Revista de Bordo - Set/Out – Inflight Magazine - Sep/Oct
RECANTOS E ENCANTOS
DA GABELA
GABELA’S RETREATS AND CHARMS
A antiguidade da medicina tradicional
The antiquity of traditional medicine
Cinema dos tempos que já lá vão…
Cinema from way back when
Tordesilhas e Boi-de-Mamão
Tordesilhas and Boi-de-Mamão
nº
www.taag.com
call center 923 190 000
81
2010
linha directa
direct line
Estimado passageiro
Dear passenger
Bem-vindo a Bordo
Welcome aboard
É com o maior prazer que queremos partilhar consigo as acções
It is with great pleasure that we share with you the actions we
que temos vindo a desenvolver para que a sua viagem com a
have undertaken to make your trip with TAAG enjoyable, with
TAAG seja agradável, com qualidade e conforto.
quality and comfort.
A continuidade dos membros da ex-Comissão de Gestão na nova
The continuity of the former members of the Management
Administração permite continuar com o programa de reformas estru-
Committee in the new Administration allows us to continue
turais nos planos financeiro, operacional e de serviço ao cliente.
with the program of structural reforms in the finance, operatio-
Assim, registamos com agrado a melhoria crescente do nível de
nal and customer services areas.
pontualidade e um novo destino: Catoca. No âmbito da nossa
Thus, we note with satisfaction the increasing improvement in
modernização e inovação tecnológica, temos tido um retorno muito
punctuality and a new destination: Catoca. As part of our
favorável sobre a utilização do Call Center e Website. Almejamos
modernization and technological innovation, we have had very
consolidar a utilização do Web Check-in e introduzir o Self Check-
positive feedback on the use of the Call Center and the Website.
in e o Programa do Passageiro Frequente, brevemente.
We aim to consolidate the use of the Web Check-in and soon
A 27ª Edição da FILDA (2010) facilitou a aproximação entre a
introduce the Self Check-in and Frequent Flyer Program.
TAAG e os seus clientes e permitiu a auscultação de opiniões
The 27th FILDA’s edition (2010) facilitated the proximity bet-
importantes para a melhoria do serviço ao passageiro. A presta-
ween TAAG and its clients and allowed the hearing of important
ção da nossa companhia na FILDA foi agraciada com um prémio,
opinions to the improvement of the passenger’s service. Our
um reconhecimento que nos estimula a prosseguir na busca da
participation in FILDA granted us an award, a recognition that
excelência.
encourages us to continue the pursuit of excellence.
Estes êxitos adquirem uma dimensão especial nesta época em
These successes take on a special dimension since we’re cele-
que festejamos a criação da DTA, ocorrida a 8 de Setembro de
brating the establishment of the DTA, which occurred of
1938, data de suma importância para o desenvolvimento da
September 8th, 1938, date of great importance for the develop-
aviação civil em Angola. Antecessora da TAAG que herdou o seu
ment of civil aviation in Angola. TAAG's predecessor which
código (DT) e o número IATA (118), a companhia de bandeira tem
inherited its code (DT) and its ATA number (118), the flagship
procurado honrar e dignificar esta herança. Queremos que a um
company has sought to honor and dignify this legacy. In addition
passado de orgulho se articule um futuro brilhante.
to a pride past we want a bright future.
Muito obrigada pela sua fidelidade que desejamos duradoura e
Thank you for your loyalty, which we wish is lasting and have
tenha uma Boa Viagem na TAAG, A Sua Companhia de Sempre!
a nice flight with TAAG, Your Company, Always!
O Conselho de Administração
The Board of Directors
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mapa de bordo
inflight map
Propriedade
TAAG Linhas Aéreas de Angola
8 TORRE DE CONTROLO / CONTROL TOWER
TAAG premiada na FILDA 2010
TAAG awarded in FILDA 2010
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Editor Executivo
António Piçarra
33 CHECK-IN / CHECK IN
De olho na segurança
With an eye on safety
Coordenação
Maria de Sousa Martins
Colaboradores
Agnela Barros Wilper,
Alexandra Aparício, Américo Gonçalves,
Ana Maria de Oliveira, Antónia Onofre,
António Simões, Arnaldo Santos,
Aurora da Fonseca Ferreira, Brandão
Lucas, Cátia Oliveira, Dario de Melo,
Jaime Azulay, Januário Marra,
Jomo Fortunato, Maria da Conceição
Neto, Mário Rui Silva, Marta Lança,
Miguel Gomes, Óscar Guimarães,
Rosa Cruz e Silva, Rui Galhanas,
Ruy Duarte de Carvalho, Samuel Aço,
Salas Neto e Sérgio Piçarra
Colaboração Editorial
Ciao Escritório de Conteúdos
Fotografia
António Bernardo, Bruno Miguel
Bruno Renato, Carlos Lousada,
Emídio Canha, Sérgio Afonso
Produção Gráfica
Iona - Comunicação e Marketing, Lda
(Grupo Executive)
43
48 CONEXÃO INTERNACIONAL / INTERNATIONAL CONNEXION
Brasil. Estado de Santa Catarina
Tordesilhas e/and Boi-de-Mamão
Jo’burg versão 2010
Jo’burg 2010 version
58 UM FIM-DE-SEMANA EM... / A WEEKEND IN...
Modernidade e comodidade.
Complexo turístico Mingas Residencial
Modernity and comfort. “Mingas Residencial”
tourist complex
Impressão e Acabamento
Lisgráfica, SA
Queluz - Portugal
Tiragem
50.000 exemplares
Registo Nº
17/B/92
48
62 RAIO X / X-RAY
Sebastião Vemba. Prémio CNN/ Multichoice
de língua portuguesa. Um jornalista à procura
de histórias inéditas
Prize CNN / Multichoice of portuguese language.
A journalist looking for unpublished stories
Secretariado
Aida Chimene
Delegação em Lisboa
Rua Fialho de Almeida, 30 - 2º E
1070-129 Lisboa
Tel. (351) 213 813 566/7/8
Fax: (351) 213 813 569
[email protected]
O futuro é agora
The future is now
Encontros em grande
Great encounters
Publicidade
Cláudia Oliveira, Paulo Simões
Administração, Redacção
e Publicidade
Edicenter Publicações Lda.
Rua Comandante Gika, nº 49-51,
r/c esquerdo, Luanda, Cx. Postal 1348
Tel. (244) 222 329 217
Fax: (244) 222 329 461
[email protected]
43 CARTÃO POSTAL / POSTCARD
Uma senhora de respeito
A respectable lady
72 CLASSE EXECUTIVA / EXECUTIVE CLASS
Da frota Boeing 747 da TAAG. Luís Garnacho.
Um flight engineer de peso
TAAG’s Boieng 747 Fleet. Luís Garnacho.
A heavy weight flight engineer
72
80 VIAGENS NO TEMPO / JOURNEYS IN TIME
Cinema dos tempos que já lá vão...
Cinema from way back when...
90 À MESA / AT TABLE
Caravelas ao mar!
Caravels – Anchors away!
94 EMBARQUE DOMÉSTICO / NATIONAL BOARDING
Gabela. Quanto ela é bela... Gabela. How beautiful she is...
103 ROTA CULTURAL / THE CULTURAL ROUND
Dimensão política e cultural de Agostinho Neto.
Political and cultural dimension of Agostinho Neto
112 NOVOS VOOS / NEW FLIGHTS
Meirinho Mendes, um actor do excesso
Meirinho Mendes, actor extraordinary
122 LONGO CURSO / LONG HAUL
Medicina tradicional. A antiguidade da cura
Traditional medicine. An age-old cure
141 HORA DO DESCANSO / RELAX TIME
142 PORTA DE SAÍDA / EXIT DOOR
94
bem-vindo a bordo
welcome aboard
Hospitalidade TAAG
TAAG hospitality
O comandante e a tripulação têm o prazer de lhe dar
as boas-vindas a bordo deste avião da TAAG - Linhas
Aéreas de Angola. Agradecemos por escolher a TAAG
para a sua viagem. Nos voos da TAAG, os passageiros
são recebidos à boa maneira angolana, com simpatia e
cordialidade. E será desta mesma maneira que
vamos fazer tudo para tornar a sua viagem o mais
agradável possível.
The captain and crew are delighted to wecome you
aboard this TAAG – Angolan Airlines flight. Thank
you for choosing to fly with TAAG. All our passengers
will enjoy the very finest Angolan friendliness and
hospitality. The steward and crew are to make your
flight as comfortable and enjoyable as possible.
SEGURANÇA A BORDO
• Os tripulantes de cabina ajudá-lo-ão na acomodação da
bagagem de mão nos compartimentos próprios ou debaixo
da cadeira à sua frente.
• Antes da descolagem, o pessoal de cabina informará ou
demostrará a forma de utilização dos sistemas de emergência existentes a bordo.
• Durante as descolagens e aterragens coloque as costas
das sua cadeira na posição vertical.
• Mantenha o seu cinto de segurança apertado enquanto
estiver sentado e sempre que o sinal de ‘‘apertar cintos’’
estiver aceso.
ON-BOARD SECURITY
• Our crewmembers are available to help you stow your hand
luggage in the lockers above your head or under the seat in
front of you.
• Before takeoff our crewmembers will introduce you to the
safety measures aboard this aircraft.
• During takeoff and landing, please place your seat in upright
position.
• Please fasten your seatbelts whenever you are seated and
whenever the fasten “fasten seatbelt” sign is lit up.
PASSAGEIROS FUMADORES
SMOKERS
This is a “Clean Cabin Air” flight (Blue Flight). All TAAG
flights are non-smoking, in line with guidelines set out by the
World Health Organization (WHO) for a healthier non-smoking environment.
Este é um voo do tipo “Cabina ar puro” (voo azul). Todos os
voos da TAAG são livres de tabaco, no quadro da adesão à iniciativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) por um
mundo sem tabaco. Não é, pois, permitido fumar em qualquer área do avião.
ON-BOARD COMFORT
On long-haul flights, the following items will be made available
by TAAG to make your journey more comfortable:
pillows, blankets, toiletry kit, cots for babies weighing up to 16Kg
CONFORTO A BORDO
Para maior conforto e comodidade, nos voos de longa duração,
a TAAG coloca à disposição dos seus passageiros: almofadas,
cobertores, estojos de higiene individual, berço para bebés
até 16 kg.
ENTRETENIMENTO
A bordo dos aviões Boeing a TAAG dispõe de: canais de música, programa de cinema (projecção de filmes e documentários), auscultadores para audição dos canais de música e
som de filmes. E ainda para a leitura a TAAG oferece: jornais,
revistas e livros infantis.
Este exemplar da revista Austral é seu e pode ser levado consigo quando chegar ao seu destino.
IN FLIGHT ENTERTAINMENT
TAAG’s Boeings offers passengers:
Music channels
Movies (motion pictures and documentaries)
Earphones to listen to music and to movie soundtracks
(these will be handed out free of charge during the flight)
TAAG also offers its passengers a choice of reading:
Newspaper, magazines, children’s books
We highly recommend reading our in-flight magazine, Austral.
This is your copy to take away.
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frota
fleet
Boeing 777-200 ER
Velocidade Cruzeiro / Max. Cruising Speed 930 Km/h
Altitude Máxima / Max. Altitude 13.060 m
Raio de Acção/ Maximum Range 14.316 Km
Capacidade de Combustível / Fuel Capacity 171.190 L
Nº de Passageiros / Seating Capacity
14 (Primeira Classe / First Class)
50 (Classe Executiva / Executive Class)
190 (Classe Económica / Economic Class)
Boeing 747-300 Combi
Velocidade Cruzeiro / Max. Cruising Speed 983 Km/h
Altitude Máxima / Max. Altitude 13.030 m
Capacidade de Combustível / Fuel Capacity 180.710 L
Nº de Passageiros / Seating Capacity
16 (Primeira Classe / First Class)
54 (Classe Executiva / Executive Class)
200 (Classe Económica / Economic Class)
Boeing 737-700
Velocidade Cruzeiro / Max. Cruising Speed 900 Km/h
Altitude Máxima / Max. Altitude 12.424 m
Raio de Acção/ Maximum Range 6.035 Km
Capacidade de Combustível / Fuel Capacity 26.025 L
Nº de Passageiros / Seating Capacity
12 (Classe Executiva / Executive Class)
108 (Classe Económica / Economic Class)
Boeing 737-200
Velocidade Cruzeiro / Max. Cruising Speed 750 Km/h
Altitude Máxima / Max. Altitude 11.000 m
Raio de Acção/ Maximum Range 2.250 Km
Capacidade de Combustível / Fuel Capacity 19.000 L
Nº de Passageiros / Seating Capacity
12 (Classe Executiva / Executive Class)
116 (Classe Económica / Economic Class)
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Mapa de Rotas / Route Maps
Nacionais e Internacionais / Domestic and International
Londres
Bruxelas
Frankfurt
Pequim
Paris
Lisboa
Havana
Dubai
Sal
Praia
Douala
Bangui
São Tomé
Ponta Negra
Brazzaville
Kinshasa
Lusaka
Lubango
Soyo
Harare
Rio de Janeiro
São Paulo
Windhoek
Joanesburgo
Maputo
Cape Town
rota TAAG / TAAG route
Code Share
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informação aos passageiros
notice for travellers
VOCÊ PODE, POR DESCONHECIMENTO OU NEGLIGÊNCIA, E SEM SE APERCEBER,
TRANSPORTAR PRAGAS E DOENÇAS PASSÍVEIS DE INFECTAR AS CULTURAS, OS
ANIMAIS E AS PESSOAS DESTE PAÍS.
PLEASE NOTE THAT YOU MAY, THROUGH IGNORANCE OR NEGLIGENCE, BE TRANSPORTING
DISEASES THAT COULD INFECT THE ANIMALS AND PEOPLE OF THIS COUNTRY
O que precisa de saber?
O estimado passageiro poderá querer trazer para Angola alimentos de origem vegetal ou animal, animais e troféus de caça,
mas sabe que existem restrições ao que pode transportar?
O Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural
(MINADER), através dos seus serviços especializados, assegura a sanidade e salubridade dos produtos de origem vegetal e animal, salvaguardando assim a saúde das plantas e dos
animais e o bem-estar dos angolanos e de todos os que visitam o país. Cada um de nós pode ajudar nesta tarefa, observando as normas e restrições relativas ao transporte de alimentos e de outros produtos de origem vegetal e animal:
? As pequenas quantidades (1 a 5 kg) para consumo próprio ou oferta não precisam de autorização prévia. Porém, os viajantes devem estar informados sobre os riscos associados ao transporte e consumo de alimentos
que não tenham sido inspeccionados pelas autoridades
competentes dos países de origem;
? Frutas e vegetais provenientes de qualquer parte do
mundo são aceites, excepto das seguintes regiões:
Sudeste Asiático, América Central, América Latina e
outros países onde existam moscas da fruta (Ceratati
capitata);
? Não podem ser transportadas mais de 200 gramas de
sementes e 3 plantas ornamentais por passageiro. É
proibida a introdução de sementes de ervas e plantas
silvestres, insectos vivos e microorganismos;
? Grandes quantidades destes produtos requerem autorização prévia de importação. Para tal, são necessários os
seguintes documentos: licença prévia de importação,
Certificado Fitossanitário ou Sanitário de Origem e
Alvará Comercial;
? Animais ou aves selvagens de estimação só podem entrar
no país, acompanhados de certificado sanitário, CITES de
origem e de número de Microchip, a informar ao IDF;
? Deve permitir que os produtos sejam inspeccionados pelas autoridades competentes do país.
Porque razão estas recomendações?
Para evitar que, por desconhecimento ou negligência, o
transporte de ovos ou larvas de insectos, esporos de fungos,
bactérias e/ou doenças de animais e plantas possam causar
prejuízos económicos, financeiros e sociais a este país.
Algumas doenças dos animais, tais como a Febre Aftosa e a
Peste Suína Africana, não são transmissíveis ao homem mas
são doenças virais dos animais, altamente contagiosas, que
What do you need to know?
We understand that travellers coming to Angola may wish to
bring in food from plants or animals, live animals or hunting
trophies. But do you know that there are restrictions on what
you can bring in from abroad?
The specialist services of the Ministry of Agriculture and
Rural Development (MINADER) are responsible for the quality of food from plants or animals. They apply norms regarding sanitation and safety to ensure the health of plants and
animals for the well-being of the Angolan people and of our
visitors. We can all help by observing the norms and restrictions relating to the transport of food and other plant and animal-based products:
? No permit is required for small amounts of 1 to 5 kg. if
these are strictly for personal consumption or gifts. However, travellers must be aware of the risks associated
with carrying and consuming food which has not undergone checks by the authorities in the country of origin;
? Fruit and vegetables from any part of the world are accepted except from South East Asia, Central and Latin America, and other countries with fruit fly (Ceratati Capitata);
? A maximum of 200 gr. of seed and 3 ornamental plants per
passenger can be carried. Seed for grass and woodland
plants, live insects and micro-organisms are forbidden;
? Large quantities of these products require prior authorisation for import. For this the following documents are required: import licence, health certificate or proof of origin indicating plant free from disease, and a commercial licence.
? Animals or wild birds carried as pets can only be brought
into the country if they have a health certificate, CITES
from the country of origin and microchip number. The IDF
must be informed;
? All products must be available for inspection by accredited Angolan authorities.
Why do we make these recommendations?
We want to avoid you transporting, through ignorance or negligence, eggs, insect larvae, fungus spores, bacteria and/or
animal and plant diseases that could cause economic, financial and social damage to Angola.
Some animal diseases, such as FMD or African swine fever,
cannot be passed to humans but they are highly contagious in
the animal world and widespread infection can cause enormous financial and economic damage. There are also viral
diseases, such as rabies and avian flu, that are extremely
contagious and can be passed to humans.
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informação aos passageiros
notice for travellers
podem causar prejuízos financeiros e económicos muito
avultados em caso de infecção generalizada. Por seu lado,
doenças virais dos animais como a Raiva e a Gripe Aviária
são altamente contagiosas e transmissíveis ao homem.
Formas de Transmissão
Quase todas as pragas e doenças são transmitidas por produtos vegetais e animais infectados ou por roupas e sapatos
contaminados. Se vai entrar em Angola solicitamos que
informe o Inspector Fitossanitário, o Veterinário Inspector
ou o Oficial da Alfândega no local de desembarque, nos
seguintes casos:
? Se transportar na sua bagagem produtos de origem vegetal
para consumir em Angola, plantas ornamentais, sementes
e partes de plantas para propagação;
? Se vem de um país onde se identificaram animais infectados com as doenças já referidas (febre aftosa, peste suína
africana, raiva e gripe aviária) ou se traz consigo um animal de estimação, peles, couros ou troféus de caça;
? Se nas duas semanas anteriores à viagem visitou alguma
exploração com bovinos, ovinos, caprinos ou aves. Se for
o caso, deverá desinfectar os seus sapatos e roupas e
evitar visitas a locais com animais sensíveis, durante o
período de uma semana.
Outras recomendações
? Se esteve num país afectado pela gripe aviária e tiver
febres altas (mais de 38ºC), depressão, tosse, congestão
nasal, dor de garganta, dor de cabeça e muscular, deve
ir imediatamente a uma consulta médica. Caso tenha
estes sintomas durante o voo, informe, no momento, a
tripulação.
? Se traz consigo um cão ou outro animal de estimação
sem vacinação actualizada, deve contactar o veterinário
ou a clínica veterinária mais próxima.
? Solicita-se ainda que se cumpram estritamente os seguintes princípios: não dê restos de alimentos que tenha
trazido da sua viagem aos animais; guarde os restos de
alimentos em sacos plásticos e coloque-os em contentores ou outros recipientes de lixo fechados, previstos
para o efeito.
OBRIGADO PELA SUA COMPREENSÃO E COOPERAÇÃO
Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural
Direcção Nacional de Agricultura,
Pecuária e Florestas (DNAPF)
Cx. Postal 1257 – Luanda, Angola
Telefax: +244 222 321 429
E-mail: [email protected]
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Forms of transmission
Almost all these scourges can be transmitted through infected
plant and animal products, from clothes or from contaminated
shoes. If you are entering Angola, please inform the health
inspector, vet or customs officer in the following cases:
? If you are carrying with you products of plant origin for
consumption in Angola, ornamental plants, seeds or
other parts of plants for propagating;
? If you come from a country where animals infected with
diseases already mentioned have been identified (FMD,
African swine fever, rabies and avian flu) or if you are
bringing in pets, furs, leather or hunting trophies;
? If you have visited, within two weeks prior to your journey,
any operation with cattle, sheep, goats or poultry. If so,
you should disinfect your shoes and clothes and avoid
visits within a week to places where there are animals
that could be at risk.
Other recommendations
? You should consult a doctor immediately if you have been
in a country affected by avian flu if you are running a temperature (above 38ºC), or you are affected by depression,
coughing, nasal congestion, sore throat, head ache or
muscular pains. If these symptons start during your
flight, you should inform the cabin crew immediately.
? If you are bringing a dog or other pet without up-to-date
vaccination, you should contact a vet or the nearest veterinary clinic.
? We would also ask that you comply strictly with the following principles: if you have left-over food from your journey, do not feed the animals with it. Keep it in plastic
bags and put it in containers or other purpose-made closed rubbish bins.
THANK YOU FOR YOUR UNDERSTANDING AND COOPERATION
Ministry of Agriculture and Rural Development
National Directorate of Agriculture,
Livestock and Forestry (DNAPF)
C. Postal 1257 – Luanda, Angola
Telefax: (+244) 222 321 429
E-mail: [email protected]
alfândegas
customs
Bagagem acompanhada
Accompanied Luggage
Passageiros e tripulantes
Passengers and crew
Canal verde / Canal Vermelho
Green channel / Red channel
É competência das Alfândegas efectuar o controlo da entrada e saída de mercadorias no país, inclusive a bagagem de
passageiros e tripulantes, dispondo para o efeito de um sistema de duplo canal de declaração e revisão de bagagem
acompanhada identificado pelas cores verde e vermelha.
It is the responsibility of Customs to control goods entering
and exiting Angola, including luggage carried by travellers
(passengers and crew). For this reason there is a double
channel system for clearing and checking passengers’ luggage. They are designated as Red and Green Channels.
Canal vermelho: Mercadorias a Declarar
Sempre que os viajantes forem portadores de bagagem
acompanhada, cujo conteúdo possua carácter comercial e
por isso sujeita ao pagamento de direitos e demais imposições aduaneiras, devem declará-las em consciência ao funcionário aduaneiro de serviço e passar pelo canal vermelho.
Em caso de dúvida na identificação de mercadoria comercial
ou não comercial dirija-se sempre ao canal vermelho. Sendo
que declarações incorrectas são passíveis de sanções previstas no art. 12º do Decreto Excutivo nº 27/02 de 5 de Julho.
Red channel: Goods to Declare:
Travellers carrying luggage with goods subject to payment of
duties and other custom tariffs must voluntarily and consciously declare them to the customs officer on duty or simply go
through the red channel.
In case of any query, go through the red channel. Inaccurate or
false declarations are liable to penalties stipulated under art. 12
of Executive decree no. 27/02 of July 5.
Canal verde: Nada a Declarar
Sempre que os viajantes não tiverem nada a declarar, devem
optar pelo canal verde.
Os artigos que se seguem constituem parte da bagagem
acompanhada e não precisam ser declarados, pois são
livres de direitos e demais imposições aduaneiras:
• Até 400 cigarros, ou tabaco fabricado, 500 charutos ou
cigarrilhas até 500 gramas;
• Até 1 litro de bebidas espirituosas com 40% de volume;
• 2 litros de vinho fortificados, espumante ou de mesa;
• Até 250 ml de água de toillette ou de loção para depois de
barbear ou produtos similares;
• Até 50 ml de perfume;
• Objectos de uso pessoal: vestuário, calçado, bijutarias (novos
ou usados), bem como presentes ou lembranças adquiridos
cujo valor não seja superior ou equivalente a USD 1000,00
• A menores de 18 anos de idade não é permitida a importação de cigarros, produtos derivados do tabaco e bebidas
alcoólicas.
São também considerados bens de uso pessoal, porém já
usados e, em apenas uma unidade de cada espécie, os seguintes objectos:
• Câmara fotagráfica ou de filmar portátil;
• Mini televisor portátil;
• Mini aparelho de som portátil;
Green channel: Nothing to Declare:
Travellers who do not have anything to declare should walk
through the green channel.
The following articles are seen as passenger luggage that does
not need to be declared. These items are exempted from duties
and other custom tariffs:
• Up to 400 cigarettes or manufactured tobacco, 500 cigars or
up to 500 grams of cigarillos;
• Up to 1 litre of liquor, 40% proof
• 2 litres of fortified, sparkling or table wine
• Up to 250 mls of eau de toilette, aftershave or similar products
• Up to 50 mls of perfume
• Personal effects: clothing, trousers, jewels (new or used) as
well as presents or souvenirs, purchased for less than or
equivalent to USD 1,000
• Travellers under 18 years of age are not permitted to import
cigarettes, tobacco products or alcoholic drinks.
The following articles are also considered to be items for personal use. Only one of each item is authorized:
• Photo camera or portable video camera
• Mini portable TV sets
• Mini portable hi-fi system
• Cellular or mobile phone
• Laptop
• Calculator
• Pushchair
• Wheelchair
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alfândegas
customs
• Celular ou móvel;
• Computador portátil (laptop);
• Calculadora;
• Carrinho de bebé;
• Cadeira de rodas.
Artigos como televisores, aparelhos de video ou DVD, sistemas de som, computadores, fornos, fogões, micro-ondas,
arcas, frigoríficos, ou qualquer outro artigo fora do previsto
no nº 2 acima, não estão classificados como objectos de uso
pessoal mas como electrodomésticos ou mobiliário sujeitos
ao pagamento de direitos e demais imposições aduaneiras.
Tome nota:
• A revisão de bagagem é regulada pelo Decreto-Lei nº 2/05, de
28 de Fevereiro - Pauta Aduaneira de Importação e Exportação
de Angola e o Decreto Executivo nº27/02, de 5 de Julho.
• Todas as mercadorias importadas para fins comerciais,
independentemente do seu valor estão sujeitas ao pagamento de direitos e demais imposições aduaneiras conforme a legislação angolana.
• Os montantes cobrados pelas companhias aéreas aos passageiros referentes ao excesso de peso da bagagem permitida não têm nenhuma relação nem dependência com o
desembaraço aduaneiro e os impostos a pagar ao Estado.
• Embora o despacho aduaneiro de mercadorias com valor
inferior a USD 1000,00 possa ser efectuado pelo importador, a mercadoria cujo valor seja igual ou superior a USD
1000,00 deve ser desalfândegada através de um
Representante do declarante (Despachante) ou outro
agente autorizado pelas Alfândegas.
• Em caso de necessidade de esclarecimentos adicionais,
dirija-se ao funcionário em serviço, na Direcção Nacional
das Alfândegas, Gabinete do Director Nacional (GDN), na
Delegação Aduaneira do Piquete do Aeroporto ou nos
piquetes aduaneiros em funcionamento nos aeroportos
com trâfego internacional.
Nota: O Pagamento dos direitos e demais imposições aduaneiras deverão ser efectuados em moeda nacional, conforme
as taxas de referência do Banco Nacional de Angola.
Artigo 12º (Decreto Executivo nº27/02 de 5 de Julho)
1. Para os viajantes não residentes no território nacional,
para além do vestuário, artigos de toillete e os definidos no
Articles such as TV sets, VCDs or DVDs, hi-fi systems, computers, ovens, gas cookers, microwaves, freezers, refrigerators or any other item not included in point 2 above are not
classified as items for personal use but as electrical appliances or furniture, subject to payment of duties and other
customs tariffs.
Note:
• The checking of luggage is governed by Decree Law 2/05,
dated 28 February - Angolan Customs Tariff Code and by
Executive Decree 27/02, dated 5 July.
• Any goods imported for commercial purposes, irrespective of their value, are subject to payment of duties and
other custom tariffs in accordance with Angolan legislation.
