ARMINIANISMO
E
METODISMO
Subsídio s para o estudo da
História das Doutrinas Cristãs
Jos é Gon çal ves Sal vad or
Junta Geral de Educação Cris tã
D A
IGREJA METODIS TA DO BRASIL
SÃO PAUL O
ÍNDICE
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - Como se constrói uma
grande nação
- A situação Política
- O fator Político Religioso
CAPÍTULO II - Tiago Armínio no Cenário
de sua Pátria
- Os primeiros anos
- O preparo Escolar
- Armínio no exercício do pastorado
- O Mestre e o Polemista
- O fim da Jornada
CAPÍTULO III - As doutrinas arminianas
- A respeito de Deus
- A predestinação
- O homem no conceito de Armínio
16
1/
Jo sé Go nça lv es Sal va do r
- O problema do pecado
- O decreto eterno de Deus
- A obra de Cristo
- O lugar da graça na salvação do homem
- A perseverança cristã
CAPÍTULO IV - Organização e difusão do
arminianismo
- O arminianismo nos Países -Baixos
- Introdução e desenvolviment o na
Inglaterra
- O impacto sobre o calvinismo francês
- O arminianismo na Alemanha e outros
países
- A influência do arminianismo na Filosofia,
no Direito, na Política e nas Missões
Evangélicas
CAPÍTULO V - A Gênese do arminianismo
wesleyano
- A situação da Igreja Anglicana
- A influência do casal Samuel e Susana
Wesley
- O valor da dedicação pessoal
- A contribuição de Aldersgate
- A controvérsia predestinista
- O contato com as idéias de Tiago Armínio.
CAPÍTULO VI - Arminianismo e Metodismo
.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo
- O espírito do metodismo
- Distinções doutrinárias:
a) O pecado original
b) A predestinação
c) A certeza da salvação
d) A justificação
e) A regeneração
f) A santificação
g) O conceito de Deus
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
PR EF ÁC IO
B is p o
César
Da c o r
so
Fi lh o
Li , c o m pr az er , o s o r ig in ai s de st e
l iv r in ho .
Por
di v e r so s
mo t iv o s.
P r im e ir o , po r q u e e sc r it o s po r u m
co m pa nh ei r o
de
mi n is t ér io ,
c u jo
cu rr i cu l u m v i t a e , v en c id o at é a q u i,
v en ho
ac o mp a nh a nd o
d es de
o
pr in c íp io . D ep o is , po r q u e f r u t o de
es f o r ço s co m q u e el e se m pr e v e nc e no s
em p r e en di me nt o s q u e t o m a a p ei t o , e
da pi e da de si nc e r a e pr o f u n da q u e,
co mo a pa ná g io d e se u s d ia s, el e cu l t iv a
em t er mo s es t r it am en t e ev an g él i c o s.
En f i m, po r q u e c a mp o cu l t u r al d e s u ma
im po r t ân c ia pa r a nó s, q u an do no s
co nf r o nt am o s c o m o di l em a d o “ si m o u
nã o ” , em f a c e do c o nv it e q u e o F il ho de
D eu s no s f a z, t o ca nt e à r e de nç ão ca mp o cu l t u r al q u e el e l av r a co m m u it a
p r u d ên ci a e ci r cu n sp e c çã o .
Ab r a ng em mu it o s âm b it o s q ue s e
pr e nd em ao m ag no pr o b l em a - e, na
T er r a, s o mo s o u n ão l i v r es pa r a a ce i t ar
a c ha ma d a d e J es u s Cr is t o p ar a o
Re in o d e D eu s, o u s e, na T e r r a,
es t a mo s
ou
nã o
su je it o s
a
pr e de t er m in is mo , co m r ef e r ê nc ia à
sa l v aç ão et e r n a.
A b as e q u e se v al e, em g r an de
ex t en sã o , o au t o r , é a p es s o a d e
Ar mí ni o e a co nt r o v é r s i a a q u e el a de u
ca u sa . P ar a i ss o , e l e s e f o i à G eo g r af ia ,
à Hi st ó r i a, ao s i m pe r at iv o s da l ó g i c a e
ao s l am p ej o s d as ar m as t er ç ad a s n as
ar e na s d a T eo l o g i a. Co nt u d o , se u
t r ab al ho é m u it o su ci n t o p ar a m at é r ia
t ão ex t en s a e mu i t o si mp l es pa r a t e ma
t ão co m p l ica do .
O au t o r f o i, no me u en t en de r , f el iz
em r es sa l t ar q u e nó s, m et o d is t as ,
av a nç am o s m ai s na do u t r i na do l i v r e
ar b ít r io ,
que
o
pr ó pr io
pa s t o r
N ee r l an d ês .
De
f at o
pr ec is a mo s
di st in g u ir W es l ey de A r m ín io .
N ão p o de m o s j am ai s n eg ar q u e D e u s
pr e de st i no u mu it as co is as p ar a c e r t as
es f e r a s da v id a h u m an a, s o b r et u do n o
cu r so d a s co i sa s m at er i ai s. A s si m ,
q u em n ão co me r e b eb er , h á d e
su cu m b ir , e q u e m , de g r an de al t u r a , se
l an ça r n o e sp aç o de sa r m a do de p ár a q u ed as , h á d e mo r r er ao t o ca r o
so l o .Iss o, par a não ref erir à ina lte rab ili dad e
dos gra nde s fen ôme nos fís ico s das est açõ es,
das lua s, das chuv as, dos rai os, em que qua se
não pod emo s inter fer ir, sen ão par a nos so
res gua rdo de seu s efe ito s. Assi m, de u De us
se u Fi lh o Un ig ên it o, pa ra qu e to do o qu e
ne le cr ê, nã o pe re ça, ma s te nh a a vi da
et er na . At é aí va i a pr ed es ti na çã o de De us .
To da vi a, co me r e be be r, co mo la nç ar-no s,
de gr an de al tu ra , ao es pa ço e, ai nd a, cr er
no Fi lh o Un ig ên it o, é at it ud e qu e de pe nd e
16
1/
Jo sé Go nça lv es Sal va do r
de nó s. E aq ui é qu e es ta no ss o li vr e
ar bí tr io , no ss a li be rd ad e, segu ido s de
nos sos
dev ere s
e
con seq üe nte s
res pon sab ili dades.
Ma s o qu e de du zi mo s da Bí bl ia , da ló gi ca
e da ex per iên cia, de aco rdo com o que acab o
de decl ara r, é que , no cam po pro pri amen te
mor al
e esp irit ual
(re lig ioso ),
somo s
sob era nam ent e liv res. Par a iss o a Pro vid ênci a
nos
do to u de in te li gê nc ia , ra zã o e
co ns ci ên ci a, qu e no s co nd uz em ao se ns o de
no ss os
de ve re s
e
co ns eq üe nt es
re sp on sa bi li da de s, tã o vi vo em to do s nó s.
Se m dú vi da , só at é on de ch eg a no ss o
en te nd im en to e co mp re en sã o da s co isas , e
não do que não ent end emo s e não
com pre end emo s, podemos dar conta, máxime
a uma justi ça perfei ta.
Fa to qu e le va al gu ma s pe ss oa s a se
em ba ra lh ar em
e se
con fun dir em na
con sid era ção das det erm ina çõe s div in as
( me l ho r do q u e p r ed es t in aç ão d iv i n a) , é
n ão
d is t in g uir em,
pre sci ência
de
pre des tin açã o. Na pre sci ênc ia divi na de
fu tu ra s de li be ra çõ es hu ma na s ex is te ,
ap en as , pre vi são e não exi st e qua lq uer
inf lu ênc ia s obr e el as, ao pa ss o qu e na
pr ed es ti na çã o di vi na ha ve ri a co mp ul sã o
.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo
sobre elas.
Fi na lm en te ,
é
ce rt o
qu e,
pe la
in te li gênc ia , ra zã o e con sci ênc ia, sen tim os
nos sos dev ere s e res pon sab ili dad e. Por tais
caminh os Deus nos ajuda com maior
ilumin ação de seu Espíri to. Entret anto, não nos
força a qualqu er decisã o. Daí dec or re qu e,
pa ss an do do s li mi te s da co nvi cçã o pa ra o
te rr en o do "s er ou nã o se r" , nós no s
enco nt ra mo s, po r ef ei to de um a le i
in co er cí ve l, na de pe ndência de nós mesmos,
isto é, na necessidade de praticar no ss as
próp ri as vo li çõ es. De ma is a ma is , sa be mo s,
de sob ejo , que , se ta l con di ção não fo sse a
do ser hum ano , nã o ha ve ri a pa ra el e
ne nh um se nt id o na do r da cu lp a, na ale gri a
do bem que fez , com o, de res to, nas
dec lar ações da justi ça.
Ag ra de ço ao Re v. Jo se Go nç al ve s
Sa lv ad or o pr iv ilé gi o de fa ze r es te br ev e
exór di o a se u tr ab al ho . Co m el e mu it o me
co ng ra tu lo à vi st a da co nt ri bui çã o qu e
traz, com seu livrin ho, à litera tura relig iosa em
portu guês.
I N T R O D U Ç Ã O
J o s é G o n ç a l ve s S a l va d o r
Es te li vr in ho, an te s de tu do , é ur na
sa ti sf aç ão a pe di do s qu e am ig os me
di ri gi ra m há te mp os , so li ci ta nd o pa ra
esc rev er alg um a coi sa a re spe ito das
rel açõ es ent re a Igreja Metodi sta e o
armini anismo . Em suas missiv as la men ta va m
el es hav er em no sso mei o de sco nh eci men to
quase total da histó ria e das doutri nas do
sistem a teológic o, ori gin ado com Tia go
Arm íni o, na Hol and a, em fin s do sé cu lo
XV I e, de ig ua l fo rm a, da s af in id ad es do
me tod ism o we sl ey ano com o me smo , a
pon to de se at rib ui r a amb os afi rm açõ es
que não lhe s são pec ul iar es.
Pus -me, en tã o, a ob se rv ar . Co nv er se i
co m de ze na s de pe ss oa s, arrola das numa
porção de denomi nações evangé licas, e
tam bém
li
jor na is
e
rev ist as.
Em
det erm ina do art ig o che ga va- se a di ze r qu e
o me to di sm o nã o dá im po rt ân ci a à gr aç a
de De us , qu e o ar min ia ni sm o é ep is co pa l, e
se nd o a Ig re ja Me to di st a ep is co pa l e
ar mi ni an a, ip so fa to , é um sistema papal.
Ora , ta is dec lara çõe s não con di zem com a
ver da de
e
só
re ve la m
la me nt áv el
ig no râ nc ia . A do ut ri na da gr aç a é
fu nd am en ta l em to do o me to di sm o. E
qu an to ao pr eten did o epi sco pal ism o, bas ta
esc lar ece r que o met odi smo in gl ês , fr ut o
di re to de Jo ão We sl ey , nã o é ep is co pa l.
Dev o le mbrar , ai nda , qu e o arm ini ani smo
hol and ês ado tou como forma de govern o
eclesi ástico o sistem a presb iter iano.
Minh as obser vaçõ es acab aram por dar
razã o aos meus am ig os mi ss iv is ta s, le va nd o me a es cr ev er as no ta s qu e id es le r. Tr at a se de tr ab al ho si mp le s, se m pr op ós it os de
eru diç ão; coi sa que nem de lev e pos suo .
Qui s tor ná-lo ace ssí vel ao mai or nú mer o de
pes soa s, par a, as sim , pre s ta r me lh or
se rv iç o. Li mi te i- me a me ia dú zi a de
pá gi na s sobre cada capítulo, ou pouco mais,
quando poderia escre ver cent ena s. Se me
apr ofu nda sse
no
est udo ,
far ia
obr a
vo lu mo sa , de ma io r cu st o e de int er ess e,
ta lv ez , só pa ra um a pe qu en a el it e. Em
to do ca so , as pi ca da s fi c am abertas.
Fa ço , no pr im ei ro ca pí tu lo , um a br ev e
an ál is e
da s
condi ções
geogr áficas ,
econôm icas, socia is, políti cas e re li gi os as do s
Pa ís es -Ba ix os no in íc io do s te mp os
16
1/
Jo sé Go nça lv es Sal va do r
mo de rn os , po is de ve mo s co nh ec er o
ce ná ri o on de os fa to s se pro ces sam e ond e
os ato res des emp enh am seu s pap éis . É
imp oss íve l a His tór ia sem a Geo gra fia . A
Hol and a, por exemplo, não se explica
independentemente do Mar do Nor te. Mes mo
as idé ias soc iai s, pol íti cas e rel igi osa s têm
no tá ve l re la çã o co m o ha bi ta t, ou se ja , o
am bi en te no se u ma is am pl o se nt id o. E
is to
ta mb ém
ex pl ic a
po rq ue
o
ar mi ni an is mo ge rm in ou on de o ca lv in ism o
já se ha vi a rad ica do. A épo ca exi gi a mai or
com pre ens ão do ho mem . A Re na sc en ça , os
se gu id or es de Du ns Sc ot us , fr an ci sc anos
em sua mai ori a, os arm ini ano s e out ros ,
tod os pug na vam por sua valorização.
No segund o capítu lo aparec e o vulto
inconf undív el de Ar mí ni o, qu e é fi gu ra
ce nt ra l no es tu do em ap re ço , para, então ,
no capítu lo seguin te, verifi carmos quais as
ca us as de su as id éi as e qu ai s as su as
co nc ep çõ es do ut ri ná ri as .
Já o ca pí tu lo IV é um el o na ca de ia da
ex po si çã o es ta be le ce nd o um a po nt e en tr e
o ar mi ni an ism o e o me to di sm o, e ne le se
di rá da or ga ni za çã o e ex pa ns ão do
ar mi ni an is mo . Co nv ém ob se rv ar , aí , a
in fl uê nc ia
qu e
aq ue le
ex er ce u
no
.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo
pe ns am en to da ép oc a, pr im ei ro na Europa
e, depois, na América do Norte.
Os
do is
úl ti mo s
ca pí tu lo s
sã o
de di ca do s ao me to dis mo . At ra vé s de le s
pr oc ur ar ei mo st ra r co mo o ar mi ni an is mo
we sl ey an o se or ig in ou e se de se nv ol ve u,
se m con tac to dir eto com o arm ini ani smo do
teó log o hol and ês, e ma is , qu e em mui to s
po nt os se dif er en ci a do me sm o e se lh e
av an ta ja . Ce rt as do ut ri na s, de qu e o
ar mi ni an is mo ne m se qu er co gi to u e, se o
fe z, de ix ou -as em pl an o secundário, ocupam
lugar saliente no metodismo.
Os pre za dos le ito res iri am ad mir ar- se ,
co m cert ez a, das ref erê nci as que , a cad a
pas so, sur gir ão ao cal vin ism o. Ma s de sd e já
os pr ev en im os . Se ri a di fí ci l mo st ra r a
gênese do armini anismo holan dês e a sua
nature za sem re co rr er ao si st em a qu e lh e
de u ca us a. En fa ti za va -se ta nt o a so be ra ni a
ab so lu ta e ir re st ri ta de De us , em co mpl et a
ne gl ig ên ci a do ho me m, qu e a re aç ão te ri a
de su rg ir . Co mo di ri a He ge l, a te se
or ig in ou a an tí te se e, de am ba s, re su lt ou
a sí nt es e. No me u en te nd er , o me to dismo
representa a síntese, porque soube valer-se das
mais justas e melho res concep ções, quer do
calvin ismo
quer
do
ar mi ni an is mo .
En tr et an to , nã o é um a co is a e ne m outra.
O
metod ismo
tem
a
sua
própr ia
indivi duali dade. Da me sm a so rt e, qu ai sq ue r
re fe rê nc ia s
ao
pe la gi an is mo
e
ao
cat oli cis mo rom ano , visa m esc lar ece r as
que stõ es em es tu do . Ni ng ué m, po r is so ,
ju lg ue qu e pr et en do fa ze r po lê mi ca . Me u
ob je ti vo é o de to rna r me lh or co nh ec id o o
ar mi ni an is mo e re ve la r as af in id ad es e
di st in çõ es do metodismo com ele. Espero
conseguir isto.
CAPÍTULO 1
CO MO SE CO NS TR ÓI UM A
GR AN DE NA ÇÃ O
1 -
OS
PAÍSES-BAIXOS,
CONDIÇÕES
GEOGRÁFICAS.
A Ho la nd a e Bé lg ic a, ma is co nh ec id as
ou tr or a po r Paí ses -Bai xos , ocu pav am uma
fai xa de ter ras ao lon go do Ma r do No rt e,
na Eu ro pa No rt e Oc id en ta l. No le st e
conf ront avam-se com div ers os ter ritó rio s
ger mân icos e, no oes te, com a Pic ard ia e
Cam pan ha fra nce sas . Não tin ham , po is ,
fr on te ir as na tu ra is , sa lv o as ma rít im as ,
ap es ar de recortados por movimentados
cursos de água, como o Re no , o Es ca ld a e
ou tr os .
O ba ix o ní ve l do se u li to ra l fa cil ita va a
inv asã o
qua se
con sta nte
da
par te
con tin ent al
pe la s
ág ua s
do
ma r,
am ea ça nd o la vo ur as e re si dê nc ia s. Em
vista disso, fazia-se mister construir diques e
16
1/
Jo sé Go nça lv es Sal va do r
abrir can ais , opo r -se ao elem ento adv erso e
tra nsf orma r a pou co fé rt il pl an íc ie em so lo
ap ro ve it áv el . E, as sim , de se nv ol v eu -se ali ,
esp eci alme nte nas pro vínc ias do nor te, as
qua is vi er am a co ns ti tu ir a mo de rn a
Ho la nd a,
um
po vo
la bo r ios o
e
em pre end edo r, afe ito aos per igo s, dad o ao
com ér cio e amante da liberdade.
1 - O INTERCÂMBIO COMERCIAL.
À fa lt a de ma té ri as pr im as e de ví ve re s,
ti nh a o ho landês que voltar-se para o mar e
para o comércio. Depe nd en do de ou tra s
na çõ es , pr ec isa va es tre it ar re la çõ es com
ela s e faz er-se pacífic o. A pos içã o
geo grá fic a do país colocava-o, naturalmente,
como
intermediário
entre
as
re gi õe s
se te nt ri on ai s e as ce nt ra is e , at é as do
me io -di a,
ci rc un st ân ci as
a
qu e
se
ju nt ar am as do ca pi ta li sm o es t ra ng ei ro ,
gr aç as ao af lu xo de ju de us ex pu ls os de
Es pa nha e Po rt ug al , po r se us re is .
As in dú st ri as ma is pr os per ara m ent ão.
Mer cad ori as sub iam e des cia m seu s rios,
to rn an do -se al gu ns do s se us po rt os do s
ma is fr eq üe nt ad os em to da a Eu ro pa :
An tu ér pi a
e
Am st er dã .
De
lá
se
re ca mb ia vam te ci do s de di ve rso s tip os ,
.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo
vid ro s, cr is ta is , rel ógio s, ba ca lha u e
inc lus ive o lat ão e o cob re que Po rtu ga l
tr af ic av a co m o Or ie nt e. Pa ra os Pa ís es Ba ix os rem eti am os lus os o açú ca r da Il ha
da Mad ei ra e do Br asi l, vin ho, aze ite , sal ,
art igo s da Áf ric a e es pec iar ias do Le va nt e.
Co m
a
de rr ot a
da
"A rm ad a
In ve nc ív el ", na qu al os ibé ric os per der am
o mel hor de sua s emb arc açõ es, pa ss ou a
Ho la nd a a pr ed om in ar no s ma re s ju nt o
co m
a
Ing lat er ra .
Dua s
de
su as
com pan hia s de co mé rci o gan hara m fa in a:
a da s Índ ia s Or ie nt ai s e a da s Ín di as
Oc id enta is . Te rr as do Índ ic o e da Áf ri ca
ca ír am so b se u do míni o, nã o es ca pa nd o à
su a co bi ça ne m o ri co no rd es te brasileiro.
3 - A VIDA SOCIAL.
To dos est es fa tor es rep er cu ti ram em su a
vid a soc ial e cu ltu ra l. A ar ist oc ra ci a ur ba na
e a ru ra l viv ia m pou co di st an ci ad as um a da
ou tr a.
O
nú me ro
de
ci da de s
er a
re lati vam ent e gra nde , emb ora de fra ca
den sid ade . Lei den e Ams terd ã, ent re as
mai ore s, con tava m ape nas uma s 20. 000
al ma s. To da s ti nh am di re it o a um
re pr es en ta nt e no go ver no pr ov in ci al , ou
se ja na As se mb lé ia (E st ad os Pr o vin cia is) .
O neg oc ian te ain da não era mu ito ric o, ma s
já usufruía posição de certo destaque. A ele, e
sobretudo ao ari sto cra ta, cab ia a mai or
inf luê nci a do gov ern o do pa ís.
Os ar tes ãos es ta va m con cen tr ado s na s
cid ade s, reu ni dos em co rp or aç õe s (g il de n) ,
ma is ou me no s pa re ci da s ao s mo de rn os
si nd ic at os op er ár io s. Go za va m de re la ti va
si tua ção eco nôm ica e de mod o ger al sab iam
ler . O res tan te da pop ula ção con st itu ía -se
de la vra do res e ma rin he iro s. O proletariado
era pouco numeroso.
Ta lve z a Hol and a fos se na épo ca o paí s
me lho r equ ili br ad o, so ci al me nt e. A ri qu ez a
e a cu lt ur a es ta va m ao al ca nc e de mu it os .
Já na Id ad e Mé di a os "I rm ão s da Vid a
Com um" tin ham est abe lec ido esc ola s par a
os fi lho s do po vo . Ho la nd es es fo ra m
Re mb ra nd t, Ro es br oe c, We sse l, Gro ot,
Era smo agr íco la, Gro tiu s, Spi noz a e Tia go
Ar mí ni o. In st ru çã o, es pí ri to me rc an ti l,
in te rc âm bi o co me rci al , ha ve ria m de cr ia r
no s cid ad ão s o sen so de li ber da de e o
am or à de mo cr ac ia . E ag or a, se m me do de
err ar, pod emo s acr esc ent ar que ao fat or
rel igi oso se dev e o ap ri mo ra me nt o de ss e
es pí ri to de in de pe nd ên ci a, de ap eg o à
li be rd ad e e de in te re ss e pe la do ut ri na da
Re forma.
4 - A SITUAÇÃO POLÍTICA.
Te nd o pe rt en ci do à Fr an ça , co mo do te
de Ma ri a de Bor gon ha, em vir tud e de seu
cas ame nto com Max imi lia no da Áust ria ,
vie ram os Paí ses -Bai xos a cai r sob o
dom íni o es pa nh ol , po rq ue Ca rl os V e se u
fi lh o Fe li pe II de sc en di am em li nh a di re ta
do s ha bs bu rg os au st rí ac os . Em su as
mã os est av am , tam bém , a Ale ma nha , pa rte
da Am é ri ca , Áf ri ca e re gi õe s da Ás ia . "O
so l nu nc a se pu nh a em tão vastos domínios",
como se veio a dizer.
:10
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
A po l ít ic a de st es ha bs bu rg os ja ma is
fo i be m ac olh id a no s Pa ís es-Ba ix os .
Ca rl os V fe z o má xi mo pa ra ce nt ra li za r o
po de r es ta ta l, us ur pa nd o ao po vo ve lh os
pri vil égi os já con sag rad os, nas cen do dai
ama rga ant ipa tia pa ra co m el e e se us
re pr es en ta nt es .
Um de se us er ro s mai s gra ves foi o de
que rer ext ing uir pel a força a inf luê ncia das
idé ias pro tes tan tes , já em fra nco pro gre sso
no sei o do pov o. Por ess a cau sa, em 152 3,
doi s fra des ago sti nho s, res pon dem a
in qué rit o em Br ux ela s, sen do a se gui r
que ima do s. São el es , He nr iq ue Vo es e
Jo ão Esc h , os do is pr ime ir os má rti re s da
Re fo rma . Ce nt en as de Ou tr os viera m
de po is . No me sm o an o su rg e o No vo
Te st am en to em ho la nd ês , tr ad uz id o de
Lu te ro . Os ge rm es do mi st icis mo de
Kem pis e de We sse l, se des per tam .
Rea cen de-se na alm a de ss a ge nt e am an te
da li be rd ad e o de se jo de co nh ec er a no va
fé . Qu er en do Fi li pe ap ag á-la co m mã o de
fe rr o, ma is el a se in ce nd ei a. In qu is iç ão ,
ex ec uç õe s, em prego de fo rça mi lit ar , tu do
se to rn a em vã o. O po vo se un e, os no br es
se
ar re gi me nt am ,
ma ri nh ei ro s
e
pe scad ore s se con ver tem em ter ror par a as
hos tes esp anh ola s. A ca us a ad qu ir e fo ro s
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
de na ci on al id ad e. Co mb at e-se o in im ig o
em te rr a e no ma r. Pe la pá tr ia e pe la fé
re nu nci a-se a tu do . Qu an do Le id en já nã o
po de re si st ir ao sí ti o, Gu il he rm e de
Or an ge ma nd a ar ro mb ar os di qu es e
in un dá-la . Ma s a vit ór ia ca be , po r fi m, ao s
na cio na is .
Em
ho me na gem
ao
se u
he ro ís mo , a ci da de fo i pr em ia da com uma
universidade (1575).
Em 15 79 , af in al , as se te pr ov ín ci as do
no rt e re so lve ram su bsc re ver o tr ata do de
Ut rec ht, em vir tud e do qua l se co ns ti tu ía m
em na çã o in de pe nd en te , co m o no me de
Pr ov ín ci as Un id as . Em 15 88 dá -se a
de rr oc ad a da Ar mada Invencível. Em 1609,
Espanha e Holanda assinam um ar mi st íc io .
Es ta va ga nh a a in de pe nd ênc ia , e co m el a
o protestantismo também recebia o seu
reconhecimento.
5. O FATOR POLÍTICO-RELIGIOSO.
A ca us a da re vo lt a fo ra po lí ti ca e
re li gi os a.
De
um
lad o est ava m os
esp anh ói s e o rom ani smo , e do out ro os
sú di to s ne er la nd es es e a do ut ri na da
Re fo rm a. A Ig re ja Cat óli ca man tin ha-se
uni da ao Est ado e o apo iav a na lut a co nt ra
a fé pr ot es ta nt e. Ao s po uc os o el em en to
:11
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
re fo rma do
ass um iu
as
réd eas
do
mo vim ent o, de so rt e que , ao fi m da gue rra ,
o dom íni o pol íti co ta mb ém lhe per ten ci a. O
lu te ra ni sm o ce de ra pa ss o ao ca lv in is mo .
As ig re ja s for am tra nsf orm ada s em tem plo s
eva ngé lic os,
e
os
sac erdo te s
nã o
co nv er tid os à no va do ut rin a de ixa ra m o
pa ís , emb ora o tra tad o de Utr ech t gar ant iss e
a qua lqu er pes soa o di re it o de li vr e
co ns ci ên ci a. Co nt udo , o nú me ro de
cat ól ico s ai nda er a bem gra nde , ha ve ndo
de igu al fo rma muitos anabatistas, luteranos,
judeus, e socinianos.
Fo i du ra nt e os an os da gue rr a qu e o
pr ot es tan ti sm o se or ga ni zo u em Ig re ja . Já
po r vo lta de 156 1 su rg e ur na Co nf is sã o de
Fé , re di gi da pe lo jo ve m pa st or Gui do de
Br és ,
ju nt am en te
co m
tr ês
ou tr os
mi ni st ro s. Fo i gr aç as a el a qu e o
ca lv in is mo
ga nh ou
as ce nd ên ci a
no s
Pa ís es -Ba ixo s. De po is , em 15 63 , re úne mse pe la pr im ei ra ve z em sín odo os
del ega dos
de
vár ias
con gre gaç ões ,
est abe lece nd o o se u pr óp ri o si st em a de
go ve rn o, e po r cu jo mo del o tom ar am o da
igr ej a de Gen eb ra . Ado tou -se, ent ão , o
pre sbi ter ian ism o, mas em cad a uma das
set e pro vín cia s a adm ini str açã o ecl esi ást ica
era qua se aut ôno ma, vist o ser a Ho la nd a
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
ma is um a co nf ed er aç ão de Es ta do s qu e
um a nação. Só poderia haver assembléia geral
(sínodo) quando todas as províncias dessem o
seu assentimento.
Em 1566 a Confissão Belga, de Guido de
Brés foi adotada oficialmente pelo sínodo de
Antuérpia. Quanto à idéia das relações ente
Estado e Igreja, vigorou a da autonomia desta,
se bem que aliada ao Estado.
A Igreja Holandesa pode orgulhar-se de suas
lutas e vitórias, de seu passado de Heroísmo e
martírio. Em suas fileiras militaram vultos do
porte de Guilherme de Orange, estadista e
patriota, Hugo Grotius, fundador do direito
internacional, Guilherme de Brés e Simão
Escópio, entre os grandes teólogos da
humanidade, convindo lembrar que também na
Confissão Belga se inspiraram mais tarde os
autores da Confissão de Westminster.
De
Tiago
Armínio
recebemos
uma
interpretação mais harmoniosa do caráter divino
e da personalidade do homem; por isso, tanto
melhor admirado quanto mais decorrer o tempo.
:12
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
CAPÍTULO II
TIAGO ARMÍNIO NO CENÁRIO DE
SUA PÁTRIA
No mu lt iv ar ia do ce ná ri o do s Pa íse sBa ix os su rg iu em fi ns do sé cu lo XV I a
fi gu ra de um pe rs on ag em , qu e br ev e
pa ss ar ia à Hi st ór ia . Os pa is de ra m-lh e o
no me de Jak obs Her ma nns , ou Her man sen ,
ma s Ele pre fer iu lat ini zá -lo pa ra Ar min ius ,
com o
se
cos tu ma va
ent ão .
Jak obs
cor res pon de a Jac ó, Jaim e ou Ti ago .
Out ro s já hav iam tid o idên tic o nom e no
pas sado , sagr and o-se pel o me no s do is
de le s co mo ca mp eõ es da li be rd ad e. Um fo i
aq uele ch ef e ge rm ân ic o qu e no an o 9
A. D. ve nc eu as le gi õe s do ro ma no Va ro . O
se gu nd o, mo de st o pa st or de ove lha s,
not abi liza ra-se nas cam pan has da vel ha
Lus itâ nia .
Qua nto ao ter cei ro, cab e-lhe gló ria ain da
ma ior , em bo ra ja ma is te nh a le va nt ad o um a
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
es pa da ou lu ta do de ar ma s na mã o. Fo i,
po ré m, gr an de ba ta lh ad or , mi li ta nd o no
cam po árd uo das ati vid ade s esp iri tuai s. As
rev olu çõe s não se fa zem sem idé ias , e
Jak obs (Ti ago Armínio ), nos so bio gra fad o,
fo i ho me m de id éi as .
Lu to u po r um a in te rp re ta çã o ma is li be ra l
da
Te ol og ia ,
ex al ta nd o
a
di gni da de
hu ma na , se m de st ro na r a De us da gló ri a
qu e Lh e é de vid a, at ean do as cha mas de
uma rev olu ção que mai s e mai s se vem
ala str ando mu nd o af or a. Si m, po rq ue su a
in fl uê nc ia se es te nd eu ta mb ém a ou tr os
se to re s. El a se pr oj et ou s obr e a vi da
pol íti ca, eco nôm ica , soc ial e fil osóf ica . Dos
Paí ses-Bai xos sa lt ou pa ra as na çõ es
vi zi nh as , tr an sp ôs co nt in en te s, e ag or a
pe rc or re o un iv er so . Já é ca ud al , e
ni ng ué m a poderá deter.
