AS COOPERATIVAS NO MUNICÍPIO DE GUARAPUAVA: A FACE DO
DESENVOLVIMENTO SOB UM NOVO CONTEXTO DO CAPITALISMO
A PARTIR DA ECONOMIA SOCIAL
RESUMO: O cooperativismo apresenta-se como uma alternativa eficiente aos
desafios impingidos à sociedade, podendo ser facilmente adaptado ao contexto e
aos novos paradigmas contemporâneos. O cooperativismo moderno, neste último
século, vem demonstrando sua capacidade em gerar empregos, redistribuir renda e,
abre precedentes para viabilizar alternativas socioeconômicas contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Os valores e princípios
preconizados pela doutrina cooperativista orientam a forma de organização das
atividades econômicas, dentro do humanismo, solidariedade, liberdade, igualdade e
racionalidade.
O objetivo principal da pesquisa é analisar a contribuição
socioeconômico das cooperativas do município de Guarapuava-Pr para o
desenvolvimento sustentável do município. Metodologicamente a pesquisa foi
realizada em duas frentes: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. À luz do
capitalismo global, as lideranças do cooperativismo abrem-se à discussão de como
estabelecer estratégias para o cooperativismo inserir-se no mercado sem distanciarse dos principais ideais que orientam o cooperativismo. Portanto, o cooperativismo
tem sua parcela de contribuição para o desenvolvimento regional sustentável. No
município de Guarapuava-Pr
estão estabelecidas aproximadamente 14
cooperativas em diversos ramos, sendo o ramo agropecuário com maior número de
cooperativas atuando, devido ao perfil do município. A gestão cooperada abre-se
para o compromisso social e coaduna em sua essência a responsabilidade social e
interação com o mercado sem perder de vista o interesse coletivo dos cooperados.
PALAVRAS-CHAVE: cooperativismo, desenvolvimento sustentável, renda, economia
social.
ABSTRACT: Cooperative association presents itself as an effective alternative to the
challenges imposed to the society, being easily adapted to the context and new
paradigms of modern life. Since the last century, the cooperative society has been
showing the capacity to generate jobs and redistribute income, setting precedents to
make socio-economic alternatives feasible and contributing to improve the worker’s
quality of life. The values and principles preconceived by the cooperative doctrine
guide the organization of the economic activities in: humanism, solidarity, freedom,
equality and rationality. The main objective of this research is to analyze the socioeconomic contributions of the cooperatives to the sustainable development of
Guarapuava-Pr. Focusing on global capitalism; the leaderships of the cooperatives
discuss how to establish strategies to insert the practice of cooperative association in
the market without digressing from the main ideas that lead cooperatives.
Methodologically the research was conducted on two fronts: a literature review and
field research. Therefore, cooperatives have made a valuable contribution to the
sustainable regional growth. Approximately, 14 cooperatives of different lines are
established in Guarapuava, being the farming and cattle raising line, in activity,
greater in number due to the city profile. The cooperative management is open to the
social commitment and combines in its essence the social responsibility and market
interaction without disregarding the associate’s collective interest.
KEY WORDS: cooperative association, sustainable development, income, social
economy
1
INTRODUÇÃO
A reflexão sobre o desenvolvimento econômico sustentável ampliou o debate
não apenas centrada no crescimento econômico, mas da sua relação com o
consumo da sociedade atual e das gerações futuras, a partir de considerações
sociais e ecológicas. Decorre daí a importância crescente de perpetuar outras
formas de organização do trabalho da sociedade, de acordo com Sachs (2007, p.
137), visando a “solidariedade sincrônica com os com os pobres do Terceiro Mundo
do Terceiro Mundo (...) no âmbito de nossas sociedades, e solidariedade diacrônica
com as gerações futuras”.