• Charges on excess luggage levied by air companies on passengers is in no way related to or dependant on customs
clearance and taxes payable to the state.
• Clearance of goods under USD 1,000 can be carried out by
the importer. However, goods above or equivalent to USD
1,000 must be cleared by a customs broker or any agent
authorized by customs.
• For further information, please contact the customs officer
on duty, in the DNA (National Directorate of Customs) or at
the customs post at the airport or customs points in airports with international traffic.
Note: Payment of duties and other custom tariffs must be
made in Angolan currency in accordance with the reference
rates of the National Bank of Angola.
Article 12 (Executive decree no. 27/02 of July 5th)
1. Regarding travellers who do not reside in Angola, apart
from clothing, toilet requisites and other belongings defined in article 9, the items below are specifically considered as personal effects:
(a) Used portable camera for photos or video with a reasonable quantity of films, tapes, and other accessories to be
used with it;
(b) Used portable sound recorder system including tape
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artigo 9º, são-lhes particularmente considerados bens de
uso pessoal os seguintes:
(a) Câmara de filmar e máquina fotocopiadora acompanhadas de uma quantidade razoável de películas, cassetes
e outros acessórios específicos ao seu uso, usados;
(b) Aparelho de reprodução de som portátil, incluindo gravador de cassete, discos compactos (CDs) e máquina
didáctica com fitas, gravador e discos, usados;
(c) Rádio receptor portátil, usado;
(d) Celular ou telefone móvel, usado;
(e) Máquina de escrever portátil, usada;
(f) Computador portátil e acessórios para seu uso, usado;
(g) Calculadora, usada;
(h) Carrinho de bebé, usado;
(i) Cadeira de rodas para inválidos, usada.
2. Na sua entrada em território nacional com bens de uso
pessoal referidas nas alíneas a) a i), do número anterior
devem os viajantes não residentes declará-los em formulário próprio junto da estância aduaneira de entrada, conservando o duplicado do documento resultante desse procedimento aduaneiro em seu poder.
3. No acto da saída do território nacional os viajantes não residentes deverão fazer-se acompanhar do duplicado do formulário da declaração referida no nº1 que permite ao passageiro sair do território nacional com os bens nele declarados.
REGIME ADUANEIRO E PORTUÁRIO ESPECIAL
PARA A PROVÍNCIA DE CABINDA
Abrange as mercadorias importadas para a Província de Cabinda sob o Regime Aduaneiro e Portuário Especial, consumidas e usadas apenas na Província de Cabinda (Decreto Lei
4/04 de 21 de Setembro e Decreto Lei 6/06 de 20 de
Dezembro).
No caso das mercadorias com carácter comercial, importadas sob o Regime Aduaneiro Portuário Especial para
Cabinda, saírem desta Província, os seus proprietários
devem declará-las junto das Alfândegas de Cabinda, antes
de fazer o check-in no Aeroporto ou de transportá-las por
qualquer outro meio.
Para fins desta declaração, é necessário apresentar os documentos que comprovem a importação das mercadorias, nomeadamente, a cópia do (s) DU (s) franqueado (s) pelas Alfândegas no momento da sua importação sob o Regime
Aduaneiro Especial de Cabinda; a cópia da(s) Nota de Desalfandegamento e o(s) original (ais) do(s) DAR (s), respectivamente, a fim de efectuar o pagamento dos encargos aduaneiros adicionais correspondentes ao Regime Aduaneiro Geral.
Recomenda-se aos proprietários das mercadorias conservar
os documentos que comprovem o pagamento dos encargos
aduaneiros adicionais. Recomenda-se ainda aos passageiros
apresentarem-se no Aeroporto de Cabinda atempadamente
antes do check-in, para poderem cumprir com este trâmite e
evitar constrangimentos e demoras desnecessárias.
As falsas declarações são passíveis de multas e penalizações de conformidade com as disposições da lei.
recorders, CDs or and any educational equipment with
tapes, tape-recorder and records;
c) Used portable radio;
d) Used mobile phone;
e) Used portable typewriter;
f) Used laptop and accessories to go with it;
g) Used calculator;
h) Used baby’s pram;
i) Used wheelchair for an invalid.
2. When entering Angola with personal effects mentioned in
points a) to i) of the previous paragraph, non residents should
declare them on a proper form at the customs post on entry
and should keep the duplicate of the form.
3. When leaving Angola, non residents should present the
duplicate of the declaration form mentioned above, which
allows the traveller to leave the country with the items declared on the form.
SPECIAL CUSTOMS AND PORT PROCEDURES
FOR CABINDA PROVINCE
Goods imported into the Province of Cabinda under the Special
Customs and Port Procedures are to be consumed and used
only in the Province of Cabinda (Decree Law 4/04 of 21
September and Decree Law 6/06 of 20 December).
Any goods of commercial value which were imported under the
Special Customs and Port Procedures of the Province of
Cabinda and are being taken out of the Province must be
declared at Customs by their owners before checking in at the
airport or before they are transported by other means.
For the purposes of this declaration, it is necessary to present
documents confirming the importation of the goods, which
means a copy of the DU stamped by Customs at the time of
import under the Special Customs and Port Procedures for
Cabinda, a copy of the Notice of clearance and the original copies
of the DAR (Document confirming Collection of Revenue). This
will serve as the basis for the payment of additional customs
charges as per the General Customs Procedures.
It is recommended that the owners of the goods keep the documents proving payment of additional customs charges. It is
also recommended that passengers turn up in good time for
checking in at Cabinda airport so as to carry out these procedures and avoid unnecessary constraints and delays.
False declarations are liable to penalties in accordance with
legislation in force.
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De olho na segurança
With an eye on safety
Prepare-se para as novas regras
adoptadas nos aeroportos de todo o mundo
Get ready for the new rules in force in all
the world’s airports.
Desde os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, em
Nova Iorque, o procedimento de segurança a que os passageiros são submetidos antes do embarque nos aeroportos de
todo o mundo é cada vez mais minucioso. Em Agosto de
2006, uma nova tentativa (frustrada) de ataque utilizando
aviões – desta vez com explosivos líquidos e em Inglaterra –
tornou as medidas ainda mais severas. Imediatamente a
Transportation Security Administration, órgão que controla a
segurança aérea nos Estados Unidos, decretou uma série de
novas regras seguidas por inúmeros aeroportos. Embora
elas possam variar de país para país, há uma série de procedimentos recomendados para viagens por todo o planeta.
Antes de fazer as malas e preparar-se para o embarque, é
prudente conhecer quais são eles e como evitar dores de
cabeça antes da viagem:
É proibido levar grandes quantidades de líquido na bagagem
de mão. Cada produto (inclusive gel, espuma de barbear,
pasta de dente e sprays) deve estar acondicionado em recipientes com menos de 100 ml cada, que deverão ser colocados numa pequena bolsa de plástico transparente (de 20 X 20
All over the world since the terrorist attacks in New York on
11 September 2001, there has been an ever more detailed
scrutiny of passengers before embarkation. In August 2006
there was another attempt (this one frustrated), again using
planes, this time with liquid explosives and in England.
Measures became even more stringent. The Transportation
Security Administration, which controls air safety in the
United States, immediately set out a new series of rules
governing security. These are being followed by a great many
airports. Procedures may vary from country to country but
there are a number of precautions recommended for all
passengers in whatever part of the globe they happen to be.
Before you pack your bags and get ready for flying, it is a good
idea to get to know the rules and avoid headaches before your
flight leaves.
Large quantities of liquid in hand baggage are not allowed. Every product (including gel, shaving cream, toothpaste and sprays) must be in recipients of less than100 ml
each, and should be placed in a small transparent plastic
bag (20 cm x 20 cm) with a hermetic seal. It should be given
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cm) com fecho hermético, e que deve ser apresentada separadamente no raio-X. O limite máximo é de um litro e uma
bolsa plástica por passageiro. Maiores quantidades de líquido
continuam permitidas nas bagagens de porão.
Medicamentos, comida de bebé e leite materno não têm
restrição de quantidade, mas é preciso apresentá-los às
autoridades aeroportuárias e justificar a necessidade do
uso de tal quantidade durante o voo.
Líquidos adquiridos em lojas, cafés e restaurantes localizados após os aparelhos de raio-X são permitidos a
bordo. É recomendável não abrir as embalagens antes de
entrar nos aviões.
Passageiros com necessidades especiais devem comunicálas às autoridades. É o caso, por exemplo, de diabéticos que
precisam de viajar com seringas e dispositivos de insulina.
Embora não seja obrigatório, é aconselhável calçar sapatos e vestir casacos que possam ser retirados facilmente.
Muitos aeroportos pedem aos passageiros para tirá-los
para verificação no raio-X e, quanto mais demorado o processo, maior fica a fila e o seu mau humor – e também o
dos demais passageiros.
Portáteis e aparelhos electrónicos em geral serão analisados fora de suas bagagens e deverão estar prontos para
isso no tapete do raio-X.
Por todos os motivos acima mencionados, recomenda-se chegar aos aeroportos pelo menos duas horas antes da partida.
ANTES DA PARTIDA:
• Durma bem antes da partida. Se viajar para países com diferença horária superior a cinco horas, altere uns dias antes os
in for X-ray separately. The maximum limit is one litre and
one bag per passenger. Larger quantities of liquid are allowed for baggage stowed in the hold.
There are no restrictions on medicine, baby food and mother’s milk, but items must be presented to airport authorities and the quantities needed for the flight must be justified.
Liquids acquired in shops, cafés and restaurants after the
X-ray procedure are allowed. You are recommended not to
open packages before entering the plane.
Passengers with special needs must inform the authorities. This covers, for example, passengers with diabetes
who are travelling with syringes and insulin.
It is better to wear shoes and coats that can be taken off
easily, though this is not compulsory. Many airports ask
passengers to take off shoes and coats for X-ray, and the
longer this takes, the longer – and more irritable – you and
the queue can become.
Laptop computers and electronic equipment are normally
screened separately and should be ready for this when
placed on the X-ray carpet.
• Given all the procedures mentioned above, arrival at the
airport at least 2 hours before departure is recommended.
•
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•
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BEFORE DEPARTURE
• Sleep well before you leave. If you're travelling to countries
with more than 5 hours time difference, change your own
timetable to get close to the time where you're going.
• Eat light meals and avoid alcohol and gassy drinks.
• Take with you in your hand luggage any medicine you need
regularly and take as prescribed by your doctor.
• You should wear comfortable clothes made of natural fibres,
long enough to cover your arms and legs. Shoes should be
made of leather, comfortable and without high heels.
• If you go diving frequently, you should only travel 12 to 48
hours after your last dive to avoid risk of sickness brought
on by decompression.
• If you have breathing or heart problems, or if you've had
abdominal surgery or recent blood loss, you should check
with your doctor before flying.
• There are procedures and special facilities for passengers
with motor deficiency problems or special needs.
• If you are ill and being flown somewhere, the secondary
effects you experience will depend on the pathology, the aircraft, the medical equipment available and the specialist
who is with you on the flight.
• Many people suffer anxiety attacks when there is no alternative
transport available, so keep them calm using specialist help.
ON DEPARTURE
• When you are in the plane, look carefully at the safety instructions
provided by the cabin crew and on leaflets that are available.
• Make sure your luggage does not hinder circulation and
make your own movements difficult.
• Keep your seat belt on while seated, as there may be unexpected turbulence. - During the flight, the atmospheric con-
seus horários para aproximar-se do horário do país de destino.
• Coma refeições leves e evite o consumo de bebidas alcoólicas
ou gaseificadas.
• Leve na bagagem de mão os seus medicamentos habituais e
tome-os conforme a indicação do médico.
• Recomenda-se a utilização de roupa confortável em fibras
naturais que tape os braços e as pernas. Os sapatos devem ser
de couro, confortáveis e sem salto.
• Os praticantes de mergulho devem viajar cerca de 12 a 48
horas após o ultimo mergulho, devido ao risco de doença de
descompressão.
• Os passageiros com problemas respiratórios ou cardíacos não
compensados, bem como aqueles com cirurgias abdominais ou
hemorragias recentes devem obter autorização médica para viajar.
• Existem procedimentos e facilidades específicas direccionados
para o serviço dos passageiros com limitações motoras ou
necessidades especiais.
• As contra-indicações médicas absolutas para o transporte de
doentes dependem do tipo de patologia, de avião, equipamento médico e técnico de saúde acompanhante.
• Muitas pessoas sentem ansiedade quando não podem usar um
meio de transporte alternativo, por isso é importante tranquilizá-las através de ajuda especializada.
PARTIDA:
• Dentro do avião preste atenção às instruções de segurança
facultadas pela tripulação e pelos folhetos disponíveis.
• Acomode bem a bagagem de mão de forma a não impedir a
circulação e a não limitar os seus movimentos.
• Mantenha o cinto apertado sempre que estiver sentado porque
pode surgir turbulência inesperadamente.
• Durante o voo, o ambiente é diferente daquele a que somos
submetidos na superfície terrestre, dado que com a altitude
surge a descida de pressão atmosférica. No interior da cabine
dos aviões comerciais a pressão é correspondente a 2000
metros de altitude, a qual o organismo saudável se adapta.
NO DESTINO:
• É comum surgirem perturbações fisiológicas quando se atravessa vários fusos horários, tais como alterações de sono, problemas digestivos, dificuldade de concentração e cansaço.
• Adapte-se de imediato ao ritmo do país de destino, fazendo
refeições e períodos de sono de acordo com a hora local.
Exponha-se ao sol a faça exercícios físicos.
• Se a estadia for curta, mantenha os ritmos do país de origem.
PREPARAR A DESCIDA:
• Durante a descida, pode sentir desconforto ou tensão nos ouvidos devido à variação da pressão, que pode causar otite.
• Evite esta situação através da aplicação de gotas descongestionantes nasais, 15 minutos antes da descida. Faça movimentos
de mastigação amplos ou masque uma pastilha.
• Se tiver crianças de colo coloque-lhes uma chupeta ou dê-lhes
o biberão.
• Não deve aterrar adormecido.
ditions are different from what you are used to on land. This
is because atmospheric pressure drops as you climb. Cabin
pressure in commercial aircraft corresponds to the pressure at 2000 metres, and a healthy organism adapts easily.
ON ARRIVAL
• If you travel across various time zones, don't be surprised if your
system plays up. Common problems involve sleep patterns, your
digestive system, difficulties with concentration and tiredness.
• Get adapted to the new country's rhythm as soon as possible: have meals and get to sleep in accordance with local
time. Get some sunshine and do some physical exee rcise.
• If you're on a short trip, keep to your normal behaviour.
GETTING READY TO LAND
• As you come into land, you may feel some discomfort or problems in your ears. The change in pressure can cause ear pains.
• You can avoid this by taking nasal drops 15 minutes before going
in to land. Move your jaw as much as possible or suck a sweet.
• If you have young children with you, give them a lollypop or
a dummy to suck.
• You shouldn't be asleep as the plane lands.
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BEBÉ A BORDO!
BABY ON BOARD!
Os 10 mandamentos para quem vai embarcar com crianças
The 10 commandments for people embarking with children
Preparar a mala, ir para o aeroporto, ver o mundo ficar
pequenino através da janelinha, sonhar com um novo destino. Se para um adulto viajar de avião já é sair da rotina, para uma criança é um outro universo que se
apresenta – e cheio de curiosidades. Nesta
hora, é comum que ela revele sinais de ansiedade, insónia, hiperactividade e até mesmo
medo. Afinal, trata-se de algo bastante invulgar no seu pequeno mundo. Para que a viagem seja agradável, é fundamental preparála aos pormenores e proporcionar todo o
conforto para acalmar os miúdos. Só assim é
possível contrariar o dito popular: ser pai não
é, necessariamente, padecer no paraíso...
Basta seguir à risca os dez conselhos proferidos por psicólogos, pediatras e especialistas em viagens consultados pela
nossa equipa:
1) Cuidarás da saúde com antecedência
É prudente agendar uma consulta com o
pediatra para avaliar como anda, em
linhas gerais, a saúde da criança. E aconselhar-se com o profissional sobre os medicamentos que devem ser levados na mala. Para
além dos remédios de rotina, é aconselhável ter em mãos um
kit com analgésicos, antitérmicos, pensos, desinfectantes... E
também protector solar e repelente de insectos.
2) Organizarás todos os documentos
O documento de identificação pessoal nem sempre é o único
exigido a uma criança. Ela também precisa dos vistos, das
vacinas e dos passaportes a cumprir os prazos de validade
exigidos pelo país de destino. Caso um dos pais não viaje,
pode ser preciso apresentar uma autorização judicial especial emitida com antecedência.
3) Reservarás voos nocturnos
Sempre que possível, é a melhor alternativa para os percursos de longa duração, pois a criança estará cansada e tenderá a dormir. Caso contrário, será mais difícil ocupar-lhe todo
o tempo e mantê-la no assento durante todo o voo.
4) Lembrarás dos acessórios de apoio
Se a criança for um bebé de até 16 quilos de peso, não se
esqueça de pedir um berço na altura da reserva. O voo será
mais confortável não apenas para os pais, que não precisarão ter os filhos nos braços todo o tempo, mas principalmente para o bebé, que poderá dormir tranquilamente. Dê prefe-
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Prepare the bag, go to the airport, see the world getting tiny
through the little window, dream about a new destination. Travelling by airplane is already getting out
of the routine for an adult, for a child is complete
different universe – and full of curious things.
At this point, it is common that the child
reveals signs of anxiety, insomnia,
hyperactivity and even fear. After all,
this is something quite unusual in her
little world. In order for the journey to
be pleasant it is essential to prepare
all the details and provide all the
comfort needed to calm the children.
Only like this it is possible to contradict the popular saying: being a parent is not quite being in heaven…
Just follow the ten tips delivered by
psychologists, pediatricians and
travel experts, consulted by our
team:
1) You shall take care of your
health in advance
It is prudent to schedule an
appointment with the pediatrician to evaluate how good the
child's health is. Ask the doctor about which medicines
should be taken in the suitcase. In addition to the usual medicines, it is advisable to have at hand a kit with painkillers,
pain relievers, bandages, disinfectants ... And also, sunscreen
and insect repellent.
2) You shall organize all documents
The personal identity document is not always the single document required for a child. The child will also need visas, vaccines and passports respecting the terms of validity required
by the destination country. If one of the parents does not travel, you may need to present a special judicial authorization,
issued in advance.
3) You shall make reservation on night flights
Whenever possible, this is the best alternative for long term
flights, because the child will be tired and tend to sleep.
Otherwise, it will be difficult to entertainer her all the time
and keep her in her seat throughout the entire flight.
4) You shall remember all the support accessories
If the child is an infant up to 16 kg, do not forget to ask for a
cradle when booking. The flight will be more comfortable not
only for the parents who won’t need to hold the children in
their arms all the time, but especially for the baby, who will
rência ao carrinho dobrável, que pode ser levado até à entrada da aeronave e transportado com facilidade.
be able to sleep peacefully. Choose a folding cart that can be
taken until the entry of the aircraft and easily transported.
5) Prepararás a mala de mão ao pormenor
Como a temperatura dentro do avião costuma ficar em torno
dos 20ºC por um longo tempo, pode fazer frio. Leve um agasalho e uma meia grossa mesmo durante o verão, para o
caso disso acontecer. Também é prudente ter uma roupa
extra para o caso de pequenas emergências. Mas lembre-se:
o peso não deve exceder os 5 quilos.
5) You shall prepare the handbag in detail
The temperature inside the plane is usually around 20 º C, it
can be cold. Bring a sweater and thick socks even during the
summer, in case this happens. It is also prudent to have extra
clothing in case of minor emergencies. But remember: the
weight must not exceed 5 kg.
6) Levarás os brinquedos
de eleição
Os psicólogos infantis recomendam que se tenha à mão os
objectos que são referências familiares para a criança, algo
que não as faça sentir a ruptura com o dia-a-dia. Os brinquedos e livros favoritos são a melhor alternativa, pois ajudarão a
entretê-la enquanto ela não quiser dormir.
7) Escolherás a roupa ideal
Ela deve ser larga, confortável e quentinha. Os
sapatos também devem ser largos, pois os
pés podem inchar durante o voo.
8) Manterás os miúdos hidratados
A humidade na cabine da aeronave pode
ser de apenas 10%, o que pode provocar
irritação nos olhos e ressecamento na
pele e nas mucosas. Cuide para que as
crianças bebam água com frequência e
tenha sempre por perto um protector
labial, um colírio e um creme hidratante,
caso eles se façam necessários. Mas lembre-se: não é possível embarcar com recipientes acima dos 100 ml.
6) You shall take the favorite toys
Child psychologists recommend that you have at hand the
objects that are familiar references to the child, something
that does not make them feel the break from the day-to-day
life. Toys and books are the best alternative because they will
help them entertain the child if she doesn’t want to sleep.
7) You shall choose the right clothes
It must be large, comfortable and warm. The shoes should also
be large, because the feet may swell during the flight.
8) You shall keep the children
hydrated
The humidity in the cabin of
the aircraft may only be of
10%, which may cause eye
irritation and dry skin. Ensure
that children drink water frequently and always have
around a lip protector, eyewash and a moisturizer,
should they be needed. But
remember: you can’t take
containers up to 100 ml.
9) Evitarás bebidas gasosas
Como a pressão atmosférica dentro do avião é
mais baixa, os gases costumam expandir-se dentro do
corpo. Desta maneira, os refrigerantes podem provocar cólicas e desconfortos nos voos prolongados.
9) You shall avoid sparkling
drinks
As the air pressure inside
the plane is lower, the gases tend to
expand within the body. Thus, the drinks can
cause cramps and discomfort in prolonged flights.
10) Aliviarás os efeitos da variação da pressão na altura
da aterragem
Eis o motivo pelo qual muitos bebés choram na altura da aterragem: a descida do avião provoca um aumento da pressão e
os ouvidos são os primeiros a sofrer. Dê-lhes a chupeta ou o
biberão – o acto de engolir ajuda a aliviar a dor. Para as crianças mais velhas, um rebuçado desempenha o mesmo papel.
10) You shall alleviate the effects of pressure variation at
the time of landing
Here’s why most babies cry at the time of landing: the
descent of the aircraft increases the pressure and ears are
the first to suffer. Give them a pacifier or bottle - the act of
swallowing helps ease the pain. For older kids, a sweet does
the same.
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AEROPORTOS DO MUNDO
THE WORLD’S AIRPORTS
Curiosidades sobre as obras mais
emblemáticas do planeta
Facts about the planet’s most emblematic
works
NOVA JÓIA ANDALUZA
ANDALUSIA’S NEW GEM
Às margens do Mediterrâneo na Costa del Sol, o aeroporto de
Málaga, em Espanha, cidade onde nasceu o pintor Pablo
Picasso, está de cara nova. Ao custo de 1,8 mil milhão de euros,
uma ampla reforma foi iniciada em 2004 e será finalizada em
2013, mas parte das estruturas acaba de ser inaugurada. O
antigo terminal já está a exibir novos ares, a zona de parqueamento foi ampliada, há novas pistas de taxiamento de aeronaves e novos edifícios estruturais. Mas o que está por vir nos próximos anos é algo impressionante. Com a inauguração do T3,
um projecto extraordinário do arquitecto Bruce S. Fairbanks,
que utiliza bastante vidro e aço a desenhar formas piramidais
no tecto e a permitir uma abundância de luz natural, o aeroporto vai duplicar a sua capacidade. O limite de passageiros por
hora passará de 4.500 para 9.000 e o volume anual, de 12
milhões para 30 milhões de pessoas. O quarto maior aeroporto
espanhol, que está a trabalhar no seu limite máximo, vai também ganhar uma pista nova, com extensão de 2.750 metros, e
20 novos portões de embarque. A Andaluzia, dentro de três
anos, estará ainda mais próxima do resto do mundo.
On the shores of the Mediterranean, in Costa del Sol,
Malaga’s Airport, Spain, birthplace of the painter Pablo
Picasso, has a new look. At a cost of 1800 million euros, in
2004 a big reform was initiated and will be finalized in 2013,
but part of the structures has just been inaugurated. The old
terminal is now renewed, the parking area was enlarged,
there are new taxiways and new aircraft structural buildings.
But what's to come in the coming years is staggering. With
the opening of T3, an extraordinary project of the architect
Bruce S. Fairbanks, who uses a lot of glass and steel when
drawing pyramid shapes on the ceiling which allows plenty of
natural light, the airport will double its capacity. The limit of
passengers per hour will increase from 4,500 to 9,000 and the
annual volume from 12 million to 30 million people. The
fourth largest Spanish airport, which is working at its limit,
will also gain a new runway, a distance of 2750 meters, and
20 new boarding gates. Within three years, Andalusia will be
even closer to the rest of the world.
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COMO UMA ONDA
LIKE A WAVE
A megalomania dos sheiks árabes é algo que jamais se deve
questionar. Cercado por vizinhos já famosos pelas cifras exageradas, o Qatar decidiu também mostrar ao mundo o seu potencial.
Está a ser construído na sua capital o NDIA, sigla para o New Doha
International Airport (em português, Novo Aeroporto Internacional
de Doha), um colosso que vai ocupar uma área de 22 quilómetros
quadrados, o equivalente a um terço da área de toda a cidade, à
beira-mar do Golfo Pérsico. Está justamente na sua localização o
maior trunfo do projecto: a cobertura dos edifícios imita o movimento de uma onda no mar – a ideia é criar uma sensação de continuidade do litoral. As obras começaram no ano de 2004 numa
zona a 4 quilómetros de distância do actual aeroporto e seguirão
até 2015. Em pouco mais de uma década, a capacidade de gerenciamento passará de 4,2 milhões de passageiros para surpreendentes 50 milhões a cada ano. As duas pistas, quando concluídas,
estarão entre as maiores do mundo, com quase 5 quilómetros de
extensão – elas foram concebidas especialmente para receber o
gigante Airbus A-380 (com um pormenor: duas aeronaves deste
calibre poderão operar simultaneamente). A primeira fase está
prevista para ser inaugurada em 2011 – quando o aeroporto terá
capacidade de receber 24 milhões de pessoas por ano, o equivalente a quase 30 vezes o tamanho da população da cidade.
The megalomania of the Arab sheiks is something that
should never be questioned. Surrounded by neighbors,
already notorious for exaggerated figures, Qatar also decided
to show the world its potential. Is being built in its capital the
NDIA, the acronym for the New Doha International Airport (in
Portuguese, Novo Aeroporto Internacional de Doha), a colossus that will occupy an area of 22 square kilometers, equivalent to one third of the area of all city in the Persian Gulf. It is
precisely in its location that lays the project's greatest asset:
the roofs of the buildings imitate the motion of a wave at sea
- the idea is to create a sense of continuity from the coast.
Work began in 2004, 4 kilometers away from the current airport and will continue until 2015. In little more than a decade,
the management capacity will increase from 4.2 million passengers for the astonishing 50 million each year. The two
tracks, when completed, will be among the largest in the
world, with almost 5 kilometers long - they were specifically
designed to receive the giant Airbus A-380-(with a detail: two
aircrafts of this caliber can operate simultaneously). The first
phase is scheduled to open in 2011 - when the airport is capable of receiving 24 million people per year, equivalent to
almost 30 times the size of the city’s population.
UMA SENHORA
DE RESPEITO
Brasília, a capital brasileira,
comemora os seus 50 anos em 2010
Depois de gozar durante quatro séculos de uma capital à beiramar, ora em Salvador da Bahia, ora no Rio de Janeiro, o Brasil
decidiu criar uma nova metrópole do zero no meio do vazio do
Cerrado da região Centro-Oeste, pelos idos da década de 50.
Inteiramente planeada, Brasília saiu das planilhas do arquitecto Lúcio Costa com o formato de um grande avião. E foi
assim que, no dia 21 de Abril de 1960, o Brasil inaugurou o
seu novo centro político, onde os maiores destaques eram os
edifícios projectados pelo arquitecto Oscar Niemeyer.