1 . OS P RI ME I RO S AN OS DE S UA
VI DA .
Arm íni o sab ia
de spe rta r sim pat ias ,
por que de sde pe qu en o ma ni fe st ou bo as
qu al id ad es .
Er a
hu mi ld e,
in te li ge nt e,
op er os o, de di ca do. E is so lh e va le u
gr an je ar am izad es sin cer as, e com as qua is
pode con tar até ao fi m de su a jo rn ad a
:13
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
te rr en a. Te nd o na sc id o na pe qu en a ci da de
de Ou de wa te r, no su l da Ho la nd a, ao s 10
de ou tu br o de 156 0, teve a infe lic idad e de
per der o pai , o cute lei ro Herman n Jako bs,
alg uns ano s dep ois . A mãe , Ang éli ca, viu-se,
en tã o, em sé ri as di fi cu ld ad es pa ra ma nt erse e ao s tr ês fi lh os ór fã os .
Tia go enc ont rou daí a pou co val ios o
pro tet or na pes soa do ex-sac erd ote cat óli co
rom ano Teo dor o Em íli o, alm a bon dos a
con ver ti da ao pro te sta nt ism o. Pe rce be ndo
no
me ni no
qu al id ad es
ap ro ve it áv ei s,
en ca mi nh ou -o a Utr ech t a fim de ins tru ir-se.
Aos 15 ano s, a mor te fer e-lhe de no vo o
co ra çã o, ar re ba ta nd o-lh e o am ig o. Ma s o
Pa i cel est e não o aba ndo nou . O mat emá tic o
Rud olp h Sne liu s, in do a Ou de wa te r, su a
te rr a na ta l, ac ho u al i o jo ve m Ti ag o
Ar mí ni o e in te re ss ou -se po r e le , le va nd o-o
pa ra
Ma rb ur g,
on de
ex er cia
o
pr of es so ra do .
Po uc o
tem po
depo is ,
as
tr op as
es pa nh ol as
en tr ar am
em
Ou de wa te r,
sa qu ea nd o re si dê nc ia s e de st ru in do tu do à
su a pa ss ag em , de mo do qu e, qu an do
Ti ag o qu is re ve r os pa re nt es , so ub e -os
tod os mor tos . Só lhe res tav a con for mar-se
mai s uma vez e prosseguir no caminho da vida.
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
2. O PREPARO ESCOLAR
Apó s os aco ntec imen tos aci ma nar rado s,
vam os enco ntr ar Ar mí ni o na ma je st os a
Ro te rd ã, nã o mu it o lo ng e da ma r. Aq ui ,
fa z va le r de no vo a ch av e má gi ca do se u
bo m ca rá te r, am pl ia nd o su a li st a de
am izad es . En tre el as des tac ou se de pr ont o
a de Ped ro Be rtiu s, Sê nio r, pa sto r da igreja
local , que o trato u como se fora da famíl ia e a
de seu filho , o jovem Pedro . Mais tarde
have ria este últim o de escre ver a biog rafia do
amigo de tanto s anos e cumpr ir a difíc il taref a
de profe rir a oração memo rial.
Be rt iu s ma nd ou se u fi lh o Pe dr o e
Ti ag o pa ra es tu da r na Un iv er si da de de
Lei den . Con qua nto rec ém -cr iad a, di ver so s
me str es em ine nte s re gia m su as cá te dr as
co m br il ha nt is mo , co mo o erudito Lambert
Danaeus e o ilustre João Dousa. Em 1578 o
velho amigo de Armín io, Rudol ph Snel ius,
juntou-se
ais
grupo
desses
eficientes
professores.
Fo ra m se is an os út ei s os qu e Ar mí ni o
pa ss ou e m Lei den . Est udo u Teo logi a,
Fil osof ia, Heb raic o, Lit era tura e out ras
dis cip lin as, sem pre com ass idu ida de, gosto
:14
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
e apr ove it am en to . Se u ex em pl o to rn ou -se
no tó ri o.
Mi ni st ros
do
Eva nge lho
e
aut ori dad es civ is se int ere ssa ram por e le.
No va s po rt as se lh e ab re m ! Ma nd am -no
en tã o
a
Ge ne br a,
a
Ro ma
do
pr ot es ta nt is mo ,
pa ra
cu rs ar
a
un iv er si da de. A Câm ara do Com érc io
as sum ia
a
res pon sab ili dad e
pe la
ma nu te nç ão do es tu da nt e, o qu al en tr av a
pe la ca sa dos vinte e um anos por essa época.
Na
cos mo pol ita
Gen ebr a o mo ço
nee rla ndê s fre qüe nto u as pr el eç õe s do s
pr of es so re s ao la do de co le ga s de vá ri as
na ci on al id ad es . Po nt if ic av a a li a fi gu ra de
Te odor o Bez a, suc ess or de Cal vin o, ain da
mai s
ext rem ado
do
qu e
ele
no
pr ed es ti ni sm o. Nã o fo i is to , po ré m, qu e o
lev ou a inco mpa tib ili zar-se com um dos
mes tre s, mas , sim , a im po rt ân ci a qu e se
da va ao en si no ar is to té li co . Tr an sfer iu -se,
em con seq üên cia , pa ra Bas iléa, sen do
rec ebi do al i co m si mp at ia . Co nv id ad o a
pr of er ir al gu ma s pr el e ções, tomou a epístola
aos Romanos como texto, e delas se
de si nc um bi u co m ag ra do ge ra l. Se u
pr es tígi o cr es ce u, a po nt o de a pr óp ri a
un iv er si da de qu er er di pl om á -lo co m o
ti tu lo de do ut or cm Te ol og ia : ho nr a qu e
re cu so u, al eg an do se r ai nd a mu it o jo ve m.
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
Lo go de po is re gr es so u a Ge ne br a, on de o
tr at a ram , ag or a, co m ma is at en çã o. Be za,
re spo nd en do a um a ca rt a vi nd a de
Ams te rd ã, na qu al se in da ga va de
Ar míni o, de u o me lh or te st em un ho quanto à
sua piedade e dons intelectuais.
Ao fi m deste s tr ês ano s de pr ov eit os os
est udo s, res ol ve u de sc er à It ál ia e ir a
Pá du a, on de o cé le br e T ia go Za ba re la
le ci on av a
Fi lo so fi a.
Vi si to u,
ta mb ém ,
ou tr as ci da de s e es te ve em Ro ma , qu e o
im pr es si on ou co m re al de sa gr ad o. Ma s,
na pá tr ia di st an te , in di ví du os ma ld os os
co me ça ra m a ma nc ha r-lh e a re pu ta çã o,
pr op al an do qu e co nf ab ul ar a co m os
je su ít as e ch eg ar a a be ij ar os sa pa to s do
Pa pa . Er a o pr in cí pi o da lu ta qu e t er ia de
en fr en ta r du ra nt e o re st o da vi da .
Fe li zm en te le va ra co ns ig o a Ad ri an o
Ju ni us na vi ag em e, po r is so , fá ci l lh e fo i
pr ovar que nem sequer vira o chefe da Igreja
Católica.
3.
ARMÍNIO
NO
EXERCÍCIO
DO
PASTORADO.
No
pr in ci pi o
de
15 88
a
Co rt e
Ec le si ást ic a de Am ste rd ã ch am ou -o a
exa me s, a fi m de co nf ia r-lh e en ca rg os
:15
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
pa st or ai s. Ap ro va do ta nt o em su a fé co mo
na s do ut ri na s pe la un an im id ad e do s
ju lg ad or es , em fe ve re ir o, Ar míni o en tr ou
no ex er cí ci o do se rv iç o di vi no . Em ag ost o
of er ec era m-lhe o pa sto rad o da imp ort ant e
igr ej a de Am st erd ã. Gr an de hon ra , se m
dú vid a, pa ra um mo ço de vin te e oi to an os ,
ma s a re sp on sa bi li da de nã o er a me no r,
se nd o
uma
da s
ci da de s
ma is
mo vi me nt ad as
na
ép oc a
po r
se u
in te rcâmbio comercial e pelo afluxo de
estrangeiros.
No come ço to do s o ol ha vam com
ex pe cta ti va . Os ma is ve lh os , ge ra lm en te
co ns er va do re s, re ce an do as in ov aç õe s de
um ra pa z qu e an da ra po r ou tr as te rr as ; os
ma is jo ve ns, es pe ran do al gué m que os
com pre end es se. Os dia s se pas sa ra m e
c om o te m po , A rm ín i o s e f e z m e re ce d o r
d a e st im a e a pr eç o do se u re ba nh o.
Pr eg av a co m sa be do ri a e po de r. Nã o
de ix av a im pu ne o ma l, ne m de co nf or ta r
os an gu sti ad os . Ho uv e qu em se re fe ri ss e
a el e ch am an do -o de "n av al ha pa ra fe ri r
os er ro s da ép oc a" e "f il et e da ve rda de ".
O li vr o de Ma la qu ia s e a ep ís to la ao s
Ro ma no s se rv ir am , en tã o , co mo ba se de
su as
ex po si çõ es. Se gu in do-se -lh es o
Ev an ge lh o de Ma rc os , o li vro de Jo na s e a
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
epístola aos Gálatas. Em 1692 as preleções
versaram sobre as cartas dirigidas às sete
igrejas da Ásia.
O ri co ne go ci an te Ko or uh er t cr it ic av a,
en tã o, o ca lvi ni sm o ex tr em ad o, do mi na nt e
na Ho la nd a. Qu em , po r co ns eg ui nt e,
me lh or cr ed en ci ad o pa ra de fe ndê -lo qu e o
ex -al uno de Te odo ro Bez a? Ace ita a ta ref a,
que er a árd ua, d esi nc um bi u -se de la a
co nt en to , po ré m os es tu do s qu e pa ra is so
fi ze ra , le va ra m-no a de sc ob ri r ce rt as
im pl ic açõ es
sé ri as
na
do ut ri na
da
pr ed es ti na çã o. E o re su lt ad o nem o
po de re mo s pr ev er : qu er en do ap ag ar um a
br as a, at eo u um a fo gu ei ra , ne la cr es tan do
as pr óp ria s mã os .
Em br ev e as di sc us sõ es lh e to ma ra m
te mp o pr ec io so , co m pr ej uí zo s pa ra se us
es tu do s, se u pa st or ad o e su a famí li a. Os
adv er sár io s não lh e dav am des ca nso .
Mui tas vez es di sto rci am o sen ti do de sua s
pal av ras .
Em
15 91
tac ha ram -no
de
pel agi ano .
Pre cis amo s, no ent ant o, ser ver dad eir os
e diz er que , nes sa épo ca, sua s no vas id éia s
já não se coa dun av am in te ir am en te co m as
da Ig re ja Re fo rm ad a, Me sm o as si m,
:16
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
continuava gozando da estima geral, tanto que,
em 1594, as au to ri da de s o ch am ar am pa ra
co la bo ra r no pl an o de reforma das instituições
educativas locais.
Ti ag o Ar míni o ca so u -se , a 16 de
se te mb ro de 15 90 co m El iz ab et h Re al ,
se nh or a di st in ta , pr ep ar ad a e de bo a
po si çã o so ci al , po is se u ir mã o La wr en ce
er a
ju iz
em
Am st er dã .
El a
sa bi a
co mp re en dê -lo e se rv iu -lh e de am pa ro na s
ho ra s am ar ga s de su a vi da , qu er no me io
de contendas e calúnias, quer nos momentos de
enfermidade.
Uma pro va da ded ica ção de Tia go e sua
fam íli a par a co m os pa ro qu ia no s e
co nc id ad ão s, te mo-la du ra nt e os te rr ív ei s
di as em qu e mo rt íf er a pr ag a se al as tr ou na
ci da de . Or an do a De us , se nt ir am qu e lh es
pe di a fi ca re m ali , ao inv és de se afa sta rem
do per igo . Esc rev end o, nes ta oca siã o, ao
seu am igo J. Uyt ten bog ae rt , pas to r da
igr ej a de Ha ia , di ss e: "as si m eu te nh o-me
en co me nd ad o
e
a
mi nh a
vi da
à
mi se ri có rd ia
di vi na ,
ag ua rd an do ,
di ar ia me nt e, at é qu e a re qu ei ra de mi m .. .
e is to fa ço co m a mente quieta, tranqüila e
imperturbável".
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
Em ci rc un st ân ci as tã o di fí ce is , Ti ag o
Ar mí nio
to rn ou -se
um
mo de lo
de
ab ne ga çã o; on de ho uv es se uma ov el ha
par a se r soc or rid a, lá se enc ont rar ia ele.
Gas par Br and t, se u bi óg ra fo, co nta , a
pr op ós ito , o se gu in te ca so : ac ha ndo -se o
pa st or , ce rt a ve z, nu m di st ri to po br e, ou vi u
ge mi do s fr ac os , pa rt id os do in te ri or de
hu mi ld e mo ra di a. En tr ou e vi u al gu ma s
pe ss oa s qu e pa re ci am do mi na da s pel a
enf erm ida de e pel a sed e. Dep oi s de as
soc or re r, de ixou rec urs os em din hei ro com
os viz inh os par a lhe s ma nte re m a
as si st ên ci a. Da va as si m pr ov as de bo m
sa ma ritano.
De out ra fei ta, tra tav a-se de doi s
mem bro s da Igr eja : uma se nh or a e um
va rã o. At ac ad os pe la te rr ív el pe st e,
sentiam-se perturbados no espírito. Por que?
Indagou de le s Ar míni o. Re sp on de ra m -lh e
qu e nã o ti nh am ce rte za da pr óp ri a
sa lv aç ão . O pa st or lh es fa lo u, en tã o, do
gr an de am or de De us, qu e ma nd ou Se u
Fi lh o ao mu nd o par a sal var a tod os os
pec ado res , ilu str and o o ens ino com as
Esc rit ura s. "Cre des iss o? — poi s ess a é a fé
pel a qua l so mo s ju st if ic ad os e ac ha mo s
pa z em
De us ".
Os
do is
en fe rm os
en co nt ra ra m o co nfo rt o qu e an el av am ,
:17
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
vi nd o o homem a falecer dias depois na maior
tranqüilidade.
A pes ti lên cia gra ss ou por out ra s par te s
da Hol and a, abr ind o ma is cla ros ond e a
gue rra já os dei xar a gra nde s. Le id en fo i
at in gi da . A un iv er si da de pe rd eu al gu ns de
se us me st re s il us tr es . E qu em os
su bs ti tu ir ia ? O no me de Ar mí ni o fo i
le mb ra do pa ra u ma da s va ga s, ef et iv an dose, de fat o, a esc olha de le, apó s ter
per cor rid o os com petentes trâmites legais.
4. ARMINIO: MESTRE E POLEMISTA.
Nã o er a co is a fá ci l pa ra Ti ag o Ar mí ni o
de ix ar o se u re ba nh o. Am st er dã qu er ia lh e be m, es ta nd o el e já id en ti fi ca do co m
os ha bi ta nt es . E, al ém di ss o, nu nc a
as pi ra ra a se r pr of es so r na Fa cu ld ad e de
Te ol og ia . De ou tr o la do , al gun s co le gas o
co ns id er av am
el em en to
perigo so
à
for maç ão das nova s ger açõ es de min ist ros .
Fra nz Gom aru s era o pri nci pal del es.
Cri tic ava -o e lan çav a sus pe ita s sobr e su as
cr en ça s. Fo i is so qu e le vo u Ar míni o a
re cu sa r o co nv it e. As au to ri da de s pú bl ic as
de Am st er dã tam bém não o que ria m ce der ,
por jul gar em sua pre sen ça ne ce ss ár ia à
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
ci da de . Fo i qu an do , pa ra di sc ut ir o ca so ,
reuniram-se em Haia delegados de várias
igrejas. O Rev. Uy tt en bo ga er t to mo u a
de fe sa
de
Ti ag o,
pa ss an do ,
em
conseqüência, a ser elemento Suspeito para
muitos. Não contentes, estes apelaram para o
chefe da Província, João Ol de nb or nv el dt , pa ra
qu e, po r in fl uê nc ia de le , os Cu ra do re s da
un ive rs id ad e nã o o in ve st is se m no ca rgo.
Os Cu ra do re s, po rém , co nf ir ma ra m a
de ci sã o.
Ag ia m
m a l,
en tã o,
os
in im ig os ,
en vol ve nd o o Es ta do em pr ob le ma alh eio à
sua alç ada . Afi nal , a igr eja de Ams ter dã
ced eu-o me di an te ac ord o, na s se gu in te s
ba se s: se ri a de si gn ad o, pr im ei ro , o se u
su bs ti tu to no pa st or ad o; di reito de re t or no
a Ar mí ni o, com o pá ro co da ig re ja , se o
qu is es se; at en de r ao pe di do de Ar mín io
pa ra tr at ar pe ss oa lm en te co m Go ma ru s do
pr ob le ma .
Caso
as
su sp ei ta s
pe rm an ece ss em de po is de st a co nf erê nc ia
en tr e am bo s, o pa st or recusaria o ingresso na
Faculdade.
Arm ínio e Gom ar us enc ont ra ram-se a 6
de ma io de 16 03 , em Ha ia , na pr es en ça do
Sí no do , co nf or me vo nta de do pr im ei ro . O
te ól og o de Le id en co me ço u lo go at ac an do
:18
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
o pa st or de Am st er dã , po r di sc or da r de
su a su po st a op in iã o so br e o ca pi tu lo VI I de
Ro ma no s. Ma s, dep ois de ouv ir sua s
exp lic açõ es, int eir ou-se de que era m
ace itá vei s e não cor res pon dia m ao que del e
se pro pal ava . Di sc ut ir am , ta mb ém , ou tr os
po nt os , re pl ic an do el e a to do s co m
se gu ra nç a.
A
re un iã o
en cer ro u-se
fr at er na lm en te. To da via ai nd a re st av a uma
ex ig em ia a se r tr an spo st a qu an to à
in ve st id ur a na cá te dr a. Ar mí ni o pr ec i sav a
sub met er-se a exa me de Teo log ia per ant e
um a com iss ão e def end er tes e de
dou tor ame nto . É esc usa do diz er-se qu e se
sa iu be m em tu do . A te se ve rs ou so br e a
na tu re za de De us , e os ju lg ad or es fo ra m
Fr an z Go ma ru s, Hu go Gr ot iu s, ju ri st a e
te ól og o, e Mé ru la , to do s el es possuidores
de respeitável cultura.
Es co lh eu o li vr o de Jo na s pa ra su as
pr el eç õe s. Ma s nã o po di a de ix ar de
re co rr er , ta mb ém , ao No vo Te st am en to ,
pa ra se fa ze r me lh or co mp re en di do . E is to
fo i o ba st an te pa ra de sp er ta r o ci úm e de
Go ma ru s, po is con sid era va tal coi sa um a
int rom iss ão em seu campo de en si no . O
ch oq ue
se ri a
in ev it áv el !
Am bo s
re pr es en ta ram
te nd ên ci as
di fe re nt es .
Go ma ru s
er a
do s
ma is
ri go rosos
calv ini sta s,
enq uan to
Arm íni o ado tav a
pos içã o mai s sua ve, sem , no ent ant o, cai r
no pel agi ani smo .
Em po ss ad o em
se u no vo
ca rgo,
Ar míni o
pr oc ur ou
desempenhá-lo
com
eficiência e dignidade. Numa carta, dat ada de
22 de set emb ro de 160 3, diz ia tê-lo ace ito ,
não pa ra bu sc ar ho nr as ou ri qu ez as e,
si m, pa ra se rv ir o Eva nge lho de Cri sto .
Pro fe ssores e alu nos o apr eci ava m. Com
est es
ins ist ia
a
que
bu sca sse m
a
ver dad ei ra
sab ed ori a
na s
Es cr it ur as ,
ex em pl if ican do-o el e me sm o, di ar iame nt e .
Ar mí ni o não po di a se r cu lp ad o pe la s
id éi as de ou tr os , in cl us iv e do s al un os, ma s
se us co nt en do re s nã o pe ns av am as sim e
lh e at ri bu ía m ve rd ad ei ro s di sp ar at es . Qu e
fa ze r, en tã o? Qu an do po ss ív el , ch am av aos pa ra um a co nf er ên ci a pe ss oa l, de mo do
a di sc ut ir em fr an came nte o ass unt o em
fo co. Se al gué m ti ves se ra zõe s ma is for tes
e coe ren tes , ace ita-las-ia por que seu des ejo
era descob rir a ver da de.
Do
ter ren o
pes soa l
pas sar am
ao
teo lóg ico ; da Facu ldad e as dis cus sões se
es pr ai ar am pe la s ig re ja s e, em br ev e, po r
to da s
as
pa rt es,
o
pr ob le ma
da
pr ed es ti na çã o to rn ou -se o "p ra to do di a”.
:19
J o s é GOnç a lr e .
irad.r
Um des se s det ra tor es fo i o clé rig o Fes tes
Hom miu s. Re uni ram -se
os
do is,
con ver ten do-se aqu ele ao po nt o de vis ta de
Ar míni o. Ou tr as ve ze s te ve qu e sa ir a
pú bl ic o pa ra se de fe nd er , ou co mp ar ec er
pe ra nt e
às
au to ri da de s,
ou
ai nd a ,
re sp on de r po r es cr it o. Di fa mar am-no até
no est ran gei ro, esp eci alm ent e na Ale man ha,
Fr an ça , In gl at er ra e Sa vó ia . Se m qu er er ,
de sp er ta va m interesse por suas opiniões e o
faziam conhecido.
17.1) 7'711 (1,7 1S111 0e .11etadt,m7,)
27
36
José Go nçalves Salva dor
A sit uaç ão agr avo u-se a tal pon to que as
aut ori dad es ac ha ra m po r bem re un ir em
Ha ia os do is pr in cip ai s co n ten dor es, Tia go
e Fra nz Gom aru s, com a pre sen ça de oit o
mi ni st ro s da s Pr ov ínc ia s Un id as , qua tro do
su l e qua tr o do no rt e. A pa z ci vi l es ta va
am ea ça da e qu er ia m sa be r o qu e ha vi a
co nt ra Ar mí ni o. Er a o qu e es te de se ja va :
se r ac us ad o fa ce a fa ce e nã o co mo se
fa zi a.
Go ma ru s co mp ar ec eu e lo go o at ac ou ,
af ir ma nd o qu e en si na va a ju st if ica çã o do
ho me m pe ra nt e De us de mo do es tra nh o.
Ma s el e re sp on de u qu e su a op in iã o
co nc er ne nt e ao as su nt o es ta va co nf or me
a Ig re ja Re fo rm ad a, po is cr ia que a
jus tif ica ção era pel a fé , me dia nte a gra ça de
Deu s.
Ha via , de fa to , di fe re nç a en tre am bos ,
po rq ue Gom ar us da va to da a ên fa se à
gr aç a de De us , ma s ne ga va o va lo r da fé
co mo o el em en to do la do hu ma no .
Ar mí ni o pr o cura va con cil iar as dua s coi sas .
Por fim o Con sel ho ach ou qu e a
co nt ro vé rs ia
nã o
er a
de
mu it a
im po rt ân ci a.
O
es se nc ia l
se ria
a
to le râ nc ia mú tu a, de sd e qu e ho uv es se
bo m es pí ri to no s do is . Go ma ru s, po ré m,
miin ia nimn o e Al eto dsmo
20
ca re ci a de st e se nt im en to , mo ti vo pe lo qu al
mu it os di zia m: "é pr ef er íve l co mp ar ec er
pe ra nt e o tr ib un al di vi no co m a fé do
pas tor Arm íni o do que com a ca rid ad e do
teó lo go Gom arus ".
A ma ior di fi cu lda de est ava jus tam ent e
na dou tri na da pr ed es ti na çã o, en si na da
po r Go ma ru s e pe lo s ca l vin is ta s ma is
ri go ro so s. No co nc ei to de Ar mí ni o, a
pr ede st in aç ão ia de en co nt ro à na tu re za
de De us e a do ho me m, ge ra va o
de se sp er o, ti ra va o es tí mu lo pa ra uma vi da
de sa nt id ad e e di mi nu ía a im po rt ân ci a do
Ev an ge lh o. Co nt ud o, de su a pa rt e, a
ni ng ué m im po ri a su as id éi as ; ha ve ri a
pa z. Go ma ru s, ao co nt rá ri o, nã o pe rd ia
opo rtu nid ade par a con den á-lo, fosse na
uni ver sid ade , nos púlpitos ou perante os
chefes das Províncias.
5 . O FI M DA JO RN AD A.
A sa úd e de Ar mí ni o, ab al ad a de sd e há
mu it o, em me ado s de 160 0 agr av ou-se
ain da ma is. Os est ud os, as dis cus sõe s e os
dev ere s uni vers itá rio s exi gia m mai ore s
esf or ço s do qu e el e re al me nt e po di a
ex pe nd er . Se us me mbro s fora m aco me tid os
de lan gor , seu est ôm ago ma l tol era va os
21
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
al im en to s e ai nd a po r ci ma , fa zi am -lh e
pa de ce r
mui to
sua s
afe cçõ es
hip oco ndr íac as.
Viu -se obr iga do, por iso , a ret ira r-se par a
a cid ade nat al e ali sub me ter-se aos
cu id ad os de um mé di co . Du ra nt e es te
la ps o de te mp o Os am ig os tr ad uz ir am
su as ob ra s do la ti m pa ra o ve rná cu lo e
es cr ev er am al gu ma s ou tr as . O fo go da
co nt ro vér sia se ala str ou ma is int ens ame nte ,
obr iga ndo -o a com par ece r de nov o per ant e
as aut ori dad es civ is e a dis cut ir, ma is um a
vez , com Gom aru s, che fe dos rea cio nár io s.
As dis cus sõe s for am ver bai s, mas cad a
um ter ia que apr ese ntar , dep ois , por esc rit o,
as sua s raz ões , par a ult eri or dec isã o do
Sí no do a co nv oc ar -se pa ra br ev e. A
do en ça pr ogre diu sem que os clí nic os a
pud ess em ata lha r. Par a seu s ini mig os ist o
con sti tuí a pro va evi den te de cas tig o div ino .
Os am ig os , no ent an to , la me nt av am os
pa de cim en to s de Ar mí ni o, o qu al so fr ia
tu do pi ed os am en te e or av a se mpr e pe lo s
se us e pe la Ig re ja . Re pe ti a co m fe rv or
He br eu s 13 :2 0-21 :
"O ra , o De us da pa z, qu e to rn ou a
tr az er de nt re os mo rt os a Jes us nos so
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
Sen hor , o gra nde Pas tor das ove lha s, pe lo
san gue da et er na al ia nç a, vo s ap er fe iç oe
em to do o be m, pa ra cu mpri rde s a sua
von tad e, ope ran do em vós o que é
agr adá vel dia nte de le , po r Je su s Cr is to , a
qu em se ja a gl ór ia pa ra to do o se mpre.
Amém"
O Re v. Ba rt ol om eu Pr oe vo st iu s, se u
di sc íp ul o e, ma is ta rd e, pa st or em
Am st er dã , di zi a que o texto não mais lhe saía
do pensamento.
Assistiram-no, também, durante toda a
enfermidade, Simão Episcópio, Uyt te nb og ae r,
Ad ri an o
Bo rr iu s,
bo ns
am ig os
e
te st em un ha s de su a fi de li da de a Je su s
Cr is to .
O te st am en to qu e de ixo u é um ex em pl o
e fé e um a pr ov a da si nc er id ad e de se us
pr op ós it os . Ne le de cl ar av a co nf ia r a al ma
às mã os de De us , a cu ja pr es en ça ir ia se m
te mo r, te nd o a ce rte za de qu e O se rv ir a
co m si mp li ci da de e le al me nt e, ja ma is se
de sv ia nd o de su a vo ca çã o. E acr es ce nt av a
na da te r en si na do em sã co ns ci ên ci a qu e
fo ss e co nt rá ri o às Es cr it ur as . Se mp re
bu sc ar a a ex pa ns ão da verdade cristã.
22
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
Af in al , a 19 de ou tu br o, Ti ag o Ar mí ni o
de sc an so u em pa z. Mo rr eu co mo ju st o.
Ap en as co m 49 an os . Se m dú vi da um a
gr an de pe rd a e qu em ma is a se nt iu fo ra m
os seu s ínt imo s. De seu s set e fil hos ,
res tar am-lhe só doi s, po is qu as e to do s já o
ha vi am pr ec ed id o no ca mi nh o do cé u.
La wr en ce
to rn ou -se
ne go ci an te
em
Am st er dã e o outro, Daniel, ganhou reputação
como médico.
Pe dr o Be rt iu s, re ge nt e da Fa cu ld ad e de
Te ol og ia , que pre sid iu à sol eni dad e do
mem ori al, dis se de Arm íni o, no di sc ur so :
"vi ve u na Ho la nd a um ho me m a qu em os
qu e nã o o co nh ec ia m nã o o po di am
es ti ma r su fi ci en te men te ; aq ue le s qu e nã o
o es ti ma va m ja ma is o ha vi am con hec ido
suf ici en te men te" .
Dom in gos Ban d, Hu go Gro ti us e Da ni el
He iu si us , de di ca ra m ao am ig o e me st re
inesquecível significativos poemas elegíacos.
C AP I T U L O I I I
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
AS DO UT RI NA S AR MI NI AN A S
Po r ma is or ig in al qu e al gu ém no s
pa re ça , de sc ob ri mos , ao an al is ar mo s su as
id éi as qu e el as re fl et em um con jun to de Ia
tôr es e cir cun stâ nci as. Nun ca brotam
sim ple sme nte da raz ão. Alg o lhe s est imu lou
o apa rec ime nto . Ist o par a nad a diz er do
mu ito que se rec ebe por her anç a, di re ta ou
in di re ta me nt e. Fo i as si m co m os gr an de s
pe nsado res ,
fil ósof os,
mora list as,
soc iólo gos, pol íti cos, etc . E Tiago Armínio se
inclui nessa regra.
As di fi cu ld ad es ge ra is qu e os Pa ís es Ba ix os
en fr en ta ram
du ra nt e
al gum as
dé ca da s do sé cu lo XV I, ca la ra m fun do em
sua
vida
econ ômi ca,
polí tica ,
soci al,
inte lect ual e re li gi os a. A gue rr a da
in de pe nd ên cia , co nt ra o do mí ni o esp anh ol,
int ole ran te, fan átic o, pro duz iu ver dad eir a
tra nsfo rm aç ão en tr e os ne er la nd es es . De
um la do de se nv ol ve u-se o ape go à
li be rd ad e, ta nt o ci vil co mo re li gi os a e do
ou tr o, fo me nt ou a at iv id ad e co me rc ia l e
23
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
in te le ct ua l.
Ali ás,
seg und o
fri sam os
ant eri orm ent e, os ger mes de tud o isso já
vinham de tempos passados.
Era nat ura l que , em ter ren o com o esse ,
des abr och ass e tam bém o es pí ri to de
to le râ nc ia . E de fa to , vem os es ta di st as do
po rt e de Jo ão Ol de nb or nv el dt ad vo ga re m
a abs olu ta lib erd ade de con sci ênc ia par a
tod os, fosse m pro te st an te s, rom an is ta s, ou
so ci ni an os . Hu go Gro ti us pe n sa va de
ig ua l mo do . Co ub e, po ré m ao ci da dã o
Di rk Ko or nh er t at ea r as ch is pa s da
co nt ro vé rs ia qu e du ra nt e anos agitaria a
Igreja
Reformada
dos
Países-Baixos,
influ enc iad o, cer tam ent e, pel a obr a ant ical vin ist a de Seb as tiã o Cas tel lio , pub lic ada
em
157 8,
a
qua l
vin ha
exe rce ndo
co ns id er áv el
in fl uê nc ia
a
fa vo r,
da
li be rd ad e de pe ns a me nt o.
