Ensaios e Ciência Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 Christiano Bertoldo Urtado Faculdade Integração Tietê - FIT [email protected] Claudio de Oliveira Assumpção Centro Universitário Anhanguera UNIFIAN - unidade Leme [email protected] Thiago A. I. Norberto Santos Centro Universitário UNIMÓDULO/UNICSUL [email protected] ÍNDICE TORNOZELO BRAÇO: SUA RELAÇÃO COM ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS E INDICAÇÃO COMO UM COMPONENTE DE AVALIAÇÕES FÍSICAS RESUMO O ITB (índice tornozelo braço) baseia-se na idéia de que há uma diferença entre as pressões arteriais entre membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII). Esta diferença, seguindo um padrão já estipulado, vem sendo utilizada na detecção de doença arterial obstrutiva periférica. O objetivo desta pesquisa foi verificar a existência desta diferença, correlacionála com outras avaliações já consolidadas na literatura, oferecendo informações sobre prováveis problemas cardiovasculares. O índice de significância foi considerado abaixo do adequado para pesquisas científicas, mas, por se tratar de um teste rápido, de fácil reprodutibilidade e de baixo custo vem sendo utilizado em hospitais como avaliação diagnóstica; tal fato nos leva a sua indicação como fator integrante em avaliações físicas. Palavras-Chave: doença arterial periférica; ITB; atividade física; avaliação. ABSTRACT The AAI (ankle-to-arm index) are based on the idea that states that there is a difference in the blood pressure ratio in the upper limbs (MMSS) and the lower limbs (MMII). This difference, according to a standard previously set, has been used to diagnose peripheral arterial disease. The objective of this research was to validate the existence this difference, and if it does exist, correlate it with other evaluations already available in the literature; which can provide information about probable cardiovascular conditions. The significant index was to consider bellow of adequate for scientific research, and furthermore, because it’s to be as fast test, easy to reproduce and a lower price come to being to used in hospitals as a diagnosis evaluations; such fact come us the your indication as integral part in physical evaluations. Keywords: peripheral arterial disease; ABI; physical activity; evaluations. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 08/02/2009 Avaliado em: 14/8/2009 Publicação: 25 de novembro de 2009 7 8 Índice tornozelo braço: sua relação com índices antropométricos e indicação como um componente de avaliações físicas 1. INTRODUÇÃO Na atualidade as doenças do coração estão entre as que resultam os maiores índices de mortes em inúmeros países, inclusive no Brasil, levando o indivíduo se não a morte, a uma invalidez parcial ou total (SIMÃO et al., 2002). Há diversos tipos de deficiência cardíaca, tais como, Doença Arterial Periférica (DAP), Arritmia, placa de Ateroma, entre outras, assim como muitos também podem ser os fatores que acarretam estes problemas, como por exemplo temos o tabagismo, sedentarismo, obesidade (MENDES et al., 2006). Frente a esses indicativos, se faz cada vez mais necessário à obtenção de métodos de prevenção e diagnósticos a estas doenças; dentre outros métodos diagnósticos encontram-se ultra-som, ecocardiograma e angiografia por ressonância magnética; exames em que são observadas todas as funcionalidades cardíacas, com a intenção de detectar quaisquer disfunções em suas estruturas (câmaras cardíacas, grandes vasos sanguíneos, aurículas, ventrículos e válvulas) (FOPPA; RIBEIRO; CLAUSELL, 2001). Porém tratam-se de exames de grande valor financeiro, não sendo acessível a grande parte da população, que tem como opção esperar o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Sabendo-se da extrema importância de um diagnóstico em tempo hábil para a realização de um tratamento eficaz, este estudo pesquisou a utilização de um método rápido, prático, barato e acessível à população e de fácil reprodutibilidade, o chamado Índice Tornozelo Braço (ITB), Índice Braço Pé (IBP) ou ainda Índice Tornozelo Braquial (ITB) (WITTKE et al., 2007). A essência desse índice é a mesma, independentemente da nomenclatura, em que por meio da aferição da pressão arterial (PA) na região da artéria umeral em membro superior (MS) e da Artéria do Tornozelo (Artéria Tibial Anterior) em membro inferior (MI), sugere-se que em condições normais a pressão sistólica dos Membros Inferiores (MMII) é mais elevada em relação aos Membros Superiores (MMSS), salvo na presença de algumas doenças cardiovasculares, quando a pressão sistólica é menor para MMII e a pressão diastólica é semelhante para o mesmo seguimento (SCHMIDT; PAZIN FILHO; MACIEL, 2004). Tal redução de pressão deve-se a presença de obstruções arteriais, que por sua vez levam ao diagnóstico de Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) (WITTKE et al., 2007). Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 Claudio de Oliveira Assumpção, Christiano Bertoldo Urtado, Thiago A. Intrieri Norberto Santos 9 Outra vantagem é o fato de se tratar de um método não invasivo (GABRIEL et al., 2007), ou seja, não invade a integridade física do paciente, ausentando ou diminuindo consideravelmente o estresse gerado ao paciente pelo teste em si. O ITB é importante para a detecção da DAOP em sua fase assintomática, pois, uma pessoa portadora desta doença possui uma chance de cinco a sete vezes maior de sofrer um infarto do miocárdio e de ter uma ocorrência de acidente vascular cerebral, comparada a uma pessoa que não sofre da doença (Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, 2007). Frente a estas considerações, a qualidade de vida desses indivíduos é afetada, e quando falamos em qualidade de vida não podemos deixar de lado a questão da atividade física, visto que esta ao se tornar um hábito constante no dia-a-dia das pessoas trará benefícios baseados em alterações fisiológicas e psicológicas (SANTOS et al., 2006). Dentre as melhoras citadas acima estão as cardiovasculares, como, benefícios circulatórios periféricos, pressão arterial em repouso com melhor controle, perfil lipídico otimizado (NÓBREGA, 1999 citado por SANTOS et al., 2006), mantendo assim uma relação direta com os resultados do ITB, como foi relatado por Pereira e Maldonado (2007), em estudo correlacional entre ITB e indicadores das cavidades esquerdas do coração (como diâmetro e massa do ventrículo esquerdo). Os resultados obtidos por meio do ITB foram correlacionados com o Índice de Massa Corporal e pela Relação Cintura Quadril, já conhecidos e devidamente validados, considerados índices preditores de gordura corporal e com alta correlação com doenças Cardiovasculares (OLIVEIRA FILHO; SHIROMOTO, 2001). 2. OBJETIVO 2.1. Objetivo geral Por meio de avaliação da P.A. de um grupo de adolescentes ativos fisicamente, avaliar se há realmente diferença entre as pressões arteriais diastólicas e principalmente sistólicas entre as mensurações de MI e MS, segundo o que se preconiza para a utilização deste índice (ITB). Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 10 Índice tornozelo braço: sua relação com índices antropométricos e indicação como um componente de avaliações físicas 2.2. Objetivos Específicos Relacionar os resultados com dados obtidos pelos índices já consolidados na literatura (IMC e RCQ). Propor o uso do ITB como um dos parâmetros nas avaliações físicas, principalmente antes do início de um período de treinamento. 3. MATERIAL E MÉTODO 3.1. Casuística Neste estudo foram escolhidos adolescentes considerados como ativos pelo questionário IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física), visto a relevância das adaptações benéficas cardiovasculares promovidas pela prática de exercícios físicos regulares e sistematizados. Foram avaliados 13 (treze) adolescentes do sexo masculino, com média de idade de 16,69 ±1,31 anos, do município de Caraguatatuba-SP. Todos os indivíduos preencheram dados referentes ao IPAQ na forma curta, versão 8, validado no Brasil (MATSUDO et al., 2001), realizaram aferição da P.A em membro superior direito(MSD) e membro inferior direito (MID), RCQ (Relação Cintura Quadril), e IMC (peso/ altura). 3.2. Métodos Todos os participantes assinaram um termo de consentimento e preencheram o questionário IPAQ (versão curta) antes do início das aferições, aqueles menores de 18 anos tiveram o termo de consentimento assinado por um adulto responsável. Foi utilizada uma balança antropométrica Filizola, estetoscópio, fita métrica e uma maca, em um ambiente tranqüilo com temperatura ambiente. Com o objetivo de baratear ainda mais a avaliação do ITB, não foi usado Doppler e sim um esfigmomanômetro aneróide calibrado corretamente, pois conforme estudo de Kawamura (2008) com este aparelho há 90,07% de eficiência nas mensurações. Na tentativa de serem evitados erros metodológicos tomou-se por base o Guidelines de 1951 do American Heart Association no qual é defino que a largura do Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 Claudio de Oliveira Assumpção, Christiano Bertoldo Urtado, Thiago A. Intrieri Norberto Santos 