Actualmente com uma população de mais de 2,5 milhões de
pessoas e a ocupar uma área de 5,8 mil quilómetros quadrados, Brasília foi declarada património da humanidade pela
Unesco e os seus encantos continuam os mesmos: são os traçados inconfundíveis do mestre Niemeyer, sejam eles as cúpulas côncava e convexa do Congresso Nacional, sejam os pilares
que se abrem como uma coroa sobre a Catedral Metropolitana.
A RESPECTABLE LADY
Brasilia, the capital of Brazil,
celebrates its 50th year in 2010
For four centuries, Bazil had a seaboard capital, firstly Salvador
da Bahia, then Rio de Janeiro. Then, in the 1950s, the decision
was taken to create a metropolis from scratch in the emptiness
of Cerrado in the Centro-Oeste region. Brasilia grew whole
from the plans of the architect Lúcio Costa, shaped like a great
plane. And so it was that Brazil inaugurated its new political
hub on 21 April 1960, where the greatest buildings were those
designed by the architect Oscar Niemeyer.
Brasilia currently has a population of over 2.5 million and covers 5.8 thousand kilometres. It was declared a world heritage
by Unesco and its charms remain the same: the unmistakable
lines of Niemeyer, whether they are the concave and convex
copulas of the Congresso Nacional, or the pillars that open
like a crown over the cathedral, the Catedral Metropolitana.
cartão postal
postcard
O FUTURO É AGORA
THE FUTURE IS NOW
Roma acaba de fincar os pés no
amanhã com a inauguração de um
museu hi-tech
Rome has one foot in the future
– it has inaugurated a hi-tech museum
Na capital italiana, sempre foi o passado o grande protagonista. Trata-se, afinal, de uma das cidades com alguns dos monumentos antigos mais bem preservados da Europa. São vestígios do Império Romano, que datam dos séculos I e II tais como
o Coliseu, o Pantheon, os Fóruns.
Pois agora a história do futuro começa a ser escrita. No dia 30
de Maio, Roma inaugurou o primeiro museu nacional italiano
inteiramente dedicado ao século XXI – o seu acervo, dividido em
secções de Arte e Arquitectura, contempla, por enquanto, tudo
o que surgiu de extraordinário nos últimos 10 anos, em mídias
interactivas, fotografias, documentos, instalações.
Mas o MAXXI – Museu Nacional da Arte do Século XXI – é muito
mais do que um espaço experimental da arte contemporânea.
O próprio edifício, por si só, é o maior representante do período a que ele pretende abordar. Desenhado pela iraquiana Zaha
Hadid, um dos maiores nomes da Arquitectura moderna mundial, tem formas improváveis e fluidas que fazem o concreto e
o betão parecerem maleáveis. Após mais de 10 anos de preparação, o futuro finalmente chegou a Roma a um custo de 165
milhões de euros.
The great protagonist in the Italian capital has always been the
past. It is after all a city with some of the best preserved ancient
monuments in Europe. There are remains from the Roman
Empire dating back to the first and second centuries, among
them the Coliseum, the Pantheon, and the Forums.
Now, however, the history of the future is about to be written.
On 30 May, Rome saw the official opening of its first national
Italian museum dedicated exclusively to the 21st century. The
collections are divided into Arts and Architecture and they cover
everything extraordinary that has happened over the last ten
years, using interactive media, photographs, documents, and
installations.
But MAXXI – Museu Nacional da Arte do Século XXI – is much
more than an experimental space for contemporary art. The
building itself is the greatest representative of the period that it
is looking to illustrate. It was designed by the Iraqi Zaha Hadid,
one of the great names in modern world architecture. It has
improbable fluid shapes that make cement and reinforced concrete look malleable. It has been ten years in the making, and
finally it has arrived at Rome, at a cost of 165 million euros.
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cartão postal
postcard
ENCONTROS EM GRANDE
GREAT ENCOUNTERS
No Bornéu é possível ver de perto os
verdadeiros reis da selva no Sudeste
Asiático: os enormes orangotangos
In Borneo you can see the real kings of
the southeastern Asian jungle: the
enormous orang outang
Eles são quatro vezes mais fortes do que os homens, podem
pesar mais de 100 quilos, têm braços com 2,5 metros de comprimento e representam a terceira espécie animal que mais se
assemelha aos seres humanos (depois dos chimpanzés e dos
gorilas): 96% dos nossos genes são simplesmente idênticos.
Em todo o mundo existe apenas uma população de 10 a 30 mil
orangotangos, e eles estão restritos a duas ilhas do Sudeste
Asiático: Sumatra, na Indonésia, e Bornéu, uma gigante de
743,2 mil quilómetros quadrados dividida territorialmente
entre a Indonésia, a Malásia e o sultanato do Brunei.
Grandes protagonistas da região de Sabah, que pertence à
Malásia, os orangotangos vivem soltos pelas florestas e são
o maior cartão-postal da ilha, que tem como uma das principais atracções turísticas um orfanato dedicado inteiramente
aos bichões.
No Centro de Reabilitação de Orangotangos de Sepilok, nos
arredores da cidade de Sandakan, dezenas de animais recebem tratamentos especiais para voltar a viver em liberdade
na floresta – e é possível observá-los de perto e à solta no
horário das refeições, em grandes plataformas ao ar livre,
todos os dias pela manhã.
They are four times stronger than man, they can weigh up to
100 kilos, they have 2.5 metre long arms and they are the third
in the list of animal species that are closest to human beings
(after chimps and gorillas): 96% of our genes are exactly the
same.
There are only between 10 and 30 thousand orang outangs in
the whole world, and they are only found on two islands in
southeast Asia: Sumatra, in Indonesia, and Borneo, a massive
island of 743.2 square kilometres, with land divided between
Indonesia, Malaysia and the sultan of Brunei.
The orang outangs are the great characters of the Sabah
region, which belongs to Malaysia.They live wild in the forests
and they are the great attraction of the island. One of the main
draws is an orphanage dedicated exclusively to the young of
these animals.
In the Sepilok rehabilitation centre for orang outangs, just
outside the city of Sandakan, dozens of animals are given
special treatment so they can then go back to their roaming
in the forests. You can see them close up and wandering free
during meal times every morning on great platforms in the
open air.
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BRASIL. ESTADO DE SANTA CATARINA
Tordesilhas
e/and Boi-de-Mamão
Texto/text: Carlos Brandão Lucas Fotos/photos: Marina Brandão Lucas
Vou pelos caminhos do sul. Desdobro o mapa e,
I’m travelling on southern paths. I unfold the map
saindo do Rio de Janeiro, desço ao longo da costa.
and leave Rio de Janeiro, heading along the coast.
Viagem num oceano de ilhas, baías, cidades:
It’s a journety replete with islands, bays, cities:
Itapoá, S. Francisco do Sul, Balneário Camboriú,
Itapoá, S. Francisco do Sul, Balneário Camboriú,
Florianópolis, Garopaba, Imbituba, Laguna …
Florianópolis, Garopaba, Imbituba, Laguna …
Laguna. Aqui aporto. Dificilmente resisto aos chamamentos da
História. Então, sigo, rua adiante, uma esquina, um jardim, uma
praceta … Marco do Tratado de Tordesilhas. De súbito corre na
minha tarde uma aragem de séculos. É este o monumento.
Prisioneira das armas de Portugal e Espanha há uma esfera
de pedra representando o mundo. Os pontos cardeais subli-
Laguna. This is a stopping point. I find it difficult to resist the
call of History. So off I go, down the street, come to a corner,
a garden, a little square … Monument to the Treaty of
Tordesilhas. Suddenly my afternoon is washed away by the
centuries. This is the monument.
There is a spherical stone representing the world, binding in
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nham textos vincados em metal e descansam no círculo de
uma enorme rosa dos ventos…
… Enquanto um vislumbre de memória me faz recuar a 7 de
Junho de 1494, dia em que se firmou o Tratado, “para que se
divida o Atlântico em duas zonas delimitadas por uma raya
que vai derecha de pólo a pólo, 370 léguas a poente de las
yslas del Cabo Verde”. Pertenceria a Espanha o hemisfério
ocidental e a Portugal o oriental.
Mas foi preciso esperar pelas navegações de 1500 (Pedro Álvares Cabral) e pela fundação de Santo António dos Anjos de
Laguna – 1684. A imaginária linha de Tordesilhas cruzava então
o Brasil entre Belém, a norte, e Laguna, a sul. Até que em finais
do século XVIII, já esquecido e inútil, o Tratado foi deposto. E o
Brasil cresceu ! “AD MERIDIEM BRASILIAN DVXI – Ao sul levei
o Brasil”, palavras inscritas no brasão da cidade.
E o mundo é ainda uma esfera.
E a História ainda nos espera. Para nos contar também que
Laguna se envolveu forte na guerra do Paraguai. Que foi aqui
o berço da heroína Anita Garibaldi. Que nesta cidade se arvorou como nação a República Catharinense ou Juliana.
E de que nos falam os “mil” objectos e documentos do Museu
Anita Garibaldi ? E os reflexos de ouro da Igreja Matriz? E os
bronzes do farol de Santa Marta?
Nem de propósito! As luzes de Santa Marta riscam o horizonte, já ensaiam a noite.
Então, por agora, também esqueço Tordesilhas, abandono
a praceta, sigo pelo jardim e, ao virar da esquina …
- Meu amigo, meu amigo! – no tom de um quase grito.
Bem conheço esta voz. E o entardecer ainda não
esconde nem caras nem surpresas. É o Mané João.
the coats of arms of Portugal and Spain. The cardinal points
underline texts engraved in metal and come to rest in an
enormous compass rose…
… A chink of history opens and I find myself going back to 7
June 1494, the day they signed the Treaty, “so that the Atlantic
may be divided into two zones separated by a line like an arrow
straight from pole to pole, 370 leagues west of the islands of
Cape Verde”. The western hemisphere would belong to Spain
and the eastern to Portugal.
But then there was the wait. Until the voyages of 1500 (Pedro
Álvares Cabral) and the foundation of Santo António dos Anjos
de Laguna – 1684. The imaginary line of Tordesilhas in fact
crossed Brazil between Belém, to the north and Laguna, to
the south. Until the end of the 18th century, when the Treaty,
by now forgotten and useless, was dumped. And Brazil grew!
“AD MERIDIEM BRASILIAN DVXI – To the south I took Brazil”,
these are the words engraved on the city’s coat of arms.
And the world is still a sphere.
And history still awaits us. To tell us also that Laguna got
really tied up in the war with Paraguay; and that this was the
cradle of the heroine Anita Garibaldi; that it was in this city
that the republic known as Catharinense or Juliana flourished
a while as a nation.
And what do the “thousand” objects and documents in the
Anita Garibaldi museum talk to us about? And the lustre of
gold in the parish church? And the bronze of the Santa Marta
lighthouse?
Words that come right on time! The lights of Santa Marta
blaze out to the horizon, the night is upon us.
And so for now I also forget Tordesilhas, I leave the little square,
go through the garden, turn the corner …
- My friend, my friend! – and what I hear is
almost a shout.
That’s a voice I know very well. And the
twilight cannot hide either faces or surprises. It’s Mané João.
- Let’s have a great big hug, Mané! – All
mixed with a wide smile.
Then it was just jaw-jaw, a belly laugh in
the middle, because we had known each
other for some time, since Garopaba, when we
were involved with whales and boi-de-mamão
(a young ox, still suckling – the main figure
in an important festival in some parts of
Brazil).
- It was nice meeting here again. And
you’re going to come to my house
tomorrow, ‘cos it’s my birthday.
There’s octopus rice and then
comes the boi-de-mamão. Towards the end of the day.
And so we agreed to meet again.
The morning came again, and
the sun threw light over the ocean,
colouring the Atlantic seascape,
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- Um grande abraço Mané! – à mistura com um sorriso aberto.
Depois foi conversa e mais conversa, uma gargalhada pelo
meio, que já nos conhecemos há algum tempo, em
Garopaba, à conta de umas baleias e do boi-de-mamão.
- Foi bom a gente se encontrá. Até que eu quero que você vai
amanhã lá na casa minha, que eu tou de aniversário. É para
nós comer um arroz de polvilho e para o boi-de-mamão se
apresentá. É de tarde.
E combinámos o encontro.
Chegou a manhã, atirou o sol para o mar, coloriu a paisagem
da mata atlântica, deu lustro à baía de Garopaba. A mim,
ateou-me de novo o fascínio da História e contou-me que os
primeiros colonos de Garopaba foram os açoreanos, em
1666. Que o nome da terra vem da expressão guarani “igarapaba”, significando “enseada de barcos”. Uma enseada
como a de hoje: barcos, redes, pescadores, caixas de tainha.
Só os barcos baleeiros se finaram, morte anunciada em 1987
quando a Lei Federal veio proibir “a caça, a perseguição e o
molestamento de cetáceos, ficando o criminoso sujeito a
multa e prisão”. Era o início do Projecto Baleia-Franca.
Esta é a razão porque entre Julho e Outubro, as praias de
Garopaba – e muitas outras do litoral catarinense – se transformam num grande cenário de observação da baleia-franca.
E assim experimentei mais um fervor da História !
E outro vai chegando, que a tarde está por aí, e por aí há-de
estar também a brincadeira do boi-de-mamão.
- Meu amigo, meu amigo! – de novo um quase grito do Mané
João; como ontem.
- Mais um grande abraço, Mané. Muitos parabéns! – de novo
à mistura com um sorriso aberto; como ontem.
Fomos andando, Garopaba dentro, conversa pelo meio, até
que o Mané resolveu contar-me o argumento da festa.
- É assim o boi-de-mamão.
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giving a shine to the bay at Garopaba. And I found the fascination of
history again and recounted the story of the first colonials at
Garopaba. It was 1666 and they were from the Azores. The name
Garopaba comes from an expression in Guarani “igara-paba”,
meaning “small bay with ships”. A small bay like there is today:
boats, nets, fishermen, and boxes full of mullet. Only the whalers
are no more. Their doom came with the 1987 federal law prohibiting “hunting, pursuing and harrying the whales, any criminal doing
so being subject to a fine and imprisonment”. It was the beginning
of the Baleia-Franca project (baleia franca is a species of whale
common off the coast of Brazil).
And so it is that between July and October the beaches of
Garopaba – and many others along this Santa Catarina shore – are
transformed into a major viewpoint to watch the baleia-franca.
As so did I feel another frisson of History!
And it came, since the evening is upon us and there too would
be the entertainment of the boi-de-mamão.
- My friend, my friend! – and I heard the quasi-shout of Mané
João; just like the day before.
- Let’s have another hug, Mané. Many congratulations! – All
mixed with a wide smile again; just like the day before.
Off we strolled, into Garopaba, chatting all the while, until
Mané chose to tell me what the party was all about.
- This is what it’s like, the boi-de-mamão festival.
When people begin to sing to attract the ox, two clowns come
in, one the cowherd and the other the clown who calls the ox..
Then the ox comes in and everyone tells it to dance, and the
ox dances, at which point it’s the moment when the ox begins
to get sick and the people order the ox to be “amachorrado”,
then the vulture comes in and a puppy tickles the ox, and says
that it’s going to really stink and then the puppy tries to touch
the vulture and there they are, the two of them (…).
And so the string of words fills me with joy, as if I was really
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pega, dança, depois a gente se despede, até amanhã se Deus
quiser, vai todo o mundo embora e aí tá terminado”.
Pode ser. Está terminado. Mas o folguedo não está.
O boi, vestido com pano preto malhado de branco, ainda
amachorra. O cavaleiro ainda finge que ele mesmo tem patas
de cavalo. A maricota, vaidosa e desengonçada, ainda rodopia. Os músicos ainda tocam violas, bombos e concertinas. E
vão cantando. E terminando …
Oi cidade sim
Oi cidade não
Eu quero ver
Boi-de-mamão
Meia-lua dentro
Meia-lua fora
Senhor dono da casa
Nosso boi já vai embora
E a história do boi-de-mamão, desde que se chamou boi-depau, boi-de-palha, boi-de-pano, ainda antes ?
Diz-se que o momento inaugural está na “cultura do boi, trazida das ilhas dos Açores” – boi de campo, tourada à corda … Vou
perguntar aos textos do Padre Lopes Gama, editados em 1840.
Mas agora …
Eu caio, eu caio
Na boca da noite,
Sereno eu caio
Quando a gente começa a cantiga para chamar o boi, entra os
dois palhaços, que um é o vaqueiro e o outro é o palhaço que
chama o boi. Daí o boi entra, a gente manda o boi dançá, o boi
dança, daí tá na hora que o boi fica doente, a gente manda o
boi amachorrá, o boi amachorra, entra o urubu e o cachorro
para beliscá o boi, para dizer que ele vai feder esse cheiro, e o
cachorro quer tocar o urubu embora e fica os dois ali (…).
E o cordão das palavras a cercar-me de alegria, como se eu
fosse naqueles instantes um verdadeiro espectador da saga,
as imagens do boi, do vaqueiro, do urubu a estenderem-seme pelos olhos, os ritmos e a cantoria brincando nos meus
ouvidos. Desde o princípio.
Pelo rio abaixo
Vai um batelão
E o que vem lá dentro
É o boi-de-mamão
O boi-de-mamão
Vai-se apresentar
Com muita alegria
E nesse lugar
E o Mané vai seguindo …
“Daí, de repente, a gente manda chamar o doutor. Daí o doutor vem, cura o boi, depois ele manda levantá o boi na cantoria de Rolando Sá. Daí a gente deixa o boi dançar mais um
pouco e depois a gente chama o cavaleiro que é para laçá o
boi. Daí o cavaleiro laça o boi, o boi sai para fora. Daí a gente
fica cantando, depois a gente chama a bicharada. Daí pega,
vem a Saborosa, as duas minina, o cabrito, o bicho-serva, o
cachorro e o urubu de novo, a cabra, o urso. E daí a gente
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watching the show, the scenes of the ox, the cowherd, the vulture, it all stretches out in front of me, the rhythms and the
singing rolling in my ears. From the beginning.
Pelo rio abaixo
Vai um batelão
E o que vem lá dentro
É o boi-de-mamão
O boi-de-mamão
Vai-se apresentar
Com muita alegria
E nesse lugar
(Down the river / goes the canoe / and there inside / goes the
boi-de-mamão too / For the boi-de-mamão is going to be
here / and bring great joy / to this place)
And Mané goes on …
“And all of a sudden the people call the doctor. And the doctor
comes and cures the ox, orders it to get up to the singing of
Rolando Sá. And the people let the ox dance some more and then
they call the horseman to tie up the ox. And he does so and the ox
is taken off. Then the people stay and sing and then they call to all
the animals. Then Saborosa comes and the two little girls and the
little billy-goat, and the animal from the jungle, the puppy, the vulture again, the nanny-goat, and the bear. And the people come
together and dance until they say goodbye, see you tomorrow God
willing and everyone goes away and that’s the end of it all.”
That’s as may be. All over. But the entertainment carries on.
The ox is now dressed in a black cloth with white marks, still
“amachorrado”. The rider still pretends that he has the feet of
a horse. And the drag queen comes in, all vain, awkwardly
twirling around. The musicians carry on playing their guitars,
drums and concertinas. And they go on singing until they
come to the end …
Oi cidade sim
Oi cidade não
Eu quero ver
Boi-de-mamão
Meia-lua dentro
Meia-lua fora
Senhor dono da casa
Nosso boi já vai embora
(Hi, the city is there / hi, the city is not / but I want to see / the
boi-de-mamão / The moon is half in / the moon is half out /
he owns the whole house / but now he is going away)
And the story of the boi-de-mamão, and there’s the boi-depau, boi-de-palha, boi-de-pano, did they all come before?
They say that it all started with the “culture of the ox, brought
from the Azores” – an ox from the countryside, for bullfighting on a rope … Let me find out from the works of Padre Lopes
Gama, published in 1840.
But now …
Eu caio, eu caio
Na boca da noite,
Sereno eu caio.
(I fall, I fall / into the jaws of the night / quietly I fall)
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Jo’burg versão 2010
Jo’burg 2010 version
Texto/text e/and Fotos/photos: CIAO
A cosmopolita capital financeira da África do Sul
The South African cosmopolitan financial capital
fincou os pés no futuro com a realização do Mundial
dug its feet in the future with the completion of the
de Futebol.
World Cup.
Ela já era a maior cidade do país, com mais de 5 milhões de
habitantes. Já era, também, a principal porta de entrada do
continente, a dona de um skyline moderno e futurista, o principal motor propulsor da economia sul-africana. Agora,
Joanesburgo, ou Jo’burg, como é chamada pelos moradores,
colecciona novos adjectivos. O facto de ter sediado o maior
evento desportivo do mundo, realizado entre os meses de
Junho e Julho deste ano, transformaram-na também na
dona da única linha de metro do país; do maior e mais
moderno aeroporto de África; de dezenas de novos hotéis; de
estradas a brilhar de novas; e de um optimismo sem precedentes. Se Jo’burg já era moderna, agora já não há mais
volta – a metrópole cravou bem os dois pés no futuro e tratou de garantir para si boa parte dos quase 5 mil milhões de
dólares que o Governo do país injectou nas obras de melhorias para o tão esperado Campeonato do Mundo de Futebol,
que atraiu um total de 370 mil visitantes.
Apenas na última década, Joanesburgo ganhou uma série de
novos cartões-postais e obras de infra-estrutura. E é já logo
à chegada que a nova Jo’burg pode ser contemplada no seu
melhor ângulo. O aeroporto O.R. Tambo, um dos principais
hubs do continente africano, por onde passam anualmente
cerca de 17 milhões de pessoas, passou por uma imensa
reforma e está impecável. Cerca de 400 milhões de dólares
foram investidos em obras que mudaram para sempre o
desembarque na cidade, incluindo a construção de um novo
terminal de passageiros. Na esteira do aeroporto vieram
novas estradas, novas linhas de autocarros e um sistema de
transporte urbano mais completo e eficiente.
No quesito das atracções turísticas, a cidade foi brindada,
It was already the largest city in the country, with more than
5 million inhabitants. It was also the main gateway to the continent, the owner of a modern and futuristic skyline, the main
engine propelling the South African economy. Now,
Johannesburg or Jo'burg, as it is called by the locals, collects
new adjectives. The fact that it hosted the world's biggest
sporting event, held between June and July this year, made it
the owner of the only subway line in the country, the largest
and most modern airport in Africa; dozens of new hotels;
shiny new roads, and an unprecedented optimism. If Jo'burg
was modern, there is no turning back now - the metropolis
has its feet stuck in the future and secured for itself a good
part of the almost 5 billion dollars that the country's government injected in the improvement works for the long-awaited
World Cup Soccer, which attracted a total of 370 000 visitors.
In the last decade, Johannesburg has won a series of new visiting cards and infra-structures. When arriving to Jo'burg you
can be appreciate it at its best angle. The O.R. Tambo airport,
one of the main hubs of the African continent, through which
17 million people pass annually, has undergone a huge
reform and it is impeccable. About 400 million dollars were
invested in works that have forever changed the landing in the
city, including the construction of a new passenger’s terminal. With the airport came new roads, new bus lines and a
more urban, efficient and complete transport system.
In what concerns the tourist attractions, the city was presented, seven years ago, with the beautiful Nelson Mandela
Bridge, a tribute to one of the greatest African leaders of all
time, with nearly 300 meters long and an impressive white
steel structure. The novelty has joined the joy that followed
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sete anos atrás, com a bela Ponte Nelson Mandela, uma
homenagem a um dos maiores líderes africanos de todos os
tempos, com quase 300 metros de comprimento e uma
imponente estrutura em aço branco. A novidade juntou-se à
avalanche que foi apresentada tão logo o país foi anunciado
como a sede do Mundial de 2010. As suas duas principais
arenas de futebol foram completamente reformadas para
abrigar 15 dos 64 jogos do Mundial (entre eles, as partidas
de abertura e de encerramento, que aconteceram no moderníssimo Soccer City, cujo desenho foi inspirado no calabash,
o tradicional vaso artesanal africano). Juntas, elas têm capacidade para abrigar nada menos do que 150 mil espectadores. E já figuram na lista de visitas obrigatórias na cidade, ao
lado dos novos centros comerciais e galerias de arte, dos
endereços da moda no bairro de Sandton e do Design
Quarter, por exemplo, a nova morada dos estilistas mais festejados da cidade.
Todas estas novidades vêm-se somar ao caldeirão cultural
que é a vocação nata de Joanesburgo, um universo cosmopolita, efervescente e muitas vezes caótico que aprende cada
vez mais a exercitar o significado fundamental das palavras
liberdade, democracia, tolerância e, agora, futuro.
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when the country was announced as the host of the 2010
World Cup. Its two main football fields have been completely
renovated to house 15 of the 64 games of the World Cup
(among them, the opening and closing matches, which
occurred in the modern Soccer City, whose design was
inspired by the calabash, a traditional African craft vase).
Together, they have the capacity to house 150 000 spectators.
And figure in the list of obligatory visits in the city, next to new
shopping centers and art galleries, fashionable addresses in
the district of Sandton and Design Quarter, for example, the
new address of the most popular designers in the city.
All these innovations join the cultural pot which is
the innate vocation of Johannesburg, a cosmopolitan universe, bustling and often chaotic, learning increasingly to
exercise the fundamental meaning of the words freedom,
democracy, tolerance and, now, future.
um fim-de-semana em...
a weekend in...
Modernidade e comodidade
Modernity and comfort
Está situado na vila de Cacuaco, a poucos passos de
The “Mingas Residencial” Tourist Complex is situat-
Luanda, o Complexo Turístico Mingas Residencial,
ed in the town of Cacuaco, as close as you could
um empreendimento moderno, abençoado com
wish to Luanda. It is a modern development,
todas as comodidades, onde se pode desfrutar de
blessed with all that such a complex should have,
um fim-de-semana tranquilo. É realmente um
and ideal for enjoying a quiet weekend. It is a real
complexo turístico feito à medida de quem preten-
tourist complex tailor-made for anyone wanting to
da fugir ao buliço da capital.
get far from the madding crowd of the capital.
Texto/text e/and Fotos/photos: Carlos Lousada
COMPLEXO TURISTICO
MINGAS RESIDENCIAL
“MINGAS RESIDENCIAL” TOURIST COMPLEX
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É um conjunto de dez residências T3, cada uma com três
quartos, sala, cozinha, casa de banho, varanda, conformando
um complexo residencial que privilegia de ginásio, piscina,
quadra polidesportiva e espaços com hidromassagem.
Com serviço de segurança permanente, todas as residências
são arejadas com aparelhos de ar condicionado, televisão
por satélite, serviço de Internet e estacionamento privativo
com garagem para três automóveis cada uma delas.
Mas não é tudo, porque ainda nem sequer se falou do res-
There are ten T3 residences, each with three bedrooms, a living room, bathroom, and verandah. All together, they make
up a residential complex that also boasts a gymnasium,
swimming pool, multi-purpose sports area and a place for
hydro-massage.
There is 24/7 security and all the living quarters have air conditioning, satellite television, and Internet. There is private
parking with each residence having a three-car garage.
But this is not everything, because we haven’t yet spoken of
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um fim-de-semana em...
a weekend in...
taurante/esplanada, que leva o timbre de um impecável
atendimento, sobretudo aos fins-de-semana, a começar
pela gastronomia nacional, servida aos sábados: funje de
cabidela, ginguinga de cabrito, feijão de óleo de palma, peixe
fresco na grelha…
Aos domingos, as honras vão para o buffet continental, onde
o leitão à Bairrada constitui a principal atracção. Mas o desfile de pratos inclui bacalhau a lagareiro, bacalhau na brasa
ou cozido com batatas, coelho a caçador, arroz de mariscos…
Linguados. O gerente do restaurante, o Sr. Delfim, assegura
que o peixe é pescado na praia de Cacuaco e servido de seguida, já que “não servimos peixe congelado”. Assim também
acontece com o Linguado – peixe tradicional de Cacuaco.
