1 A ESCOLA DO PONTO DE VISTA DA CRIANÇA OLINI, Polyana Cindia – UFMT [email protected] m RESUMO Este estudo tem o intu ito de analisar q uais as imp ressões infantis em relação à esco la ao s pro fesso res e ao saber, além das implicações desses p ensamento s na aprendizagem. A co leta de d ados fo i realizada com u m alu no d e escola p ública, po r meio de entrevista semi-estrutu rada. A análise fo i feita so b fo co teórico dos princípios da Epistemologia Genética de Piaget. Remetend o-se a aspectos co gnitivos e afet ivo s d as co ndutas, a entrevista nos atenta p ara fatos esclareced ores, o nd e as possibilidad es d e entend imento, do aluno variam d e acordo co m as açõ es educativas de sua p rofessora, reveland o maior entend imento d os co nteúdo s quando as au las est ão p ermeadas por situ açõ es qu e lhe despertam interesse. F ica explícito na análise de dados que o s sentimentos d as crianças tamb ém interferem em su a aprendizagem; a relação existent e entre o s asp ecto s co gnitivo e afetivo é compro vad a, uma vez que qu ando as práticas edu cativas se fundamentam em uma co nstru ção dos conhecimentos sobre bases anterio rmente formadas e se realizam em u m pro cesso o nd e a ludicidade se faz presente o ferecendo a criança situ açõ es d e aprendizagem para ela interessantes, e motivação às coisas ligadas à escola. Palavra s-chave: interesse; ap rendizagem; p rática edu cativa. Considera çõ es Iniciais Este estu do co nsiste em uma análise do d iscurso infantil. Tem por objetivo analisar qu ais as impressões infantis, através de um estu do de caso , em relação à esco la ao s professo res e as imp licações d esses sentimento s na sua próp ria aprend izagem. Su a relevância é grand e no co ntexto de sua área, uma vez qu e reflete os efeito s de algumas práticas ed ucativas da grand e maioria de no ssas escolas. A co leta d as impressões fo i realizada co m u m alu no d e esco la p úb lica, por meio de entrevista semi-estru turada constituída de qu estõ es embasad as no capítu lo 06 do livro d e Maria da Glo ria Seb er intitu lado Piaget: o d ialogo co m a crian ça e o desen volvimento do raciocín io. A análise do s dados foi feita sob fo co teórico do s princípio s da Epistemolo gia Genética d e Piaget, tamb ém a p artir d e leituras do livro acima referid o. Piaget e a Afetivida de: breve funda menta ção teó rica Segundo Piaget as construçõ es cognitivas possu em do is asp ecto s, qu e apesar de serem distinto s são ind isso ciáveis. São eles: asp ecto s estru turais qu e co mpreendem 2 as estru turas1 mentais formad as de acordo com os estágio s do desenvolvimento e tem a finalid ade de organizar as sensaçõ es d esconhecidas; aspectos afetivos qu e dizem resp eito aos sentimentos do sujeito que bu sca o co nhecimento para com o que se pod e co nhecer, isto é, ab range o s interesses e mo tivações da criança com relação à escola. As co nd ições d a construção das estru turas mentais são refletidas através do asp ecto afetivo d a criança. Assim o grau d e interesse diz muito sob re a formação d as estru tu ras mentais. De acordo com Seber “d izer então que ela se interessa por algo significa afirmar qu e ela está d e po sse d e certas estruturas po ssíveis de assimilar o qu e lhe p ropõem (SEBER, 1997, p.26)”. Para Piaget o sentimento d e interesse é uma regulação energética interna, é a relação afet iva entre a necessidade de assim ilar o significado do ob jeto e satisfazê-la. Assim, as situações p ropostas na esco la precisam estar p assíveis aos esquemas d e assim ilação da criança possibilitand o mo tivação, afeto e interesse d a mesma. O Discurso Infantil: a escola, o professor e o saber... Victo r tem 11 anos e está cursand o a qu arta série do ensino fu nd amental em uma escola púb lica d a red e Municipal de Várzea Grande MT. Du rante no ssa conversa ele me relata q ue gosta de ir à escola p orque aprend e e interage co m os amigo s, po rém, destaca qu e essa interação o corre ap enas no recreio. Procurando d escobrir o motivo dessa ênfase pergu nto se só é po ssível q ue converse com o s am igos no recreio . Ele me responde que sim e co mp lementa d izendo que: “(...) na sala a p rofesso ra pede p ra fazer silencio e se a gente não fica qu ieto ela d eixa sem recreio, copiando do quadro ”. Por meio d a entrevista, d escub ro qu e Victor escreve mu ito em sua escola, po rém, sempre cop iand o textos e exercícios do livro ou do qu adro. Mesmo d izendo qu e go sta de escrever, seu descontentamento co m a forma qu e tal ativid ad e e d esenvolvid a pela pro fesso ra é notável qu ando se refere às aulas d e português. Veja no trecho d e su a fala: “(...) essa é a au la qu e escreve muito e cansa a gente (...)”. A interferência d o sentimento de desinteresse, despertado p elas aulas d e po rtuguês em Victo r, na sua ap rend izagem d os conteúdos pertencentes a essa d isciplina fica também explicita no segu inte trecho de sua fala: “Aprendo a escrever [na au la d e Português], mas não lemb ro todos o s texto s”. 1 É importante ressaltar que, assim como o processo de conhecimento essas estruturas são evolutivas, ou seja, passam de um estado precário (estruturas simples) para estados mais evoluídos do pensamento (estruturas complexas). 