De sd e
15 44
es se
te ól og o
vi nh a
at ac an do im pl aca ve lm en te as id éi as de
Ca lv in o, na Su íç a . No co nc ei to de
Koo rnh ert todas as fo rma s de rel igi ão
dev iam ser tol era das , mas , ao ext ern ar seu
pon to de vis ta, fer iu uma das dou tri nas
fun dam ent ais do cal vin ism o, úni co sis tem a
que o Es ta do fa vo re ci a.
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
Lo go a se gu ir, em 16 02 , do is mi ni str os
de De lf t ad er ir am ao se u mo do de pe ns ar ,
co mb at en do a do ut ri na da pr ed es ti na çã o
en si na da po r Be za . Est e mes tre emi nen te,
con for me dis sem os, tin ha ido mai s lo ng e do
qu e o pr óp ri o Ca lvi no , de so rte a
de sco nt en ta r al gu ns de su a co nf is sã o. Nã o
se co nf or ma va m ele s co m que Deus
dec ret ass e, só por si mesm o, a que da do
hom em an te s ai nd a de o ha ve r cr ia do . Is so
fa zia de De us , co mo dizia João Kolman, um
tirano e executor.
Hav ia, poi s, nos Paí ses -Bai xos , um a
cor ren te de moder ado s e tol er ant es , a qua l
se
fi lia vam
ne go cia nte s,
magis tra dos ,
teólog os e min ist ros eva ngé lic os. Gas par
Kol hares , her ói de Lei den , e Rud olp h
Sne liu s, pat ron o de Arm íni o, era m d est es .
Em me io da re fr ega , es cre ve u o te ól og o
Gu il la um e p r o f e s s o r e m L e i d e n , u m
t r a t a d o n o q u a l af ir ma va qu e, em
ma té ri a de re li gi ão , nã o de ve ha ve r
co ns tr an gi me nt o. Aí es tá , po r co ns eg ui nt e,
um a sí nt es e do espírito da época.
Or a, Ti ag o Ar mí ni o vi vi a ne ss a Ho la nd a
do sé cu lo XV I, hosp ita leir a, libe ral, de vist as
lar gas, aman te da lib erda de, cio sa dos
dir ei to s de seu s cid adã os , agi tad a, no
24
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
ent ant o, pe la f orç a da s ar ma s e pe la
aç ão da s id éi as . Ho me m cul to, sin cer o e
de esp íri to ele vad o, não tar dar ia a esb arrar
com o dogmatismo de sua Igreja.
A teologia eclesiástic a ten dia cad a vez mai s
a sob rep or -se à teo logi a bíb lic a, em pr ej uí zo
da
pr óp ri a Es c ri tu ra . Di sc or da r da s
do ut ri nas já est abe lec ida s, imp ort ava em
ato de qua se her esi a.
Duas
dela s
cons titu íam
como
que
verd adei ros
dogma s:
a
da
elei ção
inc ond icio nal (ou, sup rala psa rian ism o) e a da
gra ça irre sist ível. Send o aque la ata cada
pelo s mini stro s de Delf t, nin gué m est ar ia em
me lho re s con di çõe s par a def end ê-la qu e o
pi ed os o e cu lt o Ti ag o Ar mí ni o. Es te
ac ei to u o con vit e, ma s, à me did a que
est uda va e di scu ti a o pro ble ma , tan to ma is
se enc ami nha va nou tra
dir eçã o. Em
res ulta do de tu do , ac ab ou po r se r
co ns id er ad o "o fu nd ad or da es co la anticalvinista na Teologia Reformada". (1)
Do
supralapsariansimo
pas sou
ao
inf ral aps ari ani smo , que ain da é ca lv in is mo ,
po ré m ma is su av e. Te ve , en tã o, qu e
de fe nder -se, es cre ven do di ve rsa s ob ras ,
ond e esp el ha va o se u pen sam ent o, as qua is
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
che gar am às nos sas mão s com o pre cio sa s
re líq ui as . Tr ês de nt re el as se de st ac am ,
toda s de 16 08 , e sã o: "C ar ta a Hi po ly tu s a
Co ll ib us ",
"U ma
De cla raç ão
de
Sen tim ent os" e "Ap olo gia ".
Em 162 9 um dos fi lh os pub lic ou as su as
obr as com ple ta s, ten do Jam es Nic hol s
tra du zid o-as do La tim par a o In glê s, em
195 3. Por el as po de mo s ho je av al ia r as
co nc ep çõ es re li gi os as de Armínio.
Ve ja mo s, en tã o, se m ma is de lo ng a s, os
re sp ec ti vo s pontos fundamentais.
1. A RESPEITO DE DEUS.
O ca lv in is mo da va ên fa se à do ut ri na da
so be ra ni a de Deu s, fa zen do tud o dep en der
de Sua exc el sa von ta de e de Sua onipotência.
Por Sua vontade criou todas coisas pa ra um
fi m de te rm in ad o, re al iz an do -as at ra vé s de
Se u po de r ab so lu to. Ag e, po r co ns eg ui nt e,
co mo Lhe apr az e só Ele con he ce se us
des ígn io s. Se a uns pre des tino u pa ra a
sa lv aç ão e a ou tr os ne go u ta l pr iv il ég io , é
porque julgou ser isto justo.
Arm ínio sus ten tav a a sob era nia de Deu s
sem
cai r
em ri go ri sm o.
Ma s
nã o
25
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
co nc or da va co m qu e Ele de te rm i nas se os
ato s do s se res li vre s, e nem ai nda que
fosse ina ces sí vel à cap ac ida de hum ana ,
tan to que os cr iar a à Sua ima gem e Se lhe s
rev ela ra de muit os mod os, no pass ado e,
af in al , co mp le ta me nt e, na pe ss oa de Se u
Fi lh o Je su s Cri sto . A rev ela ção é pro va de
Sua boa von tad e par a com os homens e da
capacidade receptiva deles.
Ur na co isa nã o po de se r bo a po rq ue
De us nã o que r qu e se ja bo a. Ê im po ss íve l
se r as si m, po rq ue a ju st iç a de De us nã o
pe rm it e. A pr ed es ti na çã o, em vi st a di ss o,
nã o po de se r at o de De us , ne m se ex al ta
ao Cr ia do r, re ba ix an do-Lhe a própria criação.
(2)
2. QUANTO À PREDESTINAÇÃO.
Como dissemos, foi o pomo da discórdia.
Te od or o Be za , suc es so r de Ca lvi no ,
Go ma ru s
e
ou tro s
su st en ta va m
o
ca l vi ni sm o ex tr em ad o. Pa ra el es , De us
ma ni fe st ar a a Su a gl ór ia po r um de cr et o
et er no , se gu nd o o qu al ti nh a, em Su a
mi se ri có rd ia ,
es co lh id o
de te rm in ad o
nú me ro de ho me ns pa ra a sa lva çã o, e
de ixa do os re st an te s ao se u de s tin o, que
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
era a con den açã o. Seg und o Alb ert Hen ry
New ma m, no seu liv ro “A Man ual of Chu rch
His tor y”, Vol . II, pág . 339 , s ão de Gom aru s
as
seg uin tes
ex pr es sõ es :
"D eu s
co ns id er ou o ho me m, no de cr et o da
re pr ov aç ão , nã o co mo ca íd o, ma s an te s
da qu ed a, e o próprio decreto da reprovação
precedeu ao da criação".
Aí est ava a pre des tin açã o inc ond ici ona l,
est abe lec ida pel a von tad e e sab edo ria de
Deu s, ant es, até , que os mun dos e os seres
fossem criados.
Arm íni o viu as imp lic açõ es de tal dou tri na.
Ao inv és de glo rif ica r a Deu s, reb aix ava -o e
emp obr eci a a obr a re de nt or a de Cr is to . A
Cr uz pe rd ia se u va lo r tr an sc en de nt al e o
ho me m nã o po di a re sp on de r, de si me sm o,
ao ap el o do Sa lv ad or : "s im " ou "n ão ".
Po is se gu nd o es sa do ut ri na De us já ha vi a
pr ede st in ad o, po r Su a vo nt ad e, os qu e ia m
sa lv ar -se , e só est es, de fa to, se sa lva ria m.
A que da e a sal vaç ão dec or ri am po r ig ua l
do pl an o di vi no . To do s os ho me ns ca i ria m
em Adã o. Mas aos esc olh ido s o Cri ado r
con ced eri a os mei os de sal vaç ão e nen hum
del es ser ia cap az de res is tir à Sua gra ça.
Cre r, per sev era r na fé e ser sal vo ser iam
coi sas par a ele s ine vitá vei s. Os dem ais
26
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
fic aria m à mar gem de ss e pr iv il ég io . De us
se to rn av a ar bi tr ár io e in ju st o. A Deu s,
por tan to, cab ia a cul pa pel a int rod uçã o do
pec ado
no
mun do
e,
também,
a
responsabilidade pela queda do homem.
Co mo co nc il ia r tu do is so co m a
pe rf ei çã o mo ra l de De us ? Cu lp ar ao
ho me m
po r
fa lt a
qu e
lh e
fo ra
de te rmi na da , se ri a in ju st iç a, qu an do a
ju st iç a é um do s fu n dam ent os da gló ria de
Deu s. Nem Ele pod e, por at o ar bit rá rio de
Sua von tad e, sa lva r ao inj us to, co mo não
pod e
co nd en ar
ni ng ué m
in de pe nd en te me nt e de su a fé . De us é
sempre coerente consigo mesmo.
Arm íni o, por ess a raz ão, vol tou -se par a o
inf ral aps ari an is mo . Ou , me lh or , ac ei to u a
pr ed es ti na çã o
co nd i ci on al .
De us
só
pr ed es ti no u ap ós a qu ed a, le va nd o em
co ns id er aç ão , po r Su a pr es ci ên ci a, a
at it ud e do ho me m em fa ce da te nt aç ão .
L og o, a pr ed es ti na çã o er a co ns eq üê nc ia
do at o hu ma no e, de mo do al gu m, o
re su lt ad o de um de cr et o pr ee st ab el ec id o
po r De us . E, as si m, q ue da re al ça va a
im po rt ân ci a e a re sp on sa bi li da de da
criatura sem deixar com o Criador toda a culpa.
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
3. O HOMEM NO CONCE ITO DE TIAGO
ARMÍN IO.
O su pr al ap sa ri an is mo gl or if ic av a a
De us , an ul an do o ho me m: ma s, qu an do
Arm íni o se de te ve a ex am in ar me lh or o
pr ob le ma , co nc lu iu , co m a Es cr it ur a, qu e
a ex al ta çã o do Cr ia do r ex ig ia a li be rd ad e
do ho me m. De Su as di vin as mã os sa íra um
se r ra ci on al , fe it o, es pi ri tu alme nte , à Sua
sem elh anç a, e não um aut ôm ato. Dot ar a-o
com a cap ac ida de de esc ol ha e op ção ; fê -lo
res pon sá vel pe la co ns eq ü ên ci a de ss a
es co lh a;
de u-lh e
di sp os iç õe s
pa ra
co nh ec er a De us e go za r a vi da et er na .
Bê nç ão ou ma ld iç ão , e re co mp en sa ou
ca st ig o sã o o fr ut o de su as de ci sõ es . Po r
is so di z a Es cr it ur a: "Aq ue le qu e qu is er ",
"aqu ele que cre r", "faz e ist o e viv e", e "sê
fie l e dar -te-ei a co ro a da vi da ".
Ma s,
ad mi ti da
a
pr ed es ti na çã o
ab so lu ta ,
o
li vr e-ar bí tr io
to rn a -se
im po ss ív el , po rq ue a vo n ta de já se ac ha
de te rm in ad a em se u ex er cí ci o. Qu al qu er
ordem dada ao homem, nestas condições, é
contra-senso.
4. O PROBLEMA DO PECADO
27
josf4 Go n ça l v es S a l va d o r
Se o ho me m qu is es se , po de ri a ma nt er se no es ta do em qu e De us o cr ia ra , me sm o
em fa ce da te nt aç ão . Er a li vre e ti nh a
ca pa ci da de pa ra Lh e ob ed ec er . To da vi a,
ag iu
nou tr a
di re çã o,
es co lh en do ,
co ns ci en te me nt e, o ma l, co m o qu e se
to rn ou pe ca do r e, po r is so , é re sp on sá ve l
po r su a fa lt a. Só as si m, re al me nt e, o
pe ca do e po ssív el po rq ue é de so be di ên ci a
vo lu nt ár ia . Da í a po si çã o, cl ar am en te
ag os ti ni an a, de Ar mí ni o, ne ss e se nt id o,
qu an do fe z su as as pa la vra s do Bi sp o de
Hi po na : "pe ca do é de ta l mo do um ma l
vo lu nt ár io , qu e nã o po de se r de fo rm a
alguma pecado até que seja voluntário".
Se ,
po ré m,
a
qu ed a
es ta va
pr ed et er mi na da ,
e
fo rç o sam ent e
se
cum pri ria , o pec ado dei xa de exi sti r , poi s
não ho uv e li vr e es co lh a. O ho me m ag iu
so b o im pu ls o d e uma fo rç a ir re si st ív el ,
qu e no ca so er a a von ta de so be rana de
Ti ag o Ar mí ni o, o il us tr e te ól og o de
Am st er dã ta mb ém es po sa va a id éi a de um
de cr et o di vi no , ma s o co nc eb ia de ma ne ir a
mu it o di ve rs a do s ca lvi ni st as . Er a um
"d ec re to gr ac io so ". Po r ele Deu s re so lve ra,
des de a ete rn ida de , en via r ao mu ndo Seu
Fil ho na qua lid ad e de Sal vad or . To dos
A r min ia n is mo e M eto d is mo
39
De us . Nã o pe ca ra, de fa to , po r si me smo . A
cu lp a recaia sobre Deus.
Ar mí ni o es ta va lo ng e de co nc or da r co m
es ta s co nclu sõe s. Par a ele o hom em era
res pon sá vel tam bém pel a tr an sg re ss ão , e o
pe ca do , um fat o irrel ut av el me nt e re al .
Po rq ue o ho me m er a li vre , pe ca ra e, co mo
pe ca do r, me rec ia o cas ti go de sua má
esc ol ha. Deu s pod ia ch am á -lo a co nt as .
Ni ng ué m Lh e po de im pu ta r su as pr óp ri as
fa lta s. Ca da um é se nh or de se u de st in o.
Aq ue le qu e se perde, perde-se por culpa sua.
O arm ini ani smo , ena lte cen do o val or do
hom em sem dim inu ir o car áte r de Deu s,
deu , ent ão, à obr a div ina um cunho ético de
que se ressentia o calvinismo.
5. O DECRETO ETERNO DE DEUS.
qua nto s cre ssem nEl e e ace ita sse m Sua
obr a red ent ora , ser iam jus tif icado s e salvo s,
mas
quan tos
perm anec esse m
volu ntar iame nte em seu s del ito s e pec ado s,
ser iam cond ena dos. Sua vontade, por
conseguinte, era que todos cressem e fossem
salvos. Po r Su a cu lp a ni ng ué m se pe rd er ia .
Er a a pr om es sa do Evangelho.
Pa ra Ar mí ni o, o ho me m sa lv a va -se nã o
po rq ue ti ves se sid o ele ito , e sim ao
con trá rio . Por ace ita r a Cri sto com o
Sal vad or é que se tor nav a ele ito . A ele içã o
dec orr e da ide ntifica ção do pec ado r red imi do
com a obr a do Fil ho eterno de Deus.
Deu s,
em
Sua
mis eri cór dia ,
já
pro vid enc iou tud o que se faz ia mis ter à
sal vaç ão dos pec ado res . E mai s: pô -la ao
al ca nc e de qu an to s a qu is er em . Re st a,
so me nt e, a ca da um , en tr ar na ar ca qu e
El e pr ep ar ou . Se o ho me m qu er , De us o
sa lv a. Ne m só o ho me m, e ne m De us só .
Sã o os do is co op er an do pa ra o me sm o fi m.
To dav ia os ar mi nia no s, co m ex ce çã o do s
me to di st as , pa re ce m da r pr e ce dê nc ia à
aç ão hu ma na , co m o qu e te nd ia m pa ra o
pe la gi an is mo . O ho me m ca mi nh a pa ra
De us e De us ve m ao seu encontro.
6 . A O BR A DE CR IS TO .
Ti ag o Ar mí ni o in si st ia e m qu e a vi da
et er na se of er ec ia a to do s os ho me ns
me di an te a ob ra ex pi at ór ia de Je su s
Cri st o. Ou me lho r: a sal vaç ão era uni ver sal ,
por que Se u sa cr if íc io fo ra de ex te ns a
am pl it ud e. O Fi lh o de De us mo rr er a po r
to do s os ho me ns . Se u sa ng ue ba st ar a
su fi ci en te me nt e pa ra re di mi r to da a
hu ma ni da de . N e le hav ia sup rim ent o par a
tod os os pec ado res . A ma is abj eta cri at ura
tin ha a sua sal vaç ão gar ant ida at ra vés do
Ver bo di vi no , de sd e qu e se vo lt as se pa ra
El e e O ac ei ta ss e de co ra çã o. Je su s
ja ma is se re cu sa ri a a re ce be r a o pe cad or
arrependido.
Já , de ig ua l mo do , se nã o po di a af ir ma r
ta l q ua nto à do ut ri na ca lv in is ta . Po r el a,
Cr is to vi er a sa lv ar ao s qu e De us de
an tem ão es co lh er a pa ra is so . Se u sa ngu e
be ne fi ci av a
a
e ss es
so me nt e.
Ao s
re pr ov ad os o sa cr if íc io nã o ap ro ve it av a. A
ob ra
ex pi at ór ia
li mi ta va -se ,
po r
co ns eg ui nt e, a um gr up o ap en as : os
pr ed es ti na do s (p ar a a sa lva çã o) . Ma s,
se gu nd o
a
po siçã o
ar min ian a,
a
pos sib ili dad e da sal vaç ão ex ist e pa ra to do s
e não dep en de de de te rm in aç ão (e sco lh a)
di vin a. A vo nt ad e hum ana é fa tor "si ne qua
non ": Cri sto red im e aos que O ac ei ta m
co mo Sa lv ad or . Is to é: sa lv a ao s qu e
qu ei ra m ser salvos.
Ar mí ni o ju lg av a a ob ra de Cr is to , co mo
ad mi ti da pel os cal vin ist as, um ato hor rív el
da par te de Deu s. Sim , po rq ue te nd o
de cr et ad o a sa lv aç ão de al gu ns , e st es de
qua lqu er mo do ser ia m sal vos , sem hav er
nec ess ida de do sa cr if íc io de Se u pr óp ri o
Fi lh o. Al ém di ss o se ri a pr ov a de ma ld ade ,
por que , pod en do sa lva r a tod os , não o qui s.
Jo ão We sl ey , o fu nd ad or do Me to di sm o,
di ri a, sé cu lo s de po is , qu e ta l at it ud e fa zi a
a Deus pior que o diabo.
7 . O LU GA R DA GR AÇ A DE DE US NA
SA LV AÇ ÃO DO HO ME M.
Ai nd a qu e o ar mi ni an is mo re al ce o va lo r
hu ma no , nã o de ve mo s co nf un di r se u
po nt o de vi st a co m o do pe la gi an is mo ,
po is am bo s se di st in gu em nã o só qu an to
ao co nc ei to do ho me m, ma s, ta mb ém ,
qu an to ao do pe ca do e da gr aç a di vi na .
Pe lá gi o en si na va qu e o pe ca do de Adã o
som ent e afe tar a a est e, nas cen do-lhe os
fil hos e, de ig ua l mo do , to do s os de ma is
de sce nd ent es ,
co m
id ên ti ca s
po ss ib il id ad es às qu e e le ti ve ra an te s de
ca ir . A sua fal ta con sis tia , ape nas , em mau
exe mpl o par a as
ger ações seguintes.
Ninguém, portanto, nasce pecador, sendo
ve rí di co di ze r-se qu e to do s tr az em
co ns ig o o do m da gr aça, ou se ja : os me io s
in at os pa ra at in gi r a sa lva çã o, ca so se
fa ça pr ec is o. Aq ue le qu e ca ir , po de rá
re er gu er -se po r si me sm o. De us já co lo co u
à di sp os iç ão de ca da um os re cu rs os pa ra
ta nt o. Pel ág io , p or ém , co nc eb ia es se s
me io s co mo di sp os iç õe s in di vi du ai s e
in fl uê nc ia s ext er na s e não com o au xil io
pes soa l de Deu s, at ra vés do se u Es pí ri to .
Po r ex em pl o: a le it ur a do s Ev an ge lh os , a
imitação do procedimento de Nosso Senhor, etc.
Ar mí ni o
ap ro xi ma va -se
ma is
de
Ag os ti nh o e, em mu it os po nt os , er a
ag os ti ni an o, de fa to. Nã o ac ei ta va f oss e o
pe ca do de Ad ão só de co ns eq üê nc ia
in di vid ua l, po is af et ar a a na tu re za hu ma na
e en vo lve ra to da a ra ça . To do s ca ír am em
Ad ão . Ag or a, só pe la gr aç a de De us po de
o ho me m re gen er ar-se e ob te r a sa lva çã o.
Se m el a tu do é im po ss ív el ao pe ca do r.
"S em mi m na da po de is ", dis ser a bem
Jes us. Tod avi a, Arm íni o dis cor dav a tan to de
Ago sti nho com o de Cal vin o, qua ndo neg ava
ter o hom em fi ca do re du zi do pe lo pe ca do à
in at iv id ad e. Ho uv e al go qu e o ho me m nã o
pe rd eu . Ai nd a lh e re st a a ca pa ci da de de
re sp on de r à gr aç a de De us e ac ei tá-la ou
re cu sá -la . No ut ra s pa la vr as : ai nd a po ss ui
li be rd ad e
e
vo li çã o
e,
as sim ,
é
re sp on sá ve l po r su as de ci sõ es . O hom em
ai nd a pode dizer "sim" ou "não" ao seu Criador.
Pa ra Ti ag o Ar mí ni o a gr aç a de De us é a
aç ão op er ante do Esp íri to di vin o jun to ao
hom em . É dom gra tui to e, com o ta l, nã o
de pe nd e de qu al qu er mé ri to do ho me m.
De us a reparte a todos os Seus filhos. Admitia,
contudo, que, ex ce pc io na lm en te , al gu ém
po de ri a de ix ar de re ce bê-la . En tr et an to ,
ne nh um a pe ss oa é fo rç ad a a ac ei tá -la . A
gr aç a ce le st ia l po de , si m, se r re cu sa da
pe lo ho me m, se gundo as seguintes passagens
bíblicas: "E estais esquecido s da exo rta ção
que , com o a fi lho s, dis cor re con vos co: Fi lh o
me u, nã o me no sp re ze s a co rr eç ão qu e
ve m do Se nh or , nem de sma ie s qua nd o po r
ele és re pr ov ad o" (Hb . 12: 5), e em Mt 23: 37
as sig nif ica tiv as exp res sõe s do lamen to de
Cri sto
sobre
Jer usa lém :
"Je rus alé m,
Jer usa lém ! que ma tas os pro fe tas e
ape dre jas os que te fo ram en via do s!
qu an ta s ve ze s qu is eu re un ir os te us
fi lh os, co mo a ga li nh a aj un ta os se us
pi nt in ho s de ba ix o da s as as , e vós nã o o
qui se ste s!" Em Lc 7:3 0, lê -se : "Ma s os
fa ris eu s e os int ér pr ete s da le i rej ei ta ra m,
qua nto a si me smo s, o de sí gn io de De us ,
nã o te nd o si do ba ti za do s po r e le ". No
co nc ei to de Ar mí ni o a gr aç a p od e
ta mb ém ser re sis ti da, con fo rme a def esa
de Est evã o per an te o Sinéd ri o: "H om en s de
dur a ce rvi z e in ci rc un ci so s de co ra ção e de
ouv ido s, vós sem pr e re sis ti s ao Esp ír ito
San to: as si m co mo fi ze ra m vo ss os pa is ,
ta mb ém vó s o fa ze is" (At 7:5 1). Igu alm ent e,
a gra ça de Deu s pode se r re ce bi da em vã o ,
no s di ze re s de Pa ul o: "E nó s, na
qu al id ad e de co op er ad or es com el e,
ta mb ém vo s ex or tamo s a qu e nã o
re ce ba is em vã o a gr aç a de De us " ( 2C o
6:1).
Se o pe cad or con co rd a em re ce be r o
au xíl io di vin o, Deu s o co loc a em nov a
con di ção .
No vas
per spe ct iva s
se
de sc or ti na rã o à su a fr en te . O ca mi nh o da
gl ór ia et er na se ab ri rá pe ra nt e se us ol ho s.
Ma s é ap en as o ca mi nh o. A gl ór ia só se
en co nt ra no té rm in o. Im po rt a, po is ,
pa lmil há -lo at é ao fi m. O ho me m te m qu e
se mo ve r e pi sar, às veze s, card os e
pedr egul hos
fer inos .
Sobr evi r-lhe-ão
tr is te za s e se du çõ es . Po ré m, se mp re qu e
de se je pr os se gui r, sen ti rá que não se
enc ont ra sozin ho : Jes us , o Sa lva do r
co mp as si vo , ca mi nh a a se u la do e lh e
re vig ora
as
fo rç as .
Je su s
nu nc a
de sa mp ar a ao s qu e se ac ol he re m à Su a
so mb ra am ig a. Se qu is er em ve nc er ,
ja ma is lh es faltará o auxílio de Deus, através
do Seu Filho.
E, de st e mo do , já en tr am os na
do ut ri na da pe rs everança cristã.
8. A PE RS EV ER AN ÇA MIS TA .
De fi na mo-la ,
pa ra
me lh or
a
co mp re en de rm os . En ten de-se, por es sa
dou tr ina , que o cre nte em Je sus , uma ve z
re ge ne ra do , ja ma is ca ir á da gr aç a di vi na ,
vi nd o a pe rd er -se de no vo . A as si st ên ci a
de De us é de ta l mo do ef ic ie nt e qu e e le
se rá ma nt id o no ca mi nh o e sa lv o po r fi m.
Na da o ar re ba ta rá de Su as mã os .
Co nf or me Jo 10: 27 -29; Rm 11: 29; 2Tm
1:1 2; 2T m 4:1 8 e out ras pas sa gen s. Er a o
pon to de vis ta dos sup ra lap sa ria nos e o é,
ainda, sobretudo, das igrejas Reformadas ou
calvinistas.
É in te re s sa nt e qu e Ag os ti nh o, se nd o
pr ed es ti ni st a, es pos ou id éi a bem co nt rá ri a,
ad mi tin do que at é o el ei to po di a ca ir e se r
co nd en ad o. Os ar mi ni an os , lu te ra no s,
qu aq ue rs , me to di st as e ou tr os ad ot am
ma is ou me no s es ta úl ti ma po si çã o. To do s
co nc or da m em qu e a pe rs e ve ra nç a nã o
de pe nd e ex cl us iva me nt e de De us . O cr en te
nec ess ita faz er a sua par te, por que a div ina
o ser á sem pre . E a bas e se enc ont ra em
tex tos , com o Mt 24: 12 -13 : "E po r se
mu lti pl ica r a in iq üi da de , o am or de mu i tos
se esf ria rá. Aqu e le, por ém , que per se ver ar
até o fi m, ess e ser á sal vo" . Em Cl 1:2 3 est á
dit o: "Se é que per man ece is na fé ,
al ic er ça do s e fi rme s, nã o vo s de ixa nd o
af as ta r da es pe ra nç a d o ev an ge lh o qu e
ou vis te s, e que fo i pr ega do a toda criatura
debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tor nei
min ist ro" . Dan do con sel hos a Tim óte o,
Pau lo diz : "E tu , ó Ti mó te o, gu ar da o qu e
te fo i co nf ia do , ev it an do os fa lat óri os
inú te is e pro fa nos , e as con tra di çõe s do
sa be r, co mo fa ls am en te lh e ch am am , po is
al gu ns pr ofes san do -o, se des via ram da fé" .
(1Tm 6:2 0-21) . Outra s pas sag ens que se
dev em exa min ar, enc ont ram -se em Rm 9: 6:
2T m 2: 17 -18 ; 2T m 4: 10 ; 2P d 2: 1-2; H b
2: 1; Hb 3: 14 : Hb 6: 4 a 6, e vs . 11 ;
1J o2: 6, 9 e 19 ; e Ap 3:1 a 3.
Arm íni o par ece ter sid o mai s con sis ten te
que os seu s seg ui dor es , vis to que eles
der am ma io r ênf ase à von tad e e aos
esf orç os do hom em, com o que ten dia m
par a
o
pel agi an is mo .
Fo ra m,
po r
co ns eg ui nt e, ai nd a ma is li be ra is do que o
mestre.
Ti ag o Ar mí ni o nu nc a si st em at iz ou su as
do ut ri na s.
Exp ô-las
seg und o
as
cir cun stâ nci as
e
só
com
vis tas
a
dete rm in ad as
qu es tõ es
e
pe ss oa s.
Ja ma is pe ns ou , ce rt a me nte , em esc rev er
um a obr a de Te olo gia Si st em áti ca, e
dou tri nas hou ve, con hec ida s ago ra com o
arm ini ana s, em que nem seq uer pen sar a.
Iss o foi obr a de seu s dis cíp ulo s, al gu ns do s
qu ai s fi gu r am en tr e os ma is no tá ve is
pe ns ado res dos Pa ís es -Ba ixo s, po den do
en qua drar -se ao la do do s ma io re s te ól ogo s
da Ig re ja .
É di fí ci l, me sm o, ju lg ar a qu em da r a
pr im az ia e cr éd it o, se a Si mã o Ep is có pi o,
au to r da
pri me ira
con fi ss ão
de
fé
arm in ian a, con sti tu ída de vin te e cin co
ca pí tu lo s, e, ai nda , um a Ap ol og ia e um a
In st itu ti on es Th eo lo gi ca e, ou se a Ph il ip
va n Li mb or ch , pr ofessor no Ginásio arminiano
de Amsterdã e redator da mai s com ple ta
exp osi ção da dou tri na de Arm íni o, em sua
"Th eo lo gi a Ch ri st ia na ", ou , ai nd a, se a
St ep he n Cu rc el la eus ou a Jo hn Le Cl er c.
Fo ra m es se s os co nt in ua do re s do
in ol vi dá ve l me st re da Un iv er si da de de
Le id en e in icia do r de um do s mo vim en to s
qu e ma io r in fl uê nc ia tê m ex er ci do na vi da
da hu ma ni da de : Ti ag o Ar mí ni o, Ar mi nius, ou
Hermanns.
REFERÊNCIAS E NOTAS:
(1) Enciclopédia Britânica, vol II: pág. 386.
(2) Newman, Albert Henry - A Manual of Church History,
Vol II: pág. 339.
C A P Í T U L O
I V
OR GA NI ZA ÇÃ O E DI FU SÃ O DO
AR MI NI AN IS MO
Co m a mo rt e de Ar mí ni o o mo vi me nt o
nã o ce ss ou . As id éi as ne m se mp re
de sa pa re ce m co m os se us ge ni to re s.