O gerente não vacila ao dizer que o objectivo é “apresentar uma
qualidade de serviços à maneira de Cacuaco do antigamente,
que era e é forte em peixe e marisco. Queremos voltar à tradição deste município em termos de peixe e marisco, pois não há
quem rejeite um bom Linguado fresco de Cacuaco!”
De facto, o peixe fresco, a lagosta, o caranguejo, o camarão,
as lulas, fazem as delícias dos residentes e visitantes do
Mingas Residencial, que têm à disposição uma garrafeira
capaz de pôr de sentido qualquer um: os melhores vinhos do
mercado, sobretudo portugueses e sul-africanos, cerveja em
garrafa e a copo e uma super variedade de bebidas espirituosas, desde os clássicos whiskys velhos aos novos, aguardentes, brandys e licores.
O local é bastante procurado por turistas e por empresas para
alojar os seus trabalhadores, já que as residências são propícias para alojar pequenos grupos de pessoas. Os luandenses
também já elegeram o Mingas Residencial para seu ‘refúgio’,
com o benefício de geograficamente se localizar bastante próximo da via rápida e a dois passos das praias de Cacuaco.
Se quiser estar relaxado fora do alvoroço da cidade, reserve
antecipadamente o seu lugar através do número telefónico
222007566, prevenindo-se da afluência de gente à procura de
habitações. Bom fim-de-semana!
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the restaurant/terrace, which has the hallmark of impeccable
service, above all at weekends. Let’s start with Saturday,
when Angolan dishes are served: funje de cabidela, goat’s
meat ginguinga, beans in palm oil, fresh grilled fish…
On Sunday, the special fare is a continental buffet, with suckling pig Bairrada style is the main attraction. Andd the range
of dishes includes cod-fish – Lagareiro style or grilled on
charcoal or boiled and served with potatoes – and rabbit
hunter’s style, and shellfish with rice…
Sole. The restaurant manager, Sr. Delfim, guarantees that the
fish is caught off Cacuaco beach and served immediately,
since “we don’t serve frozen fish”. And so it is with the sole, a
traditional Cacuaco fish.
The manager doesn’t hesitate to say that the aim is to “offer
quality of service like you used to get in the Cacuaco of old,
where the strong points were fish and shellfish. We want to go
back to the town’s tradition for fish and shellfish. Nobody says
no to a fresh sole from Cacuaco!”
Truth to tell, the fresh fish, lobster, crab, shrimps, and squid
are the delight for residents in and visitors to the Mingas
Residencial. And there is also a wine cellar that can tempt
anybody: the best wines in the market, above all Portuguese
and South African, bottled and draught beer and a huge variety of spirits, including old and new whiskies, firewater,
brandy and liqueurs.
The place is highly sought after by tourists and companies for
their staff, since the residences are just right for housing
groups of people. The people from Luanda have also chosen
the “Mingas Residencial” as their “refuge”, with the added
geographical advantage that it is near the main road and a
stone’s throw from the beaches of Cacuaco.
If you want to relax away from the hustle and bustle of the city,
book beforehand, on phone number 222007566, and book
early because there are many in search of such a place to
stay. And have a nice weekend!
raio-x
x-ray
Sebastião Vemba
Prémio CNN/Multichoice de língua portuguesa
Prize CNN/Multichoice of portuguese language
Um jornalista à procura de histórias inéditas
A journalist looking for unpublished stories
Texto/text: Miguel Gomes Fotos/photos: António Bernardo
Observador como os grandes jornalistas da história,
Observer as the great reporters of history, Sebastião
Sebastião Vemba é uma das esperanças do jornalismo
Vemba is one of the hopes of Angola’s journalism.
feito em Angola. Com apenas quatro anos de profissão
With only 25 years old and four of experience he
e 25 de idade, recebeu em Maio o prémio CNN/Multi-
received, in May, the prize CNN/Multichoice of
choice de língua portuguesa – apenas o terceiro ango-
Portuguese Language – only the third Angolan to do
lano a fazê-lo, depois de José Luís Mendonça e Ernesto
so, after José Luís Mendonça e Ernesto Bartolomeu.
Bartolomeu. As reportagens premiadas, com o título
The awarded stories, entitled “Adeus ilha” and pub-
"Adeus ilha" e publicadas no semanário Novo Jornal,
lished on the weekly Novo Jornal, shows the rude-
retratam a brusquidão e a fractura dentro de uma
ness and the rupture within a community forced to
comunidade obrigada a abandonar o local onde vivia.
abandon the place where used to live.
Recebeu o prémio CNN/Multichoice em finais de Maio.
Como olha hoje para tudo, ainda sente que foi uma grande
surpresa o que aconteceu?
Foi uma surpresa a nomeação. E quando recebi o prémio
também, sobretudo porque não tinha grande noção do trabalho feito pelo colega moçambicano (o outro indicado para o
prémio de língua portuguesa). Apenas uns minutos antes da
cerimónia ofereceram-nos os trabalhos impressos num
manual e uma curta biografia dos autores. Não sabíamos
bem o que os outros tinham feito, o suspense permaneceu
até ao fim. Também foi uma surpresa a reacção do Ministério
da Comunicação Social (MCS) e do próprio Governo angolano, de uma forma geral.
You’ve received CNN’s/Multichoice prize in late May.
Looking back, how do you feel about what happened, is it
still a big surprise?
The nomination itself was a surprise, just like when I got the
prize, especially because I had no idea about the work done
by the Mozambican colleague (the other nominee for the
Portuguese language prize). Just a few minutes before the
ceremony they gave us the works printed in a manual as well
as a short biography about the authors. We didn’t quite know
what others had done; the suspense remained until the end.
Another surprise was the reaction of the Social
Communication Ministry (SCM) and of the Angolan
Government itself, in general.
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raio-x
x-ray
Porquê?
Porque os órgãos de comunicação social mantiveram-se
mais ou menos indiferentes ao prémio. Um ou outro me contactou, sim, para noticiar o assunto, mas muitos publicaram
a história sem falar comigo. Mas o MCS aproximou-se para
dizer que a ministra estava interessada em conhecer-me.
Entretanto, homenagearam-me no dia 16 de Julho com a
oferta de uma viatura e ficou aberta a possibilidade de o
Estado financiar uma bolsa de estudo interna, ou mesmo
para ser utilizada fora de Angola. Tenho a faculdade no meio
e, independentemente de ser em Angola ou noutro país, não
deixa de ser um objectivo pessoal.
O facto de receber um prémio com este prestígio é motivo
de orgulho, mas a vida prossegue. Agora nasceu um outro
mundo, com outras oportunidades…
Uma das grandes oportunidades que se abriram – nem sei se
o deveria comunicar... – está relacionada com o interesse da
própria CNN em que eu corresponda para eles a partir de
Angola. Quiseram saber da minha disponibilidade e logo me
mostrei interessado, claro. Estou inteiramente disponível
para trabalhar com eles.
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Why?
Because the media haven’t showed much interest in the
prize. One or two contacted me, yes, but only to report the
news, but many published the story without having contacted
me. The SCM informed me that the minister was keen to
meet me. Meanwhile, they honored me on July 16th and
offered me a car and the possibility of the State to finance a
scholarship was left open, either in or out of the country. I
have college in the middle and apart from being in Angola or
in any other country it remains a personal goal.
You should be proud of this prestigious award, but life goes
on. A new world has born now, with other opportunities…
One of the biggest opportunities – I don’t know if I should be
talking about it… - is related to CNN’s interest in me being
their correspondent in Angola. The wanted to know about my
availability and said was interested, of course. I’m totally
available to work with them.
What can CNN, which is perhaps the biggest TV network in
the world, bring to your career?
Most important of all: the training. I have a counter-pro-
raio-x
x-ray
posal to present them, so that I can do an internship, either
in CNN’s offices in Africa or in the US. This will be good not
only for me, but also for CNN itself, because in doing so
they will have a better prepared correspondent. If they contact me, it’s because they saw potential, so I should
improve those qualities in order to have a better performance.
As a reporter, your stile is very literary, which gives you
space to approach the environment, allows you to do
descriptions. There’s a certain contradiction in it, because
in Angola the media doesn’t have a particular tendency to
publish this type of work.
Yes, it’s true, that has to do with the extra-journalism
influences… But recently I feel a bit lost. I’m writing
about economy (in the monthly economic magazine
Economia & Mercado) but, unfortunately, the demanding
schedules do not satisfy me, especially because it prevents me from doing other society work, more adventurous things, between inverted commas… So I have been
rethinking the possibilities of continuing to write about
what I like best.
You mentioned influences. Which ones?
Poetry, for example. I like Fernando Pessoa, a master communicator through what he wrote. Then I read some reports
of great journalists, apart from the influence of José Vegar,
who was my trainer in the weekly Novo Jornal. All this
helped me not only to inform, but also to try to get people
interested in reading. As they reed, they are entertained
and, simultaneously, informed. The truth is told in a subtle
way. I remember that CNN picked up a sentence from me,
which said something like "some were quiet, others were
silent"... Even the jury made comments about my way of
writing.
“
Sinto necessidade de estar
debaixo de uma árvore e ficar
lá, apenas a observar. (…) Sou
feliz por ter a capacidade de me
manter calado durante uma
hora, gravar frases completas na
memória, para depois descrever
o ambiente. É isso que quero
continuar a fazer
”
Why is that, sometimes, in Angola, the journalism is so
grey, so formal?
It has to do with the school. If it had not received training in
the Novo Jornal, where a trainer told me "you will be a great
reporter," someone who encouraged me to read the work of
other colleagues ... For me it was like a school. And not all go
through this. The school of journalism in Angola is different;
it’s a very opinionated journalism. From state agencies it’s all
too static, even when doing reporting.
So, in your opinion, we need training and exchange experiences?
Yes, we do, we need that. For example, there is a fantastic
experience of Benedict Smith, a journalist from Angola’s
National Radio. He teaches Portuguese to people who want to
be journalists, or even to students and professionals and he is
interested in working with me so that we can exchange experience and talk a bit about writing and journalism. We have a
plan to create a laboratory, a newsroom, something that can
O que é que a CNN, que será talvez a maior rede de televisão do mundo, pode trazer para a sua carreira?
Acima de tudo a formação. Tenho uma contra-proposta para
lhes apresentar, exactamente para que possa fazer um estágio, seja nos escritórios da CNN em África ou mesmo nos
EUA. Isso será benéfico não só para mim, mas para a própria
CNN, porque dessa forma poderá ter um correspondente
melhor preparado. Se me contactaram é porque viram
potencial, então devo aprimorar essas qualidades para poder
ter um melhor desempenho.
Tem um estilo, enquanto repórter, muito literário, que dá
um grande espaço para abordar os ambientes, de descrever. Há aqui uma certa contradição, porque em Angola os
meios de comunicação social não têm muita vocação para
publicar esse tipo de trabalhos.
Sim, é verdade, isso tem a ver com as influências extra-jornalismo... Mas nos últimos tempos sinto-me até um pouco
perdido. Estou a escrever sobre economia [na revista mensal
de cariz económico Economia & Mercado] mas, infelizmente,
as exigências em termos de horários não me satisfazem.
Sobretudo porque me impedem de fazer outros trabalhos de
sociedade, coisas mais aventureiras, entre aspas... Então
evolve to blog or website so that students can publish their
texts. It is also important that they do original things, go out
on the street...
Do you think we’re lacking other creation spaces, more
open, whether on radio, newspapers or TV?
We were talking about media… For example, the Novo
Jornal, to me, is a different school. Unfortunately and perhaps somehow related to the departure of some writers,
the most creative texts have been losing space. But we still
have many good journalists to write in that journal, and who
have been able to do different things. The newspaper now
has to restructure itself in terms of administration and
bring more incentives for people. If that happens, I believe
that journalists will re-write about what they’ve always
wrote and some professionals will naturally return to Novo
Jornal - because it’s with that type of project that they identify with.
Nevertheless you’re a journalist specialized in economy.
Although this is not your style of work, what lessons have
you been taking from this new step?
The economic journalism requires a little more research,
raio-x
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tenho vindo a repensar as possibilidades de continuar a
escrever aquilo de que mais gosto.
Falou em influências. Quais?
Poesia, por exemplo. Gosto de Fernando Pessoa, um exímio
comunicador através daquilo que escrevia. Depois li algumas
reportagens de grandes jornalistas, para além da influência
de José Vegar, que foi meu formador no semanário Novo
Jornal. Tudo isto me ajudou não apenas a informar, mas a tentar agarrar as pessoas à leitura. Enquanto lêem, entretêm-se
e, ao mesmo tempo, são informadas. A verdade é contada de
forma subtil. Lembro-me que a CNN pegou numa frase minha
que dizia algo como "uns estavam calados, outros silenciados"... Mesmo o júri fez comentários à forma como escrevo.
Mas porque é que em Angola se faz, por vezes, um jornalismo tão cinzento, tão formal?
Tem a ver com a escola de jornalismo. Se não tivesse recebido
formação no Novo Jornal, em que apareceu lá um formador que
me disse "tu vais ser um grande repórter", que me incentivou a
ler trabalhos de outros colegas... Para mim foi uma escola. E
nem todos passam por isso. A escola de jornalismo em Angola
é outra, é um jornalismo muito opinativo. Da parte dos órgãos
estatais é tudo muito estático, mesmo ao nível da reportagem.
Quer dizer que, na sua opinião, estamos a precisar de formação e de troca de experiências?
Estamos sim, estamos a precisar disso. Por exemplo, há uma
experiência fantástica do Benedito Soares, jornalista da
Rádio Nacional de Angola. Ele dá aulas de língua portuguesa
a pessoas que querem ser jornalistas, ou mesmo até a estudantes e profissionais do sector e está interessado em trabalhar comigo, para podermos passar experiências e falar um
pouco sobre escrita e jornalismo. Há a ideia de criarmos um
laboratório, uma redacção, alguma coisa simulada que
possa evoluir para blogue ou mesmo site, para que os alunos
possam publicar os seus textos. É importante também que
eles façam coisas inéditas, que estejam na rua...
Considera que faltam outros espaços mais abertos à criação, seja na rádio, nos jornais ou na televisão?
Estávamos a falar de meios... Por exemplo, o Novo Jornal,
para mim, é uma escola diferente. Infelizmente, e talvez esteja
relacionado com a saída de alguns redactores, os textos mais
criativos têm vindo a perder espaço. Mas ainda assim temos
muitos bons jornalistas a escrever naquele jornal, e que têm
sabido fazer coisas diferentes. O jornal tem agora de se reestruturar em termos administrativos e trazer mais estímulos
para as pessoas. Se isso acontecer, acredito que os jornalistas
vão voltar a escrever aquilo que sempre escreveram e alguns
profissionais vão regressar naturalmente ao Novo Jornal –
porque é com aquele tipo de projecto que se identificam.
Mesmo assim está agora a exercer a profissão de jornalista
especializado em economia. Mesmo não sendo, à partida, o
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“
I feel the need to stand under
a tree and stay there, just
observing. (…) I'm glad I have
the ability to stay silent for an
hour, storage entire sentences
in my memory, and then
describe the environment.
That is what I want to
continue doing
”
raio-x
x-ray
que se enquadra no seu estilo e maneira de trabalhar, que
ensinamentos tem retirado desta nova etapa?
O jornalismo económico precisa de um pouco mais de investigação, e ainda por cima a revista é mensal. Então não se escreve com a mesma velocidade de um texto semanal, ou mesmo
diário. Depois há outra questão – a análise de dados. As matérias de economia fazem-se com números, quando isso não
acontece o texto torna-se muito discursivo. É mais uma experiência, que me poderá ajudar no futuro. Ao passar por várias
editorias – cultura, sociedade, economia – talvez possamos
ganhar uma visão mais abrangente daquilo que nos rodeia.
E como se vê então daqui a 10, 20 anos? A escrever ou
reportar que tipo de assuntos?
A sociedade. Ser grande repórter, aventureiro. Que possa
sair das grandes cidades e ir para o interior do país.
À procura de quê?
À procura de histórias inéditas. Na cidade as relações são
muito marcadas pelo dinheiro, há pouca vida, pouco humanismo... Sinto a necessidade de estar debaixo de uma árvore
e ficar lá, apenas a observar. Ver as pessoas e depois ir para
a redacção escrever. Sou feliz por ter a capacidade de me
manter calado durante uma hora, gravar frases completas
na memória, para depois descrever o ambiente. É isso que
quero continuar a fazer.
Utilizando essa capacidade de observação, e se lhe pedissem para descrever Angola, como o faria?
É um país que está a desenvolver as cidades, ao mesmo
tempo que os musseques crescem em termos populacionais,
mas em termos de infra-estruturas ainda temos muito que
fazer. Depois, é um país de oportunidades. Infelizmente, poucas pessoas sabem aproveitá-las. Como jornalistas temos
sido muito limitados, ficamos apenas pelos encontros, conferências e eventos oficiais. Muitas vezes esquecemo-nos de ir
à porta de um hospital, de uma escola, de contar histórias
que eduquem e que lembrem determinados erros que não
deveriam acontecer.
À margem do jornalismo, Sebastião Vemba encarna a figura
do Tião MC, um rapper que escreve e canta sobre o meio
onde vive. Que relação tem esta actividade com o jornalismo?
Acho que agora deixou de ter tanto, mas quando escrevia
apenas sobre sociedade, falava muito com as pessoas do
bairro e com pessoas ligadas às músicas populares. Então,
acabava por deixar sempre um disco e elas ligavam para
mim, conversávamos sobre música e isso tudo. Era um
mecanismo que, de alguma forma, ligava com o jornalismo.
Entretanto, as coisas mudaram um pouco, até porque perdi
um primo que era o meu companheiro na música. Mas estou
a pensar em reactivar tudo e trabalhar num novo projecto
com alguns amigos, até para homenagear essa pessoa. Em
relação à escrita, estou também a preparar um livro infantojuvenil, que relembra a nossa infância.
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and on top of all it’s a monthly magazine. So no one writes
with the same speed of a weekly text or even a daily one.
Then there's another issue - the data analysis. The subjects
of economy are done with numbers, if this does not happen
then the text becomes too discursive. It's an experience that
may help me in the future. By going through several editorials - culture, society, economy - perhaps we can gain a
wider view of what surrounds us.
How do you see yourself in 10, 20 years? Writing or covering
what type of subjects?
Society. Be a great reporter, an adventurer. Someone that can
leave the big cities and go to the countryside.
Looking for what?
Looking for unpublished stories. In the city relations are very
much dictated by money, there is little life, little humanism ...
I feel the need to stand under a tree and stay there, just
observing. See the people and then go to write a text. I'm glad
I have the ability to stay silent for an hour, storage entire sentences in my memory, and then describe the environment.
That is what I want to continue doing.
Using that observation skill, and if you were asked to
describe Angola, how would you do that?
It’s a country that is developing the cities, while the musseques grow in terms of population, but in terms of infrastructure we still have much to do. It is a country of opportunities.
Unfortunately, few people know how to take them. As journalists we have been very limited, we only have meetings, conferences and official events. Many times we forget to go to a hospital, a school, forget to tell stories that educate and remind
people that certain errors should not happen again.
Apart from journalism, Sebastião Vemba, embodies the figure of Tião MC, a rapper that sings and writes about the
environment where he lives. How does this activity relates
to journalism?
I think now is not so related, but when I was writing only
about society, I used to talk a lot with people in the neighborhood and with people linked to popular songs. So, I’ve always
ended up leaving a record and they called me, talking about
music and all that. It was a mechanism that was somehow
related to journalism. However, things changed a bit,
because I’ve lost a cousin who was my partner in music. But
I'm thinking about resuming everything and work on a new
project with some friends, to honor that person. In relation to
writing, I am also preparing a children's book, which recalls
our childhood.
classe executiva
executive class
Da frota Boeing 747 da TAAG
TAAG’s Boeing 747 Fleet
LUÍS GARNACHO
Um flight engineer de peso
A heavy weight flight engineer
Luís Manuel de Jesus Garnacho Mendes dos Reis é
Luís Manuel de Jesus Garnacho Mendes dos Reis is
o seu nome completo, de 60 anos, nascido em
his full name, 60 years old, born in Luanda, had his
Luanda, teve como primeiro emprego a antiga DTA
first jot the former DTA (Air Transport Division), the
(Divisão dos Transportes Aéreos), antecessora da
predecessor of TAAG – Angola Airlines, where he
TAAG – Linhas Aéreas de Angola, onde permanece
remains up until today.
até aos dias de hoje.
Texto/text: António Piçarra Fotos/photos: Carlos Lousada
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classe executiva
executive class
Empregou-se na DTA em 1967, aos 17 anos de idade, com a
função de auxiliar de administração de 3ª classe, foi subindo
na hierarquia da empresa, assistiu à mudança da empresa
para TAAG e hoje ainda lá está como instrutor de voo do
Boeing 747 e exercendo também a função de chefe de secção
dos Flight Engineer dessa frota de aviões.
Mas Luís Garnacho, ou Chila, como é tratado pelos mais chegados, é do tempo dos velhinhos “mas saudosos” aviões DC3 e
Fokker, com os quais a DTA, que considera ter sido “uma companhia aérea de rigor, conseguia nessa altura servir o país inteiro”.
Nessa longínqua década dos anos 60, a DTA tinha os escritórios centrais na Marginal de Luanda, no prédio onde está instalada a Transportadora Aérea Portuguesa TAP. E foi lá onde
se apresentou o jovem Chila, aos 17 anos, acabado de concluir o Curso Geral de Comércio.
Em 1970, aos 20 anos, teve necessariamente de deixar de trabalhar, apresentando-se para cumprir o serviço militar obrigatório na tropa portuguesa. Três anos depois regressou à
DTA, que entretanto havia mudado para a então avenida Luís
de Camões (actual sede da TAAG), colocado na Secção de
Fiscalização, Interline e Reservas. Posteriormente fez o curso
de comissário de bordo e, finalmente, o de técnico de voo”.
Já como sexagenário, casado e com dois filhos, ele afirma com
orgulho: “ainda permaneço a voar no melhor avião da empresa,
o Boeing 747-300. Mas também já voei no 707, onde fui instrutor
de voo, e sou actualmente instrutor de voo do 747. Exerço a função de chefe de secção dos Flight Engineer da frota Boeing 747”.
Luís Garnacho considera que, tal como sempre aconteceu ao
longo dos anos, continua a desempenhar o seu trabalho
“com profissionalismo, procurando sempre ajudar a empresa no sentido da sua melhoria”. Ele vai mais longe e acrescenta: “gostaria de ver a empresa em constantes progressos,
quiçá um dia comparada a qualquer uma das consideradas
grandes companhias aéreas do mundo”.
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He started working at DTA in 1967, with 17 years old, as a 3rd
class administration assistant, he progressed in the company, watched the company’s change to TAAG and he is still
there as flight instructor of the Boeing 747 and also as chief
of Flight Engineer section of that fleet of aircrafts.
But Luís Garnacho, or Chila, like the closest friends call him,
is from the time of the old “but longed for” DC3 and Fokker
aircrafts, with which the DTA, which considers to have been “a
thorough airline company”, could then serve the entire country”.
In that distant decade of the 60’s, the DTA had its central
offices in Luanda’s main street, in the same building where
the Portuguese Airline - TAP, is. And it was there that the
young Chila, at the age of 17, just finished the General Course
of Trade presented, himself.
In 1970, with 20 years old, he had necessarily to stop working;
he had to present himself for mandatory military service in
the Portuguese troops. Three years later he returned to DTA,
which meanwhile had moved to Avenida Luís de Camões (current TAAG’s headquarters), located in Surveillance, Interline
and Reservations Section.
Later he became flight attendant and majored as flight
instructor. Already in his sixties, married with two children, he
proudly says: “I still fly in the best plane of the company, the
Boeing 747-300. But I have also flown in 747. I’m chief of the
Flight Engineer Section of Boeing 747 fleet”.
Luís Garnacho considers that, just as always have happened
over the years, he continues to perform his work “with professionalism, always trying to help the company towards its
improvement.” He goes further and ads: “I would like to see
the company in steady progress, perhaps one day compared
to any of the considered large airlines in the world."
DE DTA A TAAG “RUMO À EXCELÊNCIA”
A DTA, a antecessora da companhia aérea TAAG, que acolheu Luís Garnacho em 1967, foi uma instituição criada no dia 8
de Setembro de 1938. É, portanto, considerada como “Mãe” da TAAG – Linhas Aéreas de Angola, que por isso também festeja 72 anos de existência.
A DTA fez-se aos ares angolanos em 1940, dois anos após a sua criação, com aviões Dragon Rapid, Klemen e Leopard
Moth, começando por cobrir as rotas domésticas Luanda Moçâmedes e Luanda-Lobito. O seu primeiro voo internacional foi
Luanda-Ponta Negra (Congo Brazzaville).
Em 1948, a empresa adquiriu aviões Douglas DC-3, Beechcraft e, em 1962, dotou-se de aparelhos Fokker Friendship F27. Em 1973, a DTA transformou-se em empresa de capital misto com a designação de TAAG – Transportes Aéreos de Angola
SARL, com capital maioritário do Governo, 30% da TAP e o restante repartido por empresas privadas.
A partir daquela altura, a TAAG passou a explorar os voos regionais para S. Tomé e Windhoek (Namíbia). Após a proclamação da independência de Angola, em 1975, a TAAG, já na qualidade de companhia de bandeira, e de comum acordo com
a TAP, começou a efectuar voos Luanda-Lisboa, operando com aviões da companhia portuguesa, com a sigla DT da TAAG.
A era jacto em Angola começou em 1976, com a aquisição do primeiro avião Boeing 737 200, que marcou também a introdução do actual símbolo da Palanca Negra Gigante. Seguiram-se os Boeing 707, que proporcionaram um acentuado crescimento da companhia.
De acordo com as estatísticas, em dois anos (1977/1978), a empresa passou da transportação em voos domésticos de 230
mil passageiros, para 795 mil 947. Em 1986, já transportava 1 milhão de passageiros, numa altura em que a situação de
guerra levava a que fosse o único elo de ligação entre as províncias do país.
Os anos 1993/94 foram marcados pela abertura das linhas de Harare e Joanesburgo, enquanto que a reabertura da escala de Lusaka aconteceu em 1995. Em 1997, começou a operar com o primeiro Boeing 747-300 nas rotas Lisboa, Joanesburgo,
Paris e Rio de Janeiro.
Mas a verdadeira renovação da frota da TAAG aconteceu em 2006, com a aquisição de dois aviões Boeing 777-200 ER e
quatro 737-700 NG. Apesar disso, o ano seguinte, 2007, foi menos bom para a TAAG, quando a Comissão Europeia decidiu
inclui-la na lista de companhias áreas impedidas de voar no espaço comunitário. A explicação foi a lenta adaptação às novas
exigências internacionais após o 11 de Setembro de 2003, o que levou à tomada de medidas de “refundação” da companhia.
Assim, num curto espaço de tempo, a TAAG conseguiu adaptar-se à nova legislação da aviação civil e cumprir a cem por cento
com as exigências da auditoria IOSA, permitindo-lhe ser membro de pleno direito da IATA e voltar a voar nos céus europeus.
O ano de 2009 foi eleito pela direcção da TAAG como sendo “o início de uma nova era, rumo à excelência”, marcado pela
abertura das rotas de Luanda para Dubai, São Paulo, Cidade da Praia, Cidade do Cabo e África Central, e reabertura da escala de Havana.
Esses novos destinos juntaram-se aos voos para as capitais do Zimbabwe, África do Sul, Zâmbia, Repúblicas do Congo
Brazzaville e Kinshasa, Portugal, São Tomé e Príncipe, Namíbia, Brasil (Rio de Janeiro) e China. A TAAG também voa em
Code Share para Paris, Londres, Bruxelas Frankfurt e Maputo.
Neste ano de 2010, ao assinalar 72 anos de existência como sucessora da DTA, a TAAG – Linhas Aéreas de Angola está
fortemente empenhada na implementação de novas ferramentas tecnológicas, tais como o Call Center e o Website
(www.taag.com), que permite reservas, aquisição de bilhetes e Check-in Online. No mesmo sentido se enquadra a encomenda à Boeing de dois aviões B777-300, dotado de um interior espaçoso e moderno, com entrega prevista para meados de 2011.