11 manguito deve ser 20% maior que o diâmetro do braço que corresponde à razão circunferência braquial/largura do manguito de 0,40 (BORDLEY et al., 1951). As medidas da P.A. foram realizadas em decúbito dorsal, com repouso de 10 minutos antes da avaliação que foi realizada por 03 vezes em cada indivíduo com intervalo de 1 minuto entre uma aferição e outra, onde a média foi tirada e usada como referencial para se obter o Índice Tornozelo Braço (ITB) a partir da seguinte equação ITB= PAS MI/ PAS MS (PAS MI= pressão arterial sistólica membro inferior/ PAS MS= pressão arterial sistólica membro superior) (PEREIRA; MALDONADO, 2007), onde os valores normais de ITB variam entre 0,91 e 1,3 mmHg (WITTKE et al., 2007). Os pontos de aferição escolhidos foram Artéria Braquial para membro superior e Artéria Tibial Anterior para membro inferior (ARAÚJO; GUIMARÃES, 2003). A metodologia utilizada para mensuração é amplamente usada por profissionais da área da saúde, tendo uma padronização bem definida pela literatura (HEALD et al., 2006; FISHER et al., 2008; GRENON et al., 2009; RICHART et al., 2009). Para MMSS utilizou-se um esfigmomanômetro aneróide com o manguito posicionado de forma confortável, ajustados nos braços, na mesma altura, acima do maléolo cubital com o “cuff” direcionado para o trajeto da artéria braquial de cada membro. O estetoscópio foi posicionado sobre a artéria braquial logo abaixo do esfigmomanômetro (KAWAMURA, 2008). Para MMSI utilizou-se um esfigmomanômetro aneróide com o manguito específico para MI posicionado acima do maléolo inflado a 20mmhg acima da PAS com o “cuff” direcionado para o trajeto da artéria tibial posterior, para aferição das pressões sistólicas de cada MI. O Estetoscópio foi posicionado sobre as artérias tibial posterior e dorsal do pé abaixo do esfigmomanômetro (CUNHA-FILHO et al., 2007). O cálculo do IMC foi obtido por meio de uma balança da marca Filizola, os dados referentes ao peso e estatura dos indivíduos foram atribuídos na seguinte fórmula IMC=peso (kg)/estatura² (m), para obtenção do IMC (OLIVEIRA FILHO; SHIROMOTO, 2001). O RCQ foi aferido com o auxílio de uma fita métrica, mensurando a cintura na região logo acima da cicatriz umbilical, e o quadril na região glútea, os resultados deste índice foram obtidos pela equação RCQ=cintura/quadril (PICON et al., 2007). Toda parte estatística, dentre elas, média, correlação, desvio padrão e índice de significância foram feitos por meio do software SPSS for Windows e para todos os cálculos foi fixado um nível crítico de 5%. Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 12 Índice tornozelo braço: sua relação com índices antropométricos e indicação como um componente de avaliações físicas 4. RESULTADOS Mediante as avaliações realizadas observa-se no Gráfico 1, alteração na pressão arterial ao longo da árvore arterial, um aumento na P.A., principalmente P.A. Sistólica, de MI em relação ao MS avaliado, tendo como valores de pressão arterial sistólica (PAS) 117,53 ±4,48 para MS e 124,20 ±6,62 para MI, pressão arterial diastólica (PAD) 71,17 ±6,57 para MS e 74,35 ±5,66 para MI. Pressão Arterial(mmHg) Diferença entre P.A. de MS e MI 140 124,2 117,53 120 100 74,35 71,17 80 60 1 PAS MS PASPAD MS MS2 PAS MI3 PAD MS 4 PAD MI Mensurações Gráfico 1 – Alteração na pressão arterial ao longo da árvore arterial. Médias e desvio padrão referentes à Pressão Arterial Sistólica de Membro Superior (PAS MS) e Membro Inferior (PAS MI), e Pressão Arterial Diastólica do Membro Superior (PAD MS) e Membro Inferior (PAD MI). O Quadro 1 revela a média e desvio padrão dos resultados obtidos em relação aos índices de massa corporal 21,43 ±3, 44, cintura-quadril 0,82 ±0,04 e Índice Tornozelo Braço 1,05 ±0,03. Quadro 1 – Características antropométricas e Pressão Arterial1. Índices Média Desvio Padrão RCQ 0,823846 0,043501 IMC 21,43923 3,441735 ITB 1,054615 0,031521 1 Quadro de médias e desvio padrão dos dados obtidos nesta pesquisa referentes ao Índice de massa corporal (IMC), Relação Cintura x Quadril (RCQ) e índice Tornozelo Braço (ITB). Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 Claudio de Oliveira Assumpção, Christiano Bertoldo Urtado, Thiago A. Intrieri Norberto Santos 13 O IMC refere-se a um teste simplório e comum que serve como indicativo para a classificação de indivíduos separados da seguinte forma: abaixo do peso, peso ideal e obesidade. Já a RCQ é considerada um bom parâmetro para estimar indivíduos com doença cardiovascular (PICON et al., 2007). O Quadro 2 mostra os resultados obtidos pela correlação dos índices mensurados neste trabalho (Relação Cintura/Quadril, Índice de Massa Corporal e Índice Tornozelo Braço). Quadro 2 – Correlação e significância com índices antropométricos2. 