Mu it as ve ze s é de po is qu e ad qu ir em
ma io r fo rç a, se en co nt ra m qu em as
in co rp or e à pr óp ri a vi da . Fo i o qu e se
pa sso u na Ho la nd a co m o ar mi ni an ism o.
Am ig os
e
di sc í pu lo s
le va ra m-no
ad ia nt e. Ho me ns , co nf or me já fr isam os , da
env er gad ur a de Olde nbo rn ve ldt , Hu go
Gro ti os , Jo ha n Uy tt en bo ga er t, qu e er a o
ma is
ínt im o de
Ar mí ni o, e Si mã o
Ep is có pi o, se u su ce ss or em Le id en .
Mui tas pes soa s de pro jeç ão e ma is de um a
dez ena de pas tores se incluíram, desde logo,
entre os adeptos.
Assim, a controvérsia prosseguiu, cada vez
mais acesa, agitando os Países-Baixos,
env olv end o, tam bém , a pol íti ca, em raz ão
das afi nid ade s qu e ha vi a do Es ta do co m a
Ig re ja Re fo rm ad a e do pr ópr io ca rá te r d o
mo vi me nt o. Ac on te ce qu e Ol de nb or nve ld t, al ém de si mp át ic o ao ar mi ni an is mo ,
de fe nd ia o re gi me re pu bl ic an o, en qu an to
qu e o pr ín ci pe Ma ur íc io de Or an ge
pu gn av a pe lo na ci on al is mo ce nt ra li za do r
e er a su pr al ap sa ri an o. O ar mi ni an is mo
ad vo ga va a to le rân cia e a lib erd ad e
rel igi osa , ao pas so que o cal vin ism o ten dia
Ia m as co is as em ta l pé , qu an do
Ol de nb or nv el dt , ch ef e da Pr ov ín ci a de
Ho la nd a, pe di u ao s se gu id or es de Ar mí ni o ,
is to
em
16 10 ,
pr ep ar as se m
um a
de cl ar aç ão de su a fé , a qu al ve io a se r
co nh ec id a co mo "R ep re se nt açã o" , a fi m
de se r ap re se nt ad a ao Go ve rn o, pa ra ,
de ss e mod o, con seg uir fosse m tol era dos ,
pel o men os. Daí , também , a den omi naç ão
que se lhe s deu de "Re pre sen tan tes ".
Re di gi ra m, po is , o cé le br e do cum en to ,
ne le ex po ndo os ci nc o pontos fundamentais,
seguintes, por nós assim resumidos:
1) De us , po r me io de um de cr et o
et er no e im ut áv el, res olv eu sal var , atr avé s
de Jes us Cri sto , a tod os que O ac ei ta ss em
co mo Sa lv ad or e Lh e fo ss em fi éi s at é ao
fim , e con den ar aos que viv ess em ali ena dos
dEle, con for me Jo 3: 16 : "P or qu e De us
am ou o mu nd o de ta l ma ne ira qu e de u se u
Fi lh o un ig ên ito , pa ra qu e to do aq ue le que
nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
par a
o
do gma tis mo
e
era
pou co
dem ocr áti co. Aqu ele pro cur ava rea lça r o
val or do hom em, ao pas so que est e
ex al ta va a so be ra ni a de De us . Co mo se
po de ri am , en tão, nessas condições conciliar
os dois pontos de vista?
2) Jes us é o Sal va dor
do mu ndo ,
hav end o ef etu ado um sac rif íci o po r to dos
os hom ens e em par ti cu lar , pel o in di ví du o.
A re den çã o é un ive rs al . Ma s só se sa lva m
os que se arrependerem e crerem nEle.
Ni ng ué m po de , po r si só , fa ze r
qu al qu er be m ou atingir a salvação.
3)
4) O pe ca do r ne ce ss it a da gr aç a de
De us , se m a qual nada lhe é possível; todavia,
ela não é irresistível.
De us , po r Su a gr aç a, as si st e ao
cr en te e o aj ud a a tu do ve nc er , ca so de se je
o au xíl io di vin o e nã o pe rm aneça inativo.
5)
Os ca lvi ni st as re tru ca ra m co m uma
"C on tr a-Re pr es en taç ão ". A po lêmi ca se
am ar go u. Os co nt end or es pe rderam a
serenidade. Os argumentos já não tinham
eloqü ên ci a ba st an te . Ir mã os pe la cr en ça e
pe lo sa ng ue se ent reg ara m à lut a arm ada ,
leg and o-nos exe mpl o dos mai s tri ste s.
Af ina l, Mau ríc io ve nce u, apo iad o pe lo s
cal vin ist as ,
ma s,
dia le tic ame nte
os
arm ini ano s per man ece ram de pé . Nin gué m
os de rr ib ou , em bo ra Ol de nb or nv el dt foss e
de ca pi ta do na pr is ão e Gr ot iu s ti ve ss e de
ex il ar-se da pátria.
Já qua se sen hor da sit uaç ão, dá o
prí nci pe de Ora nge . na qu al id ad e de
St ad th ol de r do s Es ta do s Ge ra is , in te ir a
sol ida rie dad e ao Sín odo que se aca bav a de
con voc ar, pre te nd en do , po r es se me io ,
un if ic ar , ta mb ém , a ad mi ni stra ção rel igi osa .
A mag na ass emb léi a tev e lug ar na cid ade
de Do rt du ra nt e se te me se s (1 3 no ve mb ro
de 16 18 a 9 de mai o de 161 9), e nel a
est ive ram pre sen tes 84 teó log os e 18
delegados seculares. Diversos governos civis,
onde o pr ot es ta nt is mo do ti po Re fo rm ad o
fo ra ad mi ti do , ma ndar am rep res ent ant es: a
Ing lat er ra, o Pal at in ado , Hes se, Suíç a e
Bre me n. De ixa ram de com parec er os da
Fra nç a e Br an de nb ur go .
À fr en te do pa rt id o ar mi ni an o ac ha vase Sim ão Epi scó pio , seu pri nci pal gui a
teo lóg ico des de a mo rt e de Ar mí ni o. Er am
qu at or ze , co m el e, ma s ne m tod os ti nh am
di re it o
a
vo to .
Al iá s
to ma ra m-se
pr ov id ênci as pa ra qu e os co ns id er ad os
he te ro do xo s pe rd es se m a h ab il it aç ão pa ra
o
co nc la ve .
O
pr óp ri o
Sí no do
se
pr edi sp us er a a ma nt er se us pa dr õe s e a
su bj ug ar a “he re si a ” do s Re pr es en ta nt es
(a rm in ia no s) . Po uc o se po de ri a es pe ra r
em fa ce dis so. E, de fa to, con qua nto f oss e
bel íss ima a ex po siç ão do ut rin ár ia de
Ep is có pi o, os ad ep to s do ar mi ni an ism o
fora m ta ch ad os de he re ges e co nf ir ma da a
"C on tr a-Re pr ese nt aç ão ",
a
"C on fi ss ão
Be lg a" e o "C at ec is mo de He ide lb er g" .
Os mi ni st ro s ar mi ni an os ti ve ra m qu e
op ta r en tr e o "A to de Ce ss aç ão ", qu e os
ob ri ga va a si le nc ia r qua nto às sua s
cre nça s, e o exí lio . O inter ess ant e é que se
que ria ext ing uir a fog uei ra, esp alh and o-lhe
as bra sas , sem se perce be r qu e el as ir ia m
co nt in ua r a ar de r no ut ro s lu ga re s. Ia m
le vá-la s pa ra o es tr an ge ir o, on de ta mb ém
ge rm in ari am . In cl us iv e de le ga do s da s
na çõ es , pr es en te s ao Sí no do , ac ol he ra m
co m si mp at ia a be m fu nd am en ta da defesa
das idéias arminianas.
Qua ndo , ma is ta rd e, apó s a mo rte de
Mau ríc io, oco rri da em 16 25 , os ex il ad os
re gr es sa ra m à pá tr ia , o mo vime nt o já ha vi a
ga nh ad o
ma io r
am pl it ud e.
E
as
au to ri da de s tr at am , da i em di an te , co m
ma is
cl em ên ci a
ao s
ad ep to s
do
ar mi ni an is mo , fa cu lt an do -lh es o pr iv il ég io
de ed if icar em igr eja s par a si e de ter em as
sua s esc ola s par tic ulares .
Am ste rdã e Roter dã tor na ram -se, ent ão ,
os
seu s cen tro s pri nci pai s.
Naq uel a
est abe lec era m um sem iná rio teoló gi co pa ra
o pr ep ar o de mi ni st ro s, e em cu ja s
cá te dr as
se
asse ntar am
os
ilust res
Epis cópi o, Limb orch , Curc ella eus, Le Clerc,
Cattenburg e outros.
Org ani zan do-se
em
com uni dad e
ecl esi ást ica , os arm ini an os ad ot ar am o
si st em a pr es bi te ria no co mo fo rma de
go ve rn o. Co ns ta , no en ta nt o, que al gun s
mi ni st ro s se incli nav am , pre fer ent eme nte ,
par a o reg ime epi sco pal , confo rm e ex is ti a
na Ig re ja da In gl at er ra (A ng li ca na ).
Ep is có pi o re di gi u uma Con fis são de Fé,
des tin ada a ser vir de pad rão dou tri nár io ,
ma s ne nh um pa st or er a ob ri ga do a ac ei tála ou a pres tar-lhe jura ment o. A tole rânc ia do
armi nian ismo via-se ref let id a aqu i ma is uma
vez ,
e
ain da
dep ois
se
af rou xou
paulatinamente, com grandes prejuízos para o
sistema.
O pro gre sso do arm ini ani smo foi peq uen o
nos Paí ses-Baixos. É que seu rival, o
calvinismo, já se havia radicado for tem ent e nas
pro vín cia s do nor te, qua ndo ele des pon tou
al i, es ta va me lh or or ga ni za do e co nt av a
co m o ap ói o do Es ta do . Nã o o pod er ia
de sa lo ja r, as si m, tã o fa ci lm en te . Ma s,
tam bém , est e, fo i imp ote nte par a elim iná -lo .
Ain da hoje se mantém lado a lado, se bem que
o número de suas co ng re ga çõ es e de se us
pa stor es sej a re du zid o. A Ig re ja Re fo rm ad a
co ns er va a pr ed om in ân ci a.
Co nt ud o, no estr an ge ir o, a in fl uê nc ia
do ar mi ni an is mo se ac en tu a di a a dia e nos
mais vari ados seto res. Em dive rsos país es,
onde o ca lvi ni sm o te ve ép oc as de
es pl en do r, pe rd eu mu ito de se u br il ho co m
a in tr od uç ão da s id éi as ar mi ni an as ,
es pe ci al me nt e na In gl at er ra , EU A e ou tr as
pa rt es . Al ém dis so, obr igo u, por mai s de
uma vez , cer tos teó log os afe iço ad os ao
ca lvi ni sm o a lh e su av iza re m al gum as
ar es ta s, ta l co mo su ce de u co m Am yr al du s,
na Fr an ça; Ri ch ar d Ba xte r, na Ing lat err a, e
Nat ana el Tay lor , nos Est ado s Unidos ,
che gan do tod os ele s, como ver emo s, a
cri are m nov os sistemas teológicos.
O AR MI NI AN IS MO NA IN GL AT ER RA
Na In gl at er ra o ar mi ni an is mo
se
in tr od uz iu de ma nei ra int ere ssa nte . Ent re
os pre sen tes ao Sín odo de Dor t, ach ava -se
o clé rig o Joh n Hal es, de Eto n, pro fes sor de
gre go em Oxfo rd, desd e 1612 . Cont ou ele
mesm o que, ouvin do o arr azo ado de Sim ão
Epi scó pio sobre Joã o 3:1 6, qua ndo def end ia
naq uel e
con cla ve
a
doutr ina
dos
Rep res ent ant es (ar min ian os) , des ped iu-se
de Cal vin o, ou sej a, de sua dou tri na, com
um ad eu s. Re gr es sa nd o à pá tr ia , to rn ou -se
lá def en so r ar do ros o do arm ini ani smo .
Nov os sim pat iza nte s sur gir am, não obs tant e
ang lica nos e cal vin ista s lhe s mov ess em
opo siçã o.
À
cor ren te
de
ten dên cia s
arm ini ana s, que se vin ha des envol ven do no
paí s, ind epe nde nte men te da con tin ent al,
gra ças sobretudo às idéias do pregador Pedro
Raro (1531-1599), de Cam bri dge , jun tav a-se,
ago ra, a de Joh n Hal es.
A par tir de mea dos do sécul o XVI I o
imp act o do arm ini ani smo sobre a te ol og ia
da Ig re ja An gl ic ana fa zia -se se nt ir, po r
is so , com maior realce.
Te nd o pe rm an ec id o fi el à te ol og ia
ro ma ni st a at é à asc ens ão de Edu ard o VI , a
Igr ej a da Ing lat er ra abr aço u, a segu ir, por
algu m temp o, o luter anis mo, ader indo , afi nal,
ao ca lv in is mo , pa ra de po is ma nt er -se en tr e
o pr ot es ta nt is mo e o ro ma ni smo . Ca nn on
di z be m do es pí rit o an gl ic an o, qu an do
de cl ar a: "O an gl ic an is mo fo i um te to qu e
ag as al ho u mu it as op in iõ es ". ( 1) Nã o se
de via es tra nh ar que o arm ini ani smo ach ass e
lug ar ao lad o das dem ais concepções e
costumes adotados pela referida Igreja;
naturalme nt e à cu st a de re aç õe s e
co nt ra te mp os . Po r ex em pl o, qu an do , em
15 95 , Pe dr o Ba ro
le va nt ou
a su a
co nt ro vé rs ia , a opo siç ão res pon deu-lhe com
os
"Ar tigo s de
Lam bet h",
for tem ent e
cal vin ist as. Já o mes mo não acon tece u no
rei nad o de Jam es I, ao tem po de Wi lli am
Lau d, bis po de Lon dre s e ar ce bi sp o de
Ca nt uá ri a, a pa rt ir de 16 33 . Co mo lí de r
dos
an gli can os,
mov eu
Lau d
ten az
cam pan ha
con tra
o
cal vin ism o.
Na
dis cus são que , em 162 2, sus ten tou con tr a o
je su ít a Fi sh er , re ve lo u su as in cl in aç õe s
pa ra o ar mi ni anism o, dan do à fé um a
int er pre taç ão rac ion al, de so rte a fa zer do
hom em ope ran te com Deu s na obr a de sua
sal vaçã o. Ta nt o qua nt o lh e per mi tia m as
fu nç õe s ep isc op ai s, ob te ve que o re i Ca rlo s
I pu se sse à fr en te da s pa ró qu ia s clé rig os
de ten dên cia s sem elh ant es às sua s, ma s
tão arb itrá rio s se tor nar am os doi s, por fim ,
e a tal pon to des conten tar am pr inc ipa lme nte
os ca lvi ni sta s, que est es, sob a direção de
Oliver Cromwell, executaram a ambos e
organi za ra m um go ve rn o re pu bl ic an o.
É da í em di an te qu e o arminianismo
ganha terreno, absorvido, em parte, pelos
ang lo-cat óli cos
e,
em
par te,
pel os
lat itu din ari ano s,
ass im
cha mad os
os
pri mei ros por sua s sim pat ias rom ani sta s e os
últ imo s, pe la imp or tân cia que
ra zão nas di sc us sõe s rel igi osa s.
da va m à
Os doi s gru pos per ten cia m à Igr eja
Ang lica na , um a Hi gh Ch ur ch , o ou tr o a
Low Chu rc h, ou se qu is er mo s: à Al ta e à
Ba ixa Ig re ja . Os la ti tu di na ria no s, emb ora
pro tes tan tes ma is ort odo xos , de mo do
al gum , de sej ava m na Igre ja, um cal vin ismo
rígi do e por ist o, vie ram a se r co gn om in ad os
de "A rm in ia no s de Ca mb ri dg e" . Ao pri me iro
gru po pe rte nc era m Hoo ke r, Lau d, Lan ce lot
An dr ews , e ao se gu nd o, ao qu al , at é ce rt o
po nt o se po de co ns id er ar ar mi ni an o, Lo rd
Fa lk la nd ,
Jo hn
Ha le s,
Ch il ling wort h,
Jere mias
Tay lor, Whi chcote , Cudw orth ,
Wil kins e outr os, dive rsos dos quai s fili ados
aos Plat onis tas de Cambr id ge .
É im po rt an te le mb ra r, a in da , a po si çã o
qu e ne ss a mes ma épo ca tom ou o pur itan o,
dis sid ente , Ric hard
Baxt er
(1615-1691),
esforçando-se por conciliar o calvinismo e o
arminianismo.
O Bi sp o Bu rn et , em 16 99 , de u no vo
im pu ls o às te n dên cia s arm ini ana s, qua ndo
pub lic ou sua obr a "Exp osi ção dos Tri nta e
Nov e Art igos ", ded ica da ao rei Gui lhe rme III .
Ne la , ao in te rp re ta r o Ar ti go XV II , qu e
tr at av a da Pr edes tin açã o, deu -lhe sen tid o
arm ini ano e lhe atr ibu iu igu al val ide z ao
cal vin ist a. Que r diz er que tan to imp ort ava
um qua nt o o ou tr o. Am bo s p od ia m se r
ac ei to s. H av ia lu ga r na Ig re ja pa ra as du as
po si çõ es .
Já no sé cu lo se gu in te o re du to
ar mi ni an o se ap re se nt a na va ng ua rd a. O
qu ad ro tem , ago ra, nov o asp ect o: os "Tr int a
e Nov e Art igo s" são , ainda, calvinistas, mas o
clero anglicano, de modo geral, é arm ini ano em
sua s con cep çõe s. É bom lem bra rmo s des te
fat o, vis to que o fut uro org ani zad or do
me tod ism o viv eu nes se séc ulo e faz ia par te
do min ist éri o da igr eja of ici al (An gli can a) .
Os wesl eyano s não seri am, pois , os únic os a
abra çar o armi nia nis mo . À me sma lin ha de
pen sam ent o se fi lia m os Ba ti st as Ge ra is, da
In gl at er ra; os Qu aqu er s ; os Ba ti st as Li vre s,
dos Est ado s Uni dos da Amé ric a; os
Rep res ent ant es, da Ho la nd a ; a Ig re ja
Pr es bi te ri an a Cu mb er la nd , do s EU A; e
outros mais.
O ARM INI ANIN MO NA FRA NÇA
Na Fra nç a tam bé m o arm in ian ism o
rep er cut iu mu it o ce do , co mo be m co mp ro va
a po si çã o to ma da po r al gun s profes sores da
Academ ia de Saumur, onde se ensina va,
antes , a te ol og ia de Ca lv in o. A pa rt ir de
16 33 co nt av a es sa fa c uld ade em seu rol ,
di ver so s me st re s no táve is, den tre os qua is
se des tac ava m Lou is Cap ell us, Moy sés
Amy ral dus e Jos ué Pla cae us. Não se
con fo rma ndo ele s com o cal vin ism o pu ro ,
ad ot ar am po nt o de vi st a me di an ei ro , en tr e
a dou tri na da Igr ej a Ref orm ada e a dos
arm in ian os , to rna nd o-se conhe cid o por
cal vin ism o uni ver sal ist a ou hip oté tic o.
Doi s pontos era m fun dam ent ais nes ta
nov a con cep ção teo lóg ica : o da aç ão do
Es pí ri to di vi no e o da Gr aç a. En te nd ia m os
seu s
aut ore s
que
Deu s
não
agi a
coe rci tiv am ent e sobre os sen tim ent os do
hom em, mas sim atua ndo , pri mei ram ent e,
so bre o int ele cto e, ent ão, atr avé s des te,
so bre a alm a. O int el ect o, uma ve z
esc lar ec ido , é que le vav a a al ma à
re gen er aç ão . De us er a a ca us a pr im ár ia da
sa lva çã o. O hom em , po ré m, ti nh a a su a
pa rte ; me re cia ce rt a co ns id er açã o. O
se gu nd o po nt o, re fe re nt e à Gr aç a, te ve em
Am yral dus o mai s ard oro so def ens or.
Ens ina va ess e mes tre da Academia de
Saumur a interessante concepção da existência
da Gra ça uni ver sal hip oté tic a, que ele
exp res sav a na se gu in te li ngu ag em : há em
De us o de sejo
(ve ll ei ta s, af fe ct us ) qu e
to do s se ar re pe nd am e se ja m sa lv os
(ar mi ni an is m o ),
ma s por
um mo ti vo
qua lqu er a Gr aça não é ced id a a tod os
(ca lvi nis mo ). Par a tan to Deu s env iou Seu
Fil ho ao mu nd o, ma s as c on di çõ es
ex ig id as sã o um ób i ce a qu e to do s
pa rt ic ip em da sa lv aç ão .
(2 )
Há
em
Am yr al du s
um
ide ali smo
un ive rsa lis ta ao lad o de um par tic ula ris mo
cal vin ist a
ac ent ua do.
A
sal vaç ão
é
uni ver sa l ape nas hi pot eti cam ent e, ao pas so
que o núm ero dos sal vos é lim ita do, porqu e
ne m to do s re ce be m a Gr aç a. Ap es ar di st o
o il us tr e pro fe sso r de Sau mu r tev e que
defend er
sua
dou tri na,
con si de ra da
in co ns is te nt e co m os pa dr õe s da ma gn a
as se mblé ia de Dor t, por qua nto do is sí no dos
nac ion ai s ass im o en te nd ia m.
To da vi a um di sc íp ul o, Cl au de Pa jo n,
pr ofe sso r em 166 6 na me sma esc ola , não
só con tin uou a susten tar as idé ias de
Am yra ldu s, ma s ava nço u ain da ma is,
en si na nd o qu e a op er aç ão do Es pí ri to
so br e o in te le ct o també m se faz por meios
exte rnos, tais como os evan gelho s, as
ci rc un st ân ci as , et c.
Na In gl at er ra ad ot ar am po si çã o mais ou
meno s seme lhan te à de Amyr aldu s, War dlaw ,
John Br ow n e Ja me s Ri ch ar ds e no s EU A
algu ns teól ogos da Nova Ingl ater ra, como
Emmo ns, Tayl or, Park e Beman.
O ARM INI ANI SMO NA ALE MAN HA
E que dir emo s da Ale man ha, ber ço do
prot est ant ism o e de tan tos pen sado res
emi nen tes ? Se qui serm os, pod emo s recu ar
ao s te mp os da Re fo rm a. Co me ce mo s pe lo
in ol vid áv el Ph il ip Me la nc ht on , am ig o ín ti mo
de Lu te ro e se u co ad ju to r na cé le br e
Co nf is sã o de Au gs bu rg o. Ne nh um outro
viveu tão perto do coração do grande reformador
e nem me lho r lhe sec und ou os esf or ço s
naq ue les tem pos da agi tad a car rei ra. Hão
de ser col oca dos sem pre na lis ta das
gra nde s ami zad es.
Mel anc hto n,
não
obs tan te,
era
qua tor ze ano s ma is no vo do que Lute ro,
pro vin ha de fa míl ia be m do ta da e re ce be ra
ed uc aç ão ma is ap rim or ad a. Du as pes soa s,
por tan to, de ida des e psi col ogi as dif ere nte s.
Mas os do is se co mp le ta ram. A ca lma de
Me la nc ht on se con trapô s muita s vezes à
impet uosid ade de Martin ho Lute ro, ao passo
que o con ser van tis mo do ex -mon ge de
Wit ten ber g sal vou o com pan hei ro de
de sca mba r com o seu lib era lis mo para
sit ua çõe s per igo sa s, tal com o su ced eu em
Aug sbu rgo ao di sc uti r com os teó lo gos
rom ano s, po r ord em do imp era do r Ca rlo s V,
os te rmo s da co nf is sã o do ut ri ná ri a do
pr ote st an ti sm o al em ão .
Ni ng ué m po de im ag in ar qu e ru mo
to ma ri a o mo vi me nt o lu te ra no se m o
au xí li o de Ph il ip Me la nc ht on .
Lu te ro e Me la nc ht on se dav am mu it o
be m. N ot e-se , po ré m, qu e su as te ol og ia s
di ve rg em em al gu ns po nt os . Me la nc ht on ,
po r exe mp lo, em seu con ce ito s obr e a
Igr ej a enf ati zav a a im po rt ân ci a da ra zã o, e
po r is so é el a co ns ti tu íd a do s qu e ac ei ta m
a ve rd ad ei ra do ut ri na do cr is ti an is mo . Pa ra
Lu tero a Igr eja é a com unh ão dos fié is.
Mel anc hto n pen sav a da San ta Cei a com o
sím bol o do sa cri fíc io de Cri sto , rec e ben do-O
ape nas aqu e les que tiv ess em fé n Ele .
Lut ero, no en ta nt o, er a re al is ta , em bo ra
re je itas se a tra ns ub st an ci aç ão . Ou tr o po nt o
é o que di z re sp ei to à sa lva çã o do ho me m:
Ma rt in ho Lu te ro co lo ca va o ho me m na
in te ir a de pen dênci a de Deu s, enq uan to que
o com pan hei ro e a mig o tam bém exi gia a co par tic ipa ção da von tad e hum ana . No
con cei to de Mela nch ton trê s ele men tos
con cor riam par a se efe tiva r a sal vaçã o: o
Esp írit o San to, a ver dad e bíb lica e a vontade,
sendo que o Espírito é a causa eficiente, a
Palavra é o me io par a alc an çá -la , ma s,
dep ois de tud o, sem o ex er cíc io da
von tad e, o hom em nã o a con se gue . É o que
se chama de "sinergismo".
Algumas
das
idéias de
Melanchton
provocaram depois ver dad ei ra agi taç ão na
Ale ma nha , di vid ind o a Igr ej a em dua s ala s:
os con ser vad ore s e os fi lip ist as ou
sin erg istas .
As
cont rové rsia s
somen te
cess aram em 1580 , com a “Fórm ula de
Co nc ór di a”, e um a de la s fo i, ex at am en te ,
sobr e a pre des ti na ção . Af ina l, a que stã o
fi cou
def ini da
ne sse
do cu me nt o,
do
se gu in te mo do : “É da vo nt ad e de De us
sa lv ar a to do s. A Su a Gr aç a é un iv er sa l.
En tr et an to Êle sa lv a ap en as ao s qu e
ac ei ta re m a Cr is to . De us sa lv a em
co ns id er aç ão ao s mé ri to s de Cr is to ”. O
ca lv in is mo , en tã o, ma is uma vez, cedia
caminho.
Pou co dep oi s a co ntr ové rsi a vol ta a
ati var -se co m a che gad a à Al em anh a do
su íço Sam ue l Hu bb er. Ob ri gad o a de ix ar a
pá tr ia po r ca us a de se us co nc ei to s an ti ca lv inis tas , fi lio u -se à Ig rej a Lut er ana ,
ser vin do com o pa sto r em Tu bin ga e, a
seg ui r, co mo pro fe ss or da Un ive rsi dad e de
Wi tte nbe rg. Log o se pôs a ens ina r a
dou tri na do abs olut o uni ver sal ism o: Deu s
des de a ete rni dad e ele ger a tod os os
hom ens par a a sa lva ção , me smo sem le va r
em con ta a fé . Or a, is to , er a de ma is ,
co nt ra ri an do at é o es pí ri to da “Fórmu la de
Con cór dia ”. Em con seq üên cia , doi s col ega s
saíram a campo e lhe rebateram as idéias.
Até no sei o da Ig re ja Cat ól ica Rom an a
se dis cut ia o mo me nt os o pr ob le ma do li vr e
ar bí tr io e da pa rt e do ho me m na sua
sal vaç ão.
Dom ini can os
(to mi sta s)
e
Fra nc is ca nos
(sc ot ist as )
ne le
se
en vo lve ra m. Re ac en dem -no ao tem po da
Ref orm a, Mic hae l Baj us e seu s col ega s
tam bém
scotistas,
todos
favoráveis
à
participação do homem, ao pass o que os
opo nen tes
se
fi rma vam
em
S ant o
Ago sti nh o. Qua ndo os jes uít as qui ser am
faz er o mes mo, Cor nél io Jansen, bisp o de
Ypre s, e mais algu ns comp anhe iros da
abad ia de Po rt -Ro ia l se le va nt ar am em
de fe sa
da
do ut ri na
da
sal vaç ão
exc lus iva me nte pel a gra ça, con for me a
acr edi tavam esp osad a por aqu ele teó logo
nor te-afr ica no (Ag ost inho ). E o resu lta do
ve io de pr on to : um a pe rt in az pe rs eg ui çã o
mo vi da pel os inf lue nte s je su íta s con tr a os
jan sen ist as , a qua l co lim ou com a fun daç ão,
por est es, de nov a ins tit uiç ão ecl e siá sti ca,
ind epe nde nte de Rom a: a Vel ha Igr eja
Cat óli ca, dos Paí ses -Ba ixo s. Apó s o
Con cílio do Vat ica no (18 70 ), um no vo ra mo
se de st ac ou da Ig re ja Ro ma na , po r ca us a
do dog ma da inf ali bil ida de pap al, uni ndo -se
à Vel ha Igr eja Católica.
O ARMINIANISMO EM TEMPOS DE
RENASCENÇA
Agora, podem os leitores compreender melhor
por que es cr ev em os al gu re s a re sp ei to de
Ar mí ni o, di ze nd o qu e su as id éi as re fl et ia m
um com pl ex o de fato s e de ci rcu ns tân cia s.
É que hav ia por todas as par tes o des ejo de
val ori za r o ho me m. Ag os ti ni an is mo e
ca lv in is mo já nã o se coa dun ava m co m a
épo ca. A Ren as cen ça, as des cob er tas e a
pr óp ri a Ref or ma ti nh am pr op or cio na do
no va s
lu ze s.
Outr os
hori zont es
se
desc orti nava m aos home ns. O armi nianismo
encontrava solo propicio!
Mas , pa ra não ser mos par cia is, que rem os
esc lar ece r, ai nd a, qu e o ar mi ni an ism o fo i
al ém do s Pa íse s-Ba ixo s e nã o se li mi to u,
si mp le sm en te , ao ca mp o te ol óg ic o. Su a
inf luên cia cal ou na Fil osof ia, na Ciên cia do
Dir eit o, na Polít ic a e no te rr en o da pr át ic a,
pr es ta nd o
de ss e
mo do
va lio sí ss im a
co nt ri bu iç ão à hu ma ni da de .
Ha st in gs ad ve rte que nem sempre o fez
diretamente, mas serviu-se de um mei o. Foi o
cas o, por exe mplo , da Filo sof ia. O veíc ulo
que lh e le vo u o ar mi ni an ism o fo i o
pe ns am en to
re li gi os o.
E
ex pl ic a-se :
du ra nt e o sé cu lo XV I a at iv id ad e te ol óg ic a
pr ed om in ou sobr e a Fi lo so f ia , dan do -se o
co nt rá ri o no sé cu lo XV II , po ré m a ba se
es ta va
no
XV I.
E o ar mi ni an is mo
co nt ri bu iu co m a su a pa rt e. Re al ça nd o a
ca pa ci dade
do
hom em ,
pod ia
ma is
fa cil me nte al iar -se à in ves tiga çã o, à cr ít ic a
e, en fi m, ao av an ço ci en tífi co . Po r is so
ve mo s
a
fi lo so fi a
ca rt es ia na
se r
pe rs eg ui da na Ho la nd a pel os cal vin ist as
ort odo xos , ao pas so que o arm ini ani smo a
fav ore cia . (3)
Eis o que a res pei to esc rev e Van Gel der :
"O
cal vin ism o,
que
dom ina va
as
uni ver sid ade s nee rla ndesas, não tole rava as
idéi as dive rgen tes, nem filo sófi cas, nem
fís ica s. Ass im, ent ão, por seu esp íri to
con ser vad or, a rel igi ão of ic ia l er a ca us a
pa ra qu e mu it os sá bi os se co ns er vas sem
lon ge
das
uni ver sid ade s.