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FROM DTA TO TAAG “TOWARDS ESCELLENCY”
DTA, the predecessor of TAAG’s airline, which hosted Luís Garnacho in 1967, was an institution established on September
8, 1938. It is, therefore, considered the “Mother” of TAAG - Angola Airlines, which celebrates 72 years of existence.
DTA started flying in 1940, two years after its creation, with Dragon Rapid, Klemen and Leopard Moth planes, beginning
with domestic routes Luanda-Mocâmedes and Luanda-Lobito. Its first international flight was Luanda-Ponta Negra
(Congo Brazzaville).
In 1948, the company bought DC-3 and Douglas aircrafts, and in 1962, bought Fokker Friendships F-27. In 1973, the DTA
became a mixed capital company designated TAAG – Angola Airlie SARL, with the majority of its capital belonging to the
government, 30% TAP’s and the remaining distributed by private companies.
Since that time, TAAG started running the regional flights to S. Tomé and Windhoek (Namíbia). After the proclamation of
Angola's independence in 1975, TAAG, already acting as Flagship Company, and in agreement with TAP, began flying between Luanda and Lisbon, operating with Portuguese aircrafts, with the initials DT from TAAG.
In Angola, the jet era began in 1976, with the acquisition of the first Boeing 737-200. This also marked the introduction of
the current symbol of the Giant Sable Antelope.
This was followed by the Boeing 707, which provided a high-growth in the company.
According to statistics, in two years (1977/1979), the company had a growth from 230 000 passengers in domestic flights
to 795 947. In 1986, already had one million passengers, at a time when the war situation meant that flying was the only
link between the provinces.
The years 1993/94 were marked by the opening of Harare and Johannesburg lines, while the re-opening of the Lusaka
scale happened in 1995. In 1997, it began operating with the first Boeing 747-300 in the routes: Lisbon, Johannesburg,
Paris, and Rio de Janeiro.
But the true renewal of TAAG’s fleet came in 2006, with the acquisition of two Boeing 777-200 and four 737-700 ER NG.
Nevertheless, the following year, 2007, was less good for TAAG, when the European Commission decided to include it in
the list of airlines banned from flying in EU. The explanation was slow to adapt to new international requirements after
September 11, 2003, which led to the adoption of measures to the "re-foundation" the company.
Thus, in short time, TAAG managed to adapt to new legislation and civil aviation to meet one hundred percent with the
requirements of the IOSA audit, allowing itself to be a full member of IATA and return to fly in European Skies. The year
2009 was elected by TAAG’s management as "the beginning of a new era, toward excellence," marked by the opening of
routes from Luanda to Dubai, São Paulo, Cidade da Praia, Cape Town and Central Africa, and the reopening of the Havana
scale.
These new destinations have joined the flights to the capital of Zimbabwe, South Africa, Zambia, Congo Brazzville and
Kinshasa Republics, Portugal, São Tomé e Príncipe, Namibia, Brazil (Rio de Janeiro) and China. TAAG also flies in Code
Share to Paris, London, Brussels, Frankfurt and Maputo.
In 2010, to mark 72 years of existence as the successor of DTA, TAAG – Angola Airlines is strongly committed to the implementation of new technological tools, such as the Call Center and the Website (www.taag.com), which allows reservations,
purchase tickets and check-in Online. In the same context it was ordered the purchase of two Boeing B777-300 aircrafts,
with a large and modern interior, with delivery scheduled for mid-2011.
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CINEMA
DOS TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO…
CINEMA FROM WAY BACK WHEN…
As casas de cinema em Angola são referências das
The cinemas in Angola are points of reference in the
cidades que as acolhem. E são muitas, já que aque-
towns where they found a home. And there are many
le tipo de infra-estruturas está espalhado um pouco
of them. It’s the kind of infrastructure that you find all
por todo o país, tendo surgido muito antes ainda da
over the country, because their heyday started way
independência do país, o que permitia às autorida-
before independence, allowing the Portuguese colo-
des coloniais portuguesas levar entretenimento,
nial authorities to take entertainment – but especial-
mas sobretudo propaganda do regime, às diferentes
ly regime propaganda – all over the country. What
regiões. Da história ficam os marcos arquitectóni-
remains for the telling are the architectural lines, the
cos, o gosto pelo espectáculo e as salas multi-usos.
pleasure for shows and multi-purpose spaces.
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Texto/text: Miguel Gomes Fotos/photos: Carlos Lousada
Luanda é a rainha dessas salas: Cinemas Miramar, Avis
(actual Karl Marx), Restauração (onde hoje funciona a
Assembleia Nacional), Império (actual Atlântico), São Paulo,
Nacional, Tivoli (Corimba), Tropical, Kipaka, Ngola Cine,
enfim um rol de salas que não serviam apenas para a projecção de filmes, que remontam ao tempo do preto e branco,
mas também para espectáculos musicais e teatrais.
Mas fora do grande centro urbano que é Luanda, quase todas as
cidades acompanharam e desenvolveram os seus espaços de
recriação. Em Benguela, por exemplo, o velhinho Cine Benguela
e, posteriormente, o Cinema Monumental constituem importantes marcos históricos para todo o sempre daquela cidade sulana, tal como o cinema Empório na vizinha cidade do Lobito, onde
surgiram depois as cine-esplanadas Lobito e Flamingo.
Nas então cidades de Nova Lisboa (Huambo), Sá da Bandeira
(Lubango), Moçâmedes (Namibe), Novo Redondo (Sumbe) e
Marechal Carmona (Uíge) essas salas foram surgindo e tornaram-se referências, não só devido à exibição de películas,
mas também de vários outros espectáculos de animação.
Luanda is the queen when it comes to cinemas: the Miramar,
Avis (now Karl Marx), Restauração (where the National
Assembly now has its home), Império (now Atlântico), São
Paulo, Nacional, Tivoli (Corimba), Tropical, Kipaka, Ngola Cine –
a roll call of spaces that were not only used for films (going right
back to black and white) but also for musicals and the theatre.
Outside the main urban centre that is Luanda, however,
almost all the big towns followed the example and put up
their own spaces for entertainment. In Benguela, for
instance, the staid old Cine Benguela and later the Cinema
Monumental are important historical landmarks for this
southern town, as is the Empório in the neighbouring town of
Lobito, where later there came the cinema/terrace bars of
Lobito and Flamingo.
Spaces like this were springing up in Nova Lisboa (Huambo),
Sá da Bandeira (Lubango), Moçâmedes (Namibe), Novo
Redondo (Sumbe) and Marechal Carmona (Uíge). They
became points of reference, for the films you could see and
for other entertainment.
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ta um rebuliço, por conta da música alta das festas juvenis,
espectáculos de moda e do restaurante. Mas pouco ou nada
se verifica em matéria de cinema, de sétima arte...
E se em algumas poucas casas de cinema de Luanda ainda
se vão projectando algumas fitas, as que mais ordenam são
as de filmes de acção, com preferência para actores como
Rambo e Jean-Claude Van Damme, em grandes acrobacias
violentas e fantasiosas. O público é maioritariamente juvenil,
com salas bastante concorridas aos fins-de-semana nos
bairros, onde a preferência também recai para algum
romantismo.
Portanto, é possível constatar que, sobretudo nos subúrbios
da capital, o gosto pelo cinema se mantém entre a juventude
– uma geração nova que vai retratando as suas vivências e
frustrações diárias através da onda de algum “cinema”, feito
por produtores amadores, tendo como pano de fundo o sabor
do estilo musical Kuduro.
Tecnicamente débil, esta onda tem tido o mérito de reactivar
alguns circuitos de cinema, aproveitando até mesmo infraestruturas de nível elevado, muitas delas abandonadas à
sorte das "raves" e das festas juvenis.
Entretanto, procurando superar a degradação das casas de
cinema e a invasão das novas tecnologias, como vídeos cassete e DVD nos domicílios, começam a surgir novas salas de
exibição, como é o caso do Cineplace Belas Shopping, inau-
Mas na altura o separatismo era imagem de marca, havendo
como exemplo o que se passava no Cine Benguela, onde chegou a haver uma zona reservada a indígenas, que não
podiam assistir a todos os filmes. Nos cartazes de muitos filmes vinha explícito: “Interdito a Indígenas” – uma situação
só viria a desaparecer depois de 1961.
No entanto, torna-se importante destacar a forma de concepção da construção das casas de cinema. Se, num primeiro momento, sobretudo em Luanda e Benguela, se investiu
nas salas tradicionais fechadas, na década de 60 apostou-se
no conceito das cine-esplanadas, que se adaptavam muito
melhor aos seus climas quentes.
Mas o surgimento das cine-esplanadas foi também uma
forma de trazer elegância, ainda mais elegância, ao acto de
ir ao cinema. O Cine Miramar constitui um bom exemplo –
situado no alto da encosta com vista para a ilha de Luanda,
com a Marginal a seus pés. Paradoxalmente, hoje o seu telão
está praticamente abandonado, servindo apenas o palco para
acolher alguns concertos e actividades lúdicas, com serviço
de restaurante-bar em esplanada.
É um cenário que se repete em Benguela, onde o exemplo é
o Cine Kalunga – anfiteatro dos anos 60 a céu aberto com as
cadeiras colocadas ao estilo tradicional, rodeado de um bonito jardim. Porém, nos dias de hoje raramente se exibem longas-metragens naquela casa. Actualmente apenas se regis-
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But separation was one of the hallmarks. In the Cine
Benguela, for example, there was an area reserved for the
local black population, who were not allowed to see all the
films put on. On the posters for many films came the explicit
wording: “Local black people prohibited” – a situation that
was only to disappear after 1961.
It is important, however, to focus on the way the buildings
themselves were conceived. At the start, especially in Luanda
and Benguela, they were designed as traditional closed
spaces, but in the 60s the cinema/terrace bars became the
order of the day, so much better adapted as they were to hot
climates.
But the arrival of these cinema/terrace bars was also a way of
bringing elegance – even more elegance – to the business of
going to the cinema. The Cine Miramar is a good example – it
is situated at the top of a hill with a view over the island of
Luanda, and the coastal road, the Marginal, is at your feet.
Today, paradoxically, the screen is practically abandoned, and
just serves as the stage for an occasional concert or entertainment to add to its restaurant and bar service on the terrace.
And this is a scenario that is repeated in Benguela, where the
example is the Cine Kalunga – an open-air amphitheatre from
the 60s, with chairs laid out in traditional style, surrounded by
a beautiful garden. Today, though, only rarely will you find a
full-length feature film put on. There is just twirling around,
to go with the loud music that comes from youngsters’ parties, fashion shows and the restaurant. But there’s hardly
anything to do with the cinema, the so-called seventh art...
There are a few cinemas in Luanda where you can go to see a
film, but action films predominate, preferably with characters like
Rambo and actors like Jean-Claude Van Damme, in films replete
with great fantasy and violent acrobatics. Most of the spectators
are young and cinemas in the local neighbourhoods attract big
crowds at the weekend, where love stories are also popular.
But the love of films is still alive and well in the capital’s suburbs among the young – a new generation who are living out
their fantasies and daily frustrations through a wave called
“cinema”, put together by amateur producers, with the musical style of Kuduro as a backdrop.
Although the films are technically poor, they have at least
brought life back to some circuits, using what are in fact high
class facilities, long given over to the ravages of "raves" and
kids’ parties.
There are, in fact, new spaces for shows appearing, in an
attempt to get over the degradation of the old cinemas and
the invasion of new technologies such as videocassettes and
DVDs at home. There is the Cineplace Belas Shopping, inaugurated in March 2007. This is a complex with eight cinemas
designed on a stadium format with a total of 1,154 seats. It
looks as if there is a new era for the cinema coming to Angola.
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gurado em Março de 2007. É um complexo com oito salas de
cinema em formato Stadium com um total de 1.154 lugares,
o que faz pensar numa nova era para os cinemas em Angola.
Um pouco de história
O filme O Caminho-de-ferro de Benguela, realizado por Artur
Pereira em 1913, é o primeiro registo datado de cinema de
curta-metragem em Angola. Até ao final dos anos 1940,
foram produzidos inúmeros documentários muito virados
para o “exotismo” das paisagens, usos, costumes e culturas
dos povos, bem como o registo do crescimento e desenvolvimento do império colonial português em África.
Os registos também indicam que a primeira longa-metragem de ficção se chamou O Feitiço do Império (1940), de
António Lopes Ribeiro.
Durante as décadas de 1950 e 1960, prosseguiu-se com a
produção de documentários, sob responsabilidade do então
Serviço Cartográfico do Exército, Centro de Informação e
Turismo de Angola (CITA), Telecine-Moro e Cinangola Filmes.
Em 1971, surge o documentário “Angola, na Guerra e no
Progresso”, do tenente português Quirino Simões, considerado o primeiro filme português em formato de 70mm.
Aliás, é no período da guerra colonial que se regista o maior
número de produções de ficção, uma vez que a guerrilha
A bit of history
The film O Caminho-de-ferro de Benguela (The Benguela
Railway), directed by Artur Pereira in 1913, is the first recorded short film in Angola. Countless documentaries were produced up to the late 1940s, focusing on the “exotic” nature of
the landscapes, habits, ways of life and culture of local people. They also recorded the growth and development of the
Portuguese colonial empire in Africa.
Records also show that the first full-length feature film was
António Lopes Ribeiro’s 1940 film O Feitiço do Império (The
Spell of Empire).
During 1950s and 1960s, there were documentaries produced under the aegis of what were then the Serviço
Cartográfico do Exército, the Centro de Informação e Turismo
de Angola (CITA), Telecine-Moro and Cinangola Filmes. In
1971 came the documentary “Angola, na Guerra e no
Progresso” (Angola, War and Progress), directed by the
Portuguese lieutenant Quirino Simões. This is considered to
be the first Portuguese film in 70mm.
In fact, it was during the colonial war that the biggest number
of fiction films were produced, with the anti-colonial guerilla
group, the MPLA, also coming up with films like
Monangambê (1971) and Sambizanga (1972), directed by
Sarah Maldoror. They were inspired by works of Luandino
anti-colonial, conduzida pelo MPLA, também esteve na frente da produção dos filmes Monangambê (1971) e Sambizanga
(1972), de Sarah Maldoror, inspirados em obras de Luandino
Vieira, projectados nas salas de cinema do país apenas após
a independência.
Angola independente herdou, a 11 de Novembro de 1975, um
total de 51 salas de cinema, sendo dezassete em Luanda,
sete em Benguela, três no Huambo, três no Namibe, três no
Uíge, três no Bié, três no Kuanza-Norte, três no Kuanza-sul,
duas na Huíla, duas em Cabinda, uma para as províncias da
Lunda-Sul, Lunda-Norte, Kuando Kubango, Moxico e Zaire.
Luanda já contava nos anos quarenta com o cine-teatro
Nacional, mas também com o não menos célebre cinema
Restauração, cujo público viu actuar artistas de renome
internacional, como o francês Charles Aznavour, a fadista
portuguesa Amália Rodrigues, Duo Ouro Negro, de Angola,
espectáculos de ópera e de bailado. Mas o Restauração também se celebrizou com o espectáculo de variedades “Chá
das Seis”, apresentado por Artur Peres e Alice Cruz. O que
dizer do cine-dancing Tropical, que realizava semanalmente
o serão musical “Caixinha de Surpresas”?
O cinema Avis fez a sua aparição no Bairro Alvalade, com
uma cerimónia de inauguração proporcionada pela pequena
cantante espanhola Marisol. Esta casa tornar-se-ia, entretanto, mais célebre, por ser palco dos concursos de Miss
Angola, a primeira das quais, a conhecida Riquita, nascida no
Vieira, though they were only seen in the cinemas after independence.
At the dawn of independence, on 11 November 1975, there
were 51 cinemas in the country, with seventeen in Luanda,
seven in Benguela, three in Huambo, three in Namibe, three
in Uíge, three in Bié, three in Kuanza-Norte, three in Kuanzasul, two in Huíla, and two in Cabinda, and one for the
provinces of Lunda-Sul, Lunda-Norte, Kuando Kubango,
Moxico and Zaire.
In the 1940s, Luanda boasted the Nacional (cinema and theatre), along with the no less famous Restauração cinema,
where audiences could see famous international artists such
as the French singer Charles Aznavour, the Portuguese fado
singer Amália Rodrigues, Duo Ouro Negro, from Angola, as
well as opera and ballet. But the Restauração was also
famous for its variety shows, such as “Chá das Seis”, presented by Artur Peres and Alice Cruz. And what can you say about
the cinema/dance hall Tropical, where you could go and see
the weekly musical “Caixinha de Surpresas” (Box of
Surprises)?
The Avis cinema made its debut in the neighbourhood of
Alvalade, with the inaugural ceremony starring the little
Spanish singer Marisol. The stage here was, however, destined to become more famous with the Miss Angola contests,
with the first (in the 1970s) won by the famous Namibe born
Riquita, who would later also become Miss Portugal. This was
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Namibe, viria também a tornar-se em Miss Portugal, nos
anos 70. Foi também nesta década que o Avis se notabilizou
ao apresentar o célebre espectáculo musical “Hair”.
Já o cinema Miramar veio revolucionar o panorama dos
espectáculos, ao começar a apresentar, em 1962, o espectáculo Cazumbi, realizado por Luís Montês. Foi aqui também
que os Jograis de São Paulo actuaram em espectáculos que
fizeram história na cultura angolana.
O Império foi inaugurado em 1966 com a estreia em território
nacional do filme “My Fair Lady”. Este cinema ganhou grande
popularidade entre os jovens com a realização, aos sábados à
tarde, de festivais de rock, que atraíam milhares de espectadores.
Em matéria de artes cénicas, surgiria em 1968 em Luanda o
Teatro Avenida, que se juntou ao “velhinho” Cine-Teatro
Nacional, que ainda hoje existe e está sob a responsabilidade da Associação Cultural Chá de Caxinde, que ali mantém
uma programação ainda virada para espectáculos teatrais e
musicais. Mas também não se pode deixar de falar das duas
salas dos Cines Alfa 1 e 2, que também serviram como estúdios para programas infantis de televisão.
Porém, fora dos espaços frequentados pela elite colonial portuguesa e angolana, o N'gola Cine era referência em matéria
de espectáculos culturais semanais com artistas angolanos,
muitos dos quais se tornaram internacionalmente famosos.
Mas também se destacaram outras salas mais ao alcance dos
bolsos do povo, como é o caso do Cine Colonial em Luanda.
Supremamente conhecido como “Clô Clô”, no bairro de
S.Paulo, quando esgotada a sua lotação, servia uma cadeira
trazida de casa ou mesmo a utilização do chão como assento.
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also the decade when the Avis became famous for its production of the musical “Hair”.
The Miramar cinema revolutionised the field with its 1962
presentation of Cazumbi, directed by Luís Montês. This was
also where the Jograis de São Paulo put on shows that have
gone down in the cultural history of the country.
The Império was officially opened in 1966 with the premiere in
the whole of Portugal of the film “My Fair Lady”. This cinema
became very popular among young people with rock festivals
every Saturday afternoon, seen by thousands of spectators.
In terms of the scenic arts, the Teatro Avenida arrived on the
Luanda scene in 1968 to join the “aging” Cine-Teatro
Nacional, which still exists and is under the responsibility of
the Associação Cultural Chá de Caxinde. They still have a programme including theatre and musicals. And we mustn’t forget the two cinemas Cines Alfa 1 and 2, which were also used
for children’s television shows.
Meanwhile, outside the places frequented by the Portuguese
and the Angolan elite of the time, there was the N'gola Cine
which put on weekly cultural shows with Angolan artists,
many of whom became famous internationally.
And there were also other places which the local people could
afford, among them the Cine Colonial in Luanda. This was in
the S. Paulo district, and known by all and sundry as “Clô
Clô”. When the place was sold out, you could bring a chair
from home, or simply use the floor as a seat.
PUBLIREPORTAGEM / PUBLIREPORT
Recantos feitos para
gozar a vida em Luanda
Nooks made to enjoy life in Luanda
Na cidade de Luanda, a fervilhante capital de Angola, estão a
surgir empreendimentos com um conceito inovador: os condomínios clube. São projectos exclusivos de residências,
concebidos para corresponder a padrões elevados de exigência. A arquitectura e as infra-estruturas permitem que os
moradores desfrutem de forte bem-estar e lazer completo
com máxima segurança. Em suma, estes recantos reúnem
as seguintes vantagens: qualidade, conforto, privacidade,
facilidade de acesso e paz.
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In the city of Luanda, the bustling capital of Angola, are emerging
enterprise s with an innovative concept: the club condominiums.
These are exclusive home projects, made to fit high standards of
demand. The architecture and infrastructure allow residents to
enjoy total leisure and wellbeing with maximum security. In short,
these places have the following advantages: quality, comfort, privacy, easy access and peace.
The former are located in the trendy neighborhood of Talatona, in
the heart of South Luanda, urbanized area, with wide access
Os primeiros estão localizados no
moderno Bairro de Talatona, no coração de Luanda Sul, região urbanizada,
com largas vias de acesso e amplas
áreas verdes, para além de condomínios residenciais, hotéis, edifícios
empresariais, shopping centers, centros de saúde, universidades e escolas
para miúdos e jovens. Perto de tudo,
Talatona é uma área para moradia,
lazer e negócios.
Vale a pena conhecer Talatona e seus
novos condomínios clube.Um exemplo
é o Noblesse Residence. Em seus edifícios de cinco andares, os apartamentos têm plantas que se adequam às
necessidades e ao gosto do comprador. O projecto foi concebido pelo Arquitecto Sidney Quintela, brasileiro consagrado
no mercado internacional, inclusivamente na Europa. Ele
explica sua forma de pensar: “Busco seguir as expectativas
do cliente e realizar um trabalho que permita mudanças ao
longo do tempo. Afinal, as moradias devem ser dinâmicas
como as vidas das pessoas que nelas residem”.
Nas áreas comuns, cuidadosamente planeadas, o Noblesse
Residence reúne espaços equipados para convívio, descanso
e prática de desporto. Em madeira e vidro, o gazebo, o espaço zen e o SPA formam um conjunto especialmente aprazível. As obras, em estado adiantado, estão contratadas para
entrega no segundo semestre de 2011, mas tudo indica que
este prazo poderá ser antecipado.Certamente os que ali residirem poderão gozar a vida em sua plenitude. Isso já está a
ocorrer no Arte Yetu Residencial. Seus moradores contam
com áreas de lazer organizadas em praças temáticas integradas ao paisagismo. Ali todos os ambientes são claros e
arejados. Esteja-se a praticar musculação, a jogar pinguepongue ou a ler em uma tela de computador, é possível avistar o verde das praças e o límpido azul do céu. Ou seja, o condomínio propicia o convívio social e também garante prazer
na privacidade.
Os dois empreendimentos são projectos da Odebrecht, pioneira na construção de condomínios clube em Angola. A
empresa actua no sector imobiliário, um dos mais vigorosos
da economia angolana, desde 1997, quando lançou o condomínio de alto padrão Atlântico Sul. Actualmente detém um
notável leque de produtos, dentre eles os condomínios
Riviera Atlântico, Morada dos Reis e Belas Business. “A
Odebrecht acompanha a evolução do conceito de moradia e
os anseios dos que residem em Angola. Temos compromisso com a qualidade, com a entrega das obras no prazo pactuado, e com a satisfação total de nossos clientes”, afirma o
Engenheiro Félix Martins, director da área imobiliária da
Odebrecht Angola.
roads and large green areas, as well as residential condominiums, hotels, business companies, shopping centers, health centers, universities and schools. Close to everything, Talatona is a
residential, leisure and business area.
It‘s worth knowing Talatona and its new club condos. A great example is the Noblesse Residence. With five-story buildings, the apartments have plans suited to the needs and tastes of the buyer. The
project was designed by the architect Sidney Quintela, a well known
Brazilian in international markets, including Europe. He explains
his point of view: "I try to follow the client's expectations and try to
do something that allows changes over time. After all, the houses
should be dynamic like the lives of people living in them.”
The Noblesse Residence, in the common areas, carefully
planned, combines equipped areas for leisure, relaxation and
sports. Made in wood and glass, the gazebo, the Zen space and
the Spa form a particularly pleasant area. The works, already in
an advanced stage, will be finished in the second half of 2011 but
it appears that this deadline may be anticipated. Certainly, those
who will live there will enjoy life to its fullest. This is already happening in the Art Yetu Residential. Its residents have recreational
areas organized in thematic parks integrated into the landscape.
All environments are light and airy. Either you’re practicing bodybuilding, playing ping pong or reading on a computer screen, you
can see the green areas and clear blue sky. Meaning, the condo
provides social contact and also ensures pleasure in privacy.
The two projects belong to Odebrecht, pioneer in building club
condominiums in Angola. The company operates in the housing
sector, one of the most vigorous of the Angolan economy since
1997 when it launched the high-end South Atlantic condominium.
Currently it has an outstanding range of products, among them
the Atlantic Riviera condominiums, Morada dos Reis e Belas
Business. "Odebrecht accompanies the evolution of the concept
of housing and the desires of those living in Angola. We are committed to quality, delivery deadlines, and the total satisfaction of
our customers, "said the engineer Félix Martinez, director of
Odebrecht’s real estate area in Angola.
Informações adicionais podem ser obtidas pela internet
no sitio http://www.odebrechtangolaimob.com.
For additional information, please visit the website:
http://www.odebrechtangolaimob.com.
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à mesa
at table
Caravelas ao Mar!
CARAVELS – ANCHORS AWAY!
Texto/text: Aoni D’Alva Fotos/photos: Carlos Lousada
Faça-se a um mar de emoções gastronómicas, navegue pelo
mundo mágico dos sabores. Não tenha pressa, porque o
barco espera por si, atracado no restaurante do Hotel
Continental – o Caravela.
No primeiro piso, o restaurante foi acomodado numa ampla
sala, antigo salão de bailes, com várias janelas viradas para
o largo do Baleizão, às portas da marginal. O vai-vem dos
carros lá fora lembra a ondulação do mar e abre o apetite.
A sala, caprichosamente climatizada, é salpicada harmoniosamente por mesas com toalhas que juntam África ao resto
do Mundo, umas lisas, outras estampadas com animais selvagens, ao dispor de quem estiver com fome de leão.
Se for almoçar, sempre a correr como é hábito nas grandes
metrópoles, tem à sua disposição um magnífico buffet. Mas,
antes sequer de se sentar à mesa, é-lhe posta entre as mãos
uma pequena porção de gel higienizado, apropriado para o serviço self-service, a testemunhar um atendimento civilizado.
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Take on board a sea of gastronomic emotions, sail through
the magic world of tastes. Don’t rush. The boat will wait for
you. It is anchored in the restaurant of the Hotel Continental
– it’s the Caravela.
The site chosen for the restaurant was large room on the first floor
that used to be the ballroom, with windows overlooking the
Baleizão square, at the entrance to the coast road. The coming
and going of the cars out there reminds you of the waves of the sea
and really opens up your appetite. The room is carefully air conditioned, and is dotted with tables covered in cloths that bring Africa
and the world together. Some of them are plain, some printed with
wild animals, at the ready for anyone with the appetite of a lion.
If you go for lunch, in a hurry of course, this being a great
metropolis, you have a magnificent buffet set out for you. But
before you even sit down, you are handed a small piece of disinfected ice, created specially for the self-service, and witness to the civilized care over the way you are treated.
Por aproximadamente 75 dólares, pode comer tudo o que
quiser e aquilo que o seu organismo conseguir digerir. Dê
azo ao seu apetite, porque não faltarão tentações, a começar
pelos aperitivos: tábua de queijos e enchidos, com várias
possibilidades de escolha, parece um bom começo. Mas
também há aperitivos da terra, como os sempre apetitosos
Catatos – pequenas larvas carnudas fritas e temperadas com
sal e gindungo de estalar a língua.