O cooperativismo surge em meio a Revolução Industrial com o propósito de
dirimir as mazelas sociais e principalmente, em meio a inexistência dos direitos dos
trabalhadores, apresentava-se como uma proposta de superação do modelo
capitalista vigente, sem, entretanto, partir para a luta armada (como sugeria Marx),
mas tornando trabalhadores explorados pelo sistema em autores e donos de sua
mais valia.
Segundo a OCB- Organização das cooperativas brasileiras (2009), no século
XVIII, em Manchester (Inglaterra), no bairro de Rochdale, 28 operários, sendo a
maioria tecelões, se reuniram para estabelecer normas e metas para organizarem
uma cooperativa, a qual respeitaria valores e princípios, diferentes das fábricas
organizadas pelo sistema capitalista, com a lógica apenas do lucro. Em 21 de
dezembro de 1844, após um ano de trabalho somaram o capital de 28 libras que
possibilitou abrir as portas de um modesto armazém cooperativo, conhecido como a
Sociedade
dos Probos de Rochdale. Nascia aí, os princípios e valores do
cooperativismo moderno. Em 1840, totalizavam 140 membros e doze anos após
chegou a 3.450 sócios, somando um capital de 152 mil libras.
Lima (2004) diz que os princípios de Rochdale foram ratificados, em 1895,
em Genebra, através da criação da Aliança Cooperativa Internacional, sendo os
princípios fundamentais e válidos até os dias recentes: a adesão voluntária e livre de
seus membros; a gestão democrática; a participação econômica dos membros na
criação e no controle do capital; a educação e a formação dos sócios; a
intercooperação no sistema cooperativista.
De acordo com o Programa Cooperjovem (2009), no Brasil o movimento
cooperativista inicia-se em 1847, com o médico francês Jean Maurice Faivre, que
fundou com um grupo de europeus, no Paraná, a colônia Cristina,entretanto teve
uma curta duração. Entretanto, a primeira cooperativa foi fundada em Limeira,
estado de São Paulo, em 1891. Nos primeiros anos do século XX, alguns imigrantes
alemães e italianos, no Rio Grande do Sul, fundaram cooperativas como forma de
amenizar os problemas que afetavam a produção e comercialização dos produtos
agrícolas. Segundo Pinho (2008), com exceção das cooperativas agrícolas, que
desde os primeiros anos de seu fortalecimento contaram com o apoio
governamental, apenas a partir de 1980 que outros ramos cooperativistas
fortaleceram-se, modernizaram-se e expandiram-se rapidamente..
Os dados apontam para a insuficiência de empregos formais para atender a
população economicamente ativa, no Brasil. A baixa renda per capita da população
e a problemática distribuição de renda do município de Guarapuava dificultam o
aumento de qualidade de vida da população. Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE ( 2000 apud IPARDES, 2009), Guarapuava
apresenta 11.104 famílias em situação de pobreza, sendo a população
economicamente ativa de 71.307, entretanto a população ocupada é de 60.112
pessoas. Assim como no mundo e no próprio Brasil, as cooperativas no município
têm-se apresentado como uma alternativa para a legalidade dos trabalhadores no
mercado de trabalho e servem de estratégia para inserir-se no mercado cada vez
mais competitivo e exigente, respeitando a dignidade humana. Além disso,
demonstram-se como uma organização que contribui para o desenvolvimento da
região, pois intrinsicamente à organização cooperativa possui uma filosofia na qual
atende às necessidades dos cooperados aliando estratégias de mercado e bem
estar social. Portanto, justifica-se analisar os impactos socioeconômicos das
cooperativas e sua contribuição para o desenvolvimento da região.
Por desenvolvimento econômico, a pesquisa toma como abordagem não só a
capacidade do município de crescer, mas de distribuir a renda, melhorando a sua
capacidade produtiva e tecnológica, assim, como propiciando melhor qualidade de
vida aos seus cidadãos e condições dessa população de desenvolver-se, através
das condições de educação, saúde e saneamento, assim como a infraestrutura para
os setores produtivos.