A
fil oso fia
mod ern a não era de todo tole rada pelos
prof essores calvi nista s: Desca rtes e Sp in oz a
so fr er am a ex pe ri ên ci a ". ( 4 )
Tã o rí gi da po si çã o so av a ma l at é no
se io da Ig re ja Re fo rm ad a, re vo ltando a
indivíduos bem formados, como o teólogo
Johannes
Coc cei us
(16 03 -166 9).
Na
con tro vérsi a que est e man tev e com Voe tiu s,
o gov ern o tev e no vam ent e que se env olv er.
Co cc ei us fo i, ta mb ém , um do s au to re s da
Te ol og ia Feder al, cuj a fi nal ida de era ,
out ros sim , a de sua viz ar os ri gores do
calvinismo.
O arm ini ani smo pos suí a ten dên cia par a a
mo der açã o e a tol erâ nci a. har mon iza ndo-se
fac ilm ent e com o esp írit o da ép oc a.
En co nt ra mo -lo , po r es se mo ti vo , ac ei ta nd o
a contribuição humanística da Renascença,
favorecendo o uso da raz ão, sem des cur ar o
val or da éti ca e da rev ela ção divi na. Pôde
assi m, livr ar-se de cair tant o no raci onal ismo
co mo no hum an ism o pu ro . Na Ho la nd a
so ub e
com pr ee nder
Des car te s.
Na
Ing lat er ra am par ou os lat itu di na ria no s em
se us vô os ar ro ja dos . Na Al em an ha ser viu
de in sp ir aç ão a Kant e a Schl eier mac her,
deix ando
marc as inde léve is em
seu s
sis tem as.
Sab em os da imp or tân cia que Tia go
Arm ínio
da va
à
cap ac ida de
e
à
res pon sab il ida de do hom em . Poi s bem : a
ênf ase dad a pel o gra nde fi lós ofo de Stu tga rt
à natur eza mor al do hom em é ref lex o da
inf luênci a arm ini ana . E o mes mo se pod e
afi rmar qua nto ao teó logo Sch leie rmache r.
Ha st in gs , a qu em re co rr em os ma is um a
ve z, in fo rma -nos que "Sch lei erm ach er, na
sua dou tri na da abs olu ta de pe nd ên ci a de
De us , re fle te Ca lv in o, ao pa ss o qu e, na
im po rt ân ci a da da ao se nt im en to re li gi oso ,
se gu e Ar mínio". (5)
No set or dos dir eit os do hom em, o
arm ini ani smo fo i al ém do ar gu me nt o
te ol óg ic o.
Ad vo go u
a
li be rd ad e
de
con sciê nci a, ens inan do o res pei to mút uo.
Tod os são igua is pe ra nt e a le i e pe ra nt e
De us . Há di re it os qu e ni ng ué m po de ti ra r
ao se r hu ma no . Da í, ve ri fi ca rm os , de nt ro
da
pr óp ria
Ho la nd a,
os
ar mi ni an os
ba ten do-se pe lo re gi me re pu bl ic an o. É ao
gr an de ju ri st a Hu go Gr ot iu s qu e se dev e a
fun daç ão
do
dir eit o
int ern aci ona l.
Rec ebe ndo dos anti gos fil ósof os e juri sta s
os conc eitos de "jus nat ura le" e "jus
gen tiu m", fê-los pas sar pel o cri vo do
arm ini ani smo e, as si m, os in co rp or ou à
po lí ti ca , co mo no rm a pa ra as naç ões . Há
dir eit os nat ura is e os há con ven cio nai s:
este s são criados pelos homens, aqueles
nascem com eles.
O ar mi ni an i sm o ch am ou a at en çã o pa ra
a di gn id ad e hum ana . Deu ao hom em se nso
ma is cla ro do seu pró pr io val or, rea lça ndo
seu s dev ere s e sua s pos sib ili dad es. Fê-lo
ma is cô ns ci o de su a co-pa rti ci pa çã o na
ob ra de De us . In ce nt iv ou -o a me lh or
co mp re en de r o pr óx im o e a in te ress ar-se
por seu s pro bl ema s. Por que , se o des ti no a
nin gué m é imp ost o, a sit uaç ão de qua lqu er
um pod e ser modif ica da. Vi sto que ,
igu alm ent e, Cri sto deu Sua vid a por tod os,
a sal vaç ão é un ive rsa l. Todas as ra ça s
nec ess ita m do
Eva nge lho .
É
dev er,
por tan to, dos cri stã os lev are m as Boa s
Nov as a tod os os rec ant os da ter ra. Por
iss o afi rma Ha st in gs , co m mu it o ac er to ,
fa la nd o do ar mi ni an is mo : "co m o es pí ri to
hu ma ni tá ri o qu e ev oc a, de u im pu ls o às
Missões Estrangeiras".
É
ver dad e
que
a
Igr eja
dos
Rep rese ntan tes (arm ini ano s) qua se nad a fe z
ne st e se nt id o, ma s qu an do o es pí ri to
mi ss io ná ri o
se
in co rp or ou
no ut ra s
de no mi na çõ es , o tr ab al ho ev an ge lí st ic o
to mo u in cr em en to . Ao ar mi ni an is mo ai nd a
fa lt av a alg uma coi sa. Com o sis tem a de
dou tri na apr ese nta va mui to s as pe ct os bo ns .
Ma s nã o ba st a só a do ut rin a. O me to dis mo
de Joã o We sle y ava nt ajo u -se -lhe po r lhe
dar a obj et ivi da de de qu e de ca re ci a.
Tr az en do fo go no co ra çã o, to rn ou-se
prático, dinâmico e ardoroso. São os fatos que o
co mp ro va m.
O qu e de ve mo s, en tã o a Ti ag o Ar mí ni o ,
é im po ss ív el ca lcula r. Há mui tas coi sas
val ios as que esc apam aos núme ros e elas
são, geralmente, as mais importantes. Não
seremos inj ust os, poi s, se o col oca rmo s
ent re os mai ore s ben fe ito res que a
hum ani dad e tem con hec ido . Su a vid a,
exe mp lo e dou tri nas con tin uam a pro duz ir
fru tos . Con tá-los tod os, no entanto, só ao
Supremo Deus compete.
REFERÊNCIAS E NOTAS:
(1) Cannon, W. Ragsdale - The Teology of John Wesley Abingdon, Cokesbury Press - New York, Nashville - Pág.
32.
(2) Hagenbach, Dr. K. R. - A History of Christ. Doctrines Vol III: págs 108, 109.
(3) Hastings - Encycl. Of Relig. And Ethics - Vol I: pág.
807.
(4) Van Gelder - Histoire des Pays-Bas - Pág. 78.
(5) Hastings - Op. Cit. - Pág. 807
CAPÍTULO V
A GÊNESE DO ARMINIANISMO
WESLEYANO
1. A SITUAÇÃO NA IGREJA ANGLICANA.
Ser -nos -á fác il comp ree nde r a pos içã o
que o fund ado r do mo vim ent o me tod ist a,
João We sle y, to mo u, com rel a çã o ao
ar mini an is mo , se no s le mb ra mo s qu e e le
na sc eu dentro da Igreja Anglicana, no começo
do século XVIII e pertenceu à Igreja Anglicana
até ao fim de sua vid a (17 03 -178 4).
Naq uel a épo ca os Tri nta e Nov e Art igo s
de rel igi ão con tinu av am se nd o o pa dr ão
do ut ri ná ri o, ca lv in is ta s em su a natureza,
porém a interpretação que deles se fazia, já era
pre dom ina nte men te arm ini ana . A tra nsi ção
que nes se sentido se vinha realizando datava
de Richard Hooker (1586) e de Pedro Baro, mas
ao tempo da ascensão do rei George I (17 14172 7), est ava qua se con clu ída .
Des de Hoo ker , por tan to, os teó logo s
ten tava m conc ili ar a dou trin a cal vin ista da
graça com a das obras, esta segundo a Igreja
Católica, e a conseqüência resultava em
evidente aproximação do arm ini ani smo . A
mel hor pro va dis so enc ont ra-se, sem
dúv ida , na obr a escri ta pel o bis po Geo rge
Bul l: a Har mon ia Ap os tó li ca . Tã o be m se
sa íra no em pr ee nd im en to o pr eclaro
(ilus tre, bril hant e) ecle siás tico que ela veio a
torn ar-se clás sica e a goza r de gra nd e
ac ei ta çã o na In gl ate rr a. Mu it os mi ni st ro s a
tinh am em su as bi bl io te ca s, pa ut an do pe la
re fe ri da ob ra as sua s idé ias . A teo log ia de
Geo rge Bul l gen era liz ou -se, poi s, no sei o da
Igr eja ofi cia l e par a ter mos u ma noç ão da
mes ma, daremos, a seguir, breve apanhado:
Jesus
Cristo,
por
Sua
obr a exp iat óri a, é o Sal vad or dos hom ens , ma s cad a qua l tem a sua pa rte a fa zer , pr oc ura ndo at iva me nte
ref orm ar a pr ópr ia vid a. Se ca da um agi r de sse mo do, to rna r -se -á ca pa z de re ce be r os mé ri to s da
ex pi aç ão . Fé e ob ra s sã o iden tif icad as num a só fin ali dad e. A jus tif ica ção é pel a fé e pel as obr as. São doi s
asp ect os de uma só rea lid ade . Nem Paulo se opõe a Tiag o e nem Tiag o a Paulo . No conc eito do bis po Bul l, a
fé inc lui todas as obr as da pie dad e cri stã . A fé nã o se lim ita só a ac ei ta r co mo v áli do s os en sin os do
Evangelho: envolve, também, o desejo de ser bom e de fazer o bem . No ut ra s pa la vra s: a fé pa ssa a se r at o do
pr óp ri o homem. (1)
A jus tif ica ção exi ge, igu alm ent e, a co-par tic ipa ção do hom em. Deu s con sid era ao tra nsg res sor com o
jus to, liv re da pena, desde que este assim queira. Ou, melhor, Deus o perd oa, se ele ti ver me re cid o a se nte nça
de ino cên cia . O at o div ino é con seq üen te das dis pos içõ es exi ste nte s no ho me m. Ma s iss o nã o se
co nf un de co m o pe la gi an ism o, por que , sem o aux íli o de Deu s, nad a con seg ue o pec ado r. To do s
de pe nd em os , an te s de tu do , de Cr is to . So mo s ju s tif ica dos por Seu s mér ito s, des de que sat isf aça mos as
con dições estabelecidas.
A expiação é de âmbito universal e pod e, po ten cia lme nte , sal va r a tod os os hom en s, se as ex ig ên ci as , pa ra
ta nt o, fo re m po r el es cu mp ri da s. A re de nç ão , em vi st a di ss o, é co nd ic io na l. Nã o ba st a qu e De us qu ei ra
e po ss a sa lv ar , é pr ec is o qu e ta mb ém o pe cador queira ser salvo.
Not e-se, ent ret ant o, que Deu s já pôs à dis pos içã o do ho me m os me io s qu e lh e pe rm it ir ão ob ra r
di gn am en te , de mod o a tor nar -se ace itá vel aos Seu s div ino s olh os, no conceito de George Bull. São os
sacramentos. Por meio del es o Se nh or di st ri bu i a ca da um a gr aç a qu e pr ec is ar pa ra cu mp ri r a Su a ex ce ls a
vo nt ad e. O ba ti smo pu rif ica de to do o pe ca do e ca pa ci ta a pe ss oa a da r os pr im ei ro s pa sso s na vid a
cr is tã . Pe la Sa nt a Ce ia , De us a co nf ir ma e fo rt al ec e e a le va à pr át ic a do be m. Os me io s sã o de Deu s,
ma s a ini cia tiv a em bus cá -los per ten ce ao hom em. Ago ra sua s ob ras pa ssa m a ser boa s e ac ei tá vei s
per ant e De us , qu e as to ma em co ns id er aç ão ao s mé ri to s de Cristo. Assim o pecador recebe a justificação.
Em um po nt o o bi sp o Bu ll se ma nt in ha fi el à do u tri na ca lvi ni sta : qua ndo sus te nta va a ne ces sid ad e da
gra ça di vi na pa ra qu e se re al iz as se a sa lv aç ão . Su a in te r pr et aç ão do s sa cr am en to s, de ou tr o la do , se
co nf un di a co m a de Ro ma (c at ol ic is mo ), po is lh es co nc ed ia vi rt ud es . Ma s, em lin has ger ai s, su a
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
teo lo gia con tin ha mu ito de ar mi nia ni smo . Por exe mpl o: a gra ça ao alc anc e de tod os, a ext ens ão da ob ra
vic ár ia de Cr is to , a re sp on sa bi lid ad e do hom em por sua pró pr ia sa lva ção . Alé m de out ro s co nce ito s.
Por tan to, não é dem ais lem bra r que ess a teo log ia and ava em vo ga no s di as em qu e Jo ão W es le y in ic io u
o se u mi nistério.
2 . A IN FL UÊ NC IA DO S PA IS : SU SA NA E SA MU EL WE SL EY .
Os pa is de Jo ão We sl ey fo ra m os pr im ei ro s a lh e in cu lc ar em as id éi as ac im a ex ar ad as (la vr ad as ,
re gi st ra da s po r es cr it o). Am bo s, ai nd a jo ve ns , de ixa ra m a Igr ej a Di ss id en te , fi lia nd o -se , po r co n vi cç ão , à
Ig re ja An gl ic an a, aj ud an do -os ba st an te , ne ss e pa rt i cu la r, a “Ha rm on ia Ap os tó li ca ”, do bi sp o Ge or ge
Bu ll .
Al gu ém es cr ev eu qu e Sa mu el e Su sa na di sc or da va m um do ou tr o em mu it as cois as, mas rara mente
quan to às suas convi cçõe s reli gios as. Os esc rit os que nos dei xar am , com pro vam -no sob eja me nte: sejam
cartas, estudos ou publicações. Os dois nutriam gr an de in te re ss e po r que st õe s te ol óg ic as . Su sa na , ao s
qu ar en ta e um an os , es cr ev eu um a ex po si çã o do Cr ed o Ap os tó li co . Sa mu el , ao s vi nt e e no ve , fo rm av a
ao la do do s ed it or es da Ga ze ta At en ie ns e, de st in ad a a di vu lg ar co nh ec im en to s re li gi os os e fi lo só fi co s.
De su a la vr a fo ram , ai nd a, um a ob ra zin ha so br e o sa cra me nt o da Sa nt a Ceia e uma exposição sobre o livro
de Jó.
Os W es le y, po r su as id éi as , fi li av am -se à co rr en te arm ini ana , con cor dan do em div ers os pon tos com o
bis po Bul l. Jun tam en te com es te, con si der ava m se r a ex pi açã o im pr es cin dí ve l à sa lva çã o e de âm bi to
un ive rs al , co mo , de ig ua l fo rm a, fa zi am de pe nd er do ho me m a su a ap ro pr ia çã o. Os me io s pa ra a
al ca nç ar , sã o a fé e as ob ra s. A fé , co mo as se nt im en to , an te s de tu do , ao qu e a Es cr it ur a re gi st ra a
re sp ei to de Cr is to . A fé , en tã o, é cr en ça e não um dom de Deu s imp lan tad o no cor açã o do hom em: é
at it ud e hu ma na . Ma s nã o é só cr en ça : é, ta mb ém , ob ed iê nc ia ao s pr ec ei to s di vi no s; é vi da pr át ic a.
A fé te m co mo su po rt e as ob ra s de ob ed iê nc ia . Um a se am pa ra na ou tr a. A fé co nd uz à p rá ti ca , ma s,
po r su a ve z, a aç ão fo rt al ec e e su st en ta a fé . Ne nh um a su bs is te se m a ou tra. Am ba s se com pl et am . São
me io s co nc om ita nt es da sa lv aç ão . Es tã o ao al ca nc e do ho me m e de pe nd em me smo del e. De sor te que ,
se o pec ado r sat isf ize r as con di çõ es , De us o p er do a e o sa lva . É ne ce ss ár io cre r e pr a ti ca r o qu e se cr ê
a fi m de pa rt ic ip ar do s mé ri to s de Cri sto , con for me pe rce bem os das seg uin tes exp res sõe s de Su sa na
We sl ey , em ca rt a de 13 de ja ne ir o de 17 10 , di ri gida à sua filha Sukey: "Não é aprendendo de cor estas
coi sas (is to é, or açõ es, cat ec ism os, cre dos , pas sa gen s da Escritura), nem dizendo algumas orações de manhã
e à no it e, qu e vo cê tra rá o cé u pa ra ju nt o de si . Vo cê de ve entender o que diz e praticar o que sabe". (9)
O cas al Sam uel e Sus ana We sle y ent end ia o bat ism o e a San ta Cei a d e mo do ma is ou me no s
se me lh an te ao do au to r da “Ha rmo ni a Ap os tó li ca ” e ta mb ém lh es at ri bu ía m ef ic ác ia . O pr im ei ro li vr a
da cu lp a or ig in al e dá ac es so à Ig re ja . A Ce ia co mp le ta o ba ti sm o, da nd o f o rç as ao se u pa rt ici pa nt e
pa ra ve nc er o pe ca do e aj ud an do -o a cu mp ri r os deveres da vida cristã.
De ta l tip o fo i a re li giã o qu e de sde ce do en sin ar am ao s fi lh os . A di sc ip li na er a ri go ro sa . H av ia , no la r,
re gr as pa ra qu as e tu do . Ma l co me ça ss em e le s a fa la r, de co ra vam o Pa i-No ss o. As ex ig ên ci as da Igr ej a,
de ig ua l fo rm a, de via m se r co nh ec id as e pr at ica da s. Em sí nt es e: o ca sa l We sl ey ex pr es sa va de mo do
co nc re to aq ui lo em qu e cr ia : a ju st if ic aç ão co mo re su lt ad o ta mb ém do es forço individual.
Qu an do Jo ão We sle y sa iu do la r pe la pr im ei ra ve z, pa ra in gre ssa r na esc ola em Lon dre s, a
Cha rte rho use , lev ava bem fun das as mar cas da edu caç ão dom ést ica . Por alg um tem po de ixo u de se r tão
fe rvo ro so , ma s ai nda li a as Es cr it uras , faz ia ora çõe s e com ung ava trê s veze s ao ano . Nem em Oxf ord , na
uni ver sid ade , se afa sto u dos pad rõe s que cul ti var a em ca sa ; nem ain da sob o so pro do rac ion al is mo da
épo ca. E, no ent an to, sab em os quã o cur ios a er a sua me nte , de se ja nd o se mp re sa be r a ra zã o da s
co is as . Nu nc a, po ré m, ab an do na va um ve lh o co nc ei to , en qu an to nã o ti vess e mot ivo s seg uro s par a dei xálo. Mui tas das mod ifi caç õe s que de po is ne le se op er ar am , fo ra m o re su lta do de co nf li to s re li gi os os e nã o
fi lo só fi co s, so br et ud o de sd e Aldersgate.
Um dos prob lema s que cedo come çaram a preo cupá -lo, fo i o da pr ed es ti na çã o. Er a qu as e im po ss ív el
vi ve r ce rcad o de idé ias arm ini ana s e con for mar -se com as do cal vinis mo. Nem pre cisa va conh ece r as de
Tia go Arm ínio , poi s nos ant igo s pad res gre gos , Iri neu , Orí gen es e out ros , e na lit era tur a ing les a acha ria
con cei tos seme lhan tes aos do teó lo go de Le id en .
Qu em sa be te ri a li do al go de Ho ok er e Ba ro ? As ob ra s de Wi ll ia m La ud , de Ra lp h Cu dw or th , e
ign ora mo s qua nto s ma is, est ava m ao seu red or, nas liv ra ria s e nas bib lio tec as. Alé m dis so, mui tos , den tro
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
da Igr eja , já ha vi am ab ra ça do o ar mi ni an is mo . Jn o. J. Ti gg ert , na in tr od uç ão à ob ra de Ca sp ar Br an dt ,
so br e Ar mí ni o, con fir ma o que por mai s de uma vez tem os dit o: " Qua ndo Jo ão We sl ey es ta va em Ox fo rd ,
na te rc ei ra dé ca da do sé cu lo dez oi to , e fo i or de na do di ác on o e pr es bí te ro na Ig re ja An gl ic an a, ai nd a
qu e os Ar ti go s pe rma ne ce ss em fié is ao cal vin ism o ori gin al e a lit urg ia tiv ess e ele men tos ro ma ni st as , o
cl er o ti nh a-se to rn ad o, em ge ra l , ar mi niano". (3)
O cer to é que , por vol ta de 172 5, qua ndo se dec idi ra pelo mini stér io evan géli co, diri giu-se, em cart a, à
sua mãe, pa ra de la in da ga r so br e a pr ed es ti na çã o. Pro va de qu e o pro ble ma se agi tav a em seu esp íri to.
Num tre cho , diz : "Se est ive sse dec ret ado inf ali vel men te des de a ete rni dad e que cer ta pa rte da hu man ida de
se sa lva ria e nin gu ém mai s, e um a gr an de ma io ri a na sc es se pa ra a mo rt e et er na , se m mes mo a
pos sib ili dad e de evi tá -la, est ari a ist o de aco rdo com a jus tiç a div ina , ou a mise ric órd ia? Ser á mise ric órd ia
pres crev er a uma cria tura a misé ria ete rna? Que Deus foss e o au to r do pe ca do e da in ju st iç a. .. é um a
co nt ra di çã o das idé ias ma is cla ra s que tem os da nat ur eza e per fe içã o div ina s". (4)
A res post a de Sus ana a Joã o Wes ley foi : "Ess a dou tri na, com o man tid a pel os cal vini st as rí gi do s, é mu it o
ho rr ip il an te , e de ve se r od ia da , porq ue dire tame nte acus a ao Deus Altí ssim o de ser o auto r do pec ado ". E
acr esc ent a: "Pen so que voc ê rac ioc ina bem co nt ra el a, po rq ue é in co ns is te nt e co m a ju st iça e a bo ndad e
de Deu s dei xar alg ué m sob a nec es sid ad e fís ica ou mo ra l de co me te r pe ca do e en tã o pu ni -la po r el e".
El a as se ve ra qu e " De us te m um a el ei çã o, ma s é ba se ad a na Sua pre sci ênc ia, e de mod o alg uma der rog a
(abo le, anu la ) a liv re gra ça de De us , nem pr ej ud ica a lib er da de do ho me m."
No conceito de Susana seria absurdo julgar que alguém determine o nascimento do sol só pelo simples fato de prever o
seu reerguimento a cada manhã. Assim é com a presciência de Deus: Ele prevê a salvação de uns e a condenação de
outros, mas não é a causa determinante de uma ou de outra. (5) De us nã o co nd en a e ne m sa lv a a qu em qu er que
se ja co nt ra a su a pr óp ri a vo nt ad e. Os el ei to s sã o os que se vol tam par a Ele ; os con den ado s são tod os que
O rejeitam.
Sam uel We sle y tam bém rep udi ava a dou tri na da ele iç ão inc ond ici ona l. Ac red ita va, com o a esp os a, que
Deu s por Sua pre sci ênc ia sab e de tud o que há de aco nte cer e conh ec e os qu e ac ei ta rã o Su a gr aç a, ma s,
de mo do al gum , int erv ém na lib erd ade do hom em.
No Orá cul o Ate nie nse , II, 101, escr eveu : "Se Ele fizes se isso , a natu reza do home m ser ia des tru íd a, os
pro pós ito s de rec om pen sas e cas tig os seriam irônicos, a pregação seria vã e vã, também, a fé."
E no ut ra pa rt e, di z: " De us fe z o ho me m re to e ag en te liv re. A pre sci ên cia de Deu s dir ige a liv re
agê nci a do homem , mas não a anu la, sa lva ndo -o qua ndo El e que ira ou não, ou condenando-o injustamente".
(6)
Os ev en to s fu tu ro s vi ri am de mo ns tr ar at é on de o pen sam ent o dos pai s inf lu iu na teo lo gia de Joã o
We sle y, fundador e organizador do movimento metodista.
3. O VA LO R DA DE DI CA ÇÃ O PE SS OA L.
Joã o We sle y apr end era , no lar , a ser ord eir o (dis cip lin ado ) e a faz er o bem . Os pa is lh e en si na ra m e
ao s ir mã os qu e de vi am do mi nar -se, nad a que ren do co nse gui r cho ran do, por que não a ob te ri am . É
sa be nd o es pe ra r e po rt an do -se co nv en ie nt em en te qu e se co lh em resu lta do s. Em lu ga r de ma us
pe nsame ntos , devia m cult ivar os bons e mani fest á -los por meio de aç õe s. Re li gi ão é co is a ta nt o in te rn a
co mo ex te rn a. Deu s abe nço a a que m pro ced e dig nam ent e. E, ass im, rea l çav am ele s per ant e os fi lho s, o
val or das obr as e de tod a boa ini cia ti va. Joã o che gou me smo a tom ar a dia nte ir a à mã e, poi s na car ta que
lhe di ri giu , em 172 5, ond e tra ta va da que stã o pre des tin ist a, esc rev eu: " Est ou per sua did o de que pod emo s,
ago ra, sab er se est amo s na gr aça da sal vaç ão , vist o ser iss o exp res same nte pro met ido nas San tas Escri tur as em rec omp ens a de nos sos esf orç os sin cer os".( 7) Ob er ve mo s be m es te fi na l: "no ss os es fo rç os
si nc er os ". At é Al de rs ga te se ri a o pi vô de su a te ol og ia: al ca nç ar a sa lv aç ão, con fia ndo no zelo pes soa l;
faz er-se dig no dos mér ito s de Cristo por suas próprias ações. Quem nele se expressava er a, de fat o, a in fl u ênc ia
da ed uc aç ão do mé st ic a e do meio em que vivia.
Em 17 25 , qu an do se ac ha va em Ox fo rd , vi er am pa rar-lhe às mão s alg uma s obr as que o for tal ece ram
mai s, no sen tid o de cul tiv ar vid a rel igi os a pes soa l. Uma del as, da aut ori a de Jer em ias Ta ylo r, as "R egr as e
Exer cíc ios pa ra um a Vid a San ta' ', ens in ava que o hom em fo i fe ito par a a prá tic a do bem e, a men os que
seu s ato s seja m acom pan hados de boas inten ções , Deus não se agra dará dos mesm os. O mei o par a
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
con segu ir que as açõ es sej am boa s, é pel a bus ca do inf lux o div ino . Alg o sem elh ant e ao mis tic ism o, emb ora
de cun ho prá tic o. We sle y ace ito u as nor mas sug eri das por Tay lor , res olv end o-se, daí em dia nte , con sag rar
a Deu s tod os os pen sam ent os, pal avr as e açõ es, com o bem pat en tei am as cél ebr es reg ras que
est abel ece u, ent ão, par a seu viver cotidiano, registradas no seu "Diário".
A Regra Geral diz: "Quand o tive res de rea liz ar qua lqu er açã o, con sid era com o Deus a fez , ou com o a far ia,
e imi ta o Seu exem plo ." As out ras , em núm ero de no ve, ref ere m-se ao emp reg o do te mp o e sã o co nf or me
se gu e:
1 - Co me ça e te rm in a o dia com Deu s, e não dur ma s des co me did am ent e.
2 - Sê di li ge nt e em tu a ca rr ei ra .
3 - Em pr eg a to do o te mp o de laz er, se pos sív el, na rel igi ão.
4 - Tod os os fer iad os são dia s san tif ica dos .
5 - Evi ta os bêb ado s e int riga nte s.
6 - Evi ta a cu rio sid ad e e tod a oc upa ção e con hec ime nto inú tei s.
7 - Exam ina -te cada noi te .
8 - Nunc a per mit as, sob qu al qu er hi pó te se , qu e se pa ss e um di a se m qu e te nh as pel o men os uma hora
par a a tua vid a devo cio nal .
9 - Evi ta a paixão.
Out ro li vro que leu , nes se épo ca, fo i a obr a sob eja me nte con hec ida "A Imi taç ão de Cri sto ", de Tom ás
Kem pis , presente que lhe fez, segundo parece, a jovem Betty Kirkha m, irm ã de um col ega e sua adm irad ora .
Wes ley apr endeu, atra vés dessa insp irad ora obra , que a reli gião é, acim a de tud o, coi sa do cor açã o e que a
pur eza da alm a é ess en ci al pa ra o cr ist ão . Ai nd a ou tr os in ce nt ivo s re ce beu , no sen tid o de cul tiv ar a fé
pel o zel o pes soa l, co mo já vin ha faz endo , mas ago ra cor rend o o risc o de se ent rega r à rec lus ão, peri go este
que aume ntou com a leit ura de nova s obra s da me sm a na tu re za , ta is co mo "A Vi da de De us na al ma do
homem ", de Scou gal, e espec ialme nte as duas de Wil liam La w: "A Pe rf ei çã o Cr is tã " e "C ha ma do sé ri o pa ra
um a vid a de vo ta e sa nt a" . Is to su ce de u em 17 27 , bem de po is de su a or de na çã o na qu al id ad e de
di ác on o.
Jo ão We sl ey ai nd a não est av a con ten te com seu est ad o es pir itu al , ma s de se ja va pr os se gu ir em se us
es fo rç os at é o en co nt ra r. A in fl uênci a rec eb ida de La w, le var am-no a re gis tr ar no seu Diá rio:
"Convenceram-me mais do que nunca da absoluta impo ss ib il id ad e de se r me io cr is tã o; e eu de te rmi ne i, pe la
gra ça div ina , dev ota r -me int eir ame nte a Deu s, dar -Lhe minh a al ma , me u co rp o e to do o me u se r". ( 8)
Ta nt o se ena mor ou dos ens ino s de Law que , se não for a a rea lid ade da vid a e os con sel hos de pes soas
exp erim ent ada s, Joã o We sle y teria caído num p ietism o errôn eo. Uma delas lhe disse , certo dia : "A Bíb lia não
con hece nad a de reli giã o sol itá ria". Por is so , qu an do , em no ve mb ro de 17 29 , de ix ou a pa ró qu ia do vel ho
pai , ond e o es ti ver a au xil ian do, e vei o ass um ir se u po st o de fel lo w (tu to r) na un ive rs id ad e, jun to u -se ao
Cl ub e San to, que o irm ão or gan iza ra dur ant e sua aus ên cia , dan do-lhe tod o o apó io, sem se des cur ar
(des cui da r, aba ndo na r) de vis ita r a pre so s, a enf erm os e de aju dar os nec es sit ad os. Fa zer o bem era tão
indispensável à fé como ler as Escrituras, praticar jejun s, or ar ou uti li zar -se do s sa cra me nto s. We sle y que ria
rece ber as bênç ãos da expi ação de Cris to por seus próp rios es fo rço s.
An os ma is ta rd e (1 73 5) ma ni fe st a id ên ti ca a titud e, ao se ofe rec er par a ir à Amé ric a eva nge liz ar os
sil vícol as da Geór gia . "Meu pri nci pal obj eti vo, nis so, é a esp eran ça de sa lv ar mi nh a pr óp ri a al ma ,"
ex pl ic av a ele em ca rt a de 10 de ou tu br o, qu at ro di as an te s do em ba rque . Mas tan to na ida com o na vol ta,
com o dur ant e sua est ada al i, ha ve ri a de co mp re en de r que ni ng uém en co nt ra pa z, at é qu e se re nd a a
De us e co nf ie ne le tã o so men te , e qu e nen hum hom em pod e jus tif ica r -se por si me smo . Daí seu regresso
à Inglaterra sob a impressão de fracasso!