No capítulo das entradas, as atenções são depositadas nas
lagostas, grandes e avermelhadas por fora, brancas e suculentas por dentro, que podem ser longa e intensamente
degustadas com saladas variadas à base de milho verde,
tomate, pepino, alface, cenoura, cebola e tudo o que uma
salada deve conter.
Quanto aos pratos principais, há várias sugestões a cada dia
da semana, sendo possível encontrar-se pratos nacionais às
quintas-feiras: Funge de Bombó (mandioca) e Funge de
Milho, Moamba de Galinha, Calulu de Peixe, Carne Seca com
molho de Menha Ndungo…
Pratos do buffet internacional são servidos todos os dias,
entre carnes e peixes (cozidos, grelhados e assados no
forno), com requintes também para a comida vegetariana,
numa sala emoldurada de gente de todas as latitudes: africanos, asiáticos, americanos, europeus…
Música de fundo de qualidade acompanha o degustar de tão
simpáticos e saborosos pratos, num cenário engalanado com
For around 75 dollars, you can eat whatever you like, and whatever your organism can take. Whet your appetite (no lack of
temptations coming up) with an appetizer for starters: a cheese
board and sausage meats, a wide variety that makes it a nice
place to start. And there are also local starters, such as the
ever-appetising Catatos – small, meaty larvae fried and spiced
with salt and gindungo, enough to make your tongue smart.
For a first course, you can focus on the lobster. They are large
are reddish on the outside and white and tasty inside and can
be slowly and intensely enjoyed with a variety of salads, based
on green corn, tomatoes, cucumber, lettuce, carrots, onions,
and everything a salad should contain.
As for the main dishes, there are various suggestions for each
day of the week, with Angolan dishes on Thursday: Funge de
Bombó (mandioc) and Funge de Milho, Moamba de Galinha,
Calulu de Peixe, Carne Seca with Menha Ndungo sauce…
There are international buffet dishes served every day, including meat and fish (boiled, grilled and oven roasted), and tasty
dishes for vegetarians. You’ll find people from all over the
world in the room: African, Asian, American, European…
There is quality background music to set the scene for really
nice, tasty meals, the decoration embellished with a large
ceramic tile panel depicting caravels off Lisbon in the time of
the Portuguese discoveries. And the flooring also has its own
history, indeed it does, since it dates from the building of the
hotel, going back more than 50 years.
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à mesa
at table
um grande painel em azulejo, onde se vêem caravelas ao
largo de Lisboa do tempo dos ‘descobrimentos’ portugueses.
Tão histórico quanto o painel é o soalho. Sim, o soalho que
remonta ao nascimento do hotel, há mais de 50 anos.
O Restaurante Caravela, além de brindar os seus clientes com um
serviço excepcional, boa comida e bebida e óptima localização,
prima por um serviço ‘transparente’, com a sua cozinha aberta a
visitas da clientela. Um cartaz não deixa dúvidas: “Convidámo-o a
visitar a nossa Cozinha”, com tradução em inglês.
SUGESTÕES
Escolha uma mesa próxima às janelas, para que possa
espreitar o movimento da rua, que vai dar à baía de Luanda.
De seguida, abra o apetite com presunto com melão e,
depois, passe para o Frango à Americana com batatas coradas e salada de alface, milho e tomate.
Se preferir peixe, a sugestão vai para um Taco- Taco com
batatinhas e vegetais cozidos, ao que pode certamente
acrescentar alguns quitutes da terra, como milho assado,
batata doce ou mandioca cozidos.
Regue tudo com um vinho tinto ou branco à escolha, pois a
carta de vinhos da casa é vasta, entre novos e velhos de
várias origens. Mas também pode optar por sumos de fruta
nacional, sobretudo de múkua, maçã da Índia, melancia com
gengibre e sape-sape, sem falar da saborosa quissângua.
Como sobremesa, as sugestões recaiem, entre várias possibilidades, na fruta da época (o cajú é uma delícia!), pudim de
leite, bolo de banana, mousse de chocolate, queques, queijadas e bolos de coco. Bom apetite!
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The Caravela restaurant not only pampers its customers with
excellent service, very good food and drink and a perfect spot
to enjoy, it also works on the basis of a ‘transparent’ service,
with the kitchen open for any customer to visit. And you’ll find
a poster in Portuguese and English that leaves no doubt: “We
invite you to visit the kitchen”.
SUGGESTIONS
Choose a table near the windows, so you can look out over the
hustle and bustle of the street that leads to the bay of Luanda.
Then get the taste buds working with melon and smoked ham
and go on to American style chicken with potatoes and salad
made of lettuce, corn and tomatoes.
If you prefer fish, go for the Taco-Taco with small boiled potatoes and vegetables, and you can certainly add some local
delicacies such as roasted corn, sweet potato and boiled
mandioc.
Wash it all down with a red or white wine. The list is huge,
with new and vintage from many different places. You can, of
course, go for a local fruit juice, the nicest being múkua,
maçã da Índia, watermelon with ginger and sape-sape, not to
mention the delicious quissângua.
For the dessert, there are various possibilities, among them
fruit in season (the cashew is delicious!), milk pudding,
banana cake, chocolate mousse, cakes, queijadas and
cocoanut cake. Enjoy!
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national boarding
GABELA
quanto ela é bela…
How beautiful she is…
Texto/text e/and Fotos/photos: Carlos Lousada
O seu nome de origem é N'Guebela, fundada a 28 de Setembro de 1907,
The name derives from N'Guebela, and it was founded on 28 September 1907, 103
há 103 anos. Com o andar do tempo, sob influência da língua portuguesa,
years ago. As time went by, and under the influence of Portuguese, the name ‘evolved’
o seu nome ‘evoluiu’ para Gabela – terra acolhedora e de belas paisa-
into Gabela – a welcoming land with beautiful scenery, and temperate climate all
gens, clima ameno nos seus mais de mil metros acima do nível do mar.
of a thousand metres above sea level.
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national boarding
nos portugueses não era o café, pois os dois primeiros
homens brancos a chegarem à região em 1888, provenientes
de Porto Amboim, tinham como objectivo abrir uma empresa
de comércio de tecido, cera, marfim e borracha.
Posteriormente, comerciantes, missionários e militares portugueses apropriaram-se das plantações de café dos nativos
da região, tornando-se em novos proprietários, o que provocou várias e grandes revoltas. Reza a história que a primeira
revolta aconteceu em 1893, quando foram queimadas fazendas de café e envenenados os patrões. As outras registaramse de 1895 a 1896 e em 1917, o que obrigou grande parte dos
portugueses a refugiar-se em Porto Amboim.
Perante a queixa dos colonos de inércia do Governo português face à denominada “fúria dos indígenas”, intervenções
militares conseguiram conter as revoltas, permitindo que
Norton de Matos, duas vezes governador de Angola
(1912/1915 e 1921/1923) abrisse estradas utilizando mão-deobra indígena a golpes de enxadas, catanas e picaretas e edificasse a vila Boa Entrada.
Descrições apaixonadas descrevem: “Boa Entrada era a
menina dos olhos do Amboim-Gabela. Com as suas vivendas construídas à moda californiana, os seus bairros bem
ordenados urbanisticamente: bairro residencial para quadros superiores, bairro dos operários, hospital, clube, pis-
Sede do município de Amboim, na província do Kuanza-Sul, a
Gabela é dominada pelo verdejante morro do Cruzeiro, onde
permanece um velho fortim colonial português, fornecendo
ainda, na estrada que lhe dá acesso, o espectáculo natural
das quedas de água de Binga, no rio Keve.
Foi até aos anos 70 uma das mais prósperas terras angolanas com as suas plantações de café, que chegou a ter títulos
de um dos melhores do mundo, e floresciam em fazendas
agrícolas constituindo verdadeiras povoações – propriedades da então toda-poderosa Companhia Angolana de
Agricultura (CADA).
Nos arredores da Gabela, a escassos sete quilómetros,
situa-se a pequena vila Boa Entrada, antiga sede da companhia CADA, que devido à produção do café (agora abandonado e seco pelo tempo) era bafejada pelo Caminho de ferro do
Amboim (CFA), construído entre 1923 a 1941, com os comboios a fazerem o transporte do fruto até Porto Amboim, no
litoral (antes era escoado por caravanas de nativos), com
destino à Holanda, Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos.
Mas, segundo registos históricos, o objectivo inicial dos colo-
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Gabela is in the municipality of Amboim, in the province of
Kuanza-Sul, and is overlooked by the green Cruzeiro hill,
where there is an old Portuguese colonial fortress. From the
road that leads there, you can still see the Binga waterfalls on
the river Keve.
Until the 70s, it was one of the country’s most prosperous
regions, with coffee plantations that came to be famous as
some of the best in the world. It blossomed with agricultural
estates that became settlements in their own right – properties that belonged to the once all-powerful Companhia
Angolana de Agricultura (CADA).
In the surroundings of Gabela, a mere seven kilometres distant, there is the little town of Boa Entrada. It used to be
where the head office of CADA could be found, and because of
the coffee production (now abandoned and dried out with
time) it was favoured by the Amboim railway (CFA), built
between 1923 and 1941, with trains taking the crops to Porto
Amboim on the seaboard (before being offloaded by teams of
natives), destined for Holland, Belgium, England and the
United States.
According to historical records, however, the first aim of the
Portuguese colonials was not coffee. The first two white men
to arrive in the region in 1888, up from Porto Amboim, had in
mind a company to trade in fabrics, wax, ivory and rubber.
Later, Portuguese traders, missionaries and soldiers took
over the coffee plantations run by local people and became
the new owners. Many large-scale revolts ensued. History has
it that the first revolt was in 1893, when the estates were
burnt and the owners poisoned. Others followed, from 1895 to
1896 and in 1917. This last led to many of the Portuguese taking refuge in Porto Amboim. The colonial population then
complained about the inertia of the Portuguese government
in the face of what they called the “fury of the local populace”,
and eventually military intervention contained the revolts,
allowing Norton de Matos, who was governor of Angola on
two separate occasions (1912/1915 and 1921/1923) to open up
roads, using local manpower spurred by beatings – with
spades, machetes and picks. And so it was that the town of
Boa Entrada was built. It has been described in passionate
terms: “Boa Entrada was the pride and joy of AmboimGabela. With its California style residences, its neighbourhoods designed according to urban planning: a zone for the
upper echelons, one for the workers, the hospital, the club,
swimming pool, cinema, library, football, clay pigeon shoot,
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cina, cine, biblioteca, campo de futebol, tiro aos pombos,
barragem eléctrica própria... Enfim, era aquele paraíso
onde se podia viver e morrer sem necessidade de ir à cata
de novos céus!”
As descrições acrescentam: “Não foi por acaso que o poeta
Agostinho Neto lá foi... talvez para aflorar com a sua poderosa pena de escritor os céus ali tão pertinhos!”. Hoje em dia,
os céus já não estarão tão pertinhos, pois a terra já não oferece o espectáculo deslumbrante do café em flor, pelo facto
de ter sido bastante atingida pela calamidade da guerra.
Aliás aquela região, na ponte sobre o rio Keve, na estrada
Quibala – Gabela, foi palco de uma das batalhas mais pesadas da guerra, onde foi travado o avanço das forças invasoras
do então regime sul-africano.
Hoje em dia, vêem-se os cerca de 150 mil habitantes da
Gabela, a 95 quilómetros do Sumbe (capital provincial) a
dedicarem-se à agricultura de subsistência e à revenda de
vários produtos, mas com engajamento das autoridades na
revitalização da produção do café.
its own hydro-electric dam... in short, it was a paradise. You
could live and die here and not feel the need to go out and
search for new skies!”
The descriptions add: “It was not by chance that the poet
Agostinho Neto came here... maybe to bring within his grasp
through his powerful pen the heavens that were so close!”
Today, the heavens would not seem so close, since the land
does not offer the spectacular sight of coffee plants in flower,
so badly battered was the region by the calamity of war.
This in fact was the area, on the bridge over the river Keve, on
the Quibala – Gabela road, that one of the most ferocious battles of the war was fought, the point where the invading forces
of the old South African regime were halted in their tracks.
Nowadays, the 150 thousand-odd inhabitants of Gabela, some
95 kilometres from Sumbe (the provincial capital) devote
themselves to subsistance agriculture and to the sale of a
small range of products. The authorities, however, are eager
to bring back the coffee plantations.
With the support of the National Coffee Institute (Instituto
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Com o apoio do Instituto Nacional do Café, introduzem-se
novas espécies e melhoram-se os viveiros, no sentido de
contribuir para que Angola regresse à condição de quarto
produtor mundial do bago vermelho e para que o colorido
das suas flores volte a alegrar a sua paisagem e delicie os
visitantes, que dispõem de uma estrada em boas condições e
permite uma viagem em poucas horas.
Pelo caminho, depois do Sumbe, o visitante deliciar-se-á
com a Cachoeira do Binga, no Rio Keve, onde poderá relaxar
num pequeno parque junto às quedas de água, com ressaltos
que provocam um mar de espuma branca, num cenário
dominado pelo verde da vegetação nas margens do rio.
Já dentro da cidade, a visão concentra-se no Morro do
Cruzeiro (ou Catengue), que domina toda a cidade, onde o
que prende as atenções é um fortim, onde os portugueses
ter-se-ão abrigado na sequência da “fúria dos indígenas” de
1917, antes da fuga para Porto Amboim.
Existem pelo menos duas versões acerca da origem do nome
Gabela. Segundo soubemos durante a nossa visita àquela
cidade, uma dessas versões assenta no facto de os dois primeiros colonos portugueses que chegaram à área terem lá
encontrado uma velha mulher chamada N’Guebela. Terão
sido os portugueses Ernesto da Silva Melo e António do
Couto que, em 1888, perguntaram pelo nome do local, ao que
a velha deu o seu próprio nome, por falta de entendimento.
A outra versão sustenta que o nome provém do morro do
Catengue, actual morro do Cruzeiro, onde ter-se-á escondido o Soba (chefe tribal) fugindo da perseguição do homem
branco. Conforme soubemos, a palavra N’Guebela significa
“refúgio” ou “esquiva”, e teria sido no morro onde o Soba se
“esquivara” da perseguição.
Nacional do Café), they have introduced new types of plant
and have improved the nurseries, playing their part in bringing the country back to what was once its position as the
fourth largest producer of the red bean. Then we shall again
see the flower’s colours brightening up the countryside and
delighting the visitors, who can journey on a good road, on a
route that can be covered in only a few hours.
On the way, after Sumbe, the visitor can enjoy the Cachoeira
do Binga, on the river Keve, where you can relax in a little park
near the waterfalls, where the waves leap high in a sea of
white foam, the scene dominated by the green of vegetation
along the river banks.
In the town itself, everything focuses on the hill known as the
Morro do Cruzeiro (or Catengue), which overlooks the whole
area. What catches your eye is the fortress, where the
Portuguese apparently took shelter from the “fury of the local
populace” in 1917, before they fled to Porto Amboim.
There are at least two versions of where the name Gabela
came from. As far as we could find out during our visit to the
town, one of the versions is based on the fact that the first
Portuguese colonisers arriving in the area found an old lady
called N’Guebela. These would seem to be Ernesto da Silva
Melo and António do Couto, in 1888, asking for the name of
the place, and the old lady, not understanding what name they
wanted, gave her own.
The other version is based on the name for the hill known
as the morro do Catengue, now morro do Cruzeiro, where
a tribal chief seems to have hidden from white men in pursuit. It is known that the word N’Guebela means “refuge”
or “hiding place”, and that was where the chief “hid” from
his pursuers.
rota cultural
the cultural round
Dimensão política e cultural
de AGOSTINHO NETO
Political and cultural dimension of Agostinho Neto
O primeiro presidente de Angola independente,
The first president of independent Angola, António
António Agostinho Neto, foi mais uma vez homena-
Agostinho Neto, was once again honored in
geado no mês de Setembro, a propósito do 88º ani-
September, about the 88th anniversary of his birth
versário do seu nascimento e 31º da sua morte, tal
and 31st of his death, as happens every year.
como anualmente acontece.
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rota cultural
the cultural round
Por esta ocasião, todos os anos é posto em marcha um extenso programa comemorativo celebrando a notável trajectória de
Agostinho Neto, enquanto político combatente pela independência de Angola, estadista, homem de cultura e humanista.
Neste ano de 2010, como antecâmara das jornadas de celebração do nascimento e morte de Agostinho Neto, o Presidente de
Portugal, Aníbal Cavaco Silva, teve a ocasião de depositar uma
coroa de flores no seu monumento em Luanda, no quadro da
visita que efectuou a Angola no mês de Julho.
Ainda este ano, no mês de Março, também o Presidente da
Namíbia, Lucas Pohamba, condecorou em Windoeck o primeiro
Presidente de Angola com a Ordem da Welwitshia de Primeira
Classe, a maior e mais antiga condecoração do país. Por ocasião
do vigésimo aniversário da independência da Namíbia, Neto foi
homenageado pelo seu contributo à causa da libertação da
Namíbia e de todos os países da região Austral de África.
No ano passado, as atenções concentraram-se no Colóquio
Internacional sobre a Vida e Obra de Agostinho Neto, organizado pelo Ministério da Cultura com o intuito de “promover e
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Every year, on this occasion, an extensive commemorative
program takes place celebrating the remarkable path of
Agostinho Neto, as a politician fighting for the independence
of Angola, statesman, man of culture and humanist.
In 2010, as the preview of the celebration journeys upon the
birth of the death of Agostinho Neto, The Portuguese
President, Aníbal Cavaco Silva, honored Agostinho Neto, placing a wreath on his monument in Luanda, during his visit to
Angola, in July.
In March, in Windoeck, the President of Namibia, Lucas
Pohamba, also honored the first Angolan President with the
Order of Welwitschia, the largest and oldest award of the
country. On the occasion of the twentieth anniversary of
Namibia’s independence, Neto was honored for his contribution to the liberation of Namibia and all countries of the
southern African region.
Last year, the attention focused on the International
Conference about the Life and Work of Agostinho Neto,
organized by the Ministry of Culture in order to “promote and
rota cultural
the cultural round
incentivar o estudo e a investigação científica da sua notável
obra, como forma de a valorizar e divulgar nos círculos académicos, com vista ao seu reconhecimento a nível nacional e
internacional e dar a conhecer o seu legado às novas gerações”.
O colóquio internacional debruçou-se sobre o pensamento
estratégico de Agostinho Neto no desenvolvimento da luta de
libertação nacional e dos povos, a sua obra literária e pensamento cultural, dimensão política do seu discurso, a sua poesia no contexto da literatura.
António Agostinho Neto nasceu na aldeia de Ícolo e Bengo em
17 de Setembro de 1922 e morreu em 1979 num hospital em
Moscovo no decorrer de complicações durante uma operação a
um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de completar 57 anos de idade.
Após ter completado o liceu em Luanda, beneficiou de uma
bolsa missionária e foi estudar em Portugal, onde veio a fazer
parte, na década de 40, do movimento dos jovens intelectuais
angolanos “Vamos Descobrir Angola”.
Em Portugal, formou-se em medicina na década de 50 e fez
parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na luta pela independência dos seus
países, naquela que ficou conhecida como “Guerra Colonial
Portuguesa” ou “Guerra do Ultramar”.
Nos anos 50/60 foi várias vezes preso pela polícia política portuguesa, PIDE, deportado para a prisão de Tarrafal, sendo-lhe
fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio, vindo
a assumir a direcção do Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962.
Após a queda do regime fascista colonial em Portugal, em 25
de Abril de 1974, tornou-se em 1975 no primeiro presidente de
Angola até 1979, quando morreu, tendo sido substituído pelo
actual presidente José Eduardo dos Santos.
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encourage study and scientific research of his remarkable
work, as a way to value and to advertise it in the academic circles, searching for both national and international recognition
and to leave his legacy to future generations.”
The international conference focused on the strategic thinking of Agostinho Neto, in the development of the struggle for
national liberation and also of the people, his literary work
and cultural thought, the political dimension of his speech
and his poetry in the literary context.
António Agostinho Neto was born in the village of Ícolo and
Bengo on September 17th, 1922 and died in 1979 at a hospital in Moscow from complications during an operation to liver
cancer, just days before his 57th birthday.
After finishing high school in Luanda, he received a missionary scholarship and went to study in Portugal, where he
became, in the 40’s, part of the movement of the young intellectual Angolans “Vamos Descobrir Angola”.
In Portugal, he graduated in Medicine, in the 50’s, and was
part of the generation of African students who would play a
decisive role in the struggle for independence for their countries, in what became known as “Portuguese Colonial War” or
“Ultramar War”.
In the 50’s and 60’s he was arrested several times by the
Portuguese secret police, PIDE, deported to Tarrafal’s prison
with residence established in Portugal, from where he
escaped to exile, taking the leadership of the Popular
Movement for the Liberation of Angola (MPLA), of which he
was already honorary president since 1962.
rota cultural
the cultural round
EXPOSIÇÃO E LIVRO
O MODO DE VIDA DOS HEREROS
EXHIBITION AND BOOK. HERERO WAY OF LIFE
Uma exposição de fotografias e a edição de um livro foram o
resultado de deslocações do fotógrafo e publicitário brasileiro
Sérgio Guerra às províncias angolanas do Namibe e Cunene,
onde captou imagens sobre a vida dos povos Hereros.
A exposição teve lugar de 27 de Julho a 26 de Agosto no Museu
de História Natural, em Luanda, conformando mais de 50 painéis fotográficos que retratam o modo de vida e as tradições
daqueles povos ainda pouco conhecidos em Angola.
O livro, com o título “Hereros-Angola”, é uma edição em português e inglês com 260 páginas e 240 fotografias, acompanhado de um CD musical com 18 cânticos quotidianos dos
Hereros, que habitam no sul de Angola (províncias do Namibe
e Cunene), na Namíbia e no Botswana.
Sérgio Guerra diz que durante as suas deslocações àquelas
províncias fez mais de 10 mil imagens e recolheu mais de uma
A photographs exhibition and editing a book were the result of
several visits of the Brazilian photographer and publicist
Sérgio Guerra to the provinces of Namibe and Cunene, where
he captured images about the life of the Herero people.
The exhibition took place from July 27th to August 26th at the
Museum of Natural History, in Luanda, constituting more
than 50 photographic panels illustrating the lifestyle and traditions of those people still little known in Angola.
The book, entitled “Herero-Angola”, is a Portuguese and
English edition with 260 pages and 240 photographs, accompanied by a music CD with 18 Herero everyday songs, who live
in southern Angola (provinces of Namibe and Cunene), in
Namibia and Botswana.
Sérgio Guerra says that during his visits to those provinces he
took more than 100 pictures and collected more than a hun-
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centena de depoimentos, testemunhando que “os Hereros não
se negam à reflexão, ao diálogo e à mudança, pois muito já
tiveram que mudar ao longo do tempo”. Na sua opinião, esses
povos “já não são iguais aos seus antepassados, mas desejam
trilhar por um caminho que não os leve à completa descaracterização”.
O modo de vida dos Hereros, escreve o autor no prefácio do
livro, caracteriza-se “sempre pela divisão dos alimentos com
os demais, mesmo diante da escassez, evitam o personalismo
e o egocentrismo, praticam uma economia familiar de grande
inteligência (…), honram e festejam os seus antepassados e
praticam com grande eficácia a justiça”.
Segundo Sérgio Guerra, a convivência com os Hereros, que
contou com o apoio do Banco Africano de Investimento (BAI),
fez-lhe perceber que “apesar da sua lógica de vida muito particular, esses povos já não vivem tão isolados e lidam com
alguns mecanismos da chamada civilização. Eles fazem
comércio, já frequentam escolas, consomem álcool (…). Desde
o século passado, mantêm contacto intenso e compulsório
com a sociedade moderna e com o homem branco”.
“Os Hereros são um povo de origem quase mítica que, ao
longo de sucessivas migrações, do norte para sul do continente, teria chegado ao território angolano entre os séculos XII e
XV. São eminentemente pastores, polígamos e semi-nómadas.
O gado, mais do que meio de sustento, é para os Hereros um
referencial simbólico que atravessa toda a cultura, definindo
as suas formas de viver”.
Actualmente, totalizam uma população de cerca de 240 mil
pessoas distribuídas pelos três países, com traços principais
de uma cultura que remonta há mais de três mil anos, como
por exemplo a prática da circuncisão e a extracção dos quatro
dentes incisivos ainda na infância, desprezam o peixe, alimentam-se de leite e carne, usam a manteiga como cosmético e
não se banham com água.
Sérgio Guerra, que nasceu no Recife, Brasil, é um fotógrafo,
publicitário e produtor cultural a viver em Angola desde 1998,
onde dirige a agência de publicidade M’Link, responsável pela
criação dos programas “Nação Coragem”, “Ponto de
Reencontro da Família Angolana” e “Angola em Movimento”
exibidos pela Televisão estatal angolana TPA.
Esteve à frente da “Maianga Produções”, onde coordenou a
produção de discos de renomados cantores angolanos, e conta
já com sete livros de fotografias com Angola como tema,
sendo último este que retrata o modo de vida dos Hereros.
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dred statements, testifying that “ Herero don’t refuse reflection, dialogue and change, because they had to change over
time”. In his opinion, these people "are no longer equal to
their ancestors, but wish to tread a path that does not lead to
complete distortion."
Herero’s lifestyle, according to the author in the book’s preface, is marked “always with the division of food with others,
even when facing scarcity, they avoid individuality and egocentrism; they have an intelligent family economy (…), they
honor and celebrate their ancestors with great effectiveness
and justice”.
According to Sérgio Guerra, and with the support of the
African Investment Bank (BAI), living with the Herero made
him realize that “despite their very particular way of life,
these people no longer live isolated and deal with some
mechanisms of the so-called civilization. They do businesses,
attend schools, and already consume alcohol (...). Since the
last century, they keep intense and compulsory contact with
modern society and the white man. "
The Herero are a people of almost mythical origins which,
over successive migrations from north to south of the continent, would come to Angola between the twelfth and fifteenth
centuries. They are predominantly shepherds, polygamous
and semi-nomadic. For the Herero, the cattle, more than their
subsistence is a symbolic reference that crosses every culture, defining the ways of life. "
Currently, the total population is approximately 240 000 people distributed across the three countries, with main features
of a culture that goes back more than three thousand years,
such as the practice of circumcision and the extraction of the
four frontal teeth in childhood. They despise fish, feed on
milk and meat, use butter as a cosmetic and do not bathe
with water.
Sérgio Guerra, born in Recife, Brazil, is a photographer, publicist and cultural producer living in Angola since 1998, where
he runs an advertising agency, called M’Link, he is responsible for the creation of “Nação Coragem”, “Ponto de
Reencontro da Família Angolana” and “Angola em
Movimento” displayed by the Angolan state television TPA.
He headed “Maianga Produções”, where he coordinated the
production of albums of famous Angolan singers and has
already seven books of photographs with Angola as theme,
this last being the one that portrays the Herero’s lifestyle.
novos voos
MEIRINHO MENDES,
UM ACTOR DO EXCESSO
ACTOR EXTRAORDINARY
Texto/text: Marta Lança Fotos/photos: Cláudia Veiga
e Arquivo de Meirinho Mendes and the Archives of Meirinho Mendes
Meirinho tem convicção na voz, um olhar forte, um corpo seco que se impõe e uma impetuosidade
às vezes provocadora. É um actor com muita vitalidade: a sua energia, transbordante, tem de ser
trabalhada em sintonia, às vezes difícil, com a disciplina que o teatro exige. Porque Meirinho é uma
pessoa do excesso. Mas isso, canalizado para o teatro, pode ser algo genial.
Meirinho has a voice which conveys conviction, the look in his eye is steadfast, his body unflinching,
though bursting at times with a provocative impetuosity. He is an actor with great vitality: his energy
spills over and has to be worked on with the discipline that the theatre demands. And this at times is
difficult because Meirinho is, as a person, over the top. But this very feature, channelled into the
theatre, can give birth to genius.