5. Correlação(r) Índices Significância(p) 0,669503 RCQ X IMC 0.0123 0,523289 ITB X IMC 0.0664 0,320233 ITB X RCQ 0.2861 DISCUSSÃO O ITB é de grande valia para a detecção da DAOP, pois é extremamente importante um diagnóstico em tempo hábil para a realização de um tratamento adequado. Mostrou-se também como um método rápido, prático, barato e acessível à população e de fácil reprodutibilidade. De acordo com Richart et al. (2009) o ITB apresenta-se significativamente reprodutível sendo que a diferença absoluta e percentual (p=0,64) entre as duas medidas foram 0,005 unidades (95% intervalo de confiança) e 0,60. Como citado anteriormente, o objetivo geral deste trabalho foi à averiguação de como se comporta a P.A. ao longo de nossa árvore arterial, detectando diferenças pressórias entre MMII e MMSS, a partir da mensuração das P.A. sistólicas e diastólicas do hemicorpo direito, MI e MS em um n=13. Os resultados demonstraram a existência de uma pressão aumentada em MMII, o que vai ao encontro dos resultados obtidos por Pereira e Maldonado (2007) em que foi analisada a P.A. (Umeral e Tibial) em 197 atletas, e os valores pressórios de MMII foram maiores quando comparados aos valores de MMSS, tanto na diástole como principalmente na sístole. Como observado no Gráfico 1, houve diferença entre as P.A. de MI e MS, fato este deve-se a um fator denominado Velocidade de Onda Pulsátil (VOP), que aumenta conforme se distancia da artéria principal e maior calibre (Aorta), gerando assim, maior Quadro de correlação e significância entre os dados obtidos sobre Índice Tornozelo Braço (ITB), Índice de massa corporal (IMC) e Relação Cintura-Quadril (RCQ). 2 Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 14 Índice tornozelo braço: sua relação com índices antropométricos e indicação como um componente de avaliações físicas pressão arterial sistólica conforme aumenta-se a distância do coração (BORTOLOTTO; SAFAR, 2006). Em estudo recente Pereira e Maldonado (2007) explicam que esta diferença na pressão é ocasionada devido a um aumento na amplitude da onda de pulso entre a aorta central e artérias periféricas, e como conseqüência determina um incremento sistólico de pressão. Podemos citar mais um fator indicativo a estas alterações de P.A. em membros inferiores, pois se trata de uma área vascularizada por artérias musculares, que recebem uma resistência vascular causada por forças mecânicas contrárias ao fluxo de sangue aumentando a velocidade de propagação desta onda, consequentemente a PAS (BORTOLOTTO; SAFAR, 2006). A amostra referenciada no Quadro 1 mostrou-se dentro dos padrões de um IMC e RCQ ideais (Worl Health Organization - WHO, 1995; 2000; 2004), assim como os valores de ITB estavam dentro do padrão indicado como normal (WITTKE et al., 2007). Baseado neste pressuposto temos também índices normais de ITB nesta coleta. Pensando em exercício físico estes valores vão ao encontro com o resultado obtido pelo IPAQ, onde todos os indivíduos da amostra foram considerados como ativos, contando assim com grandes chances de serem portadores das adaptações benéficas causadas pelo exercício. Em relação à prática de atividade física e sua correlação com ITB, Pereira e Maldonado (2007) realizaram um estudo com n=50, onde o objetivo foi avaliar a relação entre ITB e indicadores de adaptações benéficas nas cavidades esquerdas do coração (como diâmetro e massa do ventrículo esquerdo) a partir de avaliações de ecocardiograma em atletas, no qual o resultado obtido pelos pesquisadores por meio de correlação corroborou para uma associação entre os índices. Comparando o ITB com a avaliação do risco cardiovascular, Wittke et al. (2007) confeccionou um artigo de revisão onde cita como a presença da obstrução arterial em MMII é capaz de produzir uma diminuição da P.A. nos locais distantes da lesão, acarretando uma queda nos valores sistólicos do tornozelo, e assim valores de ITB reduzidos, usando como exemplo o estudo de Newman, Siscovick, Manolio et al. (1993), onde após 6 anos de acompanhamento de um n=5084, o ITB demonstrou associação inversa significativa com a presença de fatores de risco cardiovascular e doença cardiovascular. Quanto aos objetivos específicos, sobre a correlação e índice de significância dos índices trabalhados neste estudo, quando comparado a outros índices antropométricos, onde todos os resultados são classificados como