8 iNDICADORES eDUCACIONAIS EM FOCo 2012/08 (Outubro) dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação Aumentar o financiamento privado, especialmente na educação superior, está associado a menos financiamento público e menor equidade de acesso? Nos países da OCDE, 16% do total gasto em educação, em todos os níveis educacionais, veio de recursos privados em 2009, comparado a 12,2% em 2000. A participação privada no financiamento cresceu de 22,9% para 30%, em média, no ensino superior, enquanto aumentou de 7,1% para 8,8% na educação primária, secundária e pós-secundária não superior. Entre 2000 e 2009, o total gasto com instituições educacionais, em relação à porcentagem do PIB, subiu 0,88 pontos percentuais, de 5,34% para 6,22%; esse aumento provém de fontes de recursos tanto públicas como privadas. O aumento do financiamento privado não correspondeu à diminuição do gasto público com educação. Pelo contrário, ambas as fontes de financiamento educacional apresentaram taxas de crescimento diferenciadas. No âmbito dos países, uma maior participação privada no financiamento de instituições de ensino superior não está associada a um acesso limitado à educação superior ou à diminuição de oportunidades de ingresso no ensino superior para estudantes de famílias desfavorecidas. O financiamento privado em educação está aumentando, especialmente na educação superior… Em 2009, cerca de 16 % do gasto total em educação veio de fontes privadas, em média, nos países da OCDE. O investimento privado foi particularmente alto na educação pré-primária (18,3% em média) e na educação superior (30% em média). Para a educação primária, secundária e pós-secundária não superior, a participação do financiamento privado, entre os países da OCDE, foi de 8,8%. A maior parte do financiamento privado para as instituições de ensino superior provém das famílias, por meio do pagamento de mensalidades e outras formas de financiamento. Mas o investimento privado também inclui outras fontes de recursos, como contribuições de empresas privadas. Na Austrália, Canadá, República Tcheca, Israel, Coreia, Holanda, Eslováquia, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos, 10% ou mais dos investimentos nas instituições de nível superior provêm de empresas privadas e não das famílias. Na Suécia, essas contribuições são, em grande parte, direcionadas para patrocinar pesquisas e desenvolvimento. Há enormes diferenças entre os países no que diz respeito à participação do financiamento privado na educação (ver Gráfico 1). Chile, Coreia e Reino Unido obtêm mais de 70% dos seus investimentos na educação superior a partir de fontes privadas, e essa proporção é de mais de 20% na educação primária, secundária e pós-secundária não terciária. Os países nórdicos e a Bélgica, por outro lado, recebem de fontes privadas 10% ou menos de seus investimentos no ensino superior. Entre os anos 2000 e 2009, o investimento privado na educação cresceu expressivamente. De um índice de 100 no ano 2000, o financiamento privado atingiu um índice de 180 entre os países da OCDE. O financiamento privado dobrou no México entre 2000 e 2009, e no Reino Unido chegou a triplicar. O crescimento é particularmente alto na educação superior, na qual os investimentos mais que dobraram em países da OCDE entre 2000 e 2009, Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Outubro) © OCDE 2012 1 INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação com índices de crescimento (2000=100) de até 518 na Áustria, 548 em Portugal, 620 na Eslováquia e 334 no Reino Unido. Alguns desses países têm altas taxas de crescimento da participação relativa do financiamento privado, porque essa participação era muito baixa em 2000. Mas um país como o Reino Unido, que já retirava 32,3% dos seus investimentos no ensino superior de fontes privadas em 2000, ampliou ainda mais essa proporção, para 70,4% em 2009. Em contrapartida, os Estados Unidos têm observado uma diminuição de seus financiamentos privados na educação superior, de 68,9% em 2000 para 61,9% em 2009. Variação do financiamento privado na educação superior entre 2000 e 2009 Estados Unidos (61.9) Israel (41.8) Irlanda (16.2) Espanha (20.9) Japão (64.7) Canadá (37.1) Noruega (3.9) França (16.9) Suécia (10.2) Bélgica (10.3) Islândia (8.0) Coreia (73.9) Holanda (28.0) Austrália (54.6) Itália (31.4) Alemanha (15.6) Polônia (30.3) Finlândia (4.2) média da OCDE(30.0) Dinamarca (4.6) média da União Europeia(21.4) México (31.3) República Tcheca (20.1) Reino Unido (70.4) Áustria (12.3) Portugal (29.1) Eslováquia (30.0) Índice de pontuação 650 600 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 1. Incluindo subsídios atribuíveis a pagamentos a instituições