4. A CO NT RI BU IÇ ÃO DE AL DE RS GA TE .
Lon ge est eja de nós jul gar que Joã o We sle y não fosse um cris tão ver dad eir o ant es da expe riê nci a de 24
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
de mai o de 173 8, na ru a Al de rs gat e. Su a co nd ut a e se u car át er pr ov am o co nt rá ri o. Co nt udo é in eg áv el
qu e al go de im po rta nt e ac on tec eu naq ue la me mo rá vel reu niã o. O cor aç ão de We sle y se aqu ece u
est ran ham ent e, seu pen sam ent o rec ebe u nov as luz es, sua vid a inf lam ou-se com mai ore s pod ere s. Pas sou a
ter pa z e a sen ti r-se se gur o qua nto à sua sa lva ção . Su a te ol og ia ad qu ir iu um sa bo r qu e nã o po ss uí a
an te s. Nã o de sc am bo u, en tr et an to , pa ra o mo ne rg is mo te oc ên tr ic o, ju lg an do qu e tu do de pe nd es se
ex cl us iv am en te de De us , poi s ele bem sab ia de sua s lut as par a vive r os ret os pri ncípio s do Ev an gel ho.
Exp er iên cia s dur as se ocu lt ava m po r de tr ás de Al de rs gat e. Es ta va sa lvo de se de sen ca mi nh ar par a o
pel agi ani smo e liv re, igu alm ent e, da pos içã o cal vinis ta. Se an tes cr ia na sa lva çã o com o co nce di da a tod os
os ho mens, depois de Aldersgate continuava a crer nela mais firmemente. Deus nunca aband ona os que bate m à
port a de Seu cora ção. Há, poré m, ag or a, um a di fe re nç a se ns ív el na ma ne ir a de en ca ra r o as su nt o. Tu do
qu an to o Al tí ss im o de se ja do pe ca do r é que se arr epe nda e ace ite a obr a exp iató ria de Cri sto ; nad a ma is
lhe res ta faz er. Cri sto é o dom gra tui to de Deu s par a tod os os Seu s fil hos . Que m se esv azi a de si mes mo,
Ele o enc he com Sua gra ça. Ent ão a vid a se tor na pro dut iva . As boas ações deix am de ser elem ento s
caus ais para se con vertere m em efe ito s (con seq üên cia s). Pra tic a-se o bem por que o amo r div ino se
der ramo u em nos sos cor açõe s, faz end o -nos nov as cria tu ra s. De us é su pr em o em nó s. Ao hu ma no se
an te põ e o di vin o. A na tu re za hu ma na ai nd a é de im po rt ân ci a pa ra We sle y, por ém já não conf ia tan to nel a.
Ago ra o cent ro de tod os os seu s int ere sse s é Deu s. É par a Ele que Joã o est á voltado e não para si próprio.
Por con seg uin te, mes mo ant eri orm ent e a Ald ers gat e, pod emo s con sid era r a Wes ley enq uad rad o, de
cer to mod o, de nt ro do ar mi ni an is mo . Ma s ce rt am en te a ex pe ri ên ci a de 24 de ma io deu melhor estrutura e
mais firmeza à sua doutrina.
5. A CO NT RO VÉ RS IA PR ED ES TI NI ST A.
Não muito depois de Aldersgate, João Wesley precisou enf rent ar o prob lema cal vini sta no seio das nasc ent es
soci edad es met odi sta s. Faz iam par te del as pes soa s de tod as as igrejas evangélicas: episcopais, moravianos,
independentes, pr es bi te ri an os e mu it as qu e nã o pe rt en ci am a ne nh um a confi ssão relig iosa. Quant as, enfim ,
esti vessem dese josas de vive r cris tãme nte . Ele lhes dava as boa s-vind as, rece ben do-as sem pre com sim pat ia
e sem cog ita r se cri am ou se dei xava m de cre r na pre des tin açã o. Seu lem a res umi a -se nas seguintes
palavras: "O teu coração está em paz com Deus? Se est á, dá -me tua mã o, po is som os irm ãos !"
Ent ret an to, alg uém pôs -se a per tur bar ess as pes soa s com a que stã o prede st in ist a. Es te s fo rm ar am lo go
um pe qu eno gr up o ch efi ado por Geo rg e Wh ite fi eld , min ist ro ang lic ano , gra nde evangelista e companheiro de
primeira hora dos irmãos Carlos e João Wesley. Re cu sa nd o-se os di to s in ov ad or es a ou vir as ex or ta çõe s que
lhe s dir igi a, Joã o agi u com ma ior ene rgi a, pre gan do, em Bri sto l (17 40) , um ser mão sob re a "Li vre Gra ça" ,
que publ icou em segu ida, o qual esta va base ado em Rm 8:32 : "Aq ue le qu e nã o po up ou a se u pr óp ri o Fi lh o,
an te s, po r to do s nó s o en tr eg ou , po rv en tu ra nã o no s da rá gr ac io sa ment e com ele tod as as cou sas ?"
Em con seq üên cia os cal vi ni st as se or ga ni za ra m nu m mo vi me nt o à pa rt e. Wh ite fie ld, ent ão, aci rro u o
com bat e, bra ndi ndo as arm as de sua eloq üênc ia tant o cont ra a posi ção wesl eyan a como cont ra a pess oa do
ex-cole ga, que, apes ar diss o, pref eriu não lhe votar (dedi car) aten ção. Numa dess as ocas iões , deu aos que o
inci tavam a toma r atit ude idên tica à de Whi tefi eld, esta bela resp osta : "Pod eis ver Wh ite fie ld con tra Wes ley ,
por ém não Wes ley cont ra Whi tefi eld". Ano s mais tard e os dois reat aram a amiz ade. E Whitefield, que veio a
falecer na América, deixou em seu te st am en to al gu ns pr es en te s pa ra Jo ão We sl ey e o in cu mb iu do ser mão
mem oria l.
Ape sar de sua s div ergê nci as, aind a eram irmã os em Cri sto Jes us. Em 177 0, qua se trin ta ano s dep ois da
pri mei ra con tro vér sia , as div erg ênc ias se rea cen der am de novo , sain do em defesa do armi nian ismo , desta
vez, dois do s me lh ores co la bo rado re s de We sle y: Jo ão Fle tc he r e To ma s Ol iv er s, ês te au to r do hi no "A o
De us de Ab ra ão Lou vai" . E, ass im, pod emo s sab er com pre cisã o o conc eit o wesleyano sobre a referida
doutrina.
Para João Wes ley, " a graç a é livr e em tudo e livr e para todos", o que significa dizer que é distribuída
gratuitamente por Deu s a cad a pes soa . Não dep end e de mér ito s hum a no s e ne m se pa rt ic ul ar iz a so me nt e
a un s ta nt os . A sa lv açã o, po r con se gui nte , é de alc anc e un iv er sa l, po rqu e a gr aç a fo i po st a à di sp os iç ão
de to da s as pe ss oa s. De us seria inc apa z de dec ret ar a sal vaçã o de uns e a cond ena ção de out ros , por que
iss o é con trá rio à Sua nat ure za e à nat u rez a do hom em. Sim , por que , se uns fo ram pre des tin ado s à ru ín a e
te rão ne ce ss ar ia me nt e qu e vi ve r no pe ca do , a cul pa por es se ma l rec ai sob re o pró pr io Deu s. O fa to de
se rec usa r Ele a sal vá-los , qua ndo a out ros con ced e o pri vil égi o, nos dei xa per ple xos e nos ind uz a
con jec tur as men os apr eci áve is a res pei to de Seu s sen tim en tos . O Cri ado r se reb aix a a nos sos olh os, poi s
mes mo lim ita dos com o so mos , par ece que ser íam os inc apa zes de agi r de sem elh ant e modo .
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
Daí as exp ress ões de Wes ley a cerc a da refe rida doutr ina : " Des tr ói tod os os se us at rib ut os; põe ab aix o
tan to sua jus tiça como sua mise ric órd ia e verd ade ; rep rese nta ao sant o Deus como pior , mais fals o, mais
crue l e mais inju sto do qu e o di ab o. Ma is fa ls o, po rq ue o di ab o, me nt ir os o com o é, nun ca dis se que
det erm ino u que tod os os hom ens foss em salv os; mais inju sto, porq ue o diabo não pode , aind a que que ira, ser
cul páv el da inj ust iça que se atr ibu i a Deu s qua ndo se diz que milh ões de alma s for am con den ada s por at o
dE le ao fo go et er no , pr ep ar ad o pa ra o de mô ni o e se us an jo s, po r co nt in ua re m no pe ca do qu e nã o
po de m ev it ar po r fa lt a da gr aç a qu e De us nã o lh es qu er da r; é mai s cru el, po rqu e ess e esp íri to inf eli z
bus ca des can so e nã o o ac ha , de mo do qu e su a pr óp ri a e in qu ie ta mi sé ri a lhe é com o ten taçã o par a ten tar
out ros . Mas Deu s des can sa em seu al to e san to luga r. As sim , sup or que , esp on tan ea men te, por sua pur a e
simp les von tade e pra zer, fel iz com o é, condenara suas criaturas à miséria sem fim, queiram ou nã o, é im pu ta rLh e ta l cr ue ld ad e qu e nã o ad mit ir ía mo s igu al ao mai or ini mig o de Deu s e do hom em" . ( 9)
E, mai s: deso nra a Cris to, faze ndo-O hipó crit a e enga nado r dos homen s, po rq ue é im po ss íve l ne ga r te rse El e ap re se nt ad o diz end o que rer a sal vaç ão de tod os. Dia nte de Jer usa lém cho ra, exc lam and o: "Qua nta s
veze s eu qui s reu nir os teu s fi lh os e tu nã o qu is es t es " (M t 23 :3 7). De ou tr a fe ita , conv idou os peca dore s
com expr essõ es repa ssad as de tern ura, pro met end o-lhe s paz e des can so de esp íri to: "Vin de a mim , tod os
vós que est ais can sad os e opr imi dos , e eu vos ali via rei. Toma i sob re vós o meu jugo , e apr end ei de mim,
por que sou man so e hum ilde de cor ação ; e ach are is des cans o par a as vos sas alm as" (Mt 11: 28-29) .
"Mas se dizeis que não pretendia salvar todos os pecadores, prossegue João Wesley, que chama aos que não
podem ir, então representais o Filho de Deus zombando de suas necessitadas criaturas, por lhes oferecer o que jamais
pretendia dar. Vós o descreveis como dizendo uma coisa e fazendo outra e como praticante de um amor que não
possuía. Ele, em cuja boca não havia malícia, vós o fazeis cheio de engano, vazio de toda e qualquer sinceridade. Dizes
que podes prová-lo com a Escritura. Acautela-te! Que queres provar com as Escrituras? Que Deus é pior que o diabo?
Não pode ser!". (10)
A dou tri na da pre des tin açã o, no con cei to de We sle y, é con trá ria ao esp íri to da Esc rit ura , nul ifi ca o
Eva nge lho , des tró i o am or ao bem e à san tid ade . A Bíb lia ens ina que De us nã o qu er a mo rt e do ím pi o e,
pa ra is so , "m an do u se u Fi lh o ao mu nd o, a fi m de qu e to do o qu e n Ele cr er seja salvo" (Jo 3:16). Mas, se
apenas os eleit os se salv arão , para que preg ar -lhes ? E porq ue fazê -lo, tamb ém, aos não -elei tos? Aque les se
salv arão mesm o, com ou sem eva nge lho , e est es se per der ão ain da que o ouç am. De st ró i o ze lo pe la
sa nt id ad e, po rq ue le va os ho me ns a neg lig enc iar em a sua con diç ão, sej a fís ica , sej a esp iri tua l. We sle y
con ta que , ao vis ita r pes soa s enf erm as , ouv ia res p osta s como esta : " Se esto u decr etad o a vive r, vive rei; se a
mor rer , mor rer ei; ass im, poi s, não ne ces sit o per tur bar -me co m co is a al gu ma ". Pa ra qu e re mé di os ? Pa ra
qu e pr eo cup açõ es? Mas ten de s a ce rt eza de que soi s do s ele ito s? Que pr ova s ten des dis so? E, se
ten des , que vos gar ant irá a per man ênc ia nes sa con diç ão? Mui tos já caí ram da gra ça e vó s po de re is ca ir
ta mb ém . Te nd es , en tã o, qu e co nf ia r em Cr is to e vig ia r di ut ur na me nt e po r vo ss a fé . Só qu em per sev era r
até ao fim ser á sal vo". (11)
Era est a, poi s, a lin guagem em que Wesley expunha o seu pensamento.
6 . O CO NT AT O CO M AS ID ÉI AS DE TI AG O AR M ÍN IO .
Par ece-nos que Joã o We sle y só tra vou con tat o dir eto com os esc rit os de Arm íni o dep ois de 177 0, ano da
seg unda co nt ro vé rs ia pr ed es ti ni st a, po rq ua nt o é a pa rt ir da í que apa rec em, na lit era tur a met odi sta ,
ref erê nci as ao teó lo go ho la nd ês . Ag or a Jo ão We sl ey vi a qu e an da va be m ac om pa nhad o . Enc ont ro u, em
Ti ago Ar mí ni o, mu it as idé ias teo ló gic as se me lh an te s às su as e qu e o aj ud ar am a fo rt al ec er se us pon tos
de vis ta. Se ant es er a ar min ian o, con fo rm e já de i xamos patente, continuou a sê-lo com maior firmeza.
Na edição das "Obras de Wesley", publicada pelo bispo Em or y, há um es tu do in ti tu la do "A pe rg un ta
“Qu e é um ar mi ni an o? ” r es po nd id a po r um am an te da Li vr e Graça", escrito, possivelmente, antes de 1770,
pois há nele ref erê ncia à que bra de rela çõe s ent re Wh itefie ld e Wes ley. Co nt ém ai nd a li ge ir o es bo ço da vi da
de Ar mí ni o e um a nota sobre as principais diferenças entre o arminianismo e o calv ini smo . Nel e, We sle y col oca se, a si mes mo, den tro da tra diç ão arm ini ana . Se foi por ess e tem po que rece beu , de pri me ira mão, os
esc rit os de Ti ago Ar mín io, é di fí cil dizê-lo. Admitimos ser o mais acertado!
Em agosto de 1777, escrevendo para sua revista, Wesley pro nun cio u-se do se gui nt e mo do: " Não sab em os
de nad a ma is pr óp ri o pa ra um tr ab al ho de st a na tu re za qu e um esboço da vida e morte de Armínius",
mencionando, aí, o fat o que mui tos inj uri ava m o teó log o nee rla ndê s sem o conhecerem. Quanto a ele, porém,
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
sabia de suas idéias e o hon rav a, tan to ass im que a rev ist a wes ley ana pas sou a de no mi na r -se , de sd e 177 8,
"A Re vis ta Arm in ian a" (Th e Ar mi ni an Ma ga zi ne ). É di gn o de no ta qu e o pr im ei ro arti go publ icad o no
volu me de 1792 é a trad ução do escr ito de Arm íni o, int itu lad o "O jul gam ent o de Arm íni us ace rca dos decr etos
divi nos" , feit a, talv ez, por Wes ley, algu m tempo antes.
O Re v. Wi lli am P. Ha rri son , red ato r das not as int rodut óri as dos "Se rmõ es de We sle y", nar ra um diá log o
int ere ssa nte tra vad o ent re o jov em min ist ro cal vin ist a Car los Simeo n, de 28 anos, e o velho João Wesl ey, com
os seus 84. Isto em 1787. Dá-nos ele, uma idéia bem nítid a, do conce ito em que se ti nha o fu nd ado r do
me tod ism o e o qua nt o se ig no ra va na Ing la te rr a, ap es ar de tu do , o ar mi ni an ism o. "Se nho r", dis se o jov em
Sim eon , "Ou ço diz er que soi s arm ini ano . Qua nto a mim , alg uma s vez es me cha mam cal vinist a e, sendo
assi m, deve mos, pens o, empu nhar noss as adagas um contra o outro. Mas, antes que eu comece o duelo fa re i,
co m vo ss a pe rm iss ão , al gum as pe rgu nt as , nã o po r imp ert ine nte cur ios ida de, mas par a min ha rea l
ins tru ção . Cred es, senh or Wes ley, que sois uma cria tura depr avad a, tão dep ravada que nun ca ter íei s
pen sad o ela vol tar -vos par a Deu s, se o mesmo não houvesseposto tal desejo em vosso coração?
- Sim, respondeu o ancião, creio-o de fato.
- E deses perais inteir ament e de recome ndar-vos a De us po r qu al qu er co is a qu e po ss ai s f az er ,
es pe ra nd o a salvação exclusivamente do sangue e da justiça de Cristo?
- Sim, exclusivamente através de Cristo.
- Mas, senhor, suponde que inicialmentefostes salvo, de uma maneira ou de outra, pelas boas obras?
- Não, ret ruc ou We sle y, pre cis o ser sal vo por Cri sto do começo ao fim.
- Confe ssais, então, que prime iro fostes desper tado pe la gr aç a de De us ; nã o so is , ag or a, de um mo do
ou de outro, guardado pelo vosso poder?
- Não! - foi a resposta.
- Então? Deveis ser sustentado a cada hora e a cada mo me nt o po r De us , ta nt o co mo a cr ia nc in ha no s
br aç os de sua mãe?
- Perfeitamente. - disse-lhe Wesley.
- Toda a vossa esperança esta posta na graça e na mi se ri cór di a de De us , pa ra vo s pr es er va r no se u
Re in o Celestial?
- Sim; não tenho esperança senão nEle.
- Ent ão, sen ho r We sle y, com vos sa lic en ça, vou em ba in har min ha ada ga, por que tod o o meu
cal vin ism o é iss o; aí est á mi nh a el ei çã o, mi nh a ju st if ic aç ão , mi nh a pe rs ev er an ça fi na l. Aí es tá , em
su bs tâ nc ia , tu do que cr ei o e do mo do como cre io. Ass im, em lug ar de bus carm os ter mos e fra ses que
sir vam de fun dam ent o e con ten das ent re nós , una mo -no s, po r fa vo r, ne st as co is as em qu e es ta mo s de
a co rd o". (12)
Adm iráve l, sem dúv ida , o esp íri to des te moç o. Que m der a pud éss emo s tod os com pre end er quã o ric o é o
cri sti anis mo par a ne le que re rmo s bi tol ar a me nte hum ana . Ist o nos tor nar ia mai s tol era nte s e sim pát ico s. É
o que se not a, por exe mp lo, no arm ini ani smo , no me to di smo e no cal vin ism o. To dos ele s são si ste ma s
cri stã os , dan do um a ma is ênf ase a cer ta dou tri na do que os out ros . Às vez es, no ent anto , as dife rença s são
mais de apar ênci a. Apen as um caso : a imp ort ânc ia que o arm ini ani smo met odi sta dá a gra ça de De us , é
fu nd am en ta l em su a te ol og ia , no qu e mu it o se ass eme lha ao cal vin ism o; inú mer as pes soa s, tod avi a,
ign oram est a ver dad e. Mas , de out ro lad o, exi ste m dif ere nça s pro fun das ent re os doi s, e até ent re o
met odi smo e o arm inianismo, como se verá no capítulo seguinte.
A qua nto s dese jam int eir ar-se com segu ran ça da teo logia wes le yan a, rec ome nda -se esp eci alm ent e o
exa me das Atas das prim eira s Conf erên cias do meto dism o ingl ês (Doc trin al Minu tes) que, junt amen te com os
Sermõ es de Wes ley e sua s Not as Sobre o Nov o Tes tam ent o, alé m dos "Vi nte e Cinco Artigos", por ele redigidos
em 1784, para a novel Igreja Met od ist a, da Am ér ica , con sti tu em o me lho r re po sit óri o de inf orm açõ es
rel ati vam ent e à men cio nad a teo lo gia. Esse s Arti gos nada mais são que uma sínte se dos "Tri nta e Nove ", da
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
Igre ja Angl ican a, esco imad os (livre s), poré m, de ele men tos cal vin ist as ou, se qui ser mos , vis tos sob
int erp ret aç ão arminiana.
REFERÊNCIAS E NOTAS:
(1) Cannon, W. R. - The Theology of John Wesley - Pág. 41
(2) Cannon, W. R - Op. Cit. - Pág. 47.
(3) Brandt, Caspar - The Life of James Arminius - Trad. Por John Guthrie - Nashville, Tenn. - Pág. 15.
(4) Joy, James Richard - O Despertamento religioso de João Wesley - Imprensa Metodita - São Paulo - Pág. 38.
(5) Carta de 18 de agosto de 1725, in Teyerman - Life and Times of John Wesley, Vol. I, Pág. 40.
(6) Oráculo Ateniesne, I, 58, citado por Cannon, Op. Cit., pág. 46.
(7) Teyerman - Op. Cit., Vol I, pág. 40.
(8) The Works of the Rev. John Wesley - Ed. Thomas Jackson, 3ª ed. - London. Vol XI, pág. 367, cit. por Cannon.
(9) Wesley - Sermão sobre a “Livre Graça” - Sermões de Wesley, Imprensa Metodista.
(10) Wesley - Sermão sobre a “Livre Graça” - Sermões de Wesley, Imprensa Metodista.
(11) Obd. - Op. Cit.
(12) Sermões de Wesley - Vol I, págs 125 e 126 - Imprensa Metodista - São Paulo.
Capítulo VI
AR MI NI AN IS MO E ME TO DI SM O
I — O ES PÍ RI TO DO ME TO DI SM O:
Me to di sm o e ar mi ni an is mo tê m al go em co mu m e, tam bém , dif ere nça s. Um nã o é ape nas con tin ua ção
his tó rica do outro. Ou, para sermos mais precisos, diremos que o me to di smo nã o é si mp le s co nt in ua çã o do
ar mi ni an ism o. Ele s se liga m quan to a cert os conc eit os, mas pou co quan to ao tem po e à hi stó ria .
O me tod ism o, con fo rme já vim os, des en vol veu -se qua se in dep end ent em ent e do mo vim ent o ho lan dês ,
ten do est e sur gid o no iní cio do séc ulo XVI I, ao pas so que o Met odi smo aco nte ceu na Ing lat err a, em mea dos
do sé cu lo XV II I. No pr im ei ro ca so , a re lig iã o of ic ia l er a o cal vin ism o; no se gun do, re ina va o an gli can ism o.
A vid a dos fun dad ore s de amb os os sis tem as mer ece igu al adm ira ção , vist o ser em ele s hom ens cul tos e
pie dos os, ded ica dos ao be m es ta r de se us co nt er râ ne os . We sl ey , no en ta nt o, foi mais long e em suas
real izaç ões e em sua teol ogia . Podemo s, até afi rma r que o arm ini ani smo dev e sua mai or dif usã o ao
mov ime nto wes ley ano e qui çá, a sua pró pri a sob revivência.
Há, até a exp eri ênc ia de Ald ers gat e, um quê de sem elha nça ent re Jo ão We sle y e Ti ago Arm íni o. Os doi s
são min ist ros de igre jas ofic iais, prep arad os em univ ersi dade s e cons agrad os à obr a do Eva nge lho . Em
amb os, por ém, a pie dad e est ava tin gid a por sua for maç ão cul tur al; mai s, sob o dom íni o da razão que do
sentimento. É que nenhum deles havia ingressado na car rei ra rel igi osa atra vés de gra nde s lut as esp iri tu ai s,
co mo su ce de ra ao Ap ós to lo Pa ul o e a Ag os ti nh o de Hi po na . Po r is so , acomodaram-se à situação
prevalecente em suas confissões ec le si ás ti ca s: A rm íni o ab ra ço u o Ca lv in is mo ex tr em ad o , enq uan to Wes ley
mai s e mai s pen dia par a o pel agia nis mo.
Qua ndo a cri se se ap res ent ou na vid a de ste s doi s vul tos , a te ol og ia de ca da um ac ab ou to ma nd o no va
fe içã o, po rque a sit uaç ão ass im o exi giu , dif eri ndo , por con seg uin te, da í po r di an te , em su a na tu re za .
Ac on te ce qu e, pa ra Ar mínio, o problema tal qual então se apresentava, era fundame nta lme nte teo lóg ico e
afe tav a as Esc rit ura s, ao pas so qu e, pa ra We sl ey , er a a su a pr óp ri a vi da es pi ri tu al qu e est ava em jo go.
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
Em res ult ado , o arm ini ani smo ser ia fru to de con tro vér sia rel igi os a e o me tod ism o, po r sua vez , da
exp eri ênc ia de Ald ers gat e, qua ndo We sle y, seu fun dad or, se nt iu o co ra çã o es tr an ha me nt e aq ue ci do .
Do nd e se vê que Arm íni o ree str utu rou sua teo log ia à luz das Esc rit ura s e da ra zão , fi rma ndo -se no
in frala ps ar ian ism o, enq uan to João Wes ley o fez estr iban do-se, sobr etud o, no test emun ho ínt imo do Esp íri to
San to, ao lad o de evi dên cia s bíb lic as.
Da í em di an te , nã o er a só o co ra çã o qu e ar di a no vu lt o ímp ar de Al de rsg ate , ma s, tam bém , a teo lo gia
res ul tan te da que la ma ra vil ho sa ex per iê nci a, a qua l lhe co mu nic ar a vid a nov a e ope ran te, mo tiv o por que
já não ma is se con fi no u ao s li mi te s ac an ha do s de uma un iv er si da de ou às pa re de s fr ia s do s te mp lo s. Ao
in vé s di ss o, sa iu pa ra as rua s e pra ças púb lica s, desc eu às min as e pen etr ou nos cor tiç os de mis erá vei s
cri atu ras hum ana s. O met odi smo fo i, e ainda é, uma revolução em marcha.
Al gué m cham ou ao mo vim ent o wes le yan o de "ar mi n ian ism o agr ess ivo ", e o dis se com ace rto , por que
sen do sua mensagem de caráter universal e tendo fogo no coração , ha ve ri a de al as tr ar -se pe lo s qu at ro ca nt os
da te rr a. E, mui to emb ora os núm ero s est atí sti cos nem sem pre rev elem tod a a re al id ad e, pe rm it em ,
co nt ud o, da r -no s id éi a do seu ard or eva nge liz ant e e da imp ort ânc ia vit al de sua s do ut ri na s, ap es ar de
ex is ti r co mo or ga ni za çã o há me no s de duze nto s ano s. Man tém ati vid ade s mis sion ária s em cer ca de
nov ent a reg iõe s do glo bo, em con tin ent es e ilh as. O to tal de me tod ist as ar ro lad os nas ig rej as apr ox im a-se
de 20. 000 .00 0 (vi nt e mil hõe s), sem se con tar em os mil har es que viv em sob sua inf luê nc ia di re ta ou
ind ire ta . Do bem que fez à Ing lat err a, sal van do-a dos pos sív eis hor ror es de um a co nv ul sã o se me lh an te à
da Fra nç a, re gi st ram -no hi s to ri ad or es da co mp et ên ci a de Le ck v, Gr ee n e Ha ll ev y. Est e últi mo, que é
fra ncê s, ded uzi u de sua s inv est iga çõe s que a esta bil idad e e o prog ress o da Ingl ate rra, nos anos de 18 15 a
18 41 , a cha ma da ép oc a Vi ct or ia na , tin ha m a su a raz ão de ser no Rea viv ame nto Met odi sta , o qua l per meo u
de in fl uê nc ia s sa lu ta re s a vid a do po vo co mu m, a Ig re ja da Ing lat er ra e os gru po s re li gio so s não Con fo rmi st as.
As vel ha s de nominações foram transformadas em seu espírito e em suas org an iza çõe s, o me sm o
suc ede ndo no set or pol íti co e no soc ial . ( 1 ) O que con tin ua ai nda a rea liz ar por to das as par te s, tes ti fi cam no as ger açõ es do pr ese nte . Hoj e, es te "arm inia nism o agre ssivo " é, sem dúvid a nenh uma, das mais operosas
denominações evangélicas no mundo.
O arm inia nism o dos Rep rese ntan tes (dos dis cípu los hol and ese s de Tia go Arm ínio) car eci a dess es
im pul sos . Com o rev olt a que foi , con tra o dog mat ism o cal vi nis ta, nas cid o por mot ivo s bas ica men te
teo lóg ico s, ass im se man tev e, pou co rea liz and o de prá tic o, ao con trá rio do que ocorre com o metodismo, para
o qual os problemas da vid a rea l as sum em o asp ect o de ver dad ei ro de saf io. O preg ador meto dist a esta va
mais preo cupa do em salva r alma s e tra nsf orm ar os hom ens em pes soa s úte is à soc ied ade do que em
di sc ut ir re li gi ão , ou , ain da , pr ovar a ex is tê nc ia de Deus. Tinh a a Deu s no cora çã o e ist o lhe bas tava . Quem
qui ses se sab er se era ass im ou não , que O exp eri me nta sse tamb ém. Os meto dist as preg avam que Deus
esta va ao alca nce de todo s, fosse m home ns, mu lhe res ou cri anç as, ric os ou pob res , sen hor es ou esc rav os ,
pat rõe s ou ope rá rio s, vic iad os, dec aíd os ou gen te de bem. Sim! A quantos Lhe abrissem o coração!
O met odi smo , poi s, con ver tia em mag níf ica rea lid ade a afi rm ati va ar min ian a da ass ist ênc ia da gr aça
di vin a no in te ri or do ho mem. De us ba ixa va ao pe ca do r pa ra tra ns fo rm á -lo em no va cr ia tu ra . E, ne st e
pa rt ic ul ar , ad ia nt a va-se, também ao calvinismo e reagia positivamente contra o per nic ios o de ísmo , a fil oso fia
rel igi osa inv ent ada por Lor d Her ber t de Che rbu ry (15 83 -161 8), e des env olv ida a seg uir por Vo lt ai re,
Rou ss eau , Sha ft esb ur y, Th om as Pai ne e ou tro s.
O met odi smo se sobr epu nha a est es doi s sis tem as por que, no seu con cei to, a gra ça de Deu s atu a sob re
tod os os ind iví duo s e de mod o alg um sob re os ele ito s unicam ent e. A Sua oper ação é univ ersa l e pers iste
atra vés das gera ções .
À ale gaç ão de um Cri ado r tra nsc end ent e e ina ces síve l aos hom ens , o met odi smo res pon dia com um
Deu s ima nen te e com pas siv o. Um Deu s que é Pai e não pad ras to, que ouv e as pet içõ es de Seu s fil hos e
est á pro nto a res pon der -l hes . Nã o po di a, en tã o, co nc orda r co m o de ísm o qua nd o as se me lha va o Cri ado r
ao re loj oe iro que fi zer a bon ita má qui na, de ra -lh e co rd a e de po is se au se nt ar a pa ra on de ni n gu ém sa bi a,
de ix an do su a be la ob ra a mo ve r -se po r si . Assi m, Deus ao cria r o univ erso , já esta bele cera as leis que o
controlam. Só os tolos, diziam os adeptos do deísmo, podem de sc re r da ex is tê nc ia de De us , po is a ra zã o
te st ific a a Seu res pei to. Mas con fia r no au xíl io div ino é coi sa abs urd a, ver dad eir o con tra -sen so, vis to q ue
Sua s lei s são in vio lá ve is . De us é o re mo to , o ou tr o , o tr an sc en de nt e: está fora de noss o alca nce e não nos
ouve e, se nos ouvis se, nã o in te rf er ir ia no mu nd o pa ra no s vi r aj ud ar . Or ar , é pe rd er tem po . To do mi la gr e
é im po ss íve l. E de sse mo do ele s faz iam o cri ado r da máq ui na tor nar -se esc rav o do seu inv ento ! Esq uec iam se de que as leis não op eram sozi nha s, sem ter quem as execute.