correlação positiva, sendo considerada evidente quando a razão (r) se aproximar de 1 (SILVA et al., 1993), mas em relação ao Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 Claudio de Oliveira Assumpção, Christiano Bertoldo Urtado, Thiago A. Intrieri Norberto Santos 15 índice de significância o ITB não obteve valores adequados aos padrões, tal resultado deve-se ao fato de o IMC ser considerado um teste não muito fidedigno, e o RCQ tratar-se de um índice de aferição em regiões diferentes daquelas utilizadas no ITB. Com base nestas informações esclarecemos algumas das relações deste índice com a prática constante de exercício físico, doença arterial obstrutiva periférica e outros índices já validados na literatura. A partir daí, é sugerida sua utilização como um índice complementar em avaliações físicas. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Devido às relações com outros índices referidos nesta e em outras pesquisas já citadas, por manter associação inversa significativa com a presença de fatores de risco cardiovascular e doença cardiovascular, por seu baixo custo (lembrando que este estudo foi realizado com esfigmomanômetro ao invés de Doppler vascular, com a intenção de baixar os custos, já que sua eficácia foi comprovada em outro estudo já citado), fácil aplicação e rapidez nas avaliações o ITB será de grande valia se integrado como forma de avaliação antes de qualquer iniciação ao trabalho físico, seja em academia, escola, grupos de treinamento etc. Sugere-se que essa prática seja repetida em futuras pesquisas para consolidar a utilização deste indicativo e a sua relação com o exercício físico. REFERÊNCIAS ARAÚJO, F.L.; GUIMARÃES, A.V. Isquemia dos membros inferiores, angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA, p. 1-5, 2003. 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As perguntas estão relacionadas ao tempo que você gasta fazendo atividade física na ÚLTIMA semana. As perguntas incluem as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Suas respostas são MUITO importantes. Por favor responda cada questão mesmo que considere que não seja ativo. Obrigado pela sua participação! Para responder as questões lembre que: atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o normal atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal. Para responder as perguntas pense somente nas atividades que você realiza por pelo menos 10 minutos contínuos de cada vez: 1a) Em quantos dias da última semana você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de um lugar para outro, por lazer, por prazer ou como forma de exercício? dias: _____ por SEMANA ( ) Nenhum 1b) Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no total você gastou caminhando por dia? horas: ______ minutos: _____ Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18 18 Índice tornozelo braço: sua relação com índices antropométricos e indicação como um componente de avaliações físicas 2a) Em quantos dias da última semana, você realizou atividades MODERADAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar, fazer ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do coração (POR FAVOR NÃO INCLUA CAMINHADA). dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum 2b) Nos dias em que você fez essas atividades moderadas por pelo menos 10 minutos contínuos, quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia? horas: ______ minutos: _____ 3a) Em quantos dias da última semana, você realizou atividades VIGOROSAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica, jogar futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em casa, no quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos elevados ou qualquer atividade que fez aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração. dias: _____ por SEMANA ( ) Nenhum 3b) Nos dias em que você fez essas atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia? horas: ______ minutos: _____ Christiano Bertoldo Urtado Possui Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003) e mestrado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (2006). Claudio de Oliveira Assumpção Possui graduação em Educação Física, especialização em Fisiologia do Esforço e mestrado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (1999, 2001 e 2006 respectivamente). Thiago A. Intrieri Norberto Santos Possui graduação em Educação Física e Especialização Lato-Sensu em Fisiologia Humana e do Exercício pelo Centro Universitário UNIMÓDULO/UNICSUL. Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 1, Ano 2009 • p. 7-18