educacionais provindos de recursos públlicos. Os países estão classificados por ordem decrescente do aumento de investimento privado na educação superior entre 2000 e 2009. Fonte: Education at a Glance 2012: Indicadores da OCDE, Indicator B3 (www.oecd.org/edu/eag2012). … mas esse aumento não ocorreu em detrimento do financiamento público. Entre os anos 2000 e 2009, o financiamento público em instituições educacionais também cresceu consideravelmente, porém a uma taxa menor, em média, se comparado ao financiamento privado. A partir de um índice de 100 no ano 2000, o gasto total com instituições de todos os níveis de ensino cresceu alcançando um índice de 133, em média, nos países da OCDE. As mais altas taxas de crescimento do financiamento público foram observadas na Austrália, República Tcheca, Estônia, Irlanda e Coreia. Tomando especificamente a educação superior, em que o aumento da participação do investimento privado foi mais expressivo, o índice de financiamento público aumentou de 100 para 138 entre 2000 e 2009 nos países da OCDE. Mas, em países como a República Tcheca, a Coreia e a Polônia, esse índice cresceu mais de 180 pontos. Não há – ao contrário do que muitos podem supor – uma correlação negativa entre os índices de crescimento dos financiamentos públicos e dos privados na educação superior. Em geral, os países da OCDE não substituem os investimentos públicos pelos financiamentos privados. Em quase todos os países, tanto o financiamento público quantos o privado cresceram, mas o equilíbrio entre essas duas fontes de recursos pode ser bem diferente. Países como a Áustria, a República Tcheca, o México e a Eslováquia têm índices de crescimento mais altos do que a média, tanto do financiamento público como do privado na educação superior. No entanto, há exemplos de países onde os investimentos públicos e os privados, na educação superior, têm padrões de crescimento diferentes: Dinamarca, Portugal e Reino Unido combinam uma taxa acima da média de financiamento privado com uma taxa abaixo da média de investimento público na educação superior. 2 © OCDE 2012 Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Outubro) INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação Como esperado, o aumento conjunto dos investimentos públicos e privados nas instituições educacionais resultam em um importante crescimento do total de financiamento disponível para instituições educacionais entre 2000 e 2009 (Indicador B2 do Education at a Glance 2012). O total gasto com educação (todos os setores combinados) aumentou por volta de 35,8% em média nos países da OCDE. Em relação ao percentual do PIB, os gastos com educação aumentaram em 0,88 pontos percentuais: de 5,34% para 6,22%. Países como Dinamarca, Irlanda, Coreia, México, Holanda, Noruega e Reino Unido aumentaram o total gasto com educação, no que diz respeito à porcentagem do seu PIB, em mais de um ponto percentual. Uma maior participação do financiamento privado na educação superior não está associada a um acesso mais limitado ou desigual. Sem contabilizar as receitas perdidas, o custo de um ano de ensino superior para uma pessoa chega ao equivalente a 1.944 dólares americanos, em média, nos países da OCDE em 2008 (Indicador A9 do Education at a Glance 2012). Mas as diferenças de custos para as famílias variam muito entre os países, de alguns poucos dólares nos países nórdicos a mais de 4.880 dólares no Reino Unido. Os governos têm implementado vários mecanismos para compensar esse custo privado, especialmente para as famílias desfavorecidas. Ao mesmo tempo, a taxa interna de retorno sobre o financiamento privado é elevada, de até 13% ao ano, em média, nos países da OCDE. Essa alta taxa de retorno do financiamento privado pode explicar por que os governos decidiram, nos últimos anos, aumentar gradualmente a participação privada nos custos com a educação superior. Taxa de probabilidade de acesso à educação superior com pais de nível educacional mais baixo e proporção relativa da despesa privada em instituições de ensino superior Taxa de probabilidade de acesso à educação superior de alunos com pais com baixo nível de escolaridade (2008) média da OCDE 0.8 Islândia 0.7 Irlanda Portugal Dinamarca 0.6 Reino Unido Suécia Espanha 0.5 Finlândia 0.4 UE21 média da OCDE Polônia França República Tcheca Bélgica 0.3 Austrália Itália OCDE Alemanha Áustria Noruega Holanda Eslovênia EUA Canadá Nova Zelândia 0.2 0.1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Proporção relativa da despesa privada em instituições de ensino superior (2009) Fonte: Education at a Glance 2012: OECD Indicators, Indicador A9 e B3 (www.oecd.org/edu/eag2012). Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Outubro) © OCDE 2012 3 INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação Um argumento frequentemente levantado dentro do contexto de tais debates políticos é o risco de que os altos financiamentos privados possam limitar o acesso à educação superior, ou possam, mais especificamente, desencorajar os estudantes de famílias desfavorecidas a entrar no ensino superior. No entanto, no âmbito dos países e até a data de hoje, não há evidências capazes de fundamentar essa afirmação. Não existe uma correlação negativa entre a participação do financiamento privado e as taxas de ingresso no ensino superior (Indicador C3 do Education at a Glance 2012). Para os vinte e dois países da OCDE, para os quais ambos os conjuntos de dados estão disponíveis, a análise também mostra que não há uma correlação entre a participação privada no financiamento da educação superior e a taxa de probabilidade de acesso à educação superior, caso os pais desses alunos tenham uma baixa escolaridade (Indicador A6 do Education at a Glance 2012). No gráfico da página 3, os países da OCDE, para os quais os conjuntos de dados estão disponíveis, são representados levando em conta a participação relativa do financiamento privado na educação superior e a probabilidade de acesso à educação superior para um estudante proveniente de ambiente com baixo nível educacional. Os países do quadrante superior esquerdo reúnem uma baixa participação do setor privado, em relação à média da OCDE, com uma taxa de probabilidade de acesso ao ensino superior acima da média. A situação contrária pode ser vista no quadrante inferior direito, onde países como os Estados Unidos e o Canadá têm uma proporção de financiamento privado acima da média e um baixo índice de probabilidade de acesso. No entanto, países como a Austrália e, especialmente, o Reino Unido mostram que uma taxa de investimento privado acima da média pode ser associada a altas taxas de probabilidade de acesso. No que concerne à Europa, Itália, Holanda e Portugal têm uma taxa de participação do investimento privado acima da média, em comparação com os países da OCDE que fazem parte da União Europeia, enquanto mantêm taxas de probabilidade de acesso acima da média. O quadrante intrigante é o do canto inferior esquerdo, o qual inclui países como Áustria, Bélgica, República Tcheca, França, Alemanha e Noruega, onde uma baixa participação do investimento privado caminha lado a lado com taxas de probabilidade de acesso abaixo da média. Infelizmente, estão faltando dados sobre a série histórica, de modo que não se podem prever os efeitos, ao longo do tempo, do aumento do financiamento privado sobre o acesso à educação superior. Entretanto, a partir de uma análise mais abrangente, baseada nos dados de 2008-2009, fica claro que uma alta participação dos investimentos privados não está associada a menores oportunidades de acesso ao ensino superior para alunos oriundos de famílias com baixo nível de escolaridade. Entre os países da OCDE, vários modelos prevalecem, no que se refere à configuração do financiamento público para o ensino superior, ao investimento financeiro solicitado aos alunos e às famílias e aos mecanismos de apoio oferecidos aos estudantes (Indicadores B5 do Education at a Glance 2012 e na publicação Indicadores Educacionais em Foco n° 6). Em geral, a participação relativa do financiamento privado parece ter um pequeno impacto sobre o acesso à educação superior. Outros fatores parecem ser mais fortes para explicar a desigualdade de acesso ao ensino superior e a mobilidade educacional entre as gerações, como as desigualdades sociais e a segregação social entre as escolas de ensino médio. Para concluir: Em média, entre os países da OCDE, os recursos privados estão representando uma parcela maior nos investimentos em educação, especialmente no ensino superior. Em alguns países, o aumento do financiamento privado é notável. Mas o investimento privado não aumentou em detrimento do financiamento público. E, nesses países, um maior nível de financiamento privado no ensino superior não está associado a menores chances de acesso à educação superior para alunos oriundos de uma conjuntura educacional desfavorável. Visite: www.oecd.org/edu Veja: Education at a Glance 2012: Indicadores da OCDE Para mais informações, contate: Dirk Van Damme ([email protected]) No próximo mês: Como o tamanho das turmas varia ao redor do mundo? Photo credit: © Ghislain & Marie David de Loss y/Cultura /Get t y Images 4 A qualidade da tradução para o Português e sua fidelidade ao texto original são de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, Brasil. Disponível em: www.inep.gov.br. © OCDE 2012 Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Outubro)