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
Ma s We sle y se nt iu co isa be m di ve rsa em su a vid a, pel o que , pod ia rep et ir as pal av ra s do pr of eta
Isa ías : "O Es pí ri to do Se nh or es tá so br e mi m.. ." (I s 61 :1 -2) , ou con fir mar a exp eri ênc ia de Pau lo qua ndo
dec lar ou: "O Esp ír ito de De us dá te st emu nh o ju nt o ao no ss o es pí ri to de qu e so mo s fi lh os de De us " (R m
8: 16 ). Se u ve lh o pa i, Sam ue l We sl ey , tam bém lh e di ss er a: "O te st em un ho in te ri or , me u fi lh o, é a pr ov a, a
pr ov a ma is fo rte do Cr is ti an is mo". De fa to , é o ma is im po rt an te na re li gi ão . É Deu s dan do-se a Si me smo
e o hom em com pro van do-O pe la ex pe ri ên ci a. É o In fi ni to pe ne tr an do no fi ni to ; o inc om ens urá vel
con fi nan do-se aos ru des lim it es do co ração humano.
Eis por que o rea viv am ent o me tod ist a pr od uzi u tan ta agi taç ão nos seus dia s e ain da ape la tão for tem ente
à nos sa me nt e e al ma . En tr e De us e o pe ca do r na da ma is se le van ta, nem o sac erd ote , nem os
sac ram ent os, nem os credos , sen ão o pec ado . A gra ça de Deus não é mon opó lio de nin guém , nem pri vilé gio
exc lus ivo de quem que r que sej a, a não se r, na tu ra lme nt e, da qu el es qu e já se co nv er te ra m a Cr is to . De us
qu er a sa lv aç ão de to do s. At é a ma is vi l criatura é objeto do Seu divino amor. Quantos O aceitare m se rã o
re mi do s de se us pec ad os . Je su s Cr ist o, como afi anç ou o eva nge lis ta Joã o, "é a pro pic iaç ão pel os pec ado s
do mundo inteiro” (1Jo 2:2).
II — Dis tinç ões Doutri nária s:
1 — O PECADO ORIGINAL.
É um do s pr ob le ma s de ca pi ta l imp or tânc ia na te ol ogia cristã.
A exi stê nci a do mal é pat ent e em tod os os qua dra nte s de nos so mu ndo . Som os con st ran gid os a
rec onh ec er que alg o de ano rma l imp ede de con tínuo as boa s rel açõ es dos hom en s un s com os ou tr os e
co m o se u Cr ia do r. Nã o fa zem os o bem que gos tar íam os de faz er. Dei xamo -nos con duz ir por má s
inc lin açõ es. Des de os ten ros ano s da inf ânci a o eg oí sm o, a ir a, a in ve ja , o ci úm e, no s as sa lt am e
mu it as ve ze s n os do mi na m. Co mo po de a cr ia nç a ma ni fe st ar tã o ce do es sa s at it ud es e se nt im en to s?
Do nd e lh e vêm el es ? Que m lho s in cu tiu ? To da so rte de exp lic aç ões se tem dad o, inc lus ive pel os
evo luc ion ist as mat eri ali sta s, os qua is, não pod end o neg ar a rea lid ade do ma l, af irm am que é a her anç a
rec ebi da dos ani ma is, nos sos pre dec ess ore s. Par a ele s o hom em é ani ma l que ainda não se lib ert ou de
sua bestialidade.
O ar mi ni ano e o me to di st a, ju nt am en te co m o ca lvi nis ta , ac ei ta m qu e a vo nt ad e d o ho me m er a li vr e
an te s da qu ed a, no Éde n, ma s di fe re m qu an to ao es ta do pr i miti vo, sust ent ando este últi mo, que a
cond ição do home m, er a de pe rf ei ta sa nt id ad e. Se , po ré m, fo i as si m, al eg a o arm in ian o, el e não ter ia
ca ído (Co nf ess . Re mo nst r. 5.5 ). Lim bor ch, em sua Teo log ia (11 :21 ,5) mos tra que o est ado de inocência com
que Deus o dotara, envolvia ignorância, por que , se Adã o e Eva tive sse m ciê nci a de tud o, sab eri am que a
ser pen te não fal a e, se fal ou, dev iam ter sus pei tad o qu e al go de an or ma l e pe ri go so es ta ri a o co rr en do .
Nã o adm ite , out ros sim , fo sse a imo rta lid ade per tin ent e a nat u rez a hum ana . Crê , tod avi a, que Deu s o
pod eri a sal vag uar dar da morte, caso não tivesse pecado.(2)
Ens ina m os cal vin ist as que , a nat ure za hum ana , fic ou to ta lm en te de pr av ad a pe lo pe ca do , af et an do ,
ta mb ém , a to do s os de sc en de nt es de Ad ão , de so rt e qu e ni ng ué m, por si pró pri o, é cap az de ree rgu er-se
e ser sal vo ou faz er o qu e é ag ra dá ve l a De us . O me to di sm o, co m o se ve rá, co lo co u -se en tr e o
ca lvi ni sm o e o ar mi ni an ism o, ap ro xi ma nd o-se or a ma is de um , or a ma is do ou tr o. Os ar mi nia nos crê em
que a nat ure za hum ana foi ind ubi tav elm ent e pr ej ud ica da pe lo pe ca do , po ré m nã o ar ru in ad a to ta lme nt e,
tan to ass im que , o hom em ain da con se rva a pos sib ili dad e de ob ra r o be m e de vo lt ar -se pa ra De us . Ao
in vé s da tot al dep ra vaç ão, ac eit am a id éia do enf ra que ci me nto de no ss a na tu re za . Ag or a o ho me m é
fr ac o po r ín do le . E po rq ue o é, as si st e -o a gr aç a di vi na a fi m de aj ud á -lo a rea liz ar a vid a esp iri tua l e a
ati ngi r a sal vaç ão. Neg am, out ros sim, que a cul pa de noss os prim eiro s pai s, sej a impu ta da ao s se us
de sc en de nt es . In di re ta me nt e, si m, pa rt ic ipam os de sua fal ta, por que nos sa nat ureza fi cou enf raq ue cida,
mas só respondemos por nossos pecados individuais.
Nes te par ticu lar o met odi smo , conf orme fri samo s, ado ta po si çã o in te rm ed iá ri a. Às ve ze s é ma is
ca lv in is ta ou ago sti nia no, out ras , é mai s arm ini ano e, ain da out ras , nem um a co is a ne m ou tr a. Se nã o
ve ja mo s: Ac ei ta , in ic ia l mente, a santidade original do homem, como parte desua con sti tu içã o. Gr aça s a ela a
alm a ten di a es pon ta nea men te a obe dece r ao que era ret o e a recu sar o mal . Nes sas con diç ões goza va de
ínti ma com unh ão com o seu Cri ado r. Ma s qu an do se de u a qu ed a, su a na tu re za se co rr om pe u e o hom em
dei xou , em con seq üên cia , de viv er nes se est ado . O ho me m pe co u po r se r li vr e e po rq ue po ss uí a
ca pa ci da de de aç ão mo ra l. Pe co u po r du vi da r de De us e po r qu er er en gr an de ce r-se a si me sm o. E,
9"
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
93
um a ve z qu e tod a a raç a est ava pot enc ial men te em Adã o, o pec ado tornou -se pat rim ôni o com um a tod os
(Rm 5:1 2 -14, 17, 18) . Ao pec ado jun tou-se a mor te . Amb os fru tos da des obe diê nci a e da qu ed a.
Re ce be mo s, as si m, um a na tu re za pe ca min osa , tra nsm iti da por no sso s pr ime iro s pa is, con tud o, nen huma
culp a nos cabe pelo peca do orig inal . Cada pess oa só res po nde por sua s pr óp ri as fa lta s. Em um de seu s
ser mõe s, We sle y ass im se exp res sou : "O hom em for a fei to à imag em de Deu s: san to com o é san to o que o
cri ou; mise ricor dio so como o Aut or de tud o é mise ric ord ios o; per fei to com o seu Pai cel est ial é per fei to. Era ,
con seq üen tem ent e, pu ro co mo De us é pu ro , li vr e de qu al qu er nó do a de pe cad o. Pel o amo r esp ont âne o e
gra tui to de Deu s, era san to e fel iz, con hec end o, ama ndo e goza ndo a Deu s, que é, em su bs tâ nc ia , a vi da
et er na . Ne ss a vi da de am or o ho me m pe rm an ec er ia pa ra se mp re , se co nt in ua ss e a ob ed ec er a De us .. ."
En tre ta nt o "o ho me m de so bed ec eu ", pe rd en do a co mu nh ão co m o Cr ia do r. Se u co rp o, de ig ua l
mo do , to rn ou -se co rr up tí ve l e mo rt al . As si m, "po r um ho me m en tr ou o pe ca do no mu nd o, e pe lo pe ca do
a mo rt e. E a mor te pas sou a tod os os hom ens , vis to est are m est es compre end ido s no pai co mu m e
rep res ent an te de to dos nós". "Ne ss e es ta do no s en co nt ráva mo s, nó s e to da a hu ma ni dade, quando Deus
enviou seu único filho ao mundo a fim de nos res gat ar do pec ado ", "pe la obl açã o (ofe rta ) de si me smo,
ofe rec ida uma vez , Ele nos res gat ou e a tod a hum ani dad e", de sd e que ac ei te mo s po r su a gr aç a, a ob ra
re de nto ra do se gu nd o Ad ão , Cr is to Je su s . (3 ) O qu e ca bi a a Deu s, Ele o fez . Ago ra res ta ao hom em fa zer
a sua par te. Se qui ser rej eit ar a dád iva pre cio sa da sal vaç ão, ist o fi ca sob sua excl usi va resp onsa bil idad e.
Os arti gos de nºs 7 e 8 de nos so pad rão dou tri ná rio , sin tet iza m mui to bem o pen sam ent o de We sle y e a
pos içã o da Igr eja Met odi sta . Que i ram, pois, examiná-los os diletos leitores.
2 — A PREDESTINAÇÃO.
Aqu i o met odi smo se afa sta do cal vin ism o e, de igu al sorte, do arminianismo, visto ambos serem
deterministas: su pr al ap sa ri an o um , in fr al ap sa ri an o o ou tr o. Pa ra o pr i me ir o, a pr ed es ti na çã o ou el ei çã o é
an te ri or à ob ra da cri açã o e é inc ond ici ona l. Par a o seg und o (inf ra lap sum ), a pred esti naçã o base ia-se na
presci ênc ia de Deus a resp eito da at it ud e do ho me m em fa ce de su a pr ov a e qu ed a , e nã o é de sd e a
et er ni da de e ne m in co nd ic io na l. Na qu el e ca so , De us pe rm it iu a qu ed a do ho me m co mo me io de
exe cut ar o Seu ete rn o dec ret o e, pel a me sma ra zão , es co lh eu os que hã o de sal var -se. No seg un do, a
que da não é deco rren te do decr eto da elei ção, e os esco lhid os são todo s aqu ele s que Deu s pre viu ace ita ria m
a Cri sto pel a fé. Aqu eles ace ita m -nO , por que ass im tem que ser ; ma s est es, se O qui ser em . Os
arm ini ano s, por tan to, con cedi am cer ta lib erdade ao homem.
José Gonç alv es Salvad or
Arminianistno e Metodismo
O
me tod ism o
rej ei ta
os
doi s
det erm in ism os . We sle y cr ia co m o es cr it or
sa gr ad o qu e, pa ra De us , nã o ex is te
pa ss ad o e ne m fu tu ro . Pa ra el e só há
pr es en te . Tu do é presente. Verifiquemos as
suas palavras: "O todo-poderoso, oni sci ent e
Deu s, vê e sab e, de sde a ete rni da de até a
ete rni da de , tu do qu e é, qu e fo i e qu e se rá ,
at ra vé s de um et er no ag or a. Pa ra el e na da
é pa ss ad o ou fu tu ro , ma s t odas as co isa s
igu al men te sã o pr ese nte s. Ele não te m,
por tan to, se fal amo s con for me a ver dad e das
coi sas , pre sci ên ci a, ne m po st ci ên ci a. .. Ai nd a
qu an do no s fa la , sa be nd o do qu e so mos
fe ito s, co nh ec en do a ex ig üi da de de no sso
en te nd im en to , el e se ni ve la at é no ss a
ca pa ci da de e fa la de Si mes mo em te rmo s
hu man os . Ass im, con des cen den do -se de
nos sa fr aqu eza , ele nos fal a de Seu pr ópr io
pro pós ito , con sel ho, pla no, pre sci ênc ia. Não
que Deu s ten ha nec ess ida de de con sel ho, de
pro pósit o, ou de pla nej ar Seu tra ba lh o de
ant emã o. Lon ge de nós imp ut ar ist o ao
Alt íssi mo : me di -LO po r nó s me sm os ! É
me ra me nt e em co m pai xão de nós que nos
fal a ass im de Si mes mo, com o pre ve nd o as
co is as no cé u e na te rr a e co mo
pr ed et er min an do -as ou preo rde nan do -as ". (4)
cr er , se rá co nd en ado ," po rq ue pr ef er iu vi ve r
no se u vel ho est ado . Sal va-se que m ace ita a
Cri sto e se con ver te a el e; pe rd e-se qu em
re si st e à gr aç a de De us e re je it a a
mis eri cór dia div ina ofe rec ida em Cri sto . A
sal vaç ão, por con seg uin te , é con di cio nal ,
por que ba sea da na ace it açã o ou recusa da
oferta divina.
9"
Wes ley só conc ebia a ele içã o no se nt id o
qu e "t od o o qu e cr er se rá sa lv o; o qu e nã o
93
3 - A CERTEZA DA SALVAÇÃO.
Alg uma s
das
car act erí sti cas
do
met odi smo , tan to pr átic as com o dou tri nária s,
são dec orr ent es da ênf ase que dá à
exp eri ênc ia rel igi osa . O hom em fo i fei to ser
esp iri tua l, à se me lh an ça do Cr ia do r, pa ra
te r co mu nh ão co m Ele , and ar em Sua
pre sen ça e sen ti-Lo no âma go da alm a. Deu s
se to rn a re al pa ra aq ue le que vive ne le .
Po rta nt o, é um a abe rra ção inc omp ree nsí vel
sen tir -se alg uém per doa do de seu s pec ado s,
est ar rec onc ili ado com o Pai cel est ial ,
usu fr ui r no va vid a, ex pe rim en ta r ou tr as
di sp os içõ es e at itu des e não sab er dis so.
Não nos diz a Esc rit ura que "To dos que são
con du zid os pe lo Esp íri to de Deu s" têm
con sc iên cia de que tam bém "sã o fil hos de
Deu s" e, com o tai s, pro du ze m ob ra s di gn as
do s fi lh os de De us ? (G l 5: 18 ,2 2; Rm 8:1416).
Por inc ríve l que par eça , a vid a cri stã mov ese no mei o de esp lê ndi das ce rte zas . Te m o
cre nte a fi rme co nv icç ão de qu e, pe la gr aç a
de De us , se us pe ca do s lh e fo ra m pe r do ado s
por me io de Cr ist o; que em Jes us é nov a
cri atu ra e já pa ss ou da mo rt e pa ra a vi da .
Te m, en fi m, pl en a se gu ra nç a da et er ni da de
po r su a id en ti fi ca çã o co m o di vi no
Re de nt or . E qu em lh os af ia nç a é o du pl o
te st em u nho den tro de si me smo : o de seu
esp íri to e o do Esp íri to Sant o, confo rme a
expe riên cia pess oal de muit os e o ensi no das
Escri turas (Rm 8:14-16; 2Cr 1:22; 2Cr
5:1,8 ,17). "Quanto ao te st em un ho de no ss o
es pír it o, es cr ev e We sl ey , a al ma pe rc eb e
tã o ín ti ma e ev id en te me nt e qu an do am a,
ale gra-se e reg ozi ja-se em Deu s, com o
qua ndo ama a qua lque r coi sa da ter ra e nel a
se del eit a." Se ist o suc ede , não pod e duv ida r
de que é fi lho de De us. ( 5 )
Ace rca do te st emunho do Espírito de Deus,
também assim se expressou: “Por tes tem unh o
do Esp írit o, que ro diz er a imp res são ínti ma
fe ita sob re a alm a, pel a qua l o Esp íri to de
Deu s di ret amen te te st if ic a a me u es pí ri to
qu e so u fi lh o de De us : que Jes us Cri sto me
am ou e deu -se a Si mes mo por mim ; e que
tod os os meu s pec ado s est ão can cel ado s, e
eu, est ou reconciliado com Deus". (6)
A dou tr ina da se gur anç a é, po is, pa rt e
int eg ran te do me to di sm o, qu e lh e de u
cu nh o
un iv er sa l.
Um a
ve z
qu e
a
exp eriê nc ia rel igio sa é pos síve l a tod os os
hom ens , ind istin tam ent e, tod os, igu alm ent e,
dev em sab er se têm cer tez a de su a
sa lv aç ão . O ap ós to lo Pa ul o go zo u-a ne st a
vi da , te nd o a con vic ção de que nad a o
pod eri a sep ara r do amo r de Deu s (Rom .
8:38 ,39) . O gran de dou tor dos gent ios jam ais
sent iu a me no r dú vi da a re sp ei to de se u
de st in o et er no . E do ap ós to lo Jo ão
po ssu ímo s id ên ti co te st em un ho . Nu ma de
su as ep ís to la s re gi st ro u : "A qu el e qu e cr ê
no
Fi lh o de
De us te m em si o
te st em un ho .. . E o te st em un ho é es te: qu e
De us no s de u a vi da et er na ; e es ta vi da
es tá no se u Fi lh o. Qu em te m o Fi lh o te m a
vi da ; qu em nã o te m o Fi lh o de De us nã o
te m a vid a. Es ta s co is as vo s es cr ev i, a fim
de saberdes que tendes a vida..." (1Jo 5:10-13).
Os ar mi ni an os pr im it iv os pu nh am a
qu es tã o da se gur anç a nou tro s ter mos , vis to
ens ina rem
que
somen te
em
cas os
exc epc iona is alg uém pod eria
ter del a
con sciê nci a. O Sínodo de Dort, calvinista
conforme notamos, opôs-se energi ca me nt e ao s
se gu id or es de Ar m ín io , co mb at en do es sa e
ou tra s af irm at iva s, ma s ta mb ém é ve rd ad e
9"
José Gonç alv es Salvad or
qu e de fi ni u o pro ble ma de tal for ma que os
wesl eya nos não a pod em ace ita r. Sim ,
por que par a os def ens ore s do Sín odo , os
ele ito s go za m do pr iv il ég io da se gu ra nç a,
ma s tã o só me nt e os eleitos.
A ex pe ri ên cia do te st em unh o do Es pí ri to
pe rm it iu a We sle y co mp re en de r ma is
cl ar am en te a do ut ri na da ju stif ica ção pel a fé .
Dur ant e qui nze ano s esc uda ra-se ele nos
se us pr óp rio s es fo rç os , pe ns an do , as si m,
ga nh ar o fa vo r div ino , emb ora um dos "Tr int a
e Nov e Art igo s" afi rma sse que o hom em só é
jus tif ica do pel os mér ito s de Cri sto , media nte
a fé . Seu irm ão Ca rlo s lab or ava em idê nti ca
fa lta , pret ende ndo salva r-se atra vés de suas
obra s, como bem atesta o diá log o que
ma nte ve com o pas tor mo rav ian o, Ped ro
Bö hl er , qu an do de um a vi si ta qu e es te lh e
fe z em mo me nt o de su a en fe rm id ad e.
Pe rg un ta nd o-lh e Pe dr o se es pera va se r
sal vo, res pon deu -lh e Ca rlo s: "S im" .
— "E que raz ão ten s par a iss o?"
— "Po rqu e ten ho -me esf orç ado ao
máx imo par a ser vir a Deu s" - dis se-lhe Carlo s
We sle y.
Era a men tal ida de de mui tos no sei o do
min ist éri o ang lic ano dev ido ao err o de
atr ibu írem à fé e às ob ra s um se nt id o qu e
nã o ti nh am . A ve r dade acha va-se mani fest a
Arminianistno e Metodismo
93
nas Escr itur as e no padr ão ofic ial de
do ut ri na s, po ré m o te mp o se en ca rr eg ar a de
to ld á-la . Nov as con cep çõe s e prá tic as
ves tir am -na com rou pag ens di fe re nt es . Ao s
mo ra via no s ca be ri a, en tão , a su bl im e ta ref a
de des per tar aos doi s irm ão s We sle y, par a a
rea lid ade e, por me io del es, des per tar a
tan tos out ros na Ingla ter ra e no mun do.
Os mo rav ian os ens ina ram a Jo ão e a
Ca rl os W es le y qu e a fé é ex pe ri me nt al e
nã o me ro as se nt im en to às do ut ri nas da
Ig re ja , ai nd a qu e ve rd ad ei ra s; qu e el a nã o
de pe nd e do s sa cr am en to s e ne m se
co nfu nde com as ob ras . A fé e as ob ra s são
coi sas di st int as , se m mé rit os int rí nse co s. A
sal vaç ão é o do m gra cio so de Deu s,
pro vid enc iad a pel o sac rif íci o exp iat óri o de
Seu ben dit o Fil ho. Cri sto é o Red ent or úni co
e exc lus ivo de no ssa alma. A fé nos conduz a
Ele e nos move a lhe entregarmos to do o no ss o
se r. Pe la fé no s ap ro pr ia mo s de Se us
mé rit os . Pe la fé nos ide nt ifi cam os co m o
Sal vad or Je sus e no s fa zem os he rd ei ro s do
Se u Re in o. Pe la fé vi se mo s u ma vi da de
sa nt id ad e, de pa z e de am or .
As ob ra s, en tã o, re su lt am de nos sa
ent reg a a Cri sto Jes us, ete rno Sal vad or de
nos sa al ma . En tr et an to , só a pa rt ir da
me mo ráv el ex pe ri ên ci a re li gi os a de ma io de
17 38 os do is ir mã os We sle y ve ri fi ca ri am
qu e, de fat o, na da ex is te em nó s que no s
ga ra nt a a sal vaçã o: o hom em só pod e sal var se pela fé em Cri sto —"sol a fid es ". E nist o
ele s con co rda vam com os Ref or ma dos
(Lut era nos ).
Fal and o do aco nte cim ent o de 24 de mai o,
em Ald ers ga te , Jo ão We sl ey co nt a em se u
"D iá ri o" : “À no it e fu i, mu it o co nt ra mi nh a
vo nt ad e, a um a so ci ed ad e (re un iã o do s
cr en te s mo ra vi an os ) na ru a Alde rsga te,
onde algu ém esta va lendo o pref ácio de Lute ro
à ca rt a ao s Ro ma no s. Fa lt av a c er ca de um
qu ar to pa ra as nove hor as (20: 45h), enq uan to
ele des cre via a muda nça que Deu s op er a no
co ra çã o pe la fé em Cr is to , se nt i me u
co ra çã o ab ra sa do d e ma ne ir a es tr an ha .
Se nt i qu e co nf ia va em Cr is to , Cr is to
some nt e pa ra a sa lv aç ão ; e fo i -me da da
ce rte za de qu e El e tin ha ti ra do os me us
pe ca do s, si m os meus pecados e me salvava
da lei do pecado e da morte".
Ti ag o Ar mí n io ad ot av a in te rp re ta çã o
se me lh an te à do s lu ter ano s, cal vin ist as e
me tod ist as.
No
seu
con cei to
som os
jus tif ica dos gra cio sam ent e por Deu s, em
ate nçã o aos mé ri to s de Cr is to , ao qu al no s
uni mo s pe la fé . Cr is to é a ca us a me ri tó ri a
da ju st if ic aç ão ; a fé a ca us a in st ru me n tal . (7)
Tod avi a seu s seg uid ore s ime dia tos , os
Rep res en ta nt es ,
af as ta ra m -se
da
in te rp re ta çã o do me st re , ap ro xi ma ndo -se
ma is do rom ani smo e do an gli ca ni smo , em
vir tude de atribuírem à fé, certo valor meritório.
Na verdade ela é um dom de Deu s, atr avé s de
cuj o exe rc íci o a pes soa faz-se me rec edo ra
de ma ior es bên ção s e, mui to emb ora a
ju st if ic aç ão nã o de pe nd a da s bo as aç õe s,
ta is ob ra s sã o con sid era das ind isp ens áve is.
Ain da que imp erf eit as, Deu s as ac ei ta e
re co mp en sa aq ue le qu e as pr om ov e. Ei s, a
pr op ós ito ,
a
de cl ar aç ão
do
te ól og o
Li mb or ch : "De ve -se lem bra r que , qua ndo
di zemo s que som os jus tif ica dos pel a fé, não
exc luí mos as obr as exi gid as pel a fé,
con for me as pro du z uma fru tíf er a mãe , mas
as inc lui ". (8) Ali ás, el e fo i ai nd a ma is enf áti co
e ob je ti vo ao de cla ra r qu e "S em obr as a fé é
mor ta e a just ifi caçã o inef ica z" (Si ne ope rib us
fides mortua et ad justificationem inefficax est). (9)
Há, por ém, um pon to em que arm ini ano s e
met odi sta s di ve rg em do s ca lv in is ta s, qu an to
à ju st if ic aç ão pe la fé . Tod os os trê s
ace ita m-na com o ato de Deu s, ins tan tân eo,
com ple to e dis tin to, ain da, da san tif ica ção .
Mas , enq uan to os doi s pr ime iro s ad mit em
que o pec ado r é ape nas con si de ra do po r
9"
José Gonç alv es Salvad or
De us em um a no va co nd iç ão pe ra nt e El e,
os se gu id or es de Ca lv in o dão -lh e se nt id o
ma is am pl o, in cl ui nd o ne la , ta mb ém a
ad oç ão e a vi da et er na . Pa ra am bo s os
ar mi ni an is mo s, o do s Re pr es en ta nt es e o
do s we sl ey an os , a vid a et er na é co nc ed id a
ao s cr en te s co mo re co mp en sa po r su a
pe rs is tê nc ia na de di ca çã o a Cr is to , po is
sã o su sce tí ve is de ca ir da gr aç a e
pe rd er em a sa lv aç ão . Al ém di ss o, os
ca lv in is ta s li ga m a ju st if ic aç ão ao s et er no s
de cr et os de De us , de sd e qu e a fé
sa lv ad or a só é concedida aos eleitos. (10 )
Arminianistno e Metodismo
93
71
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
5. A DOUTRINA DA REGENERAÇÃO.
A jus tif ica ção e a reg ene raç ão são
con com ita nte s, se be m qu e de na tu re za s
di fe re nt es . Aq ue la te m lu ga r em De us , ao
pa ss o qu e es ta se pr oc es sa no s ho me ns .
De us ac ei ta com o ju st o ao pe ca do r,
qu an do es te se ar re pe nd e de sua s fal tas .
Adm ite -o em nov a sit uaç ão, como se nad a
ti ve ss e ha vi do , o qu e, de mo do al gu m
si gn if ic a qu e o on is ci en te e ju st o De us se
es qu eç a ou fi qu e a ig no ra r o seu pas sa do.
Tra ta-o, com o o vel ho pai da bel a par ábo la
de Je su s, tr at ou ao fi lh o pr ód ig o, qu an do
es te re to rn ou ao la r. Nã o é ne nh um sa nt o,
ma s su a mu da nç a de vi da e de pr op ós it os
lh e ab re m no va s op or tu ni da de s. Se so uber
cor res pon der à fé em Cri sto , Deu s, lhe
pro por cio nar á cada vez maiores bênçãos e,
por fim, a vida eterna.
O arm in ian ism o e o me tod ism o se
dis ti ngu em , aqu i, um do ou tr o, em al gu ma
co isa . Am bo s vê em na re ge ne ra çã o o
re su lt ad o de um a ob ra di vi no -hu ma na .
Ne m só De us e ne m só o ho me m,
af as ta nd o-se as sim , mutua me nt e, ta nt o do
ca lv in is mo co mo do pe la gi an is mo , qu e sã o
mo ne rg is ta s. Co nt ud o os ar mi ni an os
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
pa re ce m da r a pr im az ia da in ic ia ti va ao
ho me m, en qu an to os
we sl eya no s a
con ced em ao Esp íri to San to. É Ele , o
Esp íri to Sa nt o, qu e pr oc ur a, an te s,
il um in á-lo e pe rs ua di -lo . O ho me m,
to da vi a, se qu is er , po de re si st ir à aç ão
di vi na . Po r co ns eg ui nt e, no bo m en te nd er
do me tod is mo , a re gen er açã o é o tr aba lho
do Esp íri to San to em coo per açã o co m a
vo nt ad e do ho me m. Pa ra os ar mi ni an os
ta l op e ra çã o se ex er ce pr im ei ro so br e a
me nt e e at ra vé s da Pala vr a de De us
(C on f. Re mo ns tr . 17 :2 ,5 ), ao pa ss o qu e
os wesleyanos não lhe determinam setor de
influência, pois ac re di ta m qu e el a po de
ef et ua r -se po r me io da me nt e ou do
coração, como usar os mais diversos recursos.
6 - A SANTIFICAÇÃO.
Como se comporta aquele que um dia foi
regenerado?
O cre nte nã o ma is pro ced e com o dan tes :
já não viv e no es ta do de si mp le s cr ia tu ra
e si m no de fi lh o di le to de De us . Is to é,
bu sc a vi ve r co nf or me a vo nt ad e do Pa i
cel est e, sen do -lhe agr adá vel em tud o;
72
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
san tos , po rqu e eu sou san to" (1P d 1:1 516) . E out ra vez diz o nos so Deus pel os
láb ios de Seu Ser vo: "E vós tam bém , pon do
nis to mes mo tod a a dil igê ncia, acre scen tai à
voss a fé a virt ude, e à virt ude a ciên cia, e à
ci ên ci a a te mp er an ça , e à te mp er an ça a
pa ci ên ci a, e à pa ci ên ci a a pi ed ad e, e à
pi ed ad e o am or fr at er na l; e ao amor
fraternal a caridade" (2Pd 1:5-7).
pro cur a cre sce r em san tid ade , par a, a ca da
ins tan te ma is se par ece r com El e. A
perfeição é um desafio persistente a estimulá-lo
no jo rn ad ea r em Cri st o. Nã o pá ra nu nc a
du ra nt e a via gem. O no vo na sc im en to fo i
ap en as o in íc io da ca mi nh ad a e do
de se nv ol vi me nt o. É pr ec is o pr os se gu ir .
Co mo di zi a o ap ós to lo Pa ul o: "N ão qu e já
a te nh a al ca nç ad o, ou se ja pe rfe it o; ma s
pr os si go pa ra al ca nç ar aq ui lo pa ra o
qu e fui tam bém pre so por Cri sto Jes us.
Irm ãos , qua nto a mim, não jul go que o haj a
alc an çad o; mas um a coi sa fa ço, e é que ,
esq uece ndo-me das coi sas que par a trá s
fic am, e ava nç a n d o p a ra a s q u e e st ã o
d ia n t e d e mi m, p r o s s ig o pa ra o al vo .. ."