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No princípio da quente década de 70, nasce Meirinho Mendes
na cidade de Luanda, onde passa uma infância que considera
‘fantástica’, pois na perspectiva de uma criança aquela “era
uma cidade equilibrada, onde se brincava na rua e acreditava
que aquele era o lugar onde sempre iria e desejava viver”. Já
do ponto de vista familiar e político-social, Luanda era uma
cidade conturbada. Então, aos 14 anos vai passar seis meses
a Portugal. Tal como muitos jovens angolanos cujas famílias
os desejavam proteger da situação de guerra e instabilidade
social que se vivia no país, ia colocando um pé fora de
Angola. Mas volta a casa por cinco anos, e só rumará de novo
Meirinho Mendes was born in the early 70s in the city of
Luanda, where he spent a childhood that he considered ‘fantastic’. In the eyes of a child, this “was a city with balance,
where you could play in the street and you thought it was then
place where you would always go and where you would love
to live.” From the family and socio-political point of view,
however, Luanda was jumpy. Then, when he was 14, he spent
six months in Portugal. Like many young Angolans whose
families wanted to shelter them from the war and the social
instability that the country was living through, he put a foot
outside the country. But he came back for five years and was
novos voos
new flights
dramaturgia que é a Cornucópia. Uma experiência na revista
no Maria Vitória, Parque Mayer e outra com um dos mais
dinâmicos e ousados grupos de teatro português, o Bando.
Entrou em algumas séries televisivas (com Jorge Queiroga),
para perceber que gosta mais de teatro. Depois foi para
Espanha, onde também fez séries, e trabalhou muito como
contador de histórias. Em terras castelhanas ampliou horizontes e dedicou-se à formação: entrou para o curso de teatro
e cinema da faculdade autónoma de Madrid, frequentou cursos de coreografia, clown e de contador de histórias na Accion
Educativa de Madrid. Trabalhou com alguns encenadores e
realizadores espanhóis. Em cinema entra nos filmes angolanos “O Comboio da Canhoca”, de Orlando Fortunato, e “A
Cidade Vazia”, de Maria João Nganga.
Director de actores
Recentemente, uma nova experiência nos audiovisuais:
empenhou-se activamente na criação do primeiro canal
privado de televisão em Angola, a TV ZIMBO, como director
de actores, casting e selecção, na revisão dos guiões e
como actor.
Mas foi mesmo na sua terra natal que toda a aventura de
representação começou. Elinga Teatro, início de muitos
sonhos, ponto de encontro de talentos e expectativas, reen-
para Lisboa já homem feito, com 19 anos. O gosto pela aventura, lançar-se às oportunidades, acreditar e ter talento em
potencial, eram as suas ferramentas para agarrar o destino.
Pergunto-lhe como foram essas primeiras experiências no
estrangeiro: “da primeira vez foi difícil, pois era muito jovem
e vim para um território desconhecido que me separava da
família. Da segunda, já foi por vontade própria. Vim em busca
dos meus sonhos, o que acabou por se concretizar”.
Que sonho era esse? Seguir teatro. E para isso Meirinho
transformou o que a vida lhe foi proporcionando em experiências interessantes. Apesar de se considerar sempre em formação, esta foi-se dando em diferentes etapas, num vértice
entre Angola, Portugal e Espanha. O início da carreira de teatro acontece ao entrar para o elenco do grupo de teatro infantil BÁBÁ que actuava na Barraca, em Lisboa. Ali ficou cerca de
quatro anos a representar peças infantis. Depois passou por
teatros clássicos como o D. Maria II, o São Carlos ou o Teatro
São João, no Porto. Quanto a trabalhos marcantes, destacamse “Edmond” de David Mamet, com encenação de Adriano
Luz, “La Isola Desabitata” de Joseph Haiden, com encenação
de Luís Miguel Cintra, na grande escola de representação e
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only off to Lisbon again when he was 19 and already a young
man. The tools he had to face up to his destiny were his taste
for adventure, his willingness to throw himself into adventures, belief in himself and a still dormant talent.
I ask him what those first adventures abroad were like: “the
first time was difficult. I was very young and came to a new
country which cut me off from my family. The second time it
was because I chose to. I came in search of a dream and I
found it right in front of me.”
What dream was that? To pursue a life in the theatre. And
that’s how Meirinho changed what life gave him into interesting experiences. He thinks of himself as someone who is
always in training, but this came in stages, on a triangle that
was Angola, Portugal and Spain. The start of his career in the
theatre was when he joined the children’s troupe BÁBÁ,
which was on stage in the Barraca theatre, in Lisbon. He
spent four years here playing parts in works for children.
Then he had a stint in classical theatres such as the D. Maria
II, the São Carlos or the Teatro São João in Oporto. In terms
of the work that left a mark on him, there was “Edmond” by
David Mamet, staged by Adriano Luz, “La Isola Desabitata” by
Joseph Haiden, staged by Luís Miguel Cintra, in the great
school of theatre craft which is the Cornucópia. Then there
was a part in a review in the Maria Vitória theatre in the
Parque Mayer and another with one of the most dynamic and
daring theatre troupes in Portugal, o Bando. He had parts in
a number of television series (with Jorge Queiroga), and found
out that he liked theatre more. Then he went to Spain, where
he also did TV series and worked a lot as a storyteller. He
broadened his horizons there and devoted himself to training:
he took a course in theatre and cinema in the Madrid
autonomous university, he did courses in choreography,
clowning and storytelling in the Accion Educativa in Madrid.
He worked with Spanish stage managers and directors. He
had parts in the Angolan films “O Comboio da Canhoca” (The
Canhoca Train), by Orlando Fortunato, and “A Cidade Vazia”
(The Empty City), by Maria João Nganga.
A director of actors
He has recently had a new experience in the audiovisual field: he
was pro-active in the setting up of the first private television
channel in Angola, TV ZIMBO, as a director, working with actors,
and in casting and selection, as a script reviewer and as an actor.
And it was in his native land that all the adventure of acting
started. The Elinga Teatro has been the starting point for many
novos voos
new flights
contro de angolanos que, como Meirinho, viajaram e colheram no estrangeiro instrumentos para os seus ofícios artísticos. Na sua persistente veia cultural, numa cidade que
escasseia de ofertas culturais e escolas de arte, este espaço
da baixa luandense é a plataforma estratégica para o desempenho de alguns jovens angolanos. Além do grupo de teatro
que vai sempre formando novas pessoas, há um contágio
saudável e informal de conhecimentos, iniciativa e experimentação por todos os que lá passam.
“Aproximei-me deste espaço por intermédio de um actor, o
‘Válvula’, que era meu professor de natação e descobriu em
mim potencial para esse universo artístico, o do teatro”.
Meirinho conta este facto, corroborando da velha história que
reza assim: “se não houver alguém na hora certa atento aos
nossos sinais, bem que se pode passar toda uma vida à margem da uma verdadeira paixão, destino ou vocação”. Os
outros serão sempre o nosso melhor espelho. E ao longo
deste percurso teatral, o contacto e o trabalho intenso com
alguns homens de teatro foram fundamentais para o seu
desenvolvimento como pessoa e actor. José Mena Abrantes,
Rogério de Carvalho, Federico Martin Nebras, Rui Pisco,
João Brites, Maria João N´ganga, Eleonore Didier são alguns
nomes. “E todos aqueles que directa ou indirectamente contribuíram para que a minha comunhão com o teatro fosse um
facto”, acrescenta.
Vive Angola com a maior naturalidade e numa ligação cons-
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dreams, the point where talent and expectations came together, a place where those Angolans who had travelled and picked
up the tools of their trade on the way could get together again.
In a city with a dearth of culture, this space in downtown
Luanda – with its unchanging cultural vein – has been a strategic platform where young Angolans can dedicate themselves to
performing. Apart from the theatre group that is always bringing out new people, there is an atmosphere which is contagious
and informal, where you can get to know things, try out initiatives and experiment with all those who go through its doors.
“I came into this space through the good offices of an actor,
‘Válvula’, who was my swimming teacher. This is where I discovered my potential for this artistic universe that is the theatre.” Meirinho tells this story, backing up an old tale that
runs as follows: “if no one is around at the right time listening
in on our signals, we could spend our whole lives on the edge
of a real passion, of our destiny, or of our real vocation.”
Others will always act as our mirror. And during this journey
through the theatre, close contacts and working sessions with
men of the theatre were fundamental for his development as
a person and as an actor. José Mena Abrantes, Rogério de
Carvalho, Federico Martin Nebras, Rui Pisco, João Brites,
Maria João N´ganga, Eleonore Didier, to name but a few. He
adds: “And all those who directly or indirectly contributed to
the way I meshed with the theatre, they all played a part.”
He lives the life of Angola in the most natural way and with a
novos voos
new flights
tante. A ela regressa regularmente para trabalhar e rever as
pessoas de quem gosta. Sente responsabilidade social pelo
país. “Tenho necessidade de dar o meu contributo na reconstrução da identidade cultural angolana, apesar de muitas
vezes não ser fácil por falta de uma maior consciência e
apoio às artes em geral e ao teatro e ao cinema em particular”. É assim que se posiciona.
Meirinho gostava de continuar a fazer o seu trabalho de uma
forma mais activa e engajada, “contribuindo para a construção de uma sociedade pluricultural e dinâmica do ponto de
vista da actividade criativa”. É deste modo que se oferece
para partilhar a sua experiência com Angola. Considera o
teatro mais vulgarmente praticado em Angola – o dos grupos
de bairro, auto-didactas e amadores – um ponto de partida
importante, mas lembra que os passos seguintes são fundamentais. “É preciso algum investimento a nível da pesquisa,
direcção, formação, produção e uma política que enquadre e
apoie essas coisas. Talento é o que não falta!”.
connection that is never broken. He comes back regularly to
see again the people he likes. He feels a social responsibility
towards the country: “I need to play my part in rebuilding
Angola’s cultural identity, even though there are many times
when this is not easy. More awareness is needed, more support for arts in general and for the theatre and cinema in particular.” This is the stance he takes.
Meirinho would like to be more active, more engaged in his
work, “contributing towards the building of a society that is
pluri-cultural and dynamic from the point of view of creative
work.” And it’s in this way that he offers to share his experience with the country. He reckons that there’s an important
starting point in the theatre that is most commonly found in
Angola – neighbourhood groups, the self-taught, amateurs –
but he reminds us that the next steps are fundamental.
“There has to be investment in research, directing, training,
production, and a policy that covers all these things and supports them. There’s no lack of talent!”
Resgate da história cultural
Saving cultural history
No mundo cultural angolano, Meirinho Mendes acha prioritário o “resgate, análise e divulgação da história cultural
angolana e africana que se tem perdido ao longo dos tempos,
por consequência das várias guerras e processos de colonização que o continente tem sofrido, e em particular Angola”.
Toda esta violentação e dificuldades que Angola teve em
Meirinho Mendes thinks that in the world of Angolan culture
the priority is “to save, analyse and give a public voice to the
cultural history of Angola and Africa. This has been lost over
time, what with wars and the colonisation that the continent
has gone through, and Angola more than most.” This violence, these troubles that Angola has had to cope with “mean
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tar duas peças novas, com Miguel Sermão e outra com
Rogério de Carvalho, e estreia-se na produção do seu primeiro filme.
Meirinho tem convicção na voz, um olhar forte, um corpo
seco que se impõe e uma impetuosidade às vezes provocadora. Não atura o que não gosta. É um actor com muita vitalidade: a sua energia, transbordante, tem de ser trabalhada
em sintonia, às vezes difícil, com a disciplina que o teatro
exige. Porque Meirinho é uma pessoa do excesso. Mas isso,
canalizado para o teatro, pode ser algo genial. Há uma frase
de Stanislavski, escolhida por ele, que simboliza bem como o
acto de representar se aproxima da vida: “Em nossa arte é
preciso viver o papel a cada instante que o representamos e
em todas as vezes. Cada vez que é recriado, tem de ser vivido
de novo e de novo encarnado”. Numa profissão de risco permanente que é a do actor, dependente da força que transmite nos gestos e palavras, emocionalmente exigente, a insegurança às vezes assola. Põe-se muita intensidade na vida e
no palco, o que consome as pessoas que levam a sério esse
risco. Para as angústias, todos temos os refúgios que nos
socorrem. Meirinho reconhece que aquilo que mais lhe dá
estabilidade é “o amor e a confiança da família, companheira, filho, irmãs e irmãos, pai e mãe e aqueles amigos de verdade que nunca puseram em causa o valor da minha amizade por eles”. E assim prossegue a sua luta.
mãos “leva a que exista um fosso de mais ou menos quatro
décadas, em que parte da nossa identidade cultural foi fortemente abalada e abordada como algo secundário”. A cultura
é de uma importância vital para harmonizar a sociedade e
criar valores sólidos. “Um povo que não preserva a sua cultura perde, consequentemente, a identidade, base dos valores, e acabamos por recorrer ao material e ao consumismo
desmesurado”, diagnostica o actor.
Nos últimos tempos, o projecto da peça “Formigas”, com
encenação de Rogério Carvalho e texto de Boris Vian, significou uma viagem imensa aos princípios e intenções do teatro,
através de todo o processo de concepção, ensaios e culminando nas intervenções. “Tem sido um processo bastante
exigente, desde a montagem, pelas características do texto,
e pelo conceito de teatro do Rogério, que me obriga a pensar
no teatro muito para além daquele trabalho. Por outro lado,
é bastante compensador pela relação de partilha de conhecimentos e de amizade profunda que estabelecemos entre os
três, eu, ele e a Dulce Baptista”. Este projecto foi produzido
pela Fundação Sindika Dokolo, com quem Meirinho Mendes
tem colaborado, desde a 1ª Trienal de Luanda, que este ano
executa uma esperada 2ª edição. Actualmente, Meirinho
ocupa-se da digressão de "As Formigas" por alguns países,
tendo já representado em França, Portugal, no Brasil, e por
províncias de Angola. Mas projectos não faltam: está a mon-
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that there is a gap of something like four decades when part
of our cultural identity was shaken. It was treated like something secondary.” Culture is of vital importance to bring society together and create solid values. “A people that does not
preserve its culture loses its identity and its value base as a
result and we end up turning to material things and unfettered consumerism.” Such is the actor’s diagnosis.
Recently, there has been the project “Formigas”, staged by
Rogério Carvalho and written by Boris Vian. It has meant a
deep journey into the principles and aims of the theatre,
through a complete process of conception, rehearsals and
bringing it to the stage. “It has been a demanding process,
because of the staging, the way the text is written and by how
Rogério sees the theatre. It makes me think about the theatre
itself beyond the work in hand. It also gives a lot back, through
the sharing of knowledge and the deep friendship that we
have created, the three of us, me, him and Dulce Baptista.”
The project was put on by the Fundação Sindika Dokolo,
where Meirinho Mende has collaborated since the 1st Luanda
triennial, with a second set for this year. Currently, Meirinho’s
time is taken up with "As Formigas" on tour. This involves a
number of countries and the play has already been put on in
France, Portugal, Brazil, and provinces in Angola. And there’s
no shortage of projects: there are two new plays in the
pipeline, one with Miguel Sermão and the other with Rogério
de Carvalho. And for the first time he’s producing a film.
Meirinho has a voice which conveys conviction, the look in his
eye is steadfast, his body unflinching, though bursting at
times with a provocative impetuosity. But he doesn’t put up
with what he doesn’t like. He’s an actor with great vitality: his
energy spills over and has to be worked on with the discipline
that the theatre demands. And this at times is difficult
because Meirinho is, as a person, over the top. But this very
feature, channelled into the theatre, can give birth to genius.
There’s a phrase of Stanislavski’s that he has chosen, as it
symbolises how the art of acting comes close to life: “In our
art we need to live the part at each moment that we play it and
every time we play it. Each time that it is recreated, it must be
lived through again and it must be in our bones again.” Being
an actor is to live in a permanent state of risk. The art
depends on the power that is transmitted through gesture
and word. It is emotionally draining, and the uncertainty can
be overwhelming. Life and the theatre must be lived with
great intensity, and if you take the risk seriously, it can consume you. We all have a refuge that shelters us in times of
anguish. Meirinho recognised that what gives him most stability is “the love and trust of my family, my companion, son,
sisters and brothers, mother and father and those true
friends who never call into question the value of my friendship
for them.” So this is how his struggle will continue.
longo curso
long haul
Medicina
tradicional
A antiguidade da cura
Traditional medicine. An age-old cure
Texto/text: Aoaní d’Alva e Carlos Lousada Fotos/photos: Carlos Lousada
Tia Maria sorri condescendente, como quem já está
Tia Maria smiled condescendingly, as if she was used
habituada à pergunta, e responde: “aprendi com a
to the question and she replies: “I learnt from my
minha mãe, que aprendeu com a mãe dela. São coisas
mother, who learnt from her mother. These are
que o tempo e a vida ensinam, a gente vê e aprende”.
things that time and life teach. People see and learn.”
longo curso
long haul
“
Em Angola, a prática
da medicina tradicional terá
cerca de 4 mil anos de
existência, na opinião de Rosário
Fernandes, pesquisadora de
medicinas tradicionais antigas,
formada em naturalismo pelo
Stonebridge Associated Colleges
da Inglaterra. A pesquisadora
adianta que ela tem
principalmente origem na
cultura primitiva das
comunidades tribais Sam
(Hotentes) e Bantu
”
Tinha-se-lhe perguntado como aprendera a conhecer e a
recomendar os remédios da terra, da considerada medicina
tradicional. Dona Maria respondeu de forma simples, de
quem não sabe ler nem escrever, mas que soube absorver a
sabedoria ancestral, ela que já está nos 60 anos, viúva há
quase 20.
Ela vende no mercado de São Paulo, em Luanda, as folhas,
raízes e pós que curam o corpo. Muitos acreditam que curam
também a alma. Há gente que confunde a medicina tradicional com práticas feiticeiras, mas Tia Maria faz questão de as
separar: “há produtos que vêm comprar aqui para ir fazer
essas coisas de feitiço, mas eu vendo mesmo só com o objectivo de curar o corpo”, sublinha.
Antes de se dedicar à venda farmacêutica de produtos da
medicina tradicional, vendia hortaliças e legumes, mas a
idade foi-lhe retirando forças para transportar as bacias com
os produtos. Há cinco anos, decidiu fixar-se numa bancada
do mercado de São Paulo, comercializando produtos para
remédios caseiros: folhas, raízes, mel, vários tipos de pó, etc.
Mas Tia Maria não se limita a vender, ela faz detalhadas
recomendações orais sobre o modo de utilização, que o
cliente tem que anotar ele mesmo, já que a senhora não sabe
escrever. Muito despachada e à vontade, explica que os chás
de Marcela, Coqueiro e Quicaxi são óptimos para curar o
paludismo.
Ela vai ao detalhe e explica que o chá da raiz Mbrututu, que
They had asked her how she got to know and how she could
recommend remedies that mother nature provides, the socalled traditional medicine. Dona Maria replied in a simple
way, the way of a person who has not learnt to read and write
but knows how to take in the wisdom of her ancestors, She’s
already in her 60s and has been a widow for almost twenty.
She sells her wares in the São Paulo market in Luanda, the
leaves, roots and powders that cure the body’s ills. Many
believe they also cure the soul. There are those who confuse
traditional medicine with witchcraft, but Tia Maria makes a
point of keeping them separate. “People come here to buy
things that they then take away and use in witchcraft,” she
says, “but I just sell to fix the ailments of the body.”
Before focusing on the sale of traditional medicine, she used
to sell greens and other vegetables but age put paid to her
ability to carry buckets full of plants like that. Five years ago,
she decided to take a spot in the São Paulo market, selling
products to be used in home-made remedies: leaves, roots,
honey, different kinds of powder and so on.
Tia Maria, however, doesn’t confine herself to selling: she
gives detailed recommendations on use, and the customer
has to write everything down, since she doesn’t know how to
write. She handles things quickly and easily, explaining how
the teas from Marcela, Coqueiro and Quicaxi are excellent
cures for malaria.
She goes into detail. The tea from the Mbrututu root does not
need boiling water, and is ideal as a cure for hepatitis. A mix
of honey and lemon is recommended for the flu and sore
throats. But she also sells other products with power to cure,
like tea from Caxinde, Chandala, Gipepe, Ngandiadia, and
many others besides.
Capim de Deus (God’s grass). For recent mothers, the pharmacist recommends “closing the wounds from the birth” with
a bath made from a lukewarm infusion of the plant called
capim de Deus. For the new-born, drinking Mukumbi is good
for colic. It is also a remedy for anemia and blood loss.
And then dona Maria has a surprise. She smiles secretively
and takes something from her stock. It’s a product she keeps
hidden and whispers: “this is the bark of the ‘Timba-Timba’.
People call it Pau-de-Cabinda, and it gives men strength
when they are making love...”
But the smile disappears quickly and she is serious again.
She says that girls often look for it when they have an unwanted pregnancy. Tia Maria thinks of them “youngsters without
their head on properly”, looking for a miscarriage by drinking
tea or other infusions. She says that she doesn’t sell things
for this purpose, but there are those that do. And she doesn’t
sell this because she knows the dangers it can bring and she
always tells young girls to go and see a specialist doctor.
Herbalists
In matters of plants, teas, herbs, roots and medicinal powders, everyone thinks of herbalist shop, many of them dating
back a long time, like the Ervanária Ferreira. This was opened
on 16 March 1974, as you can see from a poster proudly stuck
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longo curso
long haul
se consegue sem necessidade de fervura da água, é o ideal
para a cura das hepatites, enquanto que a mistura de mel de
abelha com limão é recomendável para as gripes e mazelas
da garganta. Mas ela vende outros produtos com propriedades curativas, como chá de Caxinde, Chandala, Gipepe,
Ngandiadia, entre outros.
Capim de Deus. Às parturientes, a farmacêutica recomenda
“fechar as feridas do parto” com banho em infusão morna da
planta Capim de Deus. Para os recém-nascidos, o conselho
recai na ingestão de Mukumbi para sarar as cólicas do bebé,
um produto que também serve para a cura de anemias e de
falta de sangue.
Entretanto, ela reservava uma surpresa. Com um sorriso
maroto nos lábios, dona Maria retira do seu stock um produto que guarda escondido e revela baixinho: “isso aqui é casca
de ‘Timba-Timba’, as pessoas também chamam de Pau-deCabinda, dá força ao homem na hora do amor”…
Mas ela rapidamente abandona o sorriso, torna-se séria e
revela que é frequentemente procurada por raparigas que
pretendem livrar-se do estado de gravidez. Tia Maria considera-as “jovens sem juízo”, que procuram abortar através da
ingestão de chás ou outras infusões. Afirma que no seu
espaço não vende produtos para esses fins, embora haja
quem o faça. E não vende porque sabe dos perigos que
podem acarretar, aconselhando sempre as jovens a procurarem serviços médicos especializados.
As Ervanárias
Em matéria de plantas, chás, ervas, raízes e pós medicinais,
as atenções recaem sobretudo para as ervanárias, grande
parte delas antigas, como a Ervanária Ferreira. Criada em 16
de Março de 1974, como expressa um cartaz orgulhosamente
afixado por cima do balcão, está portanto há 36 anos ao serviço dos luandenses e não só.
José Ferreira, o proprietário, afirma que herdou o estabelecimento do seu falecido pai, mantendo sempre o mesmo
nome. Oficial aposentado do exército angolano, é tratado por
‘doutor’, atendendo os pacientes todas as manhãs no seu
consultório situado na parte superior do estabelecimento, no
cimo de uma íngreme escada.
E são concorridas consultas, em que as pessoas marcam a
hora e aguardam na fila como acontece nos consultórios de
medicina moderna. Aliás, segundo o ervanário, grande parte
dos pacientes “já vem da medicina normal”, depois de não
terem lá conseguido resolver os seus problemas de saúde.
Portanto, é uma consulta onde “o paciente apresenta o seu
problema, é diagnosticado e medicado”.
São várias as plantas e ervas que se podem encontrar na
ervanária Ferreira, assim como são várias as moléstias que
o doutor aceita acompanhar, sempre com a ressalva de que
há algumas mais graves e específicas em que ele próprio
aconselha o paciente a procurar especialistas. O pequeno
consultório está coberto de livros, cartazes, anotações e
notas, tudo sobre o mesmo tema: o mundo da medicina tradicional.
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up above the counter. So it has been providing a service for the
people of Luanda, and others, for 36 years.
The owner, José Ferreira, says that he inherited the premises
from his father and has always kept the name. He is a retired
officer from the Angolan army and they call him “doctor”. He
sees his patients every morning in his surgery in the upper
part of the building, at the top of some steep stairs.
And there are always lots of people to see him. They fix a time
and wait in line like at any modern doctor’s surgery. In fact, as
the herbalist says, most of his patients “come from normal
medicine” because they can’t find any way to solve their
health problems there. So this is a place where “the patient
describes the problem, gets a diagnosis, and medicine”.
There’s a wider range of plants and herbs that you can find in
the Ervanária Ferreira, just like there’s a wide range of ailments the doctor agrees to treat, though he always says that
there are some more serious and specific and he then advises
the patient to go in search of a specialist. His little surgery is
stacked high with books, posters, bits of writing and notes, all
on the same theme, the world of traditional medicine.
José Ferreira tells the story of how his father decided to open
a herbalist’s, with friends like Pinho Marques and Luís
Gomes. The story starts with how his father is lost in the bush
and is saved from a massive malaria attack by a local person
who knows all about the secret of the earth’s plants. When he
“
In Angola, the use of traditional
medicine goes back around
4 thousand years, according to
Rosário Fernandes, who does
research on old traditional
medicine. She has a course in
naturalism from Stonebridge
Associated Colleges in England.
She adds that most of the
practices originated in the
primitive culture of the tribal
communities called Sam
(Hottentots) and the Bantu.
”
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long haul
José Ferreira conta a história de como o seu pai resolveu
abrir uma ervanária, juntamente com amigos como Pinho
Marques e Luís Gomes. A história começa quando o seu pai,
embrenhado na mata, é salvo de um forte paludismo por um
nativo conhecedor dos segredos das plantas da terra. De
regresso à capital, resolve estudar a vasta flora angolana,
adquirindo conhecimentos que lhe permitiram mais tarde
dar o seu contributo em livros e compêndios sobre a temática e abrir a ervanária.
O herdeiro é formado em agronomia e geofísica, com carreira na área militar, aproveitando a aposentadoria para se
dedicar mais ao ramo. Ele diz que a medicina tradicional
angolana contribuiu, mas também recebeu muitos contributos de outras partes do mundo, como advento da globalização. Revela que o extracto dos principais anti-palúdicos é
proveniente de uma planta que floresce em abundância no
Lubango, a Quina.
A Ervanária Ferreira juntou-se, no ano passado, à Exposição
Plantas Medicinais de Angola, que em Luanda apresentou
herbáceos, espécies vivas e produtos obtidos de plantas
medicinais. Foi uma forma, não só de mostrar publicamente
o valor terapêutico da flora nacional, mas também de contribuir ainda mais para a investigação científica das plantas
medicinais de Angola.
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gets back to the capital, he decides to study the country’s vast
flora and finds out much that he later provides as a contribution to books and compendiums on the topic. And he opens
his herb shop.
The shop is passed down to an agronomist and geophysicist,
with a military background, who picks up the business in his
retirement. He says that traditional Angolan medicine played
a part, but he also got much else besides from around the
world – now that globalisation is with us. He says the main
anti-malaria extract comes from a plant called Quina that
flowers abundantly in Lubango.
Last year, the Ervanária Ferreira took part in an exhibition on
medicinal plants from Angola, which was put on in Luanda.
There were herbaceous plants, both growing and in the form
of products obtained from medicinal plants. It was a way of
showing to the public how valuable the therapeutic properties
of the country’s flora are, and also of contributing to even
more scientific research into medicinal plants in Angola.