2
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com o objetivo de investigar a composição das cooperativas e seu impacto
socioeconômico no município de Guarapuava- PR, a pesquisa será abordada em
duas frentes: revisão teórica e pesquisa de campo.
A fundamentação teórico/conceitual será investigada a partir da revisão da
literatura, documentos e de dados secundários. Esta etapa será utilizada para
demonstrar a filosofia cooperativista e seu diferencial como resposta a
competitividade de mercado e como alternativa a um sistema excludente onde o
desemprego estrutural está presente.
Para a pesquisa de campo serão utilizados questionários, com a finalidade
de formar uma amostra composta por todas as cooperativas, para recolher
informações sobre os ramos de atividades que estão inseridas, processo produtivo
dessas empresas cooperadas e a interação com a sociedade, ambiente empresarial,
adoção de programas de capacitação e formação de seus cooperados e
empregados, geração de empregos formais, os motivos que foram preponderantes
para a criação das cooperativas, as vantagens de utilizar-se do trabalho
autogestionário, a inserção no mercado dessas cooperativas,etc.
Essas informações possibilitarão traçar o perfil das cooperativas existentes
em Guarapuava e estabelecer o nível de impacto socioeconômico no município,
desta forma correlacionando os reais efeitos no desenvolvimento regional e sua
importância para a sociedade.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Guarapuava-Pr em 2009 está elencado como a 10° economia
no Estado do Paraná, de acordo com seu PIB que correspondia a 1,4% na
participação do PIB do estado, entretanto, a situação socioeconômica do município e
agravada pela má distribuição de riqueza. A taxa de pobreza corresponde a 24,85%
da população, dados apurados pelo IBGE e IPARDES (2000),sendo 44.747
habitantes em situação de pobreza, e resultando em 11.104 famílias em situação de
pobreza. Segundo dados do IPARDES (2009), apresenta o IDH-M do município é
médio (0,773), índice que reflete não apenas dados econômicos mas a qualidade
também social e as possibilidades que este município oferece de desenvolvimento
para a sua população.
O município de Guarapuava vem apresentando baixa oferta de empregos, o
que ressalta a importância de desenvolver outros mecanismos de inserção da
população economicamente ativa no mercado de trabalho. De acordo com o
Ministério do Trabalho e Emprego – TEM (2010), o saldo de empregos vem caindo
desde 2007 (373 postos de emprego), em 2008 apresentou saldo de 691 postos de
emprego e em 2009, 533 postos de trabalho. Há que ressaltar o baixo saldo de
oferta de emprego no município reforçando a manutenção do bolsão de pobreza na
região centro-oeste do Paraná.
O Brasil, segundo Rech (2000), comparativamente com outros países, está
muito aquém em termos de participação cooperativista, pois, segundo dados da ACI
(Associação Internacional das Cooperativas) conta com 4,5 milhões de associados,
que não chega a 3% da população, enquanto que a França tem a 10 milhões de
cooperativados (equivalente à 25% da população), 50 milhões de cooperativados
nos Estados Unidos (22% da população), 70 milhões de cooperativados na Índia
(10% da população) e 6 milhões de cooperativados da Argentina (20% da
população). Portanto, há um longo caminho a ser percorrido pelo cooperativismo no
Brasil, e ainda as forma de organização cooperativista carece de divulgação e
conhecimento pela população.
O Quadro 1 apresenta as cooperativas de Guarapuava – Pr registradas na
OCEPAR. As cooperativas de Guarapuava são de vários ramos como: agropecuário,
transporte, serviço, educação (a única cooperativa de educação foi desativada),
produção, de crédito, consumo e saúde.
Quadro 1: Cooperativas de Guarapuava-Pr registradas na OCEPAR
Nome
Razão social
AGRARIA
COOPERATIVA AGRÁRIA AGROINDUSTRIAL
COOP. ESCOLA DOS ALUNOS DO COL. AGRIC.