(F p 3: 12 -14 ).
De onde concluímos que a vida cristã se
caracteriza por um mo vi me nt o pr og re ss iv o,
co nt ínu o e as ce nd en te . É um "m ai s"
pe rm an en te , u ma so ma in in te rr up ta de
vi rt u des . É um cre sci men to em div ind ade ,
por que mai s se ide n tif ica com a nat ure za e .
os pro pós ito s div ino s. E se tud o ist o não
fo sse mai s do que com pen sad or, bas tar ia
lem bra r a prom essa glor iosa de Jesu s: "Bema vent urad os os limpo s de c o ra çã o , po rq ue
e le s v e rã o a De u s " ( Mt 5:8).
Qu em se sa ti sf az com as bênç ãos já
rece bida s, inca pac ita-se para melh ores e
ma io re s dá di va s.
De us
te m co isa s
in co nt áv ei s pa ra Se us fi lh os . Co nt ud o,
pa ra al ca nç á-la s, mi st er se fa z av an ça r
dia a dia em dem and a da per fe içã o, cu jo
al vo
é
o
Sen hor
Je su s.
Da í
a
re co me nd aç ão da Es cr it ur a: "M as , co mo é
sant o aque le que vos chamo u, torn ai-vos
sant os també m vós mes mos em tod o vos so
pro ced ime nto , por que est á esc rit o: Sed e
Joã o We sle y foi ao pon to de rea lça r um
seg und o
est ágio
no
pro ces so
da
san tif ica ção , des ign ado por ele com o: "a
co mp le ta
sa nt if ic aç ão ",
"a
se gu nd a
b ênç ão " ou , ai nd a, "a se gu nd a ob ra da
gr aç a. " É co nh ec id o, out ro ss im , po r
"p er fe iç ão cr is tã " e "p er fe iç ão fi na l" .
1
73
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
Ac re di ta -se
te nh a
che gad o
ao
seu
rec onh eci men to po r tes tem unh o de out ras
pes soa s pri mei ro, a seg uir pel o exa me da
Pal avra de Deu s e, tal vez , por sua pró pri a
exp eri ênc ia; em tex tos como os de 1Pd
1:1 6; Mt 5: 18; 1Co 2:6 ; 2C o 5:1 7; Ef 5:2 7;
Hb 5:1 -1; Fp 5:1 3; 1Jo 3:6 ,8, 9. Tan to par a
ele com o par a o met odi smo pri mit ivo
con sti tuí a uma do ut ri na ca rd ia l, de so rt e
qu e ao se r ad mi ti do um no vo pr eg ad or ,
We sle y
lh e
pe rgu nt av a
pe ra nt e
a
Co nf er ên cia (Co nc ílio ): "Es pe ra is to rn arvos pe rf eit o em am or nes ta vida?"
Sabemos, outrossim, que, em alguns ramos
da Igreja Met odi sta , idê nti ca per gun ta ain da
se fa z aos can did ato s ao pre sbi ter ado . Por
exe mp lo, em nos sa Igr eja , no Bra sil , o
pre sid ent e do Con cílio Reg ion al dir ige -se ao
can did ato , assi m: "Cam inha is em dema nda
da perf eiçã o em Jesu s Cris to e vos esta is
esfo rçan do para alca nçá-la?" E a resp ost a é:
"Sim, com o auxílio de Deus". (11)
Re al me nt e es se es ta do nã o de pen de
ex cl us iva me nt e do es fo rço hum an o, er ro
em que in cid ia m os pe la gi an os com sua
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
exa ger ada con fia nça no hom em e nos mei os
na turais da graça. Negando a transmissão do
pecado original, ensinavam que através de suas
faculdades naturais e daqueles mei os, pod ia
cum pri r as exi gên cia s de Deu s e ati ngi r a
pe rf ei çã o cr is tã , me sm o po rq ue Ele na da
lh e pe de qu e seja impossível.
A sant ific ação é obra divi no-huma na.
Deus que r aben ço ar o cr en te e o en vo lve
co m Sua gr aç a, ma s é pr ec iso qu e es te
an de po r el a e a bu sq ue de to do o
co ra çã o, al ma e me nt e. En fi m, co m to da s
as su as fo rç as . To da vi a, a pa rt e pr in ci pa l
é a di vi na . Ar mí ni o es cr ev eu em um de
se us tr ab al ho s que o ho me m ja mai s a
co ns eg ui ri a se m o au xíli o de Cr is to ( 1 2 ),
af ir ma çã o qu e os me to di st as en dossam
inteiramente.
Mas , em que con sis te, a per fei ção cri stã
ou com ple ta santificação?
Com eça rem os por dec lar ar que não
sig nif ica ise nçã o de ign orâ nci a ou de err o ou
de ten taç ão. Há mui tas coi sas qu e o cr is tã o
nu nc a ch eg ar á a sa be r ou a re al iz ar ne st a
vid a; fi ni to e lim ita do com o é, pod e err ar e
74
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
ser ind uz ido à te nt aç ão . Os ma is de di ca do s
se rv os de De us so fr er am pro vaç ões ,
inf ort ún ios , ul tr aje s, mo rte . Jó , Joã o Bat ist a,
Ti ag o, Pau lo , sã o ex em pl os do s ma is
el oq üe nt es . O qu e W es le y qu er ia di ze r,
qu an do se re fe ri a à do ut ri na , er a que o
cre nte dot ado com aqu ela bên ção não ter ia
dis pos ição para o peca do e, se acon tece sse
pass ar por tent ação , sentir ia o auxí lio da
gra ça div ina , cap aci tan do -o par a ven cer .
Qu an do al ca nç as se a pe rf ei çã o cr is tã , o
be m se ri a po si ti vo , já nenhum domínio
exercendo sobre de os maus pensamentos ou
inclinações perversas. Ao invés disto o amor para
com Deus e os homens seria nele perfeito.
pe rf ei to ?"
(1 3 )
Ma s a pe rf ei çã o cr is tã é ma is do qu e
iss o, por que , com o gra ça esp eci al de Deu s,
o cre nte po de re ce bê -la nu m in st an te e a
qu al qu er mo me nt o em su a vid a, no
co nc ei to we sl ey an o. Os ca lvi ni st as , por ém ,
ad mi te m qu e se ja al ca nç ad a s o me nt e no
mo me nt o da mo rte ou ap ós el a. Os
ar mi ni an os ho la nd es es co nc ebiam-na mais
ou menos confo rme os metod istas wesleyanos ,
ma s nã o lh e de ra m ta nt a im po rt ân ci a
qu an to es te s. As igre jas "Ho lyne ss" e de
"Je sus Naz are no" sust ent am ain da a po si çã o
ma nt id a po r Jo ão W es le y, co ns id er an do-a
de capital relevância.
A
sa nt ific aç ão
po de
co nd uz ir
à
pe rf eiçã o, e at é co nfundir-se com ela,
segundo depreen demos destas palavra s do Dr.
Har mon : "Si gni fic a, diz o ilu str e bis po
met odi sta , que se pod em os viv er um dia
se m pec ado , tam bé m pod em os vi ve r d oi s;
e se po de mo s vi ve r do is di a s se m
pe ca do , po de mo s vi ve r mu it os d ia s se m
pe ca do — po r qu e nã o? As si m ha ve rá um
cr es ci me nt o em g raç a e um a ap ro xi ma çã o
ca da ve z ma io r de De us at é àq ue le di a em
qu e a pe ss oa se to rn a o que Deu s que ria
que fo sse — e ist o não é se r ho me m
7. O CONCEITO DE DEUS.
É muitíssimo importante o que pensamos
acerca de Deus.
Noss a
vida ,
noss as
atit udes
e
pens amen tos depe ndem do que cre rmos no
toc ante a Ele . A con dut a de cada um é
sim ple sme nte
o
res ult ado
de
sua s
con cep çõe s. Nas pal a vra s ex pr es si va s do
in si gn e
Ru i
Ba rb os a:
"As
do ut rin as
1
75
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
precedem os atos". Ninguém vai além do que
crê. Tod a cre nça est á con stit uíd a de uma
sér ie de val ore s que
apr e cia mos
e
inc orp ora mos à vid a e, de con for mid ade com
os qua is for mam os nos sos háb ito s e
sen tim ent os.
Pel a nos sa cre nça nos con duz imos,
pensamos e agimos. Imaginemos. por exemplo, a
dif ere nça en tre um a pes soa que cre ia na
exi stê nc ia
do
Deus
Todo-Poder oso,
Onisc ient e, Sant o, Justo e Miser icor dio so e
aq ue la que as sim nã o crei a. A pr im ei ra
se nt e-o em tu do e em to da s as pa rt es; é Lh e
ag ra de ci da
pe la s
in co nt áv ei s
ma ni fe st aç õe s de Se u am o r; re ce be co m
pa ciê nc ia as pr ov aç õe s, ce rta de qu e o Pa i
Ce le st e es tá a seu la do pa ra aj ud á -la a
ve nc ê -la s. As sim , ao ev it ar o ma l, nã o é
po rq ue te ma ca st igo s, e sim po rq ue, de
fo rm a al gum a, de se ja en tr ist ec er ao De us
de am or , qu e só lh e te m fe ito o be m.
Pro ce de rá a se gun da pe sso a de mo do
se me lh an te ?
Raz ão, por isso , te ve Jo ão We sl e y
qu an do , nu ma ca rt a ao Dr . Co ny er s
Mi dd le nt on , es cr ev eu que o cri stã o é fel iz
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
po r sab er que o " Cri ado r de tod as as coi sas
é um ser de ime nsa sab edo ria , de pod er
inf ini to par a exe cut ar tod os os des ígn ios de
Sua sab edo ria , e de não men os inf ini ta
bon dad e par a dir igi r tod o o Seu pod er par a
ben efi cio de tod as as Sua s cri atu ras ". Deu s
est á dis post o a dis trib uir as bên çãos de Sua
jus tiça , sant idad e e per fei ção a quan tos
cum pram as con diç ões que par a tan to
est abe lece u, dis se Wes ley nou tra oca siã o em
um de seus serm ões . (1 4) Deus é o mesm o
sem pr e: nã o mu da .
De us é im ut áv el em Su a es sê nc ia ,
at ri bu to s, pro pós ito e con sciê nci a. Há nele a
mai s perf eit a har mon ia. Mas , qua nto aos
arm inia nos e pela gia nos , tem os alg uma s
rest riçõ es a faze r quan to ao seu conc eito de
Deus ,
porq ue,
embo ra
acei tass em
a
imut abil idad e do Ser divi no, nega vam que tal
imutabilidade existisse no conhecimento e na
vontade de De us . Va mo s esc la re ce r me lh or :
ac re di ta va m os do is qu e o ho me m é um se r
li vr e e De us , po r co ns eg ui nt e, agi a de
con fo rmi dad e com seu s ato s. Deu s ti nha
que le v ar em conta as ações do homem.
76
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
8 . A TR IN DA DE
Ar mi ni an os e me to di st as re co nh ec em
co mo vá li da a ve lh a do ut ri na or to do xa da
Ig re ja Cr is tã : da Tr in da de div ina — Pai,
Fil ho e Esp írit o San to.
tod as as coi sas vis íve is e inv isívei s. Na
uni dad e des ta div ind ade , há trá s pes soa s da
mes ma sub stâ nci a, pod er e ete rni dad e —
Pai , Fil ho e Esp íri to San to".
Por ém os arm i nia nos , emb ora ace ita sse m
a exi stê nci a das trê s pes soa s, adm iti am o
sub ord ina cio nis mo . Ist o é, o Fil ho est á
subo rdina do ao Pai, e o Esp írit o San to ao
Fil ho, o que equ iva le a atr ibu ir-Lhe s
gra daç ões de exi stê nci a, de açã o e até de
essência.
Dis cor dam , cont udo , a re sp ei to da s
re la çõ es da s tr ês pe ss oa s en tr e si . Os
se gu id or es de W es le y sã o fi éi s ao cr ed o
Ni ce no -Co ns ta nt in op ol it an o, qu e de fi ni u
es se ma gn o pr ob le ma da ec on om ia
di vi na ,
co ns id er an do -as
de
id ênt ic a
es sê nc ia e co m id ên t ic o s at ri b ut o s e,
a in d a, co - e te rn a s .
REFERÊNCIAS E NOTAS:
(1) Hallevy, E. - “Histoire du Peuple Anglais au XIX Siècle”,
em quatro volumes. Vol I, págs. 359, 371 e outras.
(2) Hagenbach, K. R. - History of Doctrines - Vol III - Págs.
75 e 76.
(3) Wesley - Sermões - Vol I, Págs 109 a 11 - Imprensa
Metodista - São Paulo - 1953.
(4) Sermão “Sobre a Predestinação” - Cit. por Burtner e
Chiles - Compêndio de Teologia de João Wesley - Pág. 50.
(5) Wesley - Sermões - Vol. I, Págs 205 a 207.
(6) Wesley - Op. Cit. - Vol I, páginas 205 a 207.
(7) Pope, William Burt - A Comp. of Christ. Teology - Vol. II,
Pág. 445.
(8) Pope, Op. Cit. - Vol. II - Pág. 444, citando Limborch, in
Theol. VI, pág. 4, 32.
(9) Hagenbach, Op. Cit - Vol. III, Pág. 116, citando
Limborch, in Theol. Chr.VI, Págs 4, 22 e 31.
(10) Pope - Op. Cit. - Vol II, Pág. 440.
Fo i a po si çã o ad ot ad a pe la Ig re ja
An gl ic an a
e
ig ua l me nt e
po r
Jo ão
W es le y, ta nt o as s im qu e, na re vi sã o dos
"T rin ta e No ve Ar ti gos " ele a ma nte ve: "Na
uni dad e de sta Div ind ade há trê s pes soa s de
uma sub stâ nci a, pod er e et er ni da de : o Pa i,
o Fi lh o e o Es pí ri to Sa nt o". A Ig re ja
Met odi sta do Bra sil , no cap ítu lo que tra ta
das dou tri nas , reve la-se nes ta que stã o,
dig na
con tin uad ora
do
mov ime nto
we sl ey an o, po is no Ar t. I, in ci so 1, lê -se :
"Há um só Deu s viv o e ver dad eir o, ete rno ,
sem cor po nem par tes ; de pode r, sabe dori a e
bond ade infi nito s, cria dor e cons erva dor de
1
77
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
(11) Cânones da Igreja Metodista do Brasil - Ano de 1955 Pág. 198.
(12) Pope - Op. Cit. - Vol III, Págs 84 a 85.
(13) Harmon, Nolan B. - Understanting The Method.
Church - The Method. Publi. House - 1955 - Pág. 72.
(14) Sermão “Sobre Predestinação” - Cit. por Burtner e
Chiler - Pág. 50.
CONCLUSÃO
De tu do qu an to fo i di to , fo rm ul em os
um a sí nt es e glo bal , que nos per mit a ver de
rel anc e o qua dro ana lis ado e mais facilmente
reter as evidências apontadas.
1 — O es pí ri to hu ma no lo ng e de se r
um a en ti da de pas siv a, aco mo dad a às
cir cun sta nc ias de qua isq ue r nat ureza s, é
elem ento ativ o, sofr e, sent e e reag e. Moti vo
por que nos sa vid a se dis tin gue da de out ros
ser es. É ver dad e que tamb ém eles reage m
aos estí mulo s exter nos, mas não sabe m
po rq ue o fa zem e ne m sã o ca pa ze s de cr ia r
me io s in te li g ent es par a os tra nsf orm are m
em seu ben efí cio . Por iss o, no qu e di z
re sp ei to ao ho me m, o de te rm in is mo só em
pa rt e é vá li do .
Ci ta rí am os , se qu is é ss em os , ce nt en as
de exe mpl os. Mas , doi s ape nas nos
bas tar ão:
A Hol and a, em sua per ma nen te lu ta co m
o ma r, usu rpou -lhe dez ena s de qui lôm et ros
de sol o est éril e o tra nsf orm ou em ter ra das
ma is pr od ut iv as . ( 1 ) Al i es tá um a pr ov a do
qu e po de o eng enh o hum ano .
O out ro nos é dad o pel a Grã-Bre tan ha.
Peq uen a
e
rod ead a
pel o
Atl ânt ico ,
con ver teu -se num a das ma ior es pot ênc ias
ma rít ima s do glo bo. E se exa min ard es a
vid a pol íti ca, soc ial e reli gio sa de hola nde ses
e ing les es, not are is coi sa sem elh ant e. Sua
gen te sou be rea gir sem pre co nt ra os qu e
lh e fe ri ra m o br io . A in de pe nd ên ci a da
Hol and a é fr uto do des pot ism o dos fan áti cos
hab sbu rgo s espa nhói s. Cons cien tes de seu
próp rio valo r, alen tado s pela do utr in a
ev an gé li ca , in fl am ar am -se de ze lo e
sa cu di ra m de vez o jugo estrangeiro.
Fato
idêntico
nos
apresenta
a
vel ha
78
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
Ing lat err a, a qua l, não só exp uls ou a qua nto s
ini mi gos lhe pis ara m o sol o pátri o, mas ain da
se fez a pal adi na da democr acia nos tempos
moder nos.
Lembrar -vos-ei
apena s
que ,
séc ulo s ant es de se fa lar no dip lom a dos
dir eit os do hom em, já os bar ões ing les es
tin ham exi gid o do Rei Joã o sub scr eve r a
Mag na Ca rta, de per dur áve is con seq üê nci as:
Ond e, por tan to, se ten te dim inui r o val or do
esp írit o hum ano, a reação se levantará,
infalivelmente.
de te rm in ad o, ma s por que fe z ma u uso da
lib er dad e, em bor a ad ver ti do de an te mã o da
po ss ib il id ad e de ca ir . Pr ef er iu , to da vi a,
agi r na dir eçã o con tra -ind ica da.
E com o pro ced eu o Pai cele sti al?
Aban dono u o filh o que se fize ra escr avo do
mal? Não ! Ao in vés de dei xá -lo ao
aba ndo no, con ti nu ou of er tando-lhe Sua
graça, envian do-lhe, por - fim, o Verbo eterno ,
Cri sto Jes us. Atr avé s do ben dit o Red ent or a
sal vaç ão fo i posta ao alcance de todos os
homens.
2 — Tia go Arm íni o e Joã o We sle y ref let em
o esp írit o de seu s pov os, de amo r à
lib erd ade e de res pei to par a com a vi da
hu ma na . Ma s, de ou tr o la do , el es se
fi rm ar am nes ses pri ncí pio s, obs erv and o que
se coa dun ava m com a nat ure za do hom em,
que exa lta vam ao Cri ado r, tin ham o apo io
das Esc rit ura s e hav iam sid o sus ten tad os por
alg uns escritores da Igreja Primitiva.
Há, por conseguinte, diversos pontos de
contato entre arminianismo e metodismo. Ambos
negam que Deus tenha pre des tin ad o o hom em
à que da. Ele jam ais pro ced eri a de tal modo,
pois é bom e justo, e não pode agir
contrariame nt e à Su a na tu re za e ne m à do
ho me m. Se al gu ém se per de, não é do
Cri ado r a cul pa. Deu s que r a sal vaç ão do
pe ca do r qu e, pa ra ta nt o, lh e of er ec e o
re cu rs o , ma s o homem é livre para aceitá-lo ou
para recusá-lo.
Recorrendo à Santa Palavra re co nh ec er am
qu e De us fi ze ra o ho me m cr ia tu ra li vr e,
con scie nte, resp ons áve l, e não um aut ôma to.
A obr a con dizia com o art ífi ce e, por iss o, o
dig nif ica va. Só ass im Ele pod ia cham á-lo a
con tas e exi gir sat isfa ção por seu s atos . Se
pe co u, não fo i po rqu e a ta nt o es ti ves se
Ni ng ué m, co nt ud o, de du za di st o, qu e o
me to di sm o sej a arm ini ano por exc el ênc ia.
Tal vez pos sam os dize r que o é, tão semente,
1
79
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
naqueles conceitos
predestinação.
relacionados
com
a
3 — Irei s perm itir , entã o, que vos lemb re
algu ns pont os em que o met odi smo e o
cal vin ismo se aju stam bem . Um dele s é o da
corr upçã o da natu reza huma na, após o
peca do. De sor te que, qua ndo Adã o cai u,
tod a a raç a hum ana cai u com ele . Out ro
pon to é o da abs olu ta nec ess ida de da gra ça
de Deu s, sem a qua l o hom em é inc apa z de
bus car a sal vaç ão. A ini cia ti va é de De us e
ta mb ém a su a re al iz aç ã o. Ai nd a ou tr o es tá
na int erp ret açã o que os doi s sis tem as dão
aos
sac ra ment os, cons ider ando -os não
apen as símb olos , mas tamb ém me ios pel os
qua is a fé rec ebe al ime nto e o fi el ma is se
edifica
em
Cristo. Ambos
rejeitam
a
transubstanciação e a consu bsta nciaç ão.
4 — Se , por ém, nos det ive rmo s a
exa min ar com ma is preci são os postu lados
do metod ismo wesle yano , terem os o ens ejo
de con clu ir que , em alg uns del es, é ma is
ant i-cal vini sta que o sist ema de Tiag o
Armínio. Nada há, pois , que est ran har ! Sim !
Por qua nto vim os que
o arm ini ani sm o
ace ita va a pre des tin açã o con dic ion al, ou
inf ral aps ari a nis mo. Ist o é, bas ead a na
pre sci ênc ia de Deu s e não em Seu dec ret o
ete rno , a par tir
da
que da,
e não
ant eri orm ent e à mes ma. O met odi smo ,
emb ora rec onh eça a pre sci ênc ia de De us ,
ne ga qua lq ue r uma da s du as fo rma s de
pr ed es tin açã o:
inf ral aps ari an a
ou
sup ral aps ari a na. Tam bém rej eit a lim ita ções
na obra expiatória de Cristo, como quando se
pretende que Ele ten ha mo rri do ape nas pe los
ele it os.
Par a We sle y e se us se gu id or es a
ex pi aç ão e a gr aç a sã o un iv er sa is . Cr is to
fe z tu do qu e de pe nd ia de Si pa ra re di mi r a
hu ma nida de do peca do, Sua obra foi exte nsa,
perf eita , comp leta úni ca e abr ang e a tod os os
hom ens , com o vemos, por exe mpl o, em Jo
3:1 6 ; Rm 5:18 e Hb 8:10.
5 — O met odi smo é, por tai s mot i vos, um
sis tem a teo lóg ico pec uli ar. Nem arm ini ano
int eir ame nte e nem cal vi nis ta. Man tém , no
ent ant o, dou tri nas que são fu nda men ta is
pa ra os do is , ag ru pa nd o -as em um to do
ha rm on io s o e eq ui li br ad o. De um la do
su st en ta a gl ór ia e so be ra ni a de Deu s e, do
out ro, a lib erd ade do hom em. A sal vaç ão é
80
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
dom gra tui to, con ced ido aos hom ens sem
que o mer eça m, mas não vai ao pon to de
dei xar tud o ex clu siv am ent e nas mão s
div ina s. A sal vaç ão é obr a divin o -hum ana . O
enf e rmo cur a-se qua ndo se dis põe a
sub met er-se às pre scr içõ es do méd ico e
tom a os rem édi os que lhe ind ica . O mai s
im po rt an te , pe lo me no s em si tu aç ão
de li ca da , de pe nd e do clí nic o, ma s, pas sad a
a cri se, a coo per açã o do enf erm o é
im pr es ci nd ív el . Po r me lh or qu e se ja um
me di ca me nt o, o ef ei to de pe nd er á da
re aç ão do or ga ni sm o. A gr aç a de De us ,
de ig ua l mo do , só co mp le ta su a ob ra
qu an do o homem diligencia em secundá-la.
Jam ais co mp ree nderemos o Criador se o
divorciarmos do homem, assim com o ser emo s
inc apa zes de con hec er o hom em iso lan do -o
de De us . Qu an ta s ve ze s se te m el eva do
ta nt o a De us ao po nt o de o ho me m fi ca r
ob sc ur ec id o? Ai nd a ag or a se pro pal a uma
teo log ia tra nsc end ent ali sta , na qua l o
Alt ís simo est á fo ra do alc anc e de no ssa s
esp ecu laç õe s. Bon ita , sem dú vid a, ma s
nad a con fo rta dor a! Mas , tam bém , não é
pos sív el ent ron iza r a rid ícu la raz ão da
cri atu ra a que cha ma mos hom em. Os seu s
des ati nos são evi den tes até par a os cegos.
6 — Dire mos, fina lmen te, que a soci edad e
hodi erna necess ita con hec er e exp eri men tar
a teo log ia met odi sta . Em um mu nd o
in qu ie to e de sn or te ad o co mo o no ss o, el a
fa rá mu it o be m. Se rá u ma bê nç ão se nt ir a
mã o di vi na segura ndo a nos sa ao invé s de
nos jul garm os qua is cas cas de no ze s
ag it ad as pe lo s vag al hõ es da vid a, ou qua is
in de fes os órf ãos aba ndo nad os ao léu da
sor te. Há, par a tod os, um ti mo ne ir o se gu ro ,
um Pa i ac es sí ve l e de in fi ni ta mi se ri có rd ia .
Se us sã o os te so ur os no s cé us e na te rr a,
e El e qu er di st ri bu í -lo s co m os Se us fi lh os ,
de qu al qu er ra ça , de qua lq ue r co nt in ent e e
de qua lq ue r co nd içã o so cia l. Até o mai s vil
Fat ali smo ,
det erm ini smo ,
tra nsc end ent ali smo ,
ou
panteí smo
e
hum ani smo , são uns tant os "ism os" que os
seg uido re s de We sl ey re pe le m co mo
pe ri go so s. Se é ab su rd o af ir ma r-se qu e "o
ho me m é ho me m si mp le sm en te po rq ue nã o
é ga to ”, não é men os gra ve tom á-lo com o
afe rid or (ava lia dor , med ido r, jul gad or) de
val ore s. Nun ca nos pod emo s esq uec er que
ele é fi nit o, limi tado , pere cíve l, suje ito a
falh as, mas tamb ém que Deus o fe z à Sua
ima gem mo ra l e esp iri tua l.
1
81
Jo se' Go rr çah'e s S a l r a d o r
107
pec ado r. Não há exc eçõ es par a Deu s. Só o
próprio homem se pode excluir do reino celestial.
Nã o ex is te me ns ag em ma is co nf or ta do ra
e ma is en tu si as ta . El a no s en si na o
ve rd ad ei ro se nt id o da fra te r ni da de , po rq ue
no s aj ud a a ve r em no ss o pr óx im o um
ir mã o pe lo qu al Je su s ta mb ém de rr am ou o
Se u sa ng ue . El a nos fa z cô ns cio s de no ss o
de ve r de an un ci ar o Ev an ge lh o po r to das as
pa rte s. El a no s con st ra ng e a ba ta lh ar po r
um mu nd o de pa z e de bo a vo nt ad e, de
ju st iç a e de res pei to par a com tod os os
hom ens . "O me tod ism o, dis se al gué m
sa bi am en te , é uma re vo lu çã o em ma rc ha ".
De us o permita!
REFERÊNCIAS E NOTAS:
(1) Fautcher, Daniel - Geografia Agrária”.
A r n i t i a t ris mo e Meto di sm o
BIBLIOGRAFIA
BER KHO F, L. — Th e Hist or y of Chr ist ian
Doc tr ine s — Ee rdm ans Publish. Company
— 1049 — Michigan.
BE RK HO F, L. — Sy st em at ic Th eo lo gy —
Ee rd ma ns Pu bl is hi ng Co. — Michigan —
1949.
BU RT NE R AN D CH IL ES — Co mp ên di o de
Te ol og ia de Jo ão W es le y - Im pr en sa
Me to di st a.
CA MB RI DG E MO DE RN HI ST OR Y — Vo l. VI
— Un iv er si ty Pr es s, Cambridge.
CA NN ON , WI LL . RA GS DA LE — Th e
Th eo lo gy of . Jo hn W es le y
— Abingdon — Cokesbury Press — New York —
Nashville — 19 46 .
E NC YC LO P . O F BI BL I C AL TH E O L O G Y
AN D E C CL E S . LI T E TU RE — Vo ls . I e
VI — MC li nt oc k an d St ro ng — Ha rp er &
Brothers — New York — 1878.
ENC YCL OP. BRI TÂN ICA —
Fourteenth Ed. — 1929.
Vol
II
—
3M-X-LX
FIS HE R, GE OR GE P. — Hi st or y of
Ch ri st ia n Do ct ri ne — Ch ar le s Sc ri bn er 's
So ns — Ne w Yo rk — 19 01 .
GUTH RI E, JO HN — Li fe of Ja me s Ar mi ni us
— Na sh vi ll e — Pu blish. House of M. E.
Church, South — 1903.
HA GE NB AC H, DR . K. R. — A Hi st or y of
Ch ri st ia n Do ct ri ne s — Vol . III —
Edi nbu rg — T. & T. Clark — 1895.
HA RM ON , NO LA N B. — Un de rs ta nd in g
Th e Me th od . Ch ur ch — T h e M e t h o d .
Publish. House
— Nashville
—
1955.
HASTINGS, JAMES — Encyclop. of Religion
and Ethics — Vol. 1
— Charles Scbriner's Sons — New York — 1928.
LI ND SA Y, TH OM AS — A Re f or ma —
Li vr ar ia Ev an gé li ca — Ru a das Janelas
Verdes, 32 — Lisboa — s. d.
MO SH EI M, J. LA WR EN CE — An Ec cl es is t.
Hi st or y — Vo l V — London —
NEWMAN, A. HENRY — A Manual of Church
History — Vol. Il — Philad — American
3M-X-LX
Baptist Society — 1904.
PI RE NN E, HE NR Y — Hi st oi re de Be lg iq ue
— Vo ls . II I e IV — Bruxelles — 1923.
PLATT — Dict. of Religion and Ethics — Vol. I —
1908.
PO PE , WI LL . BU RT — A Co mp en di um of
Ch ri st . Th eo lo gy — Vo ls . I, II e II I —
Se co nd Ed it io n —
Ne w Yo rk —
Ci nc in na ti .
SCHAFF — History of the Christ. Church — Ch.
Scribner's Sons — N. York — 1882.
ST EV EN S, AB EL — Hi st or y of Me th od is m
— Th ir t. Ed it io n —New York — Cincinnati
—
SÉ E. HE NR I BÉ BIL LO N ET PR ÉC LI N — Le
XV I Si èc le — Pr es se s Universit. de France
— Paris — 1950.
TE YE RM AN . LU KE — Th e Li fe an d Ti me s
of th e Re v. Jo hn Wesley — 3 vols. — New
York — Harper & Bros. — 1872.
TO WN SE ND , W. J. — A Ne w His to ry of
Me th od is m — Pu bl is h. House of the M. E.
3M-X-LX
Church, South — Nashville — 1909.
VA N GE LD ER , H. A. — Hi st oi re de s Pa ys Ba s du XV I si èc le à nos jours — Libr. Colin
—
W AL KE R, WI LL IS TO N — Hi st ór ia da
Ig re ja de Cr is to — Im prensa Metodista —
S. Paulo — 1925.
WE SL EY , JO HN — Se rm õe s — Vo ls . I e II
— Im pr en sa Me to di st a — S. Paulo —
1954.
RE LI GI ON IN LI FE — A Ch ri st . Qu ar te ly
— Vo l. XI X, N º 3 — New York — 1950.
3M-X-LX
Download

ARMINIANISMO E METODISMO - Igreja Metodista de Vila Isabel