It was on this occasion that the researcher Manuela Pedro,
from the Botanical Centre of the Faculty of Science of the
Agostinho Neto University, spoke about the importance of traditional medicine, arguing that a laboratory should be set up,
with state of the art technology, to study scientifically the
medicinal properties of local plants.
longo curso
long haul
Foi nessa ocasião em que a investigadora Manuela Pedro, do
Centro de Botânica da Faculdade de Ciências da
Universidades Agostinho Neto, reflectiu a importância da
medicina tradicional, ao defender a criação de um laboratório com tecnologia de ponta para o estudo científico das propriedades medicinais das plantas locais.
A seu ver, um laboratório do género animaria muito mais o
trabalho dos investigadores no estudo dos vegetais com propriedades medicinais a nível de todas as regiões do país,
sobretudo a dosagem na sua administração para a prevenção
e cura de doenças como infecções urinárias e pulmonares,
cólicas, hepatite, cálculos renais, malária, entre outras
enfermidades.
Os Curandeiros
Kitoko Mayavangua, também conhecido como Papá Kitoko, é
um terapêuta tradicional e que granjeou nome como um dos
maiores curandeiros a funcionar na cidade de Luanda. De 56
anos, natural de Kibocolo, Província do Uíge, Papá Kitoko
segue as pegadas da família, toda ela com a vida dedicada à
medicina tradicional, usando produtos naturais vegetais para
curar os doentes.
Ele conta que a sua mãe, conhecida por Mamã Massamba,
ainda está viva e continua dedicada em Luanda à medicina
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In her opinion, such a laboratory would give a big boost to the
work of researchers into the study of plants with medicinal
properties in every part of the country. This could concentrate
on the dosage to be administered in the prevention and treatment of illnesses such as urinary and lung infections, colic,
hepatitis, kidney stones, malaria and many others.
Traditional practitioners
Kitoko Mayavangua, also known as Papá Kitoko, is a traditional
therapist who made his name as one of the best local style
practitioners working in Luanda. He is 56 and comes from
Kibocolo, in the province of Uíge. Papá Kitoko is following in his
family’s footsteps, since they have dedicated their lives to traditional medicine, using natural products to cure sicknesses.
He says that his mother, known as Mamã Massamba, is still
alive and working in traditional medicine in Luanda. She uses
plants from the bush in the commune of Kibocolo, in the
municipality of Maquela do Zombo: the leaves and roots of
plants that she used to pick herself when she was younger
and living there.
Papá Kitoko tells us that he has become involved in scientific
research, “to make traditional medicine more believable.” He
is the national executive chairman of the Forum of Traditional
Medicine in Angola and patron of the Fundação Kitoko, which
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long haul
tradicional. Os seus produtos são provenientes das matas da
comuna de Kibocolo, município de Maquela do Zombo: folhas
e raízes de plantas que ela própria colhia pessoalmente
quando mais nova e residente na área.
Papá Kitoko revelou-nos que juntou-se à investigação científica, “para melhorar a credibilidade da medicina tradicional”.
Ele é presidente executivo nacional do Fórum da Medicina
Tradicional em Angola e patrono da Fundação Kitoko, que por
seu lado possui uma Unidade de Pesquisa da Medicina
Africana, cuja missão é a recolha e o estudo de plantas medicinais para a sua identificação e classificação.
É uma unidade de pesquisa que já existe há seis anos e que,
de acordo com Kitoko Mayavangua, pretende melhorar o controlo da utilização da farmacopeia angolana. “Pretendemos
melhorar o uso da medicina e a actuação dos terapeutas tradicionais na cura do ser humano, uma vez que a medicina tradicional é utilizada por uma grande percentagem da população angolana, que não possui recursos para recorrer aos hospitais, nem para a compra de medicamentos convencionais”.
A sua Fundação persegue “a pesquisa de plantas com poderes curativos, a sua análise científica e dosagem ideal, para
posteriormente se proceder à industrialização destes produ-
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also has a unit doing research into African medicine. The aim
is to collect and study medicinal plants, identifying and classifying them in the process.
The unit has existed for six years and according to Kitoko
Mayavangua, the aim is to improve control over standards of
medicinal products in Angola. “We want to improve the use of
medicine and traditional therapies in treating people. This
kind of medicine is used by a large number of Angolans who
do not have the wherewithal to go to hospitals or even buy
conventional medicine.”
The Foundation pursues “research into plants that have the
power to cure, look into their chemical make-up, analyse the
ideal dosage and then develop mass production of these natural plants to make them available at modest prices within
the legal strictures of medicine.”
Bearing in mind that “the great difficulty with traditional therapy is working out the dosage,” he is looking to set up a
school of pharmacy and cooperate “in a very serious way”
with universities and teachers from faculties in this scientific
field.”
In his opinion, “the aim of studying medicinal flora in Angolan is
to have serious and specific objectives, taking into consideration
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tos naturais a preços módicos, dentro dos parâmetros legais
da medicina”.
Tendo em conta que “a grande dificuldade do trapêuta tradicional é a identificação da dosagem”, ele pretende criar uma
escola de farmácia e cooperar “muito seriamente” com as
universidades e docentes das faculdades na área da ciência
de farmácia”.
A seu ver, “o estudo da flora medicinal angolana tem que ter
objectivos sérios e concretos, tendo em conta a sua riqueza
e vastidão, para que todos possamos usufruir desse legado
natural”, estando a aguardar pelos regulamentos que ordenem a prática da medicina tradicional em Angola. Ele defende também a criação de um arquivo patrimonial das plantas
medicinais africanas, no quadro de “uma medicina tradicional séria, classificada, útil e bem identificada”.
Curandeiros e feiticeiros. Papá Kitoko não termina a sua
explanação sem desfazer o equívoco entre curandeiros e feiticeiros. Ele realça que “curandeiros não são feiticeiros”,
sendo que os primeiros estão virados para o trabalho de salvar vidas e cuidar da saúde pública através de métodos naturais, enquanto que os segundos lidam com “forças do mal”.
Este renomado curandeiro é, como já se disse, oriundo do
Norte de Angola, uma das mais tradicionais regiões neste
género de medicina, onde germinam ‘milagrosas’ plantas,
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its vast range and richness, so that we can all benefit from this
natural heritage.” He is waiting for the statutes that will govern
the practice of traditional medicine in Angola. He also maintains
that there should be an archive detailing the properties of
medicinal plants from Africa, as part of “serious traditional
medicine, properly classified, useful and well identified.”
Practitioners and witchdoctors. Papá Kitoko doesn’t finish his
explanation without clearing up a misunderstanding about
practitioners and witchdoctors. He points out that “practitioners are not witchdoctors”. The first are concerned with the
saving of life and taking care of health using natural methods,
while the second are connected to “the forces of evil”.
Our well known practitioner is, as we have already said, from
the north of the country, one of the most traditional regions in
terms of this kind of medicine. Here you can find “miraculous” plants springing up, at least this is what the elder Maria
Luzolo believes and she’s in her 60s. She collects herbs and
roots from many different species in the mountains of Mbanza
Congo, the former capital of the Kingdom of the Congo.
Her home, where she has also been doing her work as a traditional midwife for more than 20 years, welcomes dozens of
people every day from all over the place, including Luanda.
She tells how she has cured various cases of feminine infertility with remedies like ‘Fumpua’ and ‘Lambu’.
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como acredita a anciã Maria Luzolo, na casa dos 70 anos. Ela
colhe as ervas e raízes de diversas espécies no cimo das montanhas de Mbanza Congo, antiga capital do Reino do Congo.
A sua residência, onde também exerce a actividade de parteira tradicional há mais de 20 anos, acolhe diariamente dezenas de pessoas provenientes de várias paragens, incluindo
de Luanda. Ela conta que já curou vários casos de infertilidade feminina com recurso às terapias ‘Fumpua’ e ‘Lambu’.
Maria Luzolo aponta o caso de uma mulher que, após ter
recorrido sem sucesso a hospitais do país e do estrangeiro,
foi bater à sua porta. Submetida ao tratamento ‘Lambu’, a
mulher, de 30 anos, já teve dois partos sem complicações.
Este tratamento consiste em banhos de ervas e ingestão de
raízes medicinais que servem para lavagem do útero. Mas
ela assegura que também trata da infertilidade masculina
com o mesmo método, que neste caso o segredo reside na
fortificação do esperma.
Os responsáveis da Saúde da província do Zaire têm conhecimento da importante contribuição dada pelos curandeiros
locais na cura de doenças, estando legalmente registados 18
curandeiros, incluindo Maria Luzolo, que são “reconhecidos
pelo Estado Angolano no Zaire”.
O que é a medicina tradicional?
A medicina tradicional é, na definição da Organização
Mundial de Saúde (OMS), “a soma de conhecimentos, habili-
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Maria Luzolo talks about a case where a woman has no success in the country’s hospitals and even abroad and then
comes knocking on her door. She takes the ‘Lambu’ treatment and now, at the age of 30, she has already given birth
without any complications. The treatment consists of immersion in herbal waters and taking medicinal roots that clean
out the uterus. And she says that she also treats infertile men
in the same way, this time serving to strengthen the sperm.
Those responsible for health in the province of Zaire are
aware of the important contribution given by local practitioners in providing remedies for illnesses. There are 18 practitioners duly legalised, including Maria Luzolo, “recognised by
the state of Angola in Zaire.”
What is traditional medicine?
The definition of the World Health Organisation (WHO) states:
“Traditional medicine is the sum total of knowledge, skills
and practices based on the theories, beliefs and experiences
indigenous to different cultures that are used to maintain
health, as well as to prevent, diagnose, improve or treat physical and mental illnesses.”
According to the organisation, medicinal plants are all those
that contain bio-active substances with therapeutic, prophylactic or palliative properties. At least 80% of the population in
some African and Asian countries depend on traditional medicine for basic health care.
This type of medicine is often called ‘alternative’ or ‘complementary’ when adopted by other non-indigenous populations,
the best example being acupuncture, which has already been
used by around 80% of people in developed countries, even
though it has been called the ‘medicine of the poor’.
This is an area which has been providing profits in international markets, mainly in the pursuit of natural medicine.
Annual invoicing has ranged from 5 billion US dollars in
2003/2004 in western Europe to 15 billion in China in 2005 and
160 million in Brazil in 2007.
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dades e práticas baseadas nas teorias, crenças e experiências indígenas de diferentes culturas, que são usados para
manter a saúde, bem como para prevenir, diagnosticar,
melhorar ou tratar as doenças físicas e mentais”.
Segundo a organização, planta medicinal é todo o vegetal
que contém substâncias bio-activas com propriedades terapêuticas, profiláticas ou paliativas, sendo que pelo menos
80% da população de alguns países africanos e asiáticos
dependem da medicina tradicional para os cuidados de
saúde primários.
Muitas vezes chamada de ‘alternativa’ ou ‘complementar’
quando adoptada por outras populações não indígenas, o
melhor exemplo é a acupunctura, que já foi usada de alguma
forma por cerca de 80% da população dos países desenvolvidos, embora seja conotada como ‘medicina dos pobres’.
É uma área, principalmente no seguimento dos medicamentos naturais, que tem vindo a dar bastante dinheiro ao mercado internacional, com facturação anuais que vão dos cinco
bilhões de dólares americanos em 2003/2004 na Europa
Ocidental, 15 bilhões na China em 2005 e 160 milhões de
dólares no Brasil em 2007.
De acordo ainda com a OMS, mais de 100 países já regulamentaram o uso de remédios à base de ervas, sendo que em
Angola o director do Instituto Nacional de Saúde Pública,
Moisés Francisco, deu a conhecer recentemente que já estão
em andamento projectos que regulamentam a actividade e
que incidem na formação dos terapeutas e nas infra-estruturas dos centros de tratamento.
Em Angola, a prática da medicina tradicional terá cerca de 4
mil anos de existência, na opinião de Rosário Fernandes,
pesquisadora de medicinas tradicionais antigas, formada em
naturalismo pelo Stonebridge Associated Colleges da
Inglaterra. No seu Site da Internet, a pesquisadora adianta
que ela tem principalmente origem na cultura primitiva das
comunidades tribais Sam (Hotentes) e Bantu.
A teoria básica da medicina tradicional “surgiu da observação empírica das relações do homem com o meio ambiente.
O homem primitivo, observando os fenómenos que ocorrem
na natureza, conseguiu criar uma estrutura conceitual filosófica que permeia até aos dias actuais a cultura angolana.
Todo esse conteúdo filosófico foi transposto para o corpo
humano, dando origem aos conceitos filosóficos da teoria
básica da medicina tradicional angolana”.
De acordo com a pesquisadora, antes da chegada dos europeus a território angolano, os vários povos que o habitavam
(Hotentotes, Bantu, entre outros), já tratavam os seus problemas de saúde, desde pestes, epidemias, doenças espirituais e
emocionais, com recurso à medicina tradicional. “Os Imbanda
(curandeiros), eram capazes de diagnosticar, prevenir, tratar e
curar as doenças próprias da época, hereditárias ou não”.
“Através do naturalismo e a troco de quase nada, os Imbanda
asseguraram no passado a saúde pública das várias gerações
de famílias angolanas, com os seus conhecimentos e experiência em terapêuticas organizadas a partir dos recursos
naturais agrícolas, florestais, hídricos e minerais de Angola”.
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Again according to the WHO, more than 100 countries have
set out regulations on the use of herb-based remedies. In
Angola, the director of the National Institute for Public Health
(Instituto Nacional de Saúde Pública), Moisés Francisco,
announced recently that there are projects in progress to regulate this activity, with emphasis on training for therapists
and on infrastructures for treatment centres.
In Angola, the use of traditional medicine goes back around 4
thousand years, according to Rosário Fernandes, who does
research on old traditional medicine. She has has a course in
naturalism from Stonebridge Associated Colleges in England.
On her Internet site, she says that most of the practices originated in the primitive culture of the tribal communities called
Sam (Hottentots) and the Bantu.
The basic theory underlying traditional medicine “arose from
the empirical observation of how man reacted with the environment. Primitive man watched natural phenomena and
managed to create a philosophical and conceptual structure
that has come down to our own times through Angolan culture. All this philosophical content was transposed to the
human body, leading to philosophical concepts at the basis of
the theory behind traditional medicine in Angolan.”
According to the researcher, before the arrival of the
Europeans who disembarked on Angolan shores, the local
peoples (Hottentots, Bantu, and others), solved their own
health problems, including the plague, epidemics, spiritual
and emotional illnesses, by recourse to traditional medicine.
“The Imbanda (practitioners), could diagnose, prevent, treat
and cure illnesses that occurred in their times, whether
hereditary or otherwise.”
“Through the naturalistic techniques, and in exchange for virtually nothing at all, the Imbanda used to ensure the health of
several generations of Angolan families, with their knowledge
and experience on therapy, built on the earth’s natural
resources, and developed from the agriculture, forests, water
and minerals of Angola.”
hora do descanso
relax time
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porta de saída
exit door
Indeferimento
Dona Fracisquinha da Cunha Pousada, era quê? (e voltava a responder: Cabrita como branca e professora...
Deu conta que se tinha desviado da conversa e retomou o rumo,
não sem antes limpar o suor que lhe escorria pela testa com um
lenço impecavelmente branco.
– ... Esse ministro que lhe conheci miúdo... então pensei: tenho as
minhas dificuldades, o rapaz pode-me ajudar e lhe mandei um
requerimento e tal e quê que sou eu, fulano, que se lembra lhe
conheci com o teu pai e a tua mãe, no tempo ainda da avó
Miquelina, sua tia da parte de mãe, as duas infelizmente já na
idade de falecidas. Estou nas minhas dificuldades, pelo que agradeço a V.EXª me mandes distribuir um HIACE para eu pôr na candonga e governar a minha vida. Até aqui, tudo bem.
Assoou-se, atroando a rua com o sopro das suas narinas. Dobrou
cautelosamente o lenço para continuar:
– ... Pois até aqui tudo bem. Porque vizinho (e a gente era quase
vizinho – ele no musseque, eu na cidade) vizinho é mais família
que irmão. Vizinho mora com as nossas desgraças e o nosso
irmão está longe. Quem lhe tirou o pai da cadeia da administração – foi o irmão tio dele, ou fui eu? Se eu preciso agora quem vai
me pôr curativo nas feridas das minhas dificuldades é esse miúdo
mesmo. E sabem o que ele fez?
E espalmava a mão no peito. Batia com força a mão no peito, os
olhos quase a lagrimar, vermelhos e cheio de raiva.
– ...Me mandou chamar: “O senhor ministro tal e quê, dese-
Refusal
Texto/text: Dario de Melo
Ilustração/Illustration: SUCA
O homem agitava-se desorientado. Cheio de uma razão que lhe
enchia os olhos e atrapalhava as palavras.
– Não é um miúdo qualquer de ministro que me chateia. Eu
mesmo, com ele não falo mais. Vou logo direitamente no pai dele.
Pai não é governo de ministro, mas ainda é pai. Lhe conheço há
mais de sessenta anos. Inda mesmo quando a gente era candengue e andava aí nas ruas, é que a gente se conhece.
Fazendo uma pausa, com uma recordação a bailar-lhe nos olhos,
qualquer coisa que devia ser dita e era importante:
– Porque, mesmo do pai dele, eu era o seu mais-velho. Andava lá
no nosso grupo, mas só como caxico...Vai buscar isto, vai comprar
aquilo. Se comia com a gente, comia no fim de todos e eram só as
sobras. Mesmo o filho dele, o ministro...
E repisava, como gestos e pausas cada vez mais solenes.
– Sim, o ministro. Agora até parece uma pessoa, mas nos
tempos andava como? Era cheio de ranhos que ainda
mesmo hoje os perfumes desconseguem de lhe tirar os
cheiros catinguentos das ranhetas deles. Era a ele que a
gente mandava: “Vai na loja do Sô Manuel e traz isto”. Se
não tinhas dinheiro em casa, quem é que falava? Sim, quem
é que falava?...
E fazia uma pausa, esperando a resposta que ninguém sabia,
mas todos adivinhavam.
– Que é que falava: “Miúdo (miúdo era o ministro, está a ver?)
diz para mandar um garrafão de vinho (e era um garrafão de
capacete, não era vinho de preto qualquer), que eu amanhã
passo por lá e pago. Quem é que fiava na loja? (perguntava e
respondia:) EU. Quem tinha o respeito? (e batia, orgulhoso,
no peito:) EU mesmo, o próprio, sozinho. Quem ia fazer os
recados, as caxicagens catinguentas?
E respondia ele, assim como quem está a falar num comício:
– O ministro. Esse miúdo burro e com feridas do quê na cabeça.
Na escola custou aprender. Só com porrada é que lhe abriram a
cabeça. Agora é doutor, como é isso então?
E pausa. E olhos injectados e furibundos. E a nossa curiosidade desperta, satisfeita, contente, para ouvir falar mal de
gente grande.
– E então, esse gajo, esse garoto que lhe conheci aqui
mesmo nos musseques (eu mesmo, nesse tempo já era um
senhor e vivia na cidade. Não era um preto qualquer assim.
Morava no sítio dos brancos. Meu vizinho era branco...
E perguntava, como se todos soubessem a resposta:
– D. Maria Furtado d’Almeida era quê? (e respondia: era branca).
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The man was agitated and disoriented. He was filled with a reason
that filled his eyes and disturbed his words.
- It’s not a kid acting as minister that bothers me. Me myself, I do
not speak with him anymore. I’ll just go right to his father. A father
is not a minister’s government but it’s still a father. I’ve known him
for more than sixty years. We’ve known each other since we were
kids and play in the streets.
Pausing, with a memory in his eyes, something that should be said
and it was important:
- Even between his father and I, I was the oldest. He hanged with
us, but as messenger boy… Go get this, go get that. If he happened
to eat with us, he would be the last one to eat and he would eat the
leftovers. Even his son, the minister…
And he would go on, like gestures and pauses more and more
solemn.
– Yes, the minister. Now he looks like a person and what about
back then? He was always full of snots. Even nowadays the perfumes can’t disguise their smell, We used to send him: “ Go to Mr.
Manuel’s shop and buy this”. If you didn’t have money, whom did
you call? Yes, whom did you call?...
And he would pause, waiting for the answer that no one knew, but
that everybody guessed.
– Who used to say: “Kid (kid was the minister, do you understand?)
tell them to send a bottle of wine (It was good wine, it was not any
black wine), tomorrow I’ll go there and pay. Whom did they trust in
the store) (he would ask and answer :) ME. Who was respected?
(and he proudly pounded his chest:) ME myself, alone. Who did the
errands?
And he would answer, like if he were in a rally:
– The minister. That dum kid with wounds on the head. He had
trouble learning at school. Only with beatings he learnt something.
Now he’s a PHD, how is that?
Pauses. Crazy, deadly eyes. And our curiosity awakens, satisfied,
happy to listen bad things about great people.
– And then this guy, that kid whom I meet in the musseques (back
then I was already someone and lived in the city. I wasn’t just any
black man. I lived wher the white men lived. My neighbors were
white…
And he would ask like if all of them knew the answer:
– Mme. Maria Furtado d’Almeida was what? (and he would
answer: was white). Mme Fracisquinha da Cunha Pousada, was
what? (and he would answer again: almost white and a teacher…
He realized that the conversation had turned so he resumed its
course, but not before wiping the sweat that was trickling down his
forehead with an impeccably white handkerchief.
– ... That minister whom I meet as a kid... than I thought, I have
my difficulties, the boy can help me so I sent him a requisition, presenting myself and reminding him that I knew his parents, from
the time of grandmother Miquelina, his aunt from his mother,
both unfortunately already deceased. I have some problems, so I
would appreciate your Excellency to send me an HIACE so that I
can sell it and rule my life. So far, so good.
He wiped his nose, filling the street with the thunderous blast of
his nostrils. He carefully folded the handkerchief to continue:
– ... So far, so good. Because neighbors (and we were almost
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exit door
ja falar consigo quinta-feira às onze horas. Me vesti de fato e
fui. Com o Ministro estavam mais dois camaradas cheios de
gravatas e camisas daquelas antigas de botão de punho e
tudo. O Ministro calado a olhar para mim.
– “Foi o Senhor que fez este requerimento?” – perguntou um desses tal. Eu respondi, com a minha educação: “com a graça de
Deus, fui eu mesmo. Sei ler. Sei escrever. Aprendi na Missão do
Késsua e no José Maria Relvas”. Vai o outro e fala: “o Senhor tem
consciência do que pediu a Sua Excelência?” E eu agora já a responder: “a Sua Excelência não pedi nada. Pedi sim, está aí muito
bem escrito, a Vossa Excelência”...
E o outro, o tal camarada, parvo e admirado:
- “A mim?” e eu na resposta: “Não sei se o camarada é também
Vossa Excelência que me pode ajudar. Aqui na minha idade, toda
a ajuda nunca chega. Se Vossa Excelência é excelência como o
excelentíssimo Senhor Ministro, muito obrigado. Pode me dar a
chave do HIACE que eu trouxe já o motorista e o trânsito anda
muito lixado nestas hora do meio-dia”.
Estávamos assim muito bem nesta conversa (muito educados, porque não tratas o homem por tu, com gente estranha
é sempre Excelentísmo. Porque se você não respeita a sua
família, quem é que vai respeitar?... então o sacana do ministro que estava calado e muito calado, falou: “Vamos acabar
com isto: o velho não está a perceber nada”. E depois virouse para mim: “Chamei-o cá, com a consideração de lhe
conhecer, a dizer que o seu requerimento foi indeferido. Se
está com dificuldades posso-lhe adiantar um dinheirito”... E
eu que não estava mesmo a perceber, sem pegar no dinheiro que ele me estava a dar... “Indeferido é como é?” E o outro,
o camarada armado em excelência: “Indeferido é Não”. E eu,
virado para o ministro: “E como é que você está a dizer não,
a mim que sou teu mais-velho, e está dizer sim a todo o candongueiro ladrão que anda aí nos carros a roubar o povo?” E
ele, mais manso, a falar com o seu jeito de ministro: “Tome
o dinheiro ti Alberto. Não é muito mas sempre faz jeito”…
Parei. O dinheiro estava a me cumprimentar – era um montinho
bonito, mas eu, pessoa de respeito que toda a gente me conhece,
lhe falei grosso:
- Como é que você, filho de teu pai bêbado, que lhe tirei duas
vezes da cadeia do colono, me está a dizer que é não, quando essa
que lhe chamam secretária, você deu um carro que não é HIACE
de trabalho, mas marca de fazer serviço do passeio?
Vocês acreditam o que é que o gajo fez? Chamou os polícias da
segurança e me mandou pôr fora. Ainda ouvi ele dizer, “Não lhe
façam mal. Não magoem o velho”. Sacana de merda que lhe
conheci assim – e fez o gesto (braço estendido na horizontal e mão,
com os cinco dedos unidos virados para cima) mostrava um desentendimento completo, como se o menino tivesse crescido de repente e, filho de quem era, lhe estivesse a dizer que o pai era outro.
Me agarraram, mas mesmo assim lhe gritei:
- Limpa o rabo nesse teu dinheiro sujo. Eu não sou pobre de
pedir esmola e tu, não esquece, te queixo no Presidente, te
queixo no teu pai, conheço os meus direitos e sei: com esta
idade que eu tenho, não posso ser indeferido. Nenhum ministro me pode indeferir.
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neighbors – him in the musseque and I in the city) are more family than brothers. Neighbors live with our misfortunes and our
brothers are away. Who took his father out of the administration
prison – was it his brother, his uncle, or was I? So, now I need
healing for my wounds, so it will be that kid who will help me. And
you know what he did?
And he would spread his hand on his chest. He was pounding his
hand on his chest, with his eyes almost to tears, red and full of rage.
– He sent for me: “The prime minister what’s his name wants to
talk to you Thursday at eleven o’clock. I put on a suite and met him.
With the Minister were two buddies full of ties and shirts with
those ancient cufflinks and everything. The Minister was silent,
staring at me.
– “Was it you who made this claim?” – asked one of the others. I
replied politely: “with God’s grace, yes I was. I can read. I can write.
I leant in Mission Késsua and in José Maria Relvas. And then the
other one says: “Are you aware of what you asked to His
Excellency?” And I said: “to His Excellency I didn’t ask for anything.
I did ask, and it’s there very well expressed, to Your Excellency”…
And the other, the silly and admired one:
- “To me?” and I said: “I don’t know if you’re also Your Excellency
that can help me. In my age, all the help is needed. If Your
Excellency is excellent like the honorable Minister, thank you very
much. You can give me the HIACE’s key because I’ve already
brought the driver because traffic is chaotic at this time”.
We were having this nice conversation (very politely, because
you don’t give him the you treatment, with strangers you always
use Your Excellency. Because if you don’t respect your family
whom will you respect?... Then the bastard minister, who was very
quiet, spoke: “Let’s finish this; the old man is not understanding
anything”. Then he turned to me: “I wanted you here to meet you
and to tell you that your requisition was decided as inadmissible. If
you’re facing difficulties I can give you some money”… And I really
wasn’t understanding anything, without taking his offer….
“Decided as inadmissible is what?” And then the other, the one
with an attitude, said: Inadmissible is not accepted”. So, I turned to
the Minister and replied: “How can you say no to me, a man older
than you, and say yes to all bandits who still from the people?” And
then he, more gently, talking in his Minister way, said: “take the
money Alberto. It’s not much but it always comes in handy”…
I stopped. The money was greeting me – it was a nice pile, but I, a
respectful person, said roughly:
- How can you, a son of a drunken man whom I took out of jail
twice, is saying no to me, when to that you call secretary you gave
a car to ride around, not for work?
Do you know what he did? He called security and put me out. I
heard him say: “Do not hurt him. Don’t hurt the old man”. Fucking
bastard whom I knew like this - arm and hand extended horizontally, with all five fingers together facing up) he showed a complete
misunderstanding, as if the boy had grown suddenly and the son
of who he was, were telling him that the father was someone else.
- Wipe your ass to that dirty money. I’m no poor to need to beg you
and you, forget it, I will complain to the President, I will complain
to your father, I know my rights and I know that in this age, I can’t
be refused. No Minister can refuse me!
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Revista De Bordo