3 De aco rdo com Piaget esse desinteresse demo nstra que as estrutu ras mentais d e Victor não estão sendo acompanhadas p elos métodos de ensino aplicado s por su a pro fesso ra na au la de portu gu ês, ou seja, Victor já sabe escrever as palavras e, p ortanto, copiar textos é u ma atividade que não lhe apresenta nenhu m d esafio tanto no s asp ecto s ligad os à evolu ção de seu co nhecimento quanto nos asp ecto s externo s ligado s ao seu sentimento com relação à mo no tonia das atividades realizad as nessa aula. Oposto ao seu d esinteresse p ara com as aulas de português, Victor se refere co m entu siasmo às aulas d e matemática, quand o procuro saber o qu e na escola desperta o seu aflito de fo rma sub lime ele responde sem hesitar: “Eu gosto d e matemática, po rqu e ap rendo os nú meros e já q ue a minha t ia trab alha na cantina eu p osso ajudar ela a d ar o tro co . Na au la de matemática além d e cop iar as contas do qu ad ro a pro fesso ra faz b rincadeira (...) leva co isas na sala p ra gente co ntar”. Os sent imentos de interesse e mo tivação são demonstrados nessa fala não somente para co m as aulas d e matemática qu e são lúd icas algumas vezes, mas também há o sentimento de interesse no que se refere à aplicab ilid ad e do conteúdo aprendido por ele durante as au las. Co m o intuito d e saber se a ap rendizagem d e Victor durante as aulas d e matemática é po sitiva, assim como o seu sentimento, pergu nto o qu e ele ap rende nessas au las e co mo aprende. Su a resposta ap resenta entendimento s a cerca das operações matemáticas e riq ueza d e detalhes ao co ntar sobre o método utilizad o pela pro fesso ra no decorrer das aulas. Co nfo rme seu discurso em: “(...) a pro fesso ra leva co isas na sala p ra gente co ntar. Uma vez ela levou um boliche qu e tem u ns p inos e uma bo la, ai cad a pino tinha um nú mero e valia po nto s d errub ar eles, a gente fo i derrub ando e somando o s po nto s co m ela no quadro, mas qu ando derrub ava o s p inos qu e tinham u m sinal d e menos a gente perdia o s ponto s ai tinha q ue fazer co nta de menos. Era tipo um jogo. Aprendo a fazer co ntas d e somar dividir e tirar.” Victo r manifesta ter afeição pela professo ra, princip almente qu ando relata mo mentos lúd icos, que geralmente ocorrem durante as aulas d e matemática e d e Edu cação Física “(...) ela faz b rincadeira e é engraçad a”. Isso ocorre porque esses mo mentos são , p ara ele, estimulantes e a condu ta de su a pro fessora durante essas au las é menos au toritária e rígid a, p ermitind o uma relação igu alitária entre eles e, portanto, despertand o-lhe mais afeto po r ela. Para d escob rir a respeito do seu sentimento qu anto à sua aprend izagem, pergu nto em o que ele entend e co mo sendo aprend er. Certo grau d e auto no mia é 4 demonstrado em sua seguinte resp osta: “Aprend er é saber fazer algu ma coisa”. Po rém, Victor demonstra essa auto no mia somente qu ando se a ações qu e não são escolares; mo mentos fora da escola onde ele ad mite aprend er mediante emp enho pesso al. Em açõ es escolares ele atribu i toda fo rma de construção do próprio co nhecimento às transm issões d e sua pro fesso ra. Essas impressõ es ficam evid entes na seguinte mensagem : “(...) a pro fesso ra p assa o texto p ra ler, ai eu escu to ela explicar e d epois faço a tarefa. Às vezes a gente b rinca (...) e ap rend o a jogar na Lan Ho use, mas ai é sozinho qu e eu aprendo”. Co mo a co nstru ção de u ma auto -imagem é muitas vezes fruto do s sentimento s da criança co m relação à esco la, p ergunto a Victor se ele se co nsid era u m bom alu no e a resposta é relativa assim co mo qu ando fala de sua aprendizagem. Ele diz que é u m aluno: “mais o u meno s”. Isso porqu e não conversa em sala, faz as tarefas e é bom em matemática, porém, tem consciência d e qu e não aprende todos o s co nteú do s. Considera çõ es Fina is A edu cação escolar é necessária para o real d esenvolvimento das co nstru ções co gnitivas e d a personalidade da criança. Todavia, o sentimento infantil d esp ertado por essa instituição e tudo que a englo ba é fu nd amental na construção do s seu s co nhecimento s e na fo rmação d e uma percep ção de si enqu anto pessoa. Fica explícito na análise d e d ados qu e o s sentimentos das crianças também interferem em sua aprendizagem. A relação existente entre o s aspectos co gnitivo e afetivo é co mprovada, u ma vez q ue quand o as p ráticas edu cativas, do caso analisado, se fundamentam em uma co nstru ção dos conhecimentos sobre bases anterio rmente formadas e se realizam em u m pro cesso o nd e a ludicidade se faz presente o ferecendo a criança situações d e aprendizagem q ue lhe d esp erte interesse e mo tivação às coisas ligad as à escola. Assim vid a afetiva e vid a co gnitiva são inseparáveis, mas não se redu zem uma à o utra. Qualquer relação entre sujeito e ob jeto supõe cognição, fo rmand o o aspecto estru tu ral e su a valo rização que emerge do campo d as afetividades. Referência s Bibliog ráficas GOULART, Íris Barbosa. Psico log ia da Educação: fu nd amento s teóricos aplicações à prática pedagógica. 6. ed . Rio d e Janeiro: Vo zes. 1999. SEBER, Maria da Glória. Piaget: o d ialogo com a criança e o d esenvolvimento do racio cínio . São Pau lo: Scipio ne, 1997. Cap. 06 .