CANTO DE ANÚNCIO DE QUATRO ESPÉCIES DO GÊNERO DENDROPSOPHUS (ANURA; HYLIDAE) Islaíane Costa Silva (Bolsista do PIBIC/UFPI), Mauro Sérgio Cruz Souza Lima (Orientador -UFPI) INTRODUÇÃO Os anfíbios anuros compreendem um grupo de espécies com amplos estudos na atualidade, tendo como base para a taxonomia características morfológicas, estudos de filogenética e de acordo com (POMBALJR, BASTOS & HADDAD, 1995) o uso da vocalização é importante mecanismo de isolamento reprodutivo, ajudando a determinar e classificar espécies semelhantes morfologicamente (BERNAL, MONTEALEGRE & PÁEZ, 2004). A vocalização dos anfíbios são de importância significativa também para sua reprodução, utilizada tanto para atrair as fêmeas como marcar território (TOLEDO & HADDAD, 2009). Podendo funcionar como sinal de comunicação (GERHARDT, 1994), ocorrendo em períodos chuvosos na maioria das espécies, onde a chuva é restrita a seis meses ou menos. (AICHINGER, 1987). No Brasil existe amplos estudos sobre a bioacústica, porém com ausência de estudos na região Nordeste (ROBERTO, RIBEIRO & LOEBMANN, 2003). Esse déficit mostra a necessidade de maiores trabalhos incluindo a região do estado do Piauí (SILVA, SANTOS, ALVEZ, 2007). Este trabalho tem como objetivo avaliar a vocalização de quatro espécies do gênero Dendropsophus no Estado do Piauí, sua sazonalidade, distribuição geográfica e disponibilizar informações sobre o canto de anuncio junto a Coleção de História Natural da Universidade Federal do PiauíCHNUFPI. MATERIAL E MÉTODOS As espécies em estudo são: Dendropsophus rubicundulus (REINHARDT & LÜTKEN, 1862) que distribui-se do sul do Pará ao interior de Minas Gerais e São Paulo, Brasil, Dendropsophus nanus (BOULENGER, 1889) é encontrado desde a região nordeste ao extremo sul do Brasil, incluindo Uruguai, região central do Paraguai, norte da Argentina e leste da Bolívia, Dendropsophus minutus (PETERS, 1872) distribui-se no Nordeste brasileiro, Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia, Chacos Argentinos, Venezuela e parte dos Andes e Dendropsophus soaresi (CARAMASCHI & JIM, 1983) sendo encontrada no bioma Caatinga, com registros para o estado da Bahia, com localidade tipo Picos/Piauí. Área de estudo se localizada na Macrorregião 4 sendo o município de Floriano (6°45’48,7”S; 43°03’31,2"W), Guadalupe (6°44’46,4”S; 43°34’44,8”W), São Francisco (07°00'42,9”S; 07° 34' 49,4"W) e Alvorada do Gurguéia (8°22’28,6”S; 43°51’32,5”W). As gravações são efetuadas a uma distância de 30 cm, sendo registradas com o uso de gravado digital WS803, com microfone Yoga Super unidirecional Eletric Condenser. A análise bioacústica foi feita com os softwares SoundForge 11.0, SoundRuler 0.9.6.0, com taxa de amostragem de 44,1 kHz e 16 bits de resolução. Os parâmetros analisados são duração do canto, número de notas por canto, duração das notas, número de pulsos e frequência dominante. As espécies amostrais são em seguida coletadas e depositárias na Coleção de História Natural da UFPI (MARTINS, ALMEIDA & J IM, 2006). RESULTADOS No município de Floriano foram encontradas as espécies Dendropsophus nanus e Dendropsophus rubicundulus coletadas sobre arbustos de até 50cm de altura na margem do corpo d’agua e sobre o solo encharcado; Dendropsophus soaresi encontradas sobre arbustos com até 2 metros de altura e em carnaúbas e Dendropsophus minutus sobre gramíneas em corpos d’água. Em Guadalupe encontrou-se as espécies de Dendropsophus rubicundulus sobre pequenos arbustos nas proximidades da água e Dendropsophus minutus sobre macrófitas aquáticas. No município de São Francisco foram coletadas as espécies de Dendropsophus rubicundulus em arbustos nas margens da lagoa e Dendropsophus soaresi em árvores de até 3 metros de altura. Em Alvora do Gurguéia foi encontrada as espécies Dendropsophus minutus sobre macrófitas dentro da lagoa, Dendropsophus rubicundulus e Dendropsophus nanus à margem da lagoa no solo encharcado ou sobre arbustos. A espécie Dendropsophus minutus apresentou 0,1 ±0,006 s (n=32), formado por uma nota composta de no mínimo 20 pulsos (x=23,7 ±1,76; n=32) com duração média de 3,7 ±0,3 ms (n=727). A frequência dominante variou entre 4.676,21 a 5.176,94 Hz (x=5.026,24 ±152,85 Hz; n=29). A espécie Dendropsophus nanus apresentou 0,030 ±0,008 s (n=167) e teve exclusivamente uma nota composta de até 9 pulsos (x=5,87 ±1,32; n=167). A média de duração dos pulsos foi de 5,1 ms (±2,7; n=978. A frequência dominante variou entre 3.618,21 a 4.329,85 Hz (x=4.072,6 ±159,4; n=167). Dendropsophus soaresi apresentou canto com duração média de 0,32 ±0,02 s (0,26 a 0,35 s; n=60) compostos por uma nota de 26 a 37 pulsos (x=34,1±1,9; n=60). A duração dos pulsos variou de 7 a 11 ms (x=9,1 ±0,3; n=335). A média da frequência dominante foi 4,3±0,05 kHz (4,12 a 4,32; n=60) enquanto a frequência fundamental teve média de 2,09±0,06 kHz (2,06 a 2,24; n=60). Dendropsophus rubicundulus apresentou 0,11 ±0,14 s (0,015 a 0,44 s; n=39), formado por uma a três notas (x=1,46 ±0,72) de duração média de 0,22 s (±0,24 s; n=60), compostas de até seis pulsos (x=4,16 ±0,92; n=237). A taxa de repetição teve média de 3,3 notas/s. Não havendo modulação na frequência dominante que variou entre 3.440,5 e 3.973,57 Hz (x=3.822,27 ±139,3 Hz; n=60). DISCUSSÃO A espécie Dendropsophus soaresi pertencente ao grupo marmorata, descrita em 1983, por CARAMASCHI & JIM, com localidade tipo Picos/PI, possui déficit na descrição de sua vocalização, apresentando apenas a descrição dos girinos publicada em 1991, por GOMES & PEIXOTO. Atualmente a vocalização não foi obtida para localidade tipo, sendo a espécie gravada apenas em Floriano e São Francisco/PI. A espécies D. nanus, D. rubicundulus e D. minutus possuem ampla distribuição, porém as primeiras descrições de suas vocalizações como da Dendropsophus rubicundulus descrita por CARDOSO & VIELLIARD, em 1985 e da Dendropsophus nanus descrita em 1973 por BOKERMANN & SAZIMA, encontram-se retrógadas, pois, com as análises acústicas executadas em programas modernos, foi possível perceber diferenças significativas, tendo em vista a importância de novas publicações das vocalizações gravadas e analisadas em aparelhos modernos. Palavras-chave: Anuro. Dendropsophus. Vocalização. REFERÊNCIAS AICHINGER, M. Annual activity patterns of anurans in a seasonal neotropical environment. Oecologia (Berlin) 71:583-592, 1987. BERNAL, M.H.; MONTEALEGRE D.P.; PÁEZ, C. A. Estudio de la vocalización de trece especies de anuros del municipio de Ibagué, Colombia. Rev. Acad. Colomb. Cienc. 28 (108): 385-390, 2004. BOKERMANN, W. C. A. & SAZIMA, I. Anfíbios da Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil. 1 – Espécies novas de “Hyla” (Anura, Hylidae). Ver. Brasil. Biol. 33 (3): 329-236, 1973. CARAMASCHI, U. & JIM, J. Uma nova espécie de Hyla do Grupo Marmorata do Nordeste Brasileiro (Amphibia, Anura, Hylidae). Rev. Brasil. Bio., 43(2): 195-198, 1984. CARDOSO, A.J.; VIELLIARD, J. M. E. Caracterização bio-acústica da população topotípica de Hyla rubicundula (Amphibia, Anura). Revta bras. Zool., S Paulo 2(7): 423-426 28, 1985. GERHARDT, H. C. The evolution of vocalization in frogs and toads. Annu.R ev.E col. Syst. 25:293-324, 1994. GOMES, M. R. & PEIXOTO, O. L. Considerações sobre os girinos de Hyla senicula (COPE, 1868) e Hyla soaresi (CARAMASCHI E JIM, 1983). (AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE). Acta Biologica Leopoldensia. Vol.13, nº 2. 1991. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 2013. Disponível em:< http://www.ibge.gov.br/home/> Acesso dia: 14.03.2014. BRASIL.2006. Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Parnaíba – PLANAP. MAI, A. C.G. & LOEBMANN, D. Biodiversidade do litoral do Piauí. Sorocaba: Paratodos Sorocaba, 272p, 2010. MARTINS, I. A.; ALMEIDA, S. C. & J IM, J. CALLING SITES AND ACOUSTIC PARTITIONING IN SPECIES OF THE HYLANANA AND RUBICUNDULA GROUPS (ANURA, HYLIDAE). HERPETOLOGICAL JOURNAL, Vol. 16, pp. 239-247 (2006). POMBAL-JÚNIOR, J. P.; BASTOS, R.P.; HADDAD, C. F. B. Vocalizações de algumas espécies do gênero Scinax (Anura, Hylidae) do sudeste do Brasil e comentários taxonômicos. Natutalia, São Paulo, 20: 213-225, 1995. ROBERTO, I. J.; SAMUEL C. R. & LOEBMANN, D. Amphibians of the state of Piauí, Northeastern Brazil: a preliminary assessment. Biota Neotrop. vol. 13, no. 1, 2003. SILVA, G.R.; SANTOS, C. L.; ALVEZ, M. R.; SOUSA, S. D. V.; ANNUNZIATA, B.B. Anfíbios das duas litorâneas do extremo norte do Estado do Piauí, Brasil. SITIENTIBUS SÉRIE CIÊNCIAS BIOLOGICAS 7 (4): 334-340, 2007. TOLEDO, L. F.; HADDAD, C. F. B. Defensive vocalizations of Neotropical anurans. South American Journal of Herpetology, 4(1), 25-42, 2009.