias (Ed. Autores Associados, 2002) e colunista do jornal Valor Econômico. Mais informações em http://www.econ.fea.usp.br/zeeli FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 43 AGENDA Eventos Mundiais em Gestão Tecnológica XI Seminário de Gestión Tecnológica Altec 2005 Asociación Latino-Iberoamericana de Gestión Tecnológica 25 a 28 de outubro de 2005 • Salvador, Brasil Prazo - 31 de maio de 2005: submissão de trabalhos completos Informações: http://www.fia.com.br/pgtusp/altec II Congreso Iberoamericano de Filosofía de la Ciencia y la Tecnología 26 a 30 de setembro de 2005 • Tenerife, Espanha Prazo - 30 de março de 2005: submissão de resumos Informações: http://www.ibercanarias.org PICMET 2005 Portland International Conference on Management of Engineering & Technology 31 de julho a 4 de agosto de 2005 • Portland, Estados Unidos Informações: http://www.picmet.org/conferences ou pelo e-mail [email protected] 5th Triple Helix Conference "The Capitalization of Knowledge: cognitive, economic, social & cultural aspects" 18 a 21 de maio de 2005 • Turim, Itália Informações: http://www.triplehelix5.com IAMOT 2005 14th International Conference on Management of Technology 22 a 26 de maio de 2005 • Viena, Áustria Informações: http://www.iamot.org IASP Latin American Conference on Science and Technology Parks, 2005 Tema principal: Tecnología e Innovación para la Generación de Riquezas 28 a 30 de junho de 2005 • Buenos Aires, Argentina Informações: http://www.iasplabsas2005.com.ar 14º Congresso Científico Internacional CNIC (Centro Nacional de Investigaciones Cientificas) Prazo - 31 de março de 2005: submissão de resumos 27 a 30 de junho de 2005 • Havana, Cuba Informações: http://www.loseventos.cu/seminariocnic2005 Seminário Internacional de Inovação Tecnológica no Nordeste (Centro Nacional de Investigaciones Cientificas) Prazo - 8 de abril de 2005: submissão de resumos 5 a 7 de julho de 2005 • Fortaleza, Brasil Informações: [email protected] XXII IASP World Conference on Science & Technology Parks, 2005 19 a 21 de setembro de 2005 • Beijing, China Informações: www.iaspbeijing2005.com Mais informações: [email protected] 44 MAR/ABR/MAI' 2005 FAT • FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino, pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas e das necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta soluções específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda. A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio ambiente, entre outras. • Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação • Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras • Concursos - Vestibular, Vestibulinhos e outros • Apoios a Eventos e Publicações www.fundatec.org.br [email protected] Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP 01123-001 Telefones: (11) 3313-1200 / 3315-9511/ 228-8373