EST. ARLINDO RIBEIRO LTDA
COOPERATIVA AGROPEC. MISTA DE
GUARAPUAVA LTDA
COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL ALIANÇA DE
CARNES NOBRES VALE DO JORDÃO
COOPERATIVA DOS TRANSP. AUTÔNOMOS DE
GUARAPUAVA LTDA
COOPERATIVA REGIONAL DE PRODUTORES DE
LEITE
COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL TERCEIRO
PLANALTO
CAEAR
COAMIG
COOPERALIANÇA
COTRAG
CRPL
SICREDI TERCEIRO PLANALTO
UNIMED GUARAPUAVA
UNIMED GUARAPUAVA COOPERATIVA DE
TRABALHO MÉDICO
Fonte: SISTEMA OCEPAR (2009).
Entretanto, além das cooperativas ainda encontram-se em Guarapuava,
Cooperativa de Crédito Rural de Guarapuava, UNICRED do Iguaçu, Coamo
(Cooperativa Agropecuária Mouraoense), Cooperativa de Crédito Rural Interação
Solidária de Turvo, SICREDI (Sistema de Crédito Cooperativo), CRESOL Base
Centro-Oeste e SICOOB (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil).
De acordo com a Cooperativa Agraria Agroindustrial (2009), dentre as
cooperativas destacadas, a Cooperativa Agroindustrial AGRARIA se destaca por ser
precursora em Guarapuava e no momento tem grande importância econômica e
social para o município. A cooperativa atualmente gera 1070 empregos formais e
tem 539 cooperados, possui 4 indústrias, com um faturamento anual de R$ 1,5
bilhão em 2008. Foi fundada em 5 de maio de 1951, sendo a mais antiga do
município, pelos suábios do Danúbio.
Como as sociedades cooperativistas amoldam-se as diretrizes capitalistas, e
seus pilares primam pela distribuição justa da renda entre seus empreendedores,
cada vez mais se está aconselhando para a expansão das cooperativas, e a tanto a
sociedade como as instituições governamentais compreendem consideram a sua
importância para o desenvolvimento econômico e social.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao desafio de superar a pobreza, melhorar a qualidade de vida da
população e ainda incorporar neste processo de desenvolvimento atividades
econômicas viáveis e sustentáveis respeitando o meio ambiente e valorizando o ser
humano, o cooperativismo apresenta-se como uma alternativa de organização de
trabalhadores em diferentes atividades econômicas, bem como, observa-se que a
doutrina cooperativista por adotar a educação e capacitação de seus cooperados,
apresenta-se como uma forma de organização que intrinsicamente favorece ações
dentro da sociedade de geração de renda, capacitação e educação, contribuindo
para o desenvolvimento regional e ainda, as cooperativas vem modernizando dentro
das necessidades não só das comunidades de melhorias econômicas, mas de
respeito às práticas ambientais.
Segundo Pinho (2008), o que dificulta a expansão do cooperativismo no
Brasil, além das carências elementares, sobretudo as deficiências de infraestrutura,
número irrisório de lideranças e desconhecimento da prática do cooperativismo.
Ainda, há um descompasso entre a vontade governamental e o que realmente é
colocado em prática. As forças do mercado global impingem uma competição
internacional acirrada e as empresas cooperativas obrigando-se a adequar-se às
regras mercadológicas e muitas vezes distanciam-se da filosofia da organização
cooperativista.
É necessário ressaltar que o ser humano é o princípio e o fim das ações
econômicas e da necessidade de uma agenda de ações de preservação ambiental.
Por isso, encontrar meios que viabilizem a dignidade humana, incluindo as pessoas
antes excluídas dos seus direitos primordiais e respeitando o direito das gerações
futuras deveria ser o foco das políticas públicas.
5
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a face do desenvolvimento sob um novo